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236 ESTUDO SOBRE VIOLÊNCIA NA ESCOLA E SUAS PRINCIPAIS TIPOLOGIAS Raissa Maia Bacos- UFJF RESUMO O objetivo da pesquisa é realizar uma revisão de literatura estrangeira e nacional a respeito do tema violência na escola, com a intenção de explicar os entendimentos de violência de diversos pontos de vista. A pesquisa, portanto, não se pretende exaustiva dado os limites desse trabalho, mas tratar autores com um viés crítico e com reconhecimento e autoridade sobre o tema. Selecionando os principais autores, esta pesquisa bibliográfica conta com a contribuição de Charlot para nos esclarecer melhor essa questão de concepção, Debarbieux e Dubet com trabalhos empíricos na França e Abramovay com definições adaptadas a realidade brasileira. O texto consiste no intento de verificar quais as possíveis causas de violência na instituição escolar, tendo como base artigos do ponto de vista sociológico. A partir dos autores e artigos escolhidos, pretendemos enquadrar a violência escolar e trabalhar os conceitos que se desenrolam a partir desse tema. Os assuntos tratados vão desde os três tipos de violência (violência à escola, da escola e na escola), até abordagens sobre possíveis motivos para o grande número de evasão escolar, passando pelo não entendimento da escola às necessidades dos alunos em firmar sua identidade e entende tudo isso como atos de rebeldia ou provocação com autoridades. PALAVRAS- CHAVE: Violência escolar, escola, educação INTRODUÇÃO A violência nas escolas tem sido assunto recorrente nos últimos anos devido a intensi- dade dos acontecimentos dessa espécie. Outrora, a agressão infanto-juvenil era tratada, muitas vezes, como algo intrínseco ao processo de socialização durante essa etapa prematura de ex- periência vivida (DUBET, 2006). Entretanto, hoje a violência nas escolas tem sido categori- zada e, através dessa tomada de consciência, combatida pelos agentes escolares. Busca-se fazer uma análise moral do termo de senso comum, como anda a moralidade que obviamente mudou que não é só religioso, patriarcal e como isso reflete no comportamen- to da criança e no adolescente. E, posteriormente, como isso também tem seus reflexos na vida tanto de quem sofre quanto de quem comete o ato violento. Ou seja, em termos socioló- gicos, como ato que acontece na microssociedade, se projeta na macrossociedade. 237 Nesse sentido, a revisão, que ora se empreende nesse trabalho, aborda ente outras coi- sas a discussão sobre a violência na escola, onde as regras criadas têm por objetivo manter a ordem, mas acarretam um modo repressor de controle em que as identidades dos alunos dei- xam de ser evidenciadas. Uma categorização que ganhou relevo nos últimos anos, como forma de se enquadrar tipos de agressão no ambiente escolar é o denominado bullying. Nesse sentido o bullying tem como definição prática a violência aplicada de uma maneira constrangedora sob a vítima, su- jeitando-a ao agressor. Também existe o que é chamado de vitimização, que ocorre quando o receptor é sujeito às situações de maior constrangimento em público. Ambas as violências acarretam consequências no comportamento de pessoas que sofrem demasiadamente esses acontecimentos no período escolar. Todos os artigos selecionados procuram abordar questões de violência dentro da insti- tuição escolar que podem ir de uma intimidação entre alunos (bullying) até a análise de atos de depredações da escola, passando pela falta de entendimento da instituição nesses casos, onde a abordagem, em alguns casos, é indevida e apresenta poucos resultados. O pouco preparo de algumas escolas impede que os métodos adequados para coibir tais práticas sejam aplicados, o que pode acarretar um número maior de casos de alunos insa- tisfeitos com a escola e pode levar até ao abandono da mesma. No presente trabalho, pretende-se abordar a questão da violência na escola, usando principalmente como base autores como Bernard Charlot, Alencar Luiz Zanon, François Du- bet, Eric Debarbieux e Miriam Abramovay, buscando o diálogo entre autores de diversos paí- ses que podem contribuir com discussões, dados e questões sobre identidade dos jovens que, em muitos momentos, são silenciadas. O trabalho inicia-se pelos autores franceses mais tradicionais na área, e finaliza-se com a comparação entre dois autores brasileiros que também fazem discussões pertinentes sobre tipos de violências. Busca-se, assim, apresentar que o assunto violência na escola é tido como um problema universal a ser enxergado, reconhecido, estudado e