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GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS 
Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA 
Departamento de Políticas e Ciências Sociais 
Curso de Serviço Social 
 
 
Tainá Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: SUAS PARTICULARIDADES E 
IMPLICAÇÕES NA VIDA DE ADOLESCENTES DA CIDADE DE 
NOVORIZONTE/MG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Montes Claros – MG 
Novembro/2018 
 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS 
Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA 
Departamento de Políticas e Ciências Sociais 
Curso de Serviço Social 
 
 
Tainá Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: SUAS PARTICULARIDADES E 
IMPLICAÇÕES NA VIDA DE ADOLESCENTES DA CIDADE DE 
NOVORIZONTE/MG 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da Universidade 
Estadual de Montes Claros, como exigência para obtenção do grau de 
Bacharel em Serviço Social. 
 
Orientadora: Profª: Mestre Geusiani Pereira da Silva e Nascimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Montes Claros – MG 
Novembro/2018 
 
 
UNIMONTES 
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso – monografia – intitulada Gravidez na Adolescência: suas 
particularidades e implicações na vida de adolescentes da cidade de Novorizonte/MG, de 
autoria da bacharelanda em Serviço Social Tainá Santos, aprovada pela banca examinadora 
constituída pelos seguintes professores: 
 
 
 
______________________________________________________________ 
Orientadora: Profª. Mestre Geusiani Pereira da Silva e Nascimento 
 
 
 
______________________________________________________________ 
Professora Mestre Viviane Bernadeth Gandra Brandão 
Membro avaliador 
 
 
 
______________________________________________________________ 
Professora Mestre Ilenice de Freitas 
Membro avaliador 
 
 
 
 
 
 
 
 
Montes Claros – MG 
Novembro/2018 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Esta fase da minha vida é muito especial e não posso deixar de agradecer a Deus 
por toda força, ânimo e coragem que me ofereceu para ter alcançado minha meta. Eu tinha 
muitos planos e sonhos, e aos poucos você os tornou realidade. Eu sabia que era preciso 
caminhar por um longo percurso e só com tua proteção chegaria ao fim desta caminhada 
vitoriosa. 
Em memória do meu pai Lionaldo, e minha mãe Marislane, estavam sempre 
presente nos pequenos detalhes do cotidiano. Vocês foram mais que pais, amigos e 
conselheiros. Confiaram na minha capacidade e me deram o maior apoio, fizeram um esforço 
enorme para que eu chegasse até aqui. Minha mãe, principalmente, sempre cuidando da 
minha filha com muito amor juntamente com meu irmão Paulo Rinck. Hoje, trago um sorriso 
do trabalho, da luta, do carinho, da satisfação por ter conseguido. Amo vocês! 
Anne Caroline minha filha, que é para mim um presente de Deus, que desde o 
meu ventre sempre foi minha fonte de energia, garra e incentivadora das batalhas e lutas. 
Você filha fez muita falta neste longo período, mas, ao mesmo tempo, quando pensava em 
você meu amor, o coração enchia de alegria. Cada vez que escutava sua voz doce, me 
chamado de mãe, minhas energias revitalizavam. Cada conversa ao telefone e a cada chegada 
em casa era recebida com um caloroso abraço e com muita alegria cantando “mamãe chegou”. 
Filha Mamãe te ama e está voltando para casa. 
 Minha amiga Chirleide que nas horas mais difíceis estava ao meu lado, de 
coração, nesta longa caminhada. A minha querida e amada Vó Nairque me acalmava com um 
abraço carinhoso quando chorava por medo de partir. A minha querida Tia Jasmina que 
cuidou de mim e da minha filha, meu maior tesouro, com muita paciência, com amor e muito 
carinho. 
 Meus padrinhos (as) Vilson e Gilmarta, Cristiane, Rose, Wesley e Jamileamo 
vocês. Obrigada a todos pelas palavras de conforto, orientações e incentivos para erguer a 
minha cabeça e seguir em enfrente para conseguir vencer os obstáculos nos dias de luta, pois 
os dias de gloria chegaram. Obrigada por tudo de coração, gratidão. 
Edison, obrigada por tudo, pela sua paciência, amor, carinho, apoio, pelas noites 
em que em prantos busquei um abraço de conforto e você estava presente. Agradeço pela 
compreensão da minha luta pelos meus sonhos. 
 E não poderia esquecer das lindas pessoas que foram, e são, especiais na minha 
vida, e que conheci durante esta jornada: Talita, Izabel, Alessandra, Philipe, Daniel, 
 
 
Matheus Schneider, Fátima, Anne Luise, Wallace, Waldiney, Adriano, Cireno,MH, são 
amigos e amigas que sempre estiveram do meu lado me apoiando nos momentos alegres e 
tristes. 
À universidade quero deixar uma palavra de gratidão por ter me recebido de 
braços abertos e com todas as condições que me proporcionaram dias de aprendizagem. Aos 
meus professores que reconheço que se empenharam e esforçaram com muita paciência e 
sabedoria. Foram eles que me deram recursos e ferramentas para evoluir e aprender, 
cotidianamente. Obrigada a todos meus professores (as), mas, de forma especial, agradeço a 
Geusiani e Wesley que sempre estavam ao meu lado, amo vocês de coração. 
Danilo, Nilton Cesar, Adilson e Arley pessoas maravilhosas que me apoiaram de 
formas direta e indiretamente nesta longa jornada na minha vida. 
 A todas as pessoas que de uma alguma forma me ajudaram e acreditaram em 
mim, quero deixar meu sincero e humilde agradecimento. 
 GRATIDÃO a Todos!!! 
 
 
 
Tainá Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
ACS – AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE 
 
BPC – BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA 
CRAS – CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 
ECA – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
ESF – ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA 
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA 
OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE 
ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 
PAIF – PROTEÇÃO E ATENÇÃO INTEGRAL À FAMÍLIA 
PAISM – PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER 
PBF – PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA 
PNAS – POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 
PROSAD – PROGRAMA SAÚDE DO ADOLESCENTE 
SCFV – SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS 
SUAS – SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 
SUS – SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 
 
UBS – UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Quadro 1 – Descrição das pessoas entrevistadas.....................................................................46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A presente pesquisa tem como objetivo investigar as particularidades e implicações da 
gravidez na adolescência situando as distintas situações, contextos de risco e vulnerabilidades 
sociais vivenciadas pelas adolescentes do município de Novorizonte, norte de Minas Gerais. 
Trata-se de um estudo qualitativo com enfoque na expressão da questão social que incita 
estudos para sua compreensão e, também de maior atenção no que se refere às questões 
relacionadas a tal problemática, haja vista que a adolescência se apresenta como uma fase 
complexa e indissociável ao desenvolvimento humano. Para melhor embasamento, 
realizaram-se as discussões teóricas à luz de autores que discutem a respeito do tema em 
questão. Consequentemente buscou-se conhecer as realidades vivenciadas por essas 
adolescentes grávidas no município, trazendo ainda as contribuiçõesde pessoas por elas 
responsáveis e de profissionais atuantes nas unidades de atenção básica da saúde. Como 
procedimento metodológico, utilizou-se da pesquisa bibliográfica para melhor fundamentação 
dessa pesquisa que se ancora nas abordagens de quanti-qualitativas. A coleta de dados e 
informações se realizaram por meio de entrevistas semiestruturadas e, a perspectiva teórica 
que direcionou as análises se sustenta na teoria social crítica a partir dos estudos outrora 
realizados. Tais procedimentos possibilitaram concluir que a gravidez na adolescência e todo 
um contexto sócio familiar demanda por proteção pessoal e social, pois se configuram numa 
situação de fragilidades e necessita, portanto, de maior atenção do poder público e demais 
segmentos da sociedade para a promoção da cidadania dessas adolescentes. 
 
Palavras-chave: Gravidez na adolescência. (Des) proteção social. Fatores de risco / 
vulnerabilidade social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10 
 
CAPÍTULO I – CONSIDERAÇÕES SOBRE ADOLESCÊNCIAS: CONCEITOS, 
ABORDAGENS E ALGUMAS POSSIBILIDADES DE ANÁLISE.................................13 
1.1 – Entendimentos sobre a(s) adolescência(s) e algumas questões correlacionadas.............13 
1.2 – Adolescências, fatores de risco e algumas possibilidades de análise a partir das questões 
de gênero...................................................................................................................................19 
 
CAPÍTULO II – GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA E CONTEXTOS DE 
(DES)PROTEÇÃO SOCIAL E FAMILIAR.......................................................................25 
2.1 – Gravidez na adolescência e os contextos de risco e vulnerabilidade social.....................25 
2.2 – (Des)proteção social e gravidez na adolescência: apontamentos e possibilidades..........31 
2.3 – Considerações sobre o direito à saúde: elementos para se pensar na integralidade da 
proteção social de adolescentes grávidas..................................................................................39 
 
