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METODOLOGIA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO AP1

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Texto 1 – A pesquisa e a produção de conhecimentos
A educação como instrumento de reprodução da sociedade diz respeito à educação não-crítica, aquela que tem como finalidade principal a adaptação do sujeito à sociedade tal qual ela se apresenta. Se considerarmos que vivemos em uma sociedade desigual, temos que a educação concebida como um processo de adaptação a essa sociedade, como um instrumento de reprodução dessa sociedade, tem como objetivo manter essa sociedade desigual. 
A educação como instrumento de transformação da sociedade refere-se à educação crítica, àquela que tem como finalidade principal a instrumentalização dos sujeitos para que esses tenham uma prática social crítica e transformadora. Isso significa que, em uma sociedade desigual, os sujeitos precisam se apropriar de conhecimentos, idéias, atitudes, valores, comportamentos etc., de forma crítica e reflexiva para que tenham condições de atuar nessa sociedade visando a sua transformação. 
O mais importante é compreender a pesquisa como um processo de produção de conhecimentos para a compreensão de uma dada realidade, isto é, de conhecimentos que nos auxiliem na interpretação da realidade vivida. Então, a função da pesquisa, por mais abstrata que nos possa parecer, é a interpretação do que vivemos. Como afirma Santos (1989), ela é a “prática social de conhecimento”. Esse autor reforça o caráter social da atividade de pesquisa, conferindo-lhe como objetivo último o conhecimento para a vida social.
O conhecimento como um mecanismo de compreensão e transformação do mundo, segundo LUCKESI, nos remete à reflexão sobre nosso mundo cultural. O mundo humano é um mundo construído pela cultura, pelos sujeitos humanos em sua relação entre si e deles com o ambiente em que vivem. Vivemos no mundo em constante atividade: observamos, sentimos e agimos, mas principalmente pensamos. Todos os nossos atos são acompanhados de pensamento, de reflexões sobre o observado, o sentido e o vivido. Então, necessitamos, além de viver no mundo, pensá-lo, compreendê-lo, isto é, conhecê-lo.
A pesquisa qualitativa e a questão metodológica
Mas o que é pesquisa qualitativa? No que ou como ela se distingue da pesquisa quantitativa? Para responder a essas questões, iniciemos com a afirmação de que os pesquisadores das áreas de ciências exatas e naturais – nas quais a pesquisa é essencialmente descritiva e quantitativa – tendem a desconsiderar a pesquisa qualitativa como uma abordagem científica. No entanto, muito se tem avançado na concepção de que é preciso considerar que os fenômenos humanos e sociais nem sempre podem ser quantificáveis, pois, como afirma Minayo (2002), trata-se de um “universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. A pesquisa qualitativa defende a ideia de que, na produção de conhecimentos sobre os fenômenos humanos e sociais, nos interessa mais compreender e interpretar seus conteúdos do que descrevê-los, explicá-los.
Na discussão das diferenças e semelhanças da pesquisa quantitativa e qualitativa em educação, destaca-se também a identificação das dificuldades em dar ao campo de produção científica do fenômeno educativo, essencialmente multidisciplinar, uma identidade própria. A existência de variadas interfaces disciplinares na pesquisa em educação, caracterizada pelo fato de que muitas ciências, humanas e sociais, são subsidiárias das ciências da educação, – como, por exemplo, a psicologia, a filosofia, a sociologia – dificultam a compreensão das ciências da educação como uma ciência que tem um campo próprio, que é o saber pedagógico. Por outro lado, a pesquisa, ou seja, a produção de conhecimentos sobre o saber pedagógico já se consolidou como uma área vigorosa e atuante que traz grande contribuição para a compreensão do fenômeno educacional. No entanto, não podemos esperar consensos teórico-metológicos nessa área porque ela é dinâmica e complexa.
Diferentemente daquilo que expressa o senso comum, a Ciência não resulta na verdade absoluta, embora se caracterize pela busca da aproximação mais completa da realidade. Isso significa que a Ciência tem um caráter processual, isto é, ela não é um produto, pronto e acabado, para a compreensão da realidade, mas um processo de investigação constante e contínuo. Nesse processo, a metodologia científica, se tomada como um caminho a ser percorrido, é um instrumento científico que também permite criticar a produção do conhecimento. O trabalho científico é, portanto, atividade intencional, processual e complexa de produção de conhecimentos para a interpretação da realidade. Como tal, é carregado de escolhas teóricas e metodológicas que exigem a atenção do pesquisador que procura contribuir para a construção da vida social.
A primeira coisa com que o pesquisador em educação tem que se preocupar na organização da pesquisa é com sua relevância científica e social. Na pesquisa em educação é necessário tratar os processos de investigação dos fenômenos educativos com rigor científico e compromisso social. Uma produção rigorosa de conhecimentos sobre os fenômenos educativos somente tem contribuição a dar à educação, do ponto de vista metodológico, se tiver importância social e se for comprometida com o processo educacional. Para os pesquisadores em educação, a primeira preocupação refere-se à articulação entre o rigor científico e a relevância social, a segunda, à escolha do assunto a ser pesquisado. Definido o assunto, é preciso escolher o tema do estudo. Assunto e tema se relacionam, mas do ponto de vista da metodologia de pesquisa não são a mesma coisa: o tema é a especificação do assunto. Com o objetivo de nos auxiliar nas escolhas do tema e do assunto, tomemos a descrição de Vale (1998) sobre os princípios mais importantes para que o conhecimento produzido num processo de investigação possa ser considerado científico:
a) o trabalho científico necessita da caracterização com rigor e clareza do objeto de estudo, de forma que ele possa contribuir para o avanço do conhecimento da área estudada; 
b) na realização do trabalho científico, o pesquisador deve atentar para o pressuposto de que o conhecimento científico difere de crenças, sabedorias ou opiniões, pois se fundamenta nas observações e/ou descobertas apresentadas que também possam ser confirmadas por outros pesquisadores;
c) o trabalho científico é mais do que uma coletânea de dados ou informações agrupados de maneira aleatória. Ele exige uma sistematização desses dados resultantes do uso de instrumentos específicos;
d) o trabalho científico requer o uso científico de conceitos abstratos, assim, ele parte de constatações existentes rumo a novas descobertas;
e) o trabalho científico articula dialeticamente a fundamentação teórica aos instrumentos técnicos em um processo de construção intelectual e material criativa, realizando, na prática, uma síntese entre a ciência e a técnica.
Como fazer? O que fazer? Por onde começar? Essas preocupações referem-se à metodologia da pesquisa. Mas o que é metodologia de pesquisa?Metodologia de pesquisa é um caminho a ser trilhado pelo pesquisador no processo de produção de conhecimentos sobre a realidade estudada. Um conjunto de procedimentos que não se resume à utilização das técnicas e instrumentos de pesquisa, mas que as inclui, porque as reflexões teóricas têm importância fundamental. A articulação entre os estudos teóricos e a aplicação prática de técnicas e instrumentos deve estar presente durante todo o processo de investigação. 
Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está sempre referida a elas. Da forma como tratamos neste trabalho, a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativodo investigador.Enquanto abrangência de concepções teóricas de abordagem, a teoria e a metodologia caminham juntas, intrincavelmente inseparáveis. Enquanto conjunto de técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática.
Entendemos por pesquisa a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões da investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas. São frutos de determinada inserção no real, nele encontrando suas razões e seus objetivos.
A pesquisa, portanto, é uma importante atividade de professores e alunos nas instituições de ensino superior, em especial, nas instituições universitárias de ensino superior. Isso porque entendemos que o ensino superior e a universidade representam um espaço educativo privilegiado, onde a produção crítica de conhecimentos contribui significativamente para a sociedade. Dessa forma, a pesquisa nos cursos de graduação tem o sentido de produzir conhecimentos atualizados e significativos para fundamentar as atividades de formação humana e profissional, mas, por outro lado, tem também o objetivo de formar pesquisadores. A pesquisa nos cursos de graduação é conhecida, em geral, como um trabalho de iniciação científica.
