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Nota 1 Este documento é apenas um conjunto de apontamentos retirados do livro, Modern Macroeconomics de Snowdon e Vane. Os, eventuais, erros de tradução ou interpretação são da minha responsabilidade. Os meus pontos de vista, figuras e esquemas estão assinalados com um asterisco (*). Nota 2 * Todas as escolas de pensamento, económico ou não, representam: 1. Abstracções teóricas, uma vez que não existe um único autor a formular toda a teoria 2. Abstracções cronológicas, uma vez que o pensamento foi sendo construído ao longo do tempo Escola Clássica A economia clássica é a economia do equilíbrio espontâneo, sintetizado na célebre “mão invisível” de Adam Smith Aceita que haja desajustamentos temporários, porém, os mecanismos do mercado são os necessários e suficientes para restabelecer o equilíbrio A intervenção do Estado não é, portanto, nem necessária nem desejada Escola Clássica * Não nos esqueçamos que estas concepções nascem num contexto histórico de reacção contra as barreiras feudais. Como todas as ideias, a partir dessa génese inicial, ganham dinâmica própria, mantêm-se e evoluem, mesmo quando o quadro de referência original desaparece. Escola Clássica Pressupostos clássicos segundo Snowdon referindo-se a (Ackley, 1966): - todos os agentes económicos são racionais no sentido em que procuram optimizar os seus lucros (empresas) e utilidade (consumidores); - os agentes económicos não sofrem qualquer ilusão monetária; dão importância às quantidades e não aos preços; Escola Clássica - todos os mercados são perfeitamente competitivos de tal forma que os agentes decidem quanto comprar e vender na base de um conjunto perfeitamente flexível de preços ; - todos os agentes são perfeitamente conhecedores das condições de mercado e preços; Escola Clássica - as transacções só se iniciam quando os preços de equilíbrio tiverem sido estabelecidos o que é assegurado por um qualquer mecanismo (leiloeiro ou agente fictício de fixação de preços); não são, portanto, permitidas falsas transacções, ie, transacções a preços fora do preço de equilíbrio; - os agentes têm expectativas estáveis; não existe incerteza Escola Clássica Todos os mercados saldam, isto é, nenhum vendedor regressa a casa com mercadoria que desejaria ter vendido nem nenhum comprador com mercadoria que desejaria ter comprado, incluindo no mercado laboral. Esta condição não significa que o detentor de uma mercadoria venda, necessariamente, todas as quantidades de que dispõe; apenas que obtém maior utilidade conservando-as do que vendendo-as àquele preço. Escola Clássica Determinação do Produto e do Emprego Para simplificação vamos usar uma economia fechada Escola Clássica Y i = A i F i (K i ,L i ) (2.1) Para simplificar vamos usar apenas os factores Capital (K i ) e Trabalho (L i ). A função de produção de curto prazo expressa, a nível da empresa (micro), a quantidade máxima de produto (Y i ). resultante do emprego de dadas quantidades de factores (K i ,L i ), com uma dada organização e tecnologia, onde A i é índice de produtividade dos factores e F i é a função que relaciona as variações do produto com as variações dos insumos (factores). Escola Clássica Y i = A i F i (K i ,L i ) (2.1) Notas: O índice i refere-se à i-éssima empresa Doravante, para simplificação do texto, escreveremos apenas tecnologia para significar organização e tecnologia Escola Clássica Esta função é directamente proporcional aos factores e à tecnologia; quanto mais quantidade de factores ou melhor tecnologia se empregarem, mais Produto se obtém. Contudo, a curto prazo, assume-se que não há capacidades adicionais resultantes do investimento e, portanto, só as quantidades de trabalho podem variar: as quantidades de capital e a tecnologia são tidos como constantes. Escola Clássica A nível macro, o produto Y é igual ao PIB e depende da quantidade de factores e da sua utilização eficiente. De acordo com o modelo clássico os valores agregados são iguais à soma dos valores na micro-economia pelo que: PIB = Σ i A i F i (K i ,L i ) PIB = Y = AF(K,L) Escola Clássica Para valores dados de A e K há uma relação positiva entre Y e L, demonstrada pelos movimento ao longo das curvas (ex: do ponto a para o ponto b) - a função produção apresenta retornos decrescentes relativamente a L. - A relação ΔY/ΔL, produtividade marginal do Trabalho (MPL, em inglês), decresce com o aumento do emprego (L); Escola Clássica - Isto é visível no gráfico b) onde DL representa a MPL que é, simultaneamente, positiva e decrescente (D Lb < D La ) - A função de produção (Y) desloca-se para cima (Y*) se os valores de K (mais capital k*) ou A (melhoria tecnológica A*) aumentarem. Escola Clássica Na figura a) esta deslocação mostra um aumento de Y para os mesmos valores de L quando passamos de Y para Y*; na figura b) observamos um aumento da MPL quando passamos de DL para DL* Escola Clássica A função de produção, embora nos diga muito sobre a relação entre insumos e produto, nada nos diz sobre o nível de insumos empregues em cada momento. Consideremos, primeiro, o nível de emprego de uma empresa que maximiza o seu lucro A teoria clássica assume; a) que existe uma produtividade marginal decrescente dos factores; e b) que o preço de venda (P) é independente de cada produtor Escola Clássica Consequentemente, uma empresa continuará a produzir lucro até que o seu rendimento marginal (MR i – Marginal Return) iguale o seu Custo Marginal de produção (MC i – Marginal Cost). O índice representa, aqui, a i-éssima empresa (noutras circunstâncias pode representar um produto, uma ou um sector) Escola Clássica Se uma empresa contrata trabalho num mercado competitivo, pagará um salário W i a cada trabalhador extra. O custo adicional de cada unidade adicional de trabalho é W i *ΔL, onde ΔL é o acréscimo de trabalhadores. O rendimento extra, obtido com o emprego desse acréscimo do factor trabalho, é P*ΔQ, onde ΔQ é o acréscimo das unidades produzidas por ΔL. Escola Clássica Portanto, um empregador competitivo continuará a empregar enquanto P*ΔQ > W i *ΔL Portanto,a equação de maximização do lucro pode ser escrita como: P = W i *ΔL/ΔQ = MC i Sendo, o preço P, tomado pelo produtor, igual ao seu Rendimento por unidade adicional ou Rendimento Marginal (RM) P = MR i Escola Clássica e W i *ΔL/ΔQ, o seu Custo por unidade adicional ou Custo Marginal W i *ΔL/ΔQ = MC i (2.3) Portanto a equação é maximizada em P = W i *ΔL/ΔQ = Mc i quando o Rendimento Marginal for igual ao Custo Marginal MRi = MCi Escola Clássica De (2.3) vem: ΔQ i /ΔL i = W i /P (2.4) Como ΔQ i /ΔL i = MPL i MPL i = W i /P (2.4*) O que pode ler-se como: o salário real, numa economia competitiva, é igual à sua produtividade marginal * Note-se que, a frase sublinhada, para já, apenas é válida no contexto dos pressupostos da teoria clássica. Escola Clássica Como P = MC i Substituindo em (2.4*), vem: MPL i = W i /MC i (2.4**) ou MC i = W i /MPL i (2.5) P i = W i /MPL i = MCi (2.6) Escola Clássica Recordemos que um pressuposto fundamental do modelo clássico é que existaprodutividade marginal decrescente dos factores. * Este pressuposto, que supõe economias de escala decrescentes ou, pelo menos nulas, é, reconhecidamente, um dos pontos mais fracos do modelo matemático clássico. Escola Clássica Seguindo o raciocínio: Como MPL i é uma função decrescente do montante de trabalho empregue, devido à lei dos retornos decrescentes, a procura do factor trabalho é uma função menos que proporcional de MPL i (ou W i /P). DL i (Procura de trabalho) é função de W i /P D LI = D LI (Wi/P) (2.7) Escola Clássica Agregando, o que na economia clássica significa, somando as funções de todas as firmas individuais, teremos a procura agregada de trabalho, representada pela mesma equação D L = D L (W/P) (2.8) Onde W representa o salário médio e P o nível geral de preços Escola Clássica A oferta de trabalho é representada por SL = SL (W/P) (2.9) A quantidade de trabalho depende da escolha dos indivíduos entre trabalho e lazer. O salário corresponde a uma utilidade (consumo); o trabalho a uma desutilidade. Há 2 efeitos contrários: substituição (salário por lazer) e rendimento (quanto mais trabalho, mais ganho e mais posso consumir; mas, quanto mais ganho, mais posso alargar o meu lazer, sacrificando o meu consumo). Escola Clássica A teoria clássica afirma que o efeito substituição prevalece. Portanto, S L é proporcional ao salário real O equilíbrio de mercado pode ser visto no quadro (b) da figura 2.2 Escola Clássica O nível de equilíbrio representa, como em todos os mercados, o ponto em que o mercado salda: todos os possuidores de bens não transaccionados preferem levar para casa o seu bem (aumentando o seu lazer) do que vendê-lo abaixo daquele preço; todos os compradores preferem ir-se embora sem o bem (força de trabalho) a pagar mais por ele. O nível de equilíbrio representa, portanto o Pleno Emprego, onde todos os elementos da força de trabalho que desejem trabalhar ao salário de equilíbrio o podem fazer. Escola Clássica SL mostra a quantidade de pessoas capazes de aceitar