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PRESCRIÇÃO, ADAPTAÇÕES POSTURAIS E TREINAMENTO PARA USUÁRIOS DE CADEIRA DE RODAS FABRÍCIO RODRIGUES ROBERTA RODRIGUES INTRODUÇÃO O registro do uso de cadeiras de rodas como alternativa para a locomoção data de antes de Cristo; contudo, a uilização desses meios para mover-se apresentava caráter mais de segregação do que de inclusão. Ademais, até o início do século XX, as cadeiras de rodas não passavam de estruturas pesadas, usualmente de madeira e incapazes de serem autopropulsionadas. Eram, também, produtos pouco populares e caros, geralmente restritos àqueles mais abastados.1 Assim como vários outros campos da reabilitação, a qualidade das cadeiras de rodas avançou muito a partir das demandas trazidas pelos soldados incapacitados por lesões provenientes dos combates ocorridos na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais. A partir de então, cadeiras pesadas e de madeira assumiram design compacto, com estrutura em aço ou alumínio, mais leves e funcionais. A leveza das cadeiras de rodas e a viabilidade de serem propulsionadas pelo próprio cadeirante permitiram a inclusão progressiva de seus usuários na sociedade. Cabe salientar o importante papel do esporte adaptado como agente divulgador e difusor dos potenciais dos cadeirantes para a sociedade, que encarava essas pessoas, até então, somente como desafortunadas e incapazes. A arquitetura urbana desfavorável, presente em alguns países subdesenvolvidos, é ainda fator limitante ao processo de inclusão de cadeirantes, já tão avançado nos países desenvolvidos.1Apesar dos avanços tecnológicos e das mudanças paradigmáticas atuais, ainda se mantêm visões equivocadas sobre a utilização da cadeira de rodas, como castigo ou sinônimo de invalidez e de infelicidade. No entanto, o fornecimento adequado dessas cadeiras é imperativo para o sucesso da reabilitação de pessoas sem marcha funcional. Historicamente, a prestação de serviços para cadeira de rodas não tem sido parte integrante dos serviços de reabilitação. Isso se deve a muitos fatores, incluindo falta de conscientização, escassez de recursos, ausência de produtos apropriados e de profissionais de saúde e de reabilitação devidamente capacitados para a prescrição adequada.2 O profissional de reabilitação, por outro lado, frequentemente se depara com situações de resistência inicial do paciente e/ou dos familiares para a utilização da cadeira de rodas. Isso ocorre por preconceito ou pela negação da condição motora atual, ou, ainda, pelo temor de que o uso de uma cadeira de rodas repercuta negativamente sobre o prognóstico de marcha. Quanto à possível repercussão negativa sobre o prognóstico de marcha, é imprescindível a abordagem multidisciplinar para que as etapas do processo de enfrentamento sejam reconhecidas e respeitadas em suas particularidades. Dessa forma, antecede esse processo, em alguns casos, a avaliação dos aspectos clínicos e neuropsicológicos do paciente. A cadeira de rodas deve atender às necessidades individuais do usuário, levar em conta suas condições ambientais e oferecer suporte postural, além de ser segura e durável. Assim, a prescrição da cadeira de rodas envolve, também, a adequação da postura e o treinamento do cadeirante. OBJETIVOS Após a leitura deste artigo, o leitor será capaz de: compreender a importância da prescrição adequada de cadeira de rodas para garantir a mobilidade do usuário de forma segura, confortável e eficiente; discutir aspectos relevantes para a configuração de uma cadeira de rodas adequada, reconhecendo a finalidade dos diferentes acessórios, das tecnologias e dos ajustes relacionados; conhecer os principais modelos de cadeiras de rodas disponíveis no mercado e suas indicações; identificar estratégias para o treinamento em cadeira de rodas, visando ao melhor desempenho e à prevenção de lesões. ESQUEMA CONCEITUAL TIPOS DE CADEIRAS DE RODAS Entre os equipamentos de tecnologia assistiva, a cadeira de rodas é o dispositivo mais comumente utilizado pelas pessoas com deficiência para ampliar a mobilidade e permitir o exercício dos direitos humanos, assim como sua inserção e participação na sociedade. A cadeira de rodas deve atender às necessidades individuais do usuário, considerando as condições ambientais, e garantir, além da mobilidade, conforto e segurança.2 A grande diversidade entre os usuários gerou a necessidade do desenvolvimento de diferentes tipos de cadeira de rodas. Para prescrição adequada desse instrumento, é preciso entender bem as necessidades físicas do usuário, como ele pretende utilizá-lo e conhecer os diferentes tipos e designs existentes no mercado. Não existe um único modelo ou tamanho de cadeira de rodas que possa satisfazer às necessidades de todos os usuários. Os modelos de cadeiras de rodas variam para permitir que os usuários possam utilizar suas cadeiras com segurança e eficiência nos ambientes onde vivem e trabalham. Merecem atenção especial aqueles ambientes com características diferentes entre si, podendo ser necessária a indicação de dois modelos distintos.2 As possibilidades de ajuste de uma cadeira de rodas podem variar de acordo com o modelo, porém as opções usualmente disponíveis em alguns locais públicos, como aeroportos e hospitais, não foram projetadas para oferecer tais possibilidades.2 MATERIAIS As cadeiras de rodas são, usualmente, fabricadas em materiais metálicos – os mais populares são o aço e o alumínio. O Quadro 1 sintetiza os materiais utilizados para fabricação uma cadeira de rodas. Quadro 1 MATERIAIS UTILIZADOS PARA FABRICAÇÃO UMA CADEIRA DE RODAS Material Descrição Aço Apresenta baixo custo, é de manufatura simples e barata, mas torna o produto com peso muito elevado, dificultando seu manuseio, exigindo maior esforço do usuário para locomoção. Além disso, a baixa qualidade da matéria-prima pode levar à quebra prematura de alguns componentes da cadeira de rodas, reduzindo a vida útil.3 Alumínio É mais utilizado na fabricação de cadeira de rodas para usuários permanentes. É reconhecido por apresentar a melhor relação custo-benefício. Um pouco mais caro que o aço, o alumínio apresenta manufatura simples e relação resistência/peso significativamente melhor.3 Fibra de carbono É um material orgânico utilizado para fabricação de cadeiras ultraleves. Estudos mostram que, em comparação com os materiais metálicos, a fibra de carbono apresenta maior relação resistência/peso e menor deformação, o que lhe confere melhor desempenho. No entanto, por ser matéria-prima não metálica, a manufatura da fibra de carbono é mais complexa, sendo relatada dificuldade de usinagem e impossibilidade de soldagens.4 Titânio Apresenta relação resistência/peso ainda mais elevada do que o alumínio e a fibra de carbono. Esse material é amplamente utilizado nas indústrias aeronáuticas e de automóveis para redução do peso. No entanto, a manufatura requer técnicas e equipamentos extremamente especializados, e a matéria-prima é significativamente mais cara do que o alumínio e o aço. Assim, as cadeiras de rodas de titânio são as de custo mais elevado do mercado.4 As diretrizes clínicas atuais recomendam cadeiras de rodas ultraleves como as mais adequadas para usuários ativos. O peso reduzido dessas cadeiras ajuda a preservar os membros superiores, diminuindo a força necessária para propulsão; além disso, essas cadeiras são mais duráveis.3 O alumínio é o material mais popular utilizado na estrutura das cadeiras de rodas ultraleves.3 As cadeiras de rodas manuais (CRMs) ultraleves, com designs modernos, despojados, que permitem ajustes e acessórios para atender às demandas individuais do usuário, são consideradasde alta performance e estão em franco desenvolvimento no campo da engenharia de reabilitação. CADEIRA DE RODAS MANUAL A CRM é a cadeira impulsionada pelo próprio usuário ou empurrada por outra pessoa.2 As CRMs se desenvolveram rapidamente nos últimos 15 anos. Até há pouco tempo, existia um único modelo de CRM, em apenas uma cor.1 A Figura 1 ilustra as principais partes que compõem uma CRM.2 Figura 1 – Partes da CRM. Fonte: Organização Mundial da Saúde (2014).2 As primeiras CRMs eram tradicionalmente constituídas por estruturas tubulares de ferro e assentos e encostos suspensos em tecidos ou nylon. Algumas CRMs apresentavam quatro rodízios pequenos e não eram passíveis de autopropulsão. Aquelas de melhor qualidade tecnológica tinham sua estrutura tubular (em formato de X) dobrável, para facilitar o transporte.1,5 Avanços na tecnologia de cadeira de rodas trouxeram melhorias na estrutura das CRMs – alguns incluem o uso de materiais como alumínio, fibra de carbono e titânio para reduzir o peso e o tamanho. Ajustes do eixo traseiro das rodas favoreceram a transposição de obstáculos por meio da elevação das rodas dianteiras das CRMs. Já a