No âmbito da educação, vemos a atividade de iniciação científica voltada para a formação dos educadores, pois estes precisam desenvolver uma de pesquisa, sob o risco de tratar da transmissão/apropriação de conhecimentos de forma acrítica e reprodutora. A atividade de educador, portanto, exige uma dimensão investigativa. Se o educador tem o conhecimento como foco de sua atuação, então, ele pode compreender seu processo de produção.
A Monografia Científica ou o Trabalho de Conclusão de Curso, embora tenham pequenas diferenças, possuem objetivos muito próximos aos dos Relatórios de Pesquisa para pesquisadores iniciantes. Monografia, como o nome já indica, significa o tratamento, na atividade de iniciação científica, de um único tema. Mono (único) grafia (escrita), ou seja, escrever, dissertar, sobre um único tema: Os trabalhos científicos são monográficos, à medida que satisfizerem à exigência da especificação, ou seja, na razão direta de que um tratamento estruturado de um único tema, devidamente especificado e delimitado. O trabalho monográfico caracteriza-se mais pela unicidade e delimitação do tema e pela profundidade do tratamento do que por sua eventual extensão, generalidade ou valor didático (SEVERINO, 1985, p. 200).
Do ponto de vista prático, o Trabalho de Conclusão de Curso, assim como as monografias, exigem a delimitação de um único tema de estudo no processo de pesquisa. É por meio destes trabalhos científicos que o pesquisador iniciante comunica o que criou, registrar as descrições, análises, reflexões, conclusões, possíveis caminhos de solução de problemas investigados ou até levanta novas hipóteses e problemas de pesquisa. Para isso, a metodologia científica criou uma formalização que, embora seja universalmente aceita nos trabalhos acadêmicos, somente tem sentido como instrumento de investigação se este for constante e continuamente adaptado às necessidades de cada pesquisador.
A elaboração de um trabalho acadêmico impõe o manuseio de determinadas regras próprias do pensamento científico. O padrão estabelecido representa uma rede de compromissos conceituais, teóricos, metodológicos e instrumentais assumidos e compartilhados entre os cientistas. Elaborar, organizar e formatar uma monografia rigidamente dentro dos padrões é tarefa difícil e exige do autor uma grande familiaridade com as regras. Daí a necessidade de, muitas vezes, você precisar recorrer ao orientador e até mesmo a um revisor.
Modalidades, técnicas e instrumentos de pesquisa em educação
Lembremos que nas ciências humanas e sociais, em que se situa a ciência da educação, a pesquisa qualitativa ocupa lugar de destaque, pois assegura uma abordagem em que a compreensão – interpretação – é mais importante do que a descrição ou explicação de um fenômeno. Isso significa que, na pesquisa em educação, interessa mais desvendar os significados profundos do observado, do que os imediatamente aparentes. Neste sentido, o papel do pesquisador é maior do que o de observador dos fenômenos, ele é o intérprete, ou seja, tem papel fundamental na investigação. Dessa forma, na pesquisa qualitativa, podemos identificar a importância do papel do pesquisador. Nessa perspectiva de pesquisa, o envolvimento – e não a observação “distanciada” – do pesquisador com o campo não impede o processo de investigação, ao contrário, cria condições concretas para que o processo de pesquisa possa captar os significados, interpretando os fenômenos estudados. Assim como o pesquisador é um elemento importante no processo, também as configurações do campo de pesquisa se destacam como determinantes do conhecimento a ser produzido. Temos observado, na pesquisa em educação, variados campos de investigação. Como campo de pesquisa, compreendemos o lugar onde o pesquisador coleta os dados que, interpretados, discutidos e analisados, constroem os significados buscados. A esse “lugar” de coleta de dados chamamos de “fonte”.
Do ponto de vista prático, a fonte dos dados nos indica, também, a modalidade de pesquisa. Entre as modalidades de pesquisa mais presentes nos estudos em educação, temos a pesquisa bibliográfica, a de campo, a documental e a pesquisa-ação. Vejamos como o campo de coleta de dados, entre outros elementos, caracteriza cada uma delas.
A pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica tem como principal característica o fato de que a sua fonte dos dados é a bibliografia especializada. Todas as modalidades de pesquisa exigem uma revisão bibliográfica, uma busca de conhecimentos sobre os fenômenos investigados na bibliografia especializada, mas só a pesquisa bibliográfica tem como campo de coleta de dados a bibliografia. Nessa pesquisa, embora seja de uma modalidade muito particular, não ouviremos entrevistados, nem observaremos situações vividas. Antes, a partir de leituras diversas, dialogaremos com os autores, por meio de seus escritos. Podemos observar na pesquisa bibliográfica as mesmas grandes etapas de qualquer outra modalidade:
1. Delineamento da Pesquisa: elaboração do Projeto de Pesquisa.
2. Revisão Bibliográfica: para delinear melhor o problema de pesquisa, permitindo, também, que o pesquisador se aproprie de conhecimentos para a compreensão mais aprofundada do assunto e do tema.
3. Coleta de Dados: leitura cuidadosa e análise de obras selecionadas para a coleta de dados.
4. Organização dos Dados: estudo exaustivo dos dados coletados organizando-os em categorias de análise.
5. Análise e Interpretação dos Dados: discussão dos resultados obtidos na coleta de dados.
6. Redação Final: elaboração do relatório final da pesquisa na forma exigida para o nível de investigação empreendido, seja monografia, trabalho de conclusão de curso, dissertação de mestrado, tese de doutorado ou outro tipo de relatório.
Se as etapas são praticamente as mesmas, é importante observar que os procedimentos metodológicos, as técnicas e os instrumentos de pesquisa na pesquisa bibliográfica são bastante específicos. A leitura dos textos é fundamental para o desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa nesta modalidade. Por outro lado, sabemos que qualquer modalidade de pesquisa exige do pesquisador habilidade, disciplina e competência para leitura, análise e interpretação de textos, mas na pesquisa bibliográfica a leitura torna-se uma técnica de pesquisa. 
Segundo Severino (1985), após a análise temática, temos a análise interpretativa. Nessa etapa, discutiremoscom o autor, podendo, durante a leitura, concordar com ele, discordar dele, interrogá-lo etc. Essa é uma etapa de atividade intelectual elaborada, mais intensa e sofisticada. Severino (1985) indica quatro momentos para a análise interpretativa: situar as ideias do texto no pensamento mais geral do autor; compreender os pressupostos teórico-filosóficos apresentados no texto; discutir a temática do texto, levando em conta os temas próximos tratados por outros autores; realizar uma avaliação crítica das ideias expressas no texto quanto à coerência interna do texto, à validade dos argumentos, à originalidade na abordagem dos temas e sua profundidade, e abrangência das análises empreendidas pelo autor. 
A etapa mais produtiva do trabalho de análise de um texto, aquela que Severino (1985) chamou de problematização. Nesta etapa, ele nos orienta a sistematizar as indagações que emergem da leitura.Lembremos que a pesquisa qualitativa, diferentemente de outras modalidades que se preocupam mais com a descrição dos fenômenos, tem uma preocupação maior com a interpretação dos fenômenos estudados, portanto, é nessa etapa que se concretiza, de forma mais elaborada, esta interpretação. O pesquisador, nessa etapa da pesquisa bibliográfica, problematiza os temas que, direta ou indiretamente, os autores lidos trouxeram para sua reflexão. Trata-se, portanto, de uma etapa que, de forma mais clara e objetiva, caracteriza o processo de produção de conhecimentos na pesquisa bibliográfica.
Podemos afirmar que a pesquisa bibliográfica tem como técnica central a leitura e como instrumento principal o fichamento bibliográfico. Assim, a produção de conhecimentos, a partir do trabalho de investigação científica resultante da pesquisa bibliográfica, exige do pesquisador: interpretação, produção de argumentações sobre o tema, resultados de seus estudos aprofundados do assunto, do tema e do problema.
