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Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 949 UTILIZAÇÃO DE ÍNDICES PARA ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE DUAS EMPRESAS DO SEGMENTO DE CALÇADOS NOS ANOS 2014 A 2016. Fernanda Molon Andreazzaa, Juliana Ventura Lorenzetb, Itacir Alves da Silva c a Acadêmica no Curso de Administração do Centro Universitário da Serra Gaúcha. b Acadêmica no Curso de Administração do Centro Universitário da Serra Gaúcha. c Mestre em Administração, professor do Centro de Negócios da FSG. Resumo Este artigo apresenta uma análise financeira da Arezzo e Alpargatas, líderes no mercado brasileiro de calçados. Como principal objetivo será realizado a verificação da importância dos indicadores financeiros para a tomada de decisões. Utilizou-se para esse estudo multicaso, metodologia qualitativa, com pesquisa documental nas demonstrações publicadas. São analisados os índices de Liquidez, Rentabilidade, Retorno do Ativo, Retorno sobre o Patrimônio Líquido, Giro do Ativo, Endividamento e Ebtda. Pode-se concluir que os indicadores financeiros são de grande valia para a tomada de decisão. Além disso pode-se notar que a Arezzo apresentou melhor desempenho nos anos analisados do que a Alpargatas conforme indicadores. Palavras-chave: Análise. Demonstrações contábeis. Arezzo. Alpargatas. 1 INTRODUÇÃO Na hora de definir novos negócios é necessário ter muita cautela, pois são as tomadas de decisões que determinam o sucesso ou o fracasso de uma empresa. Para que essas decisões sejam tomadas da maneira mais certa, é indispensável que os gestores ou as pessoas tomadoras de decisões tenham em mãos as informações necessárias para dar andamento ao processo. De acordo com CHING, MARQUES, PRADO (2003, p.6): “é comum a contabilidade ser chamada de a linguagem dos negócios e que quanto melhor você entender essa linguagem melhores serão suas decisões de negócios. ” Baseado nessa citação, a contabilidade é de extrema importância para a tomada de decisões, pois ela Seminário de Iniciação Científica CENTRO DE NEGÓCIOS– FSG ISSN Online: 2318-8006 V. 6, N. 1 (2017) http://ojs.fsg.br/index.php/globalacademica Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 950 auxilia as pessoas a avaliar e demonstrar a estrutura e as alterações ocorridas nas organizações em um determinado período. É através das demonstrações contábeis que se pode ter informações da real situação econômica e financeira e com base nesses resultados também que será possível tomar decisões pertinentes aos investimentos, à capacidade de pagamentos, a rentabilidade e lucratividade da entidade. Diante do exposto, este artigo visa responder o seguinte problema de pesquisa: Quais indicadores podem ser utilizados para analisar o desempenho econômico- financeiro das empresas Arezzo e Alpargatas no período de 2014 a 2016? Para isso, tem-se como objetivos específicos: apresentar os principais conceitos dos indicadores financeiros e analisar o desempenho período de 2014 a 2016 de acordo com os índices. Na sequência aborda-se a metodologia utilizada para realizar o trabalho, bem como a coleta e análise dos dados, além das considerações finais. Independente da estrutura, a análise das demonstrações é uma das ferramentas mais importantes para o processo de tomada de decisão e se ela for interpretada corretamente, estas informações transformam-se em ótimos investimentos tanto para os gestores quanto para os acionistas. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Nesta parte do artigo aborda-se os principais indicadores de gestão financeira da contabilidade. Eles têm como principal finalidade mostrar através dos números como a organização vem se comportando com o passar dos anos. Serão apresentados os seguintes índices: Liquidez geral, liquidez corrente, liquidez seca, retorno do ativo, retorno do patrimônio líquido, giro do ativo, endividamento e ebtida. Faz parte do trabalho do contador o registro e interpretação dos fatos que ocorreram em um determinado. Logo após, o profissional consegue, através das demonstrações