CAPÍTULO III – MÃES ADOLESCENTES E CONTEXTOS DE (DES) PROTEÇÃO 
SOCIAL: ALGUMAS ANÁLISES A PARTIR DA REALIDADE DE 
NOVORIZONTE/MG............................................................................................................43 
3.1 – Considerações teórico-metodológicas sobre o estudo realizado......................................43 
3.2 – Análises de dados e informações sobre a gravidez na adolescência em 
Novorizonte/MG.......................................................................................................................47 
3.2.1 – Mães adolescentes Novorizonte/MG: aproximações de sua realidade, alguns dilemas e 
suas condições de vida..............................................................................................................48 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................58 
REFERÊNCIAS......................................................................................................................60 
ANEXOS..................................................................................................................................64
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O presente trabalho de conclusão de curso teve como principal objetivo discutir a 
gravidez na adolescência apreendendo conhecimentos que versam sobre sua ocorrência, 
particularidades e as principais mudanças que provoca na vida (pessoal e social) das meninas 
e suas respectivas famílias. 
Sabe-se que a adolescência é uma fase do desenvolvimento humano. Várias 
dimensões históricas, biológicas, psicológicas e sociais procuram compreender melhor essa 
fase da vida repleta de transformações e possibilidades num denso e tenso processo de 
transição para a fase adulta. Trata-se de uma fase que, segundo especialistas, é permeada de 
transformações e expectativas que também são referências para outras fases da vida, tais 
como a juventude e a fase adulta. 
De acordo com Brasil (1990), são considerados/as adolescentes as pessoas entre 
12 anos completos até os seus 18 anos incompletos. Tais sujeitos demandam prioridade 
absoluta para o acesso a direitos importantes que garantirão o seu desenvolvimento e proteção 
integral. 
Particularmente, sabe-se que a gravidez na adolescência não é fenômeno social 
novo e envolve um conjunto de fatores, tanto socioeconômicos como biopsicossociais. O 
aumento ou expressivas oscilações do número de adolescentes grávidas tem motivado a 
implementação de estratégias políticas para mudança desses indicativos adversos que 
comprometem o pretenso desenvolvimento dessas adolescentes. Esse fenômeno pode indicar 
a congruência de vários fatores como motivação pessoal, a falta de orientação quanto ao uso 
adequado dos métodos contraceptivos, o desconhecimento do próprio corpo, entre outros 
fatores. 
Nesta fase, a gravidez precoce
1
, enquanto expressão da Questão Social provoca 
diferentes mudanças nos modos de vida dos adolescentes, que vai desde a evasão escolar, a 
mudança de comportamentos, até a dificuldade ou precoce inserção no mercado de trabalho. 
Não obstante, de acordo com as referências estudadas, a gravidez na adolescência é mais 
incidente com meninas de famílias de baixa renda que, com filhos para criar, se inserem no 
mercado de trabalho de modo informal, precoce e precária, são exploradas como mão de obra 
barata e aceitam o trabalho para incrementar o orçamento familiar. 
 
1
 Segundo a Organização Mundial da Saúde, a gravidez é considerada precoce quando a menina ou a adolescente 
engravida entre os 10 e os 19 anos. 
11 
 
A família é aqui considerada como uma referência institucional importante para a 
formação, socialização e desenvolvimento das adolescentes. Segundo as legislações protetivas 
vigentes, a família é a base fundamental para que a proteção integral da criança e do 
adolescente seja legitimada. É nela que a criança cria e fortalece seus vínculos, desenvolve 
sua afetividade que deverá ser mais bem trabalhada na adolescência. Os pais ou responsáveis 
têm funções fundamentais de romper os tabus, de orientar e esclarecer as dúvidas de seus 
filhos, principalmente nesta fase de descobrimentos e sentimentos. 
Todavia, na maioria das vezes tem-se a dificuldade de se estabelecer diálogos com 
os progenitores provocando o afastamento dos filhos que tendem a buscar informações com 
amigos, professores ou, infelizmente, com pessoas mal intencionadas e outros meios de 
informação e comunicação, inclusive através de recursos tecnológicos. 
Nesse sentido, a ocorrência da gravidez na adolescência poderá refletir na 
permanência ou saída da escola e na inserção precarizada ou prematura no mercado de 
trabalho, demandando por estratégias de proteção social que asseguram o seu 
desenvolvimento integral tendo em vista que os arranjos familiares que as referenciam, entre 
outros assuntos, são analisados como possíveis fatores de risco que inferem no agravamento 
de inúmeras situações de vulnerabilidades sociais. E, frente a tais questões que se pretende 
analisar os indicativos de adolescentes grávidas em Novorizonte/MG, conhecendo sua 
incidência, percebendo as motivações e percepções dessas adolescentes. 
Para tanto, tem-se como hipóteses que: gravidez na adolescência provem da falta 
de diálogo e dos tabus que cercam a questão da sexualidade presentes na sociedade e nas 
famílias de Novorizonte-MG; a faltade informação sobre os contraceptivos favorece a 
ocorrência da gravidez precoce nas adolescentes de Novorizonte-MG; a gravidez na 
adolescência gera consequências psicossociais que alcançam toda a família e se reflete na 
sociedade e, a evasão escolar e a inserção precoce e/ou precária no mercado de trabalho 
podem ser vistas como consequências da gravidez na adolescência. 
Nesse sentido, realizou-se estudo bibliográfico e de campo realizado no 
Município de Novorizonte, localizado no norte de Minas Gerais, enquanto uma pequena 
cidade com média de 5.200 habitantes segundo os dados do IBGE. 
O presente trabalho está amparado na utilização dos métodos quanti-qualitativos, 
pois se trata de um estudo feito de modo específico/delimitado com adolescentes que 
engravidaram, seus responsáveis legais e profissionais do Centro de Saúde Valdivino de 
Oliveira do município de Novorizonte/MG. 
12 
 
Em termos organizacionais, esse trabalho de conclusão de curso estrutura-se em 
três capítulos. No primeiro capítulo será discutido o tema adolescência, abordando alguns 
conceitos, dimensões e legislações concernentes ao assunto. A partir dessas análises situa-se o 
debate sobre “as adolescências”, destacando suas características e as implicações dessa etapa. 
Dentre os principais autores e legislações utilizadas citam-se: Farrington (2002); Outeiral 
(2005); Ariés (1986); Butler (2010); Constituição Federal de 1988 e Brasil (1990). 
No segundo capítulo discorre-se sobre a gravidez como uma expressão da questão 
social situando os fatores de riscos correlacionados a sua ocorrência. O debate da proteção 
integral é situado nesse capítulo como um direito assegurado por vários dispositivos legais. 
Dentre os principais autores e legislações utilizadas citam-se: Pantoja (2003); Bronzo (2010); 
Freire (1990); Fanelli (2003); Política Nacional de Assistência Social (2014); Brasil (2004) e, 
Promundo (2015). 
No terceiro capítulo apresentam-se os resultados e os indicativos de adolescentes 
grávidas em Novorizonte/MG, conhecendo sua incidência e percebendo as motivações e 
percepções das adolescentes sobre esse assunto. Nesse momento, analisam-se as dificuldades 
vivenciadas por essas adolescentes durante e depois da gravidez. 
Com isso, compreende-se como se dá o uso dos métodos contraceptivos e a 
existência de tabus em relação à sexualidade e gravidez precoce. Aproxima-se do 
conhecimento sobre o perfil dessas adolescentes, ao passo que também se identificam as 
estratégias políticas para proteção social das adolescentes. Dentre os principais autores e 
legislações utilizadas citam-se: Martins (2008); Minayo (2001); Lakatos e Marcone (2003); 
IBGE (2015). 
Por fim, ao concluir esse trabalho percebe-se que a gravidez na adolescência 
ocorre por desacreditar que o não uso ou uso inadequado dos métodos contraceptivos irá 
ocasionar numa gravidez e, possui maior incidência em adolescentes de famílias de menor 
poder aquisitivo, agravando-se em decorrência do fator desproteção social, sendo, portanto, 
uma situação de fragilidade e por isso demanda ações efetivas de promoção, proteção e 
garantia de direitos. 
 
 
13 
 
CAPÍTULO I – CONSIDERAÇÕES SOBRE ADOLESCÊNCIAS: CONCEITOS, 
ABORDAGENS E ALGUMAS POSSIBILIDADES DE ANÁLISE 
 
 
Este capítulo apresenta algumas análises sobre a gravidez na adolescência, 
recorrendo a vários estudos que apontam fatores diferenciados para a sua identificação como 
uma expressão contemporânea da Questão Social. 
O que se pretende é entender conceitos, ter uma visão geral do que sejam “as 
adolescências”, percebendo suas características e as implicações dessa etapa do ciclo vital 
humano no relacionamento de adolescentes consigo mesmas e com seu entorno. O texto 
começa por abordar a adolescência, tal como se conhece no ocidente, neste início de século 
XXI, como um conceito histórico e um fenômeno recente. A partir daí, serão apresentados os 
conceitos de puberdade, demonstrando que enquanto o termo adolescência se refere a 
processos sociais, a puberdade remete a fatores orgânicos e biológicos. 
Serão apresentadas as principais características do período da adolescência, 
buscando estabelecer uma conexão entre os pressupostos teóricos abordados com os 
comportamentos observados no dia a dia dos adolescentes que se manifestam tanto no espaço 
privado quanto no espaço público. A temática é analisada a partir de fatores sociais, por 
identificar a existência de situações de risco e vulnerabilidades, apresentadas por diferentes 
autores como Farrington (2002). 
 
