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1 - RESUMOS, COMENTÁRIOS E DESTAQUES DOS PRINCIPAIS PONTOS DE DECISÕES PROFERIDAS PELA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA, TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL, ENTRE OUTROS. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUM ANOS CAIO PAIVA THIM OTIE ARAGON HEEM ANN C A I O P A I V A T H I M O T I E A R A G O N H E E M A N N JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS NOVIDADE RESUMO DE TODAS AS OPINIÕES CONSULTIVAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS INCLUI QUESTÕES DE CONCURSOS 2ª EDIÇÃO | 2017 901CAPÍTULO 10 - A N E XO ANEXO 903A N E XO CAPÍTULO 1 DECISÕES DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 1. Caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Inauguração da jurisdição contenciosa da CorteIDH na década de 1980 com três casos sobre desaparecimento forçado, todos contra Honduras. Assim, pode-se dizer que o primeiro ciclo de casos julgados pela CorteIDH teve como matéria o desapareci- mento forçado de pessoas, tratando-se do ciclo hondurenho na jurisdição contenciosa da Corte. 2. O desaparecimento forçado constitui uma violação múltipla e continuada de inúmeros direitos reconhecidos na CADH. 3. Ônus da prova no processo internacional de violação de direi- tos humanos perante a CorteIDH: (I) Regra – compete à parte demandante (CIDH e vítima ou seus familiares); (II) Exceção regulamentar – prevista no art. 41.3 do Regulamento da CorteI- DH e diz respeito aos fatos que não tenham sido expressamente negados ou controvertidos pelo Estado; (III) Exceção jurispru- dencial – o ônus é invertido e transferido para o Estado quando os meios de prova estiverem à sua disposição; (IV) Carga dinâ- mica da prova – a possibilidade de transferir o ônus probatório para o Estado leva a doutrina a identificar aqui uma hipótese de carga dinâmica da prova na CorteIDH. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO904 4. Para evitar a impunidade do crime de desaparecimento forçado, a CorteIDH admite provas indiciárias, circunstanciais ou por pre- sunção. 5. A realização da audiência de custódia se mostra muito impor- tante para prevenir os casos de desaparecimento forçado. 2. Caso Loayza Tamayo vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O habeas corpus não pode ser suspenso porque constitui uma garantia judicial indispensável para a proteção dos direitos e liberdades protegidos pela CADH. 2. A proibição do bis in idem encontrada na CADH é mais ampla e mais benéfica ao acusado que a fórmula prevista em outros tratados internacionais de direitos humanos. 3. O art. 8.4 da CADH, ao dispor sobre a proibição do bis in idem, veda apenas que o cidadão absolvido em processo criminal seja novamente submetido a processo criminal pelos mesmos fatos, não impedindo, porém, que os mesmos fatos gerem um proces- so cível ou administrativo. 4. A CorteIDH mudou de entendimento e passou a considerar as recomendações da CIDH como vinculantes para os Estados, res- saltando, porém, que isso se aplica somente ao Segundo Informe. 905A N E XO 5. Primeira vez que a CorteIDH reconhece o dano ao projeto de vida, sem, contudo, quantificá-lo, o que somente viria a ocorrer em 2001, no julgamento do Caso Cantoral Benavides vs. Peru. 6. O projeto de vida já apareceu algumas vezes na jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil, como p. ex. em decisões do STF e do STJ sobre o reconhecimento e a proteção jurídica das uniões homoafetivas. 3. Caso Blake vs. Guatemala Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Em se tratando da competência ratione temporis, a CADH ado- tou o princípio da irretroatividade, de modo que os Estados somente podem ser demandados por violações de direitos hu- manos ocorridas após a aceitação da jurisdição contenciosa da CorteIDH. 2. Considerada a natureza contínua ou permanente do desapare- cimento forçado, a CorteIDH excepciona o princípio da irre- troatividade para admitir que o Estado possa ser demandado não pelo desaparecimento em si, mas pela ausência de inves- tigação e punição dos responsáveis quando a vítima não é en- contrada após o reconhecimento da jurisdição contenciosa. 3. Critica-se o entendimento da Corte no Caso Blake pelo fato de ter desintegrado o crime de desaparecimento forçado para JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO906 fins de definição da sua competência, pois prestigiou o even- to morte quando deveria prestigiar o evento descobrimento do paradeiro da vítima. 4. Os familiares da vítima também são considerados vítimas do desaparecimento forçado. 4. Caso Castillo Petruzzi e Outros vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O crime de traição à pátria pode ser praticado por estrangeiro e esta tipificação não viola o direito à nacionalidade. 2. No Direito brasileiro, o crime de traição à pátria se encontra no Código Penal Militar nas modalidades próprio (praticado por nacional) e impróprio (praticado por estrangeiro). 3. Embora o princípio da máxima taxatividade legal não esteja expressamente previsto no art. 9º da CADH, a CorteIDH admite sua violação quando a lei penal incriminadora não seja clara e taxativa na descrição do tipo penal. 4. O Caso Castillo Petruzzi representa o primeiro precedente so- bre o entendimento predominante no SIDHs a respeito da im- possibilidade de a Justiça Militar julgar civis. 5. Cançado Trindade utilizou a expressão desnacionalização da proteção internacional dos direitos humanos para explicar que 907A N E XO a nacionalidade não é um requisito para demandar internacio- nalmente contra o Estado, sendo o bastante que o indivíduo se encontre sob a jurisdição daquele. 5. Caso dos Meninos de Rua (Villagrán Morales e outros) vs. Guatemala Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A privação arbitrária da vida não se limita ao ilícito do homicí- dio, estendendo-se à privação do direito de viver com dignidade. 2. A audiência de custódia se aplica no âmbito da prisão de adoles- centes. 6. Caso Durand e Ugarte vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A CorteIDH entendeu que o Peru abusou do uso da força para controlar a rebelião, privando arbitrariamente a vida de cida- dãos presos em estabelecimento penal. 2. A Justiça Militar é incompetente para julgar militar por homicí- dio contra civil. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO908 7. Caso Bámaca Velásquez vs. Guatemala Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Regimes similares ao RDD brasileiro violam a Convenção Americana de Direitos Humanos, uma vez que o indivíduo é tratado de forma desumana e degradante. 2. A CorteIDH realizou algumas ponderações acerca do debate en- tre o universalismo e o relativismo cultural. 3. O crime de desaparecimento forçado é um delito de “terceiro nível”, pois a sua prática atinge a pessoa desaparecida, seus fa- miliares e a sociedade como um todo. 4. O juiz Garcia Ramírez teceu duras críticas acerca da indetermi- nabilidade do conteúdo abrangido pela forma de reparação de danos chamada de restituição na íntegra (restitutio in integrum). 8. Caso do Tribunal Constitucional vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A aceitação da jurisdição contenciosa da CorteIDH é irrevogá- vel, tratando-se, portanto, de uma cláusula pétrea. Para que o Estado se desvincule da jurisdição contenciosa da Corte, deve denunciar a CADH como um todo. 909A N E XO 2. A CorteIDH enfrentou pela primeira vez a questão relativa ao juízo político exercido pelo Poder Legislativo e a relação deste com os demais poderes. O processo de responsabilidade po- lítica de competência do Poder Legislativo é denominadode impeachment. 3. O art. 8º da CADH não se aplica somente aos processos de na- tureza penal, mas também ao processo de responsabilidade po- lítica. A pessoa que estiver sujeita a um julgamento pelo Poder Legislativo conserva o seu direito a ser julgada por um órgão competente, independente e imparcial. 9. Caso Baena Ricardo e outros vs. Panamá Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. As sanções administrativas também representam o poder puni- tivo do Estado, atraindo, portanto, a aplicação dos princípios da legalidade e da irretroatividade da norma punitiva. 2. O art. 8º da CADH (garantias mínimas) se aplica não somente a processos criminais, mas também no processo administrativo. 3. Primeira vez que a CorteIDH se manifestou sobre o direito à liberdade de associação. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO910 10. Caso “A Última Tentação de Cristo” (Olmedo Bustos e Outros) vs. Chile Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Trata-se do principal precedente envolvendo o direito à liberda- de de expressão na jurisprudência da CorteIDH. 2. Normas constitucionais originárias podem ser objeto de contro- le de convencionalidade. 3. O direito à liberdade de expressão possui uma dupla dimensão, afinal, o direito em questão não abrange apenas o direito e a li- berdade de se expressar (dimensão individual), mas também a liberdade de buscar e disseminar informações (dimensão social). 