A pesquisa de campo
Essa modalidade de pesquisa, como o próprio nome indica, tem a fonte de dados no “campo” onde ocorrem os fenômenos, no caso da pesquisa em educação, esse campo configura-se nos espaços educativos. A literatura sobre pesquisa em educação elegeu, durante muito tempo, a escola como campo mais apropriado de pesquisa. A pesquisa de campo em educação, portanto, se caracteriza pela ida do pesquisador a esses espaços educativos para coleta de dados com o objetivo de compreender os fenômenos que nele ocorrem e, pela análise e interpretação desses dados, contribuir, pela produção de conhecimentos, para a construção do saber educacional e o avanço dos processos educativos.Dessa forma, os grandes momentos do processo de pesquisa, nessa modalidade, também são:
1. Delineamento da Pesquisa: elaboração do Projeto de Pesquisa.
2. Revisão Bibliográfica: para delinear melhor o problema de pesquisa, permitindo, também, que o pesquisador se aproprie de conhecimentos para a compreensão mais aprofundada do assunto e do tema.
3. Coleta de Dados: ida ao campo para, através da aplicação de algumas técnicas e instrumentos, coletar os dados para análise.
4. Organização dos Dados: estudo exaustivo dos dados coletados organizando-os em categorias de análise.
5. Análise e Interpretação dos Dados: discussão dos resultados obtidos na coleta de dados com o apoio de autores e obras que tratam dos mesmos temas ou temas próximos.
6. Redação Final: elaboração do relatório final da pesquisa na forma exigida para o nível de investigação empreendido, seja monografia, trabalho de conclusão de curso, dissertação de mestrado, tese de doutorado ou outro tipo de relatório.
A pesquisa documental
A pesquisa documental tem como principal característica o fato de que a fonte dos dados, o campo onde se procederá a coleta dos dados, é um documento (histórico, institucional, associativo, oficial etc.). Isto significa que a busca de informações (dados) sobre os fenômenos investigados é realizada nos documentos que exigem, para a produção de conhecimentos, uma análise, no caso, a documental. Por documentos, podemos entender, por exemplo, as normas jurídicas ou os documentos oficiais de políticas públicas. 
Para a modalidade de pesquisa documental, a técnica mais indicada para coleta e análise dos dados é a análise de conteúdo. Embora esta técnica também seja usada em outras situações (para analisar qualquer tipo de texto ou de comunicação oral, visual ou gestual), vejamos suas possibilidades metodológicas. Bardin (s/d), um dos mais conhecidos estudiosos dessa técnica, afirma que a análise de conteúdo se realiza pela utilização de várias técnicas relacionadas à análise de comunicação.
Considerando que todo documento, ou simplesmente um texto, tem um volume grande de informações que nem sempre interessam ao tema em estudo, o principal objetivo da análise de conteúdo é o de desvendar os sentidos aparentes ou ocultos, manifestos ou latentes, explícitos ou implícitos, de um texto, um documento, um discurso ou qualquer outro tipo de comunicação. Obviamente que a escolha dos procedimentos para esta análise depende do estudo em questão, dos objetivos do estudo, das intenções do pesquisador, de seus referenciais teóricos, epistemológicos, políticos, sociais, culturais, educacionais e pedagógicos.
Decompondo o texto documental, conforme a indicação acima, em partes constituintes, o pesquisador procederá, então, a um estudo aprofundado dessas partes, buscando, para isso, informações do contexto e do texto, como forma de compreender o expresso e o oculto. A pesquisa documental em educação, portanto, é uma “visita” que o pesquisador faz a documentos que tenham significado para a organização da educação ou do ensino, com o objetivo de empreender uma análise, em geral crítica, das propostas em questão.
A pesquisa-ação
A metodologia da pesquisa-ação articula, radicalmente, a produção de conhecimentos com a ação educativa, isto é, por um lado, investiga, produz conhecimentos sobre a realidade a ser estudada e, por outro e ao mesmo tempo, realiza um processo educativo para o enfrentamento dessa mesma realidade. Essa modalidade da pesquisa qualitativa também é conhecida como participante, participativa e pesquisa-ação-participante ou participativa. Trata-se de “uma modalidade nova de conhecimento coletivo do Mundo e das condições de vida de pessoas, grupos e classes populares” (BRANDÃO, 1981, p. 9) ou, ainda, uma modalidade alternativa de pesquisa qualitativa que coloca a Ciência a serviço da emancipação social. Esse tipo de pesquisa traz desafios como: o de pesquisar e participar, e o de investigar e educar, realizando, nesse processo educativo, a articulação radical entre teoria e prática (DEMO, 1992). Uma das principais características dessa metodologia de pesquisa, consiste em tomar como ponto de partida os problemas reais, para, refletindo sobre eles, romper com a separação entre teoria e prática na produção de conhecimentos sobre os processos educativos. Brandão (1999) denomina de pesquisa participante aquela que permite radicalizar a participação política dos “participantes”. A pesquisa-ação tem como ponto de partida a articulação entre a produção de conhecimentos para a conscientização dos sujeitos e solução de problemas socialmente significativos, como afirma Thiollent (2000).
A pesquisa-ação-participativa foi indicada neste texto como uma modalidade de pesquisa em educação que articula, radicalmente, as dimensões investigativas, educativas e participativas. Dessa forma, essa modalidade de pesquisa exige técnicas e instrumentos próprios que garantam sua especial dinâmica de funcionamento. Essa modalidade de pesquisa exige que todas as ações realizadas, tanto as de caráter investigativo, quanto as de caráter educativo, contem com a participação dos sujeitos envolvidos. Dessa forma, o planejamento participativo, também conhecido como planejamento dialógico ou até como planejamento estratégico, apresenta-se como uma importante e produtiva técnica para os estudos por meio da pesquisa-ação-participativa.
A pesquisa-ação-participativa, com a técnica de planejamentoparticipativo, é uma modalidade da pesquisa qualitativa que, na educação, tem sido muito usada para a formação de professores, embora também possamos encontrá-la realizada com outros e variados pesquisadores parceiros.
 Aula 2 – O Conhecimento como Compreensão e Transformação da Realidade
A explicação mítica
O mito, em sua condição de imutalibilidade, é contado como tentativa de apreensão e incorporação do mundo em que se vive. Pertence à tradição cultural de um povo. Exerce a função de explicar a origem do universo, o funcionamento da natureza e a origem dos valores do homem em coletividade, recorrendo ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso. Esta explicação muito breve de mito tem apenas a intenção de dizer a você que, desde sempre, o homem expressa o conhecimento a respeito da natureza e dele próprio. Se estamos lhe dizendo isto, é porque queremos pedagogicamente abrir um caminho para o entendimento do seguinte:
 A primeira forma de expressão do conhecimento se deu através do mito entendido como narrativa.
A explicação pela razão
Na Grécia antiga (século VI a. C ), com o início da filosofia, a explicação mítica das origens enfraquece. É então o pensamento racional que passa a explicar a natureza pelo que ela própria é, portanto, sem a recorrência ao sobrenatural.
Sócrates, por exemplo, entendia que o verdadeiro filósofo era aquele que deveria estar consciente de sua ignorância e deveria sempre utilizar a razão. E para entrar em contato com supostas verdades, segundo ele, o filósofo precisava adotar um método que consistia na arte de interrogar. Este método chama-se “maiêutica”.
Sócrates acreditava que as falsas certezas podem levar a ideias preconceituosas. Podemos aplicar a lição do filósofo grego à ciência, isto é, à construção da teoria do conhecimento. E entender as falsas certezas como opiniões, portanto sem nenhuma fundamentação científica.
As representações do conhecimento pelo discurso religioso
As religiões orientais e ocidentais também utilizam mitos e alegorias para explicar a origem do bem e do mal, a união entre os opostos e o surgimento da humanidade. Uma explicação em que uma verdade não pode ser questionada costuma tornar-se um dogma, como sabemos.
 Dogma – ponto fundamental e indiscutível de qualquer doutrina ou sistema.
A força de uma doutrina religiosa pode também constituir um conhecimento. O pintor Michel Ângelo, fundamentando- se na Bíblia Sagrada, fez a representação da criação do homem, como você pode ter uma idéia observando a figura a seguir: a mão do criador e a mão da criatura quase se tocam.