 
1.1 – Entendimentos sobre a(s) adolescência(s) e algumas questões correlacionadas 
 
 
O conceito de adolescência é abrangente. Pode ser abordado e discutido de 
diversas maneiras e dimensões, sendo que nenhuma delas pode ser delimitada, pois existem 
várias maneiras de se compreender esse fenômeno. Deste modo, estudaremos suas definições 
a partir de algumas legislações, estatutos e estudos que apresentam entendimentos 
diferenciados e também, conceitos sobre a adolescência que na realidade se concretizam nas 
adolescências, no plural, considerando os diferentes modos de vivência e as distintas 
condições de vida humana. 
Inicia-se o estudo com a definição de adolescência dada pela Organização 
Mundial de Saúde (OMS) onde a adolescência é reconhecida como um período de 
desenvolvimento humano compreendido de 10 a 19 anos de idade. Noutros entendimentos, 
14 
 
utilizados para fins estatísticos e políticos, essa etapa é compreendida pelo período de 15 a 24 
anos, como publicizam documentos da Organização das Nações Unidas – ONU. 
(EISENSTEIN 2005 p.25) 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, tendo principalmente o 
artigo 227º como referência, tem-se um elemento jurídico norteador para a criação e 
aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no dia 13 de julho de 1990. 
Nestes documentos, a criança é referenciada como a pessoa de 0 a 12 anos incompletos e o 
adolescente como aquele entre 12 a 18 anos incompletos. Concomitantemente as legislações 
anteriores sinalizavam que esses sujeitos estão em condição peculiar de desenvolvimento, o 
que incita a 
 
(...) família, a sociedade e o Estado assegurar à criança e ao adolescente, com 
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência 
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL de 1988). 
 
 
 
Se a infância diz sobre a fase da vida vivenciada pelas crianças, a adolescência diz 
respeito à fase vivida por pessoas que se encontram, no caso do Brasil, na faixa etária de 12 a 
18 anos incompletos. Mas, mesmo tendo esses termos e categorias como parâmetro de 
análise, não se pode perder de vista que crianças e adolescentes vivenciam de forma diferentes 
essas mesmas fases da vida, considerando os seus modos e contextos de vida bem peculiares 
(menino x menina; urbano x rural; entre outros fatores e realidades). 
Etimologicamente, pode-se afirmar que o significado da palavra “adolescência” 
está relacionado à fase do desenvolvimento humano marcada por ser uma fase de 
transformações física, psicológica, social, entre outras. 
Segundo Outeiral (2003, p. 04), o termo “adolescência”, 
 
vem do latim ad (a, para) e crescer, significando a condição ou processo de 
crescimento, em resumo o indivíduo apto acrescer. Adolescência também deriva de 
adolescer, origem da palavra adoecer. Temos, assim, nesta dupla origem 
etimológica, um elemento para pensar esta etapa davida: aptidão para crescer (não 
apenas no sentido físico, mas também psíquico) e para adoecer (em termos de 
sofrimento emocional, com as transformações biológicas e mentais que operam 
nesta faixa da vida). 
 
15 
 
Deste modo, entende-se que se trata de uma fase importante da vida humana que 
engloba um conjunto de transformações biológicas, emocionais, mentais e psicológicas na 
qual o corpo infantil passa-se por transformações até chegar ao corpo adulto. 
Para Carvalho, Salles e Guimarães (2003), a adolescência não seria somente a 
transição da fase infantil para a fase adulta. Pode ser vista como uma etapa do 
desenvolvimento corporal que acontece com grande impacto na formação e no processo de 
aceitação da autoimagem corporal dos que vivenciam essa fase da vida humana – os (as) 
adolescentes. 
Noutros contextos e referências sócios espaciais, como as trazidas por autores 
franceses como o Philippe Ariès (1986), a demarcação das fases da vida humana como a 
adolescência, relaciona-se com o processo de escolarização que separou a criança e o 
adolescente do seu núcleo familiar burguês, preparando os futuros jovens para as pretensões 
da aristocracia e/ou para futura inserção no mercado de trabalho. 
Este processo iniciou-se com a separação de classes pelo capitalismo vigente, para 
a desejada organização burguesa da sociedade. Aos poucos, o lugar da criança remetia à 
inocência e à necessidade de certos cuidados. Já os adolescentes, o desejável era a disciplina. 
Conforme sinaliza Ariès (1986), é por volta de 1890 que a utilização do termo adolescência 
começou a adentrar nos vocabulários e na literatura da época. 
Outros autores como Fanelli (2003), defendem que as primeiras tentativas para 
definir claramente o que é a adolescência apareceram no século XVIII. Entretanto, reitera que 
somente no século XX é que surgiu o conceito do adolescente moderno, dotado de uma 
pureza provisória, força física e alegria de viver. 
A partir do exposto, entendemos que a adolescência está ligada às concepções e 
ideários socialmente criados e à relação do indivíduo com o meio social, por isso que em 
nossa sociedade a adolescência não é igual para todas as pessoas, pois cada um vive em uma 
condição social diferente, uns com várias oportunidades e outros não (SILVA e SILVA, 
2012). 
Mesmo considerando os diferentes entendimentos, as distintas definições 
conceituais e demarcações de faixas etárias correspondentes a essa fase da vida humana, o 
termo adolescência, principalmente adolescências, no plural, passou a significar um 
emaranhado de fatores de ordens individual e social, com complexas inferências históricas, 
culturais e biológicas. 
Não obstante, vários fatores correlacionados a essa fase da vida humana, 
principalmente ligados às situações de risco e vulnerabilidades, também são apontados em 
16 
 
estudos que analisam os processos de agravamento e complexificação das expressões da 
Questão Social. 
De acordo Iamamoto (1998, p.27): 
 
a Questão Social é apreendida como um conjunto das expressões das desigualdades 
da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada 
vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a 
apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da 
sociedade. 
 
Por meio da análise das expressões da questão social analisam-se as situações, as 
determinações e diferentes contextos do cotidiano da sociedade. Por meio dessas análises, é 
possível entender melhor a conjuntura sócio-histórica, a precarização dos contextos de vida, 
as inferências do sistema de produção capitalista, bem como os principais fatores de risco, 
vulnerabilidade, pauperização e a falta de proteção social que perpassam a vida das mães 
adolescentes. Nessa direção, analisa-se a questão social, 
 
[...] nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as 
experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência 
social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por 
envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta 
tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que 
trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais 
distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em 
sociedade. [...] a questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho 
cotidiano do assistente social. (IAMAMOTO, 1997, p.14) 
 
Nessa direção é que se pensa a gravidez na adolescência como uma das 
expressões da questão social, principalmente por todas as situações que se correlacionam com 
essa problemática que estão para além das dimensões individuais ou biológicas. Com base 
nesse entendimento é que todas as possíveis dimensões dessa expressão da questão social 
contemporânea deverão ser analisadas. 
Ao considerar as análises biológicas sobre a(s) adolescência(s), destacam-se as 
contribuições de autores que enfatizam que essa fase da vida relaciona-se às mudanças e ao 
desenvolvimento do corpo humano, como Erikson (1972) que expressa que a adolescência é 
identificada pelo aspecto biológico e a evolução do indivíduo. Considera-se o início da 
transformação fisiológica para somente depois analisar as outras dimensões, tais como as 
psicológicas e sociais, sinalizadas ao longo da vida do sujeito. Em publicações diversas, Tiba 
(1985), define a adolescência como uma fase de desenvolvimento instável, mas com um 
17 
 
tempo demarcado. Tem início na puberdade e indica a fase biológica inicial de transformação 
do corpo como dos órgãos genitais. 
Na adolescência tem-se a puberdade considerada como uma fase geradora de 
mudanças no corpo do(a) adolescente e isso relaciona-se com as mudanças psicossociais e à 
aquisição de maturidade, inclusive da vida sexual. O corpo dos adolescentes passa por 
transformações biológicas naturais e isso é assimilado de diferentes maneiras por quem as 
vivenciam. 
Neste sentido, os autores citados anteriormente expõem que adolescência é uma 
fase do desenvolvimento do corpo direcionada por um conjunto de fatores, inclusive 
psicossociais, que provocam inúmeras mudanças e transformações na vida dos/das 
adolescentes em seu processo de desenvolvimento para a fase adulta. 
Os argumentos de Outeiral (1994) complementam essa análise e percepção por 
considerar que a adolescência é uma fase que compõe o ciclo biológico do desenvolvimento 
humano, em que se dá o início da transformação corporal que se amplia até a fase adulta. Para 
esse autor, a adolescência está dividida em três fases: na primeira fase, o(a) adolescente(a) 
vivencia uma passividade em relação as suas transformações corporais, criando sentimento de 
impotência em função da realidade. Na segunda, tem-se a crise de gerações, onde o arranjo 
familiar é visto de forma diferente da geração de seus pais. O autor argumenta que os 
adolescentes tendem a questionar a liberdade, as possibilidades, a sua independência ao 
mesmo tempo em que a sua dimensão sexual se define. 
A terceira e última fase, segundo Outeiral (1994), refere-se às dimensões sociais, à 
busca da identidade profissional e inserção profissional no mercado de trabalho, sinalizando o 
desejo de independência socioeconômica. Para outros autores, essas características estão mais 
relacionadas à juventude do que a adolescência propriamente dita, principalmente porque 
revelam uma transição para a idade adulta (CAMARANO et al, 2006). 
Santos, Neto e Kollera (2005) defendem a ideia que o desenvolvimento humano 
emerge a partir da interação entre fatoresbiológicos. Expressam e concordam com Outeiral 
(1994) nos argumentos que analisam que os fatores biológicos são compostos por quatro fases 
e, nestas, existem três momentos: 1) a infância (período gestacional, primeira infância, 
segunda infância); 2) adolescência (puberdade, adolescência média e final); 3) adultez (jovem, 
maduro e final) e 4) velhice. 
A adolescência então, sob o crivo biológico, seria uma fase de transformação do 
corpo humano, de reconstrução do eu, que correlaciona com outros distintos fatores como os 
corporais, familiares e comunitários que, nesse processo, também sofrem mudanças nem 
18 
 