11. Caso Ivcher Bronstein vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A aceitação da jurisdição contenciosa da CorteIDH é irrevogá- vel, tratando-se, portanto, de uma cláusula pétrea. Para que o Estado se desvincule da jurisdição contenciosa da Corte, deve denunciar a CADH como um todo. 2. Os Estados não possuem discricionariedade ilimitada para dis- por sobre o direito à nacionalidade. 911A N E XO 3. O art. 8º da CADH se aplica ao processo administrativo de can- celamento de naturalidade. 4. Primeiro caso da CorteIDH sobre violação indireta à liberdade de expressão. 12. Caso Barrios Alto vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. As leis de autoanistia são incompatíveis com a CADH. 2. Em obiter dictum, considerou-se também as disposições sobre prescrição incompatíveis com a CADH quando resultem em impunidade graves violações de direitos humanos. 13. Caso Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingi vs. Nicarágua Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Trata-se do primeiro caso julgado pela CorteIDH envolvendo a relação entre as comunidades tradicionais e a propriedade de suas terras. 2. O conceito de propriedade previsto no artigo 21 da CADH JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO912 abrange a propriedade comunal indígena. 3. Os tratados internacionais de direitos humanos devem ser inter- pretados à luz da jurisprudência internacional. Qualquer interpre- tação à luz das leis e precedentes domésticos deve ser tida por inconvencional. 14. Caso Hilaire, Constantine e Benjamin e outros vs. Trinidad e Tobago Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O DIDHs tem como objetivo a abolição universal da pena de morte. 2. O Brasil se encontra na segunda fase da regulação jurídica in- ternacional da pena de morte, admitindo-a apenas excepcional- mente. 3. A pena de morte obrigatória, sem considerar as particularida- des do caso concreto, é incompatível com a CADH. 4. Caracteriza privação arbitrária da vida aplicar a pena de morte para crimes que não sejam muito graves. 5. O “corredor da morte” consiste em tratamento cruel, desumano e degradante, violando, portanto, o direito à integridade pessoal. 6. Os Estados devem garantir um procedimento em seus ordena- 913A N E XO mentos que viabilize o exercício efetivo do direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena. 15. Caso “Cinco Pensionistas” vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Trata-se do primeiro precedente da CorteIDH em matéria pre- videnciária. 2. O princípio iura novit cúria é plenamente aplicável na jurisdi- ção contenciosa da CorteIDH. 3. Os direitos sociais econômicos e culturais possuem uma dimen- são coletiva, uma vez que estes são de titularidade de toda a coletividade. 4. A CorteIDH estabeleceu dois standards para que um ato estatal que vise reduzir um benefício previdenciário de determinado segurado possa ser tido como convencional, sendo eles: a) re- alizar um procedimento administrativo com pleno respeito às garantias adequadas; e b) respeitar, em todo caso, as determi- nações que adotarem os tribunais de justiça em sobreposição às decisões da administração. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO914 16. Caso Bulacio vs. Argentina Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A conduta processual do acusado tem relevância sobre o prazo máximo de duração do processo. 2. Crimes que implicam em violação de direitos humanos devem ser imprescritíveis. Porém, a partir do julgamento do Caso Albán Cornejo, a CorteIDH corrige e restringe o entendimento adotado no Caso Bulacio, afirmando que somente quando houver graves violações de direitos humanos é que pode ocorrer a imprescritibilidade. 3. O Estado tem o dever de mitigar o impacto da prisão de meno- res de idade na medida do possível. 4. As autoridades devem não apenas notificar o adolescente sobre o direito de estabelecer contato com um familiar, mas também adotar as providências para que efetivamente se viabilize aquele contato. 5. Menores de idade, quando privados de liberdade, devem ficar separados dos presos adultos. 6. As detenções coletivas de menores de idade para averiguações de identidade e por suspeita de contravenções são incompatíveis com os direitos humanos à presunção de inocência, à exigência de ordem legal para prender – salvo hipótese de flagrância – e à obrigação de notificar os encarregados dos menores de idade. 915A N E XO 17. Caso Chacina Plan de Sánchez vs. Guatemala Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A tradução da sentença para o dialeto indígena é uma forma simbólica de reparação. 2. A falta de um processo e de uma investigação pode servir como causa a ser levada em consideração no momento de fixação do quantum indenizatório a titulo de danos morais. 3. A prescrição e as leis de anistia não podem ser invocadas como excludentes de responsabilidade nos casos que envolvem gra- ves violações de direitos humanos. 4. Foi a primeira vez que o tribunal interamericano julgou um ge- nocídio com tamanha dimensão. 18. Caso Herrera Ulloa vs. Costa Rica Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Não se pode exigir o ajuizamento de ações de inconstituciona- lidade para satisfazer o requisito do esgotamento dos recursos internos para apresentar uma denúncia na CIDH. 2. Os meios de comunicação têm uma função social como veícu- JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO916 los para o exercício da dimensão social da liberdade de expres- são numa sociedade democrática. 3. O art. 13.2 prevê as hipóteses de restrição do direito à liberdade de expressão. 4. Para designar o movimento contrário ao princípio da intervenção mínima, o juiz García Ramírez, em seu voto no Caso Herrera Ulloa, utilizou a expressão “Governar com o Código Penal na mão”. 19. Caso “Instituto de Reeducação do Menor” vs. Paraguai Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O Estado se encontra numa posição especial de garante em re- lação às pessoas privadas de liberdade, devendo assumir essa posição com maior cuidado e responsabilidade quando se tra- tar de menores de idade, quando deve tomar medidas especiais orientadas pelo princípio do interesse superior da criança. 2. Adolescentes privados de liberdade têm direito à educação e o Estadodeve garantir o seu exercício. 3. A simples ameaça de tortura já configura tratamento desumano. 4. O art. 8º da CADH (garantias processuais) se aplica aos adoles- centes, exigindo do Estado que crie tribunais e procedimentos especializados. 917A N E XO 5. A privação de liberdade de menores de idade deve ser excepcio- nal, já que a regra deve ser a fixação de medidas substitutivas. 20. Caso Tibi vs. Equador Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A prisão preventiva deve ter um caráter excepcional e se guiar pelos princípios da legalidade, da presunção de inocência, da necessidade e da proporcionalidade. 2. No momento da privação de liberdade, antes que o réu dê sua primeira declaração diante da autoridade, ele deve ser notifica- do do seu direito de estabelecer contato com uma terceira pes- soa, que pode ser um familiar, um advogado ou um funcionário consular. 3. A tortura é absolutamente proibida. 4. O juiz García Ramírez denominou de guantanamização do pro- cesso penal o movimento de autoritarismo e de arbitrariedade que propõe a derrogação ou a suspensão de direitos e garantias no marco da luta contra crimes graves. 5. Uma das violações à CADH reconhecidas pela CorteIDH foi a não realização da audiência de custódia. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO918 21. Caso De La Cruz Flores vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Os Estados não podem penalizar o ato médico do profissional da medicina que atende e presta seus serviços a pessoas integrantes de grupos subversivos ou terroristas. Aplica-se aqui, inclusive, a teoria da tipicidade conglobante, pois o Estado fomenta e até ordena o exercício da medicina. 22. Caso Huilca Tecse vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O assassinato de um líder sindical pode caracterizar não apenas uma violação do direito à vida da vítima, mas também uma vio- lação do direito à liberdade de associação. 919A N E XO 23. Caso Caesar vs. Trinidade e Tobago Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O DIDHs considera as penas corporais uma forma de tortura e de tratamento desumano, cruel e degradante, podendo-se afir- mar que a vedação destas penas faz parte do corpus juris inter- nacional da proteção dos direitos humanos, tratando-se, ainda, de uma obrigação erga omnes. 2. A CADH adotou a teoria da prevenção especial positiva da pena (art. 5.6). 24. Caso Comunidade Moiwana vs. Suriname Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Cançado Trindade propôs em seu voto uma nova categoria de dano: o dano espiritual, entendido como uma forma agravada do dano moral e que se relaciona com o interior do indivíduo, com suas crenças e nas suas relações com os mortos. 2. A jurisprudência da CorteIDH sobre os povos indígenas se apli- ca a outras comunidades étnicas. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO920 25. Caso Comunidade Indígena Yakye Axa vs. Paraguai Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Nos casos envolvendo comunidades indígenas, a Convenção Americana de Direitos Humanos deve ser interpretada à luz dos costumes indígenas. 