contábeis, apresentar uma posição econômica, financeira e patrimonial para os interessados. As demonstrações contábeis são de acordo com o CPC 26 (tópico 9): “são uma representação estruturada da posição patrimonial e financeira e do desempenho da entidade. O objetivo da s demonstrações contábeis é o de proporcionar informação acerca da posição patrimonial e financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa da entidade que seja útil a um grande número de usuários em suas avaliações e tomada de decisões econômicas. As demonstrações contábeis também objetivam apresentar os resultados da Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 951 atuação da administração na gestão da entidade e sua capacitação na prestação de contas quando aos recursos que lhe foram confiados. Para satisfazer a esse objetivo, as demonstrações contábeis proporcionam informação da entidade acerca do seguinte: Ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesa, incluindo ganhos e perdas; alterações no capital próprio mediante integralizações dos proprietários e distribuições a eles e fluxos de caixas. “. Essa afirmação faz com que perceba-se que a contabilidade, com o passar dos anos, vem se firmado como um importante instrumento gerencial para apoio ao processo de tomada de decisão, como é definido por SILVA (2012, p.4). O objetivo principal das demonstrações contábeis é prover aos seus usuários: sócios, gestores, instituições financeiras, clientes e fornecedores, investidores entre outros, informações que poderão ser objeto de análise. Na visão de MATARAZZO (2007, p.17) as demonstrações contábeis “precisam ser transformadas em informações que permitam concluir se a empresa merece ou não crédito, se vem sendo bem ou mal administradas, se tem ou não condições de pagar as suas dívidas, se é ou não lucrativa...”. Através das demonstrações contábeis é possível avaliar o desempenho da gestão no âmbito patrimonial, financeiro e econômico. Com elas, o analista pode confrontar com as informações de períodos passados, comparar com empresas do mesmo segmento e até informar as perspectivas de continuidade do negócio e assim propiciar aos gestores mais conhecimento para a tomada de decisão. As principais demonstrações utilizadas para analisar a situação econômica e financeira são o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado do Exercício, apresentadas a seguir. 2.1 Balanço Patrimonial Nesse demonstrativo são apresentados todos os bens, direitos e obrigações da empresa. É no balanço patrimonial que será identificado detalhadamente a situação econômica e financeira. A análise do balanço preocupa-se com as demonstrações financeiras e a posição patrimonial, onde será verificado se o negócio está sendo bem administrado e se as suas atividades estão sendo eficiente o suficiente para ter continuidade. O balanço compõe-se de três partes essenciais segundo NETO (2012, p. 58) “ativo, passivo e patrimônio líquido. Cada uma dessas partes apresenta suas diversas contas classificadas em “grupos”, os quais, por sua vez, são dispostos em ordem decrescentes de grau de liquidez para o ativo e em ordem decrescente de exigibilidade para o passivo”. Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 952 No ativo estão relacionados os recursos concretizados, que se espera a curto e longo prazo, que resultem em benefícios econômicos e financeiros. O passivo é representado como uma obrigação exigível da entidade, onde será identificada a origem dos recursos aplicados. Quanto ao patrimônio líquido, ele consiste na diferença entre o totaldo ativo e do passivo, identificando os valores aplicados pelos sócios, acionistas, em empreendimentos, prejuízos acumulados ou reservas de lucro. Além deste demonstrativo, temos também a demonstração de resultado do exercício que tem como principal função informar o lucro do período analisado. 