uma proposta de trabalho e L T o número total de pessoas que pretendem trabalhar para cada nível de salário real. L T é positivamente inclinada mostrando que quanto maior for o salário mais pessoas pretendem trabalhar No modelo clássico o desemprego é representado pela distância EN que representa o desemprego friccional. Escola Clássica O desemprego voluntário corresponde ao conjunto de pessoas que não aceita trabalhar ao nível do salário de equilíbrio. O modelo clássico não admite desemprego involuntário, porque, como todos os outros, o mercado de trabalho salda, no sentido acima enunciado, ao preço de equilíbrio. Mais tarde veremos como as escolas clássicas mais modernas evoluíram introduzindo, por exemplo o conceito de “taxa natural de desemprego” (Friedman, 1968) Escola Clássica Os economistas clássicos explicam o desemprego involuntário, efectivamente existente, como o resultado da manutenção do dos salários acima do nível de equilíbrio por distorções da concorrência perfeita (salários impostos pelos sindicatos, salário mínimo imposto pelo Governo, etc) Nessa altura, nem toda a gente que deseje trabalhar ao nível salarial distorcido será capaz de o fazer Escola Clássica Alterações nas curvas da procura e oferta de trabalho determinam alterações no nível de equilíbrio e, consequentemente, do Produto, Emprego e salários. Uma melhoria na função de produção, devida a uma mudança tecnológica, aumentaria a produtividade ΔQ/ΔL ... * Escola Clássica … o que, para um mesmo nível de preços e salários, implicaria ΔQ i /ΔL i > W i /P permitindo às empresas competitivas contratar mais trabalho (L) até que ΔQ/ΔL se reduzisse para o nível W i /P. Isto moveria a Procura de Trabalho (D L ) para a direita o que aumentaria o Produto, o Emprego e os salários. * Escola Clássica * Neste esquema falta representar o efeito no mercado de bens: aumentando Y, para o mesmo nível de L, o preço P baixaria automaticamente, o que aumentaria W i /P, restabelecendo -se o equilíbrio, ΔQ i /ΔL i = W i /P * Escola Clássica Um aumento da população, ao mover a curva da oferta de trabalho para a direita, aumentaria o emprego (L) e o Produto (Y) mas baixaria o salário real (W/P). * Escola Clássica De acordo com o modelo clássico, uma vez estabelecido o nível de emprego no mercado de trabalho, fica determinado o nível do produto Isso implica só ser possível manter o equilíbrio se garantirmos que, a cada aumento da oferta (mais emprego, mais produto) corresponde, sempre, um aumento igual da procura no mercado de bens. * Escola Clássica Lei de Say “Um produto acabado oferece, desde esse mesmo instante, uma saída para outros produtos pelo montante total do seu valor (Say, 1821)” Ou seja, toda a produção cria um rendimento que permite uma procura igual ao valor do produto criado. Neste sentido “A oferta gera a sua própria procura” Escola Clássica Os economistas clássicos admitem a possibilidade de excedentes de produção localizados mas não de uma crise de superprodução na economia como um todo, onde os mercados devem compensar-se Escola Clássica Podemos enunciar duas versões da Lei de Say: 1. Uma versão fraca que implica que todo o rendimento criado por uma produção cria uma procura, de idêntico valor, de outros bens 2. Uma versão forte que implica que esta lei é compatível com o pleno emprego, porque as empresas competitivas continuarão a criar mais produto até ao equilíbrio no mercado de trabalho. Escola Clássica * Lei de Say (a tese de que os mercados sempre se saldam) depende unicamente dos pressupostos clássicos que vamos, agora, agrupar de forma diferente: 1. Flexibilidade Absoluta dos preços; 2. racionalidade absolutao da quantidade adicional de produtos. Escola Clássica *1. A Flexibilidade Absoluta pressupõe que o ajuste dos preços seja: a) tão grande quanto o necessário; b) instantâneo, sem necessidade de comunicação e negociação, impedindo as transacções falsas (leiloeiro, agente fixador de preços); c) que seja um dado para os agentes – todos conhecem, sem qualquer mediatização, as condições de mercado e preços. Escola Clássica * 2. A Racionalidade Absoluta pressupõe que, uma vez estabelecida uma escala de preferências (que é prévia à abertura dos mercados), as acções dos agentes no mercado (Procura e Oferta) vêm exclusivamente determinadas pelos preços – maximização do lucro e da utilidade num quadro de preferências inalterável e onde não existe incerteza) Escola Clássica * De notar que, até ao momento, ainda não introduzimos a Moeda, sendo os preços determinados pela relação entre uma mercadoria, escolhida aleatoriamente e todas as restantes. Todos sabemos que estes pressupostos são totalmente artificiais não se verificando em qualquer mercado. A lógica é a de determinar as Leis da Economia num ambiente, tanto quanto possível, semelhante ao de um laboratório, através da abstracção. Escola Clássica * Uma vez determinadas as Leis, podermos perceber e prever, mesmo que as condições reais não sejam as que determinámos, tal como é possível construir uma ponte, sujeita a inúmeras variação climatéricas, dos materiais, etc, com base nas Leis da Física, observadas num laboratórioonde a variabilidade das condições reais é inexistente. Escola Clássica * Vamos, portanto analisar as duas condições dadas acima à luz destes pressupostos: 1. Melhoria da função de Produção: A primeira consequência é o aumento das quantidade (ΔQ) que agora passaremos a designar como aumento do produto (ΔY). Aumentando o produto, o preço deve descer instantaneamente, o necessário para garantir o escoamento da quantidade adicional (Lei de Say). Escola Clássica L L Y Y PP W/P W/P ΔQ i /ΔL i = W i /P. ba cd * Em ΔY/ΔL = W/P, temos um aumento de ΔY e uma redu- ção de P. Os empresários continuarão a contratar até que ΔY.P = W.ΔL, fazendo que a função de Procura por Trabalho, DL se desloque, adaptando-se às novas condições preço do trabalho (W/P). Escola Clássica * 2. Alteração na quantidade de mão de obra (por exemplo por aumento da população). A primeira consequência será um ajuste do preço do Trabalho de forma a escoar as quantidades adicionais desta mercadoria (redução do salário, W) Reduzindo-se o preço do Trabalho, os empresários contratarão mais mão-de-obra até que ΔY.P= W.ΔL. Escola Clássica L L Y Y PP W/P ΔY/ΔL = W/P. ba cd * Aumentando o emprego ΔL, temos, imediatamente, um aumento de Y o que, como vimos, conduz a uma redução do nível de preços, P. A redução de P, reduz ΔY.P, determinando uma menor contratação de Trabalho (L). Estes ajustamentos são realizados instantaneamente até que as alterações em ΔY,ΔP,ΔW,ΔL sejam tão pequenas que tendam para zero. Escola Clássica L L Y Y PP W/P ΔY/ΔL = W/P ba cd * Note-se que, havendo um aumento de L, ΔY/ΔL deve reduzir-se pela Lei da Produ- tividade decrescente. Conse- quentemente, o salário real W/P, também se reduzirá com o aumento da popula- ção activa. Para repor o nível salário real, é, pois, necessária uma melhoria da Função de Produção, através da melho- ria, quantitativa ou qualitativa, de A (tecnologia) e/ou K (Capital), ie, do Investimento. Escola Clássica Vamos agora introduzir o conceito de moeda que, representa, inicialmente, uma mercadoria, relativamente à qual, todas as outras são, universalmente, comparadas. Escola Clássica Consumo, Investimento e Poupança Consumo (C) e Poupança (S) são funções da taxa de juro (r) porque, quanto maior é a remuneração da abstinência de consumo (S↑), maior a apetência para o reduzir (C↓). Logo, a variação de C é inversamente proporcional a r (dC/dr < 0), enquanto a de S é directamente proporcional (dS/dr > 0) O investimento é também inversamente proporcional à taxa de Juro (dI/dr < 0): um investimento só se justifica se a sua Taxa de Rentabilidade for superior à Taxa de Juro. Escola Clássica Como S(r) representa a Oferta e I(r) a Procura no mercado de crédito, r, é o preço da moeda e, consequentemente, a taxa de juro é determinada pelo ponto de equilíbrio entre S(r) e I(r). Portanto S(r) = I(r) (2.12). Isto, se a tarefa de determinar a taxa de juro for deixada ao mercado. Escola Clássica Definindo a Poupança como o que sobra depois do consumo temos Y - C(r) = S(r) (2.11) De 2.12 e 2.11 vem Y – C(r) = I(r) e ... Escola Clássica … E = C(r) + I(r) = Y (2.10), A Despesa Global (E - Expenditure), composta de Consumo (C) e o investimento (I), ambos funções da taxa de juro (r), iguala sempre o Produto Global Y E = C(r) + I(r) = Y (2.10) Escola Clássica Teoria Quantitativa da Moeda A teoria clássica defende que o nível de preços no mercado de bens e a quantidade de moeda estão intimamente relacionados. Podemos distinguir 2 versões equivalentes da teoria quantitativa: 1) Marshall e Pigou; 2) Fisher Escola Clássica 1) Marshall e Pigou – escola de Cambridge A procura de moeda é determinada pela necessidade de se realizarem transacções – função meio de troca: MD = kPY (2.13) A Procura de Moeda – MD, Money Demand - é igual à à parcela (k) do rendimento (P.Y) necessária para a realização das trocas Escola Clássica MD representa a Procura de Moeda (como meio de troca); M representa a Oferta