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APOSTILA CND - Curso Normal à Distância (21) 3347-3030 / 2446-0502 Conhecimento Didático e Metodológico da Educação Indígena 3 Sumário Introdução 3 1. Os indígenas e os direitos a uma educação escolar diferenciada 4 1.1. Uma história de submissão e luta 4 1.2. A educação indígena antes da instituição escolar- uma tarefa coletiva 6 1.3. A educação escolar indígena 12 2 . A expansão e a garantia de direitos indígenas 16 2.1. Os direitos dos indígenas a partir da Constituição Federal de 1988 16 2.2. Outros documentos e espaços ligados aos direitos indígenas. 17 2.3. As conquistas continuam 20 3. Diretrizes curriculares nacionais para a educação escolar indígena 22 3.1. Objetivos das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena 22 3.2 As especificidades sendo respeitadas 24 3.3. As escolas indígenas já disponíveis 28 4. Aspectos relativos ao pedagógico em cada nível de ensino 30 4.1 A Educação Infantil: para começar 30 4.1.1.Tratando do espaço e do tempo na Educação Indígena Infantil 32 4.2. O Ensino Fundamental 33 5.Que currículo é sugerido na educação escolar indígena? 37 5.1.O papel do professor na Educação Escolar Indígena 40 5.2. Organizando as ações pedagógicas 43 5.2.1.Estudar línguas e a Língua Portuguesa? 44 5.2.2.Levando em conta os demais componentes curriculares 46 6. As necessárias mudanças na nossa visão sobre os indígenas 50 6.1 Exemplos de sucesso 50 6.2. O que não fazer no Dia do Índio? 52 6.3. Um esforço conjunto final 56 Referências bibliográficas e bibliografia 59 Anexo 1 63 4 INTRODUÇÃO Olá aluno e aluna do IECS Estamos iniciando um estudo muito interessante. Vamos tratar de aspectos relativos à Educação Escolar Indígena no Brasil. O que temos a aprender com os indígenas? Será que temos o que acrescentar à Educação Escolar Indígena ou a sugestão deve vir deles? Como desfazer ideias que criamos sobre os índios, motivados pelos ensinamentos gerais sobre a população indígena transmitidos na escola? Nosso material tem seis capítulos. No capítulo 1 é apresentada uma trajetória histórica relativa ao contato do colonizador e posteriormente dos grupos étnicos majoritários no nosso país, que acabam por modificar ou mesmo ocultar as características socioculturais dos indígenas. No entanto, traz também a gradativa transformação desse contato apresentando conceitos sobre a Educação Indígena e a Educação Escolar indígena. O Capítulo 2 refere-se à expansão e a garantia de direitos indígenas, com citação da legislação que ampara as conquistas conseguidas. No capítulo 3 a temática é referente às Diretrizes curriculares nacionais para a educação escolar indígena. Para o capítulo 4 reservamos aspectos relativos às recomendações a cada nível de ensino. O capítulo 5 aborda de maneira mais prática, aspectos a serem desenvolvidos nos currículos das Escolas Indígenas e o capítulo 6 cuida de apresentar sugestões pedagógicas que podemos desenvolver nas escolas para ajudar a mudança na visão sobre os indígenas brasileiros. Esperamos que os questionamentos que iniciaram a introdução sejam esclarecidos após percorrermos juntos o material do curso.Também gostaríamos que outros questionamentos surgissem. Boa leitura e interação! 5 1. OS INDÍGENAS E OS DIREITOS A UMA EDUCAÇÃO ESCOLAR DIFERENCIADA Nas últimas décadas tanto os indígenas quanto os indigenistas, vêm trabalhando no sentido de garantir uma educação escolar diferenciada para os grupos indígenas. Para chegarmos à situação atual , um longo caminho foi sendo percorrido. Nesse capítulo a nossa proposta é apresentar uma visão desse processo ao longo da nossa história. 1.1.Uma história de submissão e luta Podemos considerar que em função da política governamental desde o tempo do Brasil Colônia, 1muitos povos indígenas foram sendo extintos ou destituídos de suas culturas. Desde 1500 foi sendo retirado dos indígenas o direito de viver em liberdade, como acontecia com os seus antepassados, sendo obrigados a assumir uma forma de vida diferente dos seus costumes, a partir do contato com os colonizadores. 1 http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/indios/cf_2002.html Ao término do estudo desse capítulo você poderá ter construído e sistematizado aprendizagens como: Conceituar educação indígena e educação escolar indígena Refletir sobre as diferentes formas de dominação impostas aos indígenas Diferenciar os modelos assimilacionistas do modelo emancipatório Identificar as características comuns aos povos indígenas Avaliar nos aspectos ligados à Educação indígena o que nos podem servir de exemplo. Conceituar Florestania 6 Algumas vezes eram dizimados, em outras submetidos a uma repressão cultural e religiosa. Havia também a estratégia de extinção por decreto, como ocorreu no período imperial em que, por ordem governamental deixavam de existir os aldeamentos indígenas e os remanescentes ficavam vagando dispersamente pelo país. Sem paradeiro muitos indígenas acabaram trabalhando como mão de obra barata para os próprios invasores de suas terras. Assim podemos considerar que diferentes formas de dominação foram sendo impostas a muitas comunidades indígenas. Na ótica dos colonizadores as diferenças culturais, eram tidas como entraves ao processo civilizatório e de desenvolvimento do País.. Os colonizadores trabalhavam numa perspectiva integracionista, civilizadora e catequética. Nesse processo a escola foi imposta e se tornou um forte agente, na gradativa desvalorização de muitos fundamentos da vida indígena. Assim a escola teve, e ainda continua tendo, em muitas aldeias, um papel histórico na dominação e na submissão dos povos indígenas. De certa forma isso ocorre porque tendemos a considerar que os fundamentos culturais, científicos , religiosos, artísticos verdadeiros são os da sociedade ocidental da qual fazemos parte. Jesuítas e a catequese. Fonte da imagem http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2011/02/catequizacao-dos-povos- indigenas.html 7 Hoje assistimos a um movimento surpreendente porque após tantos anos de dispersão, impedidos de vivenciar suas práticas culturais, sem realizar seus rituais, festas, sem falar a língua de seu grupo, sem ter uma organização social própria, os indígenas têm conseguido reencontrar-se, reorganizar-se enquanto grupo social distinto dentro da sociedade brasileira para reivindicar o direito de serem reconhecidos e respeitados assumindo uma identidade étnica vinculada às suas populações originais. Dessa forma as comunidades indígenas têm buscado construir projetos de educação escolar diferenciada em oposição ao modelo que vigorou desde o período colonial até recentemente. A instituição escolar ganhou, com isso, novos papéis e significados. Abandonando de vez a perspectiva integracionista e negadora das especificidades culturais indígenas. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica (2012) a escola indígena hoje tem se tornando um local de afirmação de identidades e de pertencimento étnico. Gradativamente os grupos étnicos indígenas vão assumindo o protagonismo no tocante ao que esperam das escolas indígenas. O direito à escolarização nas próprias línguas, a valorização de seus processos próprios de aprendizagem, a formação de professores da própria comunidade, a produção de materiais didáticos específicos,a valorização dos saberes e práticas tradicionais, além da autonomia pedagógica, são exemplos dessas conquistas em andamento. 1.2. A educação indígena antes da instituição escolar- uma tarefa coletiva Você já pensou em como era feita a educação indígena antes da educação escolar? 8 Para que seja possível entender como são educadas as crianças indígenas é preciso primeiramente diferenciarmos educação indígena de educação escolar indígena. Quando abordamos a educação indígena estamos nos referindo aos processos educativos de cada povo indígena, onde ocorre a socialização das suas crianças. Maher (2005, p.16) também nos alerta que se tem, em nosso país, são mais de 300 etnias diferentes, "com línguas diferentes, crenças diferentes, modos diferentes de estar no mundo, de atribuir sentido às coisas do mundo." Logo, toda vez que apresentamos generalizações, estamos utilizando um denominador mais ou menos comum sobre os processos educacionais das crianças indígenas: Para saber mais De acordo com o censo do IBGE de 2010 foram registrados aproximadamente 896 mil pessoas que se consideravam índios, num total de 305 etnias e mais de 200 línguas faladas. Esses dados superaram a estimativa da FUNAI. Desse total 36,2% das pessoas que se declararam indígenas viviam nas cidades e os outros 63,8%, em áreas rurais. Dentre estes últimos, 517 mil (ou 57,7% do total) moravam em terras oficialmente reconhecidas como indígenas.É preciso informar que o percentual de indígenas vivendo em áreas urbanas (36,2%), que é bem inferior ao observado no conjunto da população brasileira (84,4%). Se compararmos a distribuição da população que vive fora e dentro das áreas indígenas,poderemos observar que a população dentro das terras indígenas cresce mais do que as não aldeadas. O Censo Demográfico 2010 também constatou que, entre a população indígena com cinco anos ou mais de idade, 37,4% falavam uma língua indígena e 17,5% não falavam português. Esses percentuais aumentam, respectivamente, para 57,3% e 28,8% entre aqueles que viviam em terras indígenas. Já a taxa de alfabetização dos indígenas com 15 anos ou mais de idade está abaixo da média nacional (90,4%). Nas terras indígenas, 32,3% ainda são analfabetos. 