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BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

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BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 
 
A Educação é a forma de construção de conhecimentos e atitudes necessárias para 
integração do homem à sociedade. Portanto, acontece em dois momentos distintos: primeiro, 
como educação familiar, segundo, como educação erudita. 
É preciso fazer um retrocesso na história da educação com a intenção de entender o fazer 
pedagógico, observando que o homem é um ser histórico, que retoma seu passado para projetar 
o futuro. Aranha (1989, p.12) a esse respeito diz: 
 Pensar o passado não deve ser compreendido como exercício de 
saudosismo, mera curiosidade ou preocupação erudita. O passado não é 
algo morto: nele estão as raízes do presente. É compreendendo o 
passado que podemos dar sentido ao presente e elaborar o futuro. 
A respeito da educação podemos observar diferentes momentos que são de fundamental 
importância para a história de nossa humanidade: Período Antigo, subdividido em Primitivo, 
Antigo e Medieval, Moderno, destacando-se o Renascimento. Como algo inerentemente humano, 
a educação se transforma e o processo educacional segue as normas e os padrões de cada 
período histórico, respondendo às necessidades de cada sociedade. 
Para fins de contextualizar está escrita, dividimos as transformações sofridas pela 
Educação nos seguintes estágios: 
 Período primitivo-No período antigo, acontecem transformações fundamentais para 
nossa cultura, tornando-a cada vez mais científica, mais especializada de forma diferenciada 
entre si, tanto pelos objetivos, quanto pelos métodos. 
Encontram-se diferentes modelos de Educação, de acordo com o período a que 
corresponde e a localização geográfica; característica fundamental é o surgimento da escrita e 
do Estado na antiguidade oriental, diferenciando-se entre si. 
Egípcia - Este povo desenvolve a escrita a partir de 3500 a.C. em hieróglifos. O 
conhecimento é reservado aos altos funcionários, sacerdotes e militares. Posteriormente, o 
conhecimento passa a ser difundido, porém aos níveis mais altos, ao qual só tem acesso a 
classe dominante. Criam-se escolas para o povo, para filhos de funcionários. Seu 
funcionamento acontece nos templos, conta com forte teor religioso, não esquecendo as 
questões práticas, assim, formam médicos, engenheiros e arquitetos 
Babilônia - Predomina o poder da classe sacerdotal, para os babilônicos, estes 
possuem bibliotecas, noções de astrologia, procuram a aplicação prática do conhecimento. 
Para este povo, a ciência mistura-se à magia. 
Índia-A Educação acontece de forma discriminatória, privilegiando os brames; aos 
sudras e párias é negada qualquer forma de Educação; sofre também influência do budismo. 
China- A Educação é conservadora mantendo-se até recentemente voltada à 
transmissão, apoiada nos livros interpretativos de Lao Tsé e Confúcio que datam do terceiro 
milênio a.C. 
Hebreus- Sua educação é marcada pela religiosidade, professada pelos profetas, 
acontece nas sinagogas, nela se aprendem as verdades da Bíblia, especificamente do Antigo 
testamento. São politeístas, valorizam a educação manual. 
As propostas pedagógicas Orientais da antiguidade baseiam-se nos livros sagrados, 
possuem o objetivo da educação moral de acordo com a vida religiosa, impostos por cada 
civilização. 
Antiguidade Grega- o período arcaico, século VIII a VI a.C., traz grandes 
transformações no campo político e social, surgimento da Pólis (cidades-Estado), do comércio 
e, conseqüentemente, das classes sociais, da moeda. 
Essas transformações são fundamentais para o surgimento do pensamento filosófico, 
considera-se como período clássico (séculos V e IV a.C.). Neste período, surge a idéia 
pedagógica associada à formação do cidadão, este modelo influenciou toda a educação do 
Ocidente. 
Surgem as ciências como astronomia, geometria e matemática. O homem busca uma 
explicação racional que explique a origem, o primeiro princípio de todas as coisas; é dada a 
supremacia à razão. 
