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aPOSTILA DE aULAS PRáTICAS – MiCroBiologia amBiental Página 2 1.ATIVIDADE DESIDROGENASE EM SOLOS 1.1Visão Geral Objetivo: demonstrar a atividade desidrogenase em relação aos microrganismos do solo Preparar duas condições de incubação para o solo: i) solo sem modificações, e ii) solo + glucose. Adicionar um branco – sem solo. Incubar todos as amostras de solo com cloreto de 2,3,5-trifeniltetrazólio (TTC) durante 7 dias. Extrair o trifenilformazan (TPF) de todas das amostras de solo pelo uso de metanol (ou etanol). Analisar as concentrações de trifenilformazan (TPF) por espectroscopia para estimar a atividade desidrogenase nas amostras testadas. 1.2 Teoria O solo é um ambiente heterogêneo, composto por fase sólida, líquida e gasosa; constituído de frações orgânicas e inorgânicas e habitado por inúmeras espécies de organismos. Os micro-organismos que compõem a microbiota presente no solo são representados por arquéias, bactérias, fungos, microalgas e protozoários, que desempenham papel fundamental na formação, estrutura e qualidade do solo porque são responsáveis por inúmeras reações bioquímicas que ali ocorrem. Sabe-se que a microbiota do solo desempenha papel essencial nos ciclos biogeoquímicos e na estabilização da estrutura do solo. As reações bioquímicas da atividade microbiana incrementam o nível de fertilidade dos solos porque disponibilizam nutrientes essenciais às plantas. Como parte dessas de tais reações, a mineralização da matéria orgânica é realizada por grande parte da comunidade microbiana e envolve uma vasta gama de processos metabólicos. Os processos enzimáticos dos microorganismos são importantes não só na degradação da matéria orgânica, como também na ciclagem de compostos orgânicos aplicados nas camadas superficiais ou que caem sobre elas. Ao mesmo tempo, as características físico-químicas do solo e os impactos causados pela atividade humana (cultivo agrícola, disposição de resíduos no solo, acidentes com derramamento de compostos tóxicos, etc.) influenciam diretamente as condições do próprio solo, a manutenção da taxa de crescimento de diferentes espécies de microrganismos e seus processos metabólicos. A variação no número de indivíduos ou na comunidade de micro-organismos no solo pode ser medida pela biomassa microbiana, pela respiração do solo e por diferentes processos enzimáticos, entre outros. A aplicação dessas medidas serve como bioindicadores para se avaliar o efeito de compostos tóxicos ou potencialmente tóxicos no ambiente edáfico (pertencente ou relacionado ao solo). Desidrogenases são enzimas encontradas em todos os organismos vivos. Essas enzimas estão envolvidas em diversas reações de transferência de elétrons. Nas reações catabólicas (reações envolvendo a modificação de compostos complexos ou ricos em energia para compostos mais simples ou com menor energia) a desidrogenase catalisa a transferência de pares de elétrons do substrato para o NAD+ formando NADH. O NADH por sua vez transfere os elétrons para outro composto, servindo como um aPOSTILA DE aULAS PRáTICAS – MiCroBiologia amBiental Página 3 intermediário na transferência de elétrons. Em reações anabólicas (inverso das catabólicas), o NADP+ está envolvido em vez disso. Dois átomos de hidrogênio acompanham os elétrons que estão sendo transferidos para manter a carga balanceada. As desidrogenases também participam da transferência de eletros em organismos aeróbios, cuja atividade é uma medida indireta da respiração relacionada a atividade metabólica. Um dos métodos mais utilizados para a medida da atividade desidrogenase foi proposta por Casida et al. (1977). Nessa metodologia uma amostra de solo é incubada com o cloreto de 2,3,5-trifeniltetrazólio (TTC), um inibidor competitivo do NAD+. Assim, o TTC (de cor amarelo clara e com certa solubilidade em água) atua como um aceptor final dos elétrons liberados durante a respiração dos microrganismos do solo, sendo reduzido para um composto denominado trifenilformazan (TPF), um composto de cor vermelha insolúvel em água. O solo coletado para o ensaio deve ser fresco pois os resultados são afetados negativamente pelo armazenamento, mesmo a 4°C. A exclusão do oxigênio favorece a transferência de elétrons para o TTC. Exemplos da transferência de elétrons mediada pelas desidrogenases são mostrados abaixo: Reação normal. NAD+ é reduzido a NADH pela transferência de 2 elétrons e 2 íons hidrogênio pela desidrogenase a partir de uma diversidade de substratos (somente 1 dos 2 íons hidrogênio participa no exemplo mostrado acima). Reação normal. Aqui, o NAD+ é reduzido a NADH. O H+ recebido (em negrito) é reduzido na presença da enzima desidrogenase e o NADH é usado para