Buscar

Estudo Regimental Teorias da Personalidade II

Prévia do material em texto

Melanie Klein 
O objeto só existe porque existe um Eu para se relacionar com ele. Para Klein desde sempre 
existem relações com os objetos, o recém nascido se relaciona primeiramente com “objeto 
mãe” (primordialmente com o seio). Para Klein, o bebê é capaz de experenciar a ansiedade, o 
temor, o amor, o ódio e inclusive pode se resguardar de conflitos. 
*** a defesa é contra a ansiedade gerada pelo conflito *** 
O bebê se relaciona com o objeto parcial seio e não com a mãe por completo, a princípio, e 
encara o seio como sendo um objeto a ser devorado. Em torno do 4º/5º mês de vida ocorre 
uma mudança significativa nas relações objetais do bebê, ele deixa de se relacionar com o 
objeto parcial e passa a se relacionar com o objeto total, começa então a notar a mãe como 
um semelhante. 
Nos primeiros meses de vida, quando se encontra na posição (modo de se colocar/relacionar 
com o mundo e como se relaciona com o objeto), esquizoparanóide, o objeto é algo a ser 
devorado. Por volta do 4º/5º mês o bebê assume a posição depressiva e o seio passa a ser algo 
a ser preservado. A mudança na forma de se relacionar com o objeto muda a posição do eu. 
Na posição esquizoparanóide o bebê sofre de uma ansiedade persecutória, onde ele se sente 
ameaçado, esse tipo de ansiedade possui níveis. Como o bebê projeta seus impulsos agressivos 
no objeto, ele tem medo de sofrer os mesmos ataques sádicos que ele imagine contra os 
objetos. Nesse tipo de ansiedade a preocupação é com a preservação do Eu. 
Na ansiedade persecutória, o sujeito teme a agressividade do outro e não sente remorso ou 
arrependimento, já na ansiedade depressiva, consequente da posição depressiva, o sujeito 
teme pelo outro que pode sofrer ataques provenientes da sua própria agressividade, e possui 
remorso e arrependimento. Mas, durante a posição depressiva a ansiedade persecutória não 
desaparece. 
O termo posição (que diz respeito a um estado psíquico) refere-se a uma constelação de 
fenômenos interligados tais como: 
• O tipo de ansiedade experenciada pelo sujeito; 
• Os mecanismos de defesa que utiliza para dominá-la; 
• As características dos objetos com os quais estabelece relação. 
 
POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE 
Esquizo: do grego, cisão, clivagem, dissociação. 
Paranóide: tipo de ansiedade persecutória. 
Nesta posição o Eu sempre se defende da ansiedade gerada a partir de um conflito. 
O bebê sente a fome como um ataque de forças hostis, e o próprio nascimento pode ser 
considerado dessa forma. E, os cuidados são vivenciados como forças boas. Para a autora o Eu 
rudimentar (primitivo) é muito fragmentado, mas é capaz de ter ansiedade e de se relacionar 
com o objeto. 
A primeira relação do bebê com o mundo é feita através do seio, relação essa onde existe a 
possibilidade de existir o seio bom e o seio mau, que são os objetos internos do bebê. Mas o 
seio somente como uma parte do corpo da mãe é chamado de seio externo, que é 
internalizado pelo bebê. Dessa forma, consideramos que o seio bom e o seio mau são 
resultados da introjeção do objeto seio externo. 
A medida que o bebê desenvolve o seio bom e o seio mau, ocorre o desenvolvimento do 
mecanismo de defesa denominado cisão. Porque para o bebê é insuportável vivenciar a 
ambivalência de sentimentos em relação a um único objeto (isso ocorre até os 03 meses de 
idade). 
O seio bom é o seio idealizado/ideal, onde o bebê o considera dessa forma não apenas porque 
gratifica, mas também porque ele projeta nesse seio os seus impulsos amorosos. Já o seio mau 
é o seio aterrorizante, ele é considerado dessa forma não somente porque frustra, mas 
também porque o bebê projeta nele seu ódio. A perda do seio materno é o primeiro luto 
enfrentado na vida. 
 