2. O conceito de propriedade previsto no artigo 21 da CADH abrange a propriedade comunal indígena. 3. O direito à identidade pessoal não compreende unicamente con- ceitos estritamente biológicos, incluindo também aspectos tão variados como o patrimônio cultural, histórico, religioso, ideo- lógico, político, profissional, social e familiar. 26. Caso Fermín Ramírez vs. Guatemala Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Pessoa física pode atuar como amicus curiae na CorteIDH. 2. Primeiro caso da CorteIDH sobre o princípio da correlação ou da congruência entre a acusação e a sentença. 3. O juízo de periculosidade resgata a ideia de Direito Penal do au- tor, sendo, portanto, incompatível com a CADH. A partir deste 921A N E XO entendimento, se defende a inconvencionalidade do instituto da reincidência. 27. Caso Yatama vs. Nicarágua Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Trata-se do primeiro caso em que a CorteIDH se deparou com matéria eleitoral. 2. O tribunal interamericano se manifestou pela primeira vez acer- ca do sentido e alcance do direito à igualdade e do dever de não discriminação. 3. A CorteIDH ordenou a alteração da legislação eleitoral no Esta- do da Nicarágua, exigindo mudanças em algumas condições de elegibilidade, o que acabou causando um impacto despropor- cional nos membros de comunidade indígenas que costumavam concorrer ao pleito eleitoral. 4. A Nicarágua não alterou a sua legislação eleitoral, descumprin- do a sentença da CorteIDH. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO922 28. Caso Acosta Calderón vs. Equador Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A condenação pelo crime de tráfico de drogas sem a apreensão e submissão da substância a perícia viola a presunção de ino- cência. 2. O direito de ser informado das razões da prisão (CADH, art. 7.4) não se aplica na prisão em flagrante. Este entendimento da CorteIDH merece críticas, tanto que foi alterado posteriormen- te, no julgamento do Caso López Álvarez vs. Honduras. 3. A prisão preventiva é uma medida cautelar, e não punitiva, de- vendo ser aplicada somente em casos excepcionais. 4. O simples conhecimento por parte de um juiz de que uma pes- soa está detida não satisfaz a garantia da audiência de custódia. 5. Um “Agente do Ministério Público” não pode ser considerado autoridade judicial para os fins da audiência de custódia. 6. O interrogatório realizado na fase investigatória deve contar com a presença da defesa técnica. 923A N E XO 29. Caso das Meninas Yean e Bosico vs. República Dominicana Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Os Estados não possuem discricionariedade ilimitada para defi- nir quem é nacional. 2. Os Estados têm a obrigação de evitar a apatridia. 3. O direito ao nome constitui um elemento básico e indispensável da identidade de cada pessoa. 30. Caso Raxcacó Reyes vs. Guatemala Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. “Crime mais grave”, para que seja admitida a aplicação da pena de morte, deve envolver a perda de seres humanos. O crime de sequestro seguido da morte de uma vítima não se encaixa na categoria de “crime mais grave”. 2. A pena de morte obrigatória, que desconsidera as circunstâncias do caso concreto, viola a CADH. 3. A vedação da pena de morte ainda não integra a categoria do jus cogens. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO924 31. Caso Palamara Iribarne vs. Chile Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O crime de desacato viola o direito à liberdade de expressão, além de projetar uma discriminação entre funcionários públicos e “pessoas comuns”, pois protege de forma diferenciada a honra daqueles primeiros. 2. A proteção da propriedade privada pela CADH (art. 21.1) abran- ge não somente os bens materiais, mas também a propriedade intelectual. 3. A Justiça Militar é incompetente para julgar civis, ainda que estes estejam prestando algum tipo de serviço de caráter transi- tório para as Forças Armadas. 32. Caso Gómez Palomino vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O tribunal interamericano definiu os quatro elementos estrutu- rantes do delito de desaparecimento forçado. São eles: a) a pri- vação da liberdade; b) a intervenção direta de agentes estatais ou a aquiescência destes; e c) a negativa de reconhecer a deten- ção e de revelar o fim ou o paradeiro da pessoa interessada. 925A N E XO 2. Não há a exigência de características ou condições especiais para enquadrar determinada pessoa como vítima do delito de desaparecimento forçado. 3. O delito de desaparecimento forçado pode ser praticadopor agentes do Estado ou pessoas ou grupos de pessoas que atuem com autorização, apoio ou aquiescência do Estado. 4. É inconvencional a legislação interna que exige a necessidade de o desaparecimento forçado estar “devidamente comprova- do” para seja possível atribuir a autoria do delito a determinada pessoa. 33. Caso López Álvarez vs. Honduras Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A prisão preventiva está limitada pelos princípios da legalidade, presunção de inocência, necessidade e proporcionalidade, cons- tituindo a medida mais severa que se pode impor ao acusado. 2. A decretação da prisão preventiva requer um juízo de propor- cionalidade. 3. As características pessoas do acusado e a gravidade do delito não são, por si mesmas, justificação suficiente da prisão pre- ventiva. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO926 4. A prisão preventiva obrigatória é incompatível com a CADH. 5. Superando o precedente criado no julgamento do Caso Acosta Calderón, a CorteIDH decidiu que também na prisão em fla- grante o cidadão deve ser informado sobre as razões da sua de- tenção. 6. Requisitos para aferir se o processo teve duração razoável: (I) complexidade do caso; (II) atividade processual do interessa- do; (III) conduta das autoridades judiciais; e (IV) afetação atual gerada pela duração do procedimento na situação jurídica da pessoa. 7. Termo inicial da contagem da duração razoável do processo: primeiro ato de procedimento dirigido contra o cidadão. Termo final: satisfação da garantia do duplo grau de jurisdição. 8. O interrogatório prestado na fase investigatória deve contar com a presença da defesa técnica. 9. A vedação a pessoa indígena presa de se expressar no próprio idioma não é uma consequência necessária da privação da liber- dade, consistindo, portanto, em violação do direito à liberdade de expressão. 927A N E XO 34. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Primeiro caso envolvendo violações de direitos humanos de pessoa com deficiência mental. 2. O Estado responde pela ação de toda entidade, pública ou pri- vada, que esteja autorizada a atuar com capacidade estatal, tal como ocorre quando se prestam serviços em nome do Estado. 3. Primeira condenação do Brasil na CorteIDH. 4. O uso da sujeição pode violar o direito à integridade física dos pacientes, devendo ser aplicado somente em casos excepcio- nais, do modo menos restritivo, pelo período absolutamente ne- cessário e em condições que respeitem a dignidade do paciente. 35. Caso Goiburú e outros vs. Paraguai Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O acesso à justiça é norma de jus cogens. 2. É agravada a responsabilidade internacional do Estado que, além de permitir a prática de atos de tortura e de desapareci- mentos forçados praticados pelos seus agentes, ainda se omite JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO928 em investigar os fatos de forma efetiva. 3. O crime de desaparecimento deve considerado contínuo ou per- manente enquanto não se descobrir o destino ou o paradeiro da vítima. 4. As expressões terrorismo de Estado, política de Estado e crime de Estado não se confundem. O terrorismo de Estado é materia- lizado nas situações em que o Estado se converte em terrorista, planta medo e o alarma na população, causando a angústia que perturba gravemente a paz no seio da sociedade. A política de Estado é materializada nas situações em que o Estado assume um plano e o desenvolve por meio de certas condutas que se disciplinam ao fim desenhado pelo próprio Estado. Já o crime de Estado ocorre na hipótese em que o próprio Estado comete crimes, como, por exemplo, nos casos envolvendo agentes esta- tais no período ditatorial. 36. Caso Almonacid Arellano e outros vs. Chile Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A CorteIDH inaugurou a doutrina do controle de convenciona- lidade no continente americano. 2. Os crimes de lesa-humanidade são imprescritíveis, uma vez que há um costume internacional nesse sentido. 929A N E XO 3. Há uma confluência entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos e o Direito Penal. Essa confluência pode ser verifica- da a partir do conceito de crimes contra a humanidade. 4. As leis de autoanistia violam a Convenção Americana de Direi- tos Humanos e o direito de acesso à justiça. 5. A jurisdição militar deve julgar apenas agentes militares. O julgamento de civis pela jurisdição militar viola a Convenção Americana de Direitos Humanos. 