sempre pacíficas. Existem fragilidades e sensibilidades que surgem nesse período, como 
explicam alguns autores a seguir, em que os adolescentes propendem-se a buscar a 
independência, liberdade, prazeres, se auto afirmando, muitas vezes de forma reativa, quando 
não conflitiva frente às coerções presentes nas relações que estabelecem. Por isso é que as 
análises das dimensões emocionais são muito importantes em estudos que versam sobre a 
adolescência. 
A literatura aponta que essa fase da vida humana é, muitas vezes, avaliada como 
ambígua: não se é criança e nem uma pessoa adulta. Nesse contexto, mesclam-se sentimentos, 
percepções, abordagens diferenciadas, conforme os processos de formação humana e de 
socialização dos indivíduos. 
Segundo Levinsky (1995), a adolescência pode ser também, compreendida a partir 
de análises que consideram as dimensões psicossociais vivenciadas e que fazem parte da vida 
dos sujeitos. A puberdade e o desenvolvimento cognitivo demarcam, segundo o autor, o 
limiar desse ciclo vital. Cada sociedade regulamenta as delimitações etárias, mas, é preciso 
considerar as particularidades do desenvolvimento que também é individual, relacionando-se 
com outras variáveis humanas e sociais. 
Frota (2007) expõe que a adolescência, para muitos, é caracterizada como um 
período natural em que o indivíduo torna-se um sujeito chato, com a personalidade difícil de 
se lidar, de muitas crises emocionais. A autora expõem que no saber popular costumam 
caracterizar a fase da infância como o melhor momento do desenvolvimento do corpo humano 
e a adolescência como fase de difícil compreensão, complexa para quem passa a conviver 
com os/as adolescentes devido às transformações psicossociais intensas desse período. 
Reforça que geralmente a maior dificuldade está na necessidade de compreendê-los e/ou da 
falta de informações sobre essa fase da vida. 
No Brasil, publicações de órgãos oficiais como o Manual de Atenção à Saúde do 
Adolescente (2006, p 17) sinalizam a importância de entender certos conceitos como de 
puberdade quando o tema da adolescência é analisado. Nesse documento, a puberdade é 
percebida como: 
 
(...) conjunto de modificações biológicas que transformam o corpo infantil em 
adultos, constituindo-se em um dos elementos da adolescência. A puberdade é 
constituída pelos seguintes componentes: crescimento físico: aceleração, 
desaceleração, até a parada do crescimento (2º estirão); maturação sexual; 
desenvolvimento dos órgãos reprodutores e aparecimento dos caracteres sexuais 
secundários; mudanças na composição corporal; desenvolvimento dos aparelhos 
respiratório, cardiovascular e outros. A puberdade é um parâmetro universal e ocorre 
de maneira semelhante em todos os indivíduos. A adolescência abrange, além da 
19 
 
puberdade, os componentes psicológicos e sociais característicos dessa fase da vida. 
Está sujeita, portanto, a influências sociais e culturais (CODEPPS, 2006, p. 17). 
 
 
Apesar dessas indicações mais genéricas, cada pessoa tem uma vivência bem 
particular dessa fase. Os fatores genéticos, hereditários, seus modos e condição de vida, as 
inferências das instituições primárias e secundárias influem e muito no seu desenvolvimento. 
Mesmo sinalizando a existência de mudanças e transformações na puberdade, cada 
adolescente pode, ou não, vivenciar esses mesmos conflitos psicossociais. 
Com base na literatura estudada anteriormente é possível entender que a temática 
da(s) adolescência(s) se relaciona com temas importantes tais como as situações de risco e 
vulnerabilidade social, muito próximas das discussões feitas por diferentes áreas e profissões 
como o Serviço Social. Isso porque essa fase da vida humana permeia (ou se relaciona) com 
as ditas transformações históricas, biológicas, psicológicas, culturais, políticas e sociais. 
 
 
1.2 – Adolescências, fatores de risco e algumas possibilidades de análise a partir das 
questões de gênero. 
 
Apesar de esses autores contextualizarem os fatores de risco e os contextos de 
violências ligados as adolescentes, há que se analisar também as particularidades da 
adolescência tendo o sexo feminino como referência. Ao se consider a existência de 
adolescências, no plural, indicando que cada pessoa pode vivenciá-la de forma diferente, 
deve-se entender como é a vivência binária dessa fase da vida humana. Por conta disso, apesar 
de a maioria dos estudos terem o adolescente, do sexo masculino como referência, é preciso 
discorrer sobre a adolescência, seus aspectos e previsões legais tendo as particularidades do 
gênero feminino como ponto de discussão. 
Desde a fecundação, o feto tem seu destino praticamente “traçado” em uma 
dialética dicotômica que é biológica, mas também social: pênis ou vagina, carrinho ou 
boneca, azul ou rosa. Desde cedo é orientado a internalizar e reproduzir os comportamentos 
sociais e culturais do sexo logo identificado. Esses, tendencialmente, moldam nossos corpos e 
intelectos privando-nos de outras possibilidades em razão das orientações culturais e 
religiosas de um povo ou sociedade. Essas são relações permeadas por fatores 
socioeconômicos, sociais e políticos que tanto inferem na cultura, nas formas de sociabilidade 
e socialização dos indivíduos. 
20 
 
É uma forma do biopoder em prol das verdades absolutas do gênero. A vivência, 
portanto, da adolescência tende a ser diferente para o adolescente e a adolescente. Meninas, 
mesmo vivenciando mudanças biológicas, emocionais e sociais, tendem a ser envolvidas em 
outras práticas e formas de sociabilidade. Meninas, desde a infância, brincam e ganham 
presentes ligados às tarefas domésticas ou que estimulam o cuidado com a aparência, até 
considerando os padrões socialmente vigentes. 
São caracterizadas como de comportamento frágil, sensível, dócil, fiel, apta para a 
maternidade, uma mãe por natureza divina, ao contrário dos meninos, dos quais se esperam 
comportamentos que remontam à reprodução e ao provimento familiar. Socialmente, rotula-se 
que “homem não chora” disseminando que a sociedade exige habilidades muito ligadas, 
culturalmente, às lógicas do patriarcado. 
De acordo Saffioti (2004, p.44), a cultura do patriarcado incide e influencia as 
relações de gênero que legitimam históricas desigualdades além das relações de poder e 
subordinação. Para Butler (2003, p.24), o chamado gênero é algo 
 
Culturalmente construído [...] não é nem o resultado causal do sexo, nem 
tampouco tão aparentemente fixo quanto o sexo. A unidade do sujeito já é 
potencialmente contestada pela distinção que abre espaço ao gênero como 
interpretação múltipla do sexo. 
 
O gênero resulta de representações culturais declaradas pelos corpos. Por conta 
disso, não se pode afirmar que o sexo é definitivo e apenas o biológico. Deve se distinguir as 
diferenças dos corpos e dos gêneros, tirando, então, culturalmente a estabilidade do sexo 
binário e as diferenças entre os corpos do homem e da mulher ou masculino e feminino. De 
outro modo, o gênero não é o que somos, mas sim as nossas atitudes e as consequênciasdos 
nossos atos (BUTLER, 2003, p.25). 
Sabe-se que o sistema patriarcal legitima a dominação e exploração das mulheres 
pelos homens e isso contribui para que determinadas regras sociais ou comportamentos sejam 
socialmente aceitáveis e/ou justificáveis. Nesse sentido, Butler (2003), em seus estudos sobre 
o gênero analisa a relação entre sexo/gênero/desejo e discute com grande relevância a 
essência da mulher, a importância do movimento feminino que, inclusive, influencia os 
sistemas jurídicos de poder que regulam a vida política e a elaboração/aprovação de regras 
sociais. 
21 
 