determinada pelo Estado. A condição de equilíbrio pode, portanto, ser representada por: M = MD (2.14) Ou: M = kPY (2.15) Ou ainda: Escola Clássica P = M/kY (2.15*) O coeficiente k é exógeno e empiricamente determinado. Como se verifica que a parcela monetária dos rendimentos necessária para funcionar como meio de troca varia muito pouco, k pode ser considerado como constante. Sendo Y determinado pela Função de Produção [Y = AF(k,L)] e pelo equilíbrio no mercado de Trabalho (DL= SL), P é determinado por M. Escola Clássica Partindo de um estado de equilíbrio, um aumento da Oferta de Moeda cria um desequilíbrio (M > kPY). Sendo k e Y constantes, P deve aumentar para que o equilíbrio seja restabelecido. Os agentes económicos, detendo mais dinheiro procurarão adquirir mais bens, provocando um aumento da Procura, o que origina um desequilíbrio no mercado de bens. Sendo Y constante, os preços subirão para equilibrar esse excesso de Procura com a Oferta constante no mercado de bens. Escola Clássica 2) Fisher MV = PY (2.16) É a versão da equação de trocas (exchange equation) de Fisher, onde M é a quantidade de moeda determinada pelo Estado e V é a velocidade de circulação da moeda (o número de vezes que a moeda circula num dado período). Escola Clássica É mais simples perceber a relativa estabilidade de V do que de k, dado que a velocidade de circulação depende, essencialmente, de factores institucionais como os procedimentos do sistema bancário, etc. De 2.16 obtemos directamente: P = MV / Y (2.17) Com V/Y constantes é fácil ver que P depende de M Escola Clássica De: P = M/kY (2.15*) e P = MV / Y (2.17) Obtém-se, facilmente: V = 1/k Ou seja, a velocidade de circulação é o recíproco de k, sendo as expressões 2.15 e 2.17 equivalentes Escola Clássica Para ilustrar como o produto, salário real e emprego são invariantes relativamente à quantidade de moeda, observemos a figura 2.4. Nos quadrantes (a) e (b) reproduzimos a figura 2.2. Escola Clássica Um mercado laboral competitivo gera um nível de emprego de equilíbrio L0 e um salário de equilíbrio W0/P0 Através da função de produção obtemos Y0. Escola Clássica No quadrante (c) a Procura Agregada (AD) é definida pela equação 2.16 (MV = PY), neste caso sob a forma P = MV/Y. A função AD(M) = P = (MV)/Y mostra, para um nível constante de M e V, as diversas combinações possíveis de Y e P. Escola Clássica Finalmente, no quadrante (d), vemos a relação entre o salário real e o nível de preços para um dado salário nominal: sendo dado um salário nominal W, o salário real (W/P) depende, evidentemente, do nível de preços. Escola Clássica Suponhamos que as autoridades monetárias aumentem a oferta de moeda de M0 para M1. Esse aumento levará a um aumento da Procura de bens. Como Y se mantém em Y0, determinado pelo equilíbrio no mercado laboral em L0, os preços subirão para P1. Escola Clássica Para um salário nominal W0, este aumento de preços reduzirá o salário real de W0/P0 para W0/P1, o que cria um desequilíbrio no mercado laboral. O excedente de Procura de Trabalho ZX, originará uma subida nos salários nominais para W1 o que restaura o equilíbrio em L0 (W0/P0 = W1/P1).Escola Clássica Em conclusão, um aumento da quantidade de moeda, origina um aumento de preços (P0 para P1) e dos salários nominais (W0 para W1) mas mantém-se o nível de emprego (L0), do Produto (Y0) e dos salários reais (W0/P0 = W1/P1) Escola Clássica Dito de outra forma, só as variáveis nominais se alteram sem qualquer efeito nas variáveis reais. A Moeda é neutra. De notar que todos os ajustes são instantâneos nos modelos clássicos. Escola Clássica Fisher (1907), também demonstrou como a expansão monetária influencia a taxa de juro (efeito Fisher) Como a taxa de juro real é igual à taxa de juro nominal menos a taxa de inflação e é determinada por forças reais de oferta (poupança) e procura (investimento) no mercado de crédito, a taxa nominal ajustar-se-a para reflectir as alterações da taxas real de juro e da inflação. A expansão monetária, ao aumentar a taxa de inflação, também aumentará a taxa de juro nominal mas a taxa de juro real manter-se-a. Escola Clássica Resumindo, uma expansão monetária resulta no aumento do nível de preços, salários nominais e taxa de juro nominal mas os valores reais mantêm- se inalterados: a moeda é neutra. Escola Monetarista Na década de 1960 dominou a Síntese Neo-Clássica (Samuelson): aceitação do modelo IS-LM - modelo de equilíbrio com pressupostos keynesianos – e aceitação das teses clássicas da microeconomia. A escola monetarista surge como a primeira reacção da pureza clássica a essas teses, tendo como principal expoente, Friedman, Prémio Nobel em 1976 Escola Monetarista Md = f (YP ;r,π;u) (4.1) ̇Onde, YP representa a restrição orçamental (o rendimento permanente, como uma aproximação à riqueza); r representa o rendimento dos activos financeiros; π a taxa de inflação esperada; e u as preferências individuais. A procura de moeda será tanto maior: quanto maior for o nível de riqueza; quanto menor for o rendimento de outros activos; quanto menor for a taxa de inflação esperada (*u, determina a procura individual mas, como é sempre constante, tem reduzida influência numa análise dinâmica) Escola Monetarista Na análise de Friedman a Procura de Moeda: - é uma função estável de um número reduzido de variáveis - é função do rendimento permanente (os agentes agem em função do seu rendimento permanente e não de alterações conjunturais e passageiras); Escola Monetarista - é função das rentabilidades: a riqueza será alocada entre activos que possuam a mesma rentabilidade marginal; indivíduos que maximizam a sua utilidade re-alocarão a sua riqueza entre diferentes activos sempre que as taxas de rentabilidade marginal não forem iguais - * é função das suas preferências. Escola Monetarista Se a função da procura de moeda é estável (observar a dinâmica da equação 4.1), então as variações de relevo devem ser procuradas do lado da oferta. Nas palavras de Friedman (1968b, p. 434) : “A generalização empírica de que as alterações nos saldos reais desejados (na procura de moeda) tendem a evoluir devagar e gradualmente ou a ser o resultado de eventos postos em marcha por alterações prévias da oferta, enquanto, em contraste, alterações substanciais na oferta nominal podem e acorrem frequentemente, independentemente de quaisquer alterações da procura. A conclusão é que alterações substanciais nos preços ou rendimentos nominais são quase invariavelmente resultado de alterações na oferta nominal de moeda” Escola Monetarista Friedman e Schwartz (1963) apresentaram no estudo: “Monetary History of the United States, 1867–1960”, evidência de que, apesar do stock de moeda tender a aumentar durante todas as fases do ciclo, a taxa de crescimento da oferta de moeda foi mais lenta durante as contracções. Durante o período examinado, só houve uma redução apreciável dos stocks de moeda nos seis períodos de maior contracção económica: 1873–9, 1893–4, 1907–8, 1920–21,1929–33 e 1937–8. Escola Monetarista Além disso, durante essas grandes recessões, os factores que produziram a contracção monetária foram, em geral, independentes de alterações, contemporâneas ou anteriores, no rendimento monetário e nos preços. Portanto para a QTM (Quantitative Theory of Money): 1. face a uma Procura de Moeda estável, a maior parte da instabilidade na economia deverá ser atribuída a flutuações na Oferta de Moeda. 2. a trajectória da moeda controlada pelas autoridades monetárias é diferente da trajectória endógena de Oferta de Moeda. Escola Monetarista 3. as mudanças nos stocks de moeda são o principal factor das mudanças no rendimento nominal. 4. porém, o lapso de tempo, para que o efeito das alterações de moeda sobre o rendimento nominal se faça sentir, é longo e variável e, por isso, a tentativa de usar a política monetária pode tornar-se desestabilizadora. 