37. Caso do Presídio Miguel Castro Castro Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Primeiro caso de aplicação da Convenção de Belém do Pará e também o primeiro caso sobre violência de gênero contra a mulher. 38. Caso Nogueira de Carvalho e outro vs. Brasil Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O Brasil foi absolvido neste caso. 2. A atuação da CorteIDH para determinar que o Estado investi- JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO930 gue, processe e puna os responsáveis pela violação de direitos humanos encontra alguns limites. 3. Primeiro caso enfrentado pela CorteIDH sobre violação de di- reitos humanos contra “defensores de direitos humanos”. 39. Caso da Chacina da Rochela vs. Colômbia Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Não é possível postular a anulação ou modificação da sentença proferida pela CorteIDH via pedido de interpretação. 2. A educação em direitos humanos consiste em uma forma de reparação de violações de direitos humanos. 3. A proibição de toda e qualquer forma de tortura integra o domí- nio do jus cogens. 40. Caso Chaparro Álvarez e Lapo Íñiguez vs. Equador Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O direito a ser informado sobre as razões da prisão (CADH, art. 7.4) deve ensejar a que o responsável pela prisão a explique 931A N E XO numa linguagem simples, livre de tecnicismos, sendo insufi- ciente que mencione apenas a base legal. Não se exige que estas informações sejam prestadas por escrito. 2. A apresentação da pessoa presa ao ministério Público não satis- faz o art. 7.5 da CADH (audiência de custódia). 3. A presença do juiz no momento da prisão não afasta a necessi- dade da audiência de custódia. 4. É incompatível com a CADH a prisão com base em meras con- jecturas ou para atender a fins preventivo-gerais ou preventivo- -especiais. 5. A prisão preventiva deve ser submetida a revisão periódica. 6. Primeira vez que a CorteIDH se manifestou sobre as medidas cautelares reais ou patrimoniais. 41. Caso do Povo Saramaka vs. Suriname Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Não é necessária a autorização do líder da comunidade tradi- cional para que a comunidade esteja apta a provocar o sistema interamericano de direitos humanos. 2. Não há litispendência internacional entre procedimentos de re- latórios especiais de organismos universais e as demandas da JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO932 Corte Interamericana de Direitos Humanos. 3. O direito de consulta às comunidade tradicionais deve ser pré- vio, livre e de boa-fé. 4. Há uma distinção entre direito de consulta e dever de consen- timento. O dever de obter o consentimento das comunidades indígenas é exigido nas hipóteses de grandes empreendimen- tos que possam vir a provocar a perda do território indígena ou comprometer significativamente a relação da comunidade indígena com a sua terra, o que, neste caso, inclui o acesso aos recursos fundamentais que fomentam a existência do grupo e de suas tradições culturais. Já o dever de consulta prévia, informa- da e de boa-fé, é necessário diante de fatos que não envolvam a perda da terra indígena ou que possam comprometer significa- tivamente a relação da comunidadetradicional com a sua terra. 5. Não há a necessidade de individualizar cada um dos benefici- ários das possíveis reparações a serem estipuladas pela CorteI- DH nos casos que envolvem comunidades tradicionais inteiras. 6. A construção de um posto de saúde pode ser estipulada como uma forma de compensação ao dano moral sofrido pelas víti- mas. 7. As comunidades indígenas não devem ser confundidas com as comunidades tribais. As comunidades indígenas são nativas da região que habitam, enquanto as comunidades tribais não são nativas da região que habitam. 933A N E XO 42. Caso Kimel vs. Argentina Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A liberdade de expressão, numa sociedade democrática, requer que o Estado não somente minimize as restrições à circulação da informação, mas também que equilibre, na medida do possí- vel, a participação de diferentes informações no debate público, impulsionando o pluralismo informativo. 2. A proteção da honra como bem jurídico penal é um fim legítimo de acordo com a CADH. 3. A proteção da honra dos funcionários públicos se submete a um regime diferenciado, pois eles se expõem voluntariamente a um escrutínio mais exigente, exercendo atividades que saem do domínio da esfera privada para se inserir na esfera do debate público. 43. Caso Tristán Donoso vs. Panamá Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Utilização de tipos penais para censurar a liberdade de crítica e de expressão viola a Convenção Americana de Direitos Huma- nos. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO934 2. Os indivíduos envolvidos com assuntos de interesse público estão submetidos a uma maior restrição no que tange ao seu direito à privacidade e à honra. 44. Caso Escher e outros vs. Brasil Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O sigilo das comunicações telefônicas também é protegido pelo direito à vida privada (CADH, art. 11.2). 2. A divulgação de conversas telefônicas interceptadas consiste em ingerência arbitrária e ilegal na vida privada, na honra e na reputação dos indivíduos. 45. Caso Garibaldi vs. Brasil Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O dever de os Estados investigarem a violação de direitos hu- mano é uma obrigação de meio e não de resultado. 935A N E XO 46. Caso González e outras (“Campo Algodoeiro”) vs. México Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Primeira vez que a CorteIDH analisou um caso envolvendo si- tuação de violência estrutural de gênero. 2. Primeira vez que um tribunal internacional reconheceu a exis- tência de “feminicídio” como crime. 3. A CorteIDH possui competência para analisar violações de ou- tros tratados que compõem o sistema interamericano, a exem- plo da Convenção de Belém do Pará. 4. O dano ao projeto de vida não pode ser reconhecido quando as vítimas não estiverem vivas. 47. Caso Barreto Leiva vs. Venezuela Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O foro por prerrogativa de função é compatível com a CADH. 2. A competência por conexão, no caso, p. ex., em que um dos acusados possui foro por prerrogativa de função, ensejando a que o tribunal exerça um juízo atrativo do corréu sem foro, é compatível com a CADH. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO936 3. A garantia do duplo grau se aplica também quando o acusado é julgado pela instância máxima do seu país. 48. Caso Vélez Loor vs. Panamá Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. É inconvencional a fixação de políticas migratórias cujo foco principal seja a detenção arbitrária. 2. O direito à audiência de custódia deve ser observado no caso de prisão decorrente de situação migratória, sob pena de violação do artigo 7.5 da CADH. 3. É obrigatória a defesa técnica nos procedimentos administrati- vos ou judiciais que possam resultar em decisão de expulsão, deportação ou privação de liberdade. 4. O direito à assistência consular deve ser observado em caso de prisão decorrente de situação migratória. 5. Há uma verdadeira obrigação do Estado de separar as pessoas custodiadas em razão de situação migratória irregular das pes- soas custodiadas em razão da prática de infrações penais. 937A N E XO 49. Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Trata-se do primeiro caso brasileiro envolvendo o tema “justiça de transição”. 2. A justiça de transição possui quatro dimensões. São elas: o di- reito à verdade, o direito à memória, o direito à reparação das vítimas e reforma e redemocratização das instituições envolvi- das com a ditadura militar. 3. A justiça de transição possui três fases, são elas: (1) justiça de transição pós-guerra, (2) justiça de transição pós-guerra fria e (3) justiça de transição no estado estacionário. 4. A justiça de transição possui quatro níveis, são eles: (1) o pla- no individual, (2) a dimensão dos Estados-nação, (3) os atores corporativos da sociedade e (4) os tribunais internacionais de direitos humanos. 5. A teoria da quarta instância não é admitida no sistema intera- mericana de direitos humanos. Não há uma hierarquia entre os tribunais domésticos e a CorteIDH. Do mesmo modo, o tribunal interamericano não funciona como uma corte de cassação das decisões internas. 6. O dever de investigar e punir os crimes de lesa-humanidade é norma de jus cogens. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO938 7. O crime de desaparecimento deve considerado contínuo ou per- manente enquanto não se descobrir o destino ou o paradeiro da vítima. Tal situação possibilitou a condenação do Brasil por violações de direitos humanos cometidas antes de sua adesão à jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos. 8. A Corte Interamericana de Direitos Humanos proferiu um man- dado internacional implícito de criminalização contra o Brasil: a tipificação do delito de desaparecimento forçado. O Estado brasileiro ainda não tipificou o delito em questão no seu orde- namento jurídico doméstico. 50. Caso Gelman vs. Uruguai Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A aprovação de plebiscito pela população de determinado Esta- do não tem o condão de conferir roupagem de convencionalida- de para determinada lei de anistia. 