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1
2
Temas em História da Arte
Universidade Federal de Viçosa
Reitora
Nilda de Fátima Ferreira Soares
Vice-Reitor
Demetrius David da Silva
CAMIASSA, Maria Marta dos S. - Temas em História da Arte. Viçosa, 2012.
Layout: Pedro Augusto
Edição de imagens e Editoração Eletrônica: Pedro Augusto
Capa: Pedro Augusto
Revisão Final: João Batista Mota
Diretor
Frederico Vieira Passos
Prédio CEE, Avenida PH Rolfs s/n
Campus Universitário, 36570-000, Viçosa/MG
Telefone: (31) 3899 2858 | Fax: (31) 3899 3352
3
O que é arte?
a histOriOgrafia da arte
O COnCeitO de arte Medieval
renasCiMentO
COnCeitOs de arte ClássiCa e nãO-ClássiCa
dO rOMantisMO aO MOdernisMO
a eduCaçãO pela arte
suMáriO
5
9
14
17
19
23
28
4
Temas em História da Arte
Ementa
Temas em História da Arte, privilegiando aspectos socioculturais; a arte na 
pré-história; a arte medieval; a arte no período renascentista. O maneirismo, o 
barroco e o rococó e suas influências na arte colonial brasileira; os movimentos 
artísticos do período moderno e pós-moderno; arte e indústria cultural: a arte na 
era da globalização; as expressões das artes na era contemporânea.
Introdução
 A inclusão de uma disciplina de Temas em História da Arte em um curso 
de graduação de História visa fundamentalmente ampliar o campo de visão do 
futuro historiador, seja na docência, na pesquisa ou no trabalho profissional junto 
a instituições públicas ou privado. As artes, entendidas como uma expressão da 
cultura de uma sociedade, de um grupo social, enfim, como uma manifestação 
sociocultural, fazem parte do processo histórico. Desde as pinturas rupestres 
às formas mais contemporâneas de expressão artística, fazendo uso de toda 
tecnologia disponível na atualidade, são não apenas uma interpretação da visão 
de mundo. Elas mesmas promovem mudanças no indivíduo, na sociedade, no 
modo de ver o mundo, de ver o outro, de interagir. A proposta de entender os 
pressupostos da produção artística em vários momentos históricos pretende 
assim, apenas de forma introdutória, promover a interdisciplinaridade no curso 
de licenciatura de História à Distância da UFV e preparar os docentes (de hoje 
e do futuro) para atividades acadêmicas com uma bagagem cultural ampla e 
variada. 
Objetivo
Introduzir temas variados sobre a produção artística ao longo dos séculos e 
ao mesmo tempo fazer uma reflexão sobre a escrita da própria história da arte, 
como um campo do conhecimento. O enfoque a ser dado durante as aulas é o 
do conhecimento de uma produção artística desenvolvida a partir das relações 
sociais e culturais em várias partes do mundo, tomando o mundo ocidental 
como um recorte pré-estabelecido.
5
Texto-base: BURKE, Peter. Culturas populares e culturas de elite. 
Revista Diálogos, Maringá, v. 1, n. 1, 1997, p. 1-10. Disponível em 
http://www.dhi.uem.br/publicacoesdhi/dialogos/volume01/Rev_
a01.htm, acessado em 31.jul.2011.
Objetivo: entender alguns conceitos sobre a produção artística e sobre a 
arte em si.
Referenciais teóricos:
- Sir Ernst H. Gombrich (austríaco, 1909-2001): A História da Arte (orig. 
publ. em 1950)
Nada existe realmente a que se possa dar o nome Arte. Existem somente 
artistas. […] Não prejudica ninguém dar o nome de arte a todas essas 
atividades, desde que se conserve em mente que tal palavra pode significar 
coisas muito diversas, em tempos e lugares diferentes, e que Arte com A 
maiúsculo não existe. (GOMBRICH, c1999, p. 15)
- Jorge Coli: O que é arte (orig. publ. em 1981)
Para decidir o que é ou não arte, nossa cultura desenvolveu instrumentos 
específicos. Um deles, essencial, é o discurso sobre o objeto artístico, ao qual 
reconhecemos competência e autoridade” (COLI, 1981, p. 10)
A periodização:
Como ponto de partida, pergunta-se:
•	 O que faz com que se possa dizer que essa 
(fig.1) é uma obra renascentista?
•	 Como olhar uma obra e poder afirmar que 
ela é representativa de um determinado período 
histórico?
•	 O que faz um objeto ser reconhecido como 
uma obra de arte?
E. H. Gombrich: argumenta que o termo “arte” 
não é definitivo. Ele pode ter significados diferentes 
para diferentes culturas, em tempos e locais distintos.
Jorge Coli: escreve, sem discordar de Gombrich, 
que foram desenvolvidas ferramentas específicas 
para dizer se uma obra é (ou não é) arte, cujo discurso 
é proferido pelos especialistas, ou seja, o historiador 
da arte, o crítico de arte, o curador de exposições e 
diretores de museus, dentre outros.
A composição formal e os temas pictóricos
O desenvolvimento de técnicas especiais pode ser constatado ao verificar o 
domínio da perspectiva, a fabricação de tintas e aparatos técnicos, para fazer uma 
composição precisa da cena com contornos bem ou mal definidos, dependendo 
da linguagem adotada.
O que é arte?
E.H. Gombrich e Jorge Coli
Capítulo 1
(fig.1) Detalhe de Anun-
ciação. Leonardo da Vinci, 
1475-78. (Fonte: GÊNIOS 
da Pintura. Leonardo da 
Vinci. São Paulo: Victor Ci-
vita, 1967. v. 2, p. iii)
6
Temas em História da Arte
No quattrocento (fig.2), a composição é estática 
e fechada em si mesma. Isso significa que nenhum 
outro elemento podia ser incluído sem perturbar a 
composição.
Já no século XVII, as pinturas aparecem com uma 
nova forma de montar a composição das figuras. Há 
um continuum nas imagens, nas cores, nas figuras da 
cena que chega a extrapolar o tamanho do quadro.
Esse período é chamado de Barroco.
No quadro de Rubens (fig.2), cada figura parece 
estar em movimento. A composição continua 
sem limites precisos da cena retratada. O quadro 
transmite ao mesmo tempo um sentimento de dor 
e de glória.
No século XIX, os pintores chamados de 
Impressionistas estavam interessados na qualidade 
e na quantidade de luz em cada cenário e suas 
pinturas eram feitas, em geral, ao ar livre. Em um 
quadro de Manet (fig.3), pintor francês, a claridade 
é resultado de um dia certamente muito ensolarado. 
Os edifícios e os mastros no Grande Canal da cidade 
de Veneza se refletem na água e ainda refletem 
sombra na murada ao fundo. Observa-se ainda que 
o céu está claro e refletido na água com um tom 
azulado.
Esse movimento artístico teve representantes 
em várias partes da Europa. Na Inglaterra, Joseph 
William Turner (fig.4) foi um dos principais artistas, 
aliás, um pioneiro. Ele e outros ficaram famosos por 
produzir séries de pinturas com o mesmo tema e, às 
vezes, mesmo cenário (por exemplo, a vista de uma 
igreja, de uma paisagem 
ou de um ambiente 
urbano), em dias, horas 
e estações diferentes, só para estudar e explorar os 
efeitos climáticos e da incidência solar natural sobre 
os elementos da paisagem. Analisando as obras desse 
movimento, vê-se que as figuras não são tão bem 
delimitadas como na Renascença, mas também não 
são difusas como em pinturas nas obras barrocas. As 
pinceladas dos Impressionistas parecem grosseiras e 
rápidas, pois a luminosidade solar é inconstante: a 
cada minuto, uma nova luminosidade, e o registro 
precisa ser fiel.
Pergunta-se, então: O que é o estilo? Os artistas sempre tiveram que optar 
entre a adoção de um movimento e outro?
Entre o título dos movimentos e a história da arte, houve uma classificação 
feita pelos historiadores. Termos como “gótico”, “românico” ou “barrocos” são 
resultado de uma classificação criada pelos historiadores e críticos da arte. 
Na verdade, nem sempre foi uma questão de opção. Havia uma corrente 
dominante e artistas eram levados a produzir conforme a visão de mundo 
daquele momento histórico, em alemão chamada de zeitgeist, que significa 
(fig.2) Virgem e Menino entronizados com 
santos. Peter Paul Rubens, c.1627-8. (Fon-
te: GOMBRICH, c1999, fig. 256)
(fig.3) O Grande Canal de Ve-
neza. Manet, 1875. (Fonte: 
Manet. A era dos Impressio-
nistas, fig. 42)
(fig.4)Mar em tempestade. Joseph William 
TURNER, c.1840. (Fonte: ARGAN, 1996, p. 39)
7
“espírito de uma época”. Foi somente nos últimos 
séculos que surgiu uma diversidade de correntes, 
contemporâneas entre si, a partir das quais cada 
artista se filiava, por livre escolha. Deve-se lembrar 
também que não é necessariamente uma filiação. 
O surgimento de novas correntes dependia, e ainda 
depende, de inovações, de ideias criadoras e cabe 
a cada artista fazer a sua proposição. Um desses 
exemplos foi uma vanguarda do final do século XIX 
chamada de “fauvismo” pelo fato de representar 
qualquer temática com manchas muito coloridas, 
ainda que em paisagens e objetos. Gauguin foi um 
de seus representantes na França (fig. 5).
Outra vanguarda foi criada por Marcel Duchamp: em 1913, ele expôs uma de 
suas obras intitulada “Roda de Bicicleta”. A esses objetos se convencionou chamar 
de ready-made1. Essa expressão na língua inglesa se refere ao uso artístico de 
produtos que já estão prontos para o consumo seja por usuários necessitados 
daquele objeto ou por artistas na sua atividade artística. O uso desses objetos 
como “obra de arte” em si, ou o objeto artístico em sim mesmo, pretendia levar 
o espectador a refletir sobre seu tempo, sobre sua realidade. Observem que, 
nesses casos, ela não é a representação de um objeto – é o próprio objeto 
em exposição. As histórias em quadrinhos também serviram como fonte de 
inspiração para a produção artística, além de serem elas mesmas uma forma 
própria de arte.
Outra forma de arte parte de símbolos reconhecíveis por grupos sociais 
ou culturas específicas. William Blake, pintor inglês do século XVIII, foi um dos 
seus maiores representantes. Gombrich (c1999) afirmou que quando as tribos 
africanas faziam suas máscaras, seus totens, eles não achavam que estavam 
produzindo um objeto de arte, de acordo com as concepções da civilização 
ocidental. Esses objetos passaram a ser de interesse dos arqueólogos, dos 
etnólogos, dos historiadores, dos geógrafos e mesmo dos artistas que viam 
nesses objetos uma expressão especial de um grupo social ou de uma cultura. 