2.2 DRE – Demonstração do Resultado do Exercício A demonstração do Resultado do Exercício tem como objetivo fornecer da maneira mais explicativa, os resultados positivos ou negativos, apresentados pela empresa em um determinado período de operações. Segundo NETO (2012, p.76) para a elaboração da DRE, é necessário destacar as receitas e despesas do período, além do custo de produção e impostos apurando assim o valor do lucro do período analisado. No quadro abaixo, segue as etapas a serem desenvolvidas para a realização de uma demonstração do resultado do exercício. Quadro 01 – Demonstração do Resultado do Exercício Receita Bruta de Vendas (-) Dedução de receita bruta (impostos sobre vendas, devoluções, abatimentos) (=) Receita líquida de venda (-) Custo de mercadoria vendida (=) Resultado/lucro bruto (lucro ou prejuízo) (-) Despesas operacionais Despesas gerais e administrativas Despesas comerciais Outras receitas e despesas operacionais (=) Resultado operacional antes dos efeitos financeiros Encargos financeiros líquidos (despesas financeiras deduzidas das receitas financeiras) (=) Resultado Operacional (-) Outras receitas e despesas Resultado da equivalência patrimonial (+/-) Vendas/custos (vendas de itens do não circulante) resultante de operações descontinuadas (=) Resultado do exercício (lucro ou prejuízo) antes dos tributos sobre o lucro (-) Despesas com provisão para imposto de renda e contribuição social Participações (debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias) (=) Resultado líquido do exercício Fonte: LUZ (2014, página 13). Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 953 A partir da análise da Demonstração de Resultado do Exercício e do Balanço Patrimonial pode-se chegar a alguns indicadores que facilitam a tomada de decisão para os gestores. Além disso, são de extrema importância para os acionistas pois informam o andamento da organização. A partir dos valores apurados tanto no balanço patrimonial como na Demonstração de Resultado, é possível entender, através dos indicadores, qual a rela situação da organização. 2.3 Índices Uma das mais importantes técnicas de análise financeira pode ser chamada de quocientes ou índices, pois é através de bases já definidas e dados já apresentados, que será possível comparar as informações com anos anteriores e analisar as informações para a tomada de decisão. IUDICIBUS (2010, p. 92) aborda que “o uso de quocientes tem como finalidade principal permitir ao analista extrair tendências e comparar os quocientes padrões preestabelecidos. A finalidade da análise é, mais do que retratar o que aconteceu no passado, fornece algumas bases para inferir o que poderá acontecer no futuro”. Neste artigo serão abordados os quocientes de liquidez, endividamento, rentabilidade, Valor adicionado econômico e ebtida. 2.3.1 Liquidez Os índices de liquidez têm como principal função demonstrar a capacidade em pagar as suas obrigações. GITMAN (2012, p.51) avalia a importância da seguinte forma: “Como um percursor comum de dificuldades financeiras é uma liquidez baixa ou em declínio, esses índices podem fornecer sinais antecipados de problemas de fluxo de caixa e insolvência iminente do negócio.”. Para medir a curto prazo a longo prazo, o quociente é dividido em: Liquidez geral, liquidez corrente e liquidez seca. 2.3.1.1 Liquidez Geral É através desse indicador de liquidez geral que é possível identificar a capacidade de pagamento a longo prazo. Além disso, pode ser utilizada como medida de segurança econômica e financeira da entidade a longo prazo, com a finalidade de Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 954 cumprir com todos os seus compromissos assumidos. De acordo com SILVA (2012, p.140) a fórmula para o cálculo da liquidez geral é: 𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝐺𝑒𝑟𝑎𝑙 = 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 + 𝑅𝑒𝑎𝑙𝑖𝑧á𝑣𝑒𝑙 𝑎 𝑙𝑜𝑛𝑔𝑜 𝑝𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 + 𝐸𝑥𝑖𝑔í𝑣𝑒𝑙 𝑎 𝑙𝑜𝑛𝑔𝑜 𝑝𝑟𝑎𝑧𝑜 Desta forma o cálculo leva em consideração o ativo disponível mais o ativo a longo prazo dividido pelo passivo total. 