Já autoras como Beauvoir (1980), em seu livro Segundo Sexo, “Ninguém nasce 
mulher, torna-se mulher” pontua que as mulheres culturalmente são orientadas a seguir 
padrões culturais da sociedade com uma identidade e sexualidade definida baseada no gênero 
binário da heterossexualidade. 
Argumenta que estas definições e explicações não garantem que a mulher se torne 
necessariamente uma mulher. As dinâmicas da sociedade, as transformações e as mudanças 
culturais, por exemplo, fornecem possibilidades de entendimento muito particulares desses 
processos: se em tempos remotos as mulheres casavam-se muito novas, eram criadas e 
educadas para aprender a se tornar mulher, mãe, esposa dedicada aos afazeres domésticos, 
sendo submissa ao seu pai e marido de forma calma, dócil, frágil, que obedece às normas e 
deveres estabelecidos e criados pela família, gera-se com isso, uma tradição familiar que 
tende a ser transmitida de geração em geração, sendo enraizada culturalmente pela sociedade 
a partir dos debates sobre as questões de gênero. Assim, 
 
A ideia de que gênero é construído sugere um certo determinismo de significados do 
gênero, inscritos em corpos anatomicamente diferenciados, sendo esses corpos 
compreendidos como recipientes passivos de uma lei cultural inexorável. Quando a 
“cultura” relevante que “constrói” o gênero é compreendida nos termos dessa lei ou 
conjunto de leis, tem-se a impressão de que o gênero é tão determinado e tão fixo 
quanto na formulação de que a biologia é o destino. (BUTLER, 2003, p.26) 
 
Butler (2003) aponta que o gênero é uma construção cultural que determina uma 
maneira de comportar-se a partir do seu biológico. Ao mesmo tempo, pontua que de certa 
forma, pode ser alterada para uma nova determinação social e cultural que excluída, também 
pode criar outras possibilidades. 
Por meio desse trabalho indica-se que os estudos de gênero estão presentes na 
sociedade e ainda requerem a constante revisão sobre a divisão igualitária entre os sexos, com 
as diversas atividades e responsabilidades do cotidiano relacionadas à família, comunidade, 
trabalho, moral, sexual, comportamento, meio político e etc. O estudo sobre a adolescência no 
campo das análises sobre gênero, também abre as possibilidades para que se identifique e 
compreenda o “ser adolescente”, do sexo feminino, em contraposição a toda uma cultura 
sócio-histórica e contextos vigentes. É nesse âmbito que se situam as abordagens sobre 
adolescência, gênero e fatores de risco. 
Para muitos autores como Farrington (2002), ser adolescente já é por si só, um 
fator preocupante para questões complexas e muito atuais. A análise da realidade, dos modos 
e condição de vida, muitas vezes permeadas por situações de risco e vulnerabilidades sociais 
22 
 
também influenciam o desenvolvimento de muitos adolescentes. Quando se analisa algumas 
situações que o referido autor chama de risco
2
, alguns fatores são preponderantes: o fato de 
ser adolescente; ser do sexo masculino; questões psicossociais e genéticas correlacionadas à 
impulsividade; ao baixo desempenho escolar; à baixa renda familiar e com supervisão 
parental deficiente; o envolvimento com certos grupos; o uso de substâncias psicoativas; a 
vivência em ambientes conflituosos, entre outros. A partir de tais inferências sugere que a 
violência juvenil é apreendida e pode ser definida através de atos que provocam danos e 
geram agressões físicas ou psicológicas, até mesmo em pessoas situadas numa faixa etária 
mais extensiva de 10 a 21 anos de idade. Contudo, não quer dizer que uma pessoa que seja 
influenciada por tais fatores de risco se tornaram, de forma determinada, violenta. 
Especificamente a literatura mostra a existência de teorias para analisar e buscar 
respostas para os comportamentos caracterizados como delituosos e agressivos que acontecem 
na adolescência. Acredita-se que os comportamentos violentos estão associados às mudanças 
biológicas dos adolescentes, pelo aumento dos níveis de testosterona nos adolescentes (sexo 
masculino), que aumentam durante a adolescência gerada pelas transformações do corpo 
(FARRINGTON, 2002). 
Para Sapienza e Pedromônic (2005), as variáveis apresentadas acima são 
associadas a fatores de risco bem particulares, existentes na fase da infância e na 
adolescência, tais como: depressão, ansiedade, estresse, distúrbios de conduta, evasão escolar, 
problemas de aprendizagem, uso de entorpecentes, principalmente se ocorrem em contextos 
de violências familiares e psicossociais, abandono, maus-tratos, situação de extrema pobreza, 
e/ou desemprego. 
Todos esses fatores de risco também são percebidos na vivência da adolescente 
(gênero feminino), muito agravados pelos contextos de violências sexuais, discriminação e 
preconceitos (principalmente quando vivencia a gravidez precoce e/ou a prática de abortos). 
Não menos raras são as ocorrências de casos de exploração sexual, de suicídio, assédio 
sexual, evasão escolar, entre outras como a ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis, 
complicações obstétricas, homicídio/suicídio, entre outros. Somam-se a esse contexto, as 
precárias condições de vida e a fragilidade das políticas de proteção social familiar que 
 
2
De acordo a Política Nacional de Assistência Social – PNAS (2004) em seu contexto existe expressão de 
situação de risco e vulnerabilidade sem distinção, que se direcionar aos usuários desta política. 
23 
 
poderiam contribuir para que o desenvolvimento desses sujeitos fosse de fato saudável. 
(HOGH, WOLF
3
, 1983 apud FARRINGTON,2002). 
Comumente, essas famílias moram em lugares bem afastados, empobrecidos, 
pelas péssimas condições sanitárias e de distribuição de renda. Nessas famílias, 
principalmente os filhos(a) não estudam, saem da escola para trabalhar tornando-se uma mão 
de obra barata e pauperizada. Tal situação e contextos nem sempre são identificados como 
violador de direitos, uma vez que é reforçado socialmente que a submissão a essas precárias 
condições de vida e sobrevivência são estratégias de sobrevivência para aumentar a renda para 
o sustento familiar. 
Neste mesmo sentido é que se verifica que todos os adolescentes, na sociedade 
brasileira, sofrem com vários tipos de vulnerabilidades também relacionadas aos impactos do 
gênero. Os adolescentes estão sujeitos ao afastamento do sistema escolar devido entrarem 
precocemente no trabalho informal para o sustento da família e sempre exposto a violência e 
abuso sexual, já as adolescentes são vulneráveis a exploração e ao abuso sexual, ao trabalho 
doméstico em outras famílias em busca de uma renda ou dentro de suas próprias família, 
abandono dos estudos em decorrência do trabalho, doenças sexualmente transmissíveis, 
gravidez precoce, entre outros. (UNICEF, 2011) 
 Quando são analisadas a realidade e as condições de vida de adolescentes 
grávidas, que dependem de outras pessoas e instituições para sobreviverem, essa situação se 
torna ainda mais complexa, principalmente quando se considera, segundo publicação do 
UNICEF (2011), que 11%de todo o contingente populacional brasileiro é composto por 
adolescentes. Ou seja, 21 milhões de pessoas estão entre a faixa etária de 12 aos 18 anos de 
idade e 8 milhões destes adolescentes pertencem a família de baixa renda e nível de 
escolaridade em defasagem na faixa etária correspondente. 
Atualmente, os espaços de democratização são vistos por muitos gestores como 
essenciais para crianças e adolescentes como forma de contribuir com a reflexão de temas 
correlacionados a importância e modos de ser mulher, que percebe seu lugar na sociedade, 
inclusive nas áreas das políticas públicas que propicia o reconhecimento do ser político que 
luta e reivindica seus direitos e deveres, afirmando a importância desse conhecimento teórico 
e prático desde a fase infantil. 
 
3
HOGH, E.; WOLF, P. Crime violento em uma coorte de nascimento: Copenhague, 1953-1977. In: VAN 
DUSEN, K. T.; MEDNICK, S. A.(Ed.) Estudos prospectivos de crime e delinquência. Boston: Kluwer-Nijhoff, 
1983. p. 249-67. 
 
24 
 
Com base nos argumentos e análises apresentadas nesse primeiro capítulo, 
verifica-se a importância de se conhecer e compreender melhor as particularidades e fatores 
correlacionados às adolescentes grávidas (considerando que esta problemática na adolescência 
não é um fenômeno recente), como estratégia para se perceber os dilemas e fatores 
correlacionados como expressões contemporâneas da questão social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
CAPÍTULO II - GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA E CONTEXTOS DE (DES) 
PROTEÇÃO SOCIAL E FAMILIAR 
 
 
No primeiro capítulo foram analisadas algumas questões correlacionadas às 
adolescências, trazendo à baila diferentes possibilidades de entendimentos sobre os processos 
históricos, definições e conceitos que se relacionam com as discussões sobre as situações de 
vulnerabilidade e fatores de risco que fazem parte da vida de muitos/as adolescentes, 
especialmente daquelas do sexo feminino. 
Por sua vez, este segundo capítulo traz o tema da gravidez na adolescência como 
uma possibilidade de conhecer e melhor compreender essa expressão da questão social que há 
tempos foi naturalizada e que, nos dias atuais, é considerada uma situação de fragilidade para 
as adolescentes quando se pensa na proteção integral como um direito assegurado por vários 
dispositivos legais. 
Nesse sentido é que a própria ocorrência da gravidez; a permanência ou saída da 
escola; a inserção ou saída do mercado de trabalho; as estratégias de proteção social que 
asseguram o seu desenvolvimento integral; os arranjos familiares que as referenciam, entre 
outros assuntos, são analisados como possíveis fatores de risco que inferem no agravamento 
de inúmeras situações de vulnerabilidades sociais. 
 