5. a oferta de moeda deveria crescer proporcionalmente ao Produto para assegurar estabilidade de preços a longo prazo. Escola Monetarista Curva de Phillips com expectativas A curva original resultou do trabalho de Phillips (1958) sobre a relação entre o desemprego (U) e a taxa de alteração dos salários nominais (W), no Reino Unido, no período entre 1861-1957. Verificou-se que a relação média era não linear e inversa: para um desemprego de 5,5% a taxa de alteração dos salários nominais era 0%; para um desemprego de 2,5% a taxa era de 2,0%. Escola Monetarista Curiosamente os dados referentes a 1948–57 eram muito semelhantes aos do período 1861–1913, dados pela equação: w = −0.9 + 9.638(U )−1.394 (3.6) Para alguns isto sugeriu a possibilidade da existência de uma relação estável de longo prazo entre a inflação e o desemprego. Escola Monetarista Dos trabalhos de Lipsey e Hansena, a relação de Phillips entre salários e desemprego pode ser expressa como: ̇ w = α(h/u − u) + w' = αh/u − αu + w' (3.12) ou W = − αu + (w' + αh/u) Onde α é o coeficiente de flexibilidade dos salários, h o grau de fricção do mercado laboral e w' é a inflação salarial exogenamente determinada (ex, por reivindicação salarial). * Não é necessário conhecer profundamente esta equação; é uma simples curiosidade histórica Escola Monetarista Nos anos 1960-70 a curva de Phillips tornou-se incapaz de explicar a correlação entre salários e desemprego (ou entre inflação e desemprego) De acordo com Friedman, isto aconteceu porque a curva de Phillips original foi mal definida. Apesar de serem os salários nominais que são definidos nas negociações, ambas as partes, trabalhadores e empregadores, estão apenas interessados no salário real. Escola Monetarista Como as negociações têm validade definida o que afecta o salário nominal é a taxa esperada de inflação do período do contrato. A curva deveria, portanto, ser definida em termos de taxa de variação dos salários reais. Escola Monetarista w = f (U ) + πe (4.2) A taxa de variação dos salários nominais depende do excedente da procura de trabalho (como uma aproximação ao desemprego*) mais a taxa de inflação esperada πe (* Como é que um excedente de procura (de trabalho) gera um excedente da mercadoria procurada (desemprego)?) Escola Monetarista Suponhamos uma economia inicialmente em equilíbrio no ponto A, sobre a curva de Phillips de Curto Prazo (SRPC1) com o desemprego em UN, a sua taxa “natural” de desemprego (veremos mais tarde o que é) e uma taxa de crescimento zero nos salários nominais. Escola Monetarista Por simplificação, nas análises subsequentes vamos assumirque o crescimento da produtividade é zero, o que pressupõe que, com uma taxa de crescimento dos salários nominais nula, a taxa esperada de inflação também seja nula: w = π = πe = 0 %. Escola Monetarista Agora imaginemos que as autoridades reduzem o desemprego de UN para U1, expandindo AD através de uma expansão monetária. O excedente de procura nos mercados de bens e laboral resultariam numa pressão ascendente sobre preços e salários, com os preços a variarem, tipicamente, mais rapidamente que os salários Escola Monetarista Tendo saído de um período de estabilidade de preços (πe = 0), os trabalhadores sofreriam de ilusão monetária temporária e interpretariam a subida nominal como sendo real. Escola Monetarista Contudo, os salários reais desceriam realmente e, à medida que as empresas Procurassem mais Trabalho, o desemprego cairia com os salários nominais a subirem à taxa w1 , ou seja o ponto B de SRFC Escola Monetarista À medida que os trabalhadores começassem a adaptar as suas expectativas à taxa actual de inflação (π = w1), pressionariam para o aumento dos salários nominais deslocando SRPC1 para SRPC2. Escola Monetarista Os salários aumentariam à taxa w1 mais a taxa de inflação esperada, as empresas despediriam os trabalhadores anteriormente contratados e o desemprego aumentaria até ao ponto C em que os salários reais regressariam ao seu nível original e o emprego ao seu nível “natural”. Escola Monetarista Isso significa que, assim que a taxa de inflação é percebida nas discussões salariais, desaparece a escolha entre desemprego e inflação. A economia opera à taxa “natural” de desemprego e a taxa de aumento salarial é igual à da inflação. Escola Monetarista Juntando os pontos A e C obtemos a curva de Phillips de longo prazo, à taxa de desemprego “natural”, onde a taxa de aumento salarial é exactamente igual à da inflação e os salários reais são constantes, ou seja, a taxa de desemprego “natural” representa o equilíbrio no mercado de trabalho. Escola Monetarista * (1. Existindo desemprego involuntário, mesmo que “natural”, não pode existir excedente de procura de trabalho. 2. Existindo, sim, excedente de oferta, os salários reais deverão ser mais altos que o ponto de equilíbrio walrasiano (que salda o mercado). 3. Em ambos os casos (excedente de oferta ou de procura), o ponto A não corresponde ao equilíbrio no mercado de trabalho e toda a construção subsequente fica comprometida) Escola Monetarista Na sequência da crítica de Friedman, partindo da equação: w = f (U ) + πe (4.2), foram feitos numerosos estudos, usando, para o longo prazo, a equação: w = f (U ) + βπe (4.3) Assumindo um aumento zero de produtividade, w = π = πe, de onde se obtém: π – βπ = f(U) π = f(U)/(1-β) Escola Monetarista (i) Sendo β = 0 teremos uma escolha estável, quer no curto, quer no longo prazo entre inflação e desemprego (curva de Phillips original); (ii) Sendo β = 1 não haverá escolha no longo prazo como afirmam os monetaristas; (iii) Se 0 < β < 1 haverá uma escolha de longo prazo mas menos favorável que a de curto prazo Escola Monetarista Não tendo sido inequívocos os resultados dos estudos, a discussão manteve-se, com os monetaristas a afirmarem que β é igual a 1 e que a curva de longo prazo é vertical e o críticos a afirmarem que não. Contudo, o triunfo dos principais pressupostos e conclusões clássicas, a nível da teoria em geral, foi consolidando as ideias monetaristas sobre a Curva de Phillips de Longo Prazo. Escola Monetarista Friedman, na sua dissertação do Prémio Nobel (1977), tentou justificar a compatibilidade entre uma curva vertical de longo prazo e sua não verificação empírica, dizendo que as taxas de inflação se tinham tornado muito voláteis aumentando a incerteza e tornando o sistema de preços menos eficiente como mecanismo coordenador e de comunicação. E ainda que o aumento da incerteza pode, também, resultar numa redução do investimento e, consequentemente, do emprego, (* aproximando-se das teses keynesianas) Escola Monetarista Porém que, à medida que a taxa de inflação se tornava mais volátil, os governos tendiam a intervir, prejudicando ainda mais. (*afastando-se, aqui, das teses keynesianas). Escola Monetarista Uma possível política económica seria a redução momentânea do desemprego abaixo da taxa “natural” como resultado de uma taxa de inflação inesperada, retornando à taxa “natural” logo que a inflação fosse absorvida. Deveria, contudo, ter-se em conta que manter uma taxa de desemprego permanentemente abaixo da taxa “natural” aceleraria a inflação e obrigaria a aumentar continuamente a expansão monetária conduzindo a uma taxa de inflação acelerada (“hipótese aceleracionista”). Escola Monetarista Os custos no produto e no emprego da redução da inflação. “A inflação é sempre e em toda a parte um fenómeno monetário no sentido em que apenas pode ser produzida por um aumento mais rápido da quantidade de moeda do que de produto”. Portanto, só pode ser reduzida pela desaceleração da taxa de crescimento da massa monetária; mas, reduzindo a expansão monetária, aumenta o nível de desemprego e o produto decresce. Escola Monetarist a Partindo de uma economia em equlíbrio no ponto A, na intersecção das curvas de Phillips de curto (SRPC1) e longo (LRPC) prazos; a taxa de inflação é totalmente antecipada, w1 = π = πe; e o desemprego está na taxa “natural”(UN). Escola Monetarist a Suponhamos, agora, que as autoridades consideram a taxa de inflação demasiado alta e iniciam uma política monetária contraccionista para levar a economia para D na LRFC. Escola Monetarist a Consideremos duas políticas alternativas: 1) Reduzir dramaticamente a expansão monetária e aumentar o desemprego para UB de tal forma que o os salários e inflação caiam para W3; ou seja, um movimento inicial ao longo de SRPC1, de A para B. Escola Monetarist a O custo desta opção seria um aumento considerável do desemprego de UN para UB. Como a taxa de inflação cai para baixo da esperada, as expectativas baixam. SRPC desloca-se para baixo e teríamos um novo equilíbrio em D - intersecção de SRPC3 e LRPC - onde w3 = π = πe, com o desemprego em UN Escola Monetarist a 2) Outra opção seria, inicialmente, reduzir mais ligeiramente a expansão monetária e, aumentar, inicialmente, o desemprego para, digamos, UC, de tal forma que a inflação caísse para W2: movimento inicial ao longo de SRPC1 de A para C. Escola Monetarist a Como a inflação real cai abaixo da esperada - mas menos que em (1) - as expectativas caem. A SRPC move-se para baixo (SRPC2 associada a W2). Sucessivas reduções na expansão conduziriam à inflação desejada (W3). A transição para o ponto D, na LRPC, levaria, contudo, muito mais tempo. Escola Monetarista Em resumo, na perspectiva monetarista, os custos (produto e emprego) associados a uma contracção monetária dependem: - da rapidez da redução da taxa de expansão monetária pelas autoridades monetárias; Escola Monetarista - das adaptações institucionais – indexação dos contratos salariais, por exemplo; - da velocidade com que os agentes ajustam as expectativas de redução da inflação Escola Monetarista Alguns monetaristas (porexemplo, Friedman, 1974) sugeriram que uma qualquer forma de indexação ajudaria o processo de redução gradual da inflação. Escola Monetarista * Verifica-se, neste exemplo, que a indexação apenas torna o percurso mais lento, mas o resultado final é o mesmo: o ponto D na intersecção de SRPC3 e LRPC Escola Monetarista Política monetária monetarista: O papel da política monetária monetarista é determinado pela convicção de que a Curva de Phillips de longo prazo é vertical. A prescrição dos monetaristas é a seguinte: 1. Se as autoridades expandirem a Oferta Monetária de forma