E pode fazê-lo inspirado por uma doutrina religiosa. É importante que você dê atenção para o que estamos enunciando como conhecimento e de que modos o conhecimento se revela ao longo da história da humanidade.
Escolhemos ilustrar tal fato com duas pinturas: a de Michel Ângelo e a de Hieronymus Bosch. Já passaremos para a segunda, com a intenção de cuidar de um aspecto decorrente da sedução de conhecer. Observe o quadro de Bosch: trata-se de uma pintura nada tradicional do Cristo coroado de espinhos. Os torturadores de Cristo, pintados como seres humanos, aí estão como representantes da humanidade, em oposição ao Filho de Deus. À direita, puxando o manto, um dos tentadores segura-o e parece dizer: “Mas eu sei, já o sei”.
Com a segunda ilustração temos o propósito de abordar também a questão das certezas como dado cultural que nos ajudam a nos sentirmos seguros. Certezas e convicções sem base científica podem ser facilmente recusadas, principalmente quando elas decorrem de uma observação equivocada. Há um teste que prova a existência do ponto cego. Teste você mesmo.
• Faça o seguinte: tampe o olho esquerdo e fixe sua visão na cruz, desenhada ao lado do ponto, na figura a seguir. Aos poucos o ponto à direita desaparecerá.
• Agora faça isto com os dois polegares. O dedo direito aparecerá sem a sua última falange.
• Por que isto acontece? Porque a imagem cai na área que não tem sensibilidade à luz. Esta área chama-se ponto cego. Porém não andamos ao longo de nossas vidas percebendo que não vemos, porque o cérebro corrige esta distorção.
E o fenômeno da deficiência, como é percebido e explicado pela humanidade?
No módulo relativo à História da Educação Especial, vocês observarão que a tentativa de explicar a diferença seguirá também os princípios da mitologia, da religião e do dualismo bem e mal, clássicos nas religiões ocidentais. E terão também a explicação científica.
A necessidade da resposta e o desejo do conhecimento iniciam modos e processos
Os autores prosseguem refletindo que a preocupação com a debilidade mental proporcionou avanços na Psicologia, relativos à avaliação da inteligência, originando os testes de inteligência que depois passaram a ser formas de investigação também da superdotação.
O estudo da cegueira e da surdez proporcionou avanços no entendimento destes sentidos e na prevenção destas deficiências.
A necessidade da resposta e o desejo do conhecimento iniciam modos e processos de busca de transformação da realidade. Dentro desta unidade, trataremos das formas de lidar com a deficiência e excepcionalidade na história da humanidade.
Explicações de natureza mítica: a concepção demonológica
As explicações míticas da deficiência ainda perduraram, mesmo após surgirem explicações naturalísticas para este fenômeno.
A crença em espíritos malignos, como causa da mudança de comportamento, contribuiu para uma explicação demonológica da deficiência.
As primeiras experiências de intervenção na minimização dos sintomas comportamentais das deficiências foram as trepanações, perfurações realizadas no cérebro para que os espíritos malignos pudessem ser libertados. Porém, ainda que movidos por uma concepção demonológica, os povos primitivos já anunciavam, em suas concepções, que assede da doença estaria no cérebro, anunciando assim as pesquisas atuais em neurociências.
Instrumento cirúrgico
Os incas imaginavam que a “doença” estava localizada no cérebro, por isso praticavam a trepanação. Em que consistia a trepanação? É esta a pergunta que você faria, se estivesse diante de um conhecedor da cultura dos incas. O que podemos informar a você é o seguinte: a trepanação já era um procedimento cirúrgico naquela época.
Os incas praticavam a trepanação apenas com a finalidade de expulsar o demônio que, para eles, era a causa do distúrbio mental no paciente. Como você pode observar, a percepção de que havia um ponto no cérebro em que a “doença” estava localizada levou os seres humanos, desde tempos remotos a imaginar formas para a cura destes males. Observe os dois instrumentos: o tumi inca da figura 5 e o bisturi nas mãos do médico no quadro do pintor Bosch. Séculos separam estas intervenções e o princípio é o mesmo: perfurar a área cerebral e libertar a doença.
Atualmente, a neurociência busca o entendimento do desequilíbrio no funcionamento das áreas cerebrais e o surgimento das patologias cerebrais. O desequilíbrio pode ser causado por substâncias denominadas “neurotransmissores”. As tomografias computadorizadas, os mapeamentos cerebrais podem ser a geração mais jovem das práticas tradicionais da trepanação.
Uma rápida passagem pelos tratamentos da doença mental
Os filósofos e físicos gregos tentaram explicações naturalistas para os fenômenos cerebrais. Hipócrates
(460-375 a.C.), considerado o pai da Medicina, já admitia que o epilético não era possuído por um “mal divino”, mas a causa era natural. Ignorância e temor eram as fontes dos homens que ainda consideravam esta doença como um “mal divino”. Os médicos, por vezes, se apoiavam no naturalismo, por não disporem de outras explicações para a doença mental.
Estes filósofos e físicos tentavam explicar os fenômenos cerebrais a partir de dados físicos, como o amolecimento dos tecidos nervosos, as mudanças de temperatura e umidade do cérebro.
Na Idade Média, o sobrenatural e a magia eram dogmas aceitos.
• A luta entre o bem e omal gerava sentimentos de repulsa à deficiência, ou seu enaltecimento.
• Muitos deficientes mentais, considerados bruxos possuídos pelo demônio, foram queimados por ordem da Santa Inquisição.
• As concepções demonológicas a respeito da deficiência fizeram com que as famílias abandonassem seus parentes deficientes. Elas tinham medo de serem condenadas pela Inquisição.
Os primórdios da educação dos surdos
Pois bem, saiba que no século XVII começa a utilização da Língua de Sinais no ensino dos surdos, a partir do trabalho do Abade L’Epée que arrebanhou surdos nos arredores de Paris, criando a primeira escola pública para surdos, a primeira a utilizar Língua de Sinais.
Não se esqueça de que os avanços no campo do conhecimento sofrem influências sociais, culturais e hegemônicas. Uma invenção pode mudar o comportamento em sociedade ou o rumo do processo educacional.
Da história da educação dos surdos temos de considerar alguns dados significativos:
• a Língua de Sinais,
• a oralização,
• o aperfeiçoamento de aparelhos sonoros.
Atualmente, mesmo com o movimento de luta das associações de surdos, mesmo as legislações que garantem o ensino bilíngue e o respeito à Língua de Sinais, ainda encontramos bastante resistência por parte das autoridades e dos profissionais. O direito ao bilinguismo significa que o processo educacional do surdo garante a assimilação das eficientes formas de comunicação. Esse processo se inicia com a língua materna gestual e o aprendizado da Língua Portuguesa oral. A história do ensino de surdos é um excelente exemplo de que cabe à ciência incorporar conhecimentos e não excluí-los em nome de concepções e doutrinas.
E o que é deficiência intelectual?
Atualmente, no mundo científico, o termo deficiência mental está sendo substituído por deficiência intelectual. Esta mudança é fruto de uma evolução histórica que tenta minimizar os aspectos depreciativos e o impacto para a pessoa e também sua família, ao terem um diagnóstico de “retardado mental”. A terminologia “retardado mental” vem acrescida de um forte teor depreciativo e coloca na pessoa o ônus pela sua deficiência.
Segundo Fernandes (2000), desde 1992 a Associação Americana de Deficiência Mental vem dando preferência ao modelo de suporte e deixando de lado o modelo do déficit intelectivo. Pela concepção do suporte, a deficiência pode ser minimizada, mas para tal o contexto social tem de oferecer os suportes adequados.
As novas concepções propõem agregar à avaliação do quociente intelectual a avaliação das capacidades adaptativas, para definir os suportes necessários à funcionalidade da pessoa com deficiência intelectual.
Neste sentido, o enfoque não é mais a pessoa com deficiência, mas o meio em que ela vive e como este meio poderá colaborar para o estímulo do potencial desta pessoa. Por exemplo, as concepções atuais acerca da síndrome de Down refletem a quebra de paradigma.