Nos dois últimos séculos, artistas ocidentais ou orientais começaram a perceber 
o valor artístico desses objetos.
Em outro viés, movimentos políticos diversos fizeram (e ainda fazem) uso 
da arte como propaganda de seus ideais. Na época da Revolução Bolchevique, 
na Revolução Mexicana e em outras manifestações políticas, muitos foram os 
artistas que se envolveram e ainda assim desenvolveram formas de expressão 
artística que corroborassem com os objetivos propostos.
Considerações Finais
Voltando aos autores-título desta unidade, pode-se afirmar que:
- Para Jorge Coli: o importante não é definir a arte em si, mas verificar a 
relação que existe entre a obra de arte, o artista e o espectador;
- Para Sir Gombrich: o importante é entender que sempre haverá razões 
infundadas para não se gostar de uma obra de arte.
Desde os tempos mais remotos, os homens tiveram necessidade de 
expressar suas ideias, conceitos, mitos, vontades, por meio de várias formas: na 
fala, na escrita, nas artes visuais, mas sempre com relação entre seu cotidiano e 
sua representação, ou seja, sua cultura.
1 Em francês, se diz “déjà vu”.
(fig. 5) Paisagem na Bretanha. Paul Gauguin, 
c.1887. (Fonte: COSTA CLAVELL, p. 44)
O que é arte?
8
Temas em História da Arte
Nesta primeira unidade focalizou-se a arte, em especial nos exemplos de 
pinturas, com algumas exceções para os “ready-made” de Duchamp e a máscara 
africanas. Porém, as artes têm outros meios de expressão: a arquitetura, a 
música, a literatura, a caricatura, a ilustração e tantos outros. Alguns deles serão 
discutidos nas próximas unidades.
Como complemento desta unidade e preparação para a próxima, sugere-
se a leitura do texto de autoria de Peter Burke, historiador inglês, sobre cultura 
erudita e cultura popular. Seu objetivo é destacar o surgimento do campo da 
história da cultura em que a historia da arte está inserida.
Exercício Prático:
Como o autor Peter Burke (1997) escreve, fazer história “significa não só falar 
de grandes igrejas ou palácios”, mas também “de jardim, de mesa, de cadeira, de 
cultura material [...]”. Nesse sentido, procure explicar a distinção feita pelo autor 
Burke entre a cultura erudita e a popular e ao mesmo tempo tenta chamar a 
atenção para essa especialização no campo de conhecimento dos historiadores.
Referências Bibliográficas
ARGAN, G. C. Arte Moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. 
Trad. Denise Bottmann e Federico Carotti. 4. reimp. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1996.
COLI, J. O que é arte. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. Col. Primeiros 
Passos, v. 46.
COSTA CLAVELL, J. Gauguin. In: GÊNIOS de la Pintura. Barcelona: Mundilibro, 
1974.
GÊNIOS da Pintura. Leonardo da Vinci. São Paulo: Victor Civita, 1967. v. 2.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, c1999.
MANET (1832-1883). A Era dos Impressionistas. Madri: Globus, 1994.
9
A historiografia da arte
De Vasari a E. H. Gombrich e G. C. Argan
Capítulo
Texto-base: FERNANDES, Cássio da Silva. As contribuições de Jacob 
Burckhardt ao Manual de História da Arte de Franz Kugler (1848). 
Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 25, n. 49, p. 99-124, 
2005. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
01882005000100006&script=sci_arttext, acessado em 31.jul.2011.
Objetivo
Apresentar de forma sucinta a formação de uma historiografia sobre o 
campo da produção artística, desde as civilizações greco-romanas até meados 
do século XX.
Referenciais teóricos:
ARGAN, Giulio Carlo. Preâmbulo ao estudo da História da Arte. In: ARGAN, 
G. C.; FAGIOLO, Maurizio. Guia de História da Arte. Lisboa: Estampa, 1994. Col. 
Teoria da Arte, v. 8.
Introdução
Na última unidade, foram discutidos alguns conceitos de arte do ponto de 
vista de dois autores – Sir Gombrich e professor Jorge Coli. No texto indicado 
para leitura naquela aula, seu autor Peter Burke, professor e historiador na 
Universidade de Cambridge (Inglaterra), defende o novo campo da história: 
aquela da história das culturas. Nesse artigo, Burke sintetiza o conteúdo de seu 
livro O que é história cultural?, traduzido para o português pela Editora Zahar 
em 2005. Embora o artigo não trate especificamente do assunto da história da 
arte, ele o insere em uma abordagem ampla das tendências historiográficas 
contemporâneas.
Por outro lado, não se pode afirmar que existe uma única história, seja ela 
no campo que for, e é assim com a história da arte. Na presente unidade, serão 
apresentados alguns dos principais historiadores das artes, assim como sua 
origem e alguns pontos polêmicos. A fonte de consulta foi o “Preâmbulo” de 
Argan, que faz parte do livro intitulado Guia de História da Arte e que conta 
com um “Guia Bibliográfico”, organizado por Maurizio Fagiolo, publicado na Itália, 
em 1977, e traduzido para o português, em 1992.
Argan era italiano e escreveu inúmeras obras. Alguns de seus livros mais 
conhecidos são:
•	 Arte Moderna, publicado originalmente em 1988;
•	 História da arte como história das cidades, publicado pela primeira 
vez em 1984; e,
•	 Clássico Anticlássico, também publicado originalmente em 1984.
Ele exerceu um papel importante no meio cultural e político, tendo sido 
prefeito da cidade de Roma (1974-1979) e senador (1981-1992), ano de seu 
falecimento1.
1 A maioria dos dados biográficos desses historiadores foi obtida através do site www.
dictionaryofarthistorians.org
2
10
Temas em História da Arte
Algumas premissas
O autor faz uma distinção entre a história da arte, a crítica de arte e a estética. 
Embora as artes plásticas e as artes aplicadas tenham s ido desde as origens uma 
forma de expressão, a escrita de sua história é recente.Seus primeiros passos 
datam da Idade Moderna. A estética trata das teorias da produção artística. 
Aristóteles escreveu sobre estética, a crítica, mais recente, é uma forma de 
avaliação das artes. Argan dá uma explicação bastante elucidativa:
O crítico é propriamente um perito [...] que, aprofundando o exame, reconhece 
na obra que estuda caracteres e processos que a aproximam das obras 
certas de um determinado período, de uma certa escola, de um certo mestre. 
(ARGAN, 1992, p. 16)
Para Argan, é fundamental que o crítico de arte conheça a história da arte. 
Lionello Venturi, que foi professor de Argan, escreveu a História da Critica de 
Arte (1936) e é uma referência universal para a arte ocidental. O que difere 
fundamentalmente a história da arte da critica de arte é o juízo crítico. Venturi 
afirma que:
Sem este contínuo retorno às origens, ao impulso intuitivo, ao contato com a 
obra de arte, contato de homem para homem, de espírito para espírito, fora 
dos limites impostos pela tradição, não seria possível a criação de uma nova 
crítica. (VENTURI, p. 38)
O Brasil teve, e ainda tem, excelentes críticos de arte. Mário de Andrade e 
Mário Pedrosa ainda são alguns dos mais conceituados e respeitados em todo 
o século XX. Monteiro Lobato, além de escritor e pioneiro na indústria editorial 
no país, também foi um crítico respeitado. No presente, Jorge Coli escreve 
regularmente em jornais de circulação nacional2.
As categorias das artes:
- artes maiores: pintura, escultura e arquitetura;
- artes menores: outras formas de arte, chamadas de “aplicadas”, 
ornamentos em madeira, cantaria, ferragens, etc.
Essas categorias provêm do desenvolvimento das artes desde a Idade Média, 
quando as corporações de ofícios se especializavam na produção dos mais 
diversos artefatos. Hoje é mais comum o uso do termo das “artes aplicadas”.
Entre a história e a estética da 
arquitetura
No campo da arquitetura - que hoje é classificada 
no Brasil como uma ciência social aplicada -, muito 
antes de se escrever uma história, eram escritos os 
tratados (fig.1). Esses tratados serviam para entender 
como as obras deveriam ser construídas sob o ponto 
de vista construtivo, temático e também estético. 
Mas servem também para o historiador entender a 
produção de uma determinada época.
O tratado conhecido mais antigo é o de Vitruvius 
(séc. I. a.C). Durante o Renascimento, seu tratado 
intitulado Os Dez Livros da Arquitetura era fonte 
obrigatória para os arquitetos da época. No campo 
das artes plásticas, um dos únicos tratados é o livro 
2 Outros dois nomes de críticos brasileiros da maior importância nos dias atuais são Ferreira Gul-
lar e Jacob Klintowitz. 
(fig.1) Frontispício da segunda edição do tratado 
de Marc-Antoine Laugier, Ensaio sobre Arquitetura 
(1753). (Fonte: In: LAUGIER, M.-A. An Essay on Archi-
tecture. Los Angeles: Hennessey & Ingalls, 1977.)
11
de Alberti Da Pintura (publicado em 1436), que contém explicações sobre as 
técnicas da perspectiva.
A escrita da história da arte
No Renascimento, um artista se dedicou a escrever a biografia de seus 
contemporâneos: Giorgio Vasari (1511-1574), cuja obra Vidas dos artistas foi 
publicada pela primeira vez em 15503. A segunda edição, lançada 18 anos depois, 
contém a biografia de aproximadamente 160 membros dessa comunidade, 
incluindo sua autobiografia e a de alguns artistas flamengos4. Observando 
a seleção de artistas fica evidente duas ausências: a arte medieval e a arte 
bizantina. Isso significa que lhe importava o presente e a Antiguidade Clássica.
Quais são, então, as fontes para a escrita da 
história da arte? Os documentos e registros são 
inúmeros. Mas o principal fato documental está 
nas obras, em si. Por exemplo, Piranesi não foi um 
historiador, mas suas gravuras (fig.2) retratam a 
situação em que se encontravam as obras romanas 
em sua época. Mais do que obras de arte, são por 
si mesmas documentos de seu olhar sobre a arte de 
Roma.
Os fatos ou documentos da história das artes 
estão nas coleções, nos acervos, nos resultados dos 
trabalhos dos arqueólogos, antropólogos, etnólogos, 
críticos de arte e outros profissionais.