A educação tem como princípio a formação do cidadão, completo e virtuoso, para tanto 
é necessário um modelo que abranja corpo e mente; concomitantemente com o surgimento do 
pensamento filosófico surge a palavra Paidéia significa apenas ‘criação dos meninos’ (pais, 
paidós, ‘criança’). Mas com o tempo, a palavra adquire nuanças que tornam intraduzível. 
Werner Jaeger, famoso helenista alemão escreveu uma obra com esse nome, diz: Não se 
pode evitar o emprego de expressões modernas como civilização, cultura, tradição, literatura 
ou educação; nenhuma delas, porém, coincide realmente com o que os gregos entendiam por 
Paidéia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global e, 
para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez 
(ARANHA, 1989, p. 37). 
 
Existem subdivisões na Educação Grega. O período, conhecido como homérico, visa à 
formação do nobre. A criança permanece com a mãe até os 7 anos de idade. A infância era 
uma fase de passagem, a partir deste momento a criança passava a freqüentar locais próprios 
para o seu desenvolvimento, sendo que existe uma divisão educacional por gênero, assim, a 
menina fica em casa aprendendo as artes do lar. 
A escola permanece sendo o local da elite, a cultura Grega é transmitida através de 
eventos sociais. 
Esparta e Atenas são as principais cidades-estado deste período e apresentam 
modelos diferenciados de Educação; Esparta volta-se para a formação do guerreiro, a partir 
dos 7 anos o menino era retirado do seio familiar, passando aos cuidados do Estado. A 
Educação era pública, rígida, voltada, principalmente, para as atividades físicas, não 
descuidando do estudo da música, canto e dança. Conforme a criança cresce, a disciplina 
aumenta. O guerreiro Espartano é educado para suportar a dor e obedecer. A mulher tem 
destaque neste período, participa de atividades físicas e de festividades. 
Atenas difunde a educação a todos os cidadãos livres, devido a sua grande influência e, 
por se tratar do berço da filosofia, o ideal do povo ateniense é o culto, os rapazes eram 
instruídos nas letras e filosofia, pelos mestres, na primeira fase era acompanhado pelo 
pedagogo (escravo que tinha como função orientar as primeiras letras e a atividade física, por 
volta dos 18 anos após um rito de passagem adentrava a vida cidadã, os mestres são os 
filósofos. 
 Os Pré-Socráticos (séculos VII e VI a.C.) são responsáveis pela separação do 
pensamento mítico e racional. No período Socrático, conhecido como Clássico (séculos V e VI 
a.C.), desenvolve-se a Filosofia, o sistema filosófico de Sócrates, com seu método, nada 
ortodoxo de parturiar idéia, inaugura a busca da própria verdade. Este mesmo filósofo repudia 
os Sofistas, primeiros filósofos que fazem papel de professores, cobrando por seus serviços 
itinerantes, ensinavam a arte da retórica. 
 Platão, discípulo de Sócrates desenvolve sua teoria do conhecimento representada na 
Alegoria da Caverna, onde o conhecimento seria a possibilidade de salvação. Defende o 
dualismo, corpo e alma e teria como objetivo a formação do cidadão. Aristóteles volta-se para 
a ética, entendendo o homem como um animal que possui natureza política. 
A influência fundamental deste período dá-se no campo da Educação de uma 
preocupação pedagógica, abrangendo corpo e alma. 
Educação Romana- possui caráter prático e formação civil e familiar. O cidadão possui 
consciência do direito romano. O pai é figura central, a mulher possui valorização na família, 
possuindo um papel educativo, para a formação do futuro cidadão. A partir do século II a.C., 
as escolas organizam-se segundo o modelo Grego, existem também escolas destinadas às 
classes inferiorespara a formação profissional. 
Arte Greco-Romana 700 a.C. Este período influencia a história da humanidade, sendo o 
primeiro período a valorizar o homem. A obra acima representa o casamento de Peleu e 
Tétis[7]. A deusa recusava o casamento com um simples mortal 
A queda do império Romano, cria uma fragmentação no mundo, o cristianismo é 
responsável pela sua unificação. 
 
A idade Média abarca um período tão extenso que é difícil caracterizá-la sem incorrer 
no risco da simplificação. Afinal são mil anos entre a queda do Império Romano (476) e a 
tomada de Constantinopla pelos turcos (!457). 
A alta Idade Média, período que sucede à queda do Império, é caracterizada por um 
estado de degradação da antiga ordem e pela divisão em diversos reinos bárbaros, formando 
após as sucessivas invasões. 
Até o século X dá-se uma transformação lenta, que consiste na passagem do 
escravismo, o modo de produção da Antiguidade Greco-romana, para o feudalismo, o novo 
modo de produção da Idade Média (ARANHA, 1989, p.80). 
 
 Período Medieval 
Arte Bizantina, Século V, expressão artística de caráter religioso, dos primórdios do 
cristianismo, serve de fonte de instrução e guia espiritual aos fiéis. A imagem acima mostra o 
Cristo, da Basílica de Santa Sofia. 
O período medieval representa mais de 1000 anos, contando com Idade média alta e 
baixa; a Educação desenvolve-se subordinada à Igreja. Todo conhecimento está a serviço da 
fé, este deve revelar as verdades de Deus a autoridade indiscutível está presente nos textos 
sagrados. A razão deve conciliar-se com a fé. Este conhecimento é reservado ao poder 
eclesiástico. Desenvolvem-se, neste momento histórico, diferentes modelos pedagógicos para 
classes sociais distintas, surgem os colégios com alunos e professores, os quais servem a 
autoridade da igreja, ou outro poder que a represente. 
A função pedagógica é a evangelização, a revelação das verdades divinas e a salvação 
das almas para a vida eterna. 
O quadro filosófico distingue-se em dois momentos: a Patrística (século II até o século 
V), que tem como objetivo a defesa da fé cristã e a conversão. Seu principal representante é 
Santo Agostinho (354-430), que retoma os textos de Platão, considera o conhecimento como 
as verdades eternas advindas da iluminação divina, sendo necessário, para tanto, o uso do 
intelecto, já que o conhecimento é uma experiência pessoal; a Escolástica (século IX até XIV): 
”Chama-se Escolástica por ser a filosofia ensinada nas escolas. Scholasticus é o professor 
das artes liberais. Mais tarde é assim conhecido o professor de filosofia e teólogo, oficialmente 
chamado magister” (História da Educação-p.94). 
O principal representante da Escolástica é Santo Tomás de Aquino (1225-1274), 
retoma Aristóteles, adaptando-a as orientações cristãs. A Educação, segundo o filósofo, é a 
forma de atingir a verdade e o bem, superando as tentações mundanas. Neste período, criam-
se as universidades, destinadas à medicina, ao direito e à teologia. Estas disciplinas 
representam o currículo central das universidades, sem dispensar os estudos anteriores do 
trivium (arte, gramática e retórica) quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia). 
 Período Moderno 
A educação representa uma grande preocupação para este período: 
É impressionante a preocupação com a educação no Renascimento (sobretudo em 
comparação com a Idade Média), não só pela produção teórica dos pedagogos, mas 
principalmente pela proliferação de colégios e manuais para alunos e professores. Educar-se 
torna-se uma questão de moda e uma exigência dentro da nova concepção do homem (ARANHA, 
1989, p. 94). 
A expansão da escola, neste período, destina-se ao homem da pequena nobreza e da 
burguesia que busca educar-se para a vida política e seus negócios; a classe alta educa-se com 
preceptores em seus castelos; a escola volta-se a uma melhor preparação da criança devido à 
nova imagem da infância e da família. 
Acontece a separação do mundo infantil e adulto. Os alunos são submetidos a uma severa 
disciplina; a escola passa a cuidar da formação moral do aluno; o regime de estudo é extenso, 
dando continuidade ao trivium e quadrivium. 
No Brasil, desde o início da colonização, a catequese como atividade missionária contribui 
de forma central para a dominação metropolitana. Desse modo, a educação assume papel de 
agente colonizador. 
 Romantismo (1780) foi um movimento artístico. É um movimento contrário ao 
racionalismo, e a busca de um nacionalismo, designa uma visão de mundo centrada no indivíduo. 
No Brasil, durante o período colonial, acontece uma grande disparidade entre o 
conhecimento formal e o informal, onde a classe dominante mantém o monopólio do saber 
acadêmico, onde os filhos da elite iam estudar na Europa, enquanto a grande maioria da 
população mantinha-se iletrada. 
Período Contemporâneo 
As influências do século XIX, como a urbanização acelerada e o capitalismo industrial, 
criam um panorama de forte expectativa com relação à educação, devido à maior complexidade 
do trabalho, que exige mão de obra especializada. Acontece a universalização da escola 
secundária, clássica para a elite burguesa e técnica para a formação do trabalhador. As linhas 
filosóficas que orientam este período são o Idealismo, de Fitche, Schelling e Hegel, as idéias 
socialistas, e o desenvolvimento das ciências humanas. 
O ensino universitário é ampliado e reformulado, aparecendo as escolas politécnicas, 
tendo em vista as necessidades decorrentes do avanço tecnológico. 
Surgem as escolas da primeira infância, cujo precursor foi Froebel, seus “jardins da 
infância”. A preocupação geral com a educação leva também à formação de várias escolas 
normais visando a preparação para o magistério (ARANHA, 1989, p.176) 
Surgem preocupações com a formação da consciência nacional e com a metodologia. Bem 
como, pedagógicas com fins sociais, salientando a formação da criança para a vida em 
sociedade. A Educação associa-se ao bem-estar social, ao progresso e à transformação. A 
psicologia passa a influenciar a educação infantil, procurando uma metodologia adequada ao seu 
processo de aquisição do conhecimento. 
Pestalozzi, Froebel Herbart e Spencer são alguns dos principais pedagogos do período. 
Século XX: A educação, no século XX, passa a ter um caráter bem mais científico, que 
tem conseqüências ambíguas. Se de um lado temos um avanço tecnológico revolucionário, de 
outro temos grandes tragédias pautadas por esse avanço, como no caso das duas grandes 
Guerras Mundiais. Logicamente, esses avanços refletem-se nos processos educacionais, 
transformando a própria escola, o papel do professor, a concepção de aluno e da relação de 
autoridade nessas instituições de ensino. 
 Nesse período, foram de estrema importância, para a educação, teóricos como: 
Émile Durkheim (1858-1917) que desenvolve a questão da sociologia, bem como sua relação 
com a educação; Jonh B. Watson (1878-1958) e Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), 
representantes do Behaviorismo (psicologia comportamentalista); Wilhelm Dilthey (1833-1911), 
representante da crítica ao naturalismo; Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941), 
representantes da Gestalt; Jonh Dewey (1859-1952), representante da escola progressista. 
A Escola Nova é um movimento de grande importância, no século XX, tendo como 
características fundamentais a educação integral, ativa, prática, tendendo para uma prática 
individualizada, propondo ao estudante uma aprendizagem autônoma. Representantes desse 
movimento são: Maria Montessori (1870-1952) e Ovide Decroly (1871-1932). 
A proposta Socialista tem sua grande representação na figura de Antonio Gramsci (1891-
1937) que,em sua proposta, pretende superar a dicotomia entre teoria e prática. 
Temos como representantes das teorias educacionais não-diretivas Ivan Illich (1826-2002) 
traz a proposta de uma sociedade desescolarizada. Carl Rogers (1902-1987) o qual levou para a 
educação técnicas utilizadas em terapia. Alexander Neil (1883-1973), fundador da escola de 
Summerhill. 
No Brasil, as maiores referências estão nos educadores Anísio Teixeira (1900-1971), 
Florestan Fernandes (1920-19950 e Paulo Freire (1921-1997). 
Para Freire e Horton (2003), por exemplo, a educação só muda quando “as pessoas 
começam a agarrar sua história com as próprias mãos”. Para estes autores, como para a maioria 
dos teóricos da contemporaneidade somente um projeto realmente popular pode trazer 
transformações significativas à sociedade. 
 "A história da Educação no Brasil: uma longa jornada rumo à 
universalização" 
"Uma educação focada exclusivamente na catequização. Foi assim que nasceu o embrião 
do ensino no Brasil, em 1549, quando os primeiros jesuítas desembarcaram na Bahia. A 
educação pensada pela Igreja Católica - que mantinha uma relação estreita com o governo 
português - tinha como objetivo converter a alma do índio brasileiro à fé cristã. Havia uma divisão 
clara de ensino: as aulas lecionadas para os índios ocorriam em escolas improvisadas, 
construídas pelos próprios indígenas, nas chamadas missões; já os filhos dos colonos recebiam o 
conhecimento nos colégios, locais mais estruturados por conta do investimento mais pesado. 
“Os índios são papel em branco”, escreveu, certa vez, o líder jesuíta no Brasil, o padre 
Manuel de Nóbrega, em carta enviada à corte portuguesa. A educação dos índios, em especial da 
tribo curumim, era uma tarefa encampada pelo padre José de Anchieta, homem considerado um 
dos mais atuantes pedagogos da Companhia de Jesus. Para educar os indígenas, Anchieta 
lançava mão de recursos ainda atuais em algumas escolas brasileiras, como o teatro, a música e 
a poesia. Por causa de sua obra preservada, especialmente as cartas em que documentava as 
rotinas escolares, Anchieta pode ser apontado como um dos nomes de maior destaque da 
história da educação brasileira. 
 Em outra ponta da educação, com um atendimento diferenciado, estavam os filhos de 
portugueses. Os descendentes de europeus também frequentavam as aulas dos jesuítas, mas 
recebiam um ensinamento mais aprofundado, inclusive de outras matérias. O conhecimento 
repassado aos alunos não se restringia à propagação do ensino religioso, e envolvia mais 
conteúdo voltado às letras. A diferenciação do ensino para este público privilegiado era um 
pedido que vinha de cima, feito pela própria elite colonial que morava no Brasil. 
De acordo com os registros históricos, a hierarquia familiar dos portugueses funcionava da 
seguinte maneira: o primogênito teria direito sobre todas as propriedades da família; o segundo 
filho era enviado aos colégios e, possivelmente, completaria seus estudos superiores na Europa; 
já o terceiro seria entregue à Igreja para seguir a vida religiosa. A educação letrada no Brasil 
colonial era direcionada somente aos homens. As mulheres não tinham acesso aos colégios e 
eram educadas somente para a vida doméstica e religiosa. 
 Ainda que houvesse uma segregação clara entre os ensinamentos repassados aos índios 
e aos filhos dos colonos, a educação jesuítica seguia (ou tentava seguir) um documento 
curricular: o Ratio Studiorum. Elaborado em 1599, a diretriz curricular era a base do conteúdo 
pensada pela Igreja. No Ratio, constava o ensino da gramática média, da gramática superior, das 
humanidades, da retórica, da filosofia e da teologia. A partir do ensino das letras, começava a se 
formar no país uma organização da sociedade hierarquizada pelo acesso à alfabetização. Isto é: 
teria mais chances de prosperar na colônia aquele que aprendesse a ler e escrever. Nos locais de 
ensino da Companhia de Jesus, os comportamentos exemplares eram bastante cobrados pelos 
padres. Os alunos que desrespeitassem os princípios morais cristãos eram punidos com castigos. 
Ao todo, até ser expulsa do Brasil, a Companhia de Jesus criou 25 residências, 36 missões 
e 17 colégios e seminários. “Talvez a Companhia tenha sido a mais importante, mas tivemos 
outras ordens religiosas operando no ensino brasileiro”, lembra Rosa Fátima de Souza, 
professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara. 
Em 1750, ano da assinatura do Tratado de Madrid entre Portugal e Espanha, a até então 
confortável situação da Companhia de Jesus no Brasil começou a se deteriorar. Nove anos 
depois, ocorreu a expulsão desta ordem religiosa das terras brasileiras. A educação jesuítica 
guarda poucas semelhanças com o que vemos hoje em dia nas escolas. O legado deixado pelos 
soldados de Cristo, porém, ainda é muito debatido na academia. Afinal, eles foram os predadores 
ou construtores da cultura? 
 
A expulsão dos jesuítas, comandada pelo então primeiro-ministro de Portugal, Marquês do 
Pombal, significou uma remodelação total do sistema de ensino brasileiro. Por ordem do Estado, 
os jesuítas tiveram seus livros e manuscritos destruídos pelos portugueses, e a religião foi 
deixada de lado nos currículos. Tratava-se de uma tentativa de introduzir matérias mais práticas 
no dia a dia escolar. Entre a expulsão dos jesuítas e a organização de um novo modelo no Brasil, 
no entanto, o país amargou um hiato de cerca de dez anos sem uma escola estruturada. 
Influenciado pelos ideais iluministas, Pombal tinha convicção de que era preciso modificar 
a educação no Brasil. E isso ocorre formalmente em 1772, com a chamada reforma pombalina. 
Após a instauração dessas mudanças, o Brasil dá seus primeiros passos na criação de um ensino 
público. A desestruturação da escola jesuíta, porém, fez com que os índios perdessem espaço no 
sistema de ensino. Por outro lado, a reorganização tornou o professor uma figura central do 
processo educacional. Neste período, foram criadas as aulas régias, ministradas por docentes 
concursados, que eram funcionários do Estado. “Portugal foi pioneiro na Europa em criar um 
ensino público. Era a própria monarquia que pagava o professor. Foram criadas poucas escolas, 
mas temos nessa época o nascimento dessa semente”, explica Rosa Fátima. 
Curiosamente, as aulas régias eram realizadas nas casas dos próprios professores. Essa 
pulverização dos locais de ensino foi uma das principais dificuldades enfrentadas pelo governo 
português, que, além de não conseguir dar conta da formação de professores - uma carência 
histórica no país -, deixou vários jovens sem acesso às aulas. Não havia, também, uma 
sistematização da idade escolar. Eram atendidas crianças a partir dos sete anos, mas não existia 
um limite estabelecido para o tempo de estudo. Ainda há muito o que se pesquisar sobre este 
período, mas o que se tem de documentação histórica mostra que o alcance do ensino após as 
reformas pombalinas foi menor do que as práticas estruturadas pela Companhia de Jesus, cujo 
trabalho se espalhou por quase todo o país. 
 Educação vira lei 
 
Um dos momentos mais importantes da história da educação no Brasil ocorre com a 
chegada da família real ao Brasil, em 1808, fugida da Europa por conta da invasão napoleônica a 
Portugal. Em um dos navios vindos da Europa, desembarcaram no Rio de Janeiro cerca de 60 mil 
livros que, mais tarde, dariam origem à Biblioteca Nacional, na própria capital carioca. A presença 
da coroa portuguesa impulsionou alguns investimentos na área da educação, aportes que 
culminaram na criação das primeiras escolas de ensino superior. Estes locais tinham como foco, 
 exclusivamente, preparar academicamente os filhos da nobreza portuguesae da aristocracia 
brasileira. 
"De acordo com a historiadora Maria de Lourdes de Fávaro, esses locais tiveram duas 
características marcantes: o ensino profissionalizante e a preparação para o trabalho no serviço 
público - ou seja, para exercer diferentes funções na corte portuguesa. Na Bahia, os primeiros 
cursos criados foram nas áreas de Medicina e Economia. Em 1818, em Salvador, também foi 
criado o curso de Desenho Industrial. No Rio de Janeiro, além do curso de Medicina, foram 
abertos locais onde eram ensinadas práticas de agricultura e química. Inicialmente, apenas 
nesses dois estados as escolas de ensino superior foram instaladas. 
 Apesar de o país ter se tornado independente em 1822, a educação, durante o período 
Imperial, não contabilizou muitos avanços práticos. A gratuidade do ensino, estabelecida por 
determinação da corte portuguesa, não representou, de fato, investimentos em construção de 
escolas com espaços físicos adequados, muito menos contratação de professores bem formados 
e uso de métodos e materiais didáticos aprofundados. A falta de prioridade do investimento em 
educação prejudicou de forma mais significativa as classes populares do país. Os filhos das 
famílias mais ricas, por outro lado, tinham acesso facilitado ao colégio, e poderiam cursar 
universidades em Portugal. 
Em 1827, foi sancionada a primeira lei brasileira que tratava exclusivamente da educação. 