tecnologia para a redução da transmissão da vibração através do aro promoveu melhora do desempenho na propulsão.5 As cadeiras de rodas disponíveis em recepções de espaços públicos conservam, essencialmente, as mesmas características daquelas produzidas nos anos 1940. Esse tipo de cadeira foi desenvolvido para atender temporariamente a uma grande variedade de indivíduos, é mais barato, de baixa manutenção e, portanto, são cadeiras mais pesadas, de baixo desempenho e necessitam ser conduzidas por outra pessoa que não o usuário.1 CADEIRA DE RODAS COM QUADRO DOBRÁVEL EM X OU RÍGIDO Após a indicação do uso de uma CRM, uma das primeiras decisões envolve a escolha do modelo da estrutura do quadro, conforme demonstrado a seguir. A CRM pode ser dobrável em X, como apresenta a Figura 2. Figura 2 – Cadeira de rodas em aço com pintura epóxi, dobrável em X, com apoio para as pernas eleváveis. Fonte: Fisiostore (2015).6 A CRM também pode ser rígida (monobloco), como apresenta a Figura 3. Figura 3 – Cadeira high performance – cadeira monobloco, estrutura em fibra de carbono, rodas Acrobat que absorvem o impacto, reduzindo muito a vibração transmitida ao usuário. Fonte: Leichman (2013).7 As CRMs dobrável em X e rígida podem ser encontradas com classificação ultraleve, em alumínio, em fibra de carbono e em titânio. A CRM com quadro dobrável em X tem estrutura mais flexível, o que favorece o deslocamento em terrenos irregulares, pois permite a manutenção do contato das quatro rodas com a superfície. No entanto, parte da energia empregada na propulsão se dissipa pela estrutura e não é transmitida às rodas, o que exige maior esforço do usuário. Além disso, a grande quantidade de peças móveis acarreta maior peso e fragilidade.8 Em terrenos mais regulares, a estrutura rígida (monobloco) da CRM permitirá melhor desempenho, por transmitir toda a energia da propulsão às rodas, tornando o deslocamento mais efetivo e com menos esforço físico. A menor quantidade de peças removíveis confere mais leveza e oferece maior resistência à cadeira.8 O Quadro 2 lista as vantagens e as desvantagens das diferentes CRMs.8 Quadro 2 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS CADEIRAS DE RODAS MANUAIS Modelo Vantagem Desvantagens Estrutura monobloco Requer menos componentes e, portanto, possui melhor relação peso/resistência. Normalmente, é mais leve do que uma cadeira dobrável em X com as mesmas características. Possui menos peças removíveis. O ângulo assento/encosto é, normalmente, ajustável. É necessário retirar as rodas traseiras para caber no carro ou no avião. É mais instável nos terrenos irregulares. Demanda espaços maiores para ser guardada em carros ou em aviões, mesmo com as peças removidas. Dobrável em X Dobrada é mais compacta para ser guardada em avião ou carro, sem que seja necessária a remoção de partes. A flexibilidade da estrutura permite que as quatro rodas permaneçam em contato com o solo em terrenos irregulares, conferindo maior estabilidade. Apresenta maior número de componentes móveis. Não atende às necessidades para a prática esportiva e algumas atividades de lazer. O ângulo assento/encosto não é ajustável. CADEIRAS DE RODAS RECLINÁVEIS VERSUS SISTEMA TILT As cadeiras de rodas reclináveis e as com sistema tilt permitem a mudança do posicionamento do indivíduo ao longo do dia, conferindo-lhe melhor alinhamento postural e funcionalidade, além de favorecer as funções fisiológicas, as transferências e a acomodação de contraturas e de deformidades articulares.9,10 As cadeiras reclináveis e o sistema tilt podem oferecer, ainda, a possibilidade de controle de edema e de espasticidade, conferir maior conforto e tolerância da postura sentada e atuar na redistribuição de pressão na região sacrococcígea, prevenindo lesões de pele.9,10 A associação dos sistemas de cadeiras de rodas reclináveis e tilt pode ser encontrada no mercado e atende a situações clínicas muito específicas, que não serão abordadas no presente artigo. Os dois sistemas estão disponíveis em ambos os modelos, manual e motorizado. Particularidades As cadeiras de rodas reclináveis permitem a mudança de posicionamento mediantes aumento do ângulo entre o assento e o encosto, associado ou não à elevação do apoio para pernas e pés (Figura 4). Figura 4 – Cadeira com encosto reclinável – modelo em alumínio. Fonte: Ortobras (2015).11 O sistema tilt possibilita a mudança de posicionamento mantendo fixa a posição do conjunto quadril/joelho/tornozelo, permitindo, dessa forma, a redistribuição da pressão de uma área (sacro e ísquios) para outra (região posterior do tronco e cabeça). A Figura 5 apresenta uma cadeira de rodas com sistema tilt. Figura 5 – Cadeira com sistema tilt – modelo em aço. Fonte: Ortomix (2015).12 Tanto o sistema reclinável quanto o tilt atendem a uma variedade de indicações. Algumas estão abordadas no Quadro 3.9,10 Quadro 3 INDICAÇÕES DE CADEIRAS DE RODAS COM SISTEMAS RECLINÁVEL E TILT Indicação Descrição Alinhamento postural e funcionalidade A cadeira de rodas reclinável e o sistema tilt alteram o centro de gravidade do indivíduo, favorecendo o controle cervical e do tronco, promovendo maior estabilidade. Ambos podem ser indicados para favorecer aspectos funcionais, como o alcance, além de aumentar a segurança nos deslocamentos em declives. Transferências e funções biomecânicas Os dois sistemas podem possibilitar posicionamento que minimize o esforço necessário para transferências, contribuindo para prevenção de lesões por esforço tanto do usuário quanto do cuidador. Espasticidade O sistema tilt contribui para a manutenção da postura ideal nos indivíduos cuja espasticidade é agravada pelo aumento do ângulo entre o encosto e o assento. Contraturas e deformidades ortopédicas Na presença de contratura e de deformidades, os dois sistemas podem ser indicados para promover o posicionamento mais adequado, acomodando e respeitando as limitações de movimento do indivíduo. Alívio de pressão/prevenção de lesões de pele A combinação entre um dos dois sistemas e outros recursos disponíveis, como almofadas e o apoio elevável para pernas, pode contribuir para prevenção das úlceras por pressão. O sistema tilt evita o deslizamento, principalmente do tronco sobre o encosto, prevenindo lesões por cisalhamento O apoio elevável para pernas permite a mudança do posicionamento na cadeira de rodas, estendendo os joelhos do indivíduo. Esse recurso é indicado, normalmente, em associação com o sistemareclinável ou o tilt. Assim, além de contribuir para o controle do edema, o apoio elevável para pernas proporciona maior conforto e tolerância da postura sentada e atua na redistribuição de pressão, auxiliando na prevenção de lesões de pele. Para prescrição adequada da cadeira de rodas, é imprescindível aliar o conhecimento das características e das possibilidades de cada sistema à compreensão das particularidades de cada indivíduo. CADEIRA DE RODAS MOTORIZADA A cadeira de rodas motorizada foi idealizada para atender à necessidade de deslocamento independente com mínimo esforço físico. Em 1937, os norte-americanos Everest e Jennings patentearam seu modelo e reinaram como os principais fornecedores de cadeiras de rodas motorizadas dos Estados Unidos da América até o fim dos anos 1970.1 Desde então, os modelos motorizados evoluíram de forma surpreendente e vão, aos poucos, tomando conta do mercado. Esses modelos buscam atender às necessidades individuais considerando os aspectos da adequação postural e da mobilidade. Aliados aos muitos recursos para o posicionamento, há também recursos para o deslocamento em todos os tipos de terrenos e transposição de obstáculos, além de vasta possibilidade de se controlar sua velocidade e sua direção.5,13 A indicação da cadeira de rodas motorizada deve ser considerada quando o indivíduo apresentar força insuficiente para propelir uma CRM de forma independente em tempo integral, quando houver necessidade de economia de energia durante deslocamentos por longas distâncias e quando a mobilidade motorizada permitir maior independência em sua vida diária, incluindo trabalho e lazer. Merece destaque o papel da avaliação das habilidades cognitivas e perceptuais do paciente.13 As cadeiras de rodas motorizadas são classificadas considerando-se a função ou a intenção de uso, conforme apresenta o Quadro 4.1,5,13 Quadro 4 CLASSIFICAÇÃO DAS CADEIRAS DE RODAS MOTORIZADAS CONSIDERANDO-SE A FUNÇÃO OU A INTENÇÃO DE USO Modelo Descrição Indoor Destinado à utilização em ambientes protegidos, demanda pouco espaço para manobras e possui motores e baterias de baixa potência e autonomia, o que compromete o uso externo. Comumente desmontável, o encosto e o assento são em tecido. É possível transportar essas cadeiras em porta-malas de veículos pequenos. Outdoor Concebidas para uso na rua e no transporte público, essas