Uma periodização da história da arte
Assim como na História Geral, a história [moderna e contemporânea] das 
artes tratou, segundo Argan (1992), de fazer uma divisão em períodos históricos:
- arte antiga ou Antiguidade Clássica;
- arte medieval;
- arte bizantina;
- arte renascentista.
Dentro dessas categorias ou entre elas, existem algumas que formam novos 
temas derivados de períodos de tempo e de localização geográfica. Exemplos:
- a arte etrusca desenvolvida na Itália foi contemporânea à Grécia Clássica, 
mas com um caráter próprio;
- a arte românica que se desenvolveu em várias partes da Europa Central 
pertence ao período medieval; e,
- os antigos – Mesopotâmia, Pérsia, Egito, etc.
Há dois autores importantes do século XIX nesse contexto: eles promoveram 
uma revolução na escrita da história da arte. A produção artística imediatamente 
anterior e imediatamente posterior ao Renascimento era, até então, considerada 
“inferior”. No entanto:
- Heinrich Wölfflin, historiador alemão, quebrou esse status com seus 
escritos Renascimento e Barroco (1888) e Arte Clássica (1903). 
3 Recentemente, foi editada nova versão em português. Ver: VASARI, G. Vida dos artistas. 
Trad. Ivoni Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
4 BULL, G. Introdução. In: VASARI, G. 1987, v. 1, p. 21.
(fig.2) Vista do Arco de Constantino e do Coli-
seu. Giovanni Battista Piranesi, c1750. (Fonte: 
PIRANESI. Valencia, Espanha: Consorcio dos 
Museos Valencianos, 1997. fig. 42)
A historiografia da arte
12
Temas em História da Arte
Em 1915, publicou Conceitos Fundamentais da História da Arte 
apresentando um método de análise da obra de arte a partir de cinco 
pares de elementos em uma composição formal;e,
- Aloïs Riegl, austríaco, escreveu Problemas do Estilo, defendendo a 
existência de uma “vontade de arte”, ou, no seu idioma, kunstwollen.
Confirmado por Argan, as obras barrocas passaram então a ser reconhecidas 
pelo seu mérito em promover “uma transformação radical das próprias 
estruturas da arte” (ARGAN, p. 33). Outro historiador, importante nesse contexto, 
foi Wilhelm Wörringer. Em 1911, ele publicou o livro intitulado A Arte Gótica, 
que é um dos resultados do que havia tomado conta de tantos intelectuais (e 
mesmo cientistas e governantes) há algum tempo. A busca de uma identidade 
fez surgir um interesse crescente pela história e foi nas artes e na arquitetura do 
período medieval que muitos europeus encontraram suas origens.
Antes de Wölfflin, Wörringer e Riegl, outro historiador trouxe à tona uma nova 
maneira de escrever a história da arte. Trata-se de Jacob Burckhardt. De origem 
suíça, foi aluno de Franz Kugler, que se ocupava de escrever, na época, o Manual 
de História da Arte, cuja primeira edição saiu em 1842. Burckhardt escreveu 
A Civilização do Renascimento na Itália, publicada em 1860, que até hoje é 
leitura obrigatória. Conforme o artigo indicado para leitura desta unidade, esse 
livro marcou várias mudanças no discurso sobre as artes renascentistas. Um deles 
foi o estabelecimento de que houve um renascimento na cultura e, portanto, nas 
artes. Um fato importante também dessa nova abordagem é reconhecer que 
houve diferenças entre a os povos nórdicos e os italianos, naquele momento 
histórico.
Comentários Finais
O objetivo desta aula foi apresentar autores de referência mundial para os 
movimentos artísticos europeus mais distintos e, com isso, possibilitar o início da 
longa e tortuosa história da “história da arte”5. Argan, no final de seu texto, afirma 
que, hoje, o trabalho do historiador das artes está vinculado ao trabalho de 
vários outros profissionais: museógrafos, restauradores, arquivistas,etc. Dentre 
os historiadores contemporâneos, o autor-referência desta aula – Giulio Carlo 
Argan – é um deles, assim como Gombrich, tratado na última aula.
Exercício Prático:
Um dos principais meios de divulgação de críticas sobre a arte tem sido os 
jornais, mesmo os não especializados, uma vez que vários escritores fazem uso 
desse espaço para escrever suas crônicas, suas criticas e artigos de opinião. Tem 
sido assim nos jornais de maior circulação nacional. Procurem ler alguma crítica 
ou mesmo crônica de críticos de arte brasileiros (ex: Ferreira Gullar, na Folha de 
S. Paulo, ou Walter Sebastião, no Estado de Minas) e façam uma resenha crítica 
a respeito do texto lido.
Referências Bibliográficas:
ARGAN, G. C. Clássico Anticlássico. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
ARGAN, G.C.; FAGIOLO, M. Guia de História da Arte. Lisboa: Estampa, 1994. 
5 Dentre os historiadores da arte brasileira, temos Walmir Ayala e Walter Zanini além do 
francês Germain Bazin e do inglês John Bury.
13
Col. Teoria da Arte, v. 8.
DE LA CROIX, H.; TANSEY, R. G. Gardner’s Art through the Ages. 8. ed. 
Orlando, US: Harcourt Brace Jovanovich, [1986].
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, c1999.
NORWICH, J. J. Oxford Illustrated Encyclopedia of The Arts. Oxford: Oxford 
University Press, 1990.
SORENSEN, L. Argan, Giulio Carlo. In: Dictionary of Art Historians. Disponível 
em http://www.dictionaryofarthistorians.org/argang.htm, acessado em 
24.ago.2011.
VASARI, G. Lives of the Artists. Trad. George Bull. Harmmondsworth: 
Penguin, 1987. 2v.
VENTURI, L. A História da Crítica de Arte. Lisboa: Edições 70/Martins Fontes, 
[1984].
A historiografia da arte
14
Temas em História da Arte
Texto-base: PAULO ROBERTO SOARES DE DEUS: Programa 
iconográfico e regime do olhar na arte medieval. Textos de História. 
Revista do Programa de Pós-graduação em História da UnB, Brasília, 
v. 15, n. 1/2, nov. 2009. Disponível em http://www.red.unb.br/index.
php/textos/article/view/969/636, acessado em 31 Jul. 2011.
Objetivo: 
Fazer uma introdução ao estudo da arte e da arquitetura gótica, a partir de 
seus pressupostos teóricos e de um dos seus principais protagonistas para a 
formação de uma nova mentalidade.
Referenciais teóricos
Erwin PANOFSKY (1946): O Abade Suger de Saint Denis. O autor analisa 
as interpretações que Suger fez da escrita sagrada na reformulação da antiga 
abadia, durante sua direção de Saint Denis de 1122 até sua morte em 1151.
Periodização e localização geográfica
Segundo Gombrich (c1999), o estabelecimento do Império Bizantino trouxe 
alguns problemas para o novo Estado. Tendo passado o poder supremo à Igreja, 
os edifícios e sua decoração tiveram que ser redefinidos. Antigos templos tiveram 
que se transformar em basílicas para acomodar as assembleias dessa nova 
ordem. Já do lado ocidental, o desenvolvimento do cristianismo apresentou 
novas demandas artísticas e arquitetônicas.
Foco de interesse: a cidade de Paris, capital atual da França; mais 
especificamente: ao norte da cidade, a Abadia de Saint Denis. Durante o período 
carolíngio, foram implantadas abadias com um papel decisivo na ocupação 
cristã e um florescimento cultural. Na dinastia dos capetos: o surgimento de uma 
nova estética.
Quem foi o Abade SUGER
Proveniente de uma família humilde, ingressou no mosteiro ainda criança e 
seu espírito aberto proporcionou uma convivência harmoniosa com a nobreza. 
Considerava a Abadia seu lar, seu berço de criação.
A teoria de uma nova estética
Para Suger (cf. Panofsky), Deus não colocou toda uma riqueza natural no 
mundo sem um sentido especial. Assim, a relação entre o mundo material e 
o imaterial estava na maneira de interpretar o sentido da riqueza da própria 
natureza presente no mundo. Em sua abordagem anagógica, a passagem para 
o plano divino poderia ser representada pela luz. A compreensão da existência 
divina a partir da natureza – em primeiro lugar, de tudo que pudesse emanar luz 
– promoveu uma relação diferente dos fiéis com os elementos materiais. Sobre 
isso, Panofsky escreveu:
Cada coisa perceptível, feita pelo homem ou natural, torna-se um símbolo 
do que não é perceptível, um degrau na estrada do Céu; a mente humana, 
abandonando-se à “harmonia e radiância”, que é o critério de beleza terrestre, é 
então “guiada para cima”, em direção à causa transcendente dessa “harmonia e 
radiância” que é Deus. (PANOFSKY, 1991, p. 171)
Vem daí a difusão do uso de vitrais nas igrejas góticas e toda a elaborada 
O Conceito de Arte Medieval
A concepção do Abade Suger (Erwin Panofsky)
3 Capítulo
15
ornamentação de seus recintos e fachadas. A 
possibilidade de concentrar as partes estruturais do 
edifício em pontos racionalmente definidos permitiu 
que a obra se abrisse para receber o maior número 
de vitrais e permitir que a luz solar penetrasse 
no ambiente em múltiplas cores. Como Suger a 
entenderia, uma realização só possível pela Luz 
Divina. Com essa intenção, Suger contratou artistas 
de diversos lugares para executar cada detalhe na 
sua obra de reconstrução da abadia (fig. 1)
Para Panofsky, a leitura particular de Suger dos 
escritos sagrados acabou por estabelecer uma 
estética fundada em três verdades:
1. o rei seria um vigário de Deus e, por isso, 
deveria ser o administrador das riquezas terrenas;
2. todo rei tinha o direito de exterminar 
as forças opositoras, o que justificava a luta por 
territórios;
3. a Abadia de Saint Denis era vista como 
o símbolo da unidade do novo reino, por já ter servido aos reis havia alguns 
séculos.
De acordo com Panofsky:
Suger afirmava sua personalidade centrifugamente: projetava seu ego no 
mundo que o rodeava até que todo este eu fosse absorvido por seu meio 
ambiente. (p. 181)
Considerações Finais
Com esta exposição foi possível indicar como uma formação religiosa se 
transformou em uma estética. Nesse sentido, Panofsky tem razão ao declarar 
que a Abadia sob o comando de Suger era então “superesplendorosa”. 
Segundo o historiador Nikolaus Pevsner, essa obra – a Abadia de Saint Denis – é 
representativa de uma das maiores revoluções no pensamento estético de todos 
os tempos (cf. PEVSNER, 1982, p. 89).