2. A CorteIDH avançou em sua jurisprudência sobre o controle de convencionalidade no julgamento do Caso Gelman, afirmando que não somente os membros do Poder Judiciário, mas também toda e qualquer autoridade pública tem o poder-dever de exer- cer o controle de convencionalidade. 3. A subtração de uma criança recém-nascida e a alteração da sua identidade caracteriza uma forma peculiar de desaparecimento forçado. 939A N E XO 51. Caso López Mendoza vs. Venezuela Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O princípio da presunção de inocência deve ser aplicado aos processos administrativos. 2. A restrição a direitos políticos decidida em processo de natureza não penal viola o artigo 23.2 da CADH. 3. A aplicação retroativa de normativas punitivas que restringem direitos políticos viola o artigo 9.2 da Convenção Americana de Direitos Humanos. 52. Caso Atala Riffo e crianças vs. Chile Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Primeiro caso julgado pela CorteIDH sobre proteção do direito à diversidade sexual. 2. A orientação sexual dos pais das crianças não pode ser invocada para decidir processo judicial de guarda. 3. A CADH não acolheu um conceito fechado ou “tradicional” de família. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO940 53. Caso Povo Indígena Kichwa Sarayaku vs. Equador Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. É possível a utilização da Convenção 169 da OIT como vetor hermenêutico para que se interpretem as demais obrigações de direitos humanos,mesmo quando o Estado não a tenha ratifica- do. 2. O dever de consulta para com as comunidades indígenas deve ser prévio, livre e de boa-fé. 54. Caso Furlan e familiares vs. Argentina Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Trata-se do primeiro caso envolvendo a atuação da Defensoria Pública Interamericana. 2. Os Estados americanos possuem um dever de incluir a pessoa com deficiência na sociedade e adotar medidas positivas para eliminar as barreiras impostas pela sociedade majoritária. 941A N E XO 55. Caso Mohamed vs. Argentina Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A garantia do duplo grau de jurisdição nasce com a prolação de uma sentença desfavorável ao indivíduo. Logo, se o acusado é absolvido em primeira instância e depois condenado na segunda instância por meio de recurso do Ministério Público, a ele deve ser garantido um recurso ordinário para submeter sua condena- ção a um duplo grau (dupla conformidade), com possibilidade de discutir fatos, provas e matérias jurídicas. 2. A garantia do duplo grau possui a característica da bilaterali- dade (e não da unilateralidade), destinando-se tanto à defesa quanto à acusação. A interposição de recurso pelo MP não con- siste em bis in idem, já que este somente ocorre quando há um segundo julgamento após uma sentença absolutória transitada em julgado. Além disso, o julgamento do recurso da acusação não implica em novo processo, mas apenas numa outra etapa do (mesmo) processo. 56. Caso Artavia Murillo e outros (“fecundação in vitro”) vs. Costa Rica Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Primeiro precedente da CorteIDH em que a fecundação in vitro JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO942 (FIV) foi analisada a partir dos direitos humanos. 2. A decisão de ser pai ou mãe no sentido genético ou biológico está protegida pelo direito à vida privada (CADH, art. 11.2). 3. O direito à maternidade consiste em parte essencial do livre de- senvolvimento da personalidade das mulheres. 4. Entre os argumentos invocados pela CorteIDH para reprovar a proibição da FIV se encontra o direito a gozar dos benefícios do progresso científico. 5. A concepção a que se refere a CADH (art. 4.1) somente ocorre com a implantação do óvulo fecundado no útero. 6. A proibição da FIV ocasiona um impacto desproporcional para um grupo determinado de pessoas (mulheres inférteis, casais sem condições financeiras para realizar a FIV no exterior etc.), gerando uma discriminação indireta. 57. Caso Mendoza e outros vs. Argentina Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A fixação de medidas ou penas privativas de liberdade de ado- lescentes obedece aos princípios de (I) ultima ratio e de máxima brevidade, (II) delimitação temporal e (III) revisão periódica. 2. A prisão perpétua de menores de idade é incompatível com a CADH. 943A N E XO 3. Considerando que, segundo a CADH, a pena deve ter por fina- lidade a reforma e a readaptação social dos condenados, pode- mos concluir que um dos seus requisitos seja a temporalidade, pois não faria sentido reformar e adaptar alguém que viverá para sempre no cárcere. Por isso, entendemos que a prisão per- pétua é incompatível com a CADH. 58. Caso Mémoli vs. Argentina Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Admite-se a utilização do direito penal para censurar os pro- fissionais da imprensa pelo simples exercício da profissão. OBS: O Caso Mémoli vs. Argentina é alvo de muitas críticas de toda a comunidade internacional, que, além de considerar o jul- gamento um “ponto fora da curva” na jurisprudência da CorteI- DH, também o classifica como um evidente retrocesso no trata- mento da liberdade de expressão, e isso porque a jurisprudência clássica da Corte Interamericana é no sentido de reconhecer a inconvencionalidade da utilização de tipos penais como forma de inibir o direito à liberdade de expressão dos indivíduos. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO944 59. Caso Comunidades Afrodescendentes deslocadas da Bacia do Rio Cacarica (Operação Gênesis) vs. Colômbia Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Pela primeira vez desde o seu funcionamento, a CorteIDH utili- zou o termo “comunidade afrodescendente” em vez de “comu- nidade tribal”. 2. O tribunal interamericano estendeu os direitos diferenciados dos povos indígenas para as comunidades afrodescendentes de maneira direta e imediata. O artigo 21 da CADH é aplicável nos casos envolvendo comunidades afrodescendentes. 3. A prática do deslocamento forçado viola normas de Direito In- ternacional Humanitário. 4. As vítimas do deslocamento forçado devem participar das deci- sões que dizem respeito ao retorno ao local de origem. 5. A prática do deslocamento forçado de pessoas viola a garantia do respeito ao núcleo familiar prevista na CADH. 60. Caso Família Pacheco Tineo vs. Bolívia Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O tribunal interamericano analisou pela primeira vez um caso 945A N E XO envolvendo o princípio do non-refoulement. 2. A Defensoria Pública Interamericana atuou no caso Família Pa- checo. 3. Os institutos do refúgio e asilo podem ser submetidos ao crivo dos tribunais internacionais de direitos humanos. 61. Caso Liakat Ali Alibux vs. Suriname Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O princípio da irretroatividade da norma penal maligna não se aplica às leis processuais. 2. A garantia do duplo grau se aplica também quando o indivíduo for julgado pela instância máxima do seu país. 3. Embora não se discute a importância da existência de um Tribu- nal Constitucional, a CADH não impõe aos Estados um modelo específico para realizar o controle de convencionalidade. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO946 62. Caso Brewer Carías vs. Venezuela Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Primeira vez que a CorteIDH acolheu a exceção preliminar de ausência de esgotamento dos recursos internos. 63. Caso Norín Catrimán e outros (dirigentes, membros e ativista do Povo Indígena Mapuche) vs. Chile Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O princípio da máxima taxatividade legal tem uma importância especial na tipificação do crime de terrorismo. 2. A presunção legal do “dolo terrorista” é incompatível com o princípio da legalidade. 3. A testemunha anônima é compatível com a CADH, desde que sua utilização seja excepcional e também que sejam adotadas medidas de contrapeso. 947A N E XO 64. Caso Defensor de Direitos Humanos e outros vs. Guatemala Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A qualidade de Defensor de Direitos Humanos não está assen- tada na condição de particular ou de funcionário público, mas na atuação independente e sempre com vistas à proteção e à promoção dos direitos humanos. 2. A Corte Interamericana de Direitos Humanos fixou alguns stan- dards para analisar a adequação das medidas realizadas pelo Estado para proteger as atividades dos defensores de direitos humanos. São elas: a) estejam de acordo com as funções desem- penhadas pelos defensores; b) o nível de risco deve ser objeto de uma avaliação a fim de adotar e monitorar as medidas que se encontrem vigentes; e c) devem poder ser modificadas de acordo com a variação da intensidade de risco. 65. Caso Rodríguez Vera e outros (desaparecidos do Palácio de Justiça) vs. Colômbia Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A CorteIDH pode utilizar as normas de Direito Internacional Humanitário para interpretar as disposições da Convenção Americana de Direitos Humanos. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO948 2. A CorteIDH não pode exercer um controle de legalidade sobre procedimentos que tramitam perante a CIDH. 3. Toda e qualquer detenção deveser registrada nos bancos de da- dos do Estado. 4. A Cláusula Martens busca conferir um mínimo ético humanitá- rio no âmbito dos conflitos armados. 66. Caso Arguelles e outros vs. Argentina Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Não se pode manter a prisão preventiva de um acusado com base no comportamento processual de outro acusado. 2. A prisão preventiva deve ser limitada pelo princípio da propor- cionalidade, de modo que uma pessoa considerada inocente não pode receber igual ou pior tratamento que uma pessoa conde- nada. 3. Exige-se formação jurídica dos membros de tribunal militar com competência para apreciar matéria penal. 4. O profissional que atua na defesa técnica deve obrigatoriamente que ter formação jurídica. 949A N E XO 67. Caso Granier e outros (Rádio Caracas de Televisão) vs. Venezuela Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A Convenção Americana de Direitos Humanos não é aplicável às pessoas jurídicas. 2. A mera utilização de pessoas jurídicas como forma de sustento por pessoas naturais não implica em proteger – diretamente – aquelas, pois a violação, neste cenário, atinge as pessoas físicas vinculadas com a empresa. 3. Trata-se do primeiro precedente da CorteIDH envolvendo de maneira direta a decisão de um Estado de não renovar a conces- são de um canal de televisão de sinal aberto. 4. O direito à liberdade de expressão possui uma dupla dimensão, afinal, o direito em questão não abrange apenas o direito e a liberdade de se expressar (dimensão individual), mas também a liberdade de buscar e disseminar informações (dimensão so- cial). 5. A pluralidade dos meios de comunicação consiste em uma ga- rantia efetiva para se preservar a liberdade de expressão. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO950 68. Caso Wong Ho Wing vs. Peru Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Nos pedidos de cooperação internacional (extradição, auxílio direto, transferência internacional de presos etc.), os Estados devem respeitar os direitos humanos dos indivíduos envolvidos. 2. Não houve violação ao princípio do non-refoulement. 3. A teoria da proteção indireta dos direitos humanos pode ser aplicada no sistema interamericano de direitos humanos, desde que a suposta alegação de risco de violação de direitos humanos no Estado requerente não seja genérica. 4. Trata-se do principal precedente da CorteIDH em matéria de extradição. 5. O tema da cláusula de especialidade foi abordado de forma in- direta. 69. Caso Gonzales Lluy e outros vs. Equador Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A CorteIDH reconheceu de forma inédita o fenômeno da inter- seccionalidade na seara dos direitos humanos. A intersecciona- 951A N E XO lidade retrata a incidência dos mais diversos fatores de discri- minação em um caso concreto. 2. Em situações de extrema vulnerabilidade, é possível equiparar uma pessoa portadora do vírus HIV à condição de pessoa com deficiência, nos termos da Convenção da ONU sobre Pessoa Com Deficiência. 70. Caso Ruano Torres e outros vs. El Salvador Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A declaração de corréu colaborador deve ter eficácia probatória limitada e não pode fundamentar, sozinha, uma condenação. 2. A CADH não condiciona o direito à assistência jurídica gratuita no processo penal à hipossuficiência financeira, bastando a ina- tividade do acusado para nomear advogado. 3. A defesa técnica prestada pela Defensoria Pública não deve ser concebida apenas como uma formalidade processual, exigindo- -se, ao contrário, que o defensor público atue de forma diligente com o fim de proteger as garantias processuais do acusado e evite que seus direitos sejam violados. 4. O Estado pode ser responsabilizado pela atuação deficiente da Defensoria Pública, desde que as falhas ou as omissões sejam graves o bastante para não serem confundidas com mera dis- JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO952 crepância de estratégia, sendo que a ausência de controle pelo Poder Judiciário pode deixar ainda mais evidente a responsabi- lidade estatal. 71. Caso Velásquez Paiz e outros vs. Guatemala Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Tratando-se de crime violento cometido contra mulher, as auto- ridades estatais têm a obrigação de investigar de ofício as possí- veis conotações discriminatórias por razão de gênero, especial- mente quando existam indícios concretos de violência sexual. 2. A forma de se vestir consiste em meio legítimo para exercer o direito à liberdade de expressão. 72. Caso Povos Kaliña e Lokono vs. Suriname Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O fenômeno conhecido como dupla afetação das terras indí- genas consiste em compatibilizar a proteção, em uma mesma propriedade, de interesses e direitos ambientais e direitos das comunidades tradicionais. A CorteIDH reconheceu a conven- cionalidade deste fenômeno. 953A N E XO 2. Os Estados americanos devem realizar os estudos de impacto ambiental (EIA) como forma de proteção dos direitos das co- munidades tradicionais. 73. Caso Duque vs. Colômbia Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A CorteIDH decidiu que orientação sexual não pode ser enten- dida como fator determinante para impedir a obtenção do be- nefício denominado pensão por morte, sob pena de violação do artigo 24 da Convenção Americana de Direitos Humanos (prin- cípio da igualdade). 74. Caso Chinchilla Sandoval vs. Guatemala Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O Estado se encontra numa posição especial de garante em re- lação às pessoas privadas de liberdade. 2. Os serviços de saúde dos estabelecimentos penais devem man- ter um nível de qualidade equivalente àquele oferecido a quem não está privado de liberdade. 3. As pessoas privadas de liberdade que sofram enfermidades gra- JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO954 ves, crônicas ou terminais não devem permanecer em estabe- lecimentos carcerários, salvo quando o Estado possa assegurar que têm unidades adequadas de atenção médica para lhes ofere- cer uma atenção e tratamento especializado adequados. 4. Para que possa aprisionar pessoas com deficiência, o Estado deve ajustar um ambiente no qual o sujeito com qualquer limi- tação possa gozar da maior independência possível, para que participe plenamente em todos os aspectos da vida em igualda- de de condições com as demais. 75. Caso Flor Freire vs. Equador Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A orientação sexual não deve ser fator determinante para se- lecionar quem deve ou não ser membro das Forças Armadas, sob pena de violação do artigo 24 da Convenção Americana de Direitos Humanos (princípio da igualdade). 76. Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde retrata a primei- 955A N E XO ra condenação do Estado brasileiro na jurisdição contenciosa da CorteIDH. 2. A proibição do trabalho escravo é uma norma de jus cogens. 3. A proibição do trabalho escravo é uma obrigação erga omnes. 4. O tribunal interamericano utilizou no julgamento do Caso Tra- balhadores da Fazenda Brasil, pela primeira vez, o critério da condição econômica como fator para aferir a existência ou não de uma situação discriminatória. Nesta linha, a CorteIDH reco- nheceu a existência de uma discriminação estrutural histórica. 5. São dois os elementos necessários para definir uma situação como escravidão: i) o estado ou condição de um indivíduo e ii) o exercício de algum dos atributos do direito de propriedade, isto é, que o escravizador exerça poder ou controle sobre a pes- soa escravizada ao ponto de anular a personalidade da vítima. 6. O crime de escravidãocometido no contexto de violações de direitos humanos é imprescritível. 7. O artigo 6.1 da Convenção Americana de Direitos Humanos al- cança toda e qualquer pessoa (homens, mulheres e crianças). JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO956 77. Caso I.V. vs. Bolívia Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. O Estado tem uma obrigação positiva – ou uma obrigação de transparência ativa – de transmitir de ofício as informações necessárias às pessoas para que estas possam compreender e acessar os serviços de saúde. 2. Elementos que compõem o consentimento informado: (I) cará- ter prévio; (II) caráter livre; e (III) caráter pleno e informado. 957A N E XO CAPÍTULO 2 CASOS PENDENTES DE JULGAMENTO NA CORTE INTERAME- RICANA DE DIREITOS HUMANOS ENVOLVENDO O BRASIL 1. Caso Povo Xucuru vs. Brasil Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Trata-se do primeiro caso contra o Brasil na jurisdição conten- ciosa da Corte Interamericana sobre comunidades indígenas. O caso ainda não foi julgado. 2. Caso Vladimir Herzog vs. Brasil Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Este caso ainda não foi julgado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO958 3. Caso Cosme Rosa Genoveva e outros vs. Brasil (Caso Favela Nova Brasília) vs. Brasil Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Trata-se do primeiro caso brasileiro na jurisdição contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos envolvendo o tema da impunidade em casos de violência policial. 