cadeiras apresentam motorização e baterias de grande autonomia e desempenho. Em geral, são pesadas, com mais de 60kg. Possuem sistema de amortecimento e quadro monobloco, encosto e assento em material rígido. Oferecem acessórios como lanternas e faróis, sistemas de acionamento automático para posicionamento do assento (sistema tilt com acionamento automático etc.) e outros itens de conforto. Há várias opções de acionamento, como joysticks, hastes, sopro, botoeiras etc.. Indoor/outdoor Atendem às demandas de deslocamento em casa, na escola, em escritórios e em alguns lugares da comunidade, desde que tenham terrenos regulares sem grandes obstáculos. As baterias permanecem pequenas, mantendo a autonomia reduzida As Figuras 6 e 7 apresentam modelos de cadeira de rodas indoor. Figura 6 – Modelo indoor. Fonte: Easy Med Online (2015).14 Figura 7 – Modelo indoor. Fonte: Hospitalar Brasil (2015).15 A Figura 8A e B apresenta os modelos de cadeira de rodas indoor e outdoor. Figura 8 – A) Modelo de tração dianteira indoor. B) Modelo outdoor. Fonte: Invacare (2015);16 Heartway USA (2014).17 O par de rodas diretamente ligado à motorização da cadeira será chamado, neste artigo, de rodas motrizes. Elas vão determinar o tipo de tração e são responsáveis pela potência e pela orientação, mas não conferem direção à cadeira. Em cadeiras de rodas motorizadas, a tração (dianteira, central ou traseira) interage com outros fatores, como o tamanho da cadeira, o dispositivo para controle, a programação, e influencia o potencial e o desempenho do usuário.13 É preciso aliar ao conhecimento dos tipos de tração e a suas características uma avaliação criteriosa dos aspectos físicos, clínicos e cognitivos do indivíduo, bem como suas necessidades e expectativas, que definirão a escolha do equipamento mais adequado. O Quadro 5 apresenta vantagens e desvantagens relacionadas a cada tipo de tração.13 Quadro 5 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA CADEIRA DE RODAS MOTORIZADA CONFORME O TIPO DE TRAÇÃO Tração Vantagens Desvantagens Dianteira Apresenta menor área de giro frontal. Apresenta boa capacidade de manobra. Consegue ultrapassar com mais facilidade os obstáculos. Apresenta menor velocidade e dirigibilidade (cauda de peixe). Balança quando em alta velocidade. É difícil de ser operada por cuidador ou acompanhante. Alguns usuários podem estranhar as características de dirigibilidade. Média Apresenta menor área de giro. Apresenta excelente capacidade de manobra (melhor opção para espaços mais limitados). Apresenta dirigibilidade mais intuitiva (maior facilidade de aprendizado). Tem velocidade baixa. Apresenta dificuldade em ultrapassar obstáculos. Vibração dos rodízios quando em alta velocidade. Difícil de ser operada por um cuidador ou acompanhante. Traseira Apresenta maior velocidade e dirigibilidade. Apresenta melhor desempenho para uso em ambos os ambientes, indoor e outdoor. Os controles são de fácil uso. É facilmente operada por um cuidador ou acompanhante. Apresenta maior área de giro. Apresenta menor capacidade de manobra em espaços limitados. É limitada na ultrapassagem de obstáculos A Figura 9 apresenta os tipos de tração e o arco delimitado no solo – de roda a roda – ao realizar-se uma manobra de 360º. Figura 9 – Tipos de tração e o arco delimitado no solo – de roda a roda – ao realizar-se uma manobra de 360º: A) Tração anterior; B) Tração média; C) Tração posterior. Fonte: Clinical Corner (2013).18 Após a definição do modelo e da tração mais indicados, será necessário avaliar as características da cadeira de rodas e os acessórios que podem beneficiar o usuário. O tamanho do aro e o tipo de quadro, de pneu e de bateria são alguns acessórios disponíveis nos sites dos fabricantes e fornecedores. ASSISTÊNCIA MOTORIZADA PARA CADEIRA DE RODAS Os programas de reabilitação costumam reforçar que todo indivíduo com capacidade física de propelir uma CRM deveria fazê-lo com o intuito de se manter “ativo”; no entanto, aqueles com capacidade física limitada para tal vêm percebendo que, muitas vezes, esgotam suas energias apenas tentando alcançar seus objetivos e, uma vez que chegam aonde desejam, já não lhes resta energia. A situação é ainda pior para os indivíduos que usam a cadeira por 20 ou 30 anos e depois percebem que seus ombros encontram-se irreversivelmente desgastados.8 Durante muitos anos, estiveram disponíveis no mercado apenas três tipos principais de cadeiras de rodas: as CRMs; as scooters; as cadeiras de rodas motorizadas. As CRMs com motores elétricos acessórios, pushrim-activated power-assist wheelchairs (PAPAW), recentemente, tornaram-se mais uma opção para os usuários. O PAPAW é uma combinação de uma CRM e uma cadeira motorizada, em que um motor elétrico é ligado ao aro ou fixado no eixo traseiro, alimentado por uma bateria. Esses dispositivos minimizam a sobrecarga nos membros superiores proveniente da propulsão.5,19 A Figura 10 apresenta o PAPAW em que um motor elétrico é ligado ao aro da cadeira de rodas. Figura 10 – Smart Drive. Fonte: Max mobility (c2015).20 A Figura 11 apresenta o PAPAW em que um motor elétrico é fixado no eixo traseiro da cadeira de rodas. Figura 11 – Rodas e-motion. Fonte: Matsuy (2012).21A indicação de um modelo motorizado (cadeira de rodas motorizada ou assistência motorizada) deve ser considerada mesmo para os indivíduos capazes de propelir uma CRM, com o objetivo de prevenir o uso excessivo da musculatura do ombro e suas consequentes lesões. Muitos usuários dispõem de CRM para ser usada quando uma cadeira de rodas motorizada é inconveniente, contudo usuários de CRM podem contar com uma CRM em casa e, no trabalho, utilizar uma cadeira de rodas motorizada.8 INTERFACES PARA CONTROLE DA CADEIRA MOTORIZADA Existe uma variedade de formas pelas quais as cadeiras de rodas motorizadas podem ser controladas. A interface mais utilizada é o joystick de quatro direções, mas o terapeuta deve estar atento à necessidade de controladores alternativos ou até mesmo de integração entre o sistema de controle da cadeira motorizada e outra tecnologia assistiva já utilizada pelo paciente – por exemplo, algum recurso para comunicação alternativa ou uso de computadores.1,5 A Figura 12 apresenta a interface do joystick de quatro direções. Figura 12 – Joystick tradicional. Fonte: Freedom connect (2015).22 Existem programações diversas que podem ser adotadas para favorecer o controle da direção e da velocidade da cadeira motorizada. O joystick deve ser adaptado para uso com a parte do corpo em que o indivíduo tenha controle voluntário bastante consistente. Esse dispositivo é, normalmente, controlado pelas mãos, mas também se pode utilizar a cabeça, os pés, o queixo, os lábios e outras partes do corpo.1,5 A Figura 13 apresenta um tipo de joystick acionado pelos movimentos da cabeça. Figura 13 – Controle de joystick com a cabeça. O indivíduo acionará o dispositivo, controlando a movimentação da cadeira de rodas, pelos movimentos de flexão e/ou de extensão cervical. Fonte: ASL (2012).23 A Figura 14 apresenta um tipo de joystick acionado pelos movimentos do pé. Figura 14 – Controle com o pé. Esse joystick é ativado pela movimentação do pé, controlando a cadeira de rodas. Fonte: Switch (2014).24 O joystick de controle de cadeira de rodas é uma tecnologia também em franco desenvolvimento, mas ainda pouco disponível no Brasil. SCOOTERS As scooters foram desenvolvidas para atender às necessidades de pessoas com capacidade de deambulação diminuída, mas com bom controle de posturas e movimentos. Elas são compostas de assento e guidão sobre uma plataforma potentemente motorizada. Uma característica bem específica das scooters é ter a velocidade controlada eletronicamente e a direção manual. As scooters podem apresentar tração dianteira ou traseira. A tração traseira é a mais utilizada pelos usuários ativos.1,13 A Figura 15 apresenta um modelo de scooter. Figura 15 – Scooter modelo freedom. Fonte: Freedom (2015).25 ESCOLHA DO TIPO DE CADEIRA DE RODAS A escolha do tipo de cadeira de rodas depende de alguns fatores. Quanto à opção por uma CRM,8 citam-se algumas razões, como: o paciente deve apresentar força muscular e resistência global suficientes para propelir a cadeira de rodas em tempo integral; a maioria das atividades cotidianas é mais facilmente executada em uma CRM; o indivíduo não apresenta quadro álgico em membros superiores; a demanda de deslocamento do indivíduo não representa gasto de energia que comprometa seu desempenho nas atividades de interesse. No que se refere à escolha de um modelo de cadeira de rodas motorizado (incluída scooter), são pertinentes os seguintes aspectos:8 atentar para o fato de o paciente apresentar força muscular, resistência e capacidade funcional insuficientes para propelir uma CRM de forma independente em tempo