MECANISMOS DE DEFESA 
Somos obrigados a nos defender daquilo com o que não conseguimos lidar. 
Identificação projetiva: como uma defesa primitiva, a identificação projetiva é descrita como 
um processo de evacuação de conteúdos intoleráveis para o Eu do sujeito que são atribuídos a 
um outro indivíduo, que fica então identificado com esses aspectos. 
Identificação introjetiva: identificação com outra pessoa através da internalização de suas 
características ou de parte delas. 
Controle onipotente do objeto: o bebê acredita ter um controle mágico sobre o seio, pois ele 
aparece quando ele sente fome. A fantasia de ter um controle mágico sobre o seio também é 
um mecanismo de defesa contra a ansiedade persecutória. Quando sente fome e o seio não 
está presente, o bebê se frustra mas, antes de experimentar a frustração ele tende a alucinar o 
seio, um seio ideal, e nesse estado de gratificação alucinatória o bebê assume posse do seio, 
sua frustração e ansiedade são então completamente eliminadas assim, não há mais objeto 
mau, não há frustração e nem os maus sentimentos que a frustração provoca. A negação surge 
aqui em sua forma mais extrema, porque corresponde ao aniquilamento de qualquer objeto 
ou situação frustrante, tudo isso corresponde ao intenso sentimento de onipotência que 
predomina nos primórdios da vida. 
Negação da realidade psíquica: trata-se de um mecanismo de defesa que “anestesia” o 
sujeito, este fica como que embotoado, num estado de profunda indiferença. 
 
Resumindo, a posição esquizoparanóide se caracteriza pelos seguintes aspectos: 
• As pulsões agressivas são particularmente intensas; 
• O objeto é parcial e clivado em dois, o bom e o mau; 
• A ansiedade é de natureza persecutória (medo de ser destruído pelo objeto mau). 
O universo esquizoparanóide é branco e preto. 
POSIÇÃO DEPRESSIVA 
Nessa posição o indivíduo vivencia uma ansiedade depressiva, o bebê passa a ter medo de ferir 
o seio. O indivíduo pode se sentir culpado mesmo que não tenha feito mau algum, somente 
pela intenção. A criança precisa dos pais e os obedece por medo de perde-los. Para Klein, a 
culpa se acha estreitamente vinculada à ansiedade depressiva e à tendência a fazer reparação, 
ou seja, de reparar o objeto amado bom. 
O bebê percebe que não pode machucar a mãe, aí surge então o conceito de culpa que é 
proveniente da agressão. O fato do bebê confundir os seus ataques imaginários com ataques 
reais se deve ao seu sentimento de onipotência. Após sentir culpa pelos ataques, sejam eles 
imaginários ou reais, ao seu objeto de amor, a criança sente a necessidade de repará-lo. 
Na posição depressiva o sujeito começa a olhar para sua própria agressividade, ao contrário do 
que ocorre na posição esquizoparanóide. Gradualmente, ao longo do desenvolvimento, a 
criança vai vivenciando a ambivalência. As defesas empregadas pelo Eu na posição depressiva 
são defesas contra a culpa e a depressão, não exatamente a depressão patológico, mas por 
exemplo a resultante de um término de namoro, considera-se que a depressão surge do 
sentimento de perda. 
Defesas maníacas 
Triunfo: triunfo sobre o objeto é o desejo de dominá-lo, humilhá-lo. Exemplo: fantasia de 
triunfo sobre os pais que surge como uma defesa contra o medo de ficar dependendo deles. A 
criança que quer crescer e ser grande como os pais, pode ter a seguinte fantasia: haverá um 
dia em que eu serei adulta, poderosa e rica, enquanto meus pais terão então se transformado 
em crianças indefesas, ou então estarão muito fracos e pobres. 
Controle onipotente do objeto: o sujeito nega a culpa decorrente de sua própria hostilidade 
para com o objeto, ele nega que tenha danificado o objeto amado bom. Por um lado, o sujeito 
nega o medo de ter atacado o objeto agora “danificado”, nega o medo de perde-lo. 
Desprezo: denegrimento. 
 
A elaboração bem sucedida da posição depressiva envolve a capacidade de superar a 
ambivalência sem nunca eliminá-la completamente, ou seja, lidarcom a ambivalência é um 
indicador de saúde mental. 
 