Hoje as discussões concentram-se no prosseguimento da escolaridade, do acesso ao nível superior, do direito ao trabalho, ao casamento e constituição de família, etc. Imagine você que tais debates eram considerados utópicos há trinta anos. Hoje em dia eles ganharam relevância. Até o cinema já se ocupa com o tema da síndrome de Down.
A cegueira
O cego recebe esmola. Tire suas conclusões depois de consultar o site indicado na figura 9. E na atualidade, será que a cegueira ganha alguma relevância? Claro que sim. Entre os anos de 1985 a 1990 surgiu uma série de desenhos animados, Thundercat, que retrata felinos com poderes de super-heróis.
O mais velho do grupo, Lynx-O, um sábio com poderes especiais, é cego e possui os demais sentidos apuradíssimos. Ele usa um laptop em Braille. Maravilha! Temos um cego sábio pós-moderno. Veja como a associação da cegueira com o sobrenatural fez tradição e até hoje ganha visibilidade.
 Aula 3 – Capítulo I O SENSO COMUM E A CIÊNCIA (I)
O que é senso comum?
O que é o senso comum? Talvez simplesmente dizer que senso comum é aquilo que não é ciência e isto inclui todas as receitas para o dia-a-dia, bem como os ideais e esperanças que constituem a capa do livro de receitas. E a ciência? Não é uma forma de conhecimento diferente do senso comum. Não é um novo órgão. Apenas uma especialização de certos órgãos e um controle disciplinado do seu uso. Como funciona o senso comum? Se a gente compreender o senso comum poderá entender a ciência com mais facilidade. E nada melhor para se entender o senso comum que brincar com alguns problemas.
A ciência não acredita em magia. Mas o senso comum teimosamente se agarra a ela. Você já viu uma pessoa jogando boliche? Não é curioso que ela entorte o corpo, depois de lançada a bola, num esforço para alterar a sua direção, à distância? Esta torcida de corpo é um ritual mágico, uma tentativa de mudar o curso dos eventos por meio do desejo. A crença na magia, como a crença no milagre, nasce da visão de um universo no qual os desejos e as emoções podem alterar os fatos. A ciência diz que isto não é verdade. O senso comum continua, teimosamente, a crer no poder do desejo. 
Vida é sinônimo de mudança. Talvez que a maior diferença entre objetos animados e inanimados está em que os organismos vivos mudam e adaptam-se rapidamente aos seus ambientes. Uma pedra sobrevive por ser tão dura que o vento e a chave a desgastam só muito lentamente. Um ser humano é muito mais frágil que uma pedra. Os seres humanos sobrevivem escapando do vento e da chuva quando eles ocorrem ou, o que é mais importante, aprendendo a prever quando é que é provável a ocorrência de mau tempo, evitando desta forma seus piores elementos. Pedras não são motivadas a aprender – elas não sofrem dor ou gozam prazer como os seres humanos. Talvez nada seja mais importante, em nossa compreensão do comportamento dos organismos, que o processo de aprendizagem, como ele ocorre e o que o motiva (David A. Dushkin. op.cit. p. 63) O senso comum e a ciência são expressões da mesma necessidade básica, a necessidade de compreender o mundo, a fim de viver melhor e sobreviver. E para aqueles que teriam a tendência de achar que o senso comum é inferior à ciência, eu só gostaria de lembrar que, por dezenas de milhares de anos, os homens sobreviveram sem coisa alguma que se assemelhasse à nossa ciência. A ciência, curiosamente, depois de cerca de 4 séculos, desde que ela surgiu com seus fundadores, está colocando sérias ameaças à nossa sobrevivência.
 Aula 4 – UNIDADE 2 – A PESQUISA CIENTÍFICA
Tipos de pesquisa: Quanto à abordagem
PESQUISA QUALITATIVA
A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim, os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo davida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa (GOLDENBERG, 1997, p. 34).
Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens. 
Na pesquisa qualitativa, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas pesquisas. O desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. O objetivo da amostra é de produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou grande, o que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações (DESLAURIERS, 1991, p. 58). 
A pesquisa qualitativa é criticada por seuempirismo, pela subjetividade e pelo envolvimento emocional do pesquisador (MINAYO, 2001, p. 14). 
As características da pesquisa qualitativa são: objetivação do fenômeno; hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, precisão das relações entre o global e o local em determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo social e o mundo natural; respeito ao caráter interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados os mais fidedignos possíveis; oposição ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências.
PESQUISA QUANTITATIVA
Esclarece Fonseca (2002, p. 20): Diferentemente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa quantitativa podem ser quantificados. Como as amostras geralmente são grandes e consideradas representativas da população, os resultados são tomados como se constituíssem um retrato real de toda a população alvo da pesquisa. A pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, etc. A utilização conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permite recolher mais informações do que se poderia conseguir isoladamente.
A pesquisa quantitativa, que tem suas raízes no pensamento positivista lógico, tende a enfatizar o raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os atributos mensuráveis da experiência humana. Por outro lado, a pesquisa qualitativa tende a salientar os aspectos dinâmicos, holísticos e individuais da experiência humana, para apreender a totalidade no contexto daqueles que estão vivenciando o fenômeno (POLIT, BECKER E HUNGLER, 2004, p. 201).
Tipos de pesquisa: Quanto à natureza
PESQUISA BÁSICA: Objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da Ciência, sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais.
PESQUISA APLICADA: Objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais.
Tipos de pesquisa: Quanto aos objetivos
Para Gil (2007), com base nos objetivos, é possível classificar as pesquisas em três grupos: 
PESQUISA EXPLORATÓRIA: Tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. A grande maioria dessas pesquisas envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que estimulem a compreensão (GIL, 2007). Essas pesquisas podem ser classificadas como: pesquisa bibliográfica e estudo de caso (GIL, 2007).
PESQUISA DESCRITIVA: Exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987). São exemplos de pesquisa descritiva: estudos de caso, análise documental, pesquisa ex-post-facto. Para Triviños (1987, p. 112), os estudos descritivos podem ser criticados porque pode existir uma descrição exata dos fenômenos e dos fatos. Estes fogem da possibilidade de verificação através da observação. Ainda para o autor, às vezes não existe por parte do investigador um exame crítico das informações, e os resultados podem ser equivocados; e as técnicas de coleta de dados, como questionários, escalas e entrevistas, podem ser subjetivas, apenas quantificáveis, gerando imprecisão.
PESQUISA EXPLICATIVA: Preocupa-se em identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos (GIL, 2007). Ou seja, este tipo de pesquisa explica o porquê das coisas através dos resultados oferecidos. Segundo Gil (2007, p. 43), uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra descritiva, posto que a identificação de fatores que determinam um fenômeno exige que este esteja suficientemente descrito e detalhado.
Quanto aos procedimentos: De acordo com Fonseca (2002), a pesquisa possibilita uma aproximação e um entendimento da realidade a investigar, como um processo permanentemente inacabado. Ela se processa através de aproximações sucessivas da realidade, fornecendo subsídios para uma intervenção no real. Segundo este autor, a pesquisa científica é o resultado de um inquérito ou exame minucioso, realizado com o objetivo de resolver um problema, recorrendo a procedimentos científicos. Investiga-se uma pessoa ou grupo capacitado (sujeito da investigação), abordando um aspecto da realidade (objeto da investigação), no sentido de comprovar experimentalmente hipóteses (investigação experimental), ou para descrevê-la (investigação descritiva), ou para explorá-la (investigação exploratória). Para se desenvolver uma pesquisa, é indispensável selecionar o método de pesquisa a utilizar. De acordo com as características da pesquisa, poderão ser escolhidas diferentes modalidades de pesquisa, sendo possível aliar o qualitativo ao quantitativo.
PESQUISA EXPERIMENTAL: Segue um planejamento rigoroso. As etapas de pesquisa iniciam pela formulação exata do problema e das hipóteses, que delimitam as variáveis precisas e controladas que atuam no fenômeno estudado (TRIVIÑOS, 1987). Para Gil (2007), a pesquisa experimental consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.