2.3.1.2 Liquidez Corrente É analisando esse índice que será possível verificar a quantidade de recursos que se tem disponível para conhecer a liquidez no curto prazo, é o quociente mais indicado para se obter a situação financeira da empresa. É notável considerar alguns aspectos importantes em relação a liquidez corrente, Segundo MARION (2012, p. 76): “O primeiro é que o índice não revela a qualidade dos itens no Ativo Circulante. O segundo é que o índice não revela a sincronização entre recebimentos e pagamentos, ou seja, por meio dele não identificamos se os recebimentos ocorrerão em tempo para pagar as dívidas vincendas. O terceiro, como um aspecto que contribui para o redimensionamento da Liquidez Corrente, no sentido de elevá-la, é o estoque estar avaliado a custos históricos, sendo que seu valor de mercado está, normalmente, acima do evidenciado no Ativo Circulante. Portanto, a Liquidez Corrente, sob esse enfoque, será sempre mais pessimista do que a realidade, já que os estoques serão realizados a valores de mercado e não de custo”. A fórmula para achar o índice de liquidez corrente, ainda segundo MARION (2012, p.76) é: 𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 = 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 Em virtude de este cálculo verificar as contas a curto prazo a fórmula corresponde a divisão do ativo circulante pelo passivo circulante. Quanto maior for o resultado, melhor pois indica que o valor disponível é maior que o valor a ser pago no curto prazo para fornecedores, encargos e tributos. 2.3.1.3 Liquidez Seca Esse quociente vai medir o grau da sua situação financeira, sendo muito importante para se obter a capacidade de pagamento sem contar com os estoques. Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 955 Quando se tem um giro de estoque muito baixo, pode refletir de maneira negativa na gestão, podendo ser afetada quanto as compras de material. Para achar esse quociente, deve-se retirar o estoque. De acordo com IUDÍCIBUS (2010, p. 96), a fórmula para encontrar esse indicador é: 𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑆𝑒𝑐𝑎 = 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 − 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 2.3.2 Rentabilidade Os índices de rentabilidade são capazes de mostrar a capacidade de geração de resultado. Isto é, para os cálculos são considerados os resultados das operações da organização com relação ao valor que foi investido em um espaço de tempo. SAPORITO (2015, p.180) aborda que os índices de rentabilidade “servem para transformar valores absolutos resultados em relativos” e assim poder aplicar as medidas necessárias de acordo com os números obtidos. De acordo com SILVA (2012, p. 147), para a realização do cálculo da rentabilidade é necessário tomar alguns cuidados que poderão refletir nos resultados líquidos, conforme descritos abaixo: “Diminuir o valor das despesas de depreciação alongando a vida útil do bem, o que levará a uma redução da taxa anual a ser contabilizada. Este é um, aspecto altamente subjetivo, bem característico da essência sobre a forma, onde deixando de lado os critériosda legislação do imposto de renda, a empresa passará a contabilizar a depreciação de acordo com as taxas que entenda ser as corretas. Superestimando o valor dos estoques, não contabilizando a baixa de itens considerados, por exemplo, como obsoletos ou danificados, ou ainda não reconhecendo o valor de mercado, quando este estiver abaixo do preço de custo de aquisição ou produção. Ignorando novas obrigações, as quais deveriam estar contabilizadas na forma de provisões para cobrir demandas judiciais e passivos contingentes. Superestimando vendas, naqueles casos em que são realizadas de forma desmedida. ” Os indicadores de rentabilidade são divididos em dois grandes grupos: margens e retornos. Neste artigo será apresentado o retorno do ativo, giro do ativo e retorno sobre o capital próprio. Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 956 2.3.2.1 Retorno do Ativo (ROA) Este indicador demonstra a capacidade dos ativos disponíveis em gerar resultados, ou seja, expressa a taxa de retorno sobre o ativo total investido no negócio. Desta forma a fórmula é dada pelo lucro líquido e o total deste cálculo dividido pelo ativo total. Segundo MARION (2012, p.61) a fórmula para encontrar o retorno do ativo é: 𝑅𝑂𝐴 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 De acordo com SAPORITO (2015, p.188) “Quanto maior for o resultado do cálculo, melhor, pois este representa a remuneração dos recursos totais empregados na empresa independente de serem próprios ou terceiros. ” 2.3.2.2 Retorno do Patrimônio Líquido (ROE) Um dos principais indicadores analisados pelos investidores é a taxa de retorno do Patrimônio líquido, pois é possível acompanhar o desenvolvimento da empresa. Assim, o retorno dos acionistas é o resultado da divisão do lucro líquido pelo patrimônio líquido, conforme MARION (2012, p.61) apresentou a fórmula a seguir: 𝑅𝑂𝐸 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑑𝑜 𝐸𝑥𝑒𝑟𝑐í𝑐𝑖𝑜 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 Esta taxa permite ser comparada entre diversas outras organizações, desde que atuem no mesmo setor e ter condições semelhantes, podendo servir como um dos diferenciais para o acionista investir ou não na organização em questão. Para isso é necessário ter conhecimento de que, assim como Antônio Saporito ano abordou em seu livro que quanto maior o resultado do cálculo do retorno do patrimônio líquido melhor, pois representa o valor ou a taxa de remuneração dos acionistas. Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 957 2.3.2.3 Giro do Ativo Este índice relaciona as vendas do período dividido pelo ativo. Ele é responsável por indicar o quão eficiente à empresa foi em utilizar os seus ativos. Conforme MARION (2012, p. 60), a fórmula é: 𝐺𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑜 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 = 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 O resultado do cálculo pode variar desde zero até o infinito. Ou seja, se a capacidade for perto do zero, quer dizer que não esta sendo utilizando adequadamente o seu ativo (maquinas e equipamentos) ou que a precificação não esta correta. 2.3.3 Endividamento O índice de endividamento vai mostrar o quanto foi solicitado em empréstimos a curto e longo prazo sobre o patrimônio. Quando uma entidade chega ao ponto de estagnar, em função das suas grandes dívidas, é necessário fazer uma análise detalhada de cada valor devido para fazer uma renegociação de acordo com a necessidade do negócio. Para que o grau de endividamento chegue a um nível muito alto, como no caso de falência, alguns fatores que contribuem com essa situação é a falta de organização junto da gestão, aplicação indevida dos recursos disponíveis ou de terceiros, não administrar o fluxo de caixa e até a falta de um plano de negócios objetivo. De acordo com GITIMAN (2012, p. 58) a fórmula para encontrar o índice de endividamento é: 𝐸𝑛𝑑𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 Para SILVA (2012, p. 142), existem algumas variáveis que devem ser ponderadas quando é feita uma análise da capacidade de endividamento, como: “Geração de recursos: capacidade de gerar recursos para amortizar as dívidas; Liquidez: permite analisar o perfil da dívida (objetivos, volume, prazos); Renovação: a capacidade Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 958 de renovação dos empréstimos está associada à capacidade da empresa em gerar recursos e do seu grau de liquidez”. 2.3.4 Ebtida Na tradução literal do inglês, Lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização. Segundo IUDICIBUS (2010, p.248) o ebtida “é uma medida essencialmente operacional, desconsidera os efeitos dos resultados financeiros, assim revelando o potencial da empresa para a geração do caixa operacional”. Desta forma, o este indicador tem como função principal analisar o desempenho efetivo das suas atividades operacionais sem considerar outras influências como efeitos financeiros e pagamento e tributos. De acordo com IUDICIBUS (2010, p.248) o cálculo deve ser feito da seguinte forma: Ebitda = Lucro Operacional + Depreciação + Amortização O valor encontrado é de extrema importância para os acionistas e administradores pois possibilita analisar a produtividade dos processos operacionais e não só o resultado final. No entanto, deve-se levar em conta que empréstimos, financiamentos e pagamento de tributos não estão incluídos no cálculo, e assim não é possível avaliar se o resultado vai ser lucro ou prejuízo. 