constante ao longo do tempo, a economia tenderá a estabilizar na taxa “natural” de desemprego com uma taxa de inflação estável; Escola Monetarista 2. A adopção de uma regra monetária removeria a maior fonte de instabilidade da economia, ou seja, excepto se perturbadas por expansões monetárias erráticas, as economias capitalistas são intrinsecamente estáveis à volta da taxa de desemprego “natural”; 3. No estado actual do conhecimento, uma política monetária discricionária poderia ter efeitos desestabilizadores devido seus longos e variáveis prazo de actuação; Escola Monetarista 4. O Governo não deve procurar alcançar uma taxa de desemprego alvo porque a taxa “natural” não é perfeitamente conhecida e pode variar com o tempo; ao procurar atingir uma taxa mais baixa que a taxa natural pode apenas provocar inflação. Escola Monetarista Isto implica que, se os governos desejam reduzir a taxa de desemprego devem prosseguir políticas do lado da Oferta que melhorem a estrutura e funcionamento dos mercados de trabalho e da indústria, em vez de políticas de gestão da Procura, como: (i) incentivos ao trabalho: reduzindo as taxas de imposto marginais, os subsídios de desemprego e outros benefícios sociais; (ii) flexibilidade dos salários e práticas laborais (reduzindo o poder dos sindicatos); Escola Monetarista (iii) promoção da mobilidade geográfica e laboral, por exemplo, através de programas de formação; (iv) promovendo mercados eficientes de bens através, por exemplo, da privatização. Escola Monetarista A taxa “Natural” de desemprego Friedman (1968a) definiu a taxa “natural” de desemprego como: “ o nível que seria dado pelas equações de um modelo walrasiano de equilíbrio geral, tendo em conta as características estruturais dos mercados laborais e de bens, incluindo as imperfeições do mercado, variações erráticas da Procura e Oferta, o custo de informação sobre vagas de trabalho, custos de mobilidade, etc. Escola Monetarista Rogerson (1997) demonstrou que a taxa “natural” é, na verdade, igual a muitas outras definições da taxa de desemprego: “de longo prazo = friccional = média = de equilíbrio = normal = de pleno emprego = de estabilidade = mais baixa sustentável = eficiente = da tendência de Hodrick–Prescott = natural’. Estes problemas de definição levaram muitos economistas a preferir o conceito de “NAIRU” (Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment), termo introduzido, inicialmente, como “NIRU” (Non-inflationary Rate of Unemployment) por Modigliani e Papademos (1975). Escola Monetarista Apesar da maioria dos economistas aceitar a NAIRU, alguns permanecem cépticos (J. Galbraith, 1997; Arestis and Sawyer, 1998; Akerlof, 2002). * Há que dizer que nunca foi demonstrado o que determina a NAIRU, não passando, realmente, de uma tautologia: a taxa de desemprego sem inflação acelerada é a taxa de desemprego que não provoca inflação acelerada numa dada economia. Escola Monetarista O Modelo Monetarista da BP centra-se no mercado monetário onde a relação entre a Procura e Oferta de moeda é olhada como determinante dos fluxos da Balança de Pagamentos. Pressupostos: a Procura por Moeda é uma função estável de um número limitado de variáveis; No LP o Produto e o Emprego tendem para o desemprego “natural”. Escola Monetarista Procura de Moeda: Md = Pf (Y , r ) (4.10) A Procura é igual ao nível de preços multiplicado por uma função de Y e r. Como os argumentos da equação de Procura por moeda são exógenos, esta não se ajusta ao incremento do crédito. (* Esta afirmação é extraordinária porque pressupõe que o crédito tenha sido concedido sem ter sido procurado) Escola Monetarista Os agentes económicos irão desfazer-se do excesso de moeda, comprando títulos e bens importados, gerando-se um deficit na BP. Oferta de Moeda Ms = D + R (4.11) A Oferta é igual soma das alterações da moeda interna (D = crédito líquido) e das Reservas de Divisas (R) Em equilíbrio temos: Md = D + R (4.12) R = Md − D (4.13) Escola Monetarista Sob um regime de taxa fixa, as autoridades assumem a venda de divisas por troca de moeda nacional para cobrir o saldo da BP, do que resulta uma redução das Reservas (R). A redução das divisas anulará o aumento inicial na Oferta de Moeda devida ao aumento do crédito doméstico. A redução de R continuará até que a BP se equilibre eliminando o deficit. Escola Monetarista Olhando para a equação Md = D + R (4.12) Aumentando a Procura por Moeda, se não existir aumento do crédito doméstico (D), o sistema retornará ao equilíbrio com um aumento na Oferta de Moeda através do excedente na BP, através do aumento das Reservas (R). Escola Monetarista A equação Ms = D + R (4.11) revela que a política monetária apenas determina a divisão da Oferta Monetária do País entre Crédito e Reservas, não a Oferta de Moeda propriamente dita. Uma expansão monetária interna não terá efeitos nas taxas de inflação, de juros ou no aumento do Produto, apenas reduzirá as Reservas do País, através do deficit da BP. Contudo, tratando-se de uma grande economia, influenciará a expansão monetária e a taxa de inflação globais Escola Monetarista Sob um regime de taxa flexível, esta ajustar-se-á para saldar o mercado externo e o saldo da BP é sempre nulo, não havendo alteração nas Reservas, tornando o crédito interno a única fonte de expansão monetária. Escola Monetarista Assumindo uma economia em equilíbrio onde aumenta o crédito (aumenta a Oferta de Moeda interna), perturbando o equilíbrio no mercado externo. Olhando para a equação Md = Pf (Y,r) (4.10) Vemos que, com um Rendimento fixo em pleno emprego e a taxa de juro interna igual à taxa global, o excesso de Oferta de Moeda só pode ser eliminado por um aumento dos preços internos: Escola Monetarista 1) a diferença entre a Moeda desejada e real resultará num aumento da Procura de bens estrangeiros e títulos, 2) criando um excedente de Oferta de moeda nacional no mercado externo, o que levará à sua depreciação, 3) do que resultará um aumento no nível de preços interno, 4) o que levará a um aumento da Procura por Moeda, 5) conduzindo ao equilíbrio. Escola Monetarista A análise pode também ser feita em termos dinâmicos: Se a taxa de crescimento do Produto doméstico for inferior à do resto do mundo a taxa de câmbio depreciará; Se a taxa de expansão monetária interna for maior que a do resto do mundo a taxa de câmbio depreciará, isto é, um País com crescimento reduzido e uma grande expansão monetária verá a sua moeda depreciada. … e vice-versa. Escola Monetarista Resumo das convicções monetaristas: - alterações no stock de moeda são o factor predominante nas alterações do Rendimento nominal. - a economia é eminentemente estável, excepto quando perturbada por mudanças erráticas no crescimento da moeda; - porém, quandosujeita a perturbações, retorna rapidamente à vizinhança do equilíbrio de LP, à taxa natural de desemprego. Escola Monetarista - não existe escolha entre desemprego e inflação no LP, ie, a LRPC é vertical à taxa de desemprego natural. - a inflação e a BP são essencialmente fenómenos monetários e as autoridades monetárias devem estar sujeitas a regras relativamente aos agregados monetários que conduzam à estabilidade de preços no LP - a política fiscal deve ser limitada à redistribuição de rendimentos e alocação de recursos. Escola Clássica (anos 1970) A primeira reacção à escola keynesiana ortodoxa (auge nos anos 1950 com: Hicks, Modigliani, Patinkin, Phillips, Tobin e Samuelson), mais correctamente chamada de Síntese Neo-Clássica, por juntar a micro-economia e alguns aspectos das teses de equilíbrio clássicas com a possibilidade de funcionamento da economia fora do pleno emprego e algumas teses de Keynes, foi apresentada por Milton Friedman ainda nos anos 1950 mas com auge nos anos 1960. Escola Clássica (anos 1970) Na década de 1970, um grupo de monetaristas lançou uma crítica ainda mais dura à Síntese Neo-Clássica. Este grupo tem o seu economista mais preponderante em Robert Lucas, prémio Nobel de 1995, “... por ter desenvolvido e aplicado a hipótese das expectativas racionais e, daí, transformado a análise macroeconómica e aprofundado o nosso entendimento da política económica”. Outros economistas proeminentes são: Thomas Sargent, Robert Barro, Edward Prescott and Neil Wallace Escola Clássica (anos 1970) Embora monetarista em termos de política económica, Lucas e Friedman têm raízes teóricas diferentes: Lucas é Walrasiano enquanto Friedman é Marshaliano. Este grupo de economistas clássicos, defende um forte suporte nos fundamentos micro-económicos no quadro de um modelo Walrasiano de equilíbrio geral. Escola Clássica (anos 1970) As 3 teses fundamentais da Escola Clássica dos anos 1970, que desenvolveremos de seguida, são: 1) as expectativas racionais; 2) o equilíbrio geral; 3) a oferta agregada de Lucas. Escola Clássica (anos 1970) Expectativas racionais Usando as teses walrasianas de equilíbrio geral, a moeda deveria ser neutra: contudo, observa-se uma correlação positiva entre o PIB e inflação e negativa entre desemprego e inflação (curva de Philips). Portanto, empiricamente, a moeda não