controlado. ASPECTOS DA VIOLÊNCIA Os três autores mais tradicionais sobre o assunto de violência na escola como Charlot, Dubet e Debarbieux, serviram de base para a construção dessa pesquisa bibliográfica. A partir de artigos dos autores franceses selecionados, foi feita uma análise da violência na escola. De 238 acordo com Charlot, a violência no ambiente escolar possui três variações. A primeira é a violência à escola, que são os casos de depredações para com o ambiente escolar ou contra professores e pode ser bastante preocupante para a equipe de coordenação quando se perde o controle. Os procedimentos de punição a esses atos estão ligados à segunda variação, que é o de violência da escola, que são situações geradas pela instituição. Um exemplo é a maneira como as informações e regras são impostas aos alunos. Tais métodos de controle são tidos como violência silenciada e são atos que, sutilmente repressivos, podem ocasionar um comportamento negativo de parte dos alunos contra a escola, manifestado de diversas maneiras. A terceira variação é a da violência na escola, que são as agressões físicas ou intimidações que acontecem entre os alunos dentro ou muito próximo da instituição escolar. Independentemente da origem desses conflitos, se foram dentro ou fora da instituição, se tem relação ou não com a escola, o ambiente escolar torna-se, muitas vezes, o local de resolução de tais conflitos, os quais poderiam ser resolvidos em outros lugares. É preciso, inicialmente, distinguir a violência na escola, a violência à escola e da escola. (...)A violência na escola é aquela que produz dentro do espaço escolar, sem estar ligada à natureza e às atividades da instituição escolar: quando um bando entra na escola para acertar contas das disputas que são as do bairro, a escola é apenas o lugar de uma violência que teria podido acontecer em qualquer outro local. Pode-se, contudo, perguntar por que a escola, hoje, não está mais ao abrigo de violências que outrora se detinham nas portas da escola. (...) A violência à escola está ligada à natureza e às atividades da instituição escolar: quando os alunos provocam incêndios, batem nos professores ou os insultam, eles se entregam a violências que visam diretamente a instituição e aquelas que representam. Essa violência contra a escola deve ser analisada junto com a violência da escola: uma violência institucional, simbólica, que os próprios jovens suportam através da maneira como a instituição e seus agentes os tratam (modos de composição das classes, de atribuição de notas, de orientação, palavras desdenhosas dos adultos, atos considerados pelos alunos como injustos ou racistas...). (...) Esta distinção é necessária: se a escola é largamente (mas não totalmente) impotente face à violência na escola, ela dispõe (ainda) de margens de ação face à violência à escola e da escola. (CHARLOT, 2002. P. 432) Segundo Bernard Charlot, no artigo A violência na escola: como os sociólogos franceses abordam essa questão (2002) a discussão acerca da existência e do reconhecimento da violência enquanto violência.Ele trabalha o que pode ser considerado do ponto de vista da violência, o que é violência possível e o que é violência tolerável, tendo em vista as variações culturais e as exigências sociais. Nessa discussão, ele explica que a opinião pública passou a entender a violência a partir dos anos 1980 e teve seu desenvolvimento nos anos 1990, o que seria um assunto recente. Mas, ele pode perceber que existem relatos históricos de situações isoladas de 239 violência nas escolas relacionadas a depredações graves seguidas de prisões, posteriormente. Sendo assim, anteriormente, as empatias entre alguns alunos nos anos 50 e 60 que não eram tão harmoniosas. Isso significa que houve ampliação da concepção de violência e não podemos ignorar as novas formas que esses atos adotaram (CHARLOT, 2002. P. 432). Concordando com o ponto de vista de Charlot, Madeira (1999) busca esclarecer que a violência não é um problema recente na sociedade a ser notado e controlado. Mas, também, completa discorrendo sobre as discussões que já existem no meio sociológico sobre o assunto nos dias atuais, o que era considerado um problema no artigo de Debarbieux (2001), quando relembra que as pesquisas empíricas se mostraram demasiado demoradas e ineficazes em seus resultados. As novas concepções de violência tomam uma proporção inimaginável a ponto de exigir maior sensibilidade para detectar tais atos de violência. A seguir, trataremos desse assunto. Madeira (1999) ressalta a existência antiga