Já segundo Fonseca (2002, p. 38): A pesquisa experimental seleciona grupos de assuntos coincidentes, submete-os a tratamentos diferentes, verificando as variáveis estranhas e checando se as diferenças observadas nas respostas são estatisticamente significantes. [...] Os efeitos observados são relacionados com as variações nos estímulos, pois o propósito da pesquisa experimental é apreender as relações de causa e efeito ao eliminar explicações conflitantes das descobertas realizadas.
A pesquisa experimental pode ser desenvolvida em laboratório (onde o meio ambiente criado é artificial) ou no campo (onde são criadas as condições de manipulação dos sujeitos nas próprias organizações, comunidades ou grupos). Para Fonseca (2002), as duas modalidades de pesquisa mais comuns são:
pesquisas experimentais apenas com dois grupos homogêneos, denominados experimental e de controle. Aplicado um estímulo ao grupo experimental, no final comparam-se os dois grupos para avaliar as alterações.
pesquisas experimentais antes-depois com um único grupo, definido previamente em função de suas características e geralmente reduzido.
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA: É feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32).
PESQUISA DOCUMENTAL: Trilha os mesmos caminhos da pesquisa bibliográfica, não sendo fácil por vezes distingui-las. A pesquisa bibliográfica utiliza fontes constituídas por material já elaborado, constituído basicamente por livros e artigos científicos localizados em bibliotecas. A pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc. (FONSECA, 2002, p. 32).
PESQUISA DE CAMPO: Caracteriza-sepelas investigações em que, além da pesquisa bibliográfica e/ou documental, se realiza coleta de dados junto a pessoas, com o recurso de diferentes tipos de pesquisa (pesquisa ex-post-facto, pesquisa-ação, pesquisa participante, etc.) (FONSECA, 2002).
PESQUISA EX-POST-FACTO: Tem por objetivo investigar possíveis relações de causa e efeito entre um determinado fato identificado pelo pesquisador e um fenômeno que ocorre posteriormente. A principal característica deste tipo de pesquisa é o fato de os dados serem coletados após a ocorrência dos eventos. A pesquisa ex-post-facto é utilizada quando há impossibilidade de aplicação da pesquisa experimental, pelo fato de nem sempre ser possível manipular as variáveis necessárias para o estudo da causa e do seu efeito (FONSECA, 2002, p. 32). Como exemplo desse tipo de pesquisa, pode-se citar um estudo sobre a evasão escolar, quando se tenta analisar suas causas. Num estudo experimental, seria o inverso, tomando-se primeiramente um grupo de alunos a quem seria dado um determinado tratamento, e observando-se depois o índice de evasão.
PESQUISA DE LEVANTAMENTO: Fonseca (2002) aponta que este tipo de pesquisa é utilizado em estudos exploratórios e descritivos, o levantamento pode ser de dois tipos: levantamento de uma amostra ou levantamento de uma população (também designado censo). Esclarece o autor (2002, p. 33): O Censo populacional constituía única fonte de informação sobre a situação de vida da população nos municípios e localidades. Os censos produzem informações imprescindíveis para a definição de políticas públicas estaduais e municipais e para a tomada de decisões de investimentos, sejam eles provenientes da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo. Foram recenseados todos os moradores em domicílios particulares (permanentes e improvisados) e coletivos, na data de referência. Através de pesquisas mensais do comércio, da indústria e da agricultura, é possível recolher informações sobre o seu desempenho. A coleta de dados realiza-se em ambos os casos através de questionários ou entrevistas.
Entre as vantagens dos levantamentos, temos o conhecimento direto da realidade, economia e rapidez, e obtenção de dados agrupados em tabelas que possibilitam uma riqueza na análise estatística. Os estudos descritivos são os que mais se adéquam aos levantamentos. Exemplos são os estudos de opiniões e atitudes (GIL, 2007, p. 52).
PESQUISA COM SURVEY: É a pesquisa que busca informação diretamente com um grupo de interesse a respeito dos dados que se deseja obter. Trata-se de um procedimento útil, especialmente em pesquisas exploratórias e descritivas (SANTOS, 1999). A pesquisa com survey pode ser referida como sendo a obtenção de dados ou informações sobre as características ou as opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, utilizando um questionário como instrumento de pesquisa (FONSECA, 2002, p. 33). Nesse tipo de pesquisa, o respondente não é identificável, portanto o sigilo é garantido. São exemplos desse tipo de estudo as pesquisas de opinião sobre determinado atributo, a realização de um mapeamento geológico ou botânico.
ESTUDO DE CASO: Esta modalidade de pesquisa é amplamente usada nas ciências biomédicas e sociais (GIL, 2007, p. 54). Um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa, ou uma unidade social. Visa conhecer em profundidade o como e o porquê de uma determinada situação que se supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico. O pesquisador não pretende intervir sobre o objeto a ser estudado, mas revelá-lo tal como ele o percebe. O estudo de caso pode decorrer de acordo com uma perspectiva interpretativa, que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma perspectiva pragmática, que visa simplesmente apresentar uma perspectiva global, tanto quanto possível completa e coerente, do objeto de estudo do ponto de vista do investigador (FONSECA, 2002, p. 33).
PESQUISA PARTICIPANTE: Este tipo de pesquisa caracteriza-se pelo envolvimento e identificação do pesquisador com as pessoas investigadas. A pesquisa participante foi criada por Bronislaw Malinowski: para conhecer os nativos das ilhas Trobriand, ele foi se tornar um deles. Rompendo com a sociedade ocidental, montava sua tenda nas aldeias que desejava estudar, aprendia suas línguas e observava sua vida quotidiana (FONSECA, 2002). Exemplos de aplicação da pesquisa participante são o estabelecimento de programas públicos ou plataformas políticas e a determinação de ações básicas de grupos de trabalho.
PESQUISA-AÇÃO: Define Thiollent (1988): A pesquisa ação é um tipo de investigação social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
Fonseca (2002) precisa: A pesquisa-ação pressupõe uma participação planejada do pesquisador na situação problemática a ser investigada. O processo de pesquisa recorre a uma metodologia sistemática, no sentido de transformar as realidades observadas, a partir da sua compreensão, conhecimento e compromisso para a ação dos elementos envolvidos na pesquisa (p. 34). O objeto da pesquisa-ação é uma situação social situada em conjunto e não um conjunto de variáveis isoladas que se poderiam analisar independentemente do resto. Os dados recolhidos no decurso do trabalho não têm valor significativo em si, interessando enquanto elementos de um processo de mudança social. O investigador abandona o papel de observador em proveito de uma atitude participativa e de uma relação sujeito a sujeito com os outros parceiros. O pesquisador quando participa na ação traz consigo uma série de conhecimentos que serão o substrato para a realização da sua análise reflexiva sobre a realidade e os elementos que a integram. A reflexão sobre a prática implica em modificações no conhecimento do pesquisador (p. 35).
Para Gil (2007, p. 55), a pesquisa-ação tem sido alvo de controvérsia devido ao envolvimento ativo do pesquisador e à ação por parte das pessoas ou grupos envolvidos no problema. Apesar das críticas, essa modalidade de pesquisa tem sido usada por pesquisadores identificados pelas ideologias reformistas e participativas.
PESQUISA ETNOGRÁFICA: A pesquisa etnográfica pode ser entendida como o estudo de um grupo ou povo. As características específicas da pesquisa etnográfica são: 
o uso da observação participante, da entrevista intensiva e da análise de documentos; 
a interação entre pesquisador e objeto pesquisado;
a flexibilidade para modificar os rumos da pesquisa;
a ênfase no processo, e não nos resultados finais; 
a visão dos sujeitos pesquisados sobre suas experiências; 
a não intervenção do pesquisador sobre o ambiente pesquisado;
a variação do período, que pode ser de semanas, de meses e até de anos;
a coleta dos dados descritivos, transcritos literalmente para a utilização no relatório.
