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Linhas gerais da dinâmica regional até a “crise de 1929” O objetivo deste texto é faz o entendimento de dois períodos históricos: a economia cafeeira do Brasil (1850) até o surgimento da “crise de 1929” e o que se inicia com a recuperação dessa crise, quando se dá o “deslocamento do centro dinâmico” via industrialização. Antes da crise, SP já concentrava 37,5% da indústria brasileira, também se encontrava a mais expressiva e adiantada agricultura da nação. Até então era débil o desenvolvimento na periferia nacional. Diante das transformações geradas pela “crise de 1929”, o mercado nacional estava efetivamente aberto à produção nacional. A partir daí a periferia nacional passou a funcionar como economia complementar ao “pólo” com mínimas chances de com ele competir. A implantação industrial anterior a 1930 não pode ser chamada de “processo de industrialização”, porque ela foi induzida pelo setor exportador. Só a partir de 1933, quando a economia nacional se recupera da crise e o movimento de acumulação industrial é o motor determinante da economia, é que chamamos de industrialização. Naquele momento histórico, o elemento de acumulação de capital era o capital mercantil. É o capital cafeeiro que adquire conotações dinâmicas diferenciadas. Muitas vezes o dono desse capital é ao mesmo tempo: fazendeiro, banqueiro, industrial e comerciante. As linhas gerais da dinâmica regional Amazônia Até o início da segunda metade do século XIX, a economia da Amazônia era extrativista, de baixa produtividade e pouca integração com o restante do território nacional. Sua expansão deu-se entre 1870 e 1912 com a grande exportação de borracha, no início do século XX chega sua indústria de cunho primário totalizava 4,3% da exportação nacional. As formas de internação do homem da floresta na extração de látex e o fato de não haver aberturas nas terras, fez com que não desenvolvesse agricultura comercial produtora de alimentos naquela região. A mão de obra livre não criou assalariamento, ou seja, o trabalhador recebia aquilo que ele produzia. Após a “crise da borracha”, sua economia mergulharia em estagnação e decadência. Nordeste O complexo econômico do Nordeste estava em crise desde o fim do século XVII, a atividade escravista, mesmo com o trabalho livre, não constituiu relações de produção capitalistas. O seu mercado foi de grande precariedade. O algodão era chamado de cultura de pobres, era marginal no mercado internacional com preços baixos em relação a sua produtividade. A pecuária proporcionou a oferta de alimentos vindos de agricultura e pecuária de subsistência. Com a expansão cafeeira do Sudeste, o açúcar voltaria a ter espaço no mercado, embora a preços deprimidos. Com alta concentração da propriedade, fracas relações capitalistas de produção nacional, com seus produtos marginalizados no mercado externo, agora dependentes do mercado interno, porém com preços reduzidos. Cerca de 40% da população nacional em 1900, cairia para cerca de 10% em 1939. Após a “crise de 1929”, a reestruturação do agro paulista faria com que a economia de SP se tornasse a maior produtora de açúcar e algodão, os dois produtos básico exportáveis da economia nordestina. Sul Em 1900, tinha pouco mais de 10% da população nacional. O três Estados compunham 19,9% da produção industrial brasileira, sendo 2,72% da produção de erva mate. A economia sulina era basicamente a base de produção de mate, banha, charque, couros, vinhos, arroz e manteiga. A oferta sulina deu-se mais com os mercados da zona urbana do RJ e com os principais centros do NE. O charque foi mais consumido nas antigas regiões escravistas e o vinho, devido aos preços e a qualidade similar ao europeu, só teve chances no mercado paulista após 1929. Estados cafeeiros A partir de 1850, o café foi a principal atividade econômica do paí. Inicialmente implantada no RJ, expandiu-se pelo Vale do Paraíba, SP, MG e ES. Em bases escravistas, teve extraordinário desempenho até 1856, quando o término do tráfico negreiro começa a sofrer impacto de enorme aumento dos preços de seus escravos. Em todas as regiões que iniciaram os trabalhos de forma escravista tiveram distinto desenvolvimento. No Rio de Janeiro, o caráter destruidor da economia escravista gerou graves efeitos de erosão. Isso, associado o sistema precário de transportes, encareceria mais os custos de transportes do café, sempre que as plantações se fizessem a distâncias cada vez maiores do litoral. O encarecimento de escravos, de transporte e de terras resultou na eliminação de sua agricultura de subsistência, especializando ainda mais a economia cafeeira. Na