2.1 – Gravidez na adolescência e os contextos de risco e vulnerabilidade social 
 
Através do estudo da Política Nacional de Assistência social – PNAS (2004) é 
possível visualizar as vulnerabilidades por um emaranhado de fatores que inclui as 
fragilidades das adolescentes, as suas carências familiares e a ausência de suportes de 
proteção social como alternativa a esses contextos adversos. Por sua vez, o conceito de risco 
utilizado aproxima-se do entendimento sobre as situações de violação de direitos e da 
fragilização ou rompimentos de vínculos familiares ou comunitários. 
No âmbito das discussões sobre proteção social (que partem das previsões da 
Política Nacional de Assistência Social – PNAS), busca-se entender a importância da família 
enquanto primeira instituição social responsável pela garantia do bem estar dessas 
adolescentes. Não obstante, não se menospreza a responsabilidade do Estado no que tange à 
garantia de “seguranças” e nas superações dessas agravadas situações. Nessa direção, sinaliza-
26 
 
se para a necessidade de compreensão do papel e da importância do Estado na garantia dessa 
proteção social individual e familiar, especialmente, às adolescentes grávidas. 
Com isso, espera-se identificar quais são hoje as políticas públicas e sociais que 
atendem essas meninas e analisa-se porque, em muitos territórios o setor saúde é referenciado 
como um dos possíveis contatos do Estado com esse público e suas famílias. Sem sombra de 
dúvidas, parte-se de algumas previsões de Brasil (1990) para se entender que o direito à saúde 
deve ser assegurado à criança desde o ventre materno. Nessa direção é que se aproximou da 
área da saúde para entender como essa política de proteção, que se relaciona com a Política de 
Assistência Social, cria e implementa estratégias efetivas para superação das situações de 
risco e vulnerabilidades apontadas. 
As dimensões sócio-históricas da gravidez na adolescência fazem-nos entender 
que não se trata de um fenômeno novo. Envolto a tradições e aos movimentos culturais que 
foram construídos e legitimados socialmente, a maternidade em fases ainda precoces da vida 
humana esteve muito atrelada à permissividade do casamento em idades que hoje não mais 
são consideradas como “recomendadas”. 
Para Dias e Teixeira (2010, p.124), a gravidez na adolescência é: 
 
 
 [...] antes de tudo, um fenômeno social, um nome que se dá a um período do 
desenvolvimento no qual certas expectativas sociais recaem sobre os indivíduos e 
configuram um modo de ser adolescente, fruto da conjugação de transformações 
biológicas, cognitivas, emocionais e sociais pelas quais passam as pessoas. Sendo a 
gravidez um fenômeno social, os contornos da adolescência não podem ser definidos 
em termos absolutos, uma vez que tal definição depende do lugar que a sociedade 
atribui ao adolescente em um dado momento histórico. 
 
 
Para Ariès (1986), a gravidez na adolescência tem um marco histórico que advém 
desde outras gerações. No século XVIII, as adolescentes se casavam entre 12 a 14 anos. Eram 
preparadas emocionalmente para constituir sua família obtendo, com isso, várias 
responsabilidades e funções direcionadas às “senhoras do lar”. Comumente, os casamentos 
eram arranjados pelos seus pais e as mulheres eram vistas como submissas à figura do homem 
seja ele pai ou o marido o que legitimava os ideários de uma sociedade sustentada pelo regime 
patriarcal. 
Assim como na França, essa prática era comum em várias partes do mundo, tanto 
que somente no ano de 1962, dadas às questões emergentes foi discutida a idade mínima para 
o casamento com direito do registro civil, na Convenção Internacional realizada pela 
27 
 
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU e definida a idade mínima de 16 
anos para o casamento através da aprovação da Lei nº 659, de 30 de junho de 1969. No Brasil, 
a ratificação desse dispositivo deu-se por meio do Decreto executivo de nº 66.605, 
promulgado no dia 20 de maio de 1970, sendo, portanto, alei que resguardava o direito desse 
público antes da Constituição Federal de 1988. 
Autores como Pantoja (2003) reafirmam que a gravidez na adolescência não é 
novidade no Brasil, mas somente há poucas décadas é que foi identificada como um 
“problema social” pelas ocorrências que inferiam na saúde desse público, agravando as 
situações de risco que demanda atenção das políticas públicas. 
Noutros tempos, o casamento e a maternidade na adolescência foram 
naturalizados, considerando que havia uma demasiada valorização dessa fase da vida como 
um período propício para ter filhos, considerando que estas “não estavam inseridas no 
mercado de trabalho e eram apenas dona do lar” (SILVA e SILVA, 2012). Sob as bases da 
Doutrina da Proteção Integral aprovada internacionalmentee ratificada tanto no Texto 
Constitucional de 1988 como no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), tem-se uma 
maior atenção e preocupação coletiva sobre as questões que se relacionam com tal 
problemática, tais como os contextos de desproteção social, as possibilidades de aborto, a 
evasão escolar, a inserção precoce no mercado de trabalho, dentre outros fatores que podem 
ser identificados como de risco social. 
A Organização Não Governamental Promundo
4
, com vistas a promover ações que 
enfrentem a violência e promovam a igualdade de gênero, na pesquisa intitulada “Ela vai no 
meu barco: casamento na infância e adolescência no Brasil”, realizada entre 2013 a 2015, 
objetivou conhecer a realidade e as dimensões do casamento nesta fase da vida e sinaliza que 
vários assuntos aparecem quando essa temática é discutida, tais como a própria “gravidez na 
adolescência, a evasão e o abandono escolar, a exploração sexual na infância e adolescência, o 
trabalho infantil e a violência contra mulheres e crianças”. Entretanto, afirma que nenhum 
estudo aprofundou na discussão sobre os agravamentos e consequência de tais práticas. 
Neste estudo, o Brasil ocupa o 4º lugar do ranking mundial em casamento de 
meninas com até 15 anos: o Brasil “também é o quarto país em números absolutos de meninas 
casadas com idade inferior a 18: cerca de 3 milhões de mulheres com idades entre 20 e 24 
anos casaram antes de 18 anos (36% do total de mulheres casadas nessa mesma faixa 
 
4
 Para mais informações consultar o site <https://promundo.org.br/2015/08/19/promundo-lanca-pesquisa-inedita-
sobre-a-pratica-do-casamento-na-infancia-e-adolescencia-no-brasil-em-brasilia/>. 
 
28 
 
etária)”5. Em cenários latino-americanos e do Caribe, essa realidade só é maior na República 
Dominicana e Nicarágua. 
O relatório do Unicef (2013) também publiciza informações a esse respeito: 
 
Das 1.1 bilhões de meninas no mundo, 22 milhões já estão casadas. Se as tendências 
atuais continuarem, o número de meninas menores de 18 anos casadas a cada ano 
crescerá de 15 milhões hoje para mais de 18 milhões em 2050 (UNICEF, 2013). A 
prática está associada a morbidades e mortalidades materna e infantil e 
frequentemente ocorre em áreas com menor acesso à educação e oportunidades de 
emprego para mulheres e meninas, e com altas taxas de violência de gênero. (JAIN 
& KURTZ, 2007; UNICEF, 2007; RAJ et al., 2010
6
, Apud PROMUNDO, 2015) 
 
 
Nessa pesquisa realizada pela Promundo (2015) citam-se alguns fatores que 
influenciam o casamento precoce de adolescentes. Dentre eles destacam-se: 
 
 (1) o desejo, muitas vezes, de um membro da família, em função de uma gravidez 
indesejada e para proteger a reputação da menina ou da família e para segurar a 
responsabilidade do homem de “assumir” ou cuidar da menina e do(a) bebê 
potencial; (2) o desejo de controlar a sexualidade das meninas e limitar 
comportamentos percebidos como „de risco‟ associados à vida de solteira, tais como 
relações sexuais sem parceiros fixos e exposição à rua; (3) o desejo das meninas 
e/ou membros da família de ter segurança financeira; (4) uma expressão da agência 
das meninas e um desejo de saírem da casa de seus pais, pautado em uma 
expectativa de liberdade, ainda que dentro de um contexto limitado de oportunidades 
educacionais e laborais, além de experiências de abuso ou controle sobre a 
mobilidade das meninas em suas famílias de origem; (5) o desejo dos futuros 
maridos de se casarem com meninas mais jovens (consideradas mais atraentes e de 
mais fácil controle do que as mulheres adultas) e o seu poder decisório 
desproporcional em decisões maritais. 
 