de registros de violências juvenis que são encontrados dentro e fora da escola. Inclusive, acrescenta que esses casos, tanto nos países ricos do norte e os países pobres do sul, são frequentes. “Sobretudo porque juventude e violência são temas estreitamente associados, desde o surgimento da categoria adolescência ou juventude” (MADEIRA, 1999. P. 52). Uma das causas para o surgimento de desmotivação dos alunos no ambiente escolar é a forma como as atividades são trabalhadas pelos professores e pela instituição, muitas vezes de maneira impositiva. Tendo como base o artigo supracitado de Charlot (2002), os alunos se sentem desmotivados com esses conteúdos por não saberem onde serão aplicados no futuro, ou seja, desconsideram sua importância ao perceberem que deixa de existir continuidade no que se ensina na escola e o distanciamento da realidade em que vivem. Portanto, consideram a escola apenas um lugar para adquirirem seu diploma e, assim, conquistarem o primeiro emprego. No Brasil também existem pesquisas sobre a desmotivação com alunos a respeito do ensino. Alguns alunos que possuem um perfil mais esforçado e dedicado aos estudos exigem da escola uma avaliação mais justa de sua dedicação. Isso se deve quando a instituição avalia a turma como um todo, sem a merecida avaliação individual, bem como disse Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro em Caleidoscópio das Violências nas escolas (2006), desestabilizando individualidades. Esse ponto é destacado também por Debarbieux (2001). A reprodução de uma ordem social desigual e o fraco sucesso escolar de crianças que sofrem a cultura da classe dominante por meio dos hábitos remetem a uma 240 violência simbólica definida como “poder que chega a impor significações e impô- las como legítimas, ao dissimular as relações de força que estão no fundamento de sua força” (Bourdieu e Passeron, 1970, Apud Debarbieux. P. 166) O desapontamento do aluno com a escola está expresso quando Debarbieux (2001) fa- la sobre a promessa não cumprida de igualdade social. Essa frustração pode gerar abandono de instituição ou uma permanência pouco proveitosa. E os muitos alunos que abandonam o exercício da aprendizagem, acabam contribuindo para os altos índices de desemprego entre os jovens, apesar de essa não ser a única razão para tais índices, como descrito por Dubet (2003), no extrato abaixo. Não somente o desemprego dos jovens é independente do sistema de formação, mas todas as dificuldades da escola, a “violência”, a débil motivação dos jovens, vem de fora, do capitalismo e do mercado (Dubet, 2003. P. 3) A influência da classe social de alguns alunos pode ser um dos fatores que permitem a absorção desse aluno pelo mercado de trabalho. Algo que pode ser somado ao desgosto de uma escola pouco atraente, e que, pelo ponto de vista desse aluno, serve para emitir o diplo- ma. O texto Violência Escolar e Auto-estima de Adolescentes (Nunes e Abamovay, 2006) aponta alguns casos tendenciosos à violência escolar, que podem ser de extrema importância para entender o que pode acarretar a um comportamento inaceitável socialmente. Nunes e Abramovay (2006, p. 38) explicam que gênero, idade, etnia, família, ambiente externo, insatisfação/ frustração com as instituições e a gestão pública, exclusão social e exer- cício de poder, são fatores que podem ser associados a atos de violência escolar. Esses aspec- tos, podem nos ajudar a entender melhor e direcionar nosso olhar para os problemas que tam- bém são da escola. As pesquisas podem ajudar a entender que a participação do aluno na or- ganização e construção de regras faz total diferença para permanência de um aluno, quando se tem tudo para fazê-lo abandonar os estudos (BRASIL, 2013). Outro motivo de afastamento é a escassa habilidade da equipe escolar para lidar com alunos problemáticos ou indisciplinados, cuja ausência temporária durante as atividades edu- cacionais possibilita que “as coisas corram bem”. (Charlot, 2002). No artigo Violência na escola: um protesto contra a exclusão social? De Cristina Ma- ria Teixeira Campello (2001), o sociólogo Augusto Caccia- Brava afirma que, “se a violência estoura na porta das escolas, é porque o ensino continua alienado da realidade dos adolescen- 241 tes”. Tal afirmação pode sugerir despreparo por parte dos professores, o que promove a inqui- etação dos alunos e consequente depredação da escola. O termo usado por Rudá Ricci, no mesmo artigo, para fazer referencia aos alunos que fazem uso de drogas, é o sentimento de “abandono familiar”, e que é em virtude de tal