2. A CorteIDH deverá se manifestar sobre a convencionalidade da prática denominada “autos de resistência à prisão”. 3. O caso ainda não foi julgado. 959A N E XO CAPÍTULO 3 MEDIDAS PROVISÓRIAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DI- REITOS HUMANOS 1. Medidas provisórias da CorteIDH: casos contra o Brasil relacionados a problemas com o sistema penitenciário Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. Alguns dos casos contra o Brasil em que a CorteIDH concedeu medida provisória: Caso Penitenciária Urso Branco (2002- 2011), Caso Crianças e Adolescentes privados de liberdade no “Complexo do Tatuapé” da FEBEM (2005-2008), Caso Com- plexo Penitenciário de Curado em Pernambuco (2014) e Caso Complexo Penitenciário de Pedrinhas (2014). 2. Caso B. vs. El Salvador Órgão julgador: CorteIDH Principais pontos 1. A prática do aborto de feto anencéfalo não viola a Convenção Americana de Direitos Humanos. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO960 3. Presos de Guantánamo sem acusação e sem julgamento vs. Estados Unidos da América Órgão julgador: CIDH Principais pontos 1. Os Estados Unidos da América jamais cumpriram qualquer de- cisão proferida pela CIDH acerca do fechamento da prisão de Guantánamo, sob o argumento do caráter não vinculante de tais medidas cautelares. Deste modo, a Guantánamo Bay continua em pleno funcionamento. 961A N E XO CAPÍTULO 4 OPINIÕES CONSULTIVAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS Opinião Consultiva 01 Órgão CorteIDH Tema da consulta O conteúdo da função consultiva da CorteIDH. Opinião Consultiva 02 Órgão CorteIDH Tema da consulta O efeito das reservas sobre a entrada em vigência da CADH. Opinião Consultiva 03 Órgão CorteIDH Tema da consulta As restrições à pena de morte. Opinião Consultiva 04 Órgão CorteIDH Tema da consulta A proposta de alteração da Constituição da Costa Rica. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO962 Opinião Consultiva 05 Órgão CorteIDH Tema da consulta A filiação obrigatória de jornalistas. Opinião Consultiva 06 Órgão CorteIDH Tema da consulta O alcance da expressão “leis” empregada pelo art. 30 da CADH. Opinião Consultiva 07 Órgão CorteIDH Tema da consulta A exigibilidade do direito de retificação ou resposta. Opinião Consultiva 08 Órgão CorteIDH Tema da consulta O habeas corpus diante da suspensão de garantias individuais. Opinião Consultiva 09 Órgão CorteIDH Tema da consulta O devido processo legal em situações de emergência 963A N E XO Opinião Consultiva 10 Órgão CorteIDH Tema da consulta A interpretação da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. Opinião Consultiva 11 Órgão CorteIDH Tema da consulta Exceções ao prévio esgotamento dos recursos internos. Opinião Consultiva 12 Órgão CorteIDH Tema da consulta A compatibilidade de um projeto de lei em face do direito ao duplo grau de jurisdição. Opinião Consultiva 13 Órgão CorteIDH Tema da consulta As atribuições da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO964 Opinião Consultiva 14 Órgão CorteIDH Tema da consulta A responsabilidade do Estado pela edição e aplicação de Leis domésticas que violam a Convenção Americana de Direitos Humanos Opinião Consultiva 15 Órgão CorteIDH Tema da consulta Os informes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Opinião Consultiva 16 Órgão CorteIDH Tema da consulta A pena de morte e o direito à assistência consular. Opinião Consultiva 17 Órgão CorteIDH Tema da consulta Interpretação dos artigos 8º e 25 da CADH que versam sobre os direitos da criança. 965A N E XO Opinião Consultiva 18 Órgão CorteIDH Tema da consulta Possibilidade de aplicação do princípio da igualdade e da não discriminação aos imigrantes ilegais. Opinião Consultiva 19 Órgão CorteIDH Tema da consulta A existência ou não de um órgão no sistema interamericano de direitos humanos com competência para exercer controle de legalidade sobre a atuação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Opinião Consultiva 20 Órgão CorteIDH Tema da consulta Interpretação acerca do art. 55 da CADH e da figura do juiz ad hoc, além da possibilidade de um magistrado da mesma nacionalidade do Estado demandado processar e julgar a demanda. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO966 Opinião Consultiva 21 Órgão CorteIDH Tema da consulta Direitos de crianças e adolescentes em situação de migração. Opinião Consultiva 22 Órgão CorteIDH Tema da consulta Aplicação da CADH às pessoas jurídicas. 967A N E XO CAPÍTULO 5 CASOS CONTRA O BRASIL NA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 1. Caso José Pereira vs. Brasil Órgão julgador: CIDH Principais pontos 1. O Brasil celebrou um compromisso internacional de defender a competência federal para julgamento do crime de redução à condição análoga a de escravo. 2. Caso dos Meninos Emasculados do Maranhão vs. Brasil Órgão julgador: CIDH Principais pontos 1. Pela primeira vez, o Estado brasileiro celebrou uma solução amistosa na CIDH após a admissibilidade do caso e antes da deliberação final. 2. O Estado não pode alegar que o fato foi praticado por ente fede- rado para eximir-se de responsabilidade internacional por vio- lação de direitos humanos. Perante a sociedade internacional, o Estado é considerado uno; não é possível a alegação de direito interno para alegar descumprimento de um tratado internacio- nal. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO968 3. O Estado do Maranhão participou das negociações no plano in- ternacional. Essa situação retrata o fenômeno da “paradiploma- cia”. 3. Caso Comunidades Indígenas da Bacia do Rio Xingu vs. Brasil (“Caso Belo Monte”) Órgão julgador: CIDH Principais pontos 1. O direito de consulta e consentimento das comunidades indíge- nas foi violado. 2. A CIDH concedeu medida cautelar entendendo que o direito à vida e à integridade pessoal das comunidades indígenas resi- dentes no entorno da área do RioXingu seria afetado pela cons- trução da UHE de Belo Monte. O Estado brasileiro descumpriu a medida cautelar. 4. Caso Maria da Penha Maia Fernandes vs. Brasil Órgão julgador: CIDH Principais pontos 1. Primeira vez que a CIDH aplicou a Convenção de Belém do Pará. 969A N E XO 5. Caso Jailton Neri da Fonseca vs. Brasil Órgão julgador: CIDH Principais pontos 1. Primeiro caso brasileiro sobre violação do direito à audiência de custódia na CIDH. 6. Caso Simone André Diniz vs. Brasil Órgão julgador: CIDH Principais pontos 1. Primeira vez que um país membro da OEA é responsabilizado na CIDH por racismo. 2. Paradigma do denominado racismo institucional. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO970 CAPÍTULO 6 O BRASIL NO SISTEMA GLOBAL DE DIREITOS HUMANOS 1. Caso Alyne da Silva Pimentel Teixeira vs. Brasil Órgão julgador: Comitê da CEDAW Principais pontos 1. Trata-se da primeira condenação do Estado brasileiro no siste- ma global de direitos humanos. O Comitê concluiu que o Esta- do brasileiro atuou de forma insuficiente na proteção dos direi- tos humanos à vida, à saúde, à igualdade e não discriminação no acesso à saúde, e também considerou que o Estado falhou ao não garantir à família de Alyne o acesso efetivo à justiça. 2. O Caso Alyne Pimentel também se destaca por ter sido a pri- meira vez que o Comitê CEDAW aceitou uma denúncia sobre mortalidade materna. 3. O Estado brasileiro indenizou Maria de Lurdes Pimentel, mãe da vítima falecida, na quantia de R$ 131 mil reais a título de reparação pelos acontecimentos. 971A N E XO CAPÍTULO 7 DECISÕES DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA 1. Caso Reino Unido vs. Albânia (Estreito de Corfu) Órgão julgador: CIJ Principais pontos 1. Trata-se do primeiro caso julgado pela Corte Internacional de Justiça. 2. O direito de passagem inocente é uma norma consuetudinária de direito internacional. 3. A Albânia aceitou de forma tácita a jurisdição da Corte Interna- cional de Justiça. 4. O direito de passagem inocente é aplicável aos navios militares. 2. Caso Bélgica vs. Espanha (Barcelona Traction) Órgão julgador: CIJ Principais pontos 1. O conceito de obrigações erga omnes surgiu a partir do caso Barcelona Traction. 2. O caso versa sobre o tema da proteção diplomática, situação na qual Estado adjudica o conflito de seus nacionais, uma vez que JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO972 esse Estado se responsabiliza por um evento que ocorre inicial- mente em âmbito doméstico externo e envolve apenas os seus nacionais. 3. Caso Colômbia vs. Peru (“Haya de La Torre”) Órgão julgador: CIJ Principais pontos 1. O asilo diplomático é um costume internacional regional, apli- cado apenas no âmbito da América Latina. 2. A Corte Internacional de Justiça decidiu que não caberia ao Es- tado asilante realizar a análise acerca da natureza do delito ou dos motivos da perseguição para a concessão do asilo diplo- mático. No entanto, com o advento da Convenção sobre Asilo Diplomático, tal entendimento foi superado. Nesse sentido é o teor do art. IV da referida Convenção: “Compete ao Estado asi- lante a classificação da natureza do delito ou dos motivos da perseguição”. 