Se por ora alguns fatores são apresentados como influenciadores do casamento 
precoce, outros fatores também são apresentados como consequências dessa mesma relação 
conjugal estabelecida. Dentre eles se destacam: 
 
(1) gravidez (por vezes é a própria causa do casamento) e subsequentes problemas 
de saúde maternal, neonatal e infantil que ocasionam um aumento de risco no corpo 
de uma criança ou adolescente; (2) atrasos e desafios educacionais; (3) limitações à 
mobilidade e às redes sociais das meninas (principalmente porque as expectativas de 
independência são frustradas por maiores restrições à mobilidade do que antes do 
casamento); (4) exposição à violência do parceiro íntimo, incluindo uma gama de 
 
5
 Informações disponíveis no site <https://promundo.org.br/2015/08/19/promundo-lanca-pesquisa-inedita-sobre-
a-pratica-do-casamento-na-infancia-e-adolescencia-no-brasil-em-brasilia/> 
6
 RAJ, A., SAGGURTI, N., LAWRENCE, D., BALAIAH, D. e SILVERMAN, J.G. (2010). “Association 
between Adolescent Marriage and Martial Violence among Young Adult Women in India.” [Associação entre 
casamento na adolescência e violência marital entre mulheres jovens na Índia]. International Journal of 
Gynaecology and Obstetrics: The official organ of the International Federation of Gynaecology and 
Obstetrics(100)1: 35-39. 
29 
 
comportamentos controladores e não equitativos por parte dos maridos mais velhos. 
O estudo também constatou oferta inadequada e muitas vezes discriminatória de 
serviços e de proteção dos direitos de meninas casadas. (PROMUNDO, 2015, p.13) 
 
 
As análises desses fatores permitem verificar como as questões culturais que 
legitimam os ideários do patriarcado e as práticas de dominação e “coisificação” estiveram e 
ainda estão presentes em distintas sociedades. Sabe-se que muitas são as questões que 
contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência. Oliveira (1998) sinaliza, dentre 
elas, a falta de informações, o uso inadequado dos métodos contraceptivos e as influências 
culturais que incidem sob o tabu da sexualidade. Também cita a existência de um suposto 
“pensamento mágico” onde as adolescentes subestimam a possibilidade da ocorrência e não 
cogitam que a falta de prevenção resultará numa gravidez não planejada. 
Na contramão do que sinaliza Oliveira, Pantoja (2003), expõem que a 
maternidade na adolescência também pode ser considerada, pela adolescente, como uma 
possibilidade de “ascensão social” por entender que nessa condição será reconhecida como 
pessoa adulta. Essa situação pode ocorrer quando as adolescentes desejam conquistar a 
confiança de outras pessoas e conseguir melhores condições socioeconômicas (se 
considerarmos as condições socioeconômicas do pretenso pai). 
Nesse âmbito de possibilidades, não se pode desconsiderar as motivações 
particulares das adolescentes que muitas vezes desejam ter filhos para alcançar objetivos nem 
sempre tão claros, como manter vínculos com uma pessoa, entre outras motivações. Vista por 
muitos como “opção”, a pílula do “dia seguinte”, erroneamente, tende a ser muito utilizada 
como estratégia de prevenção a esse tipo de gravidez nem sempre desejada (NASCIMENTO; 
SOARES, 2015). 
Esses autores apontam que os adolescentes geralmente iniciam sua vida sexual em 
meados de seus 13 a 15 anos o que sinaliza um percentual de 28,7% do total dos adolescentes 
brasileiros, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2012, divulgada pelo IBGE. A 
consideração sobre essa fase da vida, sobre suas particularidades e as questões 
correlacionadas, precisa ser mais bem analisada, principalmente considerando que fatores 
como a sexualidade pode inferir em comportamentos, modos de vida e na própria reprodução 
humana que, nesse caso, pode acontecer de forma precoce. 
Nessa direção é que se reconhece que é preciso discutir mais sobre o tema 
sexualidade, principalmente porque ela é: 
 
30 
 
Um dos elementos fundamentaisda estrutura da pessoa humana e a sua abordagem 
exige uma atenção integral na sociedade em que vivemos. A exposição constante a 
que os jovens atualmente estão sujeitos, através dos meios de comunicação, com 
símbolos sexuais e a estimulação erótica, associada à sua vulnerabilidade, podem 
contribuir para uma maior suscetibilidade às influências e, consequentemente, à 
adoção de comportamentos de risco. Embora muitos adolescentes tenham recebido 
educação sexual em idades precedentes, tanto no seio da família como na escola, 
nem sempre estão devidamente preparados para o impacto da puberdade 
(NASCIMENTO; SOARES, 2015, s.p). 
 
 
De acordo com esses autores, pode-se entender que a fase da adolescência é por 
demais complexa e indissociável do processo de desenvolvimento da espécie humana no 
entremeio aos mais variados sentimentos que se conectam. Para a adolescente, a gravidez 
pode gerar um aumento significativo das necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais, 
comprometendo o seu desenvolvimento e criando algumas limitações, tais como as do campo 
educacional, no campo do trabalho, nos modos de vida, entre outros. 
Dias e Teixeira (2010, p.124) explicitam que nessa fase da vida acontecem várias 
transformações biopsicossociais e cada sociedade com sua cultura, vivenciou e considerou de 
forma muito particular a gravidez precoce. Na ausência de parâmetros internacionais e 
nacionais, a moral legitimou muitas práticas que contribuíram e muito para que contextos de 
riscos e vulnerabilidades perdurassem. Fato interessante é a identificação de que muitas 
mulheres, que foram mães adolescentes, tornaram-se avós das filhas de suas filhas, mães 
adolescentes. 
Mesmo sendo uma possibilidade que pode acontecer em distintas classes sociais, 
os autores citados argumentam que a gravidez precoce comumente acontece com maior 
frequência em famílias com situação de risco, violências, vulnerabilidades e contextos de 
negligências e desproteção social mais fragilizados/agravados. Na maioria das vezes, as 
adolescentes deixam a escola e passam a depender duplamente dos pais, responsáveis e dos 
pais dos filhos gerados (considerando que muitas acionam a justiça para obter o direito à 
pensão alimentícia). Por isso é que, mais uma vez, reforça-se que de acordo com os autores 
estudados, como Silva & Salomão (2003), a gravidez precoce está geralmente relacionada aos 
contextos de vulnerabilidade, pauperização, desigualdades sociais e à pobreza. 
Quando se considera que esse fenômeno sócio-histórico infere na condição de 
vida de muitas meninas e suas famílias, emerge a sua caracterização como expressão da 
questão social. Não se trata de somente um problema sócio-histórico, ele se agrava na 
conjuntura atual, dada à precariedade das condições de vida das pessoas. 
31 
 
Nesse sentido, adentrando na agenda pública, a demanda por proteção social 
individual e familiar passa a ser entendida como de responsabilidade da família, da sociedade 
e do Estado devendo ser assegurada condições para que todos/as os/as adolescentes, entre 12 a 
18 anos incompletos, tenham condições de se desenvolverem integralmente. 
A ausência, senão fragilidade, das políticas públicas e sociais, que porventura 
poderiam assegurar a proteção social para esse segmento populacional é uma questão que 
merece destaque, considerando que muitas famílias não têm condições de assegurar que as 
necessidades vitais e básicas desse segmento populacional sejam atendidas. Não se consegue, 
pelas presentes condições socioeconômicas de sobrevivência, proteger e garantir as condições 
para que essas meninas se desenvolvam integralmente, respeitando a sua condição peculiar de 
desenvolvimento. 
Fanelli (2003) colabora ao afirmar que a gestação precoce pode comprometer o 
futuro profissional e dificultar o retorno a escola, diminuindo as oportunidades de obtenção de 
um emprego mais qualificado. As complicações decorrentes da gravidez na adolescência, 
também se associam às condições sociais de existência, relacionadas com o nível de 
escolaridade, estado civil e apoio familiar. Além da antecipação na formação dos papéis 
sociais, as questões socioeconômicas como o trabalho de menor prestígio e baixa 
remuneração, a dependência financeira da família e do companheiro poderão repercutir de 
forma negativa tanto para a baixa autoestima, quanto para a consolidação dos projetos de vida 
da jovem. 
Desta forma, a gravidez na adolescência é identificada com umas das expressões 
da questão social que atualmente vem trazendo um emaranhado de consequências que, direta 
e/ou indiretamente, afetam as adolescentes e suas famílias. Santos e Silva (2000) expõem que 
a gravidez na adolescência, vista como uma das expressões da questão social não se dissocia 
da histórica relação capital e trabalho vivenciadas de forma coletiva na sociedade por 
precarizar as condições de vida dos indivíduos. 
 
