Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA COMARCA DE... Carla, já qualificada nos autos da ação penal nº ..., que lhe move a Justiça Pública, por seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, dentro do prazo legal, apresentar MEMORIAIS nos termos do artigo 403, §3º, do Código de Processo Penal, pelos fundamentos de fato e de direito a seguir expostos. I - DOS FATOS Carla foi denunciada e processada pela prática do delito previsto no artigo 155, c/c artigo 14, II, ambos do CP, porque, segundo narra a inicial acusatória, teria subtraído um pacote de macarrão e um quilo de tomate, no valor total de R$ 15,00 para alimentar seu filho. Finda a instrução, o Ministério Público pediu a sua condenação, nos termos em que denunciado. II - DO DIREITO APRESENTAÇÃO DA TESE) Inicialmente, aponta-se nulidade processual pelo prosseguimento do feito sem apresentação de resposta à acusação. (PREMISSA MAIOR) Conforme dispõe o art. 396-A, § 2.º, do CPP, não apresentada a resposta a acusação no prazo legal de 10 dias, deve o juiz nomear defensor para oferecê-la, ou seja, a peça deve obrigatoriamente ser apresentada por advogado. (PREMISSA MENOR) No caso, citada, Carla não apresentou Resposta à Acusação, entendendo o Juiz pelo prosseguimento do feito. Ocorre que o prosseguimento do feito sem a nomeação de defensor para elaborar a sua defesa técnica, no caso, contraria o mencionado dispositivo do diploma processual penal e configura cerceamento de defesa, em afronta ao art. 5.º, inc. LV, da CF/1988, acarretando a nulidade processual, nos termos do art. 564, inc. IV, do CPP. (CONCLUSÃO) Destarte, deve ser o presente feito anulado a partir da citação, com a devolução do prazo para apresentação da resposta à acusação. APRESENTAÇÃO DA TESE) De outro lado, verifica-se a flagrante atipicidade material do crime imputado a Carla. (PREMISSA MAIOR) Segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial, o princípio da insignificância torna materialmente atípica a conduta se preenchidos os seguintes requisitos: (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada. (PREMISSA MENOR) No caso em tela, Carla é acusada de furtar alimentos no valor total de R$15,00, sendo patente a insignificância de sua conduta. (CONCLUSÃO) Portanto, Carla deve ser absolvida, com fundamento no art. 386, III, do CPP. APRESENTAÇÃO DA TESE). Caso não se entenda pela atipicidade da conduta, verifica-se a incidência da excludente de ilicitude do estado de necessidade. (PREMISSA MAIOR) Nos termos do art. 24 do CP, “Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”. Conforme o art. 23, I, do CP, o estado de necessidade é causa excludente de ilicitude. (PREMISSA MENOR) Na hipótese em pauta, Carla apenas praticou o furto para saciar a fome e cuidar da saúde do filho, diante de sua total ausência de recursos, não obstante as tentativas de obter recursos licitamente. (CONCLUSÃO) Nesses termos, deve ser reconhecida a incidência da excludente de ilicitude do estado de necessidade, com a sua absolvição, nos termos do art. 386, VI, do CPP. Subsidiariamente, em caso de condenação, deve a pena-base ser fixada no patamar mínimo legal, por ausência de circunstâncias judiciais desfavoráveis, nos termos do art. 59 do CP. Na segunda fase da dosimetria da pena, é preciso observar a incidência da atenuante genérica da menoridade relativa, prevista no art. 65, inc. I, do CP, já que Carla era menor de 21 anos na data do cometimento do crime. Ademais, diante de sua confissão tanto na fase policial quanto em sede policial, faz ela jus à atenuante do art. 65, inc. III, “d”, do CP. Ainda, de rigor a fixação do regime inicial aberto, nos termos do art. 33, § 2.º, c, do CP, em razão da primariedade do agente e diante da pena a ser aplicada no patamar mínimo legal; bem como a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, conforme o art. 44 do CP ou a suspensão condicional da pena, prevista no art. 77 do mesmo Diploma Legal. Por fim, deve ser arbitrado no patamar mínimo o valor a ser pago a titulo de reparação dos danos, nos termos do art. 387, inc. IV, do CPP e concedido o direito de recorrer em liberdade, nos termos do art. 387, § 1.º, do CPP. III - DO PEDIDO Ante o exposto, requer-se a anulação do processo desde a citação, com fulcro no art. 564, inc. IV, do CPP, considerando-se a não apresentação de Resposta à Acusação, com a devolução do respectivo prazo. Caso não seja esse o entendimento, pugna-se pela absolvição da ré, com fulcro no art. 386, inc. III ou VI, do CPP. Subsidiariamente, em caso de condenação, requer-se a fixação da pena base no mínimo legal (art. 59 do CP), reconhecendo-se as atenuantes do art. 65, inc. I e III, “d”, do CP, com a fixação do regime inicial aberto (art. 33, § 2.º, c, do CP) e substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos (art. 44 do CP) ou a suspensão condicional da pena (art. 77 do CP). Ainda, requer-se seja arbitrado no patamar mínimo o valor a ser pago a titulo de reparação dos danos, nos termos do art. 387, inc. IV, do CPP. Por fim, pleiteia-se a concessão do direito de recorrer em liberdade, com fundamento no art. 387, § 1.º, do CPP. Termos em que, Pede deferimento. Local, data Advogado OAB
Compartilhar