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5. DEVERES E DIREITOS DOS SÓCIOS 5.1 INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL Quando duas ou mais pessoas, por meio de um acordo de vontades, contratam a formação de uma sociedade para organizarem juntas a empresa, devem como obrigação, entregar à sociedade constituída o dinheiro, bem ou crédito, no montante contratado. No direito societário, cada sócio tem o dever de integralizar a quota do capital social que subscreveu. IMPORTANTE! Conceitos relevantes para a SOCIEDADE LIMITADA Capital subscrito: corresponde ao montante prometido individualmente pelos sócios, para a formação do capital social. Capital integralizado: é o capital entregue à sociedade, pelo sócio, em cumprimento ao acordado no contrato social 5.1.1 Sócio remisso: aquele que não cumpre no prazo a obrigação de integralizar a quota. Sanção: indenizar a sociedade pelo inadimplemento em que incorreu. Art. 1004 Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às contribuições estabelecidas no contrato social, e aquele que deixar de fazê- lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá perante esta pelo dano emergente da mora. OBS.: se a contribuição havia sido contratada em dinheiro, pelo atraso, o remisso responde pela integral indenização dos prejuízos causados à sociedade por sua mora, incluindo entre os consectários eventual multa estipulada no contrato social. Nesse caso, a multa é devida sem prejuízo da indenização por perdas e danos (CC, art. 404). Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional. Já, quando contratada a integralização em bens ou crédito, o remisso deve repor os prejuízos sofridos pela sociedade em razão da mora, mas nesse caso a multa eventualmente constante do contrato social substitui a indenização (CC, art. 416) Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo. Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente. Podem os sócios optarem pela exclusão do sócio remisso, qualquer que seja o modo de subscrição, conforme preceitua o parágrafo único do artigo 1004: Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1o do art. 1.031. Neste caso, o sócio expulso NÃO ETRÁ DIREITO AO REEMBOLSO, mas sim a uma restituição das entradas realizadas com desconto do crédito da sociedade, originado da mora na integralização do seu capital. (art. 1058, CC) Art. 1.058. Não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá- la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas. Assim, pode a expulsão do sócio remisso gerar para ele um crédito, se as entradas que realizou supera o montante da indenização ou dos juros moratórios ou ainda, um debito, de ocorreu a situação inversa. - E se for solucionada a mora? se, após cobrança judicial, ocorrer a total satisfação do crédito da limitada, o sócio continua integrando a sociedade. - Suspensão dos direitos do sócio remisso: o contrato social (registrado na Junta Comercial0 deve prever cláusula que eleja a lei do anonimato, de modo a viabilizar a aplicação subsidiária do artigo 120, LSA. Art. 120. A assembléia-geral poderá suspender o exercício dos direitos do acionista que deixar de cumprir obrigação imposta pela lei ou pelo estatuto, cessando a suspensão logo que cumprida a obrigação. - pode a quota que pertencia a sócio remisso, ser transferida para outra pessoa, sócia ou estranha à sociedade. Seja quem for, deverá responder pela integralização da referida quota. Cabe aos sócios verificarem a alternativa mais conveniente. 5.2 DEVER DE LEALDADE Conceito: esse dever de lealdade se traduz na noção geral de colaboração do sócio para o sucesso do empreendimento comum. Não há um conceito expresso na legislação. Neste sentido: - o sócio deve tanto tomar parte na gestão do negócio (colaboração ativa), como se abster de atos prejudiciais aos interesses comuns (colaboração passiva). - a deslealdade se configura quando o comportamento prejudica o desenvolvimento da empresa explorada pela sociedade. Exemplos: utilização de recursos humanos ou materiais da empresa para propósitos pessoais sem anuência dos demais sócios, ou condutas que possam atrapalhar o cotidiano do trabalho de dirigentes e funcionários, como conversas dispersitivas, assédio moral e sexual, intromissões injustificáveis na execução de tarefas, etc. - a deslealdade acarreta internamente no máximo a expulsão do sócio. Entretanto, poderá tipificar conduta criminosa, por exemplo, quando ocorrer competição do sócio com a sociedade (artigo 195, XI do LPI Lei de propriedade industrial). - a deslealdade se refere ao sócio e não ao investidor!! - Ocorre na seguinte situação: o sócio empreendedor contrata, com terceiros, uma sociedade empresária concorrente, na qual também participe da gestão. Ele é, nas duas limitadas, empreendedor. Aqui, a deslealdade é grave, na medida em que o sócio tem acesso às informações internas da primeira, e pode utilizá-las em proveito da segunda sociedade. Não sendo as informações