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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI CAMPUS: PROFESSOR ANTÔNIO GIOVANNE ALVES DE SOUSA – PIRIPIRI CURSO: BACHARELADO EM DIREITO PERÍODO: 2019.1 DISCIPLINA: HISTÓRIA DO DIREITO PROFESSORA: THAMIRES CARLA DE MELO OLIVEIRA ESTUDANTE: ADAILSON PINHO DE ARAÚJO PIRIPIRI, 01 DE ABRIL DE 2019. A DEMOCRACIA ATENIENSE 1. INTRODUÇÃO O ser humano é um ser eminentemente político e social. Uma demonstração verídica da afirmação anterior pode ser aquela adquirida através do estudo da História da Política, em especial a política desenvolvida na Grécia Antiga, berço da filosofia como se conhece hodiernamente. O homem sempre teve a necessidade de se organizar socialmente para estabelecer uma forma de governo a fim de gerir suas cidades, reinos e impérios. A consequência de tal necessidade desencadeou inúmeras maneiras de se governar na Antiguidade e além, seja em um regime teocrático (quando o poder legítimo vem da vontade divina), ou monarquias hereditárias ( quando o poder é transmitido de geração a geração e mantido pela força da tradição); governos aristocráticos (apenas os melhores exercem a função de mando) – e até mesmo um regime democrático, quando o poder nasce da vontade popular. Na conjuntura hodierna, em que a democracia e a política são o cerne da sociedade brasileira, todos empregam a palavra política ou democracia durante o dia a dia. Por exemplo, para alguém muito intransigente aconselha-se ser “mais político”; para alguém que não costuma aceitar o contraditório diz-se “seja mais democrático”; refere-se também corriqueiramente à “política” da empresa, da Igreja, da escola, como expressões da estrutura do poder interno. Em alguns casos, a democracia, neste país, é interpretada apenas à votação que há a cada quatro anos, na qual se elegem presidente, deputados, senadores, prefeitos, vereadores.... Mas afinal, onde se inventou a democracia, do que ela trata dentro do espectro político? 2. UMA REFLEXÃO SOBRE A DEMOCRACIA ATENIENSE A palavra democracia é formada por dois termos de origem grega: démos e kratía. Em um sentido mais primitivo, aquela designava os diversos distritos que constituíam as dez tribos em que a cidade de Atenas fora dividida pelo legislador Clístenes, no século VI a.C. Posteriormente, passou a significar genericamente “povo” ou “comunidade de cidadãos”. Já o último termo deriva de krátos, “governo”, “poder”. Desse modo, a democracia significa, basicamente, “governo do povo”, “governo de todos os cidadãos”. Trata-se de uma invenção dos gregos que, além da elaboração teórica do sistema democrático inicial, o implantaram em sua própria pólis Atenas. Mas nem sempre foi desse modo. Na verdade, anterior ao implemento da democracia ateniense, tal cidade-estado era controlada por uma elite aristocrática e oligárquica, chamada de “bem-nascidos” que detinham o poder político e econômico ali. Com o advento do surgimento de outras classes sociais – que pretendiam participar também da vida política – a elite local reviu a organização política, o que mais tarde resultou a implementação da democracia. Flávia Lages de Castro, em seu livro História do Direito: Geral e Brasil1, acrescenta que esse processo de abertura para a participação política nem sempre foi tranquilo: A crise era grave, porque a aristocracia não tinha mais o monopólio de armas. Com a introdução de armas mais baratas, os pobres puderam armar-se também, participar do exército e, porque não, exigir também maior participação política. No meio dessa luta entre os dois partidos, um aristocrata, de nome Cílon (em 623 a.C.), tentou tomar – sem sucesso – o poder à força e, como a resposta do Partido Popular foi imediata, a oligarquia se viu obrigada a lhes oferecer, para acalmá-los, reformas. (CASTRO, 2010, p. 80) De tal maneira, por volta de 510 a.C a democracia surge na cidade grega através da vitória de Clístenes, chamado de o “Pai da Democracia” porque liderou uma revolta popular contra Hípias, último tirano grego. 1 CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito: Geral e Brasil. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010. 576 p. Posteriormente, a ágora – uma espécie de praça pública – se tornou o local de encontro para todos os cidadãos, onde se exercitava a arte do debate, de discutir os problemas da cidade. Não somente havia instituições políticas e democráticas, como também os tribunais da época, o templo e o mercado, para as transações comerciais. Interessante é de se notar que mesmo depois de duzentos anos da morte do filósofo Aristóteles, os atenienses ainda seguiam seu pensamento político, no qual, em síntese, dizia que o homem normal é um zoon politikon, ou seja, um animal (zoon) político (politikon), um ser que vive para a cidade, para a sociedade. Quem vivia isolado, ou era uma besta (totalmente animal) ou um deus (totalmente racional). Por conta disso, havia uma imensa participação popular nas assembleias da ágora, caracterizando uma democracia direta especial em Atenas. Nesse sistema de democracia direta, a população não delegava o seu poder de decisão. Ao invés disso, a própria população decidia diretamente sobre o que era de interesse público e administrava a cidade. Tal forma da democracia tendia a funcionar em locais com não muita população, como é o caso de Atenas. Considerando o exposto, resta-se perguntar: Onde é o lugar do poder na democracia ateniense? Segundo Marilena Chauí2, em sua obra Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas, as determinações constitutivas do conceito de democracia são as ideias de conflito, abertura e rotatividade (CHAUÍ, 1980, p. 156). • Conflito: refere-se à divergência de ideias expostas nas assembleias. A democracia deveria respeitar os discursos contrários e admitir uma heterogeneidade; • Abertura: a informação deve circular livremente e a cultura não mais deve ser um privilégio; • Rotatividade: o poder na democracia não deve privilegiar nenhum grupo ou classe, mas sim permitir que todos os setores da sociedade sejam legitimamente representados. Por último, se faz necessário elencar as principais características da democracia ateniense, ademais daquelas citadas por Marilena Chauí. Além de ser uma democracia direta, a forma de governo ateniense se destacou por inaugurar 2 CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: 1980. p. 156. reformas politicas e sociais para as demais classes, fazer uma reformulação na Constituição de Atenas, e criar a isonomia como o pilar da sociedade, bem como a isocracia (igualdade de acesso aos cargos públicos) e a isegoria (igualdade para falar nas assembleias). 3. CONCLUSÃO Expôs-se aqui algumas reflexões sobre a democracia ateniense, que é o berço daquela praticada hodiernamente, inclusive no Brasil. Embora a democracia seja a antítese de todo o poder autocrático, o exercício do poder muitas vezes perverteu-se nas mãos de quem o detinha. Basta observar as dificuldades que a democracia grega enfrentou para se consolidar naquela sociedade, frente a tantos poderes oligárquicos e de desrespeito às decisões do povo. Nunca foi fácil manter a democracia, nem em Atenas do século V a.C e nem agora, no século XXI d.C. 4. REFERÊNCIAS CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito: Geral e Brasil. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010. 576 p. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Política: para quê? In:ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 5. ed. São Paulo: Moderna, 2013. Cap. 17. p. 220-227. CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: 1980. p. 156.
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