A TÉCNICA LÚDICA DE ANÁLISE INFANTIL 
• Jogo “fort-da” 
 
Setting da análise infantil: 
1. Como deve ser a sala lúdica: 
Chão e paredes laváveis, uma pia com água para a criança brincar, armário para guardar as 
caixas lúdicas (cada criança deve ter a sua caixa lúdica, porque precisa sentir que suas coisas 
estão sob segredo e guardadas). 
2. Como deve ser o contrato com os pais da criança: 
Entrevistas iniciais. 
Exigem dois cuidados, o psicólogo não deve mostrar preferência por um dos pais, a entrevista 
não deve parecer um interrogatório para que os pais não se sintam culpados. Dados que o 
psicólogo deve colher com os pais; 
• Motivo da consulta; 
• História da criança; 
• Rotina da criança; 
• Dinâmica familiar / relações familiares; 
• O psicólogo deve informar aos pais que os encontros terão a duração de 50 minutos; 
• O psicólogo deve informar aos pais que o conteúdo dos encontros será mantido em 
sigilo e que não será informado para eles. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LUTO 
O que é o luto? 
Num sentido estrito é o sentimento de pesar pela perda de um ente querido (ou a perda de 
algo importante), o sujeito fica então enlutado. Num sentido mais amplo o luto é a reação a 
perda de alguém que consideramos importante ou de algo que consideramos valioso e 
significativo. 
O processo de superação do luto é chamado de TRABALHO DO LUTO (termo criado por Freud). 
Esta denominação significa o trabalho que a mente realiza para digerir a perda. Como 
característica, o indivíduo fica alheio ao muito externo. Quanto maior o apego em relação ao 
objeto perdido maior será o sofrimento do luto. 
A duração do luto varia de acordo com: 
• As características individuas do sujeito enlutado; 
• O laço que se mantinha com a pessoa que perdeu; 
• A forma como aconteceu a perda. 
Para Klein, o primeiro luto é sentido em relação a perda do seio materno, o bebê acredita que 
perdeu o seio porque o atacava em seus pensamentos. Para ela, atravessar o luto com sucesso 
é digerir uma perda. 
Se o indivíduo não tem objetos bons internos suficientemente estabelecidos, sua capacidade 
de suportar privações, frustrações e perdas diminui e consequentemente ele tende a fracassar 
no processo do luto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INVEJA E GRATIDÃO (1957) 
Sente-se ciúmes quando alguém a quem se ama demonstra mais interesse ou afeição por 
outra pessoa. Há uma tendência em tolerar mais o ciúme do que a inveja. Inveja-se o outro 
que possui capacidades, qualidades, conquistas, entre outros. 
Como a inveja se manifesta? 
Através de um sentimento que surge por alguém estar a sua frente e fazer algo melhor do que 
você. A inveja também se manifesta por uma implacável determinação de obter o que a outra 
pessoa tem. 
Características da pessoa invejosa. 
O invejoso tende a atacar o outro a quem sente inveja; mostra certa hostilidade para com a 
pessoa invejada; o invejoso não suporta encarar o sucesso, a fruição e o prazer do outro; ele 
também não tolera que algo de bom lhe seja dado por outra pessoa porque não pode usufruir 
do que lhe é dado porque é incapaz de expressar a gratidão. 
Os dois pilares da técnica psicanalítica são: transferência e resistência. 
Uma pessoa invejosa também tende a ser insegura, e junto com a insegurança vem um 
sentimento de inadequação. Esse tipo de pessoa também teme a inveja dos outros, como uma 
forma de paranoide. Quando uma pessoa invejosa tem boas experiências e prazer, lhe ocorre 
o importuno sentimento de que ela poderia ter mais do que tem ou que existe outra pessoa 
que possui mais do que ela. 
Algumas defesas que uma pessoa pode empregar para se proteger da inveja dela mesma é: 
• Idealização: O sujeito idealiza de tal forma a pessoa potencialmente invejada que a 
distância entre esta e si própria fica tão grande que nenhuma comparação é possível, 
porque ao idealizar não é possível se comparar; 
• Desvalorização de si próprio: Faz parecer que não se tem nada de bom para dar, isso 
também aumenta a distância entre si mesmo e a pessoa potencialmente invejada; 
• Provocar inveja em outras pessoas; 
• Desprezo; 
• Evitar situações que provoquem a rivalidade e a inveja. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Winnicott (1896 – 1971) 
Teoria da Amadurecimento. 
Para ele o processo do amadurecimento depende de dois fatores: 
• Tendência inata a integração; 
• A existência de um ambiente facilitador. 
O amadurecimento do indivíduo pode ser comparado a uma jornada, da dependência à 
independência. 
Para ele o recém-nascido se encontra em um estágio de total desamparo / dependência 
absoluta, porque ele é incapaz de saciar suas necessidades e vontades sem depender de 
alguém. 
Esse desamparo deve ser relacionado com: 
• Prolongação da maturação; 
• A dependência do bebê é tão extrema que não podemos o considerar como unidade; 
• A unidade refere-se ao bebê e a sua mãe, e o bebê é somente uma parte dessa 
unidade; 
• Não há como descrever o bebê sem que se inclua na descrição os cuidados que 
existem para com ele; 
• O bebê não é capaz de se diferenciar da realidade externa, porque não possui ainda 
percepção. 
Estágios primitivos do desenvolvimento: 
• Estágio pré-natal; 
• Nascimento; 
• Período imediatamente após o nascimento; 
• Estágio da primeira mamada teórica; 
• Estágio da desilusão (princípio da realidade) (ocorre a desadaptação da mãe com o 
bebê e ele começa a vivenciar pequenas frustrações e a partir disso começa a ter 
contato com o mundo externo); 
• Estágio do uso do objeto; 
• Estágio do eu sou. 
Pré-natal: 
Algum momento após a fecundação há um momento de despertar, onde já é possível 
experenciar sensações e memórias corporais desses movimentos sensoriais. Para Winnicott, a 
influência do ambiente já pode ser observada nessa etapa. O nascimento é traumático por si 
próprio, embora ele provoque uma descontinuidade esse sentimento pode ser suportado. Só 
se torna traumático quando existem complicações durante o parto, e quando essas 
complicações excedem o limite daquilo que o bebê é capaz de suportar. O bebê ainda não 
possui nenhum tipo de consciência e maturidade suficiente para compreender a separação de 
sua mãe, Winnicott considera que quando o bebê nasce ele precisa de um tempo para 
compreender o processo de descontinuidade que se dá devido ao nascimento e, para que essa 
compreensão ocorra, ele precisa manter contato físico com a mãe. 
 