confidenciais, ou não se verificando a sua utilização, a deslealdade é, uma vez mais, problema exclusivo dos sócios. O assunto extrapola o direito societário, contudo, se aquele empreendedor se utiliza de informações confidenciais de uma sociedade na gestão da outra, porque essa conduta é tipificada como crime de concorrência desleal (LPI, art. 195, XI) Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem: XI - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos, informações ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio ou prestação de serviços, excluídos aqueles que sejam de conhecimento público ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, a que teve acesso mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o término do contrato. Observações: O descumprimento dos deveres pode gerar A EXPULSÃO DO SÓCIO. A expulsão tem alguns detalhes importantes a serem destacados: - Pode ser sancionatória (quando o sócio descumpre dever) ou não sancionatória (liquidação das quotas a pedido do credor; falência e incapacidade superveniente) - Expulsão sancionatória: >é um desfazimento de vínculo societário exclusivo das sociedades contratuais. Está-se diante de rescisão de contrato por culpa de uma das partes. >não é medida discricionária da maioria da sociedade (art. 1004, parágrafo único e 1030). Não há que se falar em expulsão que integraliza a quota do capital social e cumpre com seus deveres. Se a maioria societária não quer mais continuar a sociedade com um minoritário cumpridor dos seus deveres, resta apenas a via negocial de rescisão! >Especificidades da rescisão por culpa: a) o contrato social se rescinde em relação a uma das partes, mas não são afetados os outros vínculos plurilaterais dele decorrentes: a existência da sociedade é sempre preservada na ocorrência de expulsão de sócio. b) o sócio expulso tem direito,conforme a causa da expulsão à restituição das suas entradas, ou ao reembolso da participação societária: se for o descumprimento pela não integralização da quota social, o remisso recebe o valor correspondente aos aportes de capital realizados; e se for por descumprimento de lealdade, ao expulso será feito o reembolso da quota. c) a rescisão pode ser extrajudicial em duas hipóteses, quais sejam: c.1) se o expulso é minoritário e há, no contrato social, cláusula que permite a expulsão de sócio por justa causa (cláusula permissiva). Para ser efetiva, o sócio ou sócios titulares de mais da metade do capital social, diante de elementos que demonstrem estar o minoritário pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, devem convocar reunião ou assembleia específica para apreciar a matéria. É condição de validade do ato que seja dada ciência ao acusado da convocação, para que ele possa comparecer e, querendo, defender-se. A expulsão só será consumada após feita alteração contratual e arquivada na Junta Comercial. c.2) sanção imposta ao sócio minoritário remisso, isto é, aquele que está em mora na integralização das respectivas quotas do capital social. Não se exige, nesse caso, a realização de reunião ou assembleia para deliberação, bastando o instrumento de alteração contratual firmado pela maioria e arquivado na Junta Comercial (CC, art. 1.004, parágrafo único). Aqui, como já referido, não se segue o reembolso, mas a restituição das entradas compensadas com os créditos da sociedade (item 1.2). Quando o sócio a ser expulso for majoritário, ou o contrato social não contemplar cláusula permissiva, a expulsão será necessariamente judicial. Aqui, o sócio remisso descumpridor de suas obrigações ou desleal deve ser demandado, em ação de dissolução, proposta pelos demais e pela sociedade limitada (esta será representada, excepcionalmente, pela minoria, ao pleitear a expulsão de sócio majoritário). - Expulsão não sancionatória O Código Civil estabelece três hipóteses de expulsão não sancionatória (com causas diversas do descumprimento de deveres sociais), que são destinadas a tutelar interesses de terceiros não sócios ou impedir prejuízos à sociedade pelas mudanças advindas da condição de sócio. São elas: 1) Expulsão de pleno direito artigo 1030, parágrafo único. Trata-se da decretação de falência do sócio e a liquidação da quota a pedido do credor. 2) Expulsão de pleno direito, que alcança unicamente as sociedades limitadas sujeitas a regime de regência supletiva das sociedades simples, uma vez que não há previsão no CC-2000 de liquidação da quota social a pedido do credor para as sociedade limitadas, mas somente para a sociedade simples. Assim, se no contrato social da limitada houver previsão de regência supletiva da sociedade anônima e não simples, não poderá ocorrer a expulsão, por não existir previsão na LSA. 3) Expulsão por incapacidade superveniente. Art. 1030, caput, in fine. Somente a incapacidade superveniente pode ensejar a expulsão. Assim, se ao ingressar na sociedade o sócio já se encontrava nesta condição, não há que se falar em expulsão.