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Cenário Ecônomico Mundial-aula3

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CENÁRIO ECONÔMICO 
MUNDIAL 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Leonardo Mèrcher 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Olá! Nesta terceira etapa de nossos estudos, vamos tentar compreender 
que as relações comerciais internacionais não acontecem no vazio legal. 
Existem diversos grupos de normas de comportamento e tratados que orientam 
as práticas do comércio exterior e das relações internacionais. Com o intuito de 
expor as regras internacionais de mercado, especialmente as do comércio 
mundial, é preciso tratar de alguns conceitos importantes, como sistema 
financeiro internacional e sistemas regionais, especialmente para a América 
Latina. Neste momento, o comércio exterior se aproxima significativamente do 
cenário econômico mundial. 
Para compreender as regras de comércio exterior do cenário econômico 
mundial, é preciso entender a construção do sistema financeiro internacional, 
algumas perspectivas do funcionamento econômico – como a dos ciclos 
econômicos – e dos novos processos transnacionais, como a governança e os 
fluxos financeiros. Ao final, ao observar a nova cara da economia mundial 
transnacional, ou seja, que perpassa as fronteiras nacionais e o controle dos 
governos, será possível também discutir um pouco mais sobre economia 
informal e economia criativa. 
Já vimos que os regimes e regras internacionais são resultantes de 
acordos comuns entre os Estados. Estes acordos são consequência de longos 
processos de negociação com objetivo de criar regras de comportamento e de 
responsabilidades. Portanto, no caso do Sistema Financeiro Internacional, os 
governos buscaram chegar a acordos que mudam de tempos em tempos, 
conforme a liderança econômica das nações. Sob uma perspectiva dos estudos 
dos ciclos econômicos, onde o mercado e a economia sempre giram em 
momentos de crescimento, desaceleração e crises, é possível compreender que, 
a cada período da história contemporânea, o comércio exterior também sofre 
com a saúde e com as transformações financeiras internacionais. 
O objetivo desta aula é garantir que o futuro profissional domine 
minimamente as origens das dinâmicas econômicas internacionais do sistema 
financeiro. O comércio exterior não é baseado apenas na vontade de 
empreender, mas também em direitos e deveres regulamentados pelos Estados 
e fiscalizados por instituições nacionais e internacionais, como é o caso das 
 
 
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agências de desenvolvimento, o Fundo Monetário Internacional e os sistemas 
regionais. Boa leitura! 
CONTEXTUALIZANDO 
O Sistema Financeiro Internacional (SFI) é responsável pela organização 
das trocas de mercados de capitais, monetário, de crédito e de câmbio. Baseado 
no sistema financeiro de cada nação, em que ocorre a transferência de recursos 
dos poupadores (investidores) para o setor produtivo e de consumo, o SFI tenta 
organizar os fluxos de dinheiro e investimentos que percorrem o mundo. Se 
existe o comércio mundial, representado pela Organização Mundial do Comércio 
(OMC), existem também os mercados financeiros, em que vários agentes 
(governos, instituições, empresas e indivíduos) fazem circular o dinheiro e 
fomentam o desenvolvimento ou a especulação no cenário econômico mundial. 
O fazer circular o dinheiro ocorre porque os agentes realizam 
transferências de seus recursos poupados (o dinheiro que sobra em sua 
economia) para situações de rendimento. De modo geral, podemos definir que 
os agentes envolvidos com o sistema financeiro (nacional e internacional) 
também são investidores, pois procuram multiplicar seus recursos a partir de 
rendimentos sobre o que se investe. Desse modo, os investidores do SFI buscam 
rendimentos fora de seu mercado local ou nacional, apostando sua economia no 
crescimento de outros mercados, instituições, empresas e, até mesmo, na 
economia de outras nações. 
Os investimentos no SFI ocorrem por operações de compra, venda e 
trocas de ativos financeiros que se submetem a regulações específicas em cada 
mercado e região. Mais do que simplesmente gerar lucro ao investidor, por que 
mercados e instituições se abrem para os investidores estrangeiros? Porque o 
dinheiro estrangeiro investido financia o setor produtivo e o custeio de novos 
investimentos para fomentar o crescimento de empresas e nações. Um governo 
libera títulos de dívidas nacionais ao mercado estrangeiro para que famílias e 
empresários ao redor do mundo gastem suas poupanças investindo 
(comprando) nesses títulos que, em um segundo momento, torna-se uma 
maneira de se captar recursos sem recorrer a empréstimos internacionais. O 
mesmo ocorre com empresas que abrem seu capital. Ao final, o crescimento da 
economia nacional ou da empresa gera lucros que serão redistribuídos aos 
investidores. 
 
 
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Essa redistribuição de lucros pode ocorrer de forma programada, quando 
o investidor, na hora do investimento, já sabia quanto de porcentagem receberia 
sobre o seu investimento em um determinado tempo futuro; ou de forma mais 
irregular, onde o investimento renderá de acordo com o comportamento do 
mercado e da economia mundial. Em ambos os casos, existe o risco de 
investimento, onde quem investe, por mais que saiba o quanto irá render ou ter 
uma previsão na hora do investimento, nunca sabe ao certo se as partes que 
recebem o investimento conseguirão honrar com o prometido ou ir bem no 
mercado para gerar lucro. Por isso, muitas empresas de comércio exterior com 
capital aberto precisam se situar diante das projeções do cenário econômico 
mundial futuro. 
 