integral; observar a necessidade de economia de energia durante deslocamentos por longas distâncias, como o trajeto para o trabalho ou a escola; analisar se a mobilidade motorizada permite maior independência na vida diária, no trabalho e nas atividades recreativas; observar se o paciente possui acesso a transporte pessoal ou público que acomode cadeira motorizada ou scooter para viagens mais longas; considerar a cadeira de rodas motorizada como alternativa mais plausível para evitar recorrência de lesões por esforço repetitivo de membros superiores; observar se o gasto energético no deslocamento compromete o desempenho nas atividades de interesse do paciente. ADEQUAÇÃO POSTURAL A seguir, serão apresentados os parâmetros de adequação postural (seating) para uso de cadeira de rodas. PARÂMETROS DA CADEIRA DE RODAS A partir da avaliação físico-funcional, das informações sobre a rotina do paciente e da avaliação de sua capacidade cognitiva de conduzir ou não a cadeira de rodas com segurança, definem-se o modelo de cadeira mais apropriado e a configuração que favoreça o desempenho. A relação entre os componentes da cadeira de rodas e o usuário determina sua mecânica, a estabilidade e a biomecânica da propulsão.13,26,27 As medidas e os ajustes deverão buscar a preservação das articulações dos membros superiores, bem como o mínimo de gasto energético possível durante a propulsão da cadeira de rodas. Existem parâmetros que o profissional deve utilizar como referência para prescrever uma cadeira de rodas que atenda às demandas do usuário (Figuras 16 e 17). A: profundidade do assento; B: altura do encosto; C: altura posterior do assento; D: altura anterior do assento; E: ângulo de fechamento do quadro anterior; F: distância entre o encosto e o eixo da roda. Figura 16 – Vista do perfil da cadeira de rodas. Fonte: Equipament for the Physically Challenged (2015).28 A: largura do assento; B: altura do apoio dos pés; C: cambagem das rodas traseiras. Figura 17 – Vista posterior da cadeira de rodas. Fonte: Equipament for the Physically Challenged (2015).28 A seguir, serão descritas as referências básicas necessárias para as cadeiras de rodas.25,26 Profundidade do assento A profundidade do assento da cadeira de rodas corresponde à distância mais posterior das nádegas até, aproximadamente, 3cm do ângulo poplíteo. O posicionamento dos joelhos (de 90 a 120°), dos pés e o fechamento do quadro anterior também são referências que auxiliam na determinação da profundidade ideal do assento da cadeira. Esses detalhes são observados na avaliação da postura no plano sagital.26,27 Altura do encosto A altura do encosto é a medida que influencia no suporte do tronco e na amplitude de movimento dos membros superiores. Um encosto mais alto pode garantir bom suporte ao tronco, porém limita a extensão dos ombros, que é um movimento necessário para alcançar o aro durante a propulsão da cadeira. Com o encosto mais baixo, os membros superiores se movimentam com mais liberdade, contudo se perde em suporte e em estabilidade posterior.26 Entre os benefícios de um encosto menor da cadeira de rodas (mais baixo), estão a capacidade para realizar movimentos mais livres dos membros superiores e a diminuição na frequência dos movimentos repetitivos durante a propulsão. Os cadeirantes que apresentam comprometimento no controle de tronco se beneficiam de um encosto mais alto da cadeira de rodas, com cerca de 2cm abaixo do ângulo inferior da escápula. Para os que não apresentam essa complicação, a referência de altura do encosto da cadeira pode ser o início da coluna lombar.26 Altura do assento ao chão Quanto à altura do assento ao chão, a altura anterior do assento também deverá considerar as dimensões dos membros inferiores e a sua relação com o suporte dos pés e o fechamento do quadro. Essa medida será determinada a partir das dimensões anatômicas da perna (comprimento) e da altura do apoio dos pés. Tais medidas podem facilitar a acessibilidade (fechamento do quadro anterior), bem como a altura apropriada para acomodar a almofada.A altura posterior do assento pode facilitar o acesso ao aro de propulsão, favorecendo o deslocamento. Muitos indivíduos com dificuldades no controle de tronco aumentam a altura anterior do assento da cadeira de rodas para favorecer a estabilidade (Figura 18A e B).26,27 Figura 18 – A) Altura posterior do assento mais elevada que a anterior. B) Altura anterior do assento mais elevada que a posterior. Fonte: Engström (2002).21 Diferenças entre as alturas anterior e posterior do assento das cadeiras de rodas de até 10cm favorecem a manutenção do equilíbrio de tronco durante a propulsão e o alcance ao solo, bem como auxiliam no controle da espasticidade sem promover o aumento da pressão isquiática. A altura posterior deverá ser sempre inferior à anterior.29,30 Largura do assento A largura do assento da cadeira refere-se à máxima largura do quadril, incluindo partes moles, quando o indivíduo está sentado sobre os ísquios. É possível acrescentar 1 a 2cm, considerando a possibilidade de variações na vestimenta do paciente. A adequação da largura do assento da cadeira de rodas é essencial para evitar inclinações laterais do tronco, na tentativa de manter a estabilidade. Tal situação poderá comprometer o alinhamento do tronco.26,27 Ângulo entre o encosto e o assento Em relação ao ângulo entre o encosto e o assento, a inclinação apenas do encosto, em torno de 120°, é capaz de reduzir a pressão sobre a área da tuberosidade isquiática, porém causa grande deslocamento dessa proeminência óssea (cerca de 6cm). São necessárias mais pesquisas acerca dos efeitos da fricção e da pressão sobre a superfície do assento pelo deslocamento da tuberosidade isquiática para determinar se, de fato, existem benefícios em reclinar apenas o encosto.5,26 Posição anteroposterior do eixo das rodas traseiras A posição anteroposterior do eixo das rodas traseiras influencia dois aspectos relevantes da mobilidade na cadeira de rodas: estabilidade e propulsão. Embora o posicionamento das rodas traseiras colocadas posteriormente melhore a estabilidade, também limita a habilidade do usuário em alcançar o aro, que está mais posterior, reduzindo, assim, a capacidade de impulsão. Ao mover as rodas para frente, há melhora na capacidade de propulsão, porém reduz-se sua estabilidade.5,13,26 A posição ideal das rodas traseiras das cadeiras de rodas é detalhe a ser definido pelo usuário, baseado na sua percepção de estabilidade e de como irá propulsionar a cadeira com maior facilidade. As rodas traseiras das cadeiras de rodas devem ser posicionadas o mais anterior possível, desde que isso não prejudique a estabilidade da cadeira, ou seja, que não comprometa o centro de gravidade (distância entre o encosto e o centro da roda traseira). Essa posição favorece o aumento da amplitude de movimento do ombro e a menor necessidade de movimentos repetitivos e de força sobre o aro durante a propulsão do auxílio. Dessa maneira, reduzem-se os riscos de lesão dos membros superiores. Outro benefício é que o comprimento da cadeira de rodas diminui, facilitando a realização de manobras circulares, pela redução da inércia rotacional do sistema.13,26 Posicionamento vertical das rodas traseiras Quanto ao posicionamento das rodas traseiras, a distância vertical entre a roda traseira em relação ao assento influencia na biomecânica da propulsão. A altura ideal do assento é determinada pelo ângulo de flexão do cotovelo quando o usuário segura no topo do aro mantendo o cotovelo em um ângulo de 100 a 120° de flexão. Com o membro superior nessa posição, existe maior eficácia na propulsão e baixo gasto energético. Um assento mais baixo e o ângulo de flexão do cotovelo entre 80 e 90° implicam menor eficiência da propulsão e maior gasto energético.5,26 Uma CRM com a possibilidade de ajustes nos seus eixos vertical e horizontal pode facilitar a propulsão e reduzir os riscos de lesão dos membros superiores.5 Suporte das pernas e dos pés O posicionamento inadequado das pernas e pés pode interferir na pressão sobre o assento, no conforto e na estabilidade do usuário, além da habilidade em realizar as manobras. Quando o suporte para os pés está muito baixo, a pressão sobre o assento tende a aumentar, uma vez que o peso das pernas e dos pés empurra o forro da cadeira para baixo, comprimindo-o sobre o assento. Com a falta de apoio nos pés, os tornozelos tendem a permanecer em equino, aumentando o risco de encurtamento dos músculos plantiflexores. A falta de um suporte anterior para os pés torna a progressão da cadeira de rodas instável e perigosa. Quando o suporte para os pés está muito alto, em contrapartida, e a coxa não está completamente apoiada sobre o assento, pode haver aumento da pressão sobre as nádegas. O ângulo do joelho pode ser usado como referência