Primeira mamada teórica: 
Winnicott utiliza-se dessa expressão para referir-se as primeiras experiências concretas de 
amamentação. Esse estágio dura aproximadamente os 3/4 primeiros meses de vida (equivale a 
posição esquizoparanóide da teoria de Melanie Klein). O mais importante para o bebê nesse 
estágio não é a amamentação em si, mas sim a qualidade do contato humano, ou seja, as 
experiências que conquistará com a sua mãe. 
Nesse estágio o bebê está envolvido em três tarefas: 
• INTEGRAÇÃO: a partir do estado de não integração a realização de experiências de 
integração no espaço e tempo. O bebê precisa desenvolver o conceito de espaço e 
tempo. 
No início da vida, o bebê é um ser não integrado, o que é diferente de dizer que o bebê é 
desintegrado, porque para que haja desintegração é necessária integração prévia, que nesse 
momento ainda não ocorreu. A tarefa de integrar-se no tempo e no espaço é a mais 
fundamental e básica, porque não existe um sentido de realidade sem a noção de espaço e 
temo. Para Winnicott o bebê vive numa espéciede continuum, porque sua temporalidade 
resume-se a sua continuidade de ser, ou seja, a experiência de continuar existindo. O bebê 
nessa fase precisa viver sem sobressaltos, porque assim pode viver as inúmeras experiências 
que se repetem numa regularidade, e poderá exercer certa previsibilidade de acordo com as 
suas necessidades, a medida em que ele desenvolve essa capacidade aumenta a sua 
capacidade de esperar. Para o autor, a mãe não deve impor um ritmo ao bebê, ela deve ir de 
encontro ao “gesto espontâneo” do bebê e se adequar, a princípio a suas necessidades. 
Simultaneamente a temporalização ocorre a espacialização do bebê, o que possibilita a ele a 
aquisição do sentimento de ter um lugar onde possa habitar, como o colo da mãe, o berço, 
entre outros. 
O cuidado materno corresponde a essa tarefa de INTEGRAÇÃO, e é o que ele chama de 
holding, que significa segurar/sustentar. 
• PERSONALIZAÇÃO: o alojamento da psique no soma (corpo). O bebê tem como tarefa 
desenvolver o sentimento de que habita um corpo. 
O cuidado materno corresponde a essa tarefa de personalização. É o que Winnicott chama de 
handlind, que significa manuseio. 
• REALIZAÇÃO: início das relações objetais que culminará no reconhecimento das 
existências independentes dos objetos e do mundo exterior. O bebê passa a 
compreender a mãe como um objeto subjetivo. 
No início da vida o bebê não tem maturidade o suficiente para saber da existência da realidade 
externa. O bebê ainda não desenvolveu o sentido da externabilidade e nem a capacidade de 
percepção, ele ainda se encontra numa relação fusional com a mãe não se diferenciando ainda 
dela. O bebê não percebe a mãe como um objeto separado dele, ou seja, a mãe é sentida pelo 
bebê como um objeto subjetivo, nem interno nem externo porque esses sentidos ainda não 
foram construídos. 
Todas as tarefas são simultâneas e se interdependem. Se o bebê é bem sucedido em realizar 
uma tarefa que corresponde a uma fase do desenvolvimento, esse fato se torna uma 
conquista do amadurecimento. 
Para que as tarefas sejam realizadas com sucesso, são necessários cuidados maternos 
específicos, conforme mencionado acima. Revisando, são eles: 
• Holding (apoio, suporte, sustentação): a integração no espaço e tempo. 
• Handling (o ato de cuidar do bebê com as mãos): o alojamento da psique no soma. 
• Object-presenting (a mãe deve mostrar amostras do mundo para o bebê): o contato 
com a realidade é propiciado pela apresentação de objetos. 
Winnicott utilizou o tempo holding para designar uma função materna, a forma como a mãe 
segura o seu bebê, como ela o sustenta em seus braços, como ela o encaixa em seu corpo. 
Esse termo inclui a rotina dos cuidados maternos e, considera também, a provisão fisiológica. 
Algum tempo depois o autor ampliou esse conceito, que passou a designar também a maneira 
com que a mãe contém as angustias do seu bebê, capacidade de contenção. Alguns casos de 
espancamento de bebês pode se dar devido a essa incapacidade. No consultório o psicólogo 
também oferece um holding ao paciente, acontece também entre amigos. 
O holding inclui o handling, que diz respeito aos movimentos que a mãe executa com as mãos, 
ou seja, como ela higieniza, troca as fraldas. Toda essa experiência permite o tônus, o 
equilíbrio. Winnicott considera que o segurar desajeitado atrasa esse processo. Também cabe 
a mãe a tarefa de apresentar o mundo ao bebê de forma adequada a sua capacidade 
maturacional, o bebê não pode ter contato com o que não consegue entender. 
A mãe que cumpre com todas essas expectativas é considerada como a mãe suficientemente 
boa, a mãe que promove cuidados satisfatórios ao bebê é aquela que se adapta as 
necessidades do bebê de forma que aquilo supra sua ausência. O que orienta essa mãe é a sua 
capacidade para identificar-se com o bebê, ou seja, uma mãe devotada. Para o autor, o 
conhecimento intelectual de nada serve nessa relação. 
A mãe suficientemente boa encontra-se num estado psicológico especial que Winnicott chama 
de: preocupação materna primária, que surge desde antes do nascimento, é uma condição de 
sensibilidade aumentada que surge nos últimos meses de gestação e se prolonga durante 
alguns meses após o nascimento. A mãe madura não ficará narcisicamente ferida por se ver 
esvaziada de sua vida pessoal, muitas vezes ela odiará o seu bebê, pelos seguintes motivos: 
• O bebê representa o perigo para o seu corpo durante a gestação; 
• O bebê machuca o seu seio; 
• O bebê não deixa de ser uma interferência em sua vida pessoal; 
• O bebê não nenhuma ideia do sacrifício que ela faz por ele. 
A mãe pode expressar o ódio através de canções malévolas de ninar. 
 