2.2 – (Des) proteção social e gravidez na adolescência: apontamentos e possibilidades 
 
De acordo com a Constituição Federal de 1988 e Brasil (1990), a criança tem o 
direito à saúde e à promoção do seu bem-estar desde o ventre materno. Isso indica que à mãe 
também se assegura essas mesmas condições, considerando a sua importância e o contexto em 
que vive. Entretanto, várias situações de risco e vulnerabilidades sociais, como as elencadas 
anteriormente, são cotidianamente apresentadas a esse público e nesse sentido, cabe às 
32 
 
famílias, à sociedade e ao Estado garantir que a proteção integral desse público em condição 
peculiar de desenvolvimento seja assegurada. 
A partir da leitura de Brasil (1990) entende-se que a proteção integral não é a 
permissividade para que qualquer ato praticado por esse público aconteça. Trata-se da 
previsibilidade indispensável para que as necessidades vitais e sociais de todas as crianças e 
adolescentes sejam atendidas, considerando a prevalência dos direitos desse segmento. O 
artigo 6º desse dispositivo legal demarca que sempre é preciso atentar-se para os fins sociais e 
os efeitos que se esperam dessa lei. 
Quando as situações de risco e vulnerabilidades sociais são consideradas e a 
corresponsabilidade das famílias, sociedade e Estado é demarcada, reforça-se o conteúdo de 
outras legislações como a Política Nacional de Assistência Social – PNAS (BRASIL, 2004, 
p.33), ao trazer a proteção social como uma necessidade de vários indivíduos e segmentos 
sociais. Nesse sentido, 
 
A Assistência Social como política de proteção social configura-se como uma nova 
situação para o Brasil. Ela significa garantir a todos, que dela necessitam, e sem 
contribuição prévia a provisão dessa proteção. Esta perspectiva significaria aportar 
quem, quantos, quais e onde estão os brasileiros demandatários de serviços e 
atenções de assistência social (BRASIL, 2004, p.14) 
 
 
A referida Política aponta três vertentes como sendo as direcionadoras das ações 
de proteção social que são: as pessoas, as suas circunstâncias e suas famílias. Acredita-se que 
é nessa correlação e contexto que os riscos e vulnerabilidades acontecem e podem ser 
identificados quando não superados. A família, particularmente, é a instituição social 
responsável tanto por “gerar” e proteger esses indivíduos, como também de socializá-los. 
Entretanto, ela precisa de condições para que essa segurança e proteção social se efetivem, 
para assim viabilizá-las para seus membros. 
Sobre isso, têm-se as previsões da PNAS que trata a proteção social a partir das 
complexidades das situações sociais (básica, de média e alta complexidade). Nesse ínterim, 
conceitua a referida PNAS tais proteções da seguinte maneira: 
 
Proteção social básica: tem como objetivo prevenirsituações de risco por 
meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento 
de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em 
situação de vulnerabilidade social decorrentes da pobreza, privação [...] e, ou 
fragilização de vínculos afetivos” (PNAS 2004, p. 33). 
33 
 
Média complexidade: são aqueles serviços que oferecem atendimento às 
famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos 
familiares e comunitários não foram rompidos (p. 38). 
Alta complexidade: serviços que garantem proteção integral – moradia, 
alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos 
que se encontram sem referência e, ou em situação de ameaça, necessitando 
ser retirada de seu núcleo familiar e, ou, comunitário (p. 38). 
 
Em termos gerais, as ações que efetivam esses tipos de Proteção Social objetivam 
prevenir e intervir em situações de riscos e vulnerabilidades através do desenvolvimentos de 
potencialidades, fortalecimento de vínculos fragilizados ou rompidos, além de estimular 
aquisições, juntamente com o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Com isso, 
legitima-se o objetivo dessa Política de ofertar serviços à população que vive em situação de 
risco e vulnerabilidade social por situação da pobreza, privações de recursos, falta de renda, 
falta de acesso as políticas públicas e vários outras expressões da questão social. 
Desta forma, no momento em que são identificadas tais situações, todo um 
esforço político institucional deve ser empreendido para sua superação e enfrentamento que 
por sua vez, provoque a mudança desses contextos adversos. O Estado, por sua vez, tem papel 
muito importante para a prevenção e intervenção nessas situações, considerando a sua 
responsabilidade em garantir proteção social para que as famílias tenham condições de 
proteger seus membros. 
As demandas devem ser identificadas, analisadas e atendidas a partir das 
referências que se tem dos territórios enquanto “lugar” onde essas acontecem, principalmente 
porque esses “territórios são marcados pela quase total ausência ou precária presença do 
Estado” (BRASIL, 2004, p.18). É nesse sentido que a PNAS, articulada com outras políticas 
públicas, como a da saúde, são indispensáveis para o atendimento legítimo das demandas 
dessa população. Até porque, o que se demarca legalmente é que por meio da referida 
proteção social, o Estado deve assegurar aos indivíduos e suas famílias (enquanto núcleo 
protetivo), “as seguintes seguranças: segurança de sobrevivência (de rendimento e de 
autonomia); de acolhida; de convívio ou vivência familiar” (BRASIL, 2004, p. 32). 
Muitas famílias e pessoas que moram nestas áreas segregadas tem um maior grau 
de dificuldade de conquistar um emprego, conseguem serviços precarizados, os locais onde 
moram são vulneráveis, quando não localizados em áreas degradadas. Em suma, tem 
dificuldade na superação da pobreza e da miserabilidade que vivem cotidianamente. 
Autoras como Bronzo (2009) enfatizam que a pobreza pode ser compreendida 
como carência e pauperização, sendo pobres aqueles sujeitos privados da satisfação de suas 
34 
 
necessidades vitais e básicas, que vivem nesses contextos que ferem a dignidade humana. A 
superação dessas situações de risco e vulnerabilidades sociais, deste modo, dependem de um 
conjunto de esforços individuais, institucionais e sociais. 
Nessa direção é que algumas estratégias de ação são pensadas, quando se intenta 
legitimar a proteção social para esses indivíduos e suas famílias em situações de fragilidades e 
inseguranças sociais. Com isso, entende-se que: 
 
Os enfoques das necessidades básicas, capacidades, exclusão e vulnerabilidade 
reconhecem que processos de inclusão e redução da vulnerabilidade social 
envolvem, além da renda, o acesso a serviços públicos e sociais de qualidade; 
relações sociais, familiares e comunitárias de caráter mais positivo; acesso a 
trabalhos qualificados, que confiram aos indivíduos não apenas renda, mas também 
uma identidade e um “lugar social”. Além disso, a perspectiva de superação da 
vulnerabilidade envolve viver em territórios dotados de adequada infraestrutura, 
tanto urbana quanto social, pois é bem reconhecido que a pobreza é espacialmente 
localizada e que o território é uma categoria central para caracterizar a pobreza 
quanto à sua reprodução. A partir dos elementos extraídos dos diferentes enfoques 
tem-se que, para uma adequada compreensão do problema e para o desenho das 
estratégias de superação da pobreza, é necessário considerar não apenas a dimensão 
mais tangível de bens e serviços oferecidos pelo Estado. É preciso levar em conta a 
dimensão relacional e o foco no território, porque a pobreza é também fruto de 
relações sociais e de processos de segregação e marginalização socioespacial. 
Reconhecida a multidimensionalidade e heterogeneidade das formas de privação e a 
centralidade do caráter relacional da pobreza (BRONZO, 2010, p.126) 
 
A autora quer dizer que as melhores estratégias de intervenção de proteção para os 
indivíduos e suas famílias estão sustentadas em um adensado conhecimento do território, que 
viabilizaria uma efetiva política de proteção social como as legitimadas pelos centros de 
Referência da Assistência Social – CRAS (por ofertar o Serviço de proteção e Atendimento 
Integral à Família – PAIF, assim como os Serviços de Convivência e Fortalecimento de 
Vínculos – SCFV) e outros estabelecimentos públicos responsáveis pela viabilização de 
direitos sociais fundamentais, como o da saúde. 
Essas complexas situações de riscos e vulnerabilidades sociais demandam 
intervenções especificas e cada vez mais ampliadas, considerando as suas mais diferentes 
formas e manifestações. Desta maneira, o PAIF e os SCFV são estratégias de atenção sócio 
familiar que visam fortalecer a capacidade protetiva das famílias, ao ponto que essas 
consigam garantir proteção aos seus membros. 
De acordo PNAS (2004), a família pode ser entendida como um conjunto de 
pessoas, que tem algum tipo de laço afetivo ou consanguíneo ou grupos de solidariedade. Essa 
instituição social sofreu modificações que superou a sua referência no tempo, no espaço e 
para análises que objetivam compreender o seu papel e função social. 
35 
 
Historicamente, tem-se que a família é uma instituição socialmente criada para 
atender fins distintos. A partir dos estudos bibliográficos percebe-se que os modelos e 
arranjos familiares mudaram ao longo dos tempos, de acordo com as sociedades e épocas. 
Entretanto, a sua importância nos processos de reprodução, de socialização e seu papel social 
se mantiveram ao longo da história. 
No livro “Ordem médica e norma familiar”, Freire (1990) indica o sentimento de 
família e o sentimento materno como construção social. Descreve a vida das famílias das 
elites agrárias, na era colonial, como viviam, vestiam, mostrando sua rotina familiar e 
costumes. Neste livro, aponta como a saúde influenciava comportamentos e na moralidade 
desses núcleos familiares que, de forma geral, também reproduziam ideias e outros 
comportamentos na sociedade como um todo. 
Enfatizou que, noutros tempos, não se evidenciavam profundos laços afetivos 
entre as mães e seus filhos, como geralmente acontece nos dias atuais. Isso tem muito a ver 
com o que outros autores como Ariès (1986) trata como a “descoberta dos sentimentos de 
infância e família”, como decorrente de um processo sócio-histórico e de intensas 
transformações societárias. 
Nas análises trazidas por Freire (1990), foram os médicos que incitaram um maior 
envolvimento materno, inclusive ensinando as sinhás a cuidarem de seus filhos. Sinaliza que

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