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Teoria Crítica da Sociedade

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Teoria Crítica da Sociedade
A expressão Teoria Crítica é muito ampla em sua acepção: nomeia todas as teorias que se pautam pela negação da ordem estabelecida, pelo anti-positivismo, pela busca de uma sociedade mais justa e humana. Quando falamos em Teoria Crítica nos referimos ao pensamento de um grupo de intelectuais marxistas não ortodoxos, alemães, alguns deles filhos de judeus, que, a partir dos anos 1920, desenvolveram pesquisas e intervenções teóricas sobre problemas filosóficos, econômicos, sociais, culturais, estéticos gerados pelo capitalismo de sua época e influenciaram, de certo modo, o pensamento ocidental particularmente dos anos 40 aos anos 70 do século passado. Wiggershaus, intitula, assim, os três primeiros tópicos do primeiro capítulo de seu livro sobre a Escola de Frankfurt: “O filho de milionário Felix Weil funda um Instituto para o marxismo na esperança de poder entregá-lo um dia a um Estado soviético alemão triunfante”; “O professor marxista Carl Grünberg funda um instituto de pesquisa sobre a história do socialismo e do movimento operário”; “o filósofo Max Horkheimer assume a direção do Instituto. O novo programa: superar a crise do marxismo pela interpretação da filosofia da sociedade e das ciências sociais empíricas” (2002, p. 41).
Esses pensadores constituíram a chamada “Escola de Frankfurt”, pelo fato de se estabelecerem enquanto um grupo de pesquisadores nesta cidade alemã (a mais judia da Alemanha), criando aí o Instituto de Pesquisa Social e um órgão de divulgação de suas produções, a Revista de Pesquisa Social. Destacam-se entre seus membros Max Horkheimer (1895-1973), coordenador da Escola de 1930 até 1967, Herbert Marcuse (1898-1979), mais conhecido no Brasil nos anos 1970, por seus livros aqui publicados, Theodor Adorno (1903-1969), que ingressou no Instituto no final dos anos 1930 e dirigiu-o de 1967 a 1969, Walter Benjamin (1892-1940), bolsista do Instituto nos anos 1933-1940 e Jürgen Habermas (1929), filósofo e sociólogo, ainda vivo, mas aposentado. Desde 2001, o diretor do Instituto de Pesquisa social é Axel Honneth (1949), filósofo e sociólogo.
O termo “Teoria Crítica” se consagrou a partir do artigo de Max Horkheimer, em 1937 “Teoria tradicional e teoria crítica”, escrito no exílio, nos Estados Unidos, em que o autor prefere utilizar essa expressão para fugir da terminologia “materialismo histórico” utilizada pelo marxismo ortodoxo, hegemônico na época, ao qual criticava; por razões políticas (estava no exílio, em ambiente anti-marxista); e, sobretudo, por querer mostrar que a teoria marxiana era atual, mas devia se importar em suas reflexões com outros aspectos críticos presentes na abordagem da realidade: o filosófico, o cultural, o político, o psicológico e não se deixar conduzir predominantemente pela análise economicista. Diz ele, no ensaio “Filosofia e Teoria Crítica”, também de 1937: 
"Em meu ensaio "Teoria Tradicional e Teoria Crítica” apontei a diferença entre dois métodos gnosiológicos. Um foi fundamentado no Discours de la Méthode [Discurso sobre o Método], cujo jubileu de publicação se comemorou neste ano, e o outro, na crítica da economia política. A teoria em sentido tradicional, cartesiano, como a que se encontra em vigor em todas as ciências especializadas, organiza a experiência à base da formulação de questões que surgem em conexão com a reprodução da vida dentro da sociedade atual. Os sistemas das disciplinas contém os conhecimentos de tal forma que, sob circunstâncias dadas, são aplicáveis ao maior número possível de ocasiões. A gênese social dos problemas, as situações reais nas quais a ciência é empregada e os fins perseguidos em sua aplicação, são por ela mesma consideradas exteriores. – A teoria crítica da sociedade, ao contrário, tem como objeto os homens como produtores de todas as suas formas históricas de vida. As situações efetivas, nas quais a ciência se baseia, não são para ela uma coisa dada, cujo único problema estaria na mera constatação e previsão segundo as leis da probabilidade. O que é dado não depende apenas da natureza, mas também do poder do homem sobre ele. Os objetos e a espécie de percepção, a formulação de questões e o sentido da resposta dão provas da atividade humana e do grau de seu poder." (Horkheimer, Filosofia e Teoria Crítica, 1968b, p. 163) 
Os autores frankfurtianos da primeira geração — dos anos 1930 a 1970 — escreveram fundamentalmente sobre temas filosóficos (crítica à razão iluminista; dialética do esclarecimento; dialética negativa); culturais (cultura e civilização; Indústria cultural; semiformação); sociais (indivíduo e sociedade; sociedade unidimensional; sociedade administrada); estéticos (ensaio como forma; constelação; experiência estética; mimese e racionalidade na obra-de-arte); psicológicos (personalidade autoritária; relação autoridade e família, preconceito; anti-semitismo). E mesmo permanecendo nos horizontes do pensamento marxista, sentiram a necessidade de dialogarem, critica e intensamente, com Kant, Hegel, Weber, Nietzsche, Freud e outros; e mesmo sendo caracterizados como pertencentes a uma escola de pensamento, não são homogêneos e nem uniformes na construção de suas teorias; estabelecem entre si; alimentam diversidades; são controversos, polêmicos. Quinze anos após a morte de Adorno, Michel Foucault (1926-1984) assim se exprimia: “Se eu tivesse conhecido a tempo a Escola de Frankfurt, muito trabalho me teria sido poupado. Eu não teria dito tantas tolices, teria evitado muitos rodeios tentando não me enganar, quando a Escola de Frankfurt já tinha aberto o caminho” (In: “Que preço deve a razão pela verdade? Um diálogo”, Spuren 1/1983, p. 24).