para posicionar o suporte dos pés. Geralmente, o suporte do pé é posicionado de forma que o joelho mantenha flexão de 90 a 120°. Ao posicionar os joelhos fletidos acima de 90º, o apoio do pé ficará em posição recuada, o que é favorável para a realização de manobras, uma vez que haverá redução na profundidade da cadeira de rodas. Adicionalmente, pode-se optar pelo fechamento anterior do quadro, reduzindo-se também a largura anterior da cadeira em 2,5cm.26,27 Cambagem das rodas traseiras A cambagem das rodas traseiras, que é a aproximação da parte superior das rodas e o consequente alargamento da base da cadeira de rodas, tem sido utilizada, principalmente, nas cadeiras de rodas esportivas, visto que proporciona maior estabilidade. Esse posicionamento traz algumas vantagens ao atleta, que precisa de agilidade para a realização das manobras, como os movimentos circulares e as mudanças bruscas de direção. Em adição, a aproximação dos aros de propulsão facilita o seu alcance e reduz a necessidade de abdução dos ombros, trazendo repercussões interessantes à propulsão.26,27 Nas CRMs utilizadas para locomoção ao longo do dia, a cambagem traz as mesmas vantagens, porém a circulação em alguns espaços pode ser mais restrita, pois aumenta a largura total da cadeira, o que pode dificultar a sua acessibilidade.2 ACESSÓRIOS Existe uma série de acessórios para cadeira de rodas; entre eles, diferentes tipos de rodas, pneus, aros de propulsão e almofadas. Esses acessórios deverão ser escolhidos, sobretudo, considerando-se o uso ao qual a cadeira se destinará, mas também devem ser respeitadas as preferências pessoais do paciente e os aspectos estéticos. Rodas traseiras Existem diferentes tipos de rodas traseiras para cadeiras de rodas, com variações de tamanho, de peso e de material. Uma roda maior favorece mecanicamente a propulsão; porém, caso esse tamanho afete o posicionamento ideal dos membros superiores, essa vantagem mecânica não acontecerá.13 Usualmente, as CRMs de adultos têm rodas com aro de 24 polegadas (aproximadamente, 61cm).2 O design das rodas traseiras da cadeira de rodas desempenha papel preponderante na transmissão de vibração e na distribuição de massa do sistema. Tradicionalmente, as rodas traseiras são produzidas em plástico ou em aço. Mais recentemente, a fibra de carbono tem sido usada para produzir rodas mais leves. Além da redução de peso, elas minimizam a transmissão de vibração para o quadro, o que é altamente benéfico, pois a vibração pode causar desconforto, fadiga e até agravar a hipertonia muscular e a dor.26 As rodas traseiras das CRMs devem ter o sistema quick-release, que permite sua rápida montagem e desmontagem, tornando o transporte mais prático.31 Rodas dianteiras O tamanho das rodas dianteiras das cadeiras de rodas afeta significativamente a estabilidade dinâmica, uma vez que rodas maiores podem passar sobre obstáculos sem travar e tombar para frente. Esses acessórios precisam de mais espaço para girar, conquanto o desenhoda cadeira de rodas precisará ser mais comprido ou mais largo para haver espaço para os pés do usuário. Os aros maiores das rodas das CRMs são usados, principalmente, para terrenos mais acidentados, ao passo que aros menores conferem mais agilidade em terrenos planos.2 As rodas dianteiras, geralmente, têm diâmetros que variam de 4 a 8 polegadas (aproximadamente, de 10 a 20cm respectivamente), com diferentes formas de fixação. O design dos garfos é pensado com o propósito de absorção de impactos, por causa dos pneus maciços (Figura 19). Figura 19 – Leg frogs. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Rodas antitombo As rodas antitombo (Figura 20), como o próprio nome sugere, auxiliarão na prevenção de quedas posteriores da cadeira de rodas. Elas podem ser unilaterais ou bilaterais. As rodas antitombo estão indicadas para pacientes que não conseguem domínio completo da cadeira de rodas ao transpor obstáculos na posição empinada.31 Figura 20 – Rodas antitombo. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Pneus Existe uma gama de pneus tanto para a roda dianteira quanto para a traseira de cadeiras de rodas. A escolha, assim como a das demais peças, deverá considerarar a destinação da cadeira(terrenos que usualmente serão frequentados, capacidade funcional do usuário, quem a conduzirá e quanto se pretende investir no equipamento). Ao selecionar os pneus das rodas traseiras das cadeiras de rodas, duas opções estão disponíveis no mercado:2,26 pneumáticos – promovem a absorção do impacto e da vibração, melhorando, assim, o conforto dos usuários; maciços – ainda são comumente usados porque exigem pouca manutenção, já que não há risco de esvaziamento por furo. Usualmente, o pneu traseiro da cadeira de rodas será pneumático, e o dianteiro, maciço; contudo, por exemplo, para uso em ambientes internos (terrenos planos), o pneu traseiro maciço pode ser mais vantajoso, por facilitar a propulsão. Pneus dianteiros pneumáticos auxiliarão na absorção do impacto, mas dificultam a dirigibilidade. Assim, deve-se avaliar criteriosamente a vantagem que de fato esse acessório trará ao usuário da cadeira. Os pneus das cadeiras de rodas devem ser frequentemente calibrados e devem estar inflados em 50% ou mais de sua pressão.32 Aro de impulsão O aro é necessário para os indivíduos que propulsionarão sua própria cadeira de rodas. É a interface entre o usuário e a cadeira. Para indivíduos dependentes de terceiros, é possível até mesmo retirar os aros, a fim de reduzir a largura total da cadeira, conseguindo, assim, maior facilidade no deslocamento e na manobra em ambientes estreitos. Os aros de cadeiras de rodas disponíveis no mercado variam em tamanho e em material. Considerando-se a biomecânica da propulsão, um aro mais anatômico e flexível pode favorecer o uso do membro superior, reduzindo a sobrecarga durante o deslocamento. Estudo investigou a atividade dos flexores de punho e de dedos utilizando-se um aro flexível em comparação a um aro padrão. Nesse estudo, as cadeiras de rodas foram propulsionadas em diferentes terrenos, com irregularidades e desníveis.33 O uso do aro flexível na cadeira de rodas reduziu significativamente a atividade dos flexores de punho e de dedos em comparação ao uso do aro padrão, indicando que, ao longo de anos, os aros flexíveis podem minimizar a sobrecarga dos membros superiores. O formato do aro também parece interferir no desempenho, bem como a forma de fixação à roda. Adicionalmente, um estudo que utilizou aros em forma oval no lugar de aros tubulares observou redução dos sintomas dos membros superiores.34 Para cadeirantes com potencial para tocar sua cadeira de rodas, mas que apresentam dificuldades para a preensão do aro – como é o caso, por exemplo, de indivíduos com tetraplegia ou artrite reumatoide –, um aro com pinos pode favorecer a propulsão (Figura 21). Figura 21 – Aro com pinos. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. O uso de coberturas dos aros em materiais mais aderentes, vinil, por exemplo, tem sido recurso atual mais utilizado para o favorecimento dessa preensão do aro.34 Existem diferentes tipos de protetores de roupa e dos aros, variando em forma, em material e em posicionamento. A escolha deverá atender à preferência do usuário,33 havendo, inclusive, os que dispensam o uso desses acessórios. Almofadas A úlcera de pressão, usualmente ocasionada por períodos prolongados na posição sentada, ainda é umas das complicações secundárias mais comuns em pessoas com lesão medular, ocorrendo em mais de 50% desses indivíduos ao longo da vida.5,35 As almofadas das cadeiras de rodas desempenham duas funções básicas: 5,35 contribuir para uma postura funcional, equilibrada e estável; redistribuir a pressão das áreas críticas (tuberosidades isquiáticas e sacra) para outras regiões de maior superfície, reduzindo os picos de pressão sobre essas proeminências ósseas. A prescrição de almofadas em cadeiras de rodas está baseada na percepção e na antecipação do risco de determinado perfil de paciente em desenvolver úlcera de pressão. O profissional de saúde que indica o uso de almofada em cadeiras de rodas deve compreender e avaliar a capacidade de redistribuição da pressão dos diferentes tipos de almofadas. Ao indicá-la, devem-se avaliar alguns detalhes, como: grau de pressão reduzida e redistribuída; efeitos na temperatura; nível da lesão medular; habilidade no alívio da pressão; técnica de transferência; estilo de vida do indivíduo. Além de reduzir os riscos de úlcera de pressão, a almofada na cadeira de rodas deverá promover postura adequada e estável ao usuário. Essa almofada pode ser confeccionada em diversos materiais (espuma, gel, ar, água), adaptáveis aos diversos tipos de cadeiras de rodas.5 Alguns estudos realizaram o mapeamento de pressão na tentativa de determinar