parece ser neutra. Lucas “resolveu” o dilema no artigo “Expectativas e a neutralidade da moeda” ( assumindo que, ao contrário do pressuposto clássico inicial, os agentes têm informação imperfeita. Escola Clássica (anos 1970) “Como virtualmente todas as decisões económicas envolvem acções presentes para obter recompensas incertas no futuro, as expectativas do futuro são cruciais na tomada de decisões” Assim, a expectativa do valor futuro de uma variável económica toma, em geral, a forma de um distribuição de probabilidade e não de um valor discreto. Escola Clássica (anos 1970) As expectativas racionais aparecem como reacção à tese de Keynes das expectativas suportadas em elementos não económicos (“animal spirits”) e das expectativas baseadas no passado dos monetaristas (expectativas adaptativas). Podemos enunciar duas versões da hipótese: 1) Versão fraca Muth’s (1961): ao formarem expectativas os agentes farão o uso mais eficiente de toda a informação publicada. Escola Clássica (anos 1970) Segundo Snowdon-Vane, as expectativas de uma variável económica V, podem ser expressas como: Vte = E( Vt | Ωt-1) Onde Vt é o valor real da variável ( (*deveria ser V0 porque se trata do valor no momento em que é feita a previsão) e o operador | significa, “sujeito a” (* e não o habitual sentido matemático ou lógico deste operador). Deve ler-se: A expectativa do valor da variável V no momento t (Vte) é uma função E do valor da variável V no momento da previsão, sujeita à informação disponível sobre a sua evolução até ao momento t. Escola Clássica (anos 1970) 2) A versão forte – Lucas (1972) – defende que as expectativas coincidem com o valor objectivo ou matemático da variável. Note-se que “expectativas racionais” não são o mesmo que previsão perfeita: para formar uma expectativa sobre uma variável, os agentes têm em conta aquilo que acreditam ser o modelo macroeconómico “correcto” e a informação incompleta disponível. Escola Clássica (anos 1970) Os agentes cometerão erros ao prever, contudo esses erros não terão correlação com o conjunto informação* no momento da expectativa. (*Esta escola usa, frequentemente, nas suas demonstrações, a teoria de conjuntos). Além disso, os agentes não terão expectativas que sejam sistematicamente erradas ao longo do tempo porque os agentes perceberiam os seus erros e os corrigiriam. Escola Clássica (anos 1970) Contudo, a hipótese das expectativas racionais defende que, embora existam erros, as expectativas, em média, estarão correctas, ou seja, serão iguais ao seu valor verdadeiro (ou matemático). Vte = Vt + εt (5.2) A expectativa de V no momento t é igual ao valor de V no momento t mais o erro aleatório εt, ... Escola Clássica (anos 1970) … sendo que o erro εt: (i) terá um valor médio igual a zero; (ii) será necessariamente aleatório; (iii) não terá correlação com os erros dos períodos anteriores revelando um padrão não discernível (não haverá correlação na série temporal); (iv) terá a menor variância relativamente a qualquer outro método de previsão. Escola Clássica (anos 1970) A vantagem das expectativas racionais sobre as expectativas adaptativas de Friedman resulta de que, estas, só se tornarão acertadas quando a variável estabilizar durante um período considerável de tempo. Este problema resulta: (i) da assumpção que os agentes apenas ajustam parcialmente as expectativas; (ii) da incapacidade dos agentes tomarem em consideração informação para além dos valores históricos da variável, mesmo que cometam erros repetitivos. Escola Clássica (anos 1970) Criticas: 1) Tendo em conta o preço da informação, não é provável que todos os agentes usem toda a informação disponível. Na versão fraca pode contrapor-se que os agentes racionais usarão informação adicional até ao ponto em que o benefício marginal (melhoria da previsão) iguale o custo marginal. Neste caso as expectativas seriam menos eficientes do que se toda a informação fosse usada. Escola Clássica (anos 1970) 2) Evidentemente que os agentes usarão a informação disponível a partir de analistas o que, de um lado baixa o seu custo, mas, de outro, coloca o problema de saber qual é o analista “correcto”. Relativamente a esta crítica deve notar-se que, na versão forte, o que é importante é que os agentes não formem expectativas que sejam sistematicamente erradas, o que implica que as expectativas pareçam como se tivessem sido formadas por agentes que conhecem o modelo “correcto”, por serem aleatoriamente distribuídas e não serem baseadas em preconceitos. Escola Clássica (anos 1970) 3) Uma terceira crítica advém da escola keynesiana actual e baseia-se no pressuposto que cada evento histórico é único e não repetitivo, não se aplicando, portanto, as regras das probabilidades. Devemos distinguir entre situações de risco e incerteza: nas situações de risco a distribuição probabilística é conhecida; nas situações de incerteza não é possível formular uma distribuição probabilística significativa. Escola Clássica (anos 1970) (* É verdade que as pessoas tentam ser racionais mas não deixam, por isso, de serhumanos. Há e sempre haverá, “bull” e “bear” nos mercados de títulos; há e sempre haverá conclusões diferentes baseadas na mesma informação. As expectativas não podem ter um erro aleatório porque “jogamos” com os dados “viciados” que são as nossas características pessoais. Aliás, quando Keynes se refere a “animal spirits”, tem em mente este comprovado sentido da diversidade humana e não qualquer outro sentido anedótico que se lhe queira, maliciosamente, atribuir). Escola Clássica (anos 1970) * - Alguns acertaram na previsão de uma crise nos primeiros anos de 2000, porém, nenhum modelo, clássico ou IS-LM, nenhuma expectativa média, próxima ou, sequer, longinquamente aproximada, conseguiu antecipar a crise de 2008. No auge que antecedeu a crise, a generalidade dos agentes e, muito em especial, os analistas e os banqueiros, detentores de informação privilegiada, continuaram a prever prosperidade. Escola Clássica (anos 1970) * A expectativa média era colossalmente diferente da realidade: nesta, como em todas as outras crises (ou retomas) anteriores. As expectativas só são “racionais” nos períodos do ciclo em que não se dão inversões de tendência, ou seja, enquanto a evolução futura correspondeu à evolução passada num horizonte temporal limitado. Escola Clássica (anos 1970) * Parece, pois, que as expectativas adaptativas de Friedman correspondem melhor à realidade do que as expectativas “racionais” de Lucas, no sentido em que o papel da experiência recente é preponderante. Porém, em qualquer circunstância, em especial nos momentos de inversão (crise e retoma), parece prevalecer o “sentimento” do mercado, muito mais próximo do pensamento keynesiano.) Escola Clássica (anos 1970) Um estudo do insuspeito do Banco de Inglaterra (2003) sobre as expectativas de inflação chegou às seguintes conclusões: 1) diferentes pessoas e diferentes grupos revelam diferentes atitudes face à inflação; 2) as expectativas dos grupos “profissionais” anda à volta da expectativa média; Escola Clássica (anos 1970) 3) os entrevistados mais jovens têm expectativas de menor inflação (*influência do passado); 4) os detentores de crédito habitação têm expectativas de menor inflação do que os que usam casas arrendadas (*influência do que nos afecta); 5) as pessoas do sul têm expectativas de maior inflação do que as do norte; 6) a experiência vivida da inflação influencia as expectativas sobre a inflação. Escola Clássica (anos 1970) Modelos Walrasianos de Equilíbrio Geral Walras, a quem podemos atribuir a paternidade dos modelos clássicos de equilíbrio, toma como modelo ideal os trabalhos sobre estática de Poinsot (1803, 1842), que descrevem o movimento de um corpo rígido que não sofre acção de quaisquer forças externas. O modelo económico, seguindo o exemplo do corpo rígido da física, deve estar em equilíbrio interno e isolado das forças externas, consideradas, apenas, como dados de partida. Escola Clássica (anos 1970) Modelos Walrasianos de Equilíbrio Geral Diversos desenvolvimentos sobre o modelo de Walras foram feitos pelos seus seguidores, sendo hoje, reconhecido, de forma geral, que existem dois tipos de modelos walrasianos desenvolvidos a partir dos modelos de Arrow-Debreu (1954) e Mckenzie (1954). Destes, predominam, na teoria económica, os modelos do tipo Arrow-Debreu. A descrição que se segue corresponde a um resumo da tradução livre do texto contido no artigo de Debreu, “Existence of General Equilibrium”, inserido na colectânea “General Equilibrium”. Escola Clássica (anos 1970) Resumidamente, esta é a descrição de um modelo do tipo Arrow-Debreu. Um modelo de Arrow-Debreu (1954) obedece, ao seguinte protótipo: Um número finito de consumidores (m) e n produtores, produzem, trocam e consomem l bens (commodities). Escola Clássica (anos 1970) O consumo de cada agente é um vector xi em Rl cujos componentes positivos são os seus imputs dos bens l e os componentes negativos os seus outputs. A produção de cada produtor é um vector yj em Rl cujos componentes positivos são os seus outputs dos bens