Exercício Prático
Em um momento em que as corporações de ofícios dominavam a produção 
de todo tipo de artefato, as artes medievais ficaram submetidas a esse modo de 
produção. Por outro lado, a interpretação dos produtos artísticos estava atrelada 
às disposições estabelecidas pela Igreja e pelos senhores feudais, parceiros no 
regime político daquela organização social do trabalho. Explique por que o 
autor Paulo Roberto Soares de Deus (2006) afirma que “ao entendermos o objeto 
iconográfico como sintoma de uma época, devemos interpretar este sintoma 
em seu contexto” (p. 226) já que o imaginário é coletivo”.
Referências Bibliográficas:
ARGAN, G.C.; FAGIOLO, M. Guia de História da Arte. Lisboa: Estampa, 1994. 
Col. Teoria da Arte, v. 8.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, c1999.
PANOFSKY, E. O Abade Suger de Saint Denis. In: —. Significado nas Artes 
Visuais. Trad. de Maria Clara F. Kneese e J. Guinsburg. 3.ed. São Paulo: Perspectiva, 
1991. Col. Debates, v. 99.
O Conceito de Arte Medieval
(fig.1) Abadia de Saint Denis, 
França; nave central e coro. 
(Fonte: GRANDE Enciclopé-
dia Larousse Cultural, 1998, 
p. ).
16
Temas em História da Arte
PEVSNER, N. Panorama da arquitetura ocidental. Trad. de José Teixeira 
Coelho neto e Silvana Garcia. São Paulo: Martins Fontes, 1982.
SAINT Denis. In: GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova 
cultural, 1998. v. 21, p. 5186.
SORENSEN, L. Erwin Panofsky. In: Dictionary of Art Historians. Disponível 
em http://www.dictionaryofarthistorians.org/panofskye.htm, acessado em 
24.ago.2011.
VENTURI,L. A História da Crítica de Arte. Lisboa: Edições 70, [1984].
17
Renascimento
Giotto e Alberti – o nascimento da perspectiva
Capítulo 4
Texto-base: ARAÚJO, Carolina. O clássico como problema. Revista 
Poiesis, Niterói/RJ, n. 11, ano 09, nov. 2007, p. 11-24. Disponível em 
http://www.poiesis.uff.br/PDF/poiesis11/Poiesis_11_clasprob.pdf, 
acessado em 31.jul.2011.
Objetivo
Identificar os parâmetros de composição das artes e da arquitetura do 
Renascimento, em especial com a contribuição específica de dois importantes 
protagonistas do período: o artista Giotto, considerado pré-renascentista, e o 
arquiteto Leon Battista Alberti.
Referenciais teóricos
As referências partirão novamente dos escritos de E. H. Gombrich, que 
afirmou sobre Giotto di Bondone: “ele criou a ilusão de que a história sagrada 
estava acontecendo diante dos nossos olhos”. (p. 201)
O objeto de estudo
O que interessa, nesta unidade, é a composição 
formal das obras renascentistas das quais a Mona 
Lisa é uma representante. Em suas pinturas, 
Leonardo da Vinci parte da ideia do Homem como 
medida de todas as coisas, representado em um 
de seus mais conhecidos desenhos. Nele, a figura 
humana encontra-se em meio a um quadrado e 
um círculo, sobrepostos, consideradas na época as 
formas perfeitas. Com esses exemplares, pode-se 
procurar afirmar que os renascentistas retomaram os 
ideais da Antiguidade clássica. O quadro de Rafaello 
Sanzio, intitulado “A Virgem do Prado” (fig. 1), pode 
ser tomado como exemplo. O olhar do espectador 
é automaticamente dirigido para o centro do 
quadro onde está a Virgem. A composição também 
indica uma verticalidade e uma horizontalidade, simultâneas de forma a dar 
um sentido de ordenação nas figuras, estabelecendo uma hierarquia e uma 
serenidade à cena representada. Nos próximos parágrafos, serão aprofundadas 
essas concepções.
Os protagonistas
No caso de Giotto (1267-1337), seus dons na pintura em retratar uma cena 
real foram reconhecidos por sua linguagem naturalista. Ainda de acordo com 
Gombrich, ele conseguiu traduzir para o quadro muitas cenas descritas na Bíblia, 
dando um aspecto real às figuras humanas revivendo assim as normas clássicas 
da arte grega e romana (GOMBRICH, c1999, p. 202). Para isso, Giotto teve que 
desenvolver seu conhecimento sobre os efeitos de perspectiva, já que essa 
técnica havia quase desaparecido nos séculos anteriores.
(fig. 1) A Virgem do prado. Rafa-
ello Sanzio, 1505. (Fonte: GOM-
BRICH, c1999, p. 34, fig. 17.)
18
Temas em História da Arte
De forma semelhante, nas pinturas de Rafael, nos quadros das virgens 
pintadas por Leonardo da Vinci e em outras obras do período, observa-se que 
o tema está sempre em um cenário aparentemente natural. Foi preciso, naquele 
momento histórico, desenvolver as possibilidades de representar um espaço 
visto em três dimensões em um quadro com apenas duas dimensões.
Mais estudos sobre a perspectiva foram desenvolvidos por Leon Battista 
Alberti (1404-1472). Um dos principais teóricos sobre o assunto, ele escreveu 
o livro Da Pintura, publicado em 1435. Os estudos de anatomia humana, 
desenvolvidos paralelamente por da Vinci proporcionaram novos conhecimentos 
para o naturalismo típico da pintura renascentista. Na arquitetura, Alberti voltou 
às regras de proporção do período clássico grego, ao escrever Os dez livros 
de arquitetura (1452). Sintetizando aquela teoria sobre a forma plástica, em 
uma linguagem matemática, cada parte está para o todo assim como o todo está 
para suas partes, o que também é visível no desenho de da Vinci sobre o corpo 
humano.
Os artistas renascentistas desenvolveram, assim, técnicas e experimentos 
para produzir obras em que a proporção das partes com o todo procurava 
alcançar um equilíbrio quase perfeito em suas próprias obras.
Considerações Finais
A partir de uma reflexão sobre a produção artística de seu tempo e seu 
papel naquela sociedade, os novos princípios foram se estabelecendo. De 
acordo com Gombrich: A mistura entre velho e novo, entre tradições góticas e 
formas modernas, é característica de muitos mestres em meados do século XV 
(GOMBRICH, c1999, p. 251). As formas geométricas essenciais foram outra vez 
retomadas, paralelamente à recuperação da filosofia de Platão que caracterizou 
o período.
Exercício Prático
Selecione três pinturas de Leonardo da Vinci com o tema das madonas e 
demonstre por meio de linhas auxiliares, como aquelas vistas na aula narrada, a 
composição e as proporções próprias das obras renascentistas.
Referências Bibliográficas
ALBERTI, Leone Battista. Da pintura. Trad. Antonio da Silveira Mendonça. 2. 
ed. São Paulo: Ed. Da UNICAMP, 1989.
GÊNIOS da Pintura. Giotto. São Paulo: Abril Cultural, 1964. v. 41.
GÊNIOS da Pintura. Leonardo da Vinci. Ed. Victor Civita. São Paulo: Abril 
Cultural, 1967. v. 2.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, c1999.
HEYDENREICH, L. H.; LOTZ, W. Arquitectura en Italia: 1400-1600. Madri: 
Cátedra, 1991.
KOSTOF, S. Historia de la arquitectura. Madri: Alianza, 1988. v. 2.
19
Conceitos de arte clássica 
e não-clássica
(Wölfflin e Argan)
Capítulo 5
Texto-base: CAPPELLO, Nora. Palladio e Roma. III Encontro de 
História da Arte/IFCH/UNICAMP. Disponível em http://www.
unicamp.br/chaa/eha/atas/2007/CAPPELLO,%20Nora.pdf, acessado 
em 31.jul.2011.
Objetivo
- relativizar o conceito de clássico contraposto ao conceito de arte barroca;
- apresentar os métodos de análise dos padrões artísticos de H. Wolfflin e 
G. C. Argan.
Referenciais teóricos
- Heinrich Wölfflin: Conceitos Fundamentais da História da Arte 
(publicado originalmente na Alemanha, em 1915)
- Giulio Carlo Argan: Clássico Anticlássico (publicado originalmente na 
Itália, em 1984)
A etimologia da palavra “clássico”
De acordo com Carolina Araújo (2007), o surgimento do termo “clássico” 
remonta a uma classificação da sociedade em categorias. No século VI a.C., 
um levantamento censitário teve como finalidade o recrutamento militar que 
distinguiu a classe social apropriada para esse tipo de serviço. No século XV, 
quem conhecesse os escritores clássicos, eram considerados por si mesmos 
“clássicos”. Foi a partir de definições como essas que os cânones acadêmicos 
se estabeleceram. E, por isso mesmo, a não-obediência a esses cânones foram 
considerados uma deturpação do classicismo.
Da mesma forma, a historiografia se desenvolveu com essa mesma seleção, 
ou melhor, com o mesmo regime de exceção. O principal autor que reconheceu 
a importância da produção artística do período imediatamente posterior ao 
Renascimento foi Heinrich Wölfflin1. Giulio Carlo Argan2 foi outro historiador que 
inovou na forma de analisar e avaliar as artes desse período.
O método de Wölfflin
 Em sua famosa obra intitulada Conceitos Fundamentais da História 
da Arte (1915), Wölfflin apresenta seus pressupostos da seguinte maneira:
[...] o curso da evolução da arte não pode ser decomposto em uma série de 
pontos isolados: os indivíduos se organizam em grupos maiores. [...] ao lado 
do estilo pessoal, deve-se considerar o estilo da escola, o estilo do país, o estilo 
da raça. (WÖLFFLIN, 2000, p. 9)
1 Foi professor em Basileia (Suíça), Berlim e Munique (Alemanha) depois de ter sido 
aluno de Wilhelm Dilthey.
2 Foi aluno de Lionello Venturi em Turim (Itália). Como escritor, manteve ideias marxistas.
20
Temas em História da Arte
Ao defender essa ideia, havia uma predisposição 
de sua parte em aceitar outras formas artísticas que 
não fossem puramente “clássicas”. Sua intenção era 
demonstrar que cada artista tem um estilo próprio, 
mas, ao mesmo tempo, pertence a seu tempo e a seu 
lugar. Utilizando alguns exemplos de obras de Gabriel 
Metsu (fig.1), representante da escola flamenga, 
Wolfflin apresenta evidências para a defesade sua 
teoria. De um lado, demonstra que cada detalhe é 
importante: a roupagem das figurantes no quadro 
de Metsu, por exemplo, é representada com quase 
todas as dobras do tecido e tem um estilo muito 
pessoal se comparado a outros artistas de sua 
contemporaneidade e da mesma região geográfica.