9 Acesse http://indigenas.ibge.gov.br/ O que esses povos indígenas têm em comum é o fato de,em primeiro lugar, serem de origem pré-colombiana e, em segundo, de terem sido vítimas de uma experiência traumática de contato. É a partir dessa ótica que vamos verificar na educação indígena o que há de comum nos grupos já estudados. Nas sociedades indígenas ensinar e aprender são atividades rotineiras da vida diária e o espaço da aprendizagem não se limita a este ou aquele lugar. A aldeia é uma grande escola, onde os conhecimentos são adquiridos/vivenciados naturalmente. Uma característica peculiar desta forma de educação é que o processo ensino/aprendizagem ocorre concomitantemente, isto é, não há uma interrupção das atividades rotineiras para que ele ocorra. 10 Atividades próprias das sociedades tribais são desenvolvidas. aprende- se a pescar, a nadar, a reconhecer quais alimentos podem ser ingeridos, quais plantas a utilizar nos momentos de doença. Pela observação aprende-se se vai chover, qual a época correta do plantio e outras tantas atividades típicas da sociedade tribal. A educação numa comunidade indígena não é uma tarefa realizada apenas pelos pais ou parentes de uma criança. A educação e a inserção desta criança na vida da aldeia é uma tarefa coletiva. Toda a comunidade está envolvida e empenhada em tornar cada criança um membro integral de sua cultura. A criança participa da vida da aldeia e goza de todos os benefícios gerados no trabalho coletivo. Pela educação é que se transmite e se reconstrói a herança cultural Através da educação a criança é apresentada às tradições e aprendem a vivenciar concretamente os valores da fé , da reciprocidade nas ações e da solidariedade. Os conhecimentos são significativos, reais, contextualizados Os conhecimentos são necessários para a sobrevivência e, sendo assim, precisam ser úteis. 11 Todos são ensinantes e aprendentes crianças, jovens, adultos e velhos se revezam no papel de educadores. A aprendizagem ocorre por meio da demonstração, da observação, pela imitação e pela tentativa e erro. Para Maher (2005) como professores e futuros professores precisaremos desfazer mitos, evitando afirmar, ao nos dirigimos às crianças em nossas escolas, sobre como são e como vivem "os índios" brasileiros,uma vez que eles pertencem a diferentes grupos étnicos e linguísticos. Para enriquecer suas leituras sugerimos: Laurence Quentin é o autor desse livro que convida as crianças a conhecer a história, a vida, os costumes e o habitat de três povos amazônicos, de países diferentes: no Brasil, os caboclos; entre o Brasil e a Venezuela, os ianomâmis; e no Equador, os otavalos. 12 Um caso para apreciar. Para que possamos ter uma ideia concreta de como a educação indígena está estruturada leremos o depoimento da pesquisadora Maher (2005, p.86) A pesquisadora apresentou o seguinte relato: Pude observar pessoalmente essa característica quando passei algum tempo em uma aldeia de um grupo étnico que habita o sudoeste do Amazonas, os Apurinã. Nessa ocasião, tive a oportunidade de presenciar o modo como um menino aprendia a fazer a cestaria típica do seu povo, porque fiquei hospedada na casa de sua família por algum tempo. Todas as tardes, a mãe dessa criança e eu ficávamos no terreiro conversando, enquanto ela, ou preparava o material de que necessitava para fazer o artesanato, ou trançava suas cestas e peneiras de palha. Um de seus filhos, um menino de cerca de 6 anos, sempre se juntava a nós e ficava algum tempo por ali ouvindo nossa conversa enquanto observava a atividade dela. Depois de alguns dias, ele começou a pegar o facão e a ajudar sua mãe no preparo do material extraído de um tipo de taquara. Mas ele não ficava fazendo isso muito tempo, não. Logo saía e ia brincar com os outros meninos no açude, ia jogar bola... Algumas vezes ele voltava depois de algum tempo e continuava ajudando sua mãe mais um pouco, mas outras, não: só voltava no dia seguinte. Depois de algum tempo, o menino começou a trançar a palha já preparada e percebi que estava tentando fazer uma peneirinha. O resultado de seu trabalho não ficou, devo dizer, muito bom, se comparado com a qualidade do trabalho artesanal de sua mãe. Mas o que é importante enfatizar aqui é que, em todo esse processo, eu nunca ouvi aquela senhora Apurinã dizer algo como: “Não, não vá brincar, não. Fique aqui, você não aprendeu tudo ainda”. Ou mesmo: “Não é assim que se faz, está errado. É assim! Preste a atenção que eu vou explicar de novo”. Na hora de recolher o material, ao cair da tarde, ela pegava o que ele havia feito, olhava e, sem dizer uma palavra, guardava a peneirinha do filho junto com sua própria produção do dia. A impressão que me dava a. A impressão que me dava é que ela sabia que o processo no qual seu filho começara a se engajar seria um processo longo. Não havia mesmo porque ter pressa: os jovens Apurinã que se interessam pela venda de artesanato só começam a se envolver nessa tarefa quando adultos, por volta dos 15, 16 anos. 13 É a mesma autora Maher 2(2005.p.17) que nos apresenta outra contribuição para reflexão. Ela coloca em discussão o conceito de Florestania. Quando observamosmesmo as atividades mais corriqueiras realizadas no interior de uma aldeia Yanomami, por exemplo, podemos perceber que aí ocorre um intenso e complexo processo de ensino/aprendizagem, no qual crianças e jovens são preparados para exercerem sua “florestania”, para se tornarem sujeitos plenos e produtivos de seu grupo étnico. Esse empreendimento, é preciso entender, não implica, não “passa” por conhecimento escolar algum. Antigamente, essa era a única forma de educação existente entre os povos indígenas: o conhecimento assim transmitido era mais do que suficiente para dar conta das demandas do mundo do qual faziam parte. A partir do contato com o branco, no entanto, esse conhecimento passou a ser insuficiente para garantir a sobrevivência, o bem-estar dessas sociedades. É preciso agora também conhecer os códigos e os símbolos dos “não índios”, já que estes e suas ações passaram a povoar o entorno indígena. E é assim que, historicamente, surgiu a “Educação Escolar Indígena”. 1.3. A educação escolar indígena Nesse processo integral da educação indígena, a escola também passa a ter seu lugar. Ela é vista pelos povos indígenas como uma necessidade, um lugar em que se pode conhecer e construir ideias, para entender melhor a realidade que os cerca, e, sobretudo, para lutar melhor pelos direitos coletivos. É a partir de seu contato conosco que a escrita, a matemática formal e vários outros de nossos saberes entraram no mundo dos indígenas. De acordo com Mahler (2005) a Educação Escolar Indígena pode ser encaixada em dois paradigmas: assimilacionista e emancipatório. 2 http://pronacampo.mec.gov.br/images/pdf/bib_volume8_formacao_de_professores_indigenas_repensando_trajetorias.pdf 14 Ficou confuso? Vamos esclarecer Até o final dos anos 70 do século XX o tipo predominante foi na educação escolar indígena foi denominado paradigma assimilacionista. Nesse paradigma, o que propunha era educar o índio para que ele deixe de ser índio. Como assim ? Fazendo-o abdicar de sua língua, de suas crenças e de seus padrões culturais para incorporar, assimilar os valores e comportamentos, inclusive linguísticos, da sociedade nacional. Esse modelo assimilacionista apresenta duas fases. Paradigma Assimilacionista de Submersão e Assimilacionista de Transição No primeiro caso as crianças indígenas eram retiradas de suas famílias, de suas aldeias e colocadas em internatos para serem catequizadas, para aprenderem português e os nossos costumes, enfim para “aprenderem a ser gente”. Os que assim agiam acreditavam que os costumes e crenças indígenas não correspondiam aos valores da modernidade. E à escola cabia levar a cabo tal incumbência, cujo objetivo final era educar o índio para que ele acabasse deixando de ser índio. Já na educação escolar de transição não há a retirada da criança indígena do seio familiar. Antes, criou-se uma escola na aldeia e a língua de instrução, nas séries iniciais, é a língua indígena, porque, percebeu-se, é extremamente difícil alfabetizar uma criança em uma língua que ela não domina. Mas, nesse modelo, depois que a criança é alfabetizada em sua língua materna, depois que ela entende o que é escrita, como é o seu funcionamento, vai-se introduzindo a língua portuguesa até que a língua indígena acabe excluída do currículo escolar. A função da língua indígena é apenas servir de elemento facilitador para a aprendizagem de língua portuguesa, a qual, tendo sido aprendida, passará a ser a língua de instrução na apresentação dos demais conteúdos escolares. Em 15 termos linguísticos, esse modelo propõe um bilinguismo ,mas devemos considerá-lo como sendo subtrativo.,porque Seu objetivo final é subtrair a língua materna do repertório do falante: a criança começa língua materna do repertório do falante: a criança começa sua escolarização monolíngue em língua indígena, passa a um bilinguismo transitório nas duas línguas e termina monolíngue na segunda língua, na língua portuguesa. Ao mesmo tempo que se vai atenuando a bagagem cultural indígena substituindo-a pelos valores e práticas da sociedade dominante. Como você pode perceber, esse modelo não difere tanto do primeiro porque ,de qualquer forma, contribui para apagar a peculiaridade cultural dos indígenas. Esse modelo de educação escolar é ainda seguido em muitas escolas indígenas – mesmo que dissimulado. Paradigma emancipatório Vale registrar, no entanto, que nos últimos vinte anos, tem ocorrido transformações no cenário da Educação Escolar Indígena, com a introdução de um novo paradigma, o Paradigma Emancipatório. Os princípios do paradigma emancipatório agregam um modelo de enriquecimento cultural e linguístico. Nele, o que se quer promover é um bilinguismo aditivo. Como fazê-lo: aluno indígena adiciona a língua portuguesa ao seu repertório linguístico, mas evitando que ele perca a eficiência na língua de seus ancestrais. No entender de Mahler (2005) é necessário que a língua de instrução seja a língua indígena ao longo de todo o processo de escolarização e não apenas nas séries iniciais. 