Saiba mais 
O SFI já sofreu diversas transformações ao decorrer das décadas. Um 
bom lugar para entender a relação dessas alterações e o Brasil é o Instituto de 
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do governo federal. Para saber mais, 
acesse o site do Ipea (<www.ipea.gov.br>) e consulte os volumes gratuitos das 
Transformações do Sistema Financeiro Internacional, redigidos por Marcos 
Antonio Macedo Cintra e por Keiti da Rocha Gomes em 2012. Lá você encontra 
muitas das informações sobre definições do SFI, regulações, regimes e outros 
processos históricos da construção do atual SFI diante da economia e do 
comércio internacionais. 
TEMA 1 – SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL 
A economia mundial precisa de sustentação. O que isso significa? Que a 
economia mundial precisa de princípios e substâncias concretos, que permitam 
às nações e investidores estrangeiros se comunicarem e fecharem negócios 
entre si. O cenário econômico mundial reúne diversas nações. Cada uma possui 
seu dinheiro, políticas econômicas e seus próprios mercados internos que, em 
um cenário de globalização, podem criar ruídos ao diálogo entre investidores e 
investimentos internacionais. 
O SFI é um conjunto de dinâmicas e padrões de comportamento de 
investidores e receptores que fomentam o crescimento econômico mundial por 
meio dos repasses dos recursos poupados (dos investidores) ao sistema 
produtivo e de financiamento do desenvolvimento, como de políticas de 
 
 
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infraestrutura em uma nação ou expansão comercial de uma empresa. Portanto, 
o SFI se torna um conjunto de dinâmicas predeterminadas por normas de 
comportamento que criam um sistema que lida com as finanças (poupanças, 
investimentos e lucros) em um âmbito internacional. 
Como parte da sustentação da economia mundial, o SFI contribui no 
financiamento do desenvolvimento das empresas e das nações, ao mesmo 
tempo em que colabora com a diminuição das barreiras nacionais entre os 
mercados. Hoje o SFI se coloca tão forte, que pressiona a abertura de economias 
mais nacionalistas, especialmente por esses governos mais fechados 
perceberemos ganhos do capital investidor estrangeiro. Mas nem tudo são 
flores. O SFI também é abalado por grandes crises de especulação financeira 
de investimentos, as chamadas de crises financeiras internacionais. 
As crises financeiras internacionais podem surgir nos mercados 
financeiros comuns (cambial, monetário, de capitais e de créditos), mas também 
das oscilações de políticas econômicas dos governos. Independentemente de 
sua origem, as crises financeiras impactam diretamente no comércio exterior por 
criar o recuo de investimentos e a desaceleração econômica dos mercados. 
Importadores ou exportadores de bens e serviços precisam estar atentos às 
alterações constantes no comportamento dos agentes financeiros internacionais, 
assim como nas políticas econômicas de governos – sobretudo dos governos 
importantes à área comercial de sua atuação. 
Por muito tempo, a regulação do sistema financeiro era feita 
exclusivamente pelo próprio comportamento dos agentes envolvidos, ou seja, 
investidores e receptores criavam suas regras e especulações em total 
liberdade. Porém, essa liberdade extrema causava diversas crises especulativas 
e ameaçava a ordem econômica mundial. Aos poucos, especialmente no século 
XX, as políticas econômicas das nações passaram a ser monitoradas e seguirem 
algumas regras, como padrão-ouro e padrão-dólar. Esses padrões se definiam 
pela escolha de um meio material (o ouro ou o dólar dos Estados Unidos) para 
ter um parâmetro sobre os custos e os preços dos bens, serviços e retorno de 
investimentos. 
Desde o século XIX até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o padrão 
financeiro mundial era o ouro. Toda vez que um investidor estrangeiro exigia seu 
lucro do receptor, este não pagaria ao investidor com sua moeda local, mas em 
ouro. Se um investidor alemão investia em uma empresa brasileira no início do 
 