tentativa de aumentar a produtividade, passou a comprar alimentos fora e isso aumentou o seu aperto financeiro. A desilusão da introdução ferroviária (1860) que lhe reduz os custos de transporte, macharia rapidamente para crise. A precariedade das relações escravistas de produção, o estrangulamento financeiro e econômico e sua submissão comercial ao estado da Guanabara tornaria inevitável o declínio. Em Minas Gerais, o café teria características distintas. Embora também escravista, foi produzido na pequena e média propriedade; após a Abolição, não se dissemina o regime de assalariado. MG, assim como o RJ, teve que se submeter ao capital mercantil sediado na GB. A diferença é que MG desenvolveu lavoura de alimentos e pecuária, assim integrou-se comercialmente com os vizinhos: SP, RJ e GB. A expansão imobiliária decorrente da criação da cidade de Belo Horizonte exigiram o surgimento de um sistema financeiro que originou os “Bancos Mineiros”. Minas foi um dos raros estados a aumentar a sua participação industrial entre 1907 e 1919, e o único, além de SP, entre 1919 e 1939. Dada as dificuldades de meios de transporte entre suas regiões internas e estados vizinhos, esse fato pode ter sido responsável pela sobrevivência de sua pequena e média indústria. A decadência cafeeira de Minas e do Rio de Janeiro causaria reflexos negativos na Guanabara, sua consequente desaceleração só não foi maior porque essa região era sede do governo federal, receptora de boa parte do gasto público. O retrocesso da Guanabara se dava com a expansão industrial em São Paulo, que aumentava sua participação no total nacional. São Paulo São Paulo teve destino diferente e promissor com a expansão do café a partir da década de 1870, por força da introdução da rede ferroviária, que reduziram os custos de transportes e de produção. Suas margens de lucro ampliaram-se aumentando seu potencial de acumulação. A solução para aumentar mais capital do café, o Estado e Capitalistas organizaram e financiaram os serviços de imigração. A imigração não resolveu apenas o problema de mão de obra, como também criou mercado de trabalho com oferta abundante, tanto para o café quanto para o segmento urbano da economia, ampliou o mercado de consumo corrente,aumentando as oportunidades de mudança em São Paulo. Devido à superabundância da oferta da mão de obra, houve flexibilidade na taxa de salários. A crise cafeeira de 1897/1908 permitiria o fracionamento de parte das terras do café, onde surgiria uma agricultura produtora de alimentos, poupando-lhe divisas antes gastas com importações de alimentos mais simples. Assim se criava condições para acumulação capitalista diversificada (bancos, indústrias, comércio). O capital cafeeiro desdobrava-se em múltiplas faces. No auge do período cafeeiro, nasceu a indústria em SP, as altas margens de lucro permitiram grande taxa de inversão na indústria, superando o resto da nação. Em 1900 compreendia 13% da população que saltaria para 45% em 1939. A Primeira Guerra Mundial (1914/1918) contraiu o comércio exterior do país. Os mercados periféricos da nação foram abastecidos por SP, que a sua agricultura e indústria se desenvolveram e diversificaram. Na década de 20, no Brasil, houve grandes investimentos estrangeiros diretos no setor industrial, principalmente nos segmentos mais complexos como indústrias, montadoras e representações comerciais. A crise de 1929 e sua recuperação fez com que os mercados nacionais se integrassem, São Paulo vendia para a periferia nacional e a periferia complementava a economia de SP. A economia de SP cresceu a ponto de ultrapassar a média nacional ao longo dos anos. A concentração industrial Até o fim do século XIX a indústria brasileira era descentralizada, cada região possuía a sua economia. Esse fato era reforçado pela ausência de meios ágeis de comunicação terrestre entre as regiões. O transporte de cabotagem, sendo caro os seus fretes, impunha limites ao fluxo inter-regional de produtos. Até esse momento apenas a Guanabara figurava com um certo grau de concentração industrial, pois era a principal praça comercial e financeira do país. Até 1929, as indústrias mais expressivas de cada região existiam sem tanta competição. Dessa forma, registrar-se-ia a presença de indústrias de grande porte nas várias regiões do país, protegidas pela barreira das distância. A concentração industrial a nível de empresas Principais elementos que condicionaram essa concentração ● o mercado nacional ainda não estava integrado As grandes distâncias causavam margens naturais de proteção às indústrias regionais favorecendo a implantação de empresas de caráter regional, algumas de