16 O capítulo que se encerra mostrou-nos ao longo do tempo , como se deu o contato entre os colonizadores e os grupos indígenas, procurando demonstrar os paradigmas resultantes desse contato na vida e educação indígena, bem como na criação da educação escolar indígena . Para saber mais Flávia faz duas viagens à Amazônia para conhecer os hotéis da selva e escrever algumas reportagens sobre o assunto. Em suas andanças, faz amizade com Madeleine e Maíra, que também se interessam pelas questões ambientais. Encanta-se com o conceito de florestania - a cidadania dos povos da floresta - e com o projeto Pequenos Guias. Começa a pensar em escrever um livro que ajude a divulgar os programas de desenvolvimento sustentável e que contribua para a construção de uma mentalidade voltada à preservação da natureza e à valorização da vida. Mudanças de paradigma são lentos, não ocorrem do dia para a noite, mas no próximo capítulo vamos estudar algo sobre a expansão dos diretitos dos indígenas que nos permite vislumbrar as possibilidades de transformação. 17 2 . A EXPANSÃO E A GARANTIA DE DIREITOS INDÍGENAS A luta do movimento indígena e de seus aliados acabou por modificar a relação entre o Estado e os povos indígenas. Tal situação fica clara na Constituição Federal do Brasil de 1988, que estabeleceu o paradigma do reconhecimento, manutenção e proteção da sociodiversidade indígena nas políticas públicas. 2.1. Os direitos dos indígenas a partir da Constituição Federal de 1988 No capítulo anterior citamos o caráter assimilacionista do contato entre os colonizadores e os grupos indígenas. A Constituição de 1988, supera essa perspectiva de assimilação que havia acompanhado toda a legislação indigenista antecedente. Na visão anterior entendia-se os índios como uma categoria étnica e social provisória e transitória, apostando na sua incorporação à comunhão nacional. A partir da Lei Maior torna-se obrigatório e necessário reconhecer a pluralidade cultural indígena e além de afirmar o Estado brasileiro como um Estado pluriétnico. Ao término do estudo desse capítulo você poderá ter construído e sistematizado aprendizagens como: Identificar na Constituição de 1988 o principal paradigma no tocante à relação do Estado com os povos indígenas Reconhecer na LDB 9394/96 os aspectos relacionados à Educação Escolar IndígenaConceituar território etnoeducacional Avaliar o conjunto de ações de indígenas e indigenistas na conquista de direitos. 18 Isso quer dizer que com a Constituição de 1988 passamos a respeitar o direito à diferença cultural, isto é, o direito dos indígenas serem indígenas, reconhecendo-lhes “sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições”. Os artigos 210, 215 e 231 da Constituição assegura aos grupos indígenas a utilização de seus típicos processos de aprendizagem, cabendo ao Estado proteger as manifestações culturais de cada povo, tendo o dever de respeitá-las e promovê-las. Dessa forma foi preciso que a velha prática da assimilação desse lugar a novas concepções para a educação escolar indígena. Assim as propostas governamentais foram acompanhadas da participação de educadores indígenas, o que levou à construção de projetos escolares diferenciados. 2.2. Outros documentos e espaços ligados aos direitos indígenas. A LDB 9394/96 também assume esse compromisso, onde nos seus artigos 32, 78 e 79 foi estabelecida a responsabilidade da União em assegurar aos povos indígenas o uso , além do português, da suas línguas maternas e processos próprios da aprendizagem. Descreve-se também a importância de se garantir o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não índias. O art. 79 define como competência da União, apoiar técnica e financeiramente os sistemas de ensino no provimento da Educação Escolar Indígena, por meio de programas integrados de ensino e pesquisa, visando: I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna de cada comunidade indígena; II - manter programas de formação de pessoal especializado, destinado à educação escolar nas comunidades indígenas;III - desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades; IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático específico e diferenciado. Fonte: http://www2.mp.pr.gov.br/cpca/telas/ca_igualdade_9_3_3_8.php 19 O PNE 2011/2020 , no Art. 7, parágrafo 3º, cita especificamente a educação escolar indígena : § 3º A educação escolar indígena, considerando o disposto no artigo 231 da Constituição Federal, deverá ser implementada por meio de regime de colaboração específico, que considere os territórios étnico-educacionais, e de estratégias que levem em conta as especificidades socioculturais e linguísticas de cada comunidade, promovendo a consulta prévia e informada a essas comunidades. O que são os Territórios Etnoeducacionais? São áreas definidas a partir da consulta aos povos indígenas e estão relacionadas à sua mobilização política, afirmação étnica e garantia de seus territórios e de políticas específicas nas áreas da educação, conforme determina a Constituição Federal de 1988. A partir da definição dessas áreas, pretendemos organizar um conjunto de redes e sistemas de ensino, pesquisa e extensão, organizações da sociedade civil e outros órgãos públicos, com o protagonismo dos povos indígenas. Com isso, buscamos um trabalho articulado para o desenvolvi- mento da educação escolar indígena em torno de ações prioritárias definidas pelos povos indígenas. Fonte : Documento do MEC, Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena – CGEEI, Diretoria de Políticas para Educação do Campo e Diversidade- DPECAD e Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI (Decreto n. 6.861/2009) 20 EXTRA - EXTRA Indígenas criam primeiro território etnoeducacional Sexta-feira, 03 de julho de 2009 - 17:36 Os 23 povos indígenas que vivem nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas, estão organizados no Território Etnoeducacional do Rio Negro, que é o primeiro arranjo neste tipo de configuração criado no Brasil. http://portal.mec.gov.br/index.php?opt ion=com_content&id=13856:indigenas-criam- primeiro-territorio-etnoeducacional Acesso em jan 2015 Em outubro de 2013 os territórios etnoeducacionais são estabelecidos pelo então Ministro da Educação. Se você quiser saber mais acesse o mapa no site do Ministério Público Federal. http://6ccr.pgr.mpf.mp.br/institucional/grupos-de- trabalho/educacao/documentos/mapa-dos-territorios-etnoeducacionais- pactuados/view 21 Em que região estão localizados o maior numero de territórios etnoeducacionais? 2.3.As conquistas continuam De acordo com o documento para estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Indígena, que será objeto de estudo no próximo capítulo, gradativamente os indígenas vão assumindo a participação no cenário educacional brasileiro ocupando diferentes espaços: de organizações de professores indígenas nas suas mais diversas formas de associações, ocupação de espaços institucionais estratégicos como as escolas, 22 nas Coordenações Indígenas nas Secretarias de Educação, no Ministério da Educação, bem como a representação indígena no Conselho Nacional de Educação (CNE). Outro momento histórico nas conquistas desses grupos se deu na I Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena, realizada em 2009, em que também é exemplificado como um momento histórico em que, pela primeira vez, uma indígena assume a relatoria de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena, como forma de promover a ampliação do diálogo intercultural entre o Estado brasileiro e os povos indígenas. As diretrizes são, portanto, o resultado de um trabalho coletivo, que expressa o compromisso de representantes de diferentes esferas governamentais . Os movimentos sociais dos índios, por sua vez, consideram o Conselho Nacional de Educação como uma importante agência política que tem contribuído para a garantia do direito a uma educação escolar diferenciada. Concluímos o capítulo que abordou a gradativa conquista de direitos indígenas. A seguir vamos apresentar ,em linhas gerais aspectos das Diretrizes para a educação escolar indígena . 23 3. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA Após muitas reuniões e estudos, com a presença de diversos representantes dos grupos envolvidos foram apresentados o Referencial curricular nacional para a educação escolar indígena (1998) e as primeiras DCNEEI, no ano de 1999. De 1999 até a atualidade, a Educação Escolar Indígena vem sendo objeto de estudo do Conselho Nacional de Educação e da Câmara de Educação Básica. O documento sobre o qual trataremos foi reapresentado em 2009 aprovado pela Câmara de Educação Básica em maio de 2012. 3.1. Objetivos das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena São vários os objetivos e vamos dar destaque a : orientar as escolas indígenas e os sistemas de ensino na elaboração, desenvolvimento e avaliação de seus projetos educativos. orientar a elaboração de normas que possibilitem a articulção Educação Escolar Indígena no processo da Educação Básica. Ao término do estudo desse capítulo você poderá ter construído e sistematizado aprendizagens como: Reconhecer os objetivos apresentados nas DCNEEI Destacar a participação dos povos indígenas nas plenárias que envolvem seus direitos diferenciados à educação Refletir sobre as formas de ação pedagógica de inclusão dosindígenas nas escolas comuns nos locais onde ainda não há escolas indígenas. 