 
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século XX, quando a empresa gerasse lucro ele deveria ir ao banco e trocar o 
dinheiro brasileiro por ouro e, só então, pagar ao investidor alemão. Isso ocorria 
tanto entre indivíduos e empresas quanto entre governos e, sobretudo, entre 
bancos e instituições financeiras. 
Especialmente de 1870 até 1914, o Reino Unido da Grã-Bretanha liderou 
a economia mundial e impôs o padrão-ouro (também conhecido como padrão 
libra-ouro) ao comércio e ao SFI. Com as dificuldades econômicas britânicas 
durante a Primeira Guerra Mundial, o SFI ficou instável sem a certeza do padrão-
ouro. Até que, em 1944, em Bretton Woods (EUA), criou-se uma nova ordem 
monetária mundial, que atrelava o dólar ao ouro, ou seja, era possível trocar as 
moedas estrangeiras por ouro e dólar ou o contrário. Este padrão-dólar vigorou 
até 1971, quando unilateralmente os Estados Unidos se recusaram a manter a 
conversibilidade de sua moeda ao ouro para o mundo. 
A importância dos padrões (libra-ouro ou dólar-ouro) estava em manter 
um parâmetro de valores universais sobre bens e serviços. Os cálculos de 
investidores estrangeiros eram facilitados e o pagamento entre mercados de 
nações distintas poderia ser feito usando o metal como moeda mundial. Já para 
as economias que atrelavam sua moeda ao ouro (Reino Unido e depois Estados 
Unidos), por mais que fortes e líderes que fossem, elas se tornavam mais 
suscetíveis às crises financeiras internacionais e ao encarecimento do processo 
produtivo de suas economias: ficava muito caro o preço final de um produto cuja 
produção foi paga em libra ou em dólar diante da concorrência de produtos 
semelhantes e cujos trabalhadores foram pagos com moedas mais fracas. 
Desde 1971, o dólar deixa sua conversibilidade e preços fixos ao ouro e 
passa a ter um valor flutuante, que varia de acordo com a saúde da economia 
dos Estados Unidos e da economia mundial. Muitos governos e empresas juntam 
o dólar como moeda de reservas por ser ainda a mais utilizada nas transações 
internacionais. Neste caso, eles assumem riscos próprios, visto que até o dólar 
hoje pode se valorizar ou desvalorizar. Com isso, caso a sua empresa ou 
governo possua muita poupança em dólar ou em euro (moeda da União 
Europeia), isso se torna um investimento também de risco, variando a cada dia 
o seu valor e sua capacidade para novos investimentos. 
O SFI é um sistema frágil, em que a cada dia novas informações e ações 
dos mercados podem resultar em avanços ou crises. O comportamento dos seus 
agentes financeiros segue alguns padrões, como respeito à regulação financeira 
 
 
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e econômica dos governos, à responsabilidade de se cumprir com os acordos e 
tratados entre as partes e a utilização de moedas fortes, como o dólar, para que 
haja conversibilidade nas negociações entre moedas diferentes. Nesse contexto, 
o SFI passa a interferir diretamente nos mercados de importação e exportação 
ao acelerar ou desacelerar o crescimento econômico mundial. 
Se a governança sobre o SFI é dada pela ação conjunta de governos, 
empresas e investidores em padrões razoáveis de comportamento, como em 
seguir regulações nacionais que evitam crimes de especulação financeira, a 
ordem internacional financeira também é resultado das relações entre as 
nações. As moedas fortes, como o dólar, só são fortes assim porque existe uma 
economia forte que parte dos Estados Unidos para o mundo. Somadas às 
iniciativas de investidores e receptores estadunidenses, as políticas econômicas 
dos Estados Unidos aquecem e propiciam maior confiança em sua moeda para 
as transações internacionais. 
O dólar se mantém como moeda de lastro (moeda de equilíbrio) no 
mercado internacional. A liquidez desse lastro necessita ser averiguada em cada 
mercado que se investe. Esta liquidez seria a capacidade de o receptor pagar ao 
investidor usando a moeda de lastro. Isso quer dizer que a empresa, banco ou o 
governo possui liquidez do dólar quando existe um número suficiente dessa 
moeda estrangeira em seus cofres para pagamentos. Se não existe liquidez, 
uma grande demanda por pagamentos pode resultar em não pagamento por falta 
da moeda estrangeira, o que gera uma quebra financeira. 
Em momentos de crise, muitos investidores buscam recuperar e resgatar 
seus investimentos em mercados estrangeiros, o que leva os governos, 
empresas e bancos a uma correria para sacar o dinheiro investido. A grande 
procura e a baixa moeda nos cofres – já que a maior parte da moeda que entrou 
dos investidores está sendo usada em suas políticas ou expansões – levam ao 
não pagamento dos investidores, que se transformam em credores estrangeiros. 
Em alguns momentos, governos como o brasileiro, argentino e grego já se 
tornaram maus pagadores, dando calotes na dívida externa e nos investidores 
estrangeiros e precisando de empréstimos internacionais ou de reaquecer suas 
economias para pagar o que devem. 
Em um mundo onde os investidores são tantos e diversos, as origens dos 
investimentos são plurais. Essa pluralidade, junto às especulações e à busca por 
rendimentos mais rentáveis e seguros, leva o fluxo do sistema financeiro a mudar 
 