caráter nacional e, necessariamente, de grande porte. Os setores da indústria de cerveja, fósforos, cimento, papel, cigarro e vidros já estavam fortemente concentradas. A indústria têxtil instalou-se no país nas duas últimas décadas do século XIX. As regiões mais interiorizadas em relação ao litoral permitiram o surgimento de segmentos industriais com estrutura diversificada, formados por pequenas e médias indústrias. Isso se deu em razão aos altos custos de transporte de importados e de outras regiões do país. Por isso, tinham precária dinâmica de crescimento, dado que não poderiam contar com mercados exteriores aos seus. ● dinâmica regional e concentração da propriedade A dinâmica regional e a concentração de propriedade fundiária tiveram papel fundamental na determinação do tipo de concentração empresarial. Mesmo em regiões em que a dinâmica da economia revelava fraco desempenho, o excedente gerado poderia ser transferido para outros segmentos produtivos, diversificando-a. Ou poderia ser investido para modernizar sua infraestrutura. A instalação de plantas industriais de grandes dimensões, atendendo à demanda regional, ou até mesmo multiregional. O capital comercial sediado em cada região não alterou o processo de concentração. Cada região instalou plantas de dimensões de acordo com a sua concentração de propriedade. ● a rigidez tecnológica O implante industrial no capitalismo periférico deu-se utilizando a técnica atualizada e disponível nos países industrializados. A indústria têxtil que se instala no Brasil apresenta os mesmos condicionamentos técnicos que a Inglaterra, tanto os tecnológicos quanto os relativos à energia que utilizava. Praticamente inexistiam redes de energia elétrica no Brasil, toda implantação industrial requereria duas inversões: a dos equipamentos e a de geração energética própria. Dessa forma, tais indústrias demandavam muito mais capital exigindo e resultando precoce concentração. Diferentemente ocorria com os segmentos industriais onde a técnica ainda não se havia desenvolvido muito, como calçados, roupas e alimentos. Praticamente inexistiam barreiras à entrada de pequenos capitalistas, constituindo pequenas e médias indústrias. Posteriormente, com a disseminação de fontes supridoras de energia elétrica nas grandes cidades, as cargas de capital por indústria a ser implantada baixaram, possibilitando maior entrada de novos empreendedores, facilitando melhor conformação industrial, em termo de estruturas de tamanho. Isto ocorreu, em maior proporção, em SP. A maior parte da periferia nacional continuaria ainda a arcar com grandes cargas de capital por unidade de capacidade produtiva instalada e, portanto, com indústrias menos rentáveis do ponto de vista do investimento global e de maiores custos unitários. A concentração em termos regionais Mesmo com a queda de 50% no preço externo, o café quase duplicou sua geração de divisas. Tal compensação só seria efetiva onde os níveis de produtividade e de custos fossem compatíveis para suportar a queda dos preços. Isso ocorreu em SP, onde a organização da produção, as terras mais férteis e a menor idade dos cafeeiros contrastavam com os dados adversos da velha cafeicultura de MG e do RJ. A cafeicultura paulista comprimiu mais seus custos, rebaixando os salários em cerca de 30% durante a crise. Apenas SP contava com possibilidades satisfatórias de expansão. A economia paulista pode dar excepcional salto à frente das demais regiões, ampliando e diversificando sua indústria. A crise de 1929 pode ser contornada por SP dada sua acrescida e modernizada capacidade produtiva industrial, pode atender ao mercado periférico nacional durante a guerra. A década de 20 para SP significava grande avanço na diversificação estrutural de sua indústria, com inclusão de novos produtos e novos segmentos produtivos. A participação de SP na produção industrial brasileira em 1929 era de 40%. Sua economia seria reforçada com fluxo de imigração nordestina e mineira. Ou seja, ampliava-se ainda mais as condições para a expansão da economia paulista, com oferta abundante de mão de obra. Examinando o comércio exterior entre os períodos de 1900/1930 que se dá a maior mudança na estrutura das exportações: diminuía o peso das exportações para o exterior e aumentava para a periferia nacional. Em 1900/10 as exportações para a periferia era de 15% que aumentou para 50% em 1920/30. Apenas MG pode acompanhar o crescimento de SP com a sua maior integração de mercado. Foi o único estado que aumentou a sua participaçãona produção industrial brasileira, passando de 4,4% em 1907 para 6,6% em 1939.
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