24 assegurar que os princípios da especificidade, do bilinguismo e multilinguismo, da organização comunitária e da interculturalidade fundamentem os projetos educativos das comunidades indígenas. assegurar que o modelo de organização e gestão das escolas indígenas esteja ligado às práticas culturais da organização comunitária. aumentar a colaboração entre os sistemas de ensino de forma a oferecer diretrizes para a Educação Escolar indígena no âmbito dos territórios etnoeducacionais. orientar os sistemas de ensino a incluir, tanto nos processos de formação de professores indígenas, quanto no funcionamento regular da Educação Escolar Indígena, a colaboração e atuação de especialistas em saberes tradicionais necessários ao bem viver dos povos indígenas; Um exemplo Fonte: http://brasileiros.com.br/2012/08/ikixiai-meduare/ Luciano Ariabo Quezo, é o primeiro universitário indígena a ser contemplado com uma bolsa da FAPESP. Ele é autor de um projeto de iniciação científica, destinado a resgatar e fortalecer o idioma da aldeia onde nasceu. 25 zelar para que o direito à educação escolar diferenciada seja garantido às com qualidade às comunidades indígenas ,respeitando as lógicas, saberes e perspectivas dos próprios povos indígenas. Fonte:http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17349:e studantes-descobrem-riqueza-historica-e-cultural-dos-povos&catid=206&Itemid=86 3.2 .As especificidades sendo respeitadas Como foi garantido o direito diferenciado a uma educação escolar voltada para os interesses e necessidades das comunidades indígenas? A escola indígena será criada em atendimento à reivindicação dos indígenas ou por iniciativa da comunidade interessada, sempre com a anuência da mesma. Também é assegurado pelo Decreto nº 6.861/2009, a organização da Educação Escolar Indígena em territórios etnoeducacionais, dos quais já tratamos no capítulo anterior. Em seu art. 1° o Decreto determina que a Educação Escolar Indígena seja organizada a participação dos povos indígenas, observada a sua territorialidade e respeitando suas necessidades e especificidades. Os territórios etnoeducacionais, existem independentes da divisão político-administrativa do País. Além disso o agrupamento leva em conta que, as terras indígenas, mesmo que descontínuas, ocupadas por povos indígenas que 26 mantêm relações histórico-culturais compartilhados poderão estar. no mesmo território etnoeducacional, ainda que espacialmente dispersos..Ou seja é possível a localização das escolas de grupos indígenas semelhantes, em territórios etnoeducacionais comuns,ainda que se estendam por territórios de diversos Estados ou Municípios contíguos; Considera-se a possibilidade especial na organização de suas atividades escolares com calendários próprios, independentes do ano civil(letivo), para se respeitar as atividades econômicas, sociais, culturais e religiosas de cada comunidade. Destaca-se também importância do uso das línguas indígenas e dos registros linguísticos específicos do português para o ensino ministrado nas línguas indígenas de cada povo e comunidade, como uma das formas de preservação da realidade sociolinguística de cada povo. Outro tópico que merece destaque é o fato de se necessitar de exclusividade no atendimento a comunidades indígenas por parte de professores indígenas oriundos da respectiva comunidade. A Coordenadoria Regional de Educação de Vilhena em Rondônia, realizou um trabalho especial para a formação de professores que atuam com a alfabetização intercultural. O curso é para Magistério Intercultural Formação Inicial. Fonte da imagem:http://educavilhena.blogspot.com.br/2011_11_01_archive.html 27 Também na região Sul encontramos um exemplo interessante. A Escola Estadual Indígena Kuaa Mbo’e, na aldeia indígena Guarani Tekohá Añetete, localizada no município de Diamante do Oeste (Oeste do Paraná). A escola tem cinco salas de aula, pátio coberto e capacidade para atender 350 alunos. Fonte da imagem: http://www.educacao.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=885 28 Você, aluno ou aluna do CND-IECS, deve estar se perguntando: O que ocorre quando o estudante indígena estuda em escola não indígena? Essas situações podem ocorrer com estudantes que morando em suas aldeias, são obrigados a procurar escolas não indígenas pela ausência de escolas diferenciadas ou da oferta de todas as etapas da Educação Básica em suas comunidades, além dos casos em que os indígenas residem fora de suas comunidades de origem. Como garantir que tais estudantes tenham garantido o direito de expressão de suas diferenças étnico-culturais, de valorização de seus modos tradicionais de conhecimento, crenças, memórias e demais formas de expressão de suas diferenças? Para tanto, as escolas não indígenas devem desenvolver estratégias pedagógicas com o objetivo de promover e valorizar a diversidade cultural, tendo em vista a presença de “diversos outros” na escola. Uma das estratégias ancoradas na legislação diz respeito à inserção da temática indígena nos currículos das escolas públicas e privadas de Educação Básica. Os conteúdos referentes a esta temática “serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras”, nos termos do art. 26- da LDB, com a redação final dada pela Lei n° 11.645/2008.(ANEXO 1) 29 Reafirma-se também a necessidade cursos de formação inicial e continuada de professores proporcionando aos docentes o conhecimento de estratégias pedagógicas, materiais didáticos e de apoio pedagógico, além de procedimentos de avaliação que considerem a realidade cultural e social desses estudantes com o objetivo de lhes garantir o direito à educação escolar 3.3. As escolas indígenas já disponíveis De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) é possível verificar que tem havido um aumento progressivo no número de escolas indígenas a cada ano . Em 1999, ano do primeiro censo específico da Educação Escolar Indígena, foram identificadas 1.392 escolas. O censo escolar realizado anualmente em todas as escolas do país apontam para esse crescimento significativo ,chegando em 2010 a 2.836 escolas indígenas. Esse aumento progressivo do número de escolas indígenas verificado no período focalizado (1999-2010) deve-se não só a um maior rigor no fornecimento de informações para o censo escolar, mas também ao fato de que, nos últimos anos, os sistemas de ensino estaduais e municipais passaram a regularizar as escolas das aldeias. Esse aumento também se explica pela importância que a escola passou a ter nos últimos anos para os grupos indígenas, não só como forma de acesso a conhecimentos e práticas que se quer dominar, mas também pela possibilidade de benefícios que a acompanham, como o recebimento de alimentação escolar ou assalariamento de membros da comunidade, por meio da contratação de professores, diretores, merendeiras, faxineiras e vigilantes. As escolas indígenas estão mais ligadas aos municípios, num percentual de 53,17% do número total. 30 Nas escolas indígenas estudam perto de 200 mil estudantes indígenas, distribuídos pelos 25 Estados da Federação que registram escolas indígenas (dados de 2010). Em termos percentuais, asituação de matrícula dos estudantes indígenas em 2010 é a seguinte: Educação Infantil 10% Ensino Fundamental Total 77,5% Anos iniciais 72,7% Anos finais 27,3% Ensino Médio 5% Educação de Jovens e Adultos 7,5% O capítulo que encerramos apresentou especificidades sobre a distribuição doa alunos indígenas nas diferentes etapas da educação Básica, chamou atenção sobre os objetivos da educação escolar indígena e sobre a importância da valorização cultural das diferenças sociolinguísticas. O capítulo a seguir é ligado de forma mais direta ao fazer pedagógico nos diferentes níveis de ensino. 31 4. ASPECTOS RELATIVOS AO PEDAGÓGICO EM CADA NÍVEL DE ENSINO Já há consenso sobre algumas estratégias a serem utilizadas em cada nível de ensino da educação escolar indígena. Visando atender à área de formação para o Magistério para a qual você está se habilitando, enfatizaremos os aspectos ligados à Educação Infantil e a fase inicial do Ensino Fundamental. 4.1 A Educação Infantil: para começar A Educação Infantil é um direito dos povos indígenas e como tal cada comunidade pode decidir pelo ingresso ou não de suas crianças na escola desde cedo. Em alguns contextos indígenas, as escolas não são vistas como necessárias para cuidar e educar as crianças, papel, por excelência, da família e da comunidade. Mas, em outros, a Educação Infantil se apresenta como uma conquista política e social que deverá ser atendida pelo Estado. Quando é opção das comunidades a Educação Infantil é preciso muito cuidado .Deve-se evitar que a escola acabe por distanciar: a criança de seus familiares, dos demais membros da comunidade, dos outros espaços comunitários e até mesmo, em alguns casos, da sua língua materna. Ao término do estudo desse capítulo você poderá ter construído e sistematizado aprendizagens como: Reconhecer o direito de escolha dos grupos indígenas quanto à idade de ingresso dos alunos na escola Estabelecer relação a vida em comunidade e aspectos da Educação Infantil. Identificar aspectos pedagógicos relativos ao Ensino Fundamental -série iniciais 32 Se já levamos em conta o que não se deve fazer, passamos a apresentar as propostas pedagógicas, possíveis de realização, que já foram discutidas pelos povos indígenas que optaram pela Educação Infantil. De acordo com o Parecer CNE/CEB nº 20/2009 as propostas pedagógicas são voltadas para : a) proporcionar uma relação viva com os conhecimentos, crenças, valores, concepções de mundo e as memórias de seu povo; b) reafirmar a identidade étnica e a língua materna como elementos de constituição das crianças; c) dar continuidade à educação tradicional oferecida na família e articular-se às práticas socioculturais de educação e cuidado coletivos da comunidade; d) adequar calendário, agrupamentos etários e organização de tempos, atividades e ambientes de modo a atender às demandas de cada povo indígena. e)garantir o acesso das crianças não apenas aos conhecimentos tradicionais de seus grupos sociais de origem, mas também aos conhecimentos de outros grupos ou culturas. f) considerar as brincadeiras tradicionais das infâncias indígenas também como práticas de aprendizagem e de desenvolvimento emocional, físico e motor. Há diversas recomendações também quanto à necessidade da educação escolar atentar para a participação da criança em iniciativas e atividades educativas “complementares” à escola e de caráter “comunitário”, voltadas à valorização cultural e de sustentabilidade do grupo. Assim isso não pode ser considerado como exploração de trabalho infantil , mas sim uma atividade letiva da criança. 