3 METODOLOGIA Este artigo é um estudo multicaso com metodologia de pesquisa qualitativa, baseado nas empresas do segmento de calçados Arezzo e Alpargatas, onde busca-se apresentar de maneira mais objetiva os índices para a análise de ambas nos anos de 2014, 2015 e 2016. Na metodologia utilizada apresentou-se a pesquisa documental que de acordo com Gil (2008) vale-se de materiais que não recebem tratamento analítico. São considerados como documentos, os documentos de arquivos não processados, como também aqueles que já foram processados, mas podem receber outras interpretações, como relatórios empresariais, tabelas etc. A abordagem qualitativa apresentada neste artigo não se preocupa com a representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento e compreensão do assunto Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 959 abordado. De acordo com Deslauries (1991, p. 58) “o desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. O objetivo da amostra é de produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena e grande. O que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações.”. A estratégia de pesquisa utilizada neste artigo é o método de estudo de mutlicasos, pois este tipo de estudo trata de fatores comuns a todos os casos, e ao mesmo tempo trata de fatores únicos nos casos estudados. Yin (2005) explica que a lógica deste estudo não permite a generalização dos resultados apurados para toda a população, mas a possibilidade de previsão de resultados semelhantes no segmento ou nos anos subsequentes. Além disse, aborda que o estudo responde aos questionamentos primários de: “Como” serão analisados os parâmetros, e “porque” compreendendo a discussão dos resultados. 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS A análise realizada é baseada em indicadores financeiros verificados a partir dos dados coletados das demonstrações publicadas pelas empresas Arezzo e Alpargatas referentes aos anos de 2014, 2015 e 2016. A Arezzo foi fundada em 1972 por dois irmãos empreendedores, hoje ela é a maiormarca de varejo dos calçados femininos da América Latina, junto de seu design contemporâneo, conceito e alta qualidade. A Alpargatas foi fundada em 1907 por um escocês chamado Robert Fraser, e hoje é considerada também uma das marcas mais importantes com seus calçados confortáveis e diferenciados. As duas organizações abordadas, são entidades de capital aberto, isto é, depende da compra e venda de ações dos seus investidores. Abaixo estão apresentados os resultados avaliados de forma criteriosa para extrair informações úteis, visando à situação financeira das organizações. Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 960 Gráfico 1 – Liquidez Geral Fonte: Elaborado pelos autores Com o objetivo de calcular o total de contas a pagar tendo em vista o total dos recebimentos, o indicador de liquidez geral demonstra no gráfico acima que a Alpargatas apresentou uma queda na capacidade de sanar todas as suas dívidas com o passar dos anos analisados. A redução tem como motivo principal a contratação de empréstimos e financiamentos de curto prazo no ano de 2015, além do aumento dos gastos com fornecedores. Já a Arezzo se sobressaiu obtendo um crescimento constante no indicador, que tem como motivo o aumento gradativo dos bens e direitos e diminuindo as obrigações. Gráfico 2 – Liquidez Corrente Fonte: Elaborado pelos autores No gráfico 2 pode-se analisar que a Arezzo se manteve estável nos anos de 2014 a 2016. Isso significa que a empresa se encontra em uma situação financeira confortável, pois para cada unidade monetária que a organização deve no curto prazo ela tem 3,46 em 2014, 3,45 em 2015 e 3,50 em 2016 para saldar as obrigações. Já a Alpargatas teve um decrescimento no ano de 2015 em virtude da compra de estoques com pagamentos através de empréstimos e financiamentos