O método de Wölfflin propõe cinco pares de 
pontos de ponderações sobre a composição artística:
1. O linear e o pictórico
2. Plano e profundidade
3. Forma fechada e forma aberta
4. Pluralidade e unidade
5. Clareza e obscuridade
Esses pares de conceitos são importantes para a busca de identificação da 
estética renascentista em contraposição às expressões anteriores ou posteriores, 
como a arte medieval ou a Barroca. Como já foi visto, no período renascentista, 
as pinturas seguiam uma composição rígida. Cada elemento, cada figurante tem 
seu espaço regulado por normas de composição. Mesmo quando há mais de um 
figurante, a relação entre eles é regida por uma busca de harmonia, de equilíbrio 
e de serenidade. No período das artes barrocas, houve outra forma compositiva.
Rubens, outro artista de origem flamenga, 
por exemplo, já apresenta em seus quadros uma 
passagem menos contrastante entre a luz e a sombra, 
se for comparado com as pinturas renascentistas. No 
caso do pintor flamengo, a passagem entre o fundo 
e a figura principal se torna gradual, como se pode 
ver em seu autorretrato, (fig. 2). 
Em primeiro lugar, observa-se que esse não é 
um retrato frontal, equilibrado com linhas verticais 
e horizontais, como teria sido a composição formal 
de uma obra renascentista. Por outro lado, pode-se 
ver que entre uma obra renascentista e uma obra 
barroca a relação entre as figuras e mesmo da figura 
e do fundo é bem mais tênue. No primeiro caso, 
Wölfflin chama a atenção para a composição que 
é formada por figuras independentes entre si apesar de formarem um grupo 
único. Isso significa que há uma diferença no tratamento que pode ser definido 
pelos primeiros pares de comparação: primeiro, o linear e o pictórico e, segundo, 
o plano e a profundidade. Ao mesmo tempo, no caso das obras barrocas, é 
impossível separar cada figurante do conjunto por sua conexão intrínseca à 
composição do cenário, ou seja: a obra barroca é pictórica e tem profundidade. 
Nas palavras do autor, essa é a oposição entre a forma fechada e a forma aberta. 
Imediatamente a seguir, é possível identificar a diferença entre a pluralidade e a 
unidade.
(fig. 1) A leitora de carta. Ga-
briel Metsu, c1665. (Fonte: 
THE ILLUSTRATED Oxford 
Dictionary of Art, p. 292)
(fig. 2) Autorretrato. Peter 
Paul Rubens, 1639. (Fonte: 
GOMBRICH, [1999], p. 317)
21
(fig. 3) A Escola de Atenas, Palácio do Va-
ticano, Roma. Afresco, Raffaello Sanzio, 
1509-1511. (Fonte: THE OXFORD Illustra-
ted Dictionary of the Arts, 1990, p. 374.)
O último par dos cinco pontos de análise 
propostos por Wölfflin trata da “clareza e 
obscuridade” que não deve ser confundido com uma 
escuridão ao fundo. No famoso afresco de Raffaello 
Sanzio intitulado a Escola de Atenas (fig. 3), cada 
figurante e cada elemento da cena aparece com a 
mesma intensidade de luz assim como o espaço 
onde essas pessoas se encontram que é banhado 
por uma claridade de forma homogênea. Não há um 
ponto mais luminoso que outro. É isso que Wölfflin 
quis contrapor: a clareza absoluta do quadro clássico 
à clareza relativa do quadro barroco.
Com esta proposta de análise, Wölfflin demonstra 
que o conceito de clássico não é absoluto, mas é relativo a outras formas de arte, 
que antes não eram sequer consideradas dignas de estudo.
O método de Argan
Giulio Carlo Argan é mais um dos autores que, na esteira de Wölfflin, 
acreditava que a divisão entre clássico e não-clássico não poderia ser feita de 
forma tão precisa. Em seu livro Clássico Anticlássico (1984), esse autor parte do 
pressuposto de que é preciso examinar cada obra em todos os seus detalhes. 
Para ele:
É preciso abordar a obra [de arte] de um ponto de vista rigorosamente 
fenomenológico. Num fenômeno, todos os fatos particulares que o constituem 
possuem um significado; nenhum deles pode ser acrescentado ou esquecido 
(ARGAN, 1984, p. 17)
A técnica utilizada pelo artista, por exemplo, é um dos pontos de observação, 
assim como as cores ou tamanho do quadro; tudo é da maior importância para 
Giulio Carlo Argan. Dentre as obras analisadas por Argan estão as formelles 
de Ghiberti e de Brunelleschi. A comparação entre duas obras com a mesma 
temática e o mesmo enquadramento é pertinente: elas foram apresentadas 
para um concurso cujo objetivo era retratar a passagem da Bíblia que trata do 
sacrifício de Isaac. 
Argan indica as diferenças em cada caso para 
concluir que cada artista fez uma opção e nenhuma 
delas é melhor do que a outra: uma parece estar mais 
próxima das artes medievais e outra mais próxima 
do futuro direcionamento das artes renascentistas. 
Ambas são obras que carregam características de seu 
tempo e que o próprio desenvolvimento posterior 
das artes daria mais espaço para algumas delas mais 
do que para outras. 
Outra obra de importância para aquele momento 
histórico também foi analisada por Argan, sob a 
mesma ótica. Trata-se da cúpula da igreja de Santa 
Maria del Fiori, na catedral de Florença. O projeto foi 
feito por Filippo Brunelleschi, entre 1420 e 1436 (fig. 
4). Em sua análise, Argan demonstra que o projeto 
de Brunelleschi deve tanto a uma nova ordem por 
ele instaurada quanto aos precedentes da ordem 
gótica.
(fig. 4) Cúpula da Catedral de Santa Ma-
ria del Fiori, Florença, Itália. Elevação e 
Seção, Filippo Brunelleschi, 1420-1436. 
(Fonte: FANELLI, G. Brunelleschi’s Floren-
ce. Florença: APT, 2000. Série “Leggere la 
città”.)
Conceitos de arte clássica e não-clássica
22
Temas em História da Arte
Com essas análises, Argan corrobora para que o Renascimento não seja 
considerado exemplar em detrimento da arquitetura medieval ou das formas 
subsequentes.
Além disso, é preciso analisar e avaliar a contribuição de um outro arquiteto 
que encontra-se em dos limites temporais do Renascimento: trata-se de Andrea 
Palladio. Esse arquiteto, muitas vezes considerado “maneirista”, tentou ultrapassar 
os cânones acadêmicos com seus projetos de igrejas, palácios e villas3 . É esse o 
tema tratado por Nora Cappello no artigo indicado para esta unidade
Exercício Prático
Considerando o exposto por Nora Cappello em seu artigo indicado para 
leitura para esta aula, verifique em pelo menos três projetos de villas de Andrea 
Palladio, o uso de simetria nas fachadas principais e a organização dos caminhos 
de acesso nos jardins dos edifícios, para efeitos de perspectiva. Na página http://
eng.archinform.net/arch/23.htm#Villas, há links para a maioria dos projetos de 
villas na seção de cronologia de suas obras, onde poderão ser vistas ilustrações 
sobre o assunto e realizar a tarefa proposta. Como sugestão, ficam as indicações 
da Villa Rotonda, da Villa Malcontenta e da Villa Pisani.
Referências Bibliográficas
ARAÚJO, Carolina. O clássico como problema. Revista Poiesis, Niterói/RJ, 
n. 11, ano 09, nov. 2007, p. 11-24. Disponível em http://www.poiesis.uff.br/PDF/
poiesis11/Poiesis_11_clasprob.pdf, acessado em 31.jul.2011.
ARGAN, G. C. Clássico anticlássico. O Renascimento de Brunelleschi a 
Bruegel. Introdução, tradução e notas de Lorenzo Mammi. São Paulo: Companhia 
das Letras, 1999.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, c1999.
FANELLI, G. Brunelleschi’s Florence. Florença: APT, 2000. Série “Leggere la 
città”.
HEIDENREICH, L. H. Arquitetura na Itália. 1400-1500. Trad. Maria Thereza 
Rezende Costa. São Paulo: Cosac & Naify, 1998.
JANSON, H. W. Historia general del arte. Trad. de Francsico Pauarols. Madri: 
Alianza, 1996. v. 3. Renascimiento y Barroco.
THE OXFORD IllustratedEncyclopedia of The Arts. John Julius Norwich (ed.). 
Oxford/New York/Melbourne: Oxford University Press, 1990.
WÖLFFLIN, H. Conceitos Fundamentais da História da Arte. O problema 
da evolução dos estilos na arte mais recente. Trad. João Azenha Jr. 4. ed. São 
Paulo: Martins Fontes, 2000.
3 “Villa” é uma palavra italiana que significa “casa de campo”.
23
Do Romantismo ao 
Modernismo
Arte brasileira no final do século XIX à Semana de 22
Capítulo 6
Texto-base: AMARAL, Aracy. Oswald de Andrade e as artes 
plásticas no Modernismo dos anos 20. Revista do Instituto de 
Estudos Brasileiros/Revista do IEB, São Paulo, v. 33, p. 68-75, 1992. 
Disponível em http://www.ieb.usp.br/, acessado em 31.jul.2011.
Objetivo
- Entender a relação entre as revoluções burguesas e a produção artística 
da época;
- Identificar as premissas do Romantismo brasileiro e o processo de 
independência das artes nacionais em relação aos modelos europeus.
Referenciais teóricos
- E. H. Gombrich: […] os revolucionários [do século das Luzes] gostavam de 
se considerar gregos e romanos renascidos, e sua pintura, não menos que 
a arquitetura, refletia seu gosto pelo que era designado como grandeza 
romana. (GOMBRICH, c1999, p. 485)
- José Aderaldo Castello: A compreensão do modernismo brasileiro, 
artístico e literário, ou a compreensão do movimento modernista como 
um complexo de atitudes, inovações, renovações e mudanças sociais e 
políticas, arejamento de mentalidade, depende de dupla investigação: 1a.) 
aquela do sentido de continuidade histórica; 2a.) aquela das proclamações 
inovadoras, convertidas em ação, expressas em ideias ou traduzidas em 
citações. (CASTELLO, 1972, p. 125)
O Romantismo europeu
Alguns autores reconhecem o Romantismo como um movimento 
revolucionário atrelado às revoluções burguesas. Na França, o processo 
revolucionário do século XVIII foi abarcado por seus ativistas e pelos artistas 
na ânsia de divulgar os fatos, os ideais e mesmo os problemas que afligiam 
toda a sociedade naquele momento histórico. Não 
é raro então encontrar obras que são verdadeiras 
denúncias de situações vividas pela população assim 
como pelos seus protagonistas.