33 Um exemplo na comunidade Bororo Os homens realizam a maior parte do trabalho na roça: derrubada, queimada e capinagem, enquanto as mulheres só ajudam no plantio e na colheita. As mulheres são responsáveis pela coleta de mel, coco de diversos tipos, frutos do cerrado, ovos de pássaros e de tartarugas. As crianças e às vezes os maridos participam dessas atividades.(ISA, 2015) Fonte da imagem: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/bororo/248 4.1.1.Tratando do espaço e do tempo na Educação Indígena Infantil Na organização dos espaços e dos tempos da Educação Infantil das escolas indígenas, devemos observar as seguintes orientações: As práticas culturais comunitárias devem ser reconhecidas como parte fundamental da educação escolar das crianças e vivenciadas por elas nos seus espaços e tempos apropriados. Deve ser considerada a importância da presença dos sábios e especialistas dos conhecimentos tradicionais de cada comunidade, bem como a 34 presença das mães ou daqueles que são responsáveis pelas crianças de acordo com as práticas comunitárias. A educação escolar das crianças indígenas deve fazer uso dos diversos espaços institucionais de convivência e sociabilidade das comunidades, como por exemplo: casa da cultura, casa da língua, centros comunitários, espaços tradicionais de ensino.e deverão ser reconhecidas como atividade letiva. A organização das turmas deve respeitar as idades das crianças de acordo com a comunidade escolar, considerando-se, inclusive, a possibilidade de criação de turmas com faixas etárias diferentes, tanto na escola quanto nos outros espaços de aprendizagem da comunidade. A idade de entrada da criança na escola deve ser definida pelas comunidades indígenas, após consulta livre, prévia e informada, com diagnóstico e avaliação A organização das crianças por gênero deve também ser definida por cada comunidade, tanto na organização da escola, quanto nas atividades e nos aprendizados específicos. A língua em que serão desenvolvidas as atividades escolares deverá ser decidida previamente e com ampla participação comunitária, sendo prioritária a alfabetização na língua indígena, quando for o caso. 4.2. O Ensino Fundamental O Ensino Fundamental, em seus primeiros anos, foi durante muito tempo a única etapa de ensino ofertada nas escolas indígenas. O ideal é que o Ensino Fundamental, aliado à ação educativa da família e da comunidade, se constitua em tempo e espaço de formação para a cidadania 35 indígena plena, articulada tanto ao direito à diferença quanto ao direito à igualdade. O que se estima como essencial nessa formação cidadã? Essa cidadania deverá ser construída por meio do acesso aos códigos da leitura, da escrita, das artes, dos conhecimentos ligados às ciências humanas, da natureza, matemáticas, linguagens, bem como do desenvolvimento das capacidades individuais e coletivas necessárias ao convívio sociocultural da pessoa indígena com sua comunidade de pertença e com outras sociedades. proporcionando aos alunos um trânsito das suas vivências dentro e fora da comunidade. De acordo com o postulado no Parecer CNE/CEB Nº: 13/2012 o Ensino Fundamental deve ainda aliar às práticas educativas, as práticas do cuidar, no atendimento às necessidades dos estudantes indígenas desta etapa da Educação Básica. Dentre as ações educativas previstas estão, os cuidados corporais e afetivos, nos moldes atribuídos pela comunidade ou grupo indígena do estudante. A utilização dos aspectos lúdicos como estratégia pedagógica, por exemplo, não deve restringir-se à Educação Infantil, podendo ser usado no processo de ensino aprendizagem nas escolas indígenas que ofertam o Ensino Fundamental. As brincadeiras, as danças, as músicas e os jogos tradicionais de cada comunidade e das diferentes culturas precisam ser consideradoscomponentes curriculares ou instrumentos pedagógicos importantes no tratamento das “questões culturais”, auxiliando no aprendizado da leitura, da escrita, das línguas, dos conhecimentos das ciências, das matemáticas, das artes. É conveniente ainda destacar que as escolas indígenas possuem autonomia para, na definição de seus projetos político-pedagógicos, organizar o 36 Ensino Fundamental de acordo com as especificidades de cada contexto escolar e comunitário. Mas feita essa ressalva, o Ensino Fundamental pode ser organizado em ciclos, seriação, etapas ou módulos, de acordo com a proposta organizacional definida pelas Secretarias de Educação. Outro aspecto a ser lembrado é sobre a flexibilidade dos currículos e programas escolares adequados ao desenvolvimento e à aprendizagem dos estudantes indígenas nas dimensões biopsicossociais, culturais, cosmológicas, afetivas,cognitivas, linguísticas, dentre outras. Aos professores indígenas do Ensino Fundamental cabe a construção e utilização de métodos, estratégias e recursos de ensino que melhor atendam às características e necessidades cognitivas e culturais dos estudantes de sua comunidade concebendo dessa forma a práticas escolares diferenciadas. No respeito à autonomia das escolas indígenas, a organização atual do Ensino Fundamental com duração de nove anos, ao instituir a obrigatoriedade da matrícula dos estudantes com seis anos de idade, deve adequar-se aos imperativos socioculturais das comunidades indígenas como fundamentos de seus projetos de escolarização. A entrada de crianças mais cedo na escola deve ser opção de alguns grupos indígenas e não obrigatoriedade geral. Quanto a tão esperada universalização do Ensino Fundamental nas comunidades indígenas, uma das questões urgentes na Educação Indígena está na implantação e ampliação, onde for o caso, do segundo segmento do Ensino Fundamental,com todas as implicações que isso representa : a questão da adequação das formações docentes; da necessidade de ampliação de investimentos no transporte e alimentação escolar; de adequação da estrutura de prédios escolares compatíveis, equipamentos e mobiliários para os diferentes públicos (crianças, jovens e adultos) atendidos no Ensino Fundamental 37 e a adaptação das funções dos docentes indígenas, materiais didáticos e pedagógicos, bem como das metodologias de ensino às necessidades e características dos anos finais do Ensino Fundamental. No que diz respeito às especificidades das escolas indígenas, embora os sistemas de ensino tenham dividido as responsabilidades com a Educação Básica é da competência dos Estados a oferta da Educação Escolar Indígena. A garantia do direito à diferença que temos abordado ao longo do nosso material de estudo deverá também salvaguardar os processos formativos diferenciados para as comunidades indígenas.. No tocante às práticas linguísticas nas escolas indígenas, a prevalência é do português, mesmo em contextos comunitários bilíngues ou multilíngues, porém há comunidades que visando a salvaguarda, vitalização e valorização da língua nativa nos processos escolares trabalha com a sociodiversidade linguística. A política linguística deve estar atenta à relação entre o uso do português como língua nacional, hegemônica na tradição escolar escrita, e as línguas indígenas, tradicionalmente ligadas à expressão oral. Chegamos ao final do capítulo onde foram apresentadas as propostas pedagógicas gerais e específicas para a Educação Infantil e Ensino Fundamental indígena Quanto aos outros segmentos da Educação Básica registramos que a ainda que oferta do Ensino Médio nas escolas indígenas de todo o país é uma experiência recente, tratando-se de uma reivindicação crescente nos projetos de escolas diferenciadas das comunidades indígenas. Atualmente, das 2.836 escolas indígenas existentes, só cerca de 80 delas oferecem essa etapa de ensino(Censo Escolar de 2010 do INEP). O próximo capítulo trará maiores informações sobre o currículo na Educação Indígena. 38 5. QUE CURRÍCULO É SUGERIDO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA? Durante nosso curso você já teve a oportunidade de estudar sobre currículo. Dessa forma já entende suas práticas e concepções ligando-o ao papel social da escola. A palavra flexibilidade também aparece para atender aos contextos específicos. Assim como deverá ser o currículo ligado à educação escolar indígena? As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica definem o currículo como conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção e a socialização de significados no espaço social e que contribuem, intensamente, para a construção de identidades sociais e culturais dos estudantes. Entendido desta forma, ele se refere não apenas aos conteúdos selecionados, ensinados e apreendidos por meio das atividades de leitura, escrita, interpretação de textos, pesquisas, dentre outras estratégias de ensino e de aprendizagem, mas também aos mais variados tipos de rituais da escola, tais como as atividades recreativas, as feiras culturais, os jogos escolares, as atividades comemorativas, dentre outros. Ao término do estudo desse capítulo você poderá ter construído e sistematizado aprendizagens como: Conceituar currículo e fazer a transposição desse conceito para a Educação Indígena. Reconhecer as condições necessárias a existência de um currículo intercultural Identificar os critérios a serem levados em conta na organização curricular das escolas indígenas. Avaliar a importância do papel exercido pelo professor indígena Enumerar e reconhecer a importância dos diferentes componentes curriculares e temas transversais na Educação Escolar Indígena. 