senti- mento que esses jovens se veem impulsionados a realizarem tais atos. A instituição escolar espera que os pais sejam pessoas orientadas e que possam ampa- rar seus filhos a realização de tarefas. Mas nem sempre isso é possível. (Dubet, 2003. P. 36) No artigo de Cristina Maria Teixeira Campello (2001), supracitado, a autora sugere que sejam feitos projetos durante os horários livres. Ela sugere ainda que o conteúdo seja vol- tado para a “educação para valores”, a fim de lhes mostrar o mundo por outra perspectiva e ensinar detalhes não passados pelos pais. A escola deve estar capacitada para relacionar-se com a comunidade e com as famílias. De acordo com Eric Debarbieux e Catherine Blaya, no artigo Violência nas Escolas e Políticas Públicas (2002), um outro problema enfrentado no ambiente escolar é a expulsão. Que na maioria das vezes é considerada como uma solução violenta e ineficiente, visto que a expulsão pode ser entendida como o ápice das punições dadas a um aluno por parte da escola. Esse processo pode durar de quarenta e cinco dias a um ano letivo. Há ainda casos em que a expulsão é definitiva. Alguns alunos são mandados para casa quando não há um profissional capacitado para lidar com problemas de indisciplina. Outros são suspensos, por longos perío- dos ou são convidados a pedir transferência da escola, transfere-se o problema para outra ins- tituição e não resolve as questões relativas à indisciplina tanto do aluno que sofre tal punição quanto de outros estudantes que, por acaso, vierem a cometer atos de indisciplina. Existem grupos que se mostram maispresentes nas pesquisas e podem ser divididos por raça, sexo e situação socioeconômica. Não necessariamente os três fatores estão conside- rados no mesmo indivíduo. Tendencialmente, alunos de condição financeira desfavorecida estão no topo das pesquisas quando se trata de expulsão. Outro fator que também é causador de expulsão é quando o aluno possui necessidade de educação especial (NEE) e não existem cuidados em relação a essa demanda. O contexto familiar é um grande precursor para tais consequências. Geralmente, apon- tam as pesquisas, os alunos com esses comportamentos perturbadores da ordem originam-se de um histórico/contexto familiar desestruturado. Famílias de pais solteiros, substituídos por padrasto ou madrasta ou as que vivem situação financeira incerta podem ter influencia no 242 comportamento indisciplinado da criança que vive nesse contexto, por conseguinte propícia a ser expulsa da escola. Alunos que receberam, em algum momento de sua vida, assistência profissional tam- bém estão na lista dos que tendem a ser expulsos. Uma vez que receberam assistência profis- sional, tinham como principal motivo o pouco cuidado familiar. Mesmo que essa assistência se mantenha, não substitui os cuidados de uma família, o que acarreta, mais uma vez, um alu- no com dificuldades de cumprir ordens. A partir dos dados anteriores, mesmo que sintetizado, já se sabe que os fatores citados anteriormente são imutáveis da realidade desses jovens. Tais fatores são explicações para os atos de indisciplina, além, é claro, da personalidade tendenciosa ao não cumprimento de or- dens ou a um comportamento inaceitável socialmente por parte de alguns alunos. As expulsões não acontecem a partir de um simples deslize ou briga no pátio da esco- la, mas sim com todo um histórico de desentendimento do aluno com as normas da instituição e com a convivência entre colegas, como brigas, uso de drogas, não comparecimento à aula, etc. Esse mesmo aluno, do ponto de vista externo, se envolve com práticas criminosas fora da escola e tal comportamento pode se repetir no ambiente escolar. De um modo geral, existem pesquisas que podem prever alguns comportamentos dos alunos a médio e longo prazo. Isso se deve quando se percebe notas baixas, pode- se entender que o aluno poderá morar em conjuntos habitacionais ou até mesmo ter filhos em idade não planejada. Essas características têm influencia de uma discriminação ou exclusão social. O fato de o aluno ter sido expulso definitivamente da escola, por exemplo, ocupa uma posição de destaque na vida do indivíduo que pode, quem sabe, acelerar os processos de abandono total da escola e total desmotivação com os estudos, segundo Carol Hayden (2002) A partir dos dados coletados pelos autores nesse artigo, percebe-se que a possibilidade de o aluno expulso em algum momento da vida escolar voltar a estudar em tempo integral e tirar boas notas é praticamente nula. Os principais motivos para esses alunos serem expulsos