reduzir outros compostos. aPOSTILA DE aULAS PRáTICAS – MiCroBiologia amBiental Página 4 Análogo sintético da coenzima. O TCC aceita um íon H+ e 2 elétrons de maneira similar ao NAD+ (inibição competitiva). Consequentemente, o TCC é reduzido para trifenilformazan na presença da enzima desidrogenase. No entanto, diferente do NADH, o TPF não é metabolizado. Isso envenena o sistema, mas torna possível a medida da atividade metabólica pela visualização e medida da coloração vermelha. Após incubação, as amostras de solo são tratadas com um solvente (etanol ou metanol) para a extração do TPF. Seguindo a extração, a concentração de TPF no solo é determinada por espectrometria. O analito dissolvido (TPF) absorve luz na região de comprimento de onda de 485 nm. Sobre um certo limite de concentração, a absorbância a 485 nm é uma função linear da concentração de TPF extraído na solução do solvente (etanol ou metanol). 1.3 Experimento P R I M E I R A E T A P A 1. Para cada tipo de solo, pesar 6 g (peso seco) em cada um dos 4 tubos com tampa. 2. Em 2 tubos (duplicata) adicione 0,5% de glucose (p/p solo). Nos outros 2 tubos não será colocada glucose. 3. Faça um tubo branco no qual não será colocado solo. Isso resultará em: 4 tubos com solo para cada tipo de solo e 1 tubo para o branco. 4. Adicione 1 mL de TCC 3% (p/v) e 2,5 mL de água deionizada em cada um dos tubos, incluindo o tubo do branco. 5. Misture bem o solo com uma espátula ou bastão de vidro, e tampe os tubos (estes Materiais primeira etapa: Amostras de solo fresco (6 g cada) 1 tubo plástico com tampa (para o branco) 4 tubos plásticos com tampa para as amostras de solo Pratos de pesagem Espátula ou bastão de vidro Água deionizada Glucose 1 mL de TTC 3% (p/v) para cada tubo plástico Micropipeta de 1 mL Pipetadores tipo pera Pipetas de vidro (1, 2 e 5 mL), duas de cada Balança semi-analítica (±0,01g) aPOSTILA DE aULAS PRáTICAS – MiCroBiologia amBiental Página 5 devem preferencialmente ser selados para evitar a entrada de O2 do ar). Um pequeno excesso de água pode aparecer logo acima da superfície do solo no tubo. 6. Incube os tubos durante 24h ou 1 semana (dependendo dos dias da aula prática). S E G U N D A E T A P A 1. Colocar em cada tudo 10 mL de metanol ou etanol (caso seja metanol fazer procedimento em capela) 2. Misturar bem com agitador, filtrar a mistura com papel filtro e coletar o filtrado em um frasco Erlenmeyer de 50 mL. 3. Lavar o tubo e funil contendo o sedimento com mais 10 mL de etanol até o filtrado ficar sem a coloração vermelha. Adicione mais etanol até completar o volume para 50 mL. 4. Utilize os dados mostrados na tabela abaixo para realizar uma curva padrão de TPF (µg/mL). Caso as leituras estejam com valores fora dos limitesde calibração da tabela, pode-se diluir uma alíquota do extrato com etanol em um frasco volumétrico. 5. Transfira um volume adequado de cada amostra para uma cubeta. Faça a leitura da absorbância num espectrofotômetro a 485 nm utilizando o tubo branco com zero. Rinçar as cubetas entre a leitura das amostras com etanol 70%. 6. Expressar os resultados como g TPF/g solo seco. Anote a média das duplicatas. Coloque os dados em uma tabela com os valores para cada solo pela alteração realizada. 1.4 Potenciais riscos o Manipulação de etanol/etanol. Altamente inflamáveis. Cuidado principalmente com o metanol evitando contato com a pele e sua inspiração. o Evite contato da solução de TTC com a pele. [TPF] (ug/ml) Abs485 0 0 5 0,214 10 0,423 15 0,642 20 0,833 25 1,051 30 1,244 Materiais segunda etapa: Solos incubados da primeira etapa Metanol ou etanol Proveta graduada de 10 mL Funil de filtração Papel filtro Whatman® #42 Provetas de 50 mL Pipetas de 5 mL Cubetas Espectrofotômetro (comprimento de onda 485 nm) Papel para limpar cubetas Frasco para descarte das soluções Pissete com etanol 70% aPOSTILA DE aULAS PRáTICAS – MiCroBiologia amBiental Página 6 1.5 Questões 1. O que é a enzima desidrogenase? 2. Qual a vantagem de se utilizar essa enzima com relação a celulase por exemplo? 3. Reportar a atividade desidrogenase para cada solo explicando os resultados obtidos. 4. Como a adição de glucose influencia os resultados? Qual sua função? 5. Que outro composto poderia ser utilizado como estimulador? 6. Se por exemplo amido fosse utilizado como estimulador, quais seriam os possíveis resultados? 7. Qual a vantagem de se utilizar a glucose como estimulador nesse tipo de análise da atividade desidrogenase? Em que tipo de solos pode ser aplicada? 8. Cite os possíveis erros que podem ter ocorrido durante a análise. 1.6 Referências Casida, L.E., Jr. (1977) Microbial metabolic activity in soil as measured by dehydrogenase determinations. Applied and Environmental Microbiology 34, 630–636.