39 O que levar em conta se pensamos em escolas indígenas? Material escolar indígena 3 3 http://educacao-indigena.blogspot.com.br/2013/07/a-educacao-diferenciada-dos-povos.html as condições de trabalho do professor os espaços e tempos da escola outras instituições educativas da comunidade o que está definido no Projeto Político- Pedagógico. os valores e interesses etnopolíticos das comunidades as condições de escolarização dos estudantes indígenas Currículo intercultural levando em conta 40 Na organização curricular das escolas indígenas, devem ser observados os critérios: a) de reconhecimento das especificidades das escolas indígenas quanto aos seus aspectos comunitários, bilíngues e multilíngues, de interculturalidade e diferenciação; b) de flexibilidade na organização dos tempos e espaços curriculares, tanto no que se refere à base nacional comum, quanto à parte diversificada, de modo a garantir a inclusão dos saberes e procedimentos culturais produzidos pelas comunidades indígenas, tais como línguas indígenas, crenças, memórias, saberes ligados à identidade étnica, às suas organizações sociais, às relações humanas, às manifestações artísticas, às práticas desportivas; c) de duração mínima anual de duzentos dias letivos, perfazendo, no mínimo, oitocentas horas, respeitando-se a flexibilidade do calendário das escolas indígenas que poderá ser organizado independente do ano civil, de acordo com as atividades produtivas e socioculturais das comunidades indígenas; Um calendário Guarani- http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Anonimo/CECI/calend%C3%A1rio%20escolar.aspx Assim, pensar em um Calendário Escolardiferenciado, implica em considerar esta forma distinta de compreensão do tempo baseado nos ciclos da natureza, próprio da cultura Guarani. As atividades escolares diminuem no outono e no inverno, quando são interrompidas para o período de férias. Na primavera e no verão as atividades são retomadas, sendo agosto o mês de preparação para o novo ciclo que acontece em setembro, com o batismo da erva mate. No mês de janeiro as atividades só são interrompidas para a cerimônia (batismo) denominação em Guarani das crianças nascidas durante o ciclo anterior. 41 5.1.O papel do professor na Educação Escolar Indígena É preciso destacar que aos professores cabe a tarefa de interlocução entre alunos e sociedade. Assim, nos aspectos político e pedagógico da Educação Escolar Indígena é a esse professor que cabe mediar e articular os interesses de suas comunidades com os da sociedade nacional. Fonte da imagem : MEC- set 2014 Que professor deve trabalhar nas sociedades indígenas? No cenário indigenista nacional, o que se pretende é tanto os docentes como os gestores sejam pertencentes às suas comunidades indígenas. Da mesma forma é responsabilidade deles a reflexão e busca de estratégias para promover a interação dos diversos tipos de conhecimentos que se apresentam no processo escolar. Mediação entre: 42 Formar professores indígenas é hoje um dos principais desafios e prioridades para a consolidação de uma Educação Escolar Indígena, constituindo-se num compromisso público do Estado brasileiro As Diretrizes preveem que os cursos de formação de professores indígenas, sejam feitos em nível médio ou licenciatura. Tais cursos devem estar voltados para a elaboração, o desenvolvimento e a avaliação de currículos e programas próprios, bem como a produção de materiais didáticos específicos e a utilização de metodologias adequadas de ensino e pesquisa. O atendimento às necessidades de formação continuada de profissionais do magistério indígena dar-se-á pela oferta de cursos e atividades formativas criadas e desenvolvidas pelas instituições públicas de educação, cultura e pesquisa, poderá ser realizada por meio de cursos presenciais ou cursos à distância. Também as organizações indígenas e indigenistas podem ofertar formação inicial e continuada de professores indígenas.Isso fica na dependência de solicitação pelas comunidades indígenas, e reconhecimento pelo Conselho Estadual de Educação. Os sistemas de ensino no processo de regularização da carreira do professor indígena devem garantir os mesmos direitos atribuídos aos demais professores dos respectivos sistemas de ensino, com níveis de remuneração correspondentes ao seu nível de qualificação. É recomendado que os sistemas de ensino a criem uma comissão composta pelos representantes das Secretarias de Educação, das lideranças comunitárias e dos professores indígenas para a regularização do magistério indígena. 43 Um caso para ilustrar Professores indígenas recebem diploma de magistério intercultural Rede Brasil de Notícias -data : 21 de maio de 2011 - Por Geisa Meira Vestidos a caráter, cerca de 100 índios baianos receberam diploma do magistério intercultural indígena. Com a especialização, os novos professores garantem aos seus alunos um ensino de qualidade, com uma pedagogia voltada ao resgate da cultura e das tradições indígenas. De acordo com uma das alunas formandas: Fonte: http://www.ufgd.edu.br/noticias/galeria-de-fotos-da-formatura-da-1o-turma-da- licenciatura-intercultural-teko-arandu Precisamos oferecer ao nosso povo uma educação diferenciada para que possamos manter viva a nossa história. O curso de magistério nos ajuda neste trabalho, e a especialização a desenvolver melhor as aulas, sem precisar fugir dos costumes do nosso povo. 44 Para saber mais Fonte: http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoindigena.pdf 5.2. Organizando as ações pedagógicas A escola que a gente quer é a escola do prazer, aquela que a gente pode vir todos os dias. E nunca sinta vontade de ir embora. Não queremos uma escola que só 45 tenha mais cadeiras, quadro-negro e giz, mas sim uma escola da experiência, da convivência e da clareza. Se um dia alguém trouxer um peixe que foi pescado no riacho perto da nossa casa, ele seria nosso objeto de estudo. Fonte: Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas - Creuza Prumkwy, professora Krahô. Os professores indígenas junto com consultores do MEC elaboraram a lista de assuntos sobre os quais seriam os temas que trariam benefícios efetivos para as comunidades indígenas. De acordo com Prado (2002)são sugeridas seis áreas de estudos, sendo elas: Línguas, Matemática, História, Geografia, Ciências Naturais, Arte e Educação Física, e seis temas transversais, que são: Auto sustentação; Ética Indígena; Pluralidade Cultural; Direitos, Lutas e Movimentos; Terra e Preservação da Biodiversidade; Educação Preventiva para a Saúde . 5.2.1.Estudar línguas e a Língua Portuguesa? O estudo das Línguas na escola indígena tem como objetivo desenvolver o respeito e o conhecimento sobre a diversidade linguística existente em um país tão grande como o Brasil, que tem a língua portuguesa como língua oficial, mas que também possui, por exemplo, 180 diferentes línguas indígenas,entre outros 46 registros linguísticos. Assim, o desenvolvimento da consciência da variedade linguística existente no nosso país é o objetivo principal do estudo das línguas no currículo indígena . Ao mesmo tempo aprender e saber usar a Língua Portuguesa na escola é um dos meios de que as sociedades indígenas dispõem para interpretar e compreender as bases legais que orientam a vida no país, sobretudo aquelas que dizem respeito aos direitos dos povos indígenas. Todos os documentos que regulam a vida da sociedade brasileira são escritos em português: as leis, principalmente a Constituição, os regulamentos, os documentos pessoais, os contratos, os títulos, os registros e os estatutos. Os alunos indígenas são cidadãos brasileiros e, como tais, têm o direito de conhecer esses documentos para poderem intervir, sempre que necessitarem, em qualquer esfera da vida social e política do país.(RCN PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS, 1998,p. 121). Acrescente-se que a língua portuguesa além da função de tornar os povos indígenas conhecidos junto aos não índios: é quase sempre ela que - como língua franca - permite que povos indígenas se conheçam e estabeleçam alianças políticas entre si. Nas associações e organizações indígenas e nos cursos de formação de professores indígenas, há uma intensa circulação de informações e manifestação de ideias em português, o que contribui para que as diferentes sociedades indígenas se afirmem e adquiram, em bloco, força política local, regional ou nacional. Em sistemas multilíngues as pessoas podem viver lado a lado, em paz, sem terem que falar, todas, a mesma língua. Algumas vezes porém, nesses contextos, uma das línguas se torna o meio de comunicação mais usado, torna- se a língua franca. 