são as agressões feitas contra o corpo docente ou outros colegas e em alguns, raros casos fa- zem uso de armas, atrapalhando o rendimento dos demais alunos. Nesse artigo, ainda pode-se perceber as situações em que são esperados pais de alunos que foram convidadas a sair da escola apontem falhas na administração, mas existem casos em que eles reconhecem a influ- encia dos colegas e da família nessas ocorrências (HAYDEN, 2002). Apesar de todos os problemas que se enfrenta, não são casos irreversíveis e são passí- veis de controle a partir de uma boa aplicação de ordem. A sugestão é que cada regra seja 243 construída com os alunos ou, em casos de não flexibilidade, poderia haver mais esclarecimen- tos sobre. É considerado que a presença de um profissional capacitado a analisar individual- mente os alunos que possuem em seu histórico, um comportamento pouco compreensível, pode, na maioria dos casos, ajudar a amenizar os efeitos de tais atos (HAYDEN, 2002). Rutter (1996), citado neste mesmo artigo por entender que é importante a criação de um trabalho de proteção que abarque cinco pontos importantes de atenção. O primeiro deles é a criação de parceria com os pais, e um grupo que possa contribuir de modo positivo. Em caso de conflitos familiares, distanciar o máximo possível dessas oposições de interesses (confu- sões) entre os pais ou responsáveis. O segundo é reduzir a influencia negativa que esses de- sentendimentos familiares podem causar, com estratégias pensadas para a resolução de pro- blemas familiares. É importante que esses conjuntos de disposições estejam ao alcance dos alunos e membros da família para atender os casos de pouco esclarecimento sobre as dificul- dades da vida, incentivar o não uso de drogas. O terceiro enfatiza a importância de promover a autoconfiança através de atividades interpessoais que podem facilitar esse ambiente agradá- vel. Sendo assim, os alunos ficam mais habilitados para lidar com situações que seriam de descontrole com responsabilidade. O quarto ponto é a criação de projetos educacionais para, posteriormente, o individuo ter menos dificuldade para encontrar um emprego com o mínimo de qualidade. O quinto e último ponto sugere que pontos positivos sejam valorizados inde- pendente de resultados negativos. É preciso buscar a essência das atitudes e não recusa-las. Dar ênfase em detalhes positivos e orientar ou aperfeiçoar experiências (HAYDEN, 2002). Essas atividades têm por objetivo beneficia-los posteriormente com visões de mundo, evitando que situações não almejadas aconteçam e ajuda-los a ter menor dificuldade para lidar com as situações do cotidiano de modo racional e cauteloso. O que ainda pode ser percebido no artigo é a maneira como se reconhece a necessida- de do aluno quando “nos recusamos” a entender que nos casos de alunos expulsos, eles neces- sitam da mesma atenção e compreensão quanto nos casos de alunos que dispõe ao cumpri- mento de regras efetivamente. Inclusive, é preciso redobrar os cuidados em alguns casos, mas nem sempre as escolas estão preparadas para comportamentos não esperados (HAYDEN, 2002). Quando se trata da não ascendência da diretoria, pode ser chamado de “fraco investi- mento coletivo” (BLAYA, 2002) para apontar escolas com perfil de “delinquentes”. Logo, a autora chama a atenção para a visibilidade que os professores conquistam por si só e, como têm influência na vida desses alunos, qualquer atitude tomada deve ser cuidadosamente pen- 244 sada. Segundo ele, os professores assumem uma posição de maior visibilidade e por isso suas ações tem uma projeção maior que a dos alunos, contudo, isso se torna mais importante que a relação das duas partes (alunos e professores). A autora responsável pelo artigo Clima escolar e violência nos sistemas de ensino se- cundário da França e da Inglaterra (2002), acredita na a desvalorização do corpo docente, o que pode ser transmitido para os alunos, desenvolvendo, também, uma frustração com o que se idealizava como escola. Nesse caso, os alunos, por já viverem em contextos onde há pouco estímulo para estudar (dinheiro fácil com o tráfico de drogas, por exemplo), quando se depa- ram com a equipe escolar em total desarmonia, é a melhor oportunidade que encontram para abandonar a escola e desistir de procurar um emprego formal. A partir disso, a maneira encon- trada por eles de serem notados é adotando um mau comportamento, pois assim conseguem a atenção desejada. Assim como os alunos, reconhecer o trabalho e esforço dos professores é essencial para se dar continuidade a esse bom trabalho. O