a curto prazo. No ano de Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 961 2016 as obrigações foram sanadas, e do mesmo modo o caixa aumentou pelo pagamento das vendas realizadas no ano de 2015. Gráfico 3 – Liquidez Seca Fonte: Elaborado pelos autores Na análise do gráfico 3 tendo como indicador analisado a liquidez seca, pode-se notar que ambas, mesmo sem contar o estoque como parte da conta de ativos, tem capacidade de saldar as suas obrigações. No entanto, observa-se que a Arezzo obtém em torno de duas vezes mais direitos do que pagamentos quando comparada com a Alpargatas. Ou seja, para pagamentos de imediato, a Arezzo apresenta melhor índice. Gráfico 4 – Retorno do Ativo Fonte: Elaborado pelos autores Como já explicado anteriormente, o retorno do ativo demonstra o rendimento sobre o total dos ativos. Pode-se destacar, com base no gráfico acima que a Arezzo obteve um melhor resultado do que a Alpargatas, no entanto, a última cresceu significativamente dos anos de 2015 a 2016. O aumento no retorno do ativo tem como motivo a contratação de empréstimo, será possível verificar essa situação no gráfico de endividamento, resultando na compra de material de estoque, valorizando o ativo. Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 962 Gráfico 5 – Retorno do Patrimônio Líquido Fonte: Elaborado pelos autores No gráfico acima, pode-se observar que a Arezzo obteve um melhor resultado no retorno do patrimônio líquido nos dois primeiros anos analisados do que a empresa comparada. No entanto, a Alpargatas, dos anos de 2015 a 2016 cresceu tendo em vista os empréstimos contratados. Por isso, no último ano analisado as duas obterão a mesma taxa de retorno, mostrando ao acionista um bom retorno de dividendos nas ações de ambas. Gráfico 6 – Giro do Ativo Fonte: Elaborado pelos autores Este indicador revela o total de vendas líquidas com os valores investidos nas empresas analisadas. Pode-se observar que a Alpargatas obteve um aumento contínuo durante os anos em virtude do crescimento da receita de vendas e, portanto, utilizando melhor as suas máquinas e equipamentos. Percebe-se que a Arezzo apresentou uma discreta oscilação em função de o ativo e as vendas não terem crescido proporcionalmente, conforme demonstrações publicadas. Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 963 Gráfico 7 – Endividamento Fonte: Elaborado pelos autores A composição do endividamento conforme apresentado no gráfico acima, demonstra que a Arezzo se manteve estável, ou seja, o passivo e o ativo cresceram de maneira uniforme. Por sua vez a Alpargatas obteve empréstimo em 2015 para captação de estoque, explicando a diminuição do índice de endividamento neste ano. Em 2016 como parte do empréstimo foi pago, pode-se observar que o indicador mostra uma discreta redução, mas ainda se encontra elevado para o padrão da empresa. Gráfico 8 – EBITDA Fonte: Elaborado pelos autores Como já explicado anteriormente, o ebtida representa o quanto a organização gera de recursos somente referente às suas atividades operacionais. Como pode-se observar no gráfico acima, a Alpargatas obtém uma maior geração operacional de caixa do que a empresa comparada, e tem como principal motivo a quantidade de produtos vendidos por ela. Portanto, pode-se analisar nas demonstrações publicadas de cada companhia que a Alpargatas, pelo mesmo fator indicado acima, apresenta maior lucro líquido do que a Arezzo. Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 964 Após a análise de todos os gráficos e informações apresentadas pode-se notar que a Alpargatas, apesar de ter melhor resultado na geração de caixa das atividades operacionais e no lucro líquido, apresenta os demais indicadores com deficiência. Ela permaneceu com uma certa dificuldade em saldar as suas dívidas por um certo período, isso devido a alguns empréstimos e financiamentos solicitados para dar andamento as suas atividades. Ainda, os índices de liquidez da Alpargatas mostraram-se baixos em relação à Arezzo, ou seja, a baixa capacidade de pagamento de suas dívidas é considerada um ponto negativo. No