47 5.5.2. Levando em conta os demais componentes curriculares. No estudo da Matemática, são três os objetivos principais. O primeiro, enfatizado pelos povos indígenas, é a situação de contato entre os índios e a sociedade mais ampla, de forma que a Matemática permita um melhor entendimento do “mundo dos brancos”por parte dos índios, o que busca garantir relações mais igualitárias, além de ajudar na elaboração de projetos nas comunidades indígenas que colaborem com a auto sustentação. O segundo é reconhecer a maneira específica que cada sociedade tem de contar e manejar quantidades. Por fim, o terceiro é a necessidade de conhecimentos matemáticos para a compreensão de outras áreas de estudo (RCN PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS, 1998). O ensino escolar de História para os povos indígenas tem por objetivo a oportunidade da valorização da história do próprio povo, das suas narrativas históricas e das relações entre a história das sociedades como um todo e a história daquele determinado povo. Além disso, promove a reflexão acerca do processo histórico de formação das características atuais dos povos indígenas (RCN PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS, 1998). A disciplina de Geografia na educação escolar indígena permite “conhecer e explicar o mundo por meio do estudo do espaço geográfico levando em conta o que se vê - as paisagens; o que se sente e com que a pessoa se identifica - os lugares; e o que são referências significativas para os povos e os indivíduos, para conviver, trabalhar, e produzir sua cultura - os territórios.” (RCN PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS, 1998, p. 227).. Além disso, o ensino de Geografia pode também contribuir para a luta contra os preconceitos e em favor do sentimento de pluralidade . No ensino das Ciências Naturais, procura-se levar os índios a compreender a lógica, os conceitos e princípios da Ciência ocidental, para que 48 possam dialogar em condições de igualdade com a sociedade e, além disso, usufruir dos recursos tecnológicos ocidentais importantes para a garantia da sua sobrevivência física e cultural. O ensino de Ciências também pode contribuir para que os povos indígenas compreendam melhor as transformações do mundo pelo feitas pelo ser humano, pelo efeito dos avanços tecnológicos e científicos e as suas aplicações (MEC, 1998). É importante ainda ressaltar que o estudo de Ciências pode ajudar a resolver problemas que afetam diretamente as sociedades indígenas. A área de Ciências está diretamente ligada aos Temas Transversais Terra e Conservação da Biodiversidade, e Auto-Sustentação.e Saúde. A maneira de organizar as atividades produtivas no território indígena, ou seja, a sua gestão territorial, passa pela visão do universo, do planeta, da vida, do ser humano e da produção humana, integrando várias áreas do conhecimento. O estudo das ciências, dessa forma, pode contribuir para a garantia dos direitos dos grupos indígenas à conservação e utilização dos recursos do seu território.( RCN PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS, 1998, p. 255). O ensino de Arte, respeitando-se as características da arte indígena, faz com que aumente o sentimento de pertencimento do índio ao seu povo e auxilia na construção de identidades. A compreensão das variadas formas de arte de diferentes sociedades possibilita trabalhar melhor as diferenças, além de estimular a compreensão de que todos os seres humanos são capazes de criar, de se expressar, de ter emoções (.RCN PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS, 1998) O ensino de Educação Física nas escolas indígenas é um tema que provoca bastante controvérsia. Há vários argumentos contra a implementação dessa disciplina, alegando que os índios não necessitam de uma disciplina como esta na escola, pois, diferente dos “brancos”, os índios costumam praticar atividades físicas e cuidar da saúde física do corpo diariamente, seja nas atividades cotidianas, seja nos rituais específicos. Portanto, é um direito das 49 escolas indígenas ter o ensino de Educação, mas não dispõe de obrigatoriedade. A decisão da regulamentação da disciplina na escola cabe à comunidade indígena. Num outro ponto de vista há os argumentos a favor do ensino de Educação Física são: a atração que os índios têm por certos esportes desenvolvidos na disciplina, e que não fazem parte da cultura tradicional indígena, como o futebol, por exemplo; o desenvolvimento de casos de sedentarismo, obesidade e até mesmo diabetes, devido à diminuição das reservas indígenas e da escassez de caça e pesca, o que diminui as atividades dos índios; e a possibilidade de transformar atividades relacionadas ao corpo, comuns na cultura indígena, em objetos de estudo e reflexão (.RCN PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS, 1998). Encerramos o capítulo que nos permitiu refletir sobre o currículo nas escola indígenas, a formação de professores para as escolas indígenas,além de apreciarmos as propostas contidas no Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas. De acordo com as informações constantes do próprio documento, o objetivo dele é oferecer subsídios e orientações para a elaboração de programas de educação escolar indígena que atendam aos anseios e aos interesses das comunidades indígenas. Pretende também colaborar na elaboração e produção de materiais didáticos e para formação de professores indígenas. Trata-se de um material formativo e não normativo, propondo que ele não se esgote em si mesmo.Também há a recomendação de que o material deva ser reconstruído no dia a dia da escola, nas experiências concretas onde cada professor e sua comunidade como os autores que são do seu projeto de escola e de vida. 50 Para saber mais acesse: O próximo capítulo tem como função fornecer elementos que auxiliem a você , aluno do IECS e futuro professor, com exemplos e sugestões que permitam um trabalho consciente relativo à Educação Indígena. 51 6- AS NECESSÁRIAS MUDANÇAS NA NOSSA VISÃO SOBRE OS INDÍGENAS Da mesma forma que os professores da Escola Indígena têm responsabilidades no tocante à apresentação dos conhecimentos universais aos alunos, nós das escolas comuns, precisamos saber apresentar o rico universo dos indígenas brasileiros aos alunos. Nesse capítulo traremos exemplos de ações pedagógicas que já estão sendo realizadas e de outras possíveis de serem executadas, que certamente permitirão que os alunos conheçam e reconheçam as formas de viver diferenciada dos indígenas. 6.1 Exemplos de sucesso Na página do MEC4 encontra-se apresentada, de forma integral, a experiência relatada por Amorim (2012). Vamos adaptá-la para atender aos nossos propósitos. O projeto apresentado visava trabalhar com as tradições indígenas e assim contribuir para que os estudantes descobrissem a riqueza histórica e cultural dos povos indígenas. No ano letivo de 2011, duas professoras que não se conheciam e moravam em cidades distantes decidiram desenvolver projetos pedagógicos sobre os indígenas do Brasil. 4 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17349:estudantes- descobrem-riqueza-historica-e-cultural-dos-povos&catid=206&Itemid=86 Ao término do estudo desse capítulo você poderá ter construído e sistematizado aprendizagens como: Identificar formas de apresentar os grupos indígenas aos alunos de modo a derrubar preconceitos. Pesquisar sobre projetos escolares envolvendo a temática indígena. Avaliar o quanto já se caminhou e o quanto ainda é preciso fazer para se chegar a uma educação indígena de qualidade. 52 Assim tanto Damasceno (2011), coordenadora pedagógica da Escola Estadual Garça Branca, em Guiratinga (MT), quanto Borges(2011), a professora de história na Escola Gertrudes Milbratz, em Jaraguá do Sul (SC), ficaram surpresas com o entusiasmo dos alunos em pesquisar edescobrir a história e a cultura de povos tão diferentes. Nas duas escolas, professores e alunos descobriram como os indígenas influenciaram e ajudaram a moldar a sociedade brasileira e como herdamos deles palavras, costumes e culinária. O projeto Revendo a Questão Indígena no Brasil foi importante, na opinião de uma das professoras, porque permitiu desfazer uma ideia muito difundida de que os índios são preguiçosos, mas muitos dos que assim pensavam, ignoravam que esses povos têm cultura própria e outro ritmo de vida. Na escola de Jaraguá do Sul, os alunos recorreram a uma página na internet indicada pela professora para escolher um grupo indígena a ser pesquisado. No total, foram realizados trabalhos sobre 18 grupos étnicos de diferentes regiões do país. Situada a 180 quilômetros de Florianópolis, Jaraguá do Sul é uma cidade com mais de 140 mil habitantes, com fortes heranças da colonização alemã. As diferentes culturas que os alunos descobriram na internet parecem, num primeiro momento, uma realidade distante. Mas a influência indígena está no próprio nome da cidade. Jaraguá, na língua tupi-guarani, significa senhor do vale. É como os índios chamavam o Morro da Boa Vista, um dos mais imponentes da cidade. Em Jaraguá do Sul, o desafio dos estudantes era descobrir os costumes e as particularidades dos indígenas brasileiros. Divididos em duplas, eles pesquisaram na internet sobre 18 tribos indígenas. Das mais populares, como os ianomâmis, os pataxós e os xavantes, até os grupos mais desconhecidos — aicanãs, mundurucus e xetás. A professora relatou que indicou uma página sobre o tema na internet e os orientou a observar alguns grupos para escolherem aquele sobre o qual eles elaborariam textos e cartazes para apresentar. 53 Na região de Santa Catarina, os tupis-guaranis predominavam no litoral. No interior, vales, encostas e planaltos viviam os xoclengues e caingangues. A pesquisa se estendeu a todo o país até por exemplo sobre os arauetés, que vivem na margem direita do alto Xingu, no Pará. Os alunos descobriram que de acordo com a crença desse povo, eles julgam que vivem num mundo entre dois céus e o mundo dos brancos. O mundo deles é o que já foi habitado pelos deuses. Ou seja, o melhor dos mundos é o deles, o mundo indígena. A outra experiência foi realizada no município de Guiratinga, a 320 quilômetros de Cuiabá, tem 14 mil habitantes. O nome da cidade tem origem no tupi-guarani e significa garça branca. O projeto sobre os indígenas culminou com uma festa de fim do ano letivo da escola. Tanto os alunos do Ensino Fundamental regular quanto os das classes de educação de jovens e adultos recontaram lendas e participaram de encenações. houve até aluno que redescobriu suas próprias raízes indígenas. 