4. Caso Congo vs. Bélgica (Caso Yerodia) Órgão julgador: CIJ Principais pontos 1. A imunidade de Ministro das Relações Exteriores é absoluta e equivale à imunidade diplomática. 973A N E XO 2. A jurisdição universal penal in absentia é aquela que permite a aplicação extraterritorial da lei interna aos autores de crimes de jus cogens, ainda que estes jamais tenham estado no território do Estado emissor da ordem internacional de captura. No Caso Yerodia, a CIJ entendeu que não há um costume internacional que permita a aplicação da jurisdição universal penal in absen- tia. 5. Caso Alemanha vs. Itália e Grécia como terceiro interveniente (Caso Ferrini) Órgão julgador: CIJ Principais pontos 1. Nem mesmo as graves violações de direitos humanos cometidas no âmbito da Segunda Guerra Mundial relativizam a imunidade de jurisdição estatal. O juiz brasileiro Cançado Trindade profe- riu voto dissidente acerca do tema. 2. A Corte Internacional de Justiça admitiu um terceiro Estado como interveniente. 3. Somente os atos de império estão abrangidos pela imunidade de jurisdição estatal. Os atos de gestão não gozam deste privilégio. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO974 6. Caso Bélgica vs. Senegal (Caso Habré) Órgão julgador: CIJ Principais pontos 1. A Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tra- tamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes prevê uma modalidade de jurisdição universal para o crime de tortura. 2. A cláusula do aut dedere, aut judicare é aquela que obriga os Estados a tomarem providências para levar os autores de crimes de jus cogens a julgamento. Estas obrigações de investigar e julgar ou extraditar (aut dedere aut judicare) estão previstas na Convenção das Nações Unidas Contra a Tortura e Outros Tra- tamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes e são obrigações erga omnes. 3. Diante da decisão da Corte Internacional de Justiça no Caso Habré, a União Africana e o Senegal criaram um novo Tribunal Internacional de quarta geração para julgar o ex-presidente do Chade, o que demonstra o empenho do Estado senegalês em cumprir a decisão da Corte de Haia. 975A N E XO 7. Caso Chile vs. Peru (“Disputa Marítima”) Órgão julgador: CIJ Principais pontos 1. A Declaração de Santiago de 1952 possui natureza jurídica de tratado internacional. 2. As normas que delimitam as zonas econômicas exclusivas entre Estados com costas adjacentes possuem caráter de norma con- suetudinária de direito internacional. 3. É possível a aplicação das regras de interpretação dos tratados internacionais previstas na Convenção de Viena sobre o Direi- to dos Tratados (CVDT) às convenções internacionais firmadas em momento anterior à CVDT. 8. Caso Austrália vs. Japão (Caso das atividades baleeiras) Órgão julgador: CIJ Principais pontos 1. O programa de atividades baleeiras de titularidade do Estado japonês conhecido como “JARPA II” violou a Convenção Inter- nacional para a Regulação das Atividades Baleeiras. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO976 CAPÍTULO 8 PARECERES CONSULTIVOS DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA 1. Caso Folke Bernadote Órgão julgador: CIJ Principais pontos 1. As organizações internacionais possui personalidade jurídica de direito internacional. 2. Assim como os Estados podem exercer o instituto da proteção diplomática, as organizações internacionais podem exercer o instituto da proteção funcional, realizando a defesa e proteção de seus funcionários. 977A N E XO CAPÍTULO 9 DECISÕES DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 1. The Prosecutor vs. Thomas Lubanga Dyilo Órgão julgador: TPI Principais pontos 1. Trata-se da primeira condenação proferida pelo TPI. 2. O Tribunal Penal Internacional possuía a prática de utilizar di- versos testemunhos de ouvi dizer na investigação ou até mes- mo na instrução de seus processos. A testemunha de ouvi dizer, também chamada de testemunha de auditu, é aquela que não assistiu à cena delituosa, mas soube por informação de alguém e, assim, comparecendo perante a autoridade, vai dizer que sou- be. A partir do Caso Dyilo, o TPI passou a mitigar a utilização do testemunho de auditu em seus precedentes. 3. O Caso Dyilo versa sobreo o recrutamento e alistamento de “crianças” para servir em milícia (children soldier). 2. The Prosecutor vs. Mathieu Ngudjolo Chui Órgão julgador: TPI Principais pontos 1. Trata-se da primeira absolvição proferida pelo Tribunal Penal Internacional. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS2ª EDIÇÃO978 2. O Caso Chui ocorreu no mesmo contexto fático do Caso Ger- main Katanga. 3. The Prosecutor vs. Germain Katanga Órgão julgador: TPI Principais pontos 1. Trata-se da segunda condenação proferida pelo Tribunal Penal Internacional. 2. O Caso Germain Katangai ocorreu no mesmo contexto fático do Caso Chui. 4. The Prosecutor vs. Jean Pierre Bemba Órgão julgador: TPI Principais pontos 1. No Caso Bemba, o TPI utilizou pela primeira vez o “princípio do comando” ou da “responsabilidade superior” para condenar um indivíduo por crimes perpetrados por seus subordinados. Tal princípio está previsto no art. 28 do Estatuto de Roma e prevê que simples posição hierarquicamente superior do Chefe de Es- tado em relação aos seus subordinados já seria suficiente para ensejar uma autoria e, por conseguinte, uma condenação pe- rante o Tribunal Penal Internacional, dispensando-se qualquer 979A N E XO necessidade de se provar o elemento subjetivo do agente. 2. O Tribunal Penal Internacional aplicou o princípio da irrelevân- cia da qualidade oficial (artigo 27 do Estatuto de Roma), que desconsidera a qualidade oficial de Chefe de Estado ou de Go- verno, de membro de Governo ou do Parlamento, de represen- tante eleito ou de funcionário público, para fins de exclusão de responsabilidade criminal. 5. The Prosecutor vs. Ahamad Al-Faqi Al-Mahdi Órgão julgador: TPI Principais pontos 1. O Caso Al-Mahdi é um precedente muito importante para a co- munidade internacional, pois o TPI dá a sua contribuição para que se acabe com a impunidade da destruição de patrimônio cultural. 2. Trata-se do primeiro caso em que o TPI aplicou o procedimento para os casos de confissão, previsto no art. 65 do Estatuto de Roma. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO980 6. The Prosecutor vs. Omar Al Bashir “Caso Dafur” Órgão julgador: TPI Principais pontos 1. O Caso Al Bashir foi o primeiro litígio internacional que o Con- selho de Segurança da ONU adjudicou e remeteu o feito ao Tri- bunal Penal Internacional. Nestes casos, o procurador do TPI é obrigado a instaurar o procedimento investigatório. 981A N E XO CAPÍTULO 10 DECISÕES DE OUTROS TRIBUNAIS PENAIS INTERNACIONAIS 1. The Prosecutor vs. Charles Taylor (Caso Diamantes de Sangue) Órgão julgador: TESL Principais pontos 1. Trata-se de uma condenação proferida por um Tribunal inter- nacional híbrido. Estes tribunais são aqueles cuja formação é solicitada pelo governo do Estado onde os crimes foram per- petrados. O Tribunal Especial para Serra Leoa se formou após a realização de um acordo entre o governo local e a Organiza- ção das Nações Unidas (ONU). Nestes tribunais, há juízes do Estado requerente e também juízes internacionais, aplicando-se tanto o direito interno quanto o direito internacional. 2. O réu foi julgado em Haia por motivos de segurança, já que Taylor era dotado de grande influência no continente africano. 3. Não há uma obrigatoriedade dos membros da ONU de cooperar com o Tribunal Especial para Serra Leoa, uma vez que este não foi estabelecido por resolução do Conselho de Segurança, e sim por um acordo entre a ONU e o governo de Serra Leoa. Assim, o formato de instauração do Tribunal Internacional para Serra Leoa desobriga os membros da ONU a qualquer ato coopera- cional com o TESL. JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 2ª EDIÇÃO982 2. The Prosecutor vs. Dusko Tadic Órgão julgador: TPII Principais pontos 1. Trata-se do primeiro caso julgado pelo Tribunal Internacional para a ex-Iugoslávia. 2. Há uma obrigatoriedade dos membros da ONU de cooperar com o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, uma vez que ao contrário do Tribunal Especial para Serra Leoa, que foi criado por um acordo entre a Organização das Nações Uni- das e o governo local, o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia surgiu após uma determinação do Conselho de Segurança da ONU, órgão encarregado de resguardar a paz e a segurança internacional. 3. O Tribunal Penal para a ex-Iugoslávia é regido pelo princípio da primazia. No entanto, essa primazia não confere ao TPII exclu- sividade na apreciação da demanda, mas este pode impor que os tribunais domésticos renunciem sua competência. 4. Os Tribunais Penais Internacionais de segunda geração (TPII e TPIR) foram de suma importância para a codificação dos ele- mentos de crimes internacionais e sua associação com o devido processo legal e com os direitos de defesa. 5. No Caso Tadic, a Câmara de Apelação do Tribunal Penal Inter- nacional para a ex-Iugoslávia reconheceu a possibilidade de exis- tirem crimes contra a humanidade sem que fosse necessária uma situação de guerra (war nexus) para a caracterização desses delitos.
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