 
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a cada dia. Demandas de investidores por economias que se preocupam com o 
desenvolvimento sustentável, por exemplo, enfraquecem economias de nações 
e empresas com baixa preocupação ambiental. 
No atual cenário do SFI, muitos governos perdem a capacidade de 
controlar ou ao menos planejar seus gastos ao contar com determinados 
investimentos estrangeiros. Ao permanecer por longo prazo em uma nação, 
empresa ou setor, essa instabilidade de investimentos gera inseguranças e cria 
a dinâmica conhecida como economia transnacional. Este termo se refere a esse 
grande fluxo financeiro de investimentos que perpassam as fronteiras e o 
controle dos Estados sobre tempo e origem. O tempopara os investimentos 
permanecerem em um setor e a origem dos investidores se tornam cada vez 
mais difíceis de serem identificados e controlados, ao ponto de permitirem planos 
econômicos nacionais em médio e longo prazo. 
Desse modo, o SFI, apesar de manter comportamentos semelhantes 
entre seus agentes, também sofre com a especulação e a instabilidade dos 
novos tempos de dinâmicas transnacionais. A fuga de capitais e a inconstância 
de investidores podem prejudicar economias nacionais e favorecer ou prejudicar 
outros agentes envolvidos, como empresas e instituições receptoras dos 
investimentos. Logo, o SFI se mostra relevante ao futuro profissional do comércio 
exterior ao demonstrar que as dinâmicas de importação e exportação se 
baseiam, não só na lei da oferta e da demanda, como na própria organização 
financeira internacional. 
TEMA 2 – MODELOS ECONÔMICOS 
Como vimos anteriormente, o SFI depende dos modelos econômicos que 
as nações aplicam em suas políticas. Agora que já compreendemos um pouco 
mais sobre os agentes do SFI (investidores e receptores), é importante 
retornarmos aos debates sobre os atuais modelos econômicos que tentam 
controlar e lidar com o sistema de crises financeiras na globalização. 
Se durante a Idade Média o modelo econômico predominante era o 
feudalismo – uma economia de subsistência por trocas (escambo) de produtos 
e com pouca monetarização – e durante a Idade Moderna predominou o 
mercantilismo nas grandes potências europeias colonizadoras, em nosso tempo 
os modelos econômicos se dividem basicamente em quatro: 
 
 
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1. Liberalismo clássico; 
2. Neoliberalismo; 
3. Neokeynesianismo; 
4. Mercados planificados (controlados pelos governos socialistas). 
Evidentemente que existem outros modelos, como os coletores de 
subsistência em povoamentos menores e os sociais liberais. Porém, a ideia aqui 
é simplificar para se compreender a base simples e, só depois, encarar as 
peculiaridades de cada nação. 
No século XIX, o economista Stuart Mill reuniu o pensamento de diversos 
economistas e indicou o “caminho do meio”, conhecido como liberalismo 
clássico. Este modelo definiu a política econômica e financeira das nações 
ocidentais até sua grande crise, em 1914, com a Primeira Guerra Mundial. Mill 
defendia que as ideias de Adam Smith (pai do liberalismo econômico) eram 
importantes, como o mercado guiando o bem comum pela lei da oferta e da 
procura, por exemplo. Segundo Mill, Smith seria muito otimista por acreditar que 
os interesses comerciais e dos comerciantes não impactariam em situações 
negativas à população e às nações. 
Por outro lado, Mill defendia que as ideias do economista Thomas Malthus 
eram pessimistas, especialmente quando este dizia que o crescimento 
populacional superaria a capacidade do planeta de repor os recursos e, portanto, 
a distribuição de renda e a livre iniciativa comercial dos indivíduos poria em risco 
a própria humanidade. Para Mill, Malthus esquecia que os avanços tecnológicos 
tornavam mais eficiente a exploração dos recursos e seu menor uso. Essa ideia 
baseava-se na livre iniciativa e competição, ou seja, se cada um buscar produzir 
com menos custos, acaba-se financiando o desenvolvimento de novos saberes 
e tecnologias. 
Por fim, Mill defendia que o melhor caminho do liberalismo seria o de 
David Ricardo, ou seja, o “caminho do meio”. Ricardo concordava com as ideias 
liberais de Smith e acreditava que as nações deveriam orientar o comércio 
internacional. Não como no mercantilismo, em que os governos autoritários são 
detentores das negociações, mas financiando e auxiliando em diplomacia os 
empresários nacionais. Ricardo defendia a divisão internacional do trabalho, em 
que cada nação deveria se especializar em produzir de acordo com suas 
vantagens comparativas. Por exemplo, nações com grande quantidade de terras 
 
 
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tropicais deveriam se dedicar à agricultura. Nações com terrenos difíceis, à 
industrialização. 
Além da divisão internacional do trabalho e do comércio internacional, Mill 
defendia que Ricardo já mencionava o conceito de demanda agregada, ou seja, 
que o preço final de um produto considera seu custo de produção e lucro e 
também o desejo do público de ter aquele bem. Produtos na moda, por exemplo, 
tendem a ter um preço mais elevado pelo desejo agregado. É por isso que Mill 
defendia os preceitos de Ricardo de que os governos deveriam liberar o mercado 
de seu controle estatal abusivo e permitir que as empresas pudessem 
comercializar internacionalmente com maior flexibilidade não só na compra e 
venda, como nos investimentos vistos no SFI. 
Nos três casos, o que se tem é a organização do liberalismo clássico, em 
que os governos se focam em regular as relações jurídicas do mercado e a 
garantir o bem-estar social da população. Com as grandes guerras mundiais e a 
crise de 1929, o liberalismo clássico sofreu críticas, ao passo que novos modelos 
já estavam em criação, como o keynesianismo (hoje transformado em 
neokeynesianismo) e os mercados de economia planificada (socialistas e 
comunistas). 
O keynesianismo foi criado por John Maynard Keynes para retirar o Reino 
Unido e, posteriormente, os Estados Unidos da crise se 1929. Os mercados 
planificados foram resultado das revoluções na Europa Oriental que, mais tarde, 
originaram a União Soviética. Durante a Guerra Fria, essas revoluções 
ocorreram em outras partes do mundo, como na China, Angola e em Cuba, 
concorrendo diretamente com o modelo de Keynes. Enquanto os Estados 
Unidos e outras nações ocidentais substituíram o liberalismo clássico pelo 
modelo de Keynes, a União Soviética e seus aliados tomaram para si a iniciativa 
de mercado e o questionamento da autorregulação dos mercados. 
Tanto Keynes quanto o socialismo questionavam a extrema liberdade 
comercial e financeira que existia no liberalismo clássico, mas cada qual 
encontrou o seu modo de lidar com esse desafio. Keynes defendia que o 
mercado deveria ser livre e que o governo deveria intervir economicamente (com 
políticas fiscais, sociais e de distribuição de renda e grandes obras de 
infraestrutura) para reaquecer a economia em momentos de crise. De outro lado, 
os socialistas deixavam todo o controle comercial aos burocratas do governo que 
 
 
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eliminavam a competição de mercado e, consequentemente, a especulação 
financeira. 
Ambos os modelos também se mostraram desgastados nos anos 1970, 
sofrendo com as crises financeiras internacionais, como a do petróleo (a ser 
tratada em uma próxima aula). Com as dificuldades econômicas em ambos os 
lados da Guerra Fria (capitalistas e comunistas), cada um voltou-se para novos 
modelos, como o neoliberalismo. O neoliberalismo, especialmente marcado por 
nomes como Milton Friedman, trouxe a liberdade de mercado do liberalismo 
clássico de volta e garantiu a intervenção dos governos na economia por meio 
do controle dos bancos centrais em suas políticas fiscais. 
O neoliberalismo, desenvolvido nos anos 1970, emplacou nos Estados 
Unidos e no Reino Unido nos anos 1980 com os governos de Ronald Reagan e 
Margareth Thatcher, respectivamente. Neste modelo, os governos reduziriam 
seus gastos ao extremo, evitando endividamentos por meio de privatizações e 
repasse das responsabilidades sociais à sociedade civil organizada e ao 
mercado. Nas nações socialistas, pouco a pouco o modelo neoliberal também 
foi abrindo mercado e transformando economias, como a russa e as do Leste 
Europeu nos anos 1980 e 1990. Assim como os modelos anteriores, o 
neoliberalismo também sofreu com crises do SFI ao final dos anos 1990. 
Além desses modelos, existem ainda as ideias de Friedrich Hayek noliberalismo, em que os Estados deveriam permitir a total liberdade dos mercados, 
inclusive acabando com os bancos centrais e não dando financiamento às 
empresas, deixando tudo sob organização do próprio mercado. Suas ideias 
nunca foram postas em prática pelas grandes nações, que preferiram passar do 
keynesianismo diretamente para o neoliberalismo ou para o neokeynesianismo. 
Nos últimos anos, vivenciamos um embate entre ideias do modelo 
neoliberal e do neokeynesianismo, ou seja, os governos devem ou não gastar 
sua poupança para retirar os mercados das crises e acelerar o desenvolvimento 
social? A resposta é difícil de ser encontrada e, para complicar ainda mais, os 
gestores do sistema ONU ainda defendem que não importa o modelo, a 
economia deve ser pautada no desenvolvimento sustentável. Com isso, o 
pensamento de mercado agressivo (e selvagem) é contido em busca do bem 
comum, onde os modelos econômicos diferenciados ao redor do mundo se 
esbarram e também se interconectam por meio dos canais do SFI. 
 
 
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Ainda que existam economias fechadas, como a Coreia do Norte, elas são 
poucas em quantidade se comparadas ao número de economias de mercado 
(neoliberais e neokeynesianas) existentes. Por isso, a busca por uma 
governança global entre mercados, sistemas e governos passa pelas dinâmicas 
transnacionais do SFI, em que o controle maior ou menor do fluxo de 
investimentos estrangeiros é sempre debatido. Mesmo que a especulação gere 
crises, em cada modelo os governos buscam tirar o maior proveito dessas novas 
dinâmicas que, em consequência, também alteram os modelos em uma 
adaptação contínua às novas fases do capital e do comportamento dos 
mercados. 
TEMA 3 – REGIMES INTERNACIONAIS DO SISTEMA FINANCEIRO 
Ainda sobre os regimes, é preciso ressaltar, mesmo que brevemente, a 
relevância das agências internacionais de desenvolvimento e de monitoramento 
financeiro internacional. Como parte do sistema ONU, organizações como o 
Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) fazem parte da 
rede de organizações internacionais que se preocupam e existem para socorrer 
o SFI e as nações em perigo de crises socioeconômicas ou que possam pôr em 
risco o próprio SFI com suas crises nacionais. 
Se a Organização Mundial do Comércio (OMC) cuida das relações de 
regulação dos mercados de bens e serviços, o FMI, por exemplo, acompanha 
em suas análises as dinâmicas transnacionais dos fluxos de investimentos e de 
especulação. O FMI, como uma reserva de capital para investimento em nações, 
precisa estar atento às boas oportunidades de se investir e gerar retorno aos 
seus sócios. As nações mais ricas fazem parte do FMI como investidores. Por 
sua vez, o FMI utiliza esses recursos para proteger o SFI de crises, investindo 
(emprestando) dinheiro aos Estados em risco econômico ou financeiro. 
Por diversas vezes, o Brasil contraiu empréstimos e financiamentos com 
o FMI, especialmente nos anos 1990, quanto o modelo neoliberal chegou às 
práticas econômicas do governo brasileiro por imposição dos investidores. 
Naquela época, só teríamos o empréstimo se seguíssemos a cartilha de tarefas 
neoliberais definidas no Consenso de Washington (EUA). Como organização 
vinculada ao sistema ONU, o FMI não deve ter um comportamento que vise ao 
investimento em objetivos de lucros e também à proteção dos direitos humanos 
e do desenvolvimento sustentável que a ONU defende desde 1992 (Rio-Eco 92). 
 
 
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Além de assegurar estabilidade monetária e lastro ao SFI, como no 
empréstimo aos governos para que cumpram e paguem suas dívidas com 
investidores estrangeiros, o FMI orienta o gasto do dinheiro 
emprestado/investido para que o desenvolvimento sustentável e os direitos 
humanos sejam respeitados. Aqui vale uma crítica: não é raro identificar 
experimentalismos por parte do FMI em modelos econômicos que são levados 
à prática em nações em desenvolvimento, que precisam da ajuda para não 
quebrarem economicamente e, com isso, gerarem crises às nações ricas que 
sustentam o fundo internacional. 
Em outra ponta está o Banco Mundial (BM), que investe para que os 
governos financiem políticas públicas de desenvolvimento, não em relação ao 
pagamento das dívidas das nações com os investidores estrangeiros, mas pela 
defesa dos direitos humanos no desenvolvimento sustentável. É importante 
destacar que o BM atua em nações pobres e também em nações tidas como 
ricas, tanto por meio de financiamentos quanto por orientações de políticas e 
boas práticas na gestão e nas iniciativas de governo. Para isso, o BM mantém 
em seus documentos um banco de boas práticas de cidades, governos 
estaduais, regionais e nacionais que são tidas como exemplos de 
desenvolvimento socioeconômico e que podem ter apoio da organização para 
sua implementação, caso pedido por um governo. 
O BM cuida mais de práticas de políticas de desenvolvimento e 
crescimento socioeconômicos. Em paralelo, o FMI tenta proteger a saúde do SFI 
e garantir que as dívidas contraídas com investidores estrangeiros nas 
economias nacionais sejam sanadas por meio de novos empréstimos. Já em 
relação às dívidas empresariais aos estrangeiros, cabe os governos definirem as 
pautas, auxílios ou punições. De modo geral, as empresas sempre acabam 
recebendo auxílio das agências financeiras nacionais ou outras internacionais 
privadas, além de bancos. Ao evitar que uma empresa quebre, o governo ou o 
banco financiador protege a saúde setorial do mercado e, assim, pode evitar uma 
crise maior local e até internacional. 
Todavia, o dinheiro que sai das agências nacionais, como do Banco 
Nacional do Desenvolvimento (BNDS), no Brasil, acaba utilizando de verba 
pública, ou seja, da poupança dos indivíduos que chegam ao Estado por meio 
dos impostos e outras formas de coletas diretas e indiretas. Logo, o dinheiro do 
contribuinte sustenta, muitas das vezes, o risco de investimento de empresários 
 
 
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que passam a se garantir na ajuda pública, se nada der certo. Esse dinheiro 
público, comum também a muitas outras agências de desenvolvimento em 
outros países, protege um setor da sociedade. Por outro lado, como diria 
Friedrich Hayek, pode levar à irresponsabilidade empresarial e de governo, que 
gasta o dinheiro do povo para manter interesses privados. 
Como em economia e em finanças não existe um único caminho possível, 
essa questão torna-se mais um debate moral do que propriamente racional. 
Cabe ao futuro profissional ter discernimento e se posicionar sobre os modelos 
econômicos apresentados e outros, bem como sobre a relação com as agências 
nacionais e internacionais de desenvolvimento e financiamento. As escolhas e 
responsabilidades institucionais partem sempre da ação dos indivíduos, 
especialmente de profissionais qualificados. 
TEMA 4 – SISTEMAS REGIONAIS DA AMÉRICA LATINA 
Agora é o momento de falarmos um pouco mais sobre a América Latina. 
Como já sabemos, a América Latina é uma região onde as dinâmicas do SFI 
cresceram nas últimas décadas. O crescimento populacional e de consumo e a 
diminuição da pobreza apontam para uma atração maior de investidores 
estrangeiros. Não é à toa que o FMI interveio por diversas vezes na saúde 
monetária e financeira da região e nas dinâmicas de integração que fomentam 
os mercados regionais e facilitam regras de investimentos estrangeiros. 
Além de blocos regionais já mencionados, como o Mercosul, é preciso 
voltar um pouco na história e mencionar a Comissão Econômica para a América 
Latina e o Caribe (CEPAL), criada em 1948, a Associação Latino-Americana de 
Livre Comércio (ALALC), em 1960, e a Associação Latino-Americana de 
Integração (ALADI), em 1980. A primeira fazparte do sistema ONU. Já a ALALC 
e a ALADI foram os dois primeiros modelos de integração e cooperação ao nível 
comercial e econômico da região. Nos três casos, modelos econômicos próprios 
à América Latina eram desenvolvidos e implementados para fortalecer 
economicamente a região. 
Contudo, a pluralidade sociocultural e econômica da região dificultava a 
criação de modelos generalistas para todas as nações latino-americanas. Essa 
diversidade só foi levada em consideração em 1980 quando a ALALC é 
substituída pela ALADI, que permitia, em cláusulas específicas, a criação de 
outros processos de integração regional dentro de seu domínio. Com isso, 
 
 
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surgiram os diversos blocos de integração que conhecemos, como o CARICOM, 
o Mercosul e a atual Comunidade Andina. 
Se em um primeiro momento a integração regional desses novos blocos 
era pautada no neoliberalismo e no fortalecimento econômico e de mercado, nos 
anos 2000 a agenda também ganhou contornos de integração social e política 
nos moldes da União Europeia. Assim, propostas como a criação da ALCA pelos 
Estados Unidos (que integraria todo o continente) foram recusadas por se 
pautarem somente nas questões comerciais. Elas ignoravam o desnível das 
economias da região (umas mais desenvolvidas e outras muito pequenas, que 
poderiam desaparecer com uma livre concorrência). 
Por esse motivo, nesse tom mais sociopolítico, cria-se a União de Nações 
Sul-Americanas em 2008. A UNASUL leva em consideração as questões 
econômicas e cria uma autoridade regional capaz de dialogar com o SFI e com 
políticas econômicas nacionais de seus Estados-membros. Em 2009, foi criado 
o Banco do Sul, como agência financeira de desenvolvimento para a região, 
especialmente em políticas sociais e de infraestrutura nos moldes do 
neokeynesianismo. 
Para além da UNASUL e de outros blocos latino-americanos fora da 
América do Sul, existe ainda o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), 
criado em 1959 para financiar o desenvolvimento das nações americanas. Ainda 
que tenha surgido na Organização dos Estados Americanos, o BID hoje se pauta 
em alinhar as economias americanas, o que é visto por muitos críticos como uma 
organização a serviço dos Estados Unidos na região. Como sua sede fica nos 
Estados Unidos, o BID teria essa imagem de alinhar propostas de 
desenvolvimento às ideias estadunidenses e de implementar políticas 
econômicas nas nações que auxilia para favorecer os mercados de seus 
investidores. 
De modo geral, a região da América Latina conta com importantes 
agências de financiamento e práticas do SFI que não se limitam ao continente 
americano, como visto nas ações do BM e do FMI. Entretanto, desde o século 
XX, as nações latino-americanas buscam, com o apoio das demais nações no 
mundo, seu próprio caminho de se regular e se proteger das dinâmicas do SFI e 
do cenário econômico mundial. Muitas são as iniciativas que comprovam que as 
nações latino-americanas estão se fortalecendo diante das pressões externas e 
 
 
16 
sabendo lidar com os investimentos estrangeiros, aproveitando oportunidades 
em outros mercados ao redor do mundo. 
TEMA 5 – FLUXOS TRANSNACIONAIS 
O SFI e o cenário econômico mundial de hoje se sustentam a partir das 
dinâmicas transnacionais, ou seja, de investimentos e relações comerciais que 
nem sempre são controladas pelos governos. Moedas virtuais, canais de 
investimentos na internet e outros mecanismos questionam o controle dos 
governos estatais sobre os fluxos financeiros através de suas fronteiras. 
Essas dinâmicas transnacionais são alvo de iniciativas políticas que 
buscam controlar, fiscalizar e orientar suas práticas no seio dos governos. Se os 
vazamentos de informações sigilosas de governos impactam na saúde do 
mercado, os governantes buscam controlar ao máximo e punir seus 
responsáveis. Mas será que o Estado está perdendo essa batalha pelo controle 
da informação (especulação) e do capital? É cedo para afirmar que sim ou não, 
mas a questão já é relevante nos estudos do SFI e da economia mundial. 
Se os processos de integração regional buscam uma livre circulação de 
pessoas, bens e serviços, até que ponto essa livre circulação não questiona o 
futuro controle dos Estados? Muitos teóricos alegam que a integração regional 
cumpre exatamente essas ideias: diminuir barreiras e trazer maior liberdade aos 
indivíduos e ao mercado. Porém, a liberdade extrema de indivíduos e de 
mercados podem gerar crises que nenhum agente tradicional poderia conter. Se 
algo foge ao Estado, como ele poderia solucioná-lo? Em meio a tantas 
perguntas, uma possível resposta está nas novas práticas de governança global. 
Ao invés de governos, seria possível criar governanças, ou seja, 
responsabilidades compartilhadas entre governos, empresas, organizações 
internacionais, sociais e tantos outros agentes. Ao defender seus interesses, 
cada um estaria atento e teria recursos e mecanismos próprios para sanar 
desafios e crises comuns. Esse comunitarismo poderia solucionar o desafio dos 
governos de ter de controlar sozinhos as dinâmicas transnacionais. Mas até que 
ponto esses agentes se coordenariam de forma horizontal (igualitária) e não 
hierarquicamente? Para críticos desta forma de governança global, as empresas 
acabariam se colocando acima dos demais agentes, criando uma pirâmide que 
substitui o Estado (interesse coletivo) em favor do interesse de poucos (grandes 
empresários). 
 