O texto, em seu artigo 1º, afirmava que “Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, 
haverão as escolas de primeiras letras que forem necessárias”. A nova regra também foi um 
marco para as garotas, que passaram a se misturar aos meninos nas escolas de letras do 
Estado. Não havia, ainda, uma duração de tempo definida para o ensino primário, mas a lei foi o 
início de uma nova forma de organizar o ensino brasileiro. 
 No artigo 6º, a lei versava sobre as matérias que os professores deveriam ensinar em sala 
de aula. Constava do texto da lei o ensino da leitura, da escrita e da matemática, além princípios 
de moral cristã da religião católica e da história do Brasil. No mesmo texto, estranhamente, havia 
a previsão de que os professores considerados pouco qualificados para lecionar deveriam 
complementar a sua formação de forma individual - o Estado não bancaria a capacitação do 
docente. Neste ponto, o governo se isentou de investir e direcionar a capacitação dos 
profissionais de ensino - sendo que ainda predominavam os professores régios no país, 
decorrentes da reforma pombalina do século 18. 
Só depois de alguns anos que a preocupação com a formação do professor voltou a se 
tornar uma prioridade. Os concursos para contratação de professores públicos avaliavam, como 
critério mais importante do que a formação formal, o nível de conhecimento sobre os assuntos de 
sala de aula. Em 1834, o governo monárquico inaugurou a primeira escola de formação de 
professores, a Escola Normal de Niterói. Durante os primeiros 50 anos de funcionamento, as 
escolas normais eram frequentadas quase que exclusivamente por homens. 
Durante o período regencial, ocorreu uma reforma na Constituição que dura até hoje. No 
chamado Ato Adicional, instituído pelo governo, foi definido que o ensino elementar, o secundário 
e a formação de professores seriam de responsabilidade das províncias, e o ensino superior 
ficaria sob o guarda-chuva do poder central. Com isso, foi fortalecida a descentralização do 
ensino, com consequências negativas para a organização da educação no país. 
 Após a proclamação da República, algumas reformas pontuais foram realizadas. A 
primeira delas foi do ministro da Instrução, Benjamin Constant, realizada em 1890, com foco no 
ensino superior. As escolas de base, no entanto, não entraram nas prioridades dos primeiros 
governos republicanos. Uma das heranças do período imperial brasileiro na Constituição 
Republicana de 1891 foi a manutenção da dualidade do sistema escolar: boas e poucas escolas 
para as elites e escolas de qualidade duvidosa para os demais. Basicamente, as escolas 
mantidas pelo governo federal eram destinadas aos mais ricos. Sobravam para as camadas mais 
pobres os colégios do sistema estadual, que, mesmo com um investimento maior após a lei 
republicana, eram locais com estrutura carente e composto por professores de baixa qualificação. 
A tentativa de mudar essa realidade teve maior impulso a partir da década de 1920. O movimento 
da Escola Nova ganhou força no ambiente educacional, que sofreu reformas estaduais inspiradas 
nas ideais escolanovistas. Nomes como o do educador Anísio Teixeira despontaram como 
lideranças do movimento. A Escola Nova, no Brasil, ficou marcada pela tentativa de tornar a 
educação mais inclusiva e adotar um modelo mais moderno de ensino, voltado para uma 
educação prática da vida, tendo como base as ideias do filósofo americano John Dewey. 
 O modelo de escolas parque, por exemplo, implantado na Bahia e no Distrito Federal, 
embora tenha fracassado, foi um produto das ideias da Escola Nova. “Alguns estados conseguem 
se desenvolver mais, como Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, mas 
em toda parte vemos esse esforço”, diz Rosa Fátima. Neste período, mesmo que com caráter 
privado, inicia-se uma preocupação com a educação infantil. 
 Ainda na década de 1920, é fundada a Associação Brasileira de Educação (ABE), criada 
por Heitor Lira. A entidade tinha a função era promover os primeiros grandes debates sobre a 
educação em nosso país. Apesar dos esforços para tentar avançar na implantação de um sistema 
educacional consistente, o analfabetismo entre jovens e adultos, um problema de âmbito 
nacional, continua assolando a sociedade. De acordo com o IBGE, a taxa de analfalbetismo na 
década de 1920, para pessoas a partir dos 15 anos, era de 65%. O percentual só foi baixar da 
metade da população na década de 1940, quando caiu para 40%, o que representava cerca de 
15 milhões de pessoas. 