uso excessivo da noção de incivilidade corre o risco de acarretar uma sobrequali- ficação das desordens escolarese de esvazia-las de sentido, na mesma medida em que se reforça um culturalismo xenófobo. A incivilidade que se revela na escola não deve ser pensada sob a forma do conflito “bárbaros” X ‘civilizados: a incivilidade não é a não-civilização nem simplesmente a ‘má educação’. Ela é conflito de civili- dades, mas não um conflito de civilidades estranhas as outras e para sempre irredutí- veis e relativas há, antes, troca e oposição de valores, de sentimentos de pertinências diversas. A incivilidade poderia mesmo ser apenas a forma de base das relações de classe, exprimindo o amor frustrado por uma escola que não pode manter as promes- sas igualitárias de inserção. A totalidade das pesquisas sociológicas conduzidas in- siste, portanto, sobre essa ligação entre violência escolar e desigualdades sociais. (DEBARBIEUX, 2001: 179) Debarbieux (2001) critica a maneira como alguns autores exageram ao escrever artigos cujo título era “Escola: violência ou pedagogia” (Pain, 1992). Segundo ele, “podemos pensar que as propostas de análises essencialmente pedagógicas feitas por esses autores sejam a natu- ralização da violência, esquecendo em parte os mecanismos sociais em curso" (p. 172). No trecho destacado acima, Debarbieux (2001) fala sobre discussões que se mostram desnecessá- rias e em vão, uma vez que não se chega a um consenso do que pode ser de fato considerado violência na escola. Além disso, pode-se perceber que vai muito além de determinados atos tidos como violentos. Ocorrem variações na maneira como a escola interpreta ou lida com as situações. Mas o autor ressalta que esses artigos com títulos hostis foram escritos quando co- meçaram as pesquisas sobre violência na escola. Havia poucos estudos franceses sobre o as- sunto e as pesquisas eram voltadas mais para assuntos urbanos em um contexto em que não havia nenhum tipo de política pública que pudesse fazer esse controle. 245 Na pesquisa de Debardieux (2001), houve a aplicação de um questionário em 64 liceus “para calcular o ‘índice de bagunça’ que varia sensivelmente com os estabelecimentos, mostra que muitos se acomodam muito bem com uma bagunça que reforça a sociabilidade, ao invés de destruí-la. ” (Debarbieux, 2001: 165). O trecho citado mostra que algumas escolas lidam da melhor forma com a chamada “desordem”, enquanto outras preferem evitá-la, pois associam ao caos. Mas, ao mesmo tempo, essa agitação normal da juventude, principalmente quando se está em coletivo, é necessária para a sociabilidade entre os alunos. Portanto, é preciso estabe- lecer horários apropriados para o convívio social e a recreação. A concepção de violência se encontra bastante deturpada. O que era considerado ape- nas uma brincadeira pouco se tolera hoje em dia. É preciso resgatar a visão de violência e determinar o que é violência possível e o que é a violência tolerável, pois hoje, com a ajuda da mídia, a visão da mesma está inflacionada. (Debarbieux, 2001, p. 163) O “Bullying” ocorre quando uma vítima ou um grupo de vítimas é submetido a impli- câncias de um único agressor ou de um grupo de agressores que promove atos de violência física ou moral. Geralmente, se dá quando a vítima está em desvantagem física ou quando existe uma diferença entre os dois, muitas vezes motivo de humilhação pública. Tal atitude desigual carece de intervenção externa, mas a vítima é tão intimidada que opta por não se queixar e solucionar esse incômodo, que traz consequências graves como desenvolvimento de baixa autoestima e depressão. (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002). Erick Debarbieux e Catheri- ne Blaya (2002) destacam e categorizam as principais agressões que são físicas e verbais e podem ser inseridas em situações de exclusão social ou agressões indiretas. São consideradas agressões físicas bater, chutar, socar ou furtar. As violências verbais se dão por insultos ou implicâncias gratuitas. Ameaças pela internet ou pelo telefone também fazem parte dessa ca- tegoria. A exclusão social acontece quando um aluno, ou um grupo de alunos, proíbe outro de se relacionar com eles. As violências indiretas são quando as situações de proibição aconte- cem não só com um grupo, mas quando um determinado aluno ou um determinado grupo “or- denam” que todos excluam a vítima espalhando rumores mal- intencionados. Eles trabalham com o questionário a partir desses resultados, Os papéis tradicionais extraídos dos dados obtidos em questionários de nomeação