 
17 
Para teóricos como David Friedman, esse cenário seria positivo, onde o 
anarcocapitalismo acabaria com os governos e promoveria os bens sociais por 
meio da inteira iniciativa privada. Já outros teóricos, como Milton Santos, defende 
que os governos ainda devem deter a grande autoridade e responsabilidade de 
defenderem o interesse coletivo, e não as empresas privadas. Mais uma vez, 
cabe ao futuro profissional estudar, pesquisar e compreender essa situação para 
se posicionar dentro do mercado de trabalho. 
TROCANDO IDEIAS 
O anarcocapitalismo, também conhecido como anarquismo da 
propriedade privada ou anarquismo de livre mercado, seria uma versão radical 
do liberalismo clássico somada ao anarquismo individualista. Isto é, a liberdade 
de deter a propriedade privada está atrelada à liberdade e à vida dos indivíduos, 
pois quaisquer formas de governo estatais são desnecessárias e prejudiciais à 
liberdade e ao bem-estar humano. Muitos ainda associam essa ideia ao 
libertarianismo, onde o Estado é a origem das disfunções sociais e dos desafios 
que enfrentamos hoje. 
Os adeptos do libertarianismo simpatizam com o anarcocapitalismo ao 
defenderem a total liberdade individual de escolhas, o que esbarra em um grande 
desafio: até onde a liberdade de um indivíduo não fere a dos demais? Essa 
questão é uma das grandes críticas que as respostas até hoje dadas não 
convenceram os líderes políticos de aplicarem essas ideias à risca. Enquanto o 
anarcocapitalismo defende a eliminação completa do Estado em favor da 
soberania individual em um livre mercado (nas ideias de Gustave de Molinari, 
Murray Rothbard e David Friedman), a social-democracia se firma em governos 
como os da Suécia, Noruega, Holanda e Dinamarca, reforçando o papel dos 
governos na manutenção do bem-estar social. 
Agora pense um pouco mais sobre qual seu posicionamento econômico 
e como os governos deveriam se adaptar às novas dinâmicas do SFI e do 
cenário econômico mundial. A reflexão é fundamental para o amadurecimento 
do conteúdo apresentado e em sua formação como um excelente profissional. 
Bons estudos! 
 
 
18 
NA PRÁTICA 
Como prática, a sugestão é diferenciar as relações entre o Banco Mundial 
(BM) e oFundo Monetário Internacional (FMI) em seus objetivos. Perceba que o 
Banco Mundial se aproxima mais ao desenvolvimento e que o FMI está ligado à 
solução das crises do sistema financeiro internacional. Olhe para a história da 
América Latina, como a do Brasil, e perceba em quais situações o BM e o FMI 
interviram em nossa economia e em nossas políticas públicas. Reflita 
criticamente sobre a relevância e atuação desses organismos internacionais 
diante do conteúdo apresentado neste módulo. 
FINALIZANDO 
Esta aula apresentou os diversos modelos econômicos vigentes 
atualmente, como o neoliberalismo, o neokeynesianismo e as economias 
planificadas (socialistas). Lembrando que esses não são os únicos modelos, 
mas os que mais se mostram representativos às dinâmicas econômicas 
mundiais e ao Sistema Financeiro Internacional (SFI). 
A economia mundial advém das economias nacionais e dinâmicas de 
mercado. Já o SFI foca-se na relação entre investidores e mercados, 
transpassando fronteiras nacionais em busca de lucro. Muitos desses 
investidores investem em dívidas de nações, esperando que elas se 
desenvolvam economicamente e paguem as dívidas contraídas com juros. 
Empresários também abrem seu capital para receber investimentos estrangeiros 
e financiar expansões e inserções em novos mercados internacionais. 
O SFI possui uma série de agentes que regulam e buscam manter a sua 
saúde, como o FMI às nações e as agências de desenvolvimento nacionais e 
internacionais, como o BNDS, no Brasil. Os setores público e privado fazem 
parte do SFI e estão subordinados aos reflexos da especulação financeira 
internacional e das crises. Cada nação e agente financeiro busca modelos e 
estratégias próprias para se proteger e se fortalecer em tempos de crise. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
CINTRA, M. A. M.; GOMES, K. R. (Org.). As transformações no sistema 
financeiro internacional. Brasília: IPEA, 2012. 
CULPI, L. A. Empresas Transnacionais. Curitiba: InterSaberes, 2016. 
FREIRE, C. M. Internacionalização de empresas brasileiras: o caso de O 
Boticário. 143 f. Dissertação (Mestrado em Ciências em Administração) – 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.

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