l e os componentes negativos os seus intputs. Escola Clássica (anos 1970) Cada consumidor tem as seguintes características: 1) Xi, que representa o conjunto das suas possibilidades de consumo, é um sub-conjunto não vazio de Rl; 2) existe uma relação de preferência entre x e x', tal que x' é pelo menos tão preferido quanto x {(x,x') ε Xi x Xl | x ≤ x'l} (à falta de símbolo correcto, ≤ representa a preferência); 3) o vector ei, em Rl descreve a sua alocação inicial de bens. Escola Clássica (anos 1970) Para cada produtor, o conjunto Yj, que representa as suas possibilidades de produção, é um sub-conjunto não vazio de Rl. O número θij ≥ 0, tal que Σiθij = 1 para cada produtor j, representa a fracção do lucro de j que é distribuída ao consumidor i. Dado um vector preço p em Rl, diferente de 0, cada produtor j escolhe uma produção yj, em Yj, que maximiza o seu lucro, ou seja, dado p, p.yj ≥ p.y para todos os yj,y pertencentes a Yj. Escola Clássica (anos 1970) Portanto, cada consumidor recebe, para além do valor da sua alocação inicial, a soma da sua parte nos lucros de todos os produtores. Consequentemente, o valor do seu consumo fica sujeito à restrição p.x ≤ p.ei + Σj θij p.yj. Sob esta restrição, cada consumidor escolhe o melhor consumo x, em X, de acordo com a suas preferências. Escola Clássica (anos 1970) Nas condições enunciadas uma economia está em equilíbrio quando: Σi xi - Σj yj - Σi ei = 0. Resta apenas definir o conjunto de acções que definem p. Escola Clássica (anos 1970) Para isso basta introduzir um agente de fixação de preços fictício cujo conjunto de acções é definido como P e cuja função utilidade consiste em maximizar a função p → p.z em P. Seja z a função que representa a procura excessiva; z = Σi xi - Σj yj - Σi ei. Maximizar a função p.z leva ao extremo a ideia que o agente de fixação de preços deve escolher preços altos para os bens com procura excessiva e preços baixos para os que têm oferta excessiva. Escola Clássica (anos 1970) Outra forma de demonstrar este saldar dos mercados pode ser ilustrada no gráfico Argumenta-se frequentemente (embora não em Snowdon-Vane) que a área P*EC representa os consumidores que aceitariam adquirir quantidades acima do preço de equilíbrio, representando, por isso, o benefício dos consumidores; Escola Clássica (anos 1970) Em contrapartida, a área P*EB representaria o benefício dos produtores por corresponder às quantidades que poderiam ser oferecias a preço inferior ao de equilíbrio (P*). Escola Clássica (anos 1970) Se o preço fosse P1 (e não P*) as quantidades transaccionadas seriam Q1 e a área FEI representaria o prejuízo social, já que existiriam consumidores desejando adquirir quantidades entre Q1 e Q*, aos preço P* e produtores desejando vender as mesmas quantidades ao mesmo preço que não poderiam satisfazer o seu desejo mútuo. Escola Clássica (anos 1970) * (Pretende-se em Snowdon-Vane que o prejuízo social para P2 seja GEH o que não está correcto: 1) As quantidades transaccionadas são sempre os menores volumes que consumidores e produtores estão dispostos a aceitar, porque, para as quantidades adicionais, as transacções não se concretizam: logo, não existem quantidades transaccionadas à direita de E. Escola Clássica (anos 1970) * Isto implica que as quantidades transaccionadas a P2 sejam também representadas à direita de E. Nesta caso, porqueP1 e P2 foram, arbitrariamente, escolhidos como simétricos relativamente à linha P*E, as quantidades transaccionadas a P2, são igualmente Q1. Escola Clássica (anos 1970) * Na verdade, as quantidades máximas oferecidas a P2 são Q1 e, por muito que se procurem as quantidades Q2, as transacções só se concretizam até à oferta máxima que é Q1. Portanto, o prejuízo social é, de acordo com o modelo, FEI e não GEH. Escola Clássica (anos 1970) * De qualquer forma, o ponto E não se realiza, não correspondendo à representação da realidade económica Na verdade, as transacções iniciam-se sem que o preço esteja fixado (não existe, em qualquer mercado, um leiloeiro de Walras ou Fixador Fictício de Preços de Arrow-Debreu). Escola Clássica (anos 1970) * Logo, existiriam transacções a P1, a P2 e a muitos outros P, antes que P pudesse, eventualmente, convergir para P*. Só que, a existência dessas transacções “falsas”, implica, por si só, o escoamento de quantidades a preço diferente de PE. Escola Clássica (anos 1970) * Consequentemente, as quantidades sobrantes, serão diferentes das quantidades totais oferecidas e procuradas e o novo equilíbrio também não será PE, pelo que, o preço de equilíbrio só se verifica por mera coincidência. Escola Clássica (anos 1970) * Isto implica que os mercados, independentemente de quaisquer influencias exteriores, operando em concorrência perfeita, apresentem uma ineficiência social inerente. Os modelos devem mostrar essa ineficiência e não escondê-la sob uma pretensa perfeição que não corresponde à realidade representada). Escola Clássica (anos 1970) A teoria da oferta agregada de Lucas Se houvesse informação completa apenas os aumentos relativos de preços conduziriam a aumentos da produção dos bens correspondentes. Porém, se os agentes viverem numa economia com preços estáveis, interpretarão um aumento no preço de um bem que produzam, como um aumento relativo e produzirão mais, em conformidade. Escola Clássica (anos 1970) Sendo monetarista, Lucas considera que um aumento do nível geral de preços é causado por um aumento, anterior, da oferta de moeda. Este aumento nominal não deveria ter consequências nas variáveis reais, nomeadamente PIB e emprego, devido à neutralidade da moeda. Porém, os agentes têm o que Lucas refere como um “problema de percepção do sinal” (“signal extraction problem”). Escola Clássica (anos 1970) Suponhamos uma economia em equilíbrio com o emprego na sua taxa natural. Um aumento, não antecipado, de moeda levará a um aumento geral dos preços e, portanto, ao aumento do preço de cada produto, individualmente. Supondo que as empresas apenas têm informação relativamente aos mercados em que operam, interpretarão o aumento de preços como se se tratasse de um aumento relativo dos preços dos seus produtos e aumentarão a sua produção e emprego. Escola Clássica (anos 1970) Se todos os agentes cometerem o mesmo erro, teremos um aumento do produto agregado, correlacionado com um aumento do geral dos preços. Teremos, portanto, uma correlação moeda-produto e inflação-produto, ou seja, não haverá neutralidade da moeda. Contudo, ao aperceberem-se do erro, reduzirão a sua produção, retornando ao nível de equilíbrio à taxa natural, mantendo-se, no longo prazo, a neutralidade da moeda e desfazendo-se a correlação inflação- produto. Escola Clássica (anos 1970) Em contraste com o modelo de Friedman, onde apenas os trabalhadores são enganados pelo aumento nominal, no modelo de Lucas não há assimetria de informação entre trabalhadores e firmas e ambos tenderão a cometer os mesmos erros de expectativa, interpretando mal o aumento de preços e respondendo com um aumento da oferta de bens e trabalho. Como resultado, produto e emprego ficarão, temporariamente, acima dos seus níveis “naturais”. Contudo, em ambos os modelos, quando os agentes percebem que não há alteração nos preços relativos, o produto e emprego retornarão aos seus níveis naturais. Escola Clássica (anos 1970) Na teoria de Lucas, MEBCT (monetary equilibrium business cycle theory) a oferta num dado momento (Yt) tem tanto uma componente permanente (YNt) e uma componente cíclica (Yct): Yt = YNt + Yct (5.9) O componente permanente do PIB reflecte o crescimento de fundo da economia, seguindo uma linha de tendência. Escola Clássica (anos 1970) A componente cíclica depende de alterações de preço não antecipadas e do desvio anterior do produto relativamente ao equilíbrio: Yct = α[Pt − E( Pt | Ω t −1 )] + β(Yt−1 − YNt −1) (5.11) O termo α[Pt − E( Pt | Ω t −1 )] mostra que os desvios da tendência serão transitórios e dependentes dos mecanismos de propagação (α), por exemplo, tendo em conta os custos de recrutamento e formação as empresas poderão ajustar os níveis de emprego gradualmente, etc. O coeficiente β > 0 determina a velocidade com que o Produto regressa ao equilíbrio depois de um choque. Escola Clássica (anos 1970) A combinação das expectativas racionais com a função de oferta de Lucas implica que o emprego e o produto flutuarão à volta dos seus níveis “naturais” de equilíbrio. Combinando (5.9), (5.10) e (5.11) obtemos a equação da Oferta Agregada de Lucas: Yt = (λ + φt)+α[ Pt−E( Pt | Ωt −1)]+β(Yt −1−YN(t −1))+εt (5.12) Onde εt é o erro aleatório. Escola Clássica (anos 1970) Apesar das acções dos agentes serem “não-óptimas”, eles representam as expectativas racionais, onde os agentes tomam as melhores decisões considerando a informação imperfeita e incompleta de que dispõem. Como o choque depende do desvio em relação às expectativas, o impacto será maior nos países habituados a estabilidade de preços; nos países com elevados níveis de inflação, as alterações de preços serão percebidas como aumentos gerais e não como aumentos relativos. Escola Clássica (anos 1970) A MEBCT implica que uma política monetária não discricionária e sujeita a regras, eliminaria uma grande parte da origem da instabilidade. Isto levou Lucas a afirmar, em 2003, que o problema central da prevenção das recessões tinha sido resolvido para muitas décadas futuras: “central problem of depression-prevention has been solved, for all practical purposes, and has in fact been solved for many decades.” * (Não décadas mas apenas 5 anos depois, dá-se a Grande Crise de 2008!) Escola Clássica (anos 1970) A convicção generalizada, até aos anos 1970, era a de que a componente da tendência de longo prazo era suave com flutuações de curto-prazo determinadas pela Procura (Keynesianos) ou pela oferta (Monetaristas e Lucas). Todos os modelos interpretavam o desvio relativamente à tendência como temporário, implicando que as recessões não tivessem efeitos de longo prazo, com os keynesianos advogando a intervenção das autoridades para reduzir a sua severidade e duração e os clássicos confiando nas forças de mercado e no estabelecimento de regras de política monetária. Escola Clássica (anos 1980) Em 1982, Nelson e Plosser publicaram um artigo rejeitando esta visão convencional. O seu estudo de séries de dados macroeconómicos levaram-nos à conclusão que “os modelos macroeconómicos que se focam em perturbações monetárias como fonte de flutuações puramente transitórias poderão nunca explicar com sucesso uma larga parte das variações do produto e que variações stocásticas devidas a factores reais são um elemento essencial em qualquer modelo de flutuações macroeconómicas”. Escola Clássica (anos1980) Ora, se factores reais explicam as flutuações então os efeitos devem ser permanentes. Por analogia com a MEBCT (Monetary Equilibrium Business Cycle Theory) de Lucas estas concepções ficaram conhecidas como REBCT (Real Equilibrium Business Cycle Theory). Podemos descrever matematicamente a concepção de que as flutuações cíclicas são reversíveis através da seguinte equação genérica: Escola Clássica (anos 1980) Yt = gtYn(t-1) + bYt −1 + zt | 0<b<1 (6.1) (* Alterei a equação de Snowdon-Vane porque não se justifica uma componente g, dada apenas por um parâmetro constante) Onde gt representa a taxa “natural” de crescimento do Produto de Equilíbrio, b a relação com o PIB real do período anterior e z os choques aleatórios, cuja média é zero. Um choque aleatório influenciará o PIB do período e será transmitido ao PIB seguinte através de bYt −1. Escola Clássica (anos 1980) Como 0<b<1, o efeito desaparece com o tempo e o PIB, na ausência de novos choques, retorna ao crescimento tendencial (gt). (*Note-se ainda que, sendo a média de z igual a zero, novos choques tenderão a fazer retornar o PIB mais rapidamente ao valor tendencial). Em contraste, a visão de Nelson e Plosser pode ser apresentada através da seguinte forma modificada de (6.1): Escola Clássica (anos 1980) Yt = gtYn(t-1) + bYt −1 + zt | g = 0 e b = 1(6.2) (* Voltei a alterar a equação para fazer sentido) Sendo g = 0 a componente de longo prazo desaparece. Sendo b=1 qualquer choque será transmitido totalmente para o período seguinte. O produto fica assim totalmente dependente dos choques aleatórios z, cuja média é indefinida. A linha de tendência deixa de ser uma curva suave para reflectir os impactos dos choques. Escola Clássica (anos 1980) O valor unitário de b só pode ser explicado se os choques aleatórios alterarem a função de produção. O que pode parecer uma flutuação à volta da tendência não é senão a tendência construída com resultado de múltiplos choques aleatórios. Portanto, Nelson and Plosser sugerem que as forças que determinam a tendência são exactamente as mesmas que determinam as flutuações. Escola Clássica (anos 1980) Como as alterações do PIB não podem resultar de choques nas variáveis nominais, devido à neutralidade da moeda, que é mantida, as forças que causam os ciclos devem procurar-se no lado real da economia. Esta visão de alguma forma maniqueísta (bom ou mau, real ou nominal, oferta ou procura) foi ultrapassada e aceita-se, hoje, que a instabilidade cíclica pode resultar de choques na Procura ou Oferta agregadas ou ambas e que as variáveis nominais podem ter alguma influência na instabilidade, (*embora, na minha perspectiva, esta visão mais “plural” não seja de forma alguma clara nos modelos REBCT actuais). Escola Clássica (anos 1980) No lado da oferta podemos descrever diversos choques que resultarão em alterações da produtividade: 1. Alterações ambientais, como, por exemplo, alterações do clima, desastres naturais, etc 2. Alterações significativas do preço da energia (*ou qualquer outro preço de um bem com impacto global - “imputs fundamentais” de Louça) 3. Instabilidade político-social: guerras, tumultos, greves generalizadas, etc. Escola Clássica (anos 1980) 4. Regulação administrativa da economia que favoreça actividades do tipo rentista em detrimento do talento empresarial: quotas de importação, (*quotas de produção, acesso administrativo a divisas, autorizações discricionárias), etc. 5. Alterações da produtividade gerados por alterações no capital e no trabalho (* organização e tecnologia) e novos produtos (* implica considerar um produto em todas as componentes associadas ao marketing com excepção do preço: características físicas, funcionalidade, embalagem, serviço associado, instalações associadas, etc). Escola Clássica (anos 1980) (* Até aqui, a economia clássica, de Nelson e Plosser, tinha caminhado bem, tomando como base a observação e mantendo estreita relação com a realidade). Porém, nesse mesmo ano, Lucas lança o desafio a dois economistas teóricos, Kydland e Prescott (1982) para que desenvolvam uma economia fictícia capaz de imitar as principais características das economias reais. (* Os factos são substituídos por preconceitos e a falta de correspondência com a realidade substituída pela pretensa exactidão do formalismo matemático). Escola Clássica (anos 1980) A economia artificial consiste em agentes optimizados que actuam sem fricções num mundo de concorrência perfeita (*modelo walrasiano do tipo Arrow-Debreu) sujeito a choques repetitivos na produtividade (* Nelson-Plosser) com as seguintes características: 1. Agentes representativos optimizados que procuram maximizar a sua utilidade (famílias*) ou lucro (produtores) sujeitos às restrições dos seus recursos (ei + ∑j θijYj) - (* Walras) (*famílias no sentido de “household” - economia doméstica) Escola Clássica (anos 1980) 2. A flexibilidade de preços assegura o saldar contínuo dos mercados de tal forma que a economia se encontra num estado permanente de equilíbrio geral (* Walras) 3. Não existem fricções ou custos de transacção (* Walras) 4. A política monetária é irrelevante não tendo influência nas variáveis reais, ie, a moeda é neutra (*Walras) Escola Clássica (anos 1980) 5. os agentes criam expectativas racionais e não existem assimetrias de informação – todos têm informação semelhante. Apesar dos preços esperados serem, tendencialmente, iguais aos reais os agentes podem ter problemas de captação dos sinais e têm que decidir se um choque, em particular, é temporário ou permanente. (*Lucas) 6. As Flutuações no PIB e emprego são determinadas por alterações tecnológicas (*Nelson-Plosser) Escola Clássica (anos 1980) 7. Choques exégenos que afectam a tecnologia actuam como um mecanismo de impulso, sendo transmitidos à economia através de mecanismos de propagação: consumo e tempo de trabalho intertemporal, prazos de investimento, etc (*Lucas-Prescott) 8. As flutuações do emprego reflectem alterações voluntárias do número de horas de trabalho. Trabalho e lazer são perfeitamente substituíveis no tempo (*Lucas- Prescott) Escola Clássica (anos 1980) Neste modelo desaparece a distinção entre curto e longo prazo na análise das flutuações económicas e tendência. Pelas características acima pode ver-se que as principais alterações relativamente ao MEBCT são: (i) no impulso dominante, com os choques na tecnologia a substituirem os choques monetários; Escola Clássica (anos 1980) (ii) o abandono do ênfase dado à informação imperfeita no que diz respeito à inflação que desempenhou um papel relevante em Lucas; (iii) o fim da dicotomia em entre curto e longo prazos integrando crescimento e ciclos. Escola Clássica (anos 1980) A função de produção clássica é válida: Yt = At F( Kt , Lt ) (6.3) A evolução do parâmetro tecnologia At, é aleatória e toma a forma seguinte: At+1 = ρAt + εt +1 | 0 < ρ < 1 (6.4) Onde ρ é próximo de 1 e ε é a perturbação tecnológica aleatória O nível de tecnologia de um dado período depende do nível tecnológico do período anterior e de perturbações aleatórias Escola Clássica (anos 1980) O comportamento do consumidor é dado por: Ut = f(Ct,Let), | f ′(Ct )>0 e f ′( Let) > 0 (6.5) Onde Ct representa o consumo e Let as horas de lazer. O objectivo do agente consiste em maximizar a soma das suas utilidades, presentes e futuras, actualizadas, num horizonte infinito Escola Clássica (anos 1980) A função a maximizar é dada por:
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