pelos colegas são: intimidador, vítima, não- participantes (nem intimidador nem vítima), alem dos alunos intimidadores- vítimas (alunos que são tanto intimidadores quanto vítimas). Além disso, as vítimas muitas vezes são subdivididas em vítimas passivas e vítimas agressivas, dependendo de sua reação típica, esta última categoria podendo se sobrepor às vítimas provocadoras, ou, intimidadores- vítimas. Salmivalli et AL. (1996) refinaram ainda mais esse processo, descrevendo os seis papéis dos participantes na intimidação. Salmivalli descreve os intimidadores- líderes (os que 246 tomam a iniciativa da intimidação), os intimidadores- seguidores (que se juntam ao líder), os defensores (que defendem as vítimas), os circunstantes (que se mantêm à margem) e as próprias vítimas. (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002: 189- 190). O Bullying é hoje criminalizado e não apenas considerado atitudes de mau gosto e evitado com o ensinamento do bom senso para esses praticantes de atitudes de perseguição. Mas ao mesmo tempo, o que hoje é considerado Bullying, pode ser também, mais uma forma de socialização entre os alunos. O alvo é escolhido e a pessoa que iniciou a intimidação, consegue mais força (ou apoio) aos poucos com alunos que desejam se encaixar em algum grupo e, fazendo parte desse grupo, se torna imune de um dia se tornar vítima. Alguns autores como Bernard Charlot (2006) e Miriam Abramovay (2013), chamam a atenção para o comportamento de violência quando não é apenas agressão física, mas sim um tipo de violência silenciada ou disfarçada num comportamento que soa apropriado. Miriam (2013) e Mary (2013) ressaltam as características que podem ser consideradas sim como desrespeito ao próximo como atitudes racistas e etc. Ao contrário do que se pensa, o uso do piercing ou do boné não é predominantemente um ato desafiador das regras afim de contrariar as vontades dos responsáveis por ele (escola, família), mas pode ser interpretado como uma manifestação de identidade própria, de não se render ao que é comum e tradicionalmente e socialmente aceitável. A escola não reconhece a vontade individual e procura criar um padrão de aparências, como essas restrições. Um exemplo pode ser a proibição dos bonés dentro da instituição escolar, As violências nas escolas não se limitam a violências físicas. Pedem o acento na ética e na política e a preocupação em dar visibilidade àquelas que ofendem a identidade e dignidade do outro, como racismo, o sexismo e a homofobia. (...) Usar piercing não é uma provocação: é ser jovem e os adultos têm dificuldade de ‘suportar’ marcas do ‘ser diferente’. A escola não apenas questiona a conduta, como quer padronizar as aparências. Em geral é proibida a entrada de jovens com celular, piercing, touca, boné. O uso do boné, no entanto, é uma questão estética e um dos principais traços identitários de muitos jovens e adolescentes. (ABRAMOVAY; CASTRO, 2013) Assim como Debarbieux (2001) foi citado anteriormente, existem situações em que a instituição desconsidera determinadas necessidades dos alunos. No Brasil, existem pesquisas que mostram casos de violência da escola. Zanon (2007), em seu trabalho, pode esclarecer melhor essa questão com relação a essas exigências e como elassão silenciadas. A vaidade não é apenas característica feminina, mas dos meninos também. O aluno que tem o uso do boné como sua marca social, dependendo da escola onde estuda não se pode manter essa marca. Ao ter seu boné ou touca recolhido (geralmente em público), o aluno pode considerar 247 uma violência da parte da escola não respeitar esse modo e expressão. Por outro lado, a escola se defende, falando que as regras são estipuladas antes e qualquer possibilidade de constrangimento e que o uso do boné ou touca são proibidos para evitar o tráfico de drogas dentro da instituição, até por que, a escola não é uma instituição isolada. Zanon (2007), assim como Debarbieux (2001) e Abramovay (2013), defende o direito de expressão dos alunos. Ele revela que a pouca compreensão da escola e a imposição das regras podem silenciar a cultura do jovem, uma vez que é preciso respeitar a fase de crescimento e formação de cidadão. Em boa parte das escolas, o boné incomoda educadores. Trata-se, porém de uma indumentária que faz parte do cotidiano juvenil. Mas tal proibição se fundamenta na ideia de que o aluno possa trazer drogas para a sala de aula. Entendo que obrigar o aluno a tirar o boné na sala de aula é violar sua privacidade, é como se fosse arrancar parte de seu corpo. A exemplo do uniforme, há