Há inúmeros pesquisadores na Alemanha e em outros países que continuam a tradição dos primeiros pesquisadores da Escola de Frankfurt, Podemos citar, na Alemanha, os doutores Christoph Türcke (Univ. de Leipzig), Andreas Gruschka (Univ. de Frankfurt), Detlev Claussen (Univ. de Hannover), Alex Demirovič (Technische Universität Berlim); na Espanha, Jose Antonio Zamora (CSIC/Madrid), Mateu Cabot (Universitat de les Illes Balears); em Israel, Ilan Gur Ze’ev (Univ. De Haifa); nos Estados Unidos, Susan Buck-Morss (City University of New York – CUNY), Martin Jay (Univ. of California), Douglas Kellner (Univ. of California), entre outros.
No Brasil há inúmeros grupos de pesquisas que atualmente trabalham com a Teoria Crítica e a Educação, particularmente com as contribuições conceituais de Theodor W. Adorno, Walter Benjamin e Herbert Marcuse: 1. Teoria Crítica e Educação, da UNIMEP, sob a liderança de Bruno Puccie Belarmino César G. da Costa e com a participação de Nilce Maria A. De Arruda Campos e Luzia Batista de Oliveira Silva; 2. Teoria Crítica e Educação da UFSCar, sob a liderança de Antônio Álvaro Soares Zuin e Newton Ramos de Oliveira, com participação de Luiz Roberto Gomes; 3. Tecnologia, cultura e formação, da UNESP-Araraquara, sob a liderança de Renato Franco e de Luiz Antônio Calmon Nabuco Lastória, com participação de Paula Ramos de Oliveira; 4. Estética, Mídia e Educação contemporânea, da UEM-Maringá, sob a liderança de Luiz Hermenegildo Fabiano; 5. A Teoria da Educação de Adorno e sua apropriação para análise do currículo e de práticas escolares, da PUC-Minas, sob a liderança de Rita Amélia Teixeira Vilella; 6. Teoria Crítica da Sociedade, Racionalidades e Educação, da UFSC, sob a liderança de Alexandre Fernandez Vaz; 7. Teoria Crítica e Literatura, da UNICAMP, sob liderança de Fabio Durão; 8. Teoria Crítica e Educação, da UFLA – Universidade Federal de Lavras, sob a liderança de Luciana Azevedo Rodrigues; 9. Teoria Crítica como teoria da mudança social: cultura, filosofia, psicanálise, sob a liderança de Robespierre de Oliveira, UEM, PR.; 10. Teoria Crítica e Filosofia Social, UFU, sob a liderança de Rafael Cordeiro Silva; 11. Racionalidade e Educação, UFPel, sob a liderança de Avelino da Rosa Oliveira; 12. Estética e Filosofia da Arte, UFMG, sob a liderança de Rodrigo Duarte e com a participação de Eduardo Soares Neves Silvae de Verlaine Freitas; 13. Estudos sobre Ética e Estética, UFOP, sob a liderança de Douglas Garcia Alves Junior.
É importante ressaltar o periódico Constelaciones – Revista de Teoria Crítica, editada online pelos pesquisadores Mateu Cabot e Jose Antonio Zamora, via Universidade de Salamanca, Espanha. Ver site: http://www.constelaciones-rtc.net/. E também a Sociedad de Estudios de Teoría Crítica (SETC), que acaba de lançar seu site (http://www.setcrit.net/red-de-investigadores-de-teoria-critica/). Seu objetivo é servir como um ponto de encontro entre os investigadores da Teoria Crítica. 
Referências sobre a Teoria Crítica da sociedade
ASSOUN, Paul-Laurent. E Escola de Frankfurt. Tradução de Helena Cardoso. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1989. 
BUCK-MORSS, Susan. Origen de la dialéctica negativa: Theodor W. Adorno, Walter Benjamin y el Instituto de Frankfurt. Tradução de Nora Rabotnikof Maskivker. México: Siglo Veintiuno editores, 1981; 
FREITAG, B. A teoria crítica ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 2 ed. 1988. 
JAY, Martin. A imaginação dialética: história da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais (1923-1950). Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2008. 
MATOS, Olgária. A Escola de Frankfurt: luzes e sombras do Iluminismo. 2ª Ed. São Paulo: Moderna, 2005. 
SLATER, Phil. Origem e significado da Escola de Frankfurt. Tradução de Alberto Oliva. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978; 
WIGGERSHAUS, Rolf. A Escola de Frankfurt: história, desenvolvimento teórico, significação política. Trad. De Lilyane Deroche-Gurgel (do alemão) e Vera de Azambuja Harvey (do francês). Rio de Janeiro: DIFEL, 2002.

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