 
 
 
Escolas profissionalizantes e a LDB 
Com o golpe de 1930, alguns nomes de projeção na educação da década anterior 
ocuparam posições de destaque no cenário educacional. É no governo ditatorial de Getúlio 
Vargas que, apesar do controle ideológico que havia nas salas de aula, inicia-se um movimento 
em direção à criação de um sistema organizado de ensino. Uma das primeiras iniciativas do 
governo foi a criação do Ministério da Educação - ocupado primeiramente por Francisco Campos 
- e das secretarias estaduais de Educação. 
 A Constituição de 1934 foi a primeira a incluir em seu texto um capítulo inteiro sobre a 
educação. Fruto da forte centralização nacional que marcou o período varguista, o sistema 
educacional seguia as orientações e determinações do governo federal. A autonomia dos Estados 
era bastante limitada e regulada. Em 1942, foi regulamentado o ensino industrial. No mesmo ano, 
surgem as escolas do SENAI, direcionadas, especialmente, às camadas mais pobres da 
população. 
 Mas foi só após o governo varguista que a educação apareceu na Constituição como “um 
direito de todos”. No fim da década de 1940, as escolas secundárias têm forte expansão e, aos 
poucos, vão perdendo seu caráter elitista, embora o acesso ainda não fosse de todos. Segundo 
dados do Serviço de Estatística do Ministério da Educação e Cultura, em 1940, eram 155 mil 
frequentadores dessa etapa escolar. Dez anos depois, o número sobre para 365 mil. No ensino 
profissionalizante, também, a quantidade de alunos mais que dobra. É nesta época, inclusive, que 
as ideia do pedagogo pernambucano Paulo Freire ganham repercussão nacional, em especial 
seus métodos de alfabetização e de educação da população carente. 
 Em 1961, é promulgada a primeira Lei de Diretrizese Bases da Educação (LDB). 
Histórico, o documento institui um núcleo de disciplinas comuns a todos os ramos. Mas é na 
segunda versão da LDB, porém, que se torna possível enxergar um sistema de ensino mais 
parecido com o atual. “Outra questão é que, neste período, cresce a participação das mulheres 
no ensino público; a divisão entre os sexos fica quase metade a metade”, compara a professora. 
Neste documento, de 1971, fica obrigatória a conclusão do primário, fixado em oito anos, e 
passam a ser utilizados os termos 1º grau e 2º grau - nesta segunda fase escolar, procura-se 
imprimir um caráter mais técnico, por preferência dos militares que comandavam o país. Essa 
ideia prevalece até 1982. 
 Essa estrutura permanece até LDB de 1996, quando entra em vigor a denominação de 
Ensino Fundamental e Ensino Médio. A mudança ocorrida naquele ano incluiu ambos os períodos 
como etapas da educação básica, e integrou, oficialmente, a educação infantil, que ganhou mais 
relevância no cenário nacional. 
 
Apesar da construção educacional brasileira ter uma trajetória de quase 500 anos, o país 
ainda enfrenta gargalos na área. E o analfabetismo é um deles. O Plano Nacional de Educação 
(PNE), por exemplo, estabelece que o problema deve ser erradicado até 2025. Números do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, são desanimadores. Em 2017, foram 
computados 12 milhões de analfabetos, o que representa 7,2% da população adulta - o mesmo 
PNE, inclusive, estabeleceu uma meta de 6,5% até 2015. 
 
Embora o Ensino Fundamental esteja praticamente universalizado no Brasil, o acesso à 
educação para crianças entre 4 e 5, que se tornou obrigatório, é de 90%. O dado é ainda pior nas 
faixas entre 15 e 17 anos, cuja taxa de escolarização é de 87,2%. “A valorização do magistério e 
as condições de estrutura das escolas são exemplos de coisas que avançamos pouco. Temos 
escolas ótimas, mas em várias regiões do país há uma precariedade absurda. A valorização do 
professor é um problema secular no Brasil, o que faz da qualidade do ensino, desde a educação 
infantil, nosso maior gargalo”, pondera Rosa Fátima." 
 
	BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

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