O quadro com a imagem de Marat (fig. 1) 
foi pintado em 1793 por Jacques-Louis David. O 
protaganista dessa imagem foi um importante 
personagem na Revolução Francesa. Para Gombrich 
(c1999), um dos pressupostos formais do Romantismo 
é o realismo das figuras e das cenas que impressiona 
o espectador. Aparentemente, é o conceito de 
beleza que se encontra em questionamento, nesse 
momento. Por se considerarem herdeiros das artes 
gregas e romanas, os românticos desenvolveram 
também o sentido de uma arte naturalista, como se 
(fig. 1) Marat. Pintura a óleo, Ja-
cques-Louis David, 1793. (Fon-
te: GOMBRICH, c1999, p. 484)
24
Temas em História da Arte
pode apreender dos escritos de Gombrich. O interesse em retratar a realidade 
da forma como ela se apresenta levanta questões sobre os padrões de beleza. 
Embora a realidade possa parecer “feia”, a intenção artística nesse momento 
é justamente mostrar o que se vê ou o que se pressente. Isso significa que se 
pode encontrar nas obras artísticas a proximidade de um ato violento ou de 
um momento de tensão (política, por exemplo). A comoção, a solidariedade, a 
revolta são todos elementos especiais na escolha das temáticas desses artistas. 
Daí a necessidade de se lembrar que foi nessa mesma época que o filósofo inglês 
Edmund Burke publicou o livro Uma investigação filosófica sobre a origem de 
nossas ideias do sublime e do belo (1757). Tamanho foi o sucesso obtido dessa 
obra que dois anos depois já tinha saído a segunda edição.
Outros artistas da mesma época se interessaram pelos assuntos que estavam 
na ordem do dia. Eugéne Delacroix, por exemplo, foi um deles ao retratar a 
conhecida imagem da Liberdade, assim como Guéricault e Daumier (conhecido 
por seu quadro intitulado Ecce Homo), ambos franceses. Na Espanha, Goya se 
manifestou diante da arbitrariedade dos procedimentos da Inquisição, também 
durante o século XVIII. Veja por exemplo seu quadro intitulado Os fuzilamentos 
de Três de Maio.
Na historiografia do assunto, dois autores são referência: Kenneth Clark e 
Michael Löwy. De acordo com Clark, a arte de David era revolucionária e, ao mesmo 
tempo, próxima do público em geral e dos filósofos. Não é à toa que quando se 
dava a exposição dessas obras, o povo acudia aos montes tal a identidade que 
estabeleciam com os temas representados. Nesse sentido, as tragédias humanas 
tiveram nesse momento outro coadjuvante: um nacionalismo emergente que 
propunha uma nova arte.
O outro autor importante para o estudo do tema da arte romântica é um 
cientista político que, apesar de um nome de sonoridade estrangeira – Michael 
Löwy –, nasceu e estudou no Brasil. Sua tese é a de que o Romantismo teve um 
caráter anticapitalista pelo fato de seus defensores terem tido, desde o início, 
uma aversão às mudanças que o mundo pré-capitalista trouxe para a sociedade.
No Brasil: do Romantismo ao Movimento Modernista
A dependência nos conceitos europeus na produção artística, durante 
os tempos de colônia, do Império e, posteriormente, mesmo no período 
republicano, esteve tão arraigada que fica difícil falar sobre as artes brasileiras 
de forma independente. Como já foi visto nas primeiras aulas, as artes são uma 
expressão de um grupo, de um povo, de uma cultura, e podem também ser 
vistas como um álibi no desenvolvimento de ideais e projetos políticos.
No que diz respeito à história das nossas artes, podemos dizer, para começar, 
que a arquitetura barroca teve uma ampla repercussão no território brasileiro e 
é digna de nota. Alguns autores estrangeiros, como John Bury1 e Germain Bazin2 
, tiveram interesse em investir no estudo das artes brasileiras produzidas no 
século XVII e XVIII, tendo publicado obras importantes sobre o assunto.
Quanto à adesão aos preceitos românticos e seu entendimento pelos artistas 
brasileiros muito já foi falado. Affonso Ávila (1977) escreveu um artigo no qual 
demonstra a reação dos artistas desde os tempos de colônia no sentido de 
uma expressão própria, independente dos ditames estrangeiros. Seu artigo 
é dedicado ao estudo da literatura e seu argumento de que houve tentativas 
de desenvolver obras genuinamente brasileiras, desde o período colonial, é 
1 BURY, J. Aleijadinho. Londres: Cornhill, 1949.
2 BAZIN, G. L’Architecture Religieuse Baroque au Brésil. São Paulo/Paris: Museu de Arte/
Editions d’Histoire et d’Art/Librairie Plon, [1956-58].
25
exemplificado com a obra de Gregório de Matos.
Mas é com a leitura de um artigo do professor José Aderaldo Castello (1972) 
que se percebe com clareza a gestação do Movimento Modernista desde os 
tempos do Romantismo brasileiro. O sugestivo título “Modernismo ou Neo-
Romantismo?” não deixa dúvidas de que há ali um material de interesse para o 
assunto.
Castello (1972) explora as relações dos modernistas com o Romantismo 
brasileiro, citando obras que foram inspiradoras para autores como Mário de 
Andrade, que escreveu A Escrava que não era Isaura, inspirado em Bernardo 
Guimarães, autor da obra A Escrava Isaura. Castello ressalta como programa 
desse movimento:
Do indianismo à visão social do seu momento, do campo à cidade, da 
província à capital centralizadora e irradiadora do Brasil-Império, [José de] 
Alencar pretendia, em última análise, a apreensão do substrato comum à 
nossa própria unidade. [...] (CASTELLO, 1972, p. 125)
Nada mais contundente para mostrar a íntima relação entre o romantismo 
brasileiro e o modernismo subsequente. Entre as obras modernistas brasileiras, 
havia um ponto em comum: tratavam do cotidiano e da mentalidade dos 
brasileiros. Para Castello, essa temática já estava presente no Romantismo, 
mas foi com o Modernismo que a revoltacontra os modelos europeus foi mais 
acintosa.
Sobre a Semana de Arte Moderna, em 1922, Aracy Amaral é uma referência 
imprescindível. Seu livro, Artes plásticas na Semana de 22 (1972), esclarece 
a formação da ideia do evento, expõe dados sobre a organização e atividades 
realizadas e, principalmente, demonstra em que circunstância se deu tal evento. 
No artigo indicado para leitura, Amaral escreve que Oswald de Andrade, 
em 1915, já “critica[va] acadêmicos que vão à Europa e apenas copiam mestres 
reconhecidos e ultrapassados sem se darem conta de que nossa realidade é 
outra” (p. 69). Alguns anos mais tarde, segundo relato também da mesma autora, 
Oswald e Tarsila, juntos, descobririam o Brasil a partir de Paris. De lá, declarou 
Oswald em uma palestra na conceituada Sorbonne, em maio de 1923:
Jamais foi possível sentir-se tão bem, no ambiente de Paris, a presença 
sugestiva do tambor negro e do canto índio. Essas forças étnicas estão em 
plena modernidade” (apud AMARAL, p. 71)
Quanto à Semana de 22, embora houvesse todo esse desenrolar da cultura 
artística nacional, ocorreram várias demonstrações de desejo de mudança, de 
inovação. Mas, inclusive com a ausência das tão decantadas obras de Tarsila do 
Amaral (lembrando que Abaporu é uma obra de 
1928), não havia, de imediato, um nacionalismo nas 
obras que compuseram a exibição. O nacionalismo 
que houve ali era em prol de uma renovação e não 
diretamente pelas características locais, autóctones. 
Pelo artigo de Aracy Amaral, fica mais explícito que 
houve um processo nos anos seguintes à Semana 
de redescoberta do Brasil: seja pela dupla Tarsila-
Oswald, seja por Mário de Andrade, ou por vários 
outros participantes do movimento. Cada um, a seu 
modo. O sucesso do evento se deveu muito mais à 
forma com que foi promovido, pela elite cafeeira, 
que também queria estar a par das novidades 
parisienses, como pela historiografia posterior, que 
jogou todo tipo de atenção do leitor ou estudioso 
A Estudante. Anita MALFAT-
TI, 1917. Fonte: GÊNIOS da 
Pintura, 1984, v. 2, contra-
capa.
Do Romantismo ao Modernismo
26
Temas em História da Arte
para os efeitos posteriores. Registre-se que as críticas publicadas na época foram 
positivas, porque quem financiou o evento era, ao mesmo tempo, leitor assíduo 
dos jornais e fazia parte do mesmo grupo.
No livro Artes plásticas na Semana de 22, Amaral dá as evidências por 
meio da ilustração do catálogo do evento com o nome dos expositores: Victorio 
Brecheret, escultor; J. Graz, pintor; W. Haerberg, pintor; Antonio Moya, escultor 
e arquiteto; Georg Prsirembel, arquiteto; Annita Malfatti, pintora e Zina Aita, 
pintora; Di Cavalcanti, pintor e caricaturista; Ferrignac, Almeida Prado e Vicente 
Rego Monteiro. Como se pode perceber, esse grupo tinha objetivos muito mais 
difusos quanto a um nacionalismo do que quanto a uma modernização.
A crise de 1929 e a Revolução de 1930, com a subida de Getúlio Vargas ao poder, 
colocariam em risco toda essa ascensão do Movimento Modernista, não fosse a 
retomada de rumos de seus integrantes: muitos passaram a atuar diretamente 
na máquina administrativa, como Mário de Andrade, que prosseguiu com seu 
trabalho no Departamento de Cultura em São Paulo, e Oswald e Tarsila, que 
passaram a ter uma orientação esquerdista em seus pensamentos e propostas.
Dos novos grupos que se formaram a partir de então, tem-se: de um lado, o 
grupo do SPAM – Sociedade Paulista de Arte Moderna e, de outro, o CAM – Clube 
da Arte Moderna.
Considerações Finais
O que se pode concluir com isso é que, nos anos 1920, a sociedade paulista, 
em especial, foi ao mesmo tempo agente promotor e protagonista de uma 
verdadeira revolução cultural, considerando todos os antecedentes da Semana 
de 22 e todos os produtos e subprodutos desse movimento de vanguarda. Uma 
citação da própria Tarsila em carta a seus pais, enviada já em meados de 1920, 
ilustra essa situação:
Sinto-me cada vez mais brasileira: quero ser a pintora da minha terra. 