qual tipo de almofada oferece maior alívio de pressão e, consequentemente, menor risco de ocorrência de úlceras no cadeirante. Apesar de instrumento relevante para comparar as características de distribuição de pressão da almofada, o mapeamento será apenas um dos componentes da avaliação, e não a sua principal parte.5,35 O Quadro 6 apresenta uma comparação entre os tipos de almofadas para cadeira de rodas.5,35 Quadro 6 VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS ALMOFADAS PARA CADEIRA DE RODAS Tipo Vantagem Desvantagem Espuma É mais barata e leve. Está disponível em diferentes densidades. Fornece estabilidade. Pode ser ajustada para alívio de pressão. Não apresenta vazamentos. Apresenta desgaste mais rápido. Apresenta perda da forma; com o tempo, pode ser deformada e provocar lesões. Gel Apresenta excelente distribuição da pressão e é bastante confortável. Há possibilidade de inserção suplementar para o apoio das coxas. É mais pesada. Apresenta possibilidade de vazamento. Apresenta menor capacidade de absorção de impacto. Apresenta alguns modelos permitem que o gel seja deslocado para as regiões laterais (deformação). Ar É leve. Há possibilidade de distribuição de pressão uniforme ou variada. Apresenta boa durabilidade se adequadamente inflada. Alguns modelos permitem que sejam infladas para atender as necessidades especiais do usuário. É menos estável. Apresenta possibilidade de vazamento. Há necessidade de manutenção frequente para garantia da pressão apropriada. Algumas estratégias para a prevenção de úlceras de pressão aliam o uso das almofadas às técnicas de alívio de pressão. Os guias de prática clínica, geralmente, indicam a realização de manobras de alívio de pressão durante aproximadamente 30 segundos a cada 30 minutos, porém evidências clínicas mostramque seria necessária ao menos uma realização da manobra de alívio de 4 em 4 minutos para gerar a completa recuperação da oxigenação dos tecidos e auxiliar efetivamente na prevenção das úlceras.35 A inclinação anterior e lateral do tronco é boa alternativa de alívio de pressão, não sendo necessária a elevação de todo o corpo pelos membros superiores. Esse tipo de orientação não gera sobrecarga articular e muscular dos membros envolvidos (Figuras 22A e B).35 Figura 22 – Posicionamentos para alívio de pressão. A) Inclinação anterior do tronco. B) Inclinação lateral do corpo. Fonte: Kaupankg (2012).35 O quadro 7 apresenta pontos-chaves quanto ao uso das almofadas em cadeiras de rodas.5 Quadro 7 PONTOS-CHAVES QUANTO AO USO DAS ALMOFADAS EM CADEIRAS DE RODAS Não há um único modelo de almofada apropriada para todos os pacientes com lesão medular. O mapeamento de pressão é um instrumento útil na comparação das redistribuições de pressão entre as almofadas, porém é importante levar em consideração os fatores citados anteriormente, que auxiliarão na escolha da almofada mais adequada. O alívio de pressão realizado com a elevação do tronco por meio dos membros superiores não é uma prática aconselhável. Para que esse alívio seja eficiente e proporcione uma circulação local adequada, a permanência nessa postura teria que ser prolongada. Isso pode contribuir para um aumento no risco de lesões por esforço repetitivo. São necessários mais estudos para determinar os parâmetros de mudanças na postura em relação à pressão dos tecidos sobre o assento e fluxo sanguíneo que auxiliem na prevenção das úlceras de pressão após a lesão medular. ADAPTAÇÕES EM CADEIRA DE RODAS Apesar da busca pela prescrição de cadeiras personalizadas, existem situações especiais em que a cadeira pode necessitar de algumas modificações. Os indivíduos com movimentações involuntárias mais graves ou com deformidades ortopédicas que trazem desarmonias posturais podem necessitar de adaptações na tentativa de oferecer melhor posicionamento, estabilidade e segurança. Entre os objetivos das adaptações, está o de acomodar e posicionar melhor o paciente na cadeira e viabilizar ou maximizar o seu potencial funcional. Ressalta-se que nem sempre será necessário corrigir, mas simplesmente acomodar determinadas posturas, porporcionando ao cadeirante o equilíbrio entre o conforto e a funcionalidade. Adaptar uma cadeira de rodas exige habilidade do profissional em avaliar as alterações posturais do paciente e encontrar soluções para minimizar o impacto negativo na função, no conforto e na segurança. Quando necessário, a adaptação também poderá buscar prevenir deformidades. Esse “quebra-cabeça” composto por diversas peças requer trabalho em equipe e estrutura física que permita a finalização de tal processo.37,38 O apoio de técnicos, o acesso a materiais de boa qualidade e a existência de uma oficina ortopédica são essenciais para que a cadeira de rodas idealizada seja efetivamente concretizada. As modificações na cadeira de rodas podem variar de simples ajustes – como regular a inclinação do conjunto assento/encosto para melhorar o campo visual, por meio da mudança na orientação da linha do olhar – aos ajustes mais complexos, que exigem modificações na estrutura do encosto e/ou do assento praticamente moldadas às alterações posturais de indivíduos com comprometimentos mais graves. Cada indivíduo é único, assim como suas demandas de posicionamento. O detalhe comum a todas as situações é desenvolver um auxílio que proporcione função, conforto e segurança ao cadeirante. Oferecer estabilidade à pelve, à coluna e modificar a inclinação do conjunto assento/encosto (tilt) quando necessário são estratégias básicas que regem a adequação postural na cadeira de rodas.37,38 O melhor resultado que o seating (adaptação postural em cadeira de rodas) deve buscar é uma melhor função com conforto para o indivíduo. O seating deverá contemplar uma posição vertical do tronco com a cabeça em posição equilibrada. A pelve, o ponto-chave da adaptação, deve estar bem posicionada e alinhada nas três dimensões sempre que possível.38 Levam-se em consideração alguns pontos importantes ao adequar um indivíduo na postura sentada na cadeira de rodas, conforme apresenta o Quadro 8. Quadro 8 ASPECTOS PERTINENTES PARA ADEQUAR UM INDIVÍDUO NA POSTURA SENTADA NA CADEIRA DE RODAS Aspecto Descrição Estabilidade da superfície de suporte A estabilidade é necessária para “ancorar” as partes do corpo que estão ativas e/ou em movimento. Essa estabilidade é adquirida com o apoio adequado da pelve, das coxas e dos pés. Assim, o indivíduo poderá ser fisicamente ativo, mesmo quando sentado. Distribuição da pressão Para oferecer a estabilidade, não é preciso que o assento seja necessariamente rígido ou que ofereça pressão desconfortável às partes do corpo apoiadas sobre ele. Apesar de a pressão contribuir para a estabilidade, ela é mais eficiente quando distribuída sobre uma superfície larga. Quando concentrada em pequenas áreas, a estabilidade é reduzida. O desconforto produzido por pressão excessiva em determinadas áreas do assento pode resultar em fadiga muscular quando o usuário tenta estabilizar um tronco instável: no caso de alterações da sensibilidade, o indivíduo pode desenvolver úlcera de pressão. Suporte às costas O suporte oferecido pelo encosto dependerá do nível de atividade e de estabilidade do usuário. O objetivo poderá ser apenas de posicionamento para o conforto ou o de favorecer o movimento mais livre dos membros superiores. A forma como a coluna (costas) está apoiada determinará a estabilidade da porção superior do tronco. Às vezes, oferecer muito suporte quando não é necessário cria uma situação mais cansativa. Segurança É importante que o paciente se sinta seguro e firme enquanto sentado. A sensação de bem-estar pode aumentar o conforto e, consequentemente, o tempo de permanência e de funcionalidade dessa posição. Associado às modificações no assento e no encosto, o uso de um cinto de segurança oferece posicionamento e estabilidade adicionais, podendo estar posicionado em diferentes angulações, a depender do objetivo almejado Fonte: Adaptado de Engstrom (2002).37 Outro aspecto relevante a ser considerado sobre as adaptações à cadeira de rodas é minimizar as situações de fadiga. A seguir, apresentam-se alguns fatores que podem levar à fadiga enquanto sentado em uma cadeira de rodas:37 estabilidade física exagerada; liberdade de movimento exagerada; desconforto por pressão excessiva em pontos específicos; cadeira de rodas inadequada às atividades/necessidades do pacientes; manter-se sentado por longos períodos. O próximo passo na direção de boa performance com a cadeira de rodas ideal será o treinamento. Nessa etapa, o usuário aprenderá a forma mais eficiente de utilizar sua cadeira, usufruindo das vantagens de configuração e posicionamento adequados. TREINAMENTO O treinamento é uma etapa essencial para o paciente que utilizará a CRM ou motorizada para a locomoção