tantos outros ‘problemas’ que a escola precisa superar, e não deveria perder tempo estabelecendo um conflito gratuito com o aluno. Desse modo, o correto encaminhamento, tanto no caso do uniforme como do boné, deve considerar o debate com toda a comunidade escolar, sobretudo com os alunos. Se há necessidade de ‘obrigar’ o uniforme, tal conflito deverá ser resolvido sem medidas autoritárias, num procedimento discursivo, consensual, através da conscientização. A repressão aos que não aderem ao sistema gera insatisfação, violência, perda do sentido de pertencimento. A escola deve libertar-se desta sua vocação autoritária. (NUNES, 2008 Apud ZANON). CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos perceber que o considerado atualmente pelo senso comum como violência nas escolas vai muito além de observáveis agressões físicas entre alunos, mas pode abordar questões que extrapolam as fronteiras escolares, tais como: diferenças de classe social nas escolas; padronização social da estética; formalização do comportamento; revolta à instituição escolar; casos de falta de entendimento da escola para com as necessidades dos alunos; inti- midações e variadas formas de violência simbólica, etc. Debarbieux (2001) acrescenta que é considerado uma falha pensar que a definição de violência possa aproximar a atitude da noção do que é de fato. Essa nomenclatura só pode ser feita após a apresentação de como tudo surgiu e suas influencias sociais. As hipóteses a respeito do bullying (agressão direta) são que esse tipo de agressão po- de ser uma maneira silenciada de violência. Isso pode se dar desde alunos que possuem situa- ção financeira inferior que a da maioria, alunos com opção sexual diferenciada do que pode ser considerado normal (gays), alunos altos demais, acima do peso ou até mesmo pela escolha 248 religiosa. Ou seja, qualquer distinção que saia de certa normalidade ou tudo que saia de um padrão físico e comportamental. O bullying é uma ofensa direta e a brincadeira é uma maneira indireta de se fazer bullying. Esta pesquisa procurou apontar o que pode ser considerado bul- lying disfarçado de brincadeira (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002). Percebe-se que não só a sociedade, mas os membros da escola, ainda não estão prepa- rados para a aceitarem essas demandas. O exemplo são os movimentos de luta pelos direitos das minorias. Os valores que as crianças e adolescentes tem, são reprodução do que a socie- dade e os pais passam pra eles. Não existe de fato uma aceitação. A TV, ao mesmo tempo em que mostra o que é “certo”, ensina a aceitar, escandaliza e apresenta ao telespectador de ma- neira pejorativa, desvalorizando a “minoria” que não tem o respeito devido. De acordo com o que foi abordado nesse artigo, a maneira como a escola impõe suas regras carece de uma cautelosa revisão e, assim, poder controlar melhor os casos de necessi- dade de atenção especial dentro da escola. Sendo assim, poderá diminuir o entendimento de repressão existente dentro da instituição. (ABRAMOVAY; CASTRO: 2013) Apesar de parecer que a violência na escola é um fenômeno incontrolável, cuidadosa- mente, é possível se manter o controle e evitar situações mais extremas, como de expulsões e sim, de correções, aplicando o método corretivo mais adequado para a situação. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, M. Escola e Violência. Brasília: Editora UNESCO, 2002 ABRAMOVAY, Miriam & CASTRO, Mary Garcia. Violências nas Escolas: culturas silenciadas. Carta Capital. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/violencias-nas-escolas-culturas-silenciadas. [Acessado em 11 de março de 2013] ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary G. Caleidoscópio das violências nas escolas. 1. Ed. Brasília: Mania de Educação-Missão Criança, 2006. ASSIS, Simone G.; AVANCI, Joviana Q.; OLIVEIRA, Raquel V. C. Violência escolar e au- to-estima de adolescentes. Cadernos de Pesquisa, v. 36, n. 127, p. 35-50, jan./abr. 2006. BLAYA, Catherine. Clima escolar e violência nos sistemas de ensino secundário da França e da Inglaterra. In: DEBARBIEUX, Eric; BLAYA, Catherine (Orgs.). Violência nas Escolas e Políticas Públicas. Tradução de Patrícia Zimbres. Brasília: Editora UNESCO, 2002. BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa I - caderno II: o jovem como sujeito do ensino médio. Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2013. CAMPELLO, Cristina Maria Teixeira. Violência na escola: um protesto contra a exclusão social? 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