Como agradeço por ter passado na fazenda a minha infância toda. As 
reminiscências desse tempo vão se tornando valiosas para mim. Quero, na 
arte, ser a caipirinha de São Bernardo, brincando com bonecas de mato, 
como no último quadro que estou pintando [...] (AMARAL, 1975, v. 1, p. 84)
Exercício Prático
Explique em que contexto ou definição do Modernismo brasileiro, 
apresentado por Oswald e transcritas por Aracy Amaral (no texto indicado para 
leitura nesta unidade), o tema dos quadros de Tarsila do Amaral – dentro do 
recorte temporal de meados até o final dos anos vinte – se enquadra.
Referências Bibliográficas:
ADES, D. Arte na América Latina: a era moderna, 1820-1980. Trad. de Maria 
Theresa de Resende Costa. São Paulo: Cosac & Naify, 1997.
ÁVILA, A. Do Barroco ao Modernismo: o desenvolvimento cíclico do projeto 
literário brasileiro. Revista Iberoamericana (University of Pittsburgh/EUA), v. 63, 
n. 98-99, jan.-jun. 1977.
AMARAL, A. A. Artes plásticas na Semana de 22. Subsídios para uma história 
da renovação das artes no Brasil. 2. ed. rev. São Paulo: Perspectiva, 1972.
27
 —. Tarsila: Sua obra e seu tempo. São Paulo: Perspectiva, 1975. 2v.
ARTE no Brasil. Victor Civita (ed.). São Paulo: Nova Cultura, 1986.
BAZIN, G. L’Architecture Religieuse Baroque au Brésil. São Paulo/Paris: 
Museu de Arte/Editions d’Histoire d’Art/Librairie Pilon, [1956-1958].
BURY, J. Aleijadinho. Londres: Cornhill, 1949.
CASTELLO, J. A. Modernismo ou Neo-Romantismo? Cultura, Brasília, n. 5, ano 
2, p. 124-131, jan./mar. 1972.
CLARK, K. The Romantic Revolution: Romantic versus Classic Art. Londres: 
J. Murray, 1976.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, c1999.
LÖWY, M.; SAYRE. Revolta e Melancolia. O romantismo na contramão da 
modernidade. Trad. de Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópolis: Vozes, 
1995.
—. Romantismo e política.Trad. Eloísa de Araújo Oliveira. São Paulo: Paz e 
Terra, 1993.
Do Romantismo ao Modernismo
28
Temas em História da Arte7 Capítulo
A educação pela arte
Heliana A. Salgueiro
Texto-base: ANGOTTI, Heliana Salgueiro. A construção de 
representações nacionais: os desenhos de Percy Lau na Revista 
Brasileira de Geografia e outras “visões iconográficas” do Brasil 
moderno. Anais do Museu Paulista, São Paulo, N. Sér., v. 13, n. 2, 
p. 21-72, jul.-dez. 2005. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/
anaismp/v13n2/a03v13n2.pdf, acessado em 31.jul.2011.
Objetivo
- A partir da análise de ilustrações de livros didáticos oficiais, entender a 
formação do conceito de nacionalidade; e
- Cotejar a relevância de teorias estrangeiras de formação de identidade e 
sua adoção no país por instituições públicas.
Referenciais teóricos
Segundo Heliana Angotti-Salgueiro (2005):
- “[...] a edição de manuais escolares destinados à rede nacional de escolas 
públicas recém-criadas [...] era “contribuir para um melhor conhecimento do 
território pátrio [...]” (p. 24-25)
E, citando François Walter, continua a autora:
- “[...] melhor que tomar a série “Tipos e aspectos do Brasil” como puro ‘reflexo’ 
ideológico do Estado Novo, seria mais fecundo vê-lo como um sistema de 
ideias, de cultura, cujo sentido está tanto no olhar dos que representam os 
tipos – desenhistas e fotógrafos – quanto neles mesmos”. (p. 26)
Introdução ao tema das ilustrações
Para a última aula desta disciplina, optou-se pelo tema ilustrações e o papel 
dos artistas na educação, por reconhecer que as ilustrações são uma tarefa 
importante e são mais um dos objetos de estudo da história das artes. O campo 
de produção das ilustrações na área acadêmica é chamado de “artes gráficas”.
Muitos exemplos podem ser mencionados. Dentre eles, o trabalho do 
escritor e desenhista Ziraldo. Seu personagem mais conhecido saiu dos livros 
de história infantis, virou história em quadrinhose foi para o cinema: o “Menino 
maluquinho”. Outros escritores e ilustradores são: o brasileiro Maurício de 
Souza, com a turma da Mônica; o argentino Quino, da Mafalda, e tantos outros 
personagens famosos que se encontram nas bancas de jornais e revistas. Na 
era da comunicação global, alguns sites interessantes sobre o assunto estão 
indicados na lista abaixo:
•	 www.snoopy.com
•	 www.schulzmuseum.org
•	 http://mafalda.dreamers.com
•	 http://www.danielazulay.com.br/daniel/index.htm
29
Há também, no campo da ilustração em periódicos, aquelas com uma função 
especial: a caricatura e a charge. Dentre os brasileiros, J. Carlos é um dos nomes 
mais importantes do início do século XX. Ele foi um caricaturista constante em 
revistas de divulgação da década de 1920, como a Para Todos1.
As ilustrações em meios impressos, de divulgação ampla, têm sua própria 
história na tecnologia disponível. Em princípio, se utilizava as gravuras. A principal 
diferença entre a gravura e a pintura é que a primeira pode ser reproduzida a 
partir de sua matriz e, na pintura, não há uma matriz: a obra é única. A reprodução 
depende de processos, como a fotografia. Na gravura, a partir de um único 
original pode-se fazer várias gravuras iguais e, por isso, são numeradas. Observa-
se, assim, a razão pela qual as gravuras encontram-se em geral numeradas. Para a 
imprensa, a gravura foi um grande aliado para ilustrar qualquer um dos assuntos 
e reportagens, antes inclusive da existência da fotografia.
Arte e ilustração:
Os murais, assim como as artes gráficas, como 
um eficiente meio de veiculação de massa, foram 
importantes em momentos de transformação 
histórica como na revoluções Mexicana (fig. 1) 
e Russa, quando vários artistas, partidários do 
movimento, se colocaram à disposição de serem 
propulsores na divulgação desses ideários.
As ilustrações dos livros didáticos 
oficiais
O principal objetivo desta aula é o estudo da 
seleção de ilustrações para os livros didáticos, em 
especial, para a publicação do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE) – Tipos e Aspectos do Brasil (fig. 2). Seu conteúdo 
é o resultado da compilação de artigos publicados inicialmente na Revista 
Brasileira de Geografia (RBG), a partir dos anos de 1930, tendo como tema 
principal as descrições dos tipos humanos e dos aspectos da paisagem de variados 
pontos do país. Como se pode ver, essas publicações tiveram um papel especial 
no projeto político do governo de Getúlio Vargas, na constituição da noção de 
identidade, de uma nacionalidade. No artigo, Heliana 
Angotti-Salgueiro faz uma investigação sobre essa 
publicação do IBGE, que representa mais uma faceta 
no processo de conhecimento do Brasil.
O objetivo desse artigo engloba uma avaliação da 
forma de selecionar e expor imagens de vários cantos 
do país, por meio dos desenhos do artista Percy Lau, 
em especial. Com a leitura do texto de Salgueiro, é 
possível ver que os desenhos dos tipos culturais 
eram interpretações quase fiéis de fotografias tiradas 
desses vários ambientes regionais.
Para cada tipo ou aspecto, a ilustração acompanha 
uma descrição. Vários autores contribuíram para essa 
coletânea. Assim, informações detalhadas sobre as 
características de cada região, do clima, da vegetação 
1 A revista Para Todos; Magazine Semanal Illustrado era publicada no Rio de Janeiro e 
o primeiro número saiu em 1919. 
(fig. 1) A criação, Anfiteatro Bolívar, Escola Nacional 
Preparatória, Cidade do México, México. Diego RIVERA, 
1922-3. (Fonte: ADES, 1989, p. 155, fig. 7.6.)
(fig. 2) Tipos e Aspectos do 
Brasil. (folha de rosto, 9. ed. 
ampl., 1970).
A educação pela arte
30
Temas em História da Arte
e do relevo físico se tornaram acessíveis a um amplo público e puderam 
consolidar um conhecimento comum sobre o território nacional.
Considerações Finais
A participação de dois fotógrafos de origem francesa – Marcel Gautherot e 
Pierre Monbeig – não foi aleatória, conforme explica Heliana Salgueiro. Ambos 
já tinham participado de projetos semelhantes na França na montagem de 
um acervo, que tinha como objetivo retratar o “mon pays”. Essa expressão da 
língua francesa está mais próxima de uma tradução como “minha região” ou “a 
paisagem de minha terra” do que de “meu país” como Estado ou divisão política.
Além disso, convém reforçar as fontes utilizadas por Salgueiro quando, no 
início de seu artigo, demonstra a importância do campo das ciências sociais, em 
especial, a arqueologia, a geografia e a etnologia, na formação desse quadro 
de referência dos tipos regionais. A proposta original francesa era, com o 
levantamento fotográfico e ilustrativo, constituir Les Archives de la Planète (que 
se traduz como Os Arquivos do Planeta), com o objetivo de fazer o “inventário das 
diferenças de um mundo em vias de urbanização” ou o “registro dos costumes 
locais em vias de desaparecimento” (SALGUEIRO, p. 22-23). 
Esse regionalismo levou à criação do Museu do Homem, assim como do 1o. 
Congresso Internacional do Folclore (a cargo do Museu das Artes e das Tradições 
Populares), ambos em Paris, na década de 1930. De acordo com Salgueiro, nesse 
meio intelectual estavam pessoas como Lucien Febvre, Marc Bloch, Marcel 
Mauss, Henri Focillon e vários outros. Em sua argumentação, a autora indica o 
fato de as relações estreitas que os cientistas sociais franceses e os brasileiros 
mantinham na época.
Assim, o trabalho dos fotógrafos e ilustradores se vê entrelaçado com aquele 
do campo de estudo das culturas, conforme se pode apreender do artigo de 
Heliana Salgueiro, e estão a serviço de ideários específicos.
Exercício prático
A partir da leitura do artigo de Heliana Salgueiro-Angotti, descreva os 
pressupostos teóricos adotados pela autora para analisar esse fato histórico 
– a publicação de livros didáticos pela imprensa oficial – em um método 
comparativo dos objetivos e dos resultados obtidos na França e no Brasil.
Referências Bibliográficas
ADES, D. Arte na América Latina: a era moderna, 1820-1980. Trad. de Maria 
Theresa de Resende Costa. São Paulo: Cosac & Naify, 1997.