e, sobretudo, para aqueles indivíduos que não tocarão sua cadeira de forma independente. O treinamento englobará os cuidados com a cadeira de rodas: a forma segura e apropriada de transporte; a forma de propulsão em diferentes terrenos (pelo cadeirante ou por terceiros); a forma de transposição de barreiras arquitetônicas. Devem, também, ser treinadas as transferências a partir de e para a cadeira de rodas, buscando-se a eficiência e a segurança; além disso, é preciso considerar como retornar para a cadeira de rodas em caso de quedas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a capacitação dos indivíduos da comunidade da qual o usuário da cadeira de rodas participa, garantindo, também,maior adesão e maior consolidação das orientações.13 O Quadro 9 lista as principais áreas de treinamento de usuários de cadeiras de rodas.2,13 Quadro 9 PRINCIPAIS ÁREAS DE TREINAMENTO DE USUÁRIOS DE CADEIRAS DE RODAS Transferência da cadeira de rodas. Manuseio da cadeira de rodas. Noções básicas de mobilidade em cadeira de rodas. Prevenção de úlceras por pressão. Prevenção de lesões por esforço repetitivo dos membros superiores. Cuidados da cadeira de rodas e da almofada e, quando for o caso, montagem e desmontagem do equipamento. No treinamento, se a cadeira de rodas a ser utilizada for motorizada, será treinada a direção, e não a propulsão. Antes da aquisição dessa cadeira, o paciente deverá vivenciar sua utilização. O treino envolverá a familiarização do usuário com o joystick, treinando-se as manobras e os deslocamentos nos diferentes terrenos que o indivíduo frequentará. É preciso, também, que o cadeirante esteja ciente da tecnologia envolvida para o funcionamento da cadeira e do tipo de manutenção necessário. Para a orientação quanto à propulsão da cadeira de rodas, é essencial considerar os tipos e os aspectos biomecânicos envolvidos, conforme detalhado a seguir. PROPULSÃO Mesmo com todos os avanços tecnológicos aplicados à construção das cadeiras de rodas atuais, esses dispositivos ainda são considerados aparelhos de baixa eficiência mecânica. Isso significa que a propulsão de uma CRM demandará o desprendimento de mais energia em prol do deslocamento.39 São quatro as formas de propulsão de uma cadeira de rodas – em arco, em laço, semicircular e em duplo laço – conforme se vê na Figura 23. Figura 23 – Técnicas de propulsão. Fonte: Sauatzky e colaboradores (2015).40 As terminologias das formas de propulsão se referem ao desenho formado pela mão ao executar um ciclo completo, ou seja, o impulso e a recuperação ao propulsionar a roda da cadeira. O que difere uma forma da outra é a maneira como se dá a fase de recuperação, notando-se que a fase de impulso sempre obedecerá a uma mesma trajetória, sendo somente mais ou menos curta.1 O treinamento de propulsão terá como finalidade principal a redução da sobrecarga do membro superior do usuário da cadeira de rodas, uma vez que essa tarefa é inerentemente um esforço repetitivo. Estima-se que 31 a 73% dos indivíduos que conduzem sua própria cadeira de rodas referem dor nos ombros após 10 a 15 anos de uso.41 Os cotovelos e, sobretudo, os ombros e os punhos estarão em risco de lesões musculotendíneas mesmo que a propulsão da cadeira de rodas seja realizada de forma correta e eficiente. BIOMECÂNICA DA PROPULSÃO A propulsão da CRM é dividida em duas fases: impulsão – dura de 44 a 55% do ciclo total; nessa fase, são ativos os músculos infra e supraespinhoso, deltoide anterior, peitoral maior e cabeça longa do bíceps, além de tríceps braquial e serrátil anterior. Além disso, forças tangenciais à roda são aplicadas inicialmente para cima e, na segunda metade do movimento, para baixo;42 recuperação – o indivíduo prepara seus membros superiores para um novo toque no aro. Essa fase, que é ativa, pode acontecer de quatro formas distintas, o que determinará qual padrão de propulsão está sendo adotado. Nela, deltoide médio e posterior, subescapular e supraespinhoso são ativados, além de bíceps braquial e fibras médias de trapézio.43 O músculo supraespinhoso está ativo durante ambas as fases da propulsão, sem haver a necessária recuperação muscular entre as contrações. Esse fato é um dos indicativos do caráter lesivo do ato de propelir a cadeira de rodas.43 Outro aspecto a ser considerado, além da contração muscular em si, são as forças que atuam sobre as articulações, gerando momentos articulares e forças de cisalhamento. Na fase de impulsão, há momento adutor e flexor da articulação glenoumeral, que está, inicialmente, posicionada em extensão, em rotação interna e em abdução, estando a escápula retraída. Já na fase de recuperação, ocorre um momento adutor e extensor.43 Em relação às demais articulações, os cotovelos partem de uma postura fletida para uma postura em extensão, variando o tempo em cada posição de acordo com o padrão de propulsão adotado. O punho inicia a impulsão em extensão e o desvio radial, com o antebraço tendendo a supinação, evoluindo ao longo da fase para flexão e desvio ulnar com antebraço em pronação. A tarefa do ombro na propulsão da CRM seria gerar força, ao passo que o cotovelo e o punho teriam papel maior de estabilização articular.39,43 A síndrome do impacto é a lesão por esforço repetido mais comumente associada à propulsão da CRM. Contudo, de forma frequente, a síndrome do túnel do carpo também pode ocorrer em razão dos esforços excessivos, da repetitividade e pela pressão direta exercida pelo aro da roda da cadeira.41,42,44 O Quadro 10 lista os fatores que contribuem para o desenvolvimento da síndrome do impacto em indivíduo que realiza a propulsão de sua cadeira de rodas.44 Quadro 10 DESENVOLVIMENTO DA SÍNDROME DO IMPACTO EM INDIVÍDUO QUE REALIZA PROPULSÃO DE SUA CADEIRA DE RODAS Posição abduzida com rotação interna no início da impulsão/final da recuperação. Contrações repetitivas de supraespinhoso e infraespinhoso. Fadiga do peitoral maior e supraespinhoso levando ao aumento da ação do deltoide e à consequente elevação da cabeça do úmero. Há diferenças entre usuários de cadeiras de rodas com paraplegia e tetraplegia. O nível da lesão medular afeta o recrutamento muscular durante a propulsão da cadeira de rodas. Os indivíduos com paraplegia demonstram aplicação da força mais eficaz na mão durante a propulsão da cadeira de rodas do que pessoas com tetraplegia. Isso indica que pacientes com lesões medulares mais altas são ainda mais propensos a lesões dos membros superiores em médio e em longo prazo.13 A técnica considerada mais eficiente e menos lesiva é a propulsão semicircular, pois, graças ao maior tempo de contato com o aro, há impulso mais eficiente e menor frequência de toques necessários por minuto.45,46 O impacto gerado quando a mão do usuário toca o aro para iniciar a impulsão contribui para as lesões em membros superiores. Assim, o padrão semicircular, que demanda menor frequência de toques, reduzirá a exposição ao risco de lesões.46 Para utilizar esse padrão, o usuário deve deixar as mãos caírem naturalmente abaixo do aro depois do movimento de impulsão. As mãos devem seguir o seu curso natural até chegarem ao ponto de início do próximo ciclo (Figura 24). Figura 24 – Formas de propulsão da cadeira de rodas. Fonte: Paralized Veterans of America (2008).45 A propulsão em arco é particularmente eficiente para manobrar a cadeira de rodas em espaços estreitos ou quando se deseja uma baixa velocidade de deslocamento ou maior controle da movimentação da cadeira, por exemplo.47 A técnica da propulsão em laço, muitas vezes, é adotada quando as configurações da cadeira não estão apropriadas para o indivíduo – quando a cadeira é muito larga ou o assento está alto, por exemplo. O curto tempo em que a mão faz contato com o aro na técnica em laço a torna pouco eficiente, de modo que é uma forma apropriada de propulsão em terrenos de superfícies macias, onde não há grande resistência aplicada às rodas dianteiras.47 A técnica de propulsão em duplo laço pode ser eficiente quando o cadeirante pretende deslocar-se por longas distâncias ou em alta velocidade, sendo mais eficiente caso haja um deslocamento concomitante do centro de gravidade à medida que se executa a propulsão (anteriorizando-se e posteriorizando-se o tronco de acordo com a posição da mão no aro de propulsão).47 RECOMENDAÇÕES PARA O TREINO DE PROPULSÃO São recomendações que o fisioterapeuta pode indicar ao paciente para o treino de propulsãopara o deslocamento em terrenos planos (em terrenos irregulares e íngremes, pode ser mais apropriada a adoção da propulsão em arco):45,46 tocar a cadeira de forma suave e prolongada; reduzir a cadência dos toques; adotar a posição 11-14h; evitar toques rápidos e súbitos no aro; realizar a fase de recuperação de forma semicircular; adotar períodos de repouso. A Figura 25 apresenta a posição correta do toque ao aro para propulsão mais eficiente. Figura 25 – Posição correta do toque no aro para a propulsão mais eficiente. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Em indivíduos hemiplégicos, é possível adotar – para deslocamento domiciliar – a propulsão utilizando-se o membro superior e o membro inferior não acometidos. Para maiores distâncias, podem-se considerar as alternativas CRM com eixo único ou cadeira de rodas motorizada. É necessário considerar as habilidades cognitivas do indivíduo para realizar de forma segura e eficiente esse deslocamento. No Quadro 11, são detalhadas as vantagens e as desvantagens dos principais parâmetros ajustáveis com objetivo de melhorar a eficiência da propulsão.2 Quadro 11 CONFIGURAÇÕES DA CADEIRA PARA MELHORA DA EFICIÊNCIA DA PROPULSÃO Aspecto Vantagem Desvantagem Anteriorizar as rodas dianteiras A cadeira de rodas terá resistência a quedas para frente quando as rodas dianteiras encontrarem um objeto sobre o qual não consigam passar. Menos peso sobre as rodas dianteiras reduzirá a resistência, permitindo, assim, que a cadeira se movimente com mais facilidade. O comprimento geral da cadeira de rodas aumenta, tornando manobras em espaços pequenos mais difíceis. Anteriorizar as rodas traseiras Acesso mais fácil aos aros de impulsão. Com maior ângulo para o movimento de impulso, tanto para frente quanto para trás, o usuário precisa fazer menos esforço para manobrar e girar a cadeira em espaços pequenos. Com mais peso do usuário diretamente sobre a roda traseira, a cadeira de rodas responde melhor às manobras de giro. Estabilidade traseira reduzida. Adequar a largura do assento O usuário não precisa estender os braços para alcançar os aros de impulsão. Cambagem das rodas traseiras A inclinação faz com que as rodas sejam aproximadas do usuário, facilitando o movimento de impulso. Essa característica pode auxiliar particularmente as mulheres, que costumam ter ombros mais estreitos e quadris mais largos do que os homens. A tração é mais fácil ao passar por rampas. Uma cadeira de rodas mais larga pode não passar por portas estreitas. A inclinação das rodas torna a cadeira de rodas mais larga quando dobrada. Usar pneus maciços nas rodas traseiras Pneus mais duros (que deformam menos) apresentam menor resistência ao movimento sobre superfícies lisas do que pneus mais macios, considerando-se os demais fatores da cadeira de rodas inalterados. Pneus sólidos não apresentam defeitos resultantes de perfuração. Pneus duros/sólidos oferecem pouca absorção de choque. Pneus sólidos são difíceis de reparar ou de substituir. Usar pneus pneumáticos nas rodas traseiras Pneus que devolvem energia têm menor resistência ao movimento em superfícies irregulares do que aqueles que dissipam energia. Esses pneus são relativamente fáceis de serem reparados em oficinas adequadas. Cravos ou ranhuras, como as existentes em pneus de mountain bikes, provocam flexibilidade adicional aos pneus e, consequentemente, maior resistência. Pneus pneumáticos podem furar. Aumentar a largura, o diâmetro e a maciez das rodas traseiras Rodas traseiras com diâmetro maior podem facilitar a movimentação sobre terreno acidentado. Rodas traseiras maiores e mais macias podem dificultar a manobra de giro da cadeira, principalmente em curvas em baixa velocidade e em espaços pequenos. Rodas traseiras com diâmetro maior tornam a cadeira mais difícil de ser transportada. Aumentar a largura, o diâmetro e a maciez das rodas dianteiras Uma roda larga com um ponto de protuberância no centro da banda de rodagem pode combinar pouca resistência sobre superfícies firmes e bom desempenho sobre solo macio. Menos peso nas rodas dianteiras reduz a sua resistência, tornando o movimento da cadeira mais fácil. Aumentar a área de contato da roda dianteira com o solo pode dificultar a manobra de giro da cadeira, principalmente em curvas em baixa velocidade e em espaços pequenos. Para saber mais: É importante um treinamento físico dos indivíduos que realizarão a propulsão de suas cadeiras de rodas, considerando-se as lesões potenciais. Faz-se mandatória a orientação de exercícios voltados não só para a flexibilidade muscular, mas também para o fortalecimento da musculatura de ombros e cintura escapular, como sugerido no guia Preservation of Upper Limb Function: what you should know, disponibilizado pelos Veteranos da América em seu site: www.pva.org.45,46 É equivocada a ideia de que a propulsão da cadeira de rodas é um exercício físico, pois essa ação não deve trazer exaustão ao indivíduo; ao contrário, deve-se buscar o mínimo de esforço para o deslocamento nos terrenos habituais do paciente. Os profissionais de reabilitação devem considerar que a propulsão não é a única sobrecarga imposta aos membros superiores, lembrando-se de que as transferências – sobretudo para níveis mais altos – e a altura inadequada de armários, pias, bancadas (etc.) levarão à sobrecarga adicional aos membros superiores do paciente. Assim, pacientes, familiares e empregadores devem ser orientados a adequar o ambiente, minimizando essa sobrecarga nas atividades do cotidiano do cadeirante.13 O Quadro 12 apresenta uma lista de verificação para a redução do risco de lesão de membro superior na propulsão de CRM.13 Quadro 12 LISTA DE VERIFICAÇÃO PARA A REDUÇÃO DO RISCO DE LESÃO DE MEMBRO SUPERIOR NA PROPULSÃO DE CADEIRA DE RODA MANUAL Buscar configuração apropriada da cadeira de rodas. Manter bom condicionamento/fortalecimento dos membros superiores do cadeirante. Manter peso corporal apropriado. Treinar o cadeirante quanto à técnica mais apropriada de propulsão. Buscar estratégias para a redução dos riscos ergonômicos, como: eliminar ou evitar atividades que demandem posições extremas do ombro, do cotovelo e do punho; adotar pausas e buscar estratégias que favoreçam a recuperação durante a propulsão; reduzir a intensidade e a frequência das atividades identificadas como os riscos de lesão no ombro. Exemplos: estratégias de alívio de pressão, alternativas para reduzir a frequência de elevações para alívio de pressão; modificações ambientais para reduzir a inclinação da rampa, resistência dos terrenos; buscar alternância entre as técnicas de transferências, se possível variando o membro superior de apoio e buscando transferências entre os mesmos níveis. Quando a propulsão se torna um esforço que traz repercussões negativas para o cadeirante, deve-se considerar a prescrição de uma cadeira motorizada. Há também o PAPAW, que propicia assistência ao deslocamento da CRM. Quando o usuário julga necessário, ele ativa esse dispositivo acoplado ao quadro da cadeira, possibilitando, assim, um repouso do membro superior.5,19 LEGISLAÇÃO Considerando-se a integralidade da assistência estabelecida na Constituição Federal, a Portaria nº 116, de 9 de setembro de 1993, do Ministério da Saúde (MS) inclui no rol de informações ambulatoriais do Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SIA/SUS) a concessão de equipamentos de órteses e próteses e a adaptação e o treinamento do paciente. Essa portaria já incluía a concessão de cadeiras de rodas. Desde 2012, os cadeirantesbrasileiros contam com o serviço de adaptação das cadeiras de rodas. O paciente que não consegue utilizar a cadeira de roda padrão fornecida pelo SUS tem o auxílio da rede pública para financiar as alterações necessárias. Mais recentemente, em 2013, as Portarias nº 1.272 e nº 1.274 ampliaram a gama de produtos concedidos pelo SUS, incluindo a doação de cadeira de rodas motorizada para pacientes que necessitem e que tenham condições sensoriais e cognitivas para guiá-la. A prescrição da cadeira de rodas pode ser feita por fisioterapeuta, por terapeuta ocupacional, por médico ou por assistente social (Portaria da Secretaria de Atenção à Saúde [SAS]/MS nº 661). REFERÊNCIAS 1. Cooper RA. Wheelchair selection and configuration. New York: Demos Medical;1998. 2. Organização Mundial da Saúde. Diretrizes para o fornecimento de cadeiras de rodas manuais em locais com poucos recursos. São Paulo: OMS; 2008. 3. Liu HY, Pearlman J, Cooper R, Hong EK, Wang H, Salatin B, et al. Evaluation of aluminium ultralight rigid wheelchair versus other ultralight wheelchair using ANSI\RESNA standards. J Rehabil Res Dev. 2010;47(5):441-55. 4. VanSickle DP, Cooper RA, Robertson RN, Boninger ML. 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Como citar a versão impressa deste documento Rodrigues F, Rodrigues R. Prescrição, adaptações posturais e treinamento para usuários de cadeira de rodas. In: Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional; Garcia CSNB, Facchinetti LD, organizadores. PROFISIO Programa de Atualização em Fisioterapia Neurofuncional: Ciclo 2. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2015. p. 9-70. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 4).