A transicionalidade 
06 meses à 01 ano - Esse aspecto é caracterizado pela existência de um objeto transicional, 
que a criança recusa a largar porque lhe transmite segurança, este pode ser tratado com 
carinho ou também com brutalidade. O cheiro desse objeto é muito importante para a criança. 
Os pais normalmente sabem da importância de tal objeto para o filho, porque ele é 
indispensável em alguns momentos como a separação da mãe ou o momento de dormir. Para 
Winnicott esse objeto não é esquecido pelo indivíduo, ele somente é deixado de lado em 
algum momento pela criança. 
Esse objeto possibilita transitar de uma relação fusional com a mãe para um estado em que a 
criança pode reconhece-la como um objeto separado dela. O bebê transita da primeira relação 
com a mãe para uma verdadeira relação com o objeto, do controle mágico do objeto para o 
controle por manipulação, da não consciência da dívida para o reconhecimento da dívida em 
relação aos cuidados que foram dedicados por sua mãe, desenvolve a gratidão e a boa 
vontade com as pessoas que o rodeiam. 
No início da vida quando a criança ainda não tem a capacidade de entender o mundo externo, 
existe um mundo para ela onde os objetos são subjetivos, objetos esses que não são internos 
ou externos porque o objeto ainda é uma extensão dela, exemplo: o seio, o cheiro da mãe, 
entre outros, por isso as primeiras relações são fusionais e aos poucos o objeto começa a ser 
percebido objetivamente. No começo da vida não existem relações com os objetos, porque o 
bebê não reconhece o mundo externo, porque não existe o Eu. O objeto pode ter seu uso 
patológico quando não é transitório e sim permanente. 
O objeto transicional possui alguma função? 
• Ele serve como suporte / apoio; 
• Exerce a função de amparo por substituir a mão que desilude o bebê; 
• Ele protege a criança da angustia da separação que surge nesse processo de 
diferenciação “eu – não eu”. 
Pode ocorrer do mesmo objeto concreto, que de início foi subjetivo, se tornar um objeto 
transicional, este que é a primeira posse “não eu”, ou seja, é a primeira coisa que a criança se 
apropria, que compreende que não faz parte dela, isso ao mesmo tempo permite que a criança 
diferencia e fantasia da realidade. 
 