FUNDAÇÃO IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia. Tipos e aspectos do 
Brasil. 9. ed. aum. Rio de Janeiro: Departamento de Documentação e Divulgação 
Geográfica e Cartográfica, 1970.
REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA. Rio de Janeiro, RJ: IBGE, 1939- . 
Disponível em http://biblioteca.ibge.gov.br/colecao_digital_publicacoes_
multiplo.php?link=RBG&titulo=Revista%20Brasileira%20de%20Geografia%20
-%20RBG, acessado em 30.out.2011.
SCHULZ, C. Snoopy: assim é a vida, Charlie Brown. Porto Alegre: L&PM, 
2009. 
ZIRALDO. O menino maluquinho. São Paulo: Melhoramentos, 1980.
31
Unidade Especial 1
O Brasil visto pelos estrangeiros no século XIX
Texto-base: BELLUZZO, A. M. O viajante e a paisagem brasileira. 
Porto Alegre; Revista de Artes Visuais, Porto Alegre, v. 15, n. 25, 
p. 41-57, nov. 2008. Disponível em http://seer.ufrgs.br/index.php/
PortoArte/article/viewArticle/10514, acessado em 31.jul.2011.
Objetivos:
Como aula especial, ampliar o espectro no campo de trabalho do historiador 
com um tema específico da produção artística; e,
Procurar entender os pressupostos teóricos do olhar do estrangeiro, em 
especial, dos britânicos sobre a realidade brasileira, tanto física quanto social, 
durante o século XIX.
Referenciais teóricos
De acordo com Ana Maria Belluzzo “o deslocamento do viajante estrangeiro 
é um percurso de dupla mão” (p. 43). A mesma autora ainda argumenta que “a 
visão daquilo que é estranho não conduz necessariamente o estrangeiro ao 
esquecimento de si”. (p. 43)
Introdução
Vários estrangeiros aportaram no Brasil nos primeiros quatro séculos de 
colonização: ora como representantes em comitivas diplomáticas, ora como 
representantes do corpo técnico das empresas e indústriasestrangeiras, ou 
ainda como convidados da Coroa Portuguesa. Dentre eles, o grupo de artistas 
conhecido como a Missão Francesa que, a convite de D. João VI, veio para fundar 
uma academia de belas artes e ofícios na capital do Reino. Dessa comitiva, Jean-
Baptiste Debret é um dos mais conhecidos, cujos desenhos aparecem como 
ilustração em muitos livros didáticos do ensino fundamental e médio.
As palavras-chave do artigo de Belluzzo já dão uma noção de seu ponto 
de argumentação: paisagem brasileira; artistas viajantes, ingleses no Brasil; e, 
compreensão da alteridade.
O olhar dos estrangeiros e a paisagem tropical:
A luminosidade da paisagem brasileira é um ponto de destaque para os 
europeus que vem de um clima temperado resultado das grandes latitudes. 
Outro ponto é o relevo acidentado com uma vegetação exuberante. Soma-se a 
tudo isso o pensamento empírico-científico, típico do século XIX.
Como Belluzzo mesma disse:
É preciso […] indagar […] como certos modos de apreciação do universo 
europeu do século XIX se casaram com estímulos de topografia, da geografia, 
da vegetação e da vida humana no Brasil (p. 42)
Um dos pontos de partida nessas observações é o conceito da paisagem 
pitoresca. De acordo com o Dicionário Enciclopédico de Arquitetura (PEVSNER 
et al., 1977), o termo ‘pitoresco’ refere-se a “uma paisagem ou uma construção 
que parecem sair de um quadro”. Esse conceito se desenvolveu também para 
os projetos de parques e jardins e surgiu justamente na Grã-Bretanha, no século 
XVIII. Na mesma época, o Neoclassicismo europeu comandava a produção 
Anexos
32
Temas em História da Arte
artística e o prêmio de uma viagem a Roma era cobiçado por todos os artistas. 
Nessas ocasiões, a conjunção de ruínas, de um conjunto desordenado de 
objetos, edifícios, e pessoas, dava ao mesmo tempo esse aspecto pitoresco: era 
o passado cristalizado em uma paisagem contemporânea.
Outros conceitos importantes:
Se o conceito de alteridade significa que um ser se reconhece diante do outro, 
é preciso identificar a visão de mundo dos estrangeiros que visitaram o Brasil 
para entender qual a sua relação com o Novo Mundo. Como escreveu Belluzzo, 
essa é uma linha de mão dupla. Para a autora, os viajantes traziam consigo suas 
representações de mundo e do conceito de civilização. Do ponto de vista da 
população local, os estrangeiros eram os representantes fieis da civilização 
ocidental. E era diante da paisagem selvagem, apenas tocada sutilmente pelo 
homem, que o conceito de civilização se consolidava tanto para os estrangeiros 
como para os nativos.
Artistas diletantes: muitos dos estrangeiros que vieram ao Brasil não tinham 
uma formação acadêmica sólida nas artes. Eram pessoas que desenvolveram 
seus dons artísticos como um complemento à sua educação. Não mais que 
isso. Eram então artistas diletantes e, por sua missão, artistas de paisagens: não 
formavam escolas artísticas, não pretendiam inovar nas artes nem levavam o 
ofício como sua profissão.
Nesse sentido, a pergunta de Belluzzo é pertinente: Seria [o viajante] induzido 
a registrar costumes por motivações diplomáticas ou suas observações seriam 
sustentadas por interesses comerciais? (p. 44). Sabe-se que, de qualquer forma, a 
presença dos estrangeiros, britânicos em particular, no reino, tinha seus motivos 
comerciais, políticos e mesmo científicos.
Na figura 1, vemos um 
exemplo justamente da relação de 
estranhamento entre o estrangeiro e o 
nativo. É sabido, e a autora confirma, 
que os ingleses preferiam morar 
em locais afastados onde poderiam 
desfrutar da tranquilidade e da 
distância dos problemas dos centros 
urbanos. Esse quadro representa 
exatamente isso: uma casa ampla em 
meio a um amplo jardim e rodeada 
de vegetação nativa que representa a 
moradia dos estrangeiros. Se alguém 
fizer uma investigação, mesmo que 
superficial, sobre o adensamento urbano das (poucas) cidades brasileiras 
na época, poderá constatar que a grande maioria das construções estava 
aglomerada, o mais próximo possível do centro e da igreja matriz.
A paisagem dos trópicos:
Sobre a paisagem local, a autora Belluzzo transcreve uma frase de Ouseley 
que reforça o entendimento do artista sobre a paisagem tropical:
Não há nenhuma confecção de pintura nesse esquema. É um mero retrato 
das características singulares que alguém se impressiona ao entrar no porto 
externo do Rio de Janeiro e olhar para trás em direção ao oceano. (Ouseley apud 
(Fig. 1) – Paisagem do Rio de Janeiro com casa 
tipicamente inglesa. Anônimo, [s/d]. (Fonte: 
BELLUZZO, 1994, p. 28.)
33
BELLUZZO, p. 47)
Em contraste com o pitoresco, citado acima, há outro conceito que é o seu 
oposto: o de sublime. Foi um autor inglês – Edmund Burke – que escreveu Uma 
Investigação sobre as origens de nossas ideias sobre o conceito do belo e 
do sublime (cuja primeira edição data de 1757) no qual se encontra um material 
rico nesse assunto1. O conceito do sublime pode ser traduzido pela sensação do 
homem diante das forças da natureza e da sua própria impotência diante dela.
Considerações Finais:
O que se pode observar a partir do artigo de Belluzzo é que a “descoberta” 
da natureza, a aquisição de novos costumes, a mudança no olhar da paisagem, 
o espírito investigativo foram representativos para as formas de expressão tanto 
de um (o estrangeiro, por exemplo) como para as descobertas do outro (o nativo, 
nesse caso) sobre sua própria contingência.
Referências Bibliográficas:
ADES, D. Art in Latin America. The Modern Era, 1820-1980. New Haven/
Londres: Yale University Press, 1989.
BELLUZZO, A. M. O Brasil dos Viajantes. São Paulo/Salvador: Metalivros/
Fundação Emílio Odebrecht, 1994. 3v.
CLAUDON, F. The Concise Encyclopedia of Romanticism. Ware, 
Hertfordshire: Omega, 1986.
JARDINS en France; 1760-1820. Pays d’illusion, Terre d’expérience. Paris: 
Caisse Nationale des Monuments Historiques et des Sites, 1977.
MARTINS, L. L. O Rio de Janeiro dos Viajantes: O olhar britânico (1800-
1850). Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
PEVSNER, N. et al. Dicionário Enciclopédico de Arquitetura. Trad. Carlos 
Kronauer. Rio de Janeiro: Artenova, 1977.
Exercício Prático:
A partir da análise da figura 2 
e da leitura do artigo de Ana Maria 
Belluzzo, indicado para esta unidade, 
explique os conceitos de pitoresco e 
de alteridade na relação britânicos/
brasileiros, no contexto do século XIX.
1 O filósofo alemão Emmanuel Kant também escreveu sobre o assunto: Observações 
sobre o sentimento do Belo e do Sublime, publicado originalmente em 1747. No Brasil, há uma 
tradução dessa obra para o português pela Editora Papirus, publicada em 1993.
(fig.2) O retorno dos escravos do naturalista. 
Jean-Baptiste Debret, c1820. (Fonte: ADES, 
1989, p. 49, fig. 3.9.)
Anexos
34
Temas em História da Arte
Unidade Especial 2
A imprensa e os registros históricos visuais
Texto-base: IPANEMA, Rogéria Moreira de. História e imagem 
impressa: bases para uma discussão de arte no Império do Brasil. 
XIII Encontro de Historia Anpuh-Rio, Disponível em http://www.
encontro2008.rj.anpuh.org/resources/content/anais/1208103593_
ARQUIVO_HISTORIAEIMAGEMIMPRESSA-ANPUH2008.pdf, acessado 
em 31.jul.2011.
Objetivos:
Como aula especial, ampliar o espectro no campo de trabalho do historiador 
com um tema específico da produção artística; e,
Procurar entender os pressupostos teóricos da produção artística caricatural 
com vistas à divulgação e uso pela imprensa brasileira, durante o século XIX.
Referenciais teóricos:
De acordo com Rogéria Moreira de Ipanema: “Como o surgimento da folha 
político-caricata e a pintura de Delacroix não são fatos isolados, encontra-se 
argumentos para analisar as imagens humorísticas brasileiras [...]” (p. [3])
Uma introdução e os antecedentes históricos:
Recordando alguns dados da Unidade 6, o Romantismo

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