PESQUISA ETNOMETODOLÓGICA: O termo etnometodologia designa uma corrente da Sociologia americana, que surgiu na Califórnia no final da década de 1960, tendo como principal marco fundador a publicação do livro de Harold Garfinkel Studies in Ethnomethodology (Estudos sobre Etnometodologia), em 1967 (COULON, 1995, p. 7). O termo etnometodologia se refere nas suas raízes gregas às estratégias que as pessoas utilizam cotidianamente para viver. Tendo essa referência por norte, a pesquisa etnometodológica visa compreender como as pessoas constroem ou reconstroem a sua realidade social. Para a pesquisa etnometodológica, fenômenos sociais não determinam de fora a conduta humana. A conduta humana é o resultado da interação social que se produz continuamente através da sua prática quotidiana. Os seres humanos são capazes de ativamente definire articular procedimentos, de acordo com as circunstâncias e as situações sociais em que estão implicados. A pesquisa etnometodológica analisa deste modo os procedimentos a que os indivíduos recorrem para concretizar as suas ações diárias (FONSECA, 2002, p. 36).
Para estudar as ações dos sujeitos na vida quotidiana, a pesquisa etnometodológica baseia-se em uma multiplicidade de instrumentos, entre os quais podemos citar: a observação direta, a observação participante, entrevistas, estudos de relatórios e documentos administrativos, gravações em vídeo e áudio.
Assim, a análise etnometodológica esclarece de que maneira as coisas vêm a ser como são nos grupos sociais, de que maneira cada grupo e cada membro apreende e dá sentido à realidade e por quais processos intersubjetivos a mediação da linguagem entre os grupos e seus lugares constrói a realidade social que afirmam (COULON, 1995, p. 90).
 Aula 5 – PESQUISA QUALITATIVA: REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO DE CAMPO
REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO DE CAMPO 
De modo geral, durante a realização de uma pesquisa algumas questões são colocadas de forma bem imediata, enquanto outras vão aparecendo no decorrer do trabalho de campo. A necessidade de dar conta dessas questões para poder encerrar as etapas da pesquisa frequentemente nos leva a um trabalho de reflexão em torno dos problemas enfrentados, erros cometidos, escolhas feitas e dificuldades descobertas. Este trabalho surgiu da necessidade de partilhar algumas informações e reflexões acerca do recurso à pesquisa qualitativa que, apesar dos riscos e dificuldades que impõe, revela-se sempre um empreendimento profundamente instigante, agradável e desafiador.
A SELEÇÃO DE SUJEITOS EM ABORDAGENS QUALITATIVAS 
De um modo geral, pesquisas de cunho qualitativo exigem a realização de entrevistas, quase sempre longas e semi-estruturadas. Nesses casos, a definição de critérios segundo os quais serão selecionados os sujeitos que vão compor o universo de investigação é algo primordial, pois interfere diretamente na qualidade das informações a partir das quais será possível construir a análise e chegar à compreensão mais ampla do problema delineado. A descrição e delimitação da população base, ou seja, dos sujeitos a serem entrevistados, assim como o seu grau de representatividade no grupo social em estudo, constituem um problema a ser imediatamente enfrentado, já que se trata do solo sobre o qual grande parte do trabalho de campo será assentado.
A primeira parte do relatório dessa pesquisa fala, justamente da enorme dificuldade encontrada pela equipe de delimitar seu universo de estudo e buscar uma definição, mesmo que provisória, para um meio profissional resistente a qualquer categorização genérica. Os pesquisadores assinalam que desde o começo puderam perceber que, quando se trata de um setor ou grupo social cujas delimitações são muito fluidas, a definição da base da enquete constitui-se um problema. Naquele caso, a solução encontrada foi a de trabalhar com três abordagens diferentes – uma genealógica: origem social do termo “realizador”; uma empírica: verificar, mediante a pesquisa qualitativa, como os realizadores se percebem e a partir de que categorias organizam o discurso sobre sua atividade profissional; e outra, bibliográfica: análise de textos profissionais, da imprensa especializada e de documentos sindicais.
Vencida essa etapa, a equipe considerou possível traçar um esboço da categoria profissional em questão, partindo para a elaboração de um cadastro com dados biográficos dos sujeitos reconhecidos pelo meio como profissionais da área. Esses dados foram obtidos por meio de cadastros de instituições ou entidades de classe e da realização de entrevistas semiestruturadas com representantes dessas instituições. Com isso, organizou-se um banco de dados com referências de todos os realizadores de audiovisual em atividade na França naquele momento. Do banco de dados foram selecionados os sujeitos que viriam a ser entrevistados por meio de surveys. A pesquisa sobre cineastas brasileiros também exigiu um mapeamento da população em estudo e a adoção de critérios bem definidos para a seleção dos entrevistados. Nesse caso, optou-se pelo sistema de rede2 , no qual se busca um “ego” focal que disponha de informações a respeito do segmento social em estudo e que possa “mapear” o campo de investigação, “decodificar” suas regras, indicar pessoas com as quais se relaciona naquele meio e sugerir formas adequadas de abordagem. De um modo geral, as pessoas indicadas pelo “ego” sugerem que se procurem outras ou fazem referência a sujeitos importantes no setor e assim se vai, sucessivamente, amealhando novos “informantes”. Essa é uma alternativa muito utilizada em pesquisas qualitativas e se tem mostrado produtiva. Alguém do meio, a partir do próprio ponto de vista, tem, relativamente, melhores condições de fornecer informações sobre esse meio do que alguém que observa, inicialmente de fora.
DELIMITAÇÃO DO UNIVERSO DE SUJEITOS A SEREM ENTREVISTADOS 
Numa metodologia de base qualitativa o número de sujeitos que virão a compor o quadro das entrevistas dificilmente pode ser determinado a priori – tudo depende da qualidade das informações obtidas em cada depoimento, assim como da profundidade e do grau de recorrência e divergência destas informações. Enquanto estiverem aparecendo “dados” originais ou pistas que possam indicar novas perspectivas à investigação em curso as entrevistas precisam continuar sendo feitas. À medida que se colhem os depoimentos, vão sendo levantadas e organizadas as informações relativas ao objeto da investigação e, dependendo do volume e da qualidade delas, o material de análise torna-se cada vez mais consistente e denso. Quando já é possível identificar padrões simbólicos, práticas, sistemas classificatórios, categorias de análise da realidade e visões de mundo do universo em questão, e as recorrências atingem o que se convencionou chamar de “ponto de saturação”, dá-se por finalizado o trabalho de campo, sabendo que se pode (e deve) voltar para esclarecimentos. No que diz respeito ao número de pessoas entrevistadas, o procedimento que se tem mostrado mais adequado é o de ir realizando entrevistas (a prática tem indicado um mínimo de 20, mas isso varia em razão do objeto e do universo de investigação), até que o material obtido permita uma análise mais ou menos densa das relações estabelecidas naquele meio e a compreensão de “significados, sistemas simbólicos e de classificação, códigos, práticas, valores, atitudes, ideias e sentimentos” (Dauster, 1999, p. 2). Eventualmente é necessário um retorno ao campo para esclarecer dúvidas, recolher documentos ou coletar novas informações sobre acontecimentos e circunstâncias relevantes que foram pouco explorados nas entrevistas.
SITUAÇÃO DE CONTATO
As situações nas quais se verificam os contatos entre pesquisador e sujeitos da pesquisa configuram-se como parte integrante do material de análise. Registrar o modo como são estabelecidos esses contatos, a forma como o entrevistador é recebido pelo entrevistado, o grau de disponibilidade para a concessão do depoimento4 , o local em que é concedido (casa, escritório, espaço público etc.), a postura adotada durante a coleta do depoimento, gestos, sinais corporais e/ou mudanças de tom de voz etc., tudo fornece elementos significativos para a leitura/interpretação posterior daquele depoimento, bem como para a compreensão do universo investigado. Entrevistas realizadas em locais de trabalho, por exemplo, geralmente trazem problemas difíceis de solucionar: situações externas frequentemente as interrompem (um telefonema “importante”, uma decisão “urgente”, a secretária, recados etc.), fazendo com que o entrevistado perca o “fio da meada” e se veja obrigado a retomar a narrativa de um outro ponto ou, até mesmo, a desistir de vez daquele assunto. Pessoas conversando e transitando por salas contíguas, telefones tocando, a agenda aberta sobre a mesa a lembrar outros compromissos, enfim, apresença marcante dos sinais que caracterizam ambientes designados como “de trabalho” costumam aguçar a ansiedade com relação ao tempo de duração do depoimento, interrompendo o livre fluxo de ideias e precipitando a interrupção do depoimento.