6.2. O que não fazer no Dia do Índio? Você tem ideia de como surgiu o Dia do Índio? O Dia do Índio é comemorado em 19 de abril no Brasil. A data foi escolhida porque em 1940, quando aconteceu o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano e durante os dias iniciais , os indígenas, por desconfiança e medo, não apareciam para debater. Mas no dia 19 de abril eles mudaram de atitude e colocaram as suas ideias em debate. A partir daí essa data tornou-se histórica. Nas escolas comuns essa data é comemorada festivamente. Precisamos cuidar para que isso não seja feito de forma a não criar visões distorcidas sobre os indígenas. O que mais comumente observamos nas escolas na ocasião da data? 54 O Dia do Índio é comemorado nas escolas com as crianças fantasiadas, pintadas, possivelmente com alguma música e atividades culturais. Se queremos mudar paradigmas é preciso repensar essa prática. De acordo com Oliveira5,(citada por AMPUDIA , 2011) O indígena trabalhado em sala de aula hoje é, muitas vezes, aquele indígena de 1500 e parece que ele só se mantém índio se permanecer daquele modo. É preciso mostrar que o índio é contemporâneo e tem os mesmos direitos que muitos de nós, 'brancos'. Dessa forma, buscando desfazer imagens negativas ou preconceituosas que criamos ao longo do nosso processo de aprendizagem, apresentamos tópicos para reflexão sobre como devemos trabalhar a data nas escolas (AMPUDIA, 2011) . Faça uma discussão sobre a cultura indígena usando fotos, vídeos, música e a vasta literatura de contos indígenas. "Ser índio não é estar nu ou pintado, não é algo que se veste. A cultura indígena faz parte da essência da pessoa. Não se deixa de ser índio por viver na sociedade contemporânea", explica a antropóloga Gongora, do Instituto Socioambiental(citada por AMPUDIA, 2011) . Mude o foco e não use o Dia do Índio para mitificar a figura do indígena, com atividades que incluam vestir as crianças com cocares ou pintá-las. Mostre aos alunos que os povos indígenas não vivem mais como em 1500. Hoje, muitos têm acesso à tecnologia, à universidade e a tudo o que a cidade proporciona. Nem por isso deixam de ser indígenas e de preservar a cultura e os costumes. 5 Coordenadora de educação escolar indígena do estado do Acre em 2011 55 Escola Indígena Itá -Ara.Ceará-(ago 2011) Evite reproduzir preconceitos em sala de aula, mostrando o indígena,de forma genérica, como um ser à parte da sociedade ocidental, que anda nu pela mata e vive da caça de animais selvagens. Explique que o Brasil tem cerca de 230 povos indígenas, que falam cerca de 180 línguas. Cada etnia tem sua identidade, rituais, modo de vestir e de se organizar. Não se prenda a uma etnia. Sempre recorra a exemplos reais e explique qual é a etnia, a língua falada, o local e os costumes. Explique , por exemplo, sobre povos não contatados e também sobre os que vivem nas cidades , mas que mantém as tradições do grupo indígena. Logo, com tanta diversidade, é necessário lembrar de não representar o índio com uma gravura de livro, ou um indígena de antes da chegada dos colonizadores. As imagens são muito fortes e podem criar visões distorcidas. A Lei 11.645/08 inclui a cultura indígena no currículo escolar brasileiro. Por que não inserir no planejamento de História, de Língua Portuguesa e de Geografia discussões e atividades sobre a cultura indígena, ao longo do ano todo? Procure material de referência e elabore aulas que proponham uma discussão sobre cultura indígena ou sobre elementos que a emprestou à nossa vida, seja na língua, na alimentação, na arte ou na medicina. 56 Assim não estaremos fazendo do 19 de abril o único dia do índio na escola. Outro lembrete muito importante: É comum chamarmos a casa do índio de oca. O formato de cada habitação indígena varia de acordo com a etnia e diz respeito ao seu modo de organização social. "Oca" é uma palavra tupi, que não se aplica a outros povos. Aldeia Yawalapiti- Habitação Xavante Fonte das imagens:http://pibmirim.socioambiental.org/como-vivem/casas 57 Prefira mostrar fotos ou vídeos e não tente reproduzir as casas e aldeias de maneira simplificada, com maquetes de ocas. Debata sobre o que podemos aprender com esses povos. Em relação à sustentabilidade, por exemplo, como poderíamos aprender a nos sentir parte da terra e a cuidar melhor dela, tal como fazem e valorizam as sociedades indígenas? Como lembrete final: não utilize a figura do índio só para discussões sobre como o homem branco influencia suas vidas. 6.3. Um esforço conjunto final Acreditamos que nosso material sobre a Educação Indígena tenha despertadosua sensibilidade e desejo de conhecer e participar do esforço, que deve ser de todos, para que a garantia de direitos dos povos indígenas seja respeitado. Imagem :Greenpeace Algumas considerações finais são necessárias. Os sistemas de ensino do país, precisam ampliar os programas de formação de professores indígenas, tanto em nível de magistério na modalidade normal quanto superior. A simples observação da distribuição percentual dos estudantes indígenas, pelos níveis e modalidades de ensino, mostra que há ainda um grande desequilíbrio na progressão dos anos de estudo, havendo uma forte 58 concentração dos estudantes indígenas nas primeiras séries do Ensino Fundamental: Os sistemas de ensino deverão, também, assegurar às escolas indígenas estrutura adequada às necessidades dos estudantes e das especificidades pedagógicas da educação diferenciada, garantindo laboratórios, bibliotecas, espaços para atividades esportivas e artístico-culturais, assim como equipamentos que garantam a oferta de uma educação escolar de qualidade sociocultural. Até aqui universalização da Educação Fundamental para os grupos indígenas ainda é um sonho muito distante, e mesmo os avanços significativos dos últimos tempos realizados com a formação de professores, a construção e ampliação de escolas, a melhoria na alimentação e transporte escolares,essa não foi conquistada plenamente pelos povos indígenas que reivindicam a presença da escola em suas comunidades. Enfim o que se espera que ocorra um entendimento contínuo entre povos indígenas, seus parceiros e o Estado. Isso envolve, fundamentalmente,.em seguirmos buscando: a) ampliação da oferta da segunda fase do Ensino Fundamental e do Ensino Médio nas escolas indígenas; b) produção de materiais didáticos que reflitam as realidades sociolinguísticas, a oralidade e os conhecimentos dos povos indígenas; c) estruturação da rede física de acordo com os interesses das comunidades, suas realidades ambientais e princípios de sustentabilidade; d) criação de espaços institucionais de diálogo, interlocução e compreensão, por parte dos sistemas de ensino, das perspectivas sociopolíticas dos povos indígenas. 59 Fonte da imagem: http://agente-eco.blogspot.com.br/2012/08/9-de-agosto-dia-internacional-da.html Olá aluno e aluna do IECS Assuma conscientemente seu papel na garantia desses direitos. . 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E BIBLIOGRAFIA AMORIM, Rovênia. Tradições indígenas: Estudantes descobrem riqueza histórica e cultural dos povos. Brasília: Ministério de Educação. Publicado em jan 2012. Acesso em jan 2015 . Disponível em <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17349: estudantes-descobrem-riqueza-historica-e-cultural-dos- povos&catid=206&Itemid=86 > AMPUDIA, Ricardo .O que (não) fazer no Dia do Índio. São Paulo: Abril. Abril de 2011. < Disponível em http://gestaoescolar.abril.com.br/aprendizagem/nao-fazer-dia-indio-cultura- indigena-624334.shtml. > Acesso em Jan 2015 BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica .Brasília: CNE/CEB 13/ 2012. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional . Lei 9394/96. Brasília: MEC ,1996. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: CNE/CEB 20/ 2009. .......................Plano Nacional de Educação. 2014/2024. Brasília : Presidência da República. Lei Nº 13.005/de junho de 2014. Disponível em < http://pne.mec.gov.br/.> Acesso em jan 2015 61 Lei Nº 11.645/2008, Março de 2008. Brasília : Presidência da República. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. .................. O que são os territórios etnoeducacionais. Brasília : MEC, SECADI.. Disponível em <http://6ccr.pgr.mpf.mp.br/institucional/grupos-de- trabalho/educacao/documentos/territorios-etnoeducacionais-pactuados-folder.> Acesso em jan 2015. .................... Referencial Curricular Nacional para as escolas indígenas, 1998. Brasília :MEC . Disponível em <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/1999/pceb014_99.pdf.> Acesso em jan 2015 FREITAS, Eduardo de. Indígena no Brasil . Equipe Brasil Escola Disponível em < http://www.brasilescola.com/brasil/o-indigena-no-brasil.htm.> Acesso em jan 2015 GOMES, Joalyson. A Realidade dos Povos Indígenas no Brasil. RN: DHNET-ONG. 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Lutas e contradições enfrentadas pelos índios xavante em busca da educação na cidade de barra do garças MT. Mato Grosso: Revista Eletrônica da Univar (2011) n.º 6 p. 263 - 268 64 ANEXO 1 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 26-A. Nos estabelecimentosde ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro- brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (NR) Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 10 de março de 2008; 187o da Independência e 120o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad