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Reciclagem de fios e cabos 
isolados com PVC 
Por Miguel Bahiense Neto, 
Engenheiro Químico e Assessor Técnico do Instituto do PVC. 
 
Material separado após reciclagem 
A preocupação com o meio ambiente é uma nova exigência da sociedade moderna 
que se refletiu imediatamente numa postura mais atenta da indústria em geral. A 
variável ambiental passou a ser fundamental também para a sobrevivência dos 
negócios. Trata-se da produção e, porque não, do consumo com responsabilidade. 
No passado, a fumaça saindo de uma chaminé era um símbolo de desenvolvimento 
de uma cidade, e o cidadão não se preocupava com o meio ambiente. Hoje a 
percepção é muito diferente, uma vez que a ciência já mostrou ser necessário 
controlar as emissões de todos os tipos e a sociedade percebeu que, além da 
necessidade de usar os bens de consumos e duráveis, ela precisa da natureza para 
ter melhor qualidade de vida. 
Fios e cabos e o meio ambiente - Considerando esse posicionamento, a reciclagem 
ganhou força e passou a ser uma das formas mais importantes de contribuição para 
a preservação ambiental. Percebeu-se a real necessidade de se economizar 
recursos naturais e de reciclar resíduos, entre eles os resíduos de fios e cabos. Esta 
também é uma postura recente, visto que ainda persistem práticas incorretas e 
condenáveis, como a queima descontrolada do resíduo para aproveitamento do 
metal, que elimina o plástico que o envolve em vez de também reaproveitá-lo. De 
outro lado, no passado, apenas alguns recicladores separavam o PVC mas não o 
reciclavam, destinando-o a aterros sanitários. Hoje isto está mudando rapidamente 
devido principalmente à percepção do valor agregado ao plástico. 
A oportunidade de negócio - Havia também o prejuízo econômico, pois o PVC 
poderia, desde que separado corretamente, ser reciclado, ao invés de ser destruído 
ou jogado fora sem que se permitisse qualquer ganho financeiro. Esse mercado 
está sendo descoberto por dois tipos de empresas. Primeiro, o próprio reciclador de 
metais, que percebeu as vantagens da reciclagem do PVC e que bastaria investir 
em máquinas para ter um ganho suplementar. A “nova” empresa passaria então a 
ter um consumo cativo de PVC, pois o rejeito da recicladora de metais passaria a 
ser matéria-prima para a recicladora de PVC. Segundo, por empresas que 
compravam o PVC separado pelos recicladores de metais. Com isso, os processos 
de separação plástico - metal passaram a ser mecanicamente aprimorados, levando 
a vantagens econômicas e ambientais com o conseqüente desenvolvimento do 
mercado de reciclagem de fios e cabos isolados com PVC. 
Os fios e cabos, devido a suas características particulares como item de segurança, 
continuarão a ser fabricados com materiais “virgens”. O uso de PVC reciclado na 
isolação de condutores elétricos pode levar a um produto com menor isolamento 
elétrico e a uma menor resistência térmica. Porém, após sua utilização, os fios e 
cabos poderão ter o PVC reciclado na fabricação de solados e calçados, manoplas, 
mangueiras, laminados, etc. 
Fontes de resíduos de fios e cabos - No Brasil, cerca de 8% da resina de PVC 
fabricada é destinada à produção de fios e cabos, o que significou, em 2000, um 
consumo aproximado de 58 mil toneladas. São produtos cuja vida útil média está 
em torno dos 15 anos, ou seja, um produto novo demora esse tempo para chegar a 
um aterro sanitário ou mesmo a estar disponível para a reciclagem. Esse “delay” 
entre produção e destinação do resíduo dificulta a obtenção de uma taxa de 
reciclagem de fios e cabos mais exata. Apesar disso, a reciclagem existe e tende a 
crescer devido à necessidade cada vez maior de controlar, tratar ou destinar os 
resíduos a locais compatíveis com sua característica físico-química. 
São dois os tipos de resíduos de fios e cabos: 
 Resíduos pré-consumo: são as aparas industriais originadas na indústria 
de fios e cabos; 
 Resíduos pós-consumo: gerados por empresas que utilizam fios e cabos 
para fazer instalações de redes, públicas ou não, elétricas, telefonia, TV a 
cabo ou geradas também por empresas que montam equipamentos eletro-
eletrônicos, automóveis, etc., além dos originados durante reformas, 
reinstalações das redes citadas, conserto de equipamentos em geral que 
utilizam os fios e cabos, produtos em final de vida útil quando são 
descartados, etc. 
Esses resíduos despertam o interesse dos recicladores devido às diferentes 
possibilidades que podem oferecer ao processo de reciclagem. A origem e o estado 
de conservação (limpeza, por exemplo) dos resíduos definirá o valor de mercado e 
também algumas características dos produtos reciclados. Os resíduos de fios e 
cabos gerados antes de chegar ao consumidor são os que despertam maior 
interesse, tendo por isso um preço mais elevado, por ser um material geralmente 
limpo e pré-selecionado, o que facilita e muitas vezes evita duas etapas da 
reciclagem (a lavagem e a secagem do PVC). Os resíduos pós-consumo também 
podem ser reciclados sem problemas, mas se por um lado exigem algumas etapas 
a mais para seu processamento, por outro tem menor preço no mercado. 
Tipos de separação do PVC - Existem dois processos mecânicos para a separação 
PVC - metal condutor. Tratam-se da moagem automatizada dos fios e cabos e do 
corte longitudinal destes. 
O processo de moagem automatizada é aplicado em fios e cabos com diâmetros 
menores, onde o corte longitudinal não seria adequado. A sucata, depois de moída, 
é jogada em uma cama vibratória ligeiramente inclinada, onde corre água. A 
vibração da cama empurra o metal para a extremidade mais alta, caindo em um 
reservatório. A água, por sua vez, escorre para a extremidade mais baixa 
carregando o PVC e completando a separação. Caso a sucata contenha outro 
polímero, além do PVC (como o Polietileno que chamaremos de PE), ambos serão 
carregados pela água, separando-os do metal, mas será necessário uma outra 
etapa para separação do PVC e do PE, através de diferença de densidade. Após o 
banho, a etapa seguinte é a secagem do PVC para que seja reciclado 
mecanicamente. 
Já o processo de corte longitudinal exige fios e cabos mais grossos e consiste na 
passagem de um sistema de facas longitudinalmente, fazendo um corte no plástico, 
separando o metal do PVC. 
A diferença básica apresentada nos resultados dos processos é a pureza do PVC 
separado. O processo de moagem, caso não seja bem feito, pode gerar um PVC 
com algum teor de metal, sendo necessário seu reproces-samento. Já os outros 
dois processos permitem índices de impurezas (metal em PVC) praticamente nulos. 
A reciclagem mecânica do PVC - Após separado, o PVC pode ser reprocessado 
sozinho ou misturado a diferentes quantidades de resina virgem ou mesmo a outras 
resinas, para produzir vários produtos de “segunda geração”. O resíduo de PVC 
também pode sofrer a incorporação de aditivos como plastificantes, estabilizantes e 
outros. A reciclagem do PVC já separado pode ser subdividida em: 
 Moagem, lavagem e secagem; 
 Mistura/aglutinação; 
 Extrusão e granulação; 
 Transformação em um produto acabado por processos convencionais de 
conformação. 
Os produtos originados no processo de reciclagem de fios e cabos de PVC são 
necessariamente flexíveis, portanto pode ser necessário a adição de plastificantes, 
que tem como objetivo promover um ajuste na dureza do produto a ser obtido, 
deixando-o mais flexível ainda, quando necessário. 
Uma vez que o PVC já foi separado do metal condutor, uma nova etapa de moagem 
pode ser necessária, especialmente para o PVC separado pelos processos de corte 
longitudinal ou de pressão pneumática. O PVC moído poderá sofrer uma lavagem, 
indispensável no caso de se reciclar fios e cabos pós-consumo.Resíduos do tipo 
pré-consumo podem dispensar esta etapa com mais freqüência, pois geralmente 
estão limpos, o que normalmente não acontece com os resíduos pós-consumo. 
Caso seja necessário acrescentar aditivos, resina de PVC virgem ou mesmo 
diferentes tipos de sucata, devemos ter uma etapa realizada em um equipamento 
chamado misturador (ou aglutinador), que tem duas funções. Primeiro aumentar a 
densidade aparente (massa/volume) da mistura devido à aglomeração das 
partículas causada pela elevação da temperatura do meio. Tal elevação ocorre por 
causa do atrito entre as partículas e as facas do equipamento que realizam a 
mistura, tendo como conseqüência sua homogeneização. Segundo retirar eventual 
umidade que tenha persistido mesmo após a etapa de secagem (quando realizada). 
Após essas etapas, o material está pronto para ser levado a uma extrusora, onde 
será processado. O produto obtido é chamado de “espaguete” de PVC reciclado, 
que tem o mesmo aspecto físico dos fios e cabos mas não possui o condutor 
metálico no seu interior. Ao sair da extrusora, esse espaguete entra em uma 
banheira com água fria para resfriá-lo. Após o banho ele é picotado em um 
granulador, originando o composto de PVC reciclado. Esses grãos (que devem ter 
diâmetro padronizado para facilitar o processo de transformação a que serão 
submetidos posteriormente) são ensacados, estocados e comercializados como PVC 
flexível reciclado. 
A última etapa é a obtenção do produto reciclado, que se dá por qualquer tipo de 
processo de transformação conhecido. Dependendo do produto que se deseja obter, 
os grãos serão transformados por injeção, extrusão, laminação, dentre outros 
processos, gerando reciclados tais como solados de calçados, manoplas, 
mangueiras, laminados em geral, etc. 
Conclusões - Além das vantagens sócio-ambientais decorrentes do correto 
tratamento desses resíduos, há também o ganho econômico que pode ser avaliado 
tanto do ponto de vista da empresa recicladora quanto da produtora de fios e cabos 
virgens. A recicladora passa a movimentar a economia, gerando empregos, abrindo 
negócios e utilizando um material que certamente teria como destino final os 
aterros sanitários, o que encerraria definitivamente quaisquer possibilidades de 
reaproveitamento. 
O Instituto do PVC lançou o CD-Rom “Reciclagem Mecânica do PVC: Uma 
Oportunidade de Negócio”, resultado de um estudo feito por especialistas da 
Universidade de São Paulo e da iniciativa 
privada.www.institutodopvc.org/cdromrec.htm. 
Para a área de fios e cabos elétricos, a Solvay Indupa do Brasil comercializa com 
exclusividade as resinas 265PY e S1100