A REALIZAÇÃO DE ENTREVISTAS 
Aprender a realizar entrevistas é algo que depende fundamentalmente da experiência no campo. Por mais que se saiba, hipoteticamente, aquilo que se está buscando, adquirir uma postura adequada à realização de entrevistas semiestruturadas, encontrar a melhor maneira de formular as perguntas, ser capaz de avaliar o grau de indução da resposta contido numa dada questão, ter algum controle das expressões corporais (evitando o máximo possível gestos de aprovação, rejeição, desconfiança, dúvida, entre outros), são competências que só se constroem na reflexão suscitada pelas leituras e pelo exercício de trabalhos dessa natureza.
Em situações de coleta de depoimentos orais, posturas mais formais do tipo “respostas diretas a perguntas idem” não costumam produzir bons resultados e, quando acontecem, poucas vezes resistem às primeiras interrogações referentes a experiências de caráter pessoal. Falar de gostos e interesses pessoais, da relação com os pais, do ambiente familiar, da própria infância e juventude, dos amigos, de experiências escolares, de um modo geral, deixa as pessoas mais livres para expressarem idéias, valores, crenças, significações, expectativas de futuro, visões de mundo e assim por diante. 
Para Queiroz (1988), a entrevista semi-estruturada é uma técnica de coleta de dados que supõe uma conversação continuada entre informante e pesquisador e que deve ser dirigida por este de acordo com seus objetivos. Desse modo, da vida do informante só interessa aquilo que vem se inserir diretamente no domínio da pesquisa. A autora considera que, por essa razão, existe uma distinção nítida entre narrador e pesquisador, pois ambos se envolvem na situação de entrevista movidos por interesses diferentes.
Camargo (1984) concebe esse formato de entrevista menos como técnica de pesquisa do que como opção metodológica, pois implica uma teoria, e enfatiza as contribuições oferecidas nesse campo pela Antropologia e pela História. A seu ver, essas disciplinas, mais consensuais e homogêneas que as demais, oferecem uma experiência comum ao procedimento, bem como um legado teórico aceito, que devem ser tomados como referência na perspectiva de acumulação de saber científico nesse campo.
Durhan (1986) alerta para as muitas armadilhas embutidas no processo de identificação subjetiva que se estabelece nesse tipo de coleta da dados, especialmente quando entrevistador e entrevistado compartilham um mesmo universo cultural. Nesses casos, adverte, corre-se sempre o risco de começar a explicar a realidade pelas categorias “nativas”, ou seja, de passar a olhar a realidade exclusivamente pela ótica do interlocutor
O que eles propõem é, basicamente, que os relatos gravados e transcritos, assim como os procedimentos utilizados para colhê-los, sejam acessíveis a diferentes pesquisadores que não participam da pesquisa em questão, para que cada um possa fazer suas própria interpretação do conteúdo dos relatos colhidos e, dessa forma, auxiliar na validação dos resultados apresentados (Armstrong et al., 1997). Nos limites impostos a trabalhos dessa natureza, procurar seguir o modelo ora proposto, entre outros, levando procedimentos, análises, hipóteses etc. ao conhecimento e crítica de outros pesquisadores, em momentos distintos da investigação, pode contribuir para a garantia de confiabilidade e legitimidade de resultados/ interpretações apresentados ao final da pesquisa. Anexar transcrições completas de parte das entrevistas ao corpo do relatório de pesquisa, para que o leitor possa ter acesso ao chamado “material bruto” e tirar suas conclusões, também pode funcionar como estratégia a ser empreendida nessa mesma direção.
PROBLEMAS MAIS FREQÜENTES COM O ROTEIRO DA ENTREVISTA 
Algumas perguntas levam a divagações intermináveis e precisam ser repensadas, sob pena de acrescentarem ao material “bruto” uma enorme quantidade de informações “descartáveis”, que dificultarão, em muito, o processo analítico. Há, ainda, a dificuldade de se obterem respostas condizentes com os objetivos traçados para uma dada pergunta. Esse problema ocorreu no curso da investigação a que este trabalho faz referência, no tocante à questão relacionada aos filmes que teriam sido importantes na vida dos entrevistados. Formulada de maneira direta: “que filmes foram importantes na sua vida?”, a pergunta suscitava respostas carregadas de critérios formais de julgamento de obras cinematográficas: eram importantes os filmes designados como tal pelos cânones da crítica de cinema e/ou da cinefilia. Desse modo, a lista de filmes “marcantes” era praticamente a mesma em todas as entrevistas. Não que a resposta fosse artificial; era profundamente verdadeiro que certos filmes tivessem sido, de fato, “definitivos” para a maioria daquelas pessoas. No entanto, eram outros os objetivos que levaram à formulação daquela pergunta – esperava-se não só identificar o sistema de referência-padrão daquele grupo social, mas, principalmente, obter um material pessoal, mais subjetivo, que permitisse levantar hipóteses acerca de como são estabelecidas as relações “amorosas” (afetivas) entre os espectadores e seus filmes preferidos, fora dos parâmetros da racionalidade crítica de quem domina o assunto. Tencionava-se buscar um inventário de emoções mobilizadas por imagens fílmicas, descrevendo marcas que esse tipo de imagem deixa na memória. A discussão com outros pesquisadores possibilitou a identificação da natureza do problema: era preciso tentar trazer à tona reminiscências de filmes sobre os quais não se tinha grandes expectativas antes de vê-los, filmes que não tinham sido objeto de crítica, de premiações ou coisas do tipo. Desejava-se resgatar lembranças de cenas ou seqüências vistas (vividas) na sala escura, em um momento da vida em que não havia, ainda, o crivo do conhecimento “intelectual” do cinema, estética e/ ou politicamente condicionado. E isso não seria conseguido com uma indagação direta. Nesse ponto, a formulação de uma outra pergunta, além da que já vinha sendo feita, possibilitou alcançar a meta traçada. Muitos problemas podem ser identificados no roteiro das entrevistas quando elas saem do papel (ou do computador) e ganham significado na interação entrevistador/entrevistado. Por essa razão, este deve ser um instrumento flexível para orientar a condução da entrevista e precisa ser periodicamente revisto para que se possa avaliar se ainda atende os objetivos definidos para aquela investigação.
ANÁLISE DE “DADOS” QUALITATIVOS
Trata-se de um pacote destinado a auxiliar o usuário na análise de dados não numéricos e não estruturados, pela disponibilização de recursos para sua codificação por meio de um sistema de indexação de códigos e/ou pesquisas de texto (encontrar palavras, frases e expressões). Vencida a etapa de organização/classificação do material coletado, cabe proceder a um mergulho analítico profundo em textos densos e complexos, de modo a produzir interpretações e explicações que procurem dar conta, em alguma medida, do problema e das questões que motivaram a investigação. As muitas leituras do material de que se dispõe, cruzando informações aparentemente desconexas, interpretando respostas, notas e textos integrais que são codificados em “caixas simbólicas”, categorias teóricas ou “nativas” ajudam a classificar, com um certo grau de objetividade, o que se depreende da leitura/interpretação daqueles diferentes textos. Assim, fragmentos de discursos, imagens, trechos de entrevistas, expressões recorrentes e significativas, registros de práticas e de indicadores de sistemas classificatórios constituem traços, elementos em torno dos quais construir-se-ão hipóteses e reflexões, serão levantadas dúvidas ou reafirmadas convicções. Aqui, como em todas as etapas de pesquisa, é preciso ter olhare sensibilidade armados pela teoria, operando com conceitos e constructos do referencial teórico como se fossem um fio de Ariadne, que orienta a entrada no labirinto e a saída dele, constituído pelos documentos gerados no trabalho de campo. Daqui para frente trata-se de produzir “resultados” e explicações cujo grau de abrangência e generalização depende do tipo de ponte que se possa construir entre o microuniverso investigado e universos sociais mais amplos.

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