A tendência antissocial 
*** programa de evacuação de civis *** 
Crianças com até dois anos de idade não deveriam ser separadas da mãe durante a guerra. 
Algumas crianças que foram separadas durante a guerra, quando retornavam começavam a 
roubar coisas em casa e na escola, e deixavam rastros como se quisessem ser descobertas, 
eram agressivas em principal com a mãe e com a professora. A partir desse quadro Winnicott 
criou esse conceito, refere-se a uma criança que mente, omite, rouba. 
Como surge a tendência antissocial? 
Surge de uma deprivação e expressa o pedido da criança para retornar ao período em que ia 
bem, a fase anterior a deprivação que sofreu. 
Deprivação: perda, despojamento. 
Privação: falta, carência, ausência. 
Privação: é a experiência catastróficade abandono experimentada por um bebê antes que ele 
tenha atingido um nível de desenvolvimento que lhe permita fazer a distinção “eu” “não-eu”. 
A consequência da privação seria o desenvolvimento de defesas psíquicas que levariam a 
psicose infantil. 
Deprivação: é a experiência catastrófica de abandono que se passa após um período de bom 
desenvolvimento em que já se formou no indivíduo um Eu capaz de reconhecer e 
responsabilizar o meio externo por seu sofrimento. Principalmente por reconhecer que o 
ambiente lhe deve algo, a criança dirige sua agressividade para o meio externo. Exemplo: 
sonho sintomático. A falha do ambiente ocorre em uma época em que a criança já tenha 
maturidade suficiente para perceber. A criança espera que o ambiente reconheça a falha e que 
venha então repará-la pelos danos que sofreu. Se o ambiente não repara a criança pelos danos 
que sofreu essa poderá se transformar em um adolescente delinquente e mais tarde quando 
se tornar um adulto, em um psicopata.

Continue navegando