entanto, as receitas e os direitos de ambas empresas cresceram durante os anos analisados passando uma boa impressão para o mercado acionista. Apesar de o ebtida da Alpargatas ter se mostrado muito superior do que o resultado da Arezzo, deve se ressaltar que o lucro por ação desta, obteve destaque por valer em torno de duas vezes mais do que as ações da Alpargatas, de acordo com informações publicadas. Ou seja, para o acionista ou um futuro investidor seria mais vantajoso investir na Arezzo, mesmo apresentando menor receita operacional. Em suma através dos indicadores econômico-financeiros analisados, pode-se afirmar que a Arezzo, em todos os anos destacados obteve um melhor resultado para os acionistas e para a organização. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise das demonstrações contábeis constitui de um importante instrumento para a tomada de decisão para investidores, diretores e contadores. O presente estudo teve como objetivo geral identificar os principais indicadores econômico-financeiros com o intuito de analisar o desempenho das empresas Arezzo e Alpargatas dos anos de 2014 a 2016. Para atingir os objetivos apresentados, a pesquisa se caracterizou como qualitativa, quanto aos procedimentos de pesquisa documental e um estudo multicaso. Com o intuito de alcançar o primeiro objetivo especifico, foram abordados os principais indicadores financeiros: liquidez geral, liquidez corrente, liquidez seca, retorno do ativo, giro do ativo, retorno do patrimônio líquido, endividamento e ebtida. Com a análise destes índices, pode-se evidenciaro desempenho de cada uma das empresas, atingindo o segundo objetivo do trabalho. Ambas as empresas apresentaram ótimos resultados, mas a Arezzo mostrou-se mais segura, pois ela consegue se manter estável no mercado independentemente de crise e sem muitos recursos de terceiros. Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 965 Sabe-se que a utilização de indicadores é a ferramenta mais utilizada e mais tradicional para se obter uma análise mais detalhadas das demonstrações contábeis. Todas as informações necessárias para a confecção deste trabalho foram encontradas com facilidade tanto em livros, como em documentos disponíveis nos sites das empresas comparadas. Portanto, conclui-se que os indicadores considerados são de extrema importância para uma completa análise econômico-financeira e que é de extrema valia para os avaliadores. No entanto, para os acionistas, estes quocientes não são suficientes para a tomada de decisão de investir ou não na empresa. Ademais, este artigo contribuiu muito para o aprendizado de seus integrantes. 6 REFERÊNCIAS DE IUDICIBUS, Sergio. Análise de balanços. São Paulo: Editora Atlas, 2010. 251 p. CHING, Hong Yuh; MARQUES, Fernando; PRADO, Lucilene. Contabilidade e finanças para não especialistas. São Paulo: Pearson, 2003. 283 p. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5° ed. São Paulo: Atlas, 1999. GITMAN, Lawrence. Princípio de administração financeira. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. 754 p. HORNGREN, Charles; SUNDEM, Gary; STRATTON, William. Contabilidade Gerencial. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2004. 560 p. LUZ, Érico Eleutério. Análise e demonstração financeira. São Paulo: Pearson, 2014. 115p. MARION, José Carlos. Análise das Demonstrações Contábeis. São Paulo: Editora Atlas, 2012. 291 p. MATARAZZO, Dante C. Análise Financeira de Balanço. 6º ed. São Paulo: Atlas, 2007. 459 p. NETO, Alexandre Assaf. Estrutura e Análise de Balanços. 8º ed. São Paulo: Atlas, 2007. 371 p. NETO, Alexandre Assaf. Estrutura e Análise de Balanços. 10º ed. São Paulo: Atlas, 2012. 336 p. SAPORITO, Antônio. Análise e Estrutura das Demonstrações Contábeis. Curitiba: Editora Intersaberes, 2015. 304 p. Caxias do Sul – RS, 20 e 21 de maio de 2017 966 SILVA, Alexandre Alcântara da. Estrutura, Análise e Interpretação das Demonstrações Contábeis. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2012. 250 p. WINKLER SILVA, Bráulio. Índices de Rentabilidade. 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