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CENÁRIO ECONÔMICO MUNDIAL AULA 3 Prof. Leonardo Mèrcher 2 CONVERSA INICIAL Olá! Nesta terceira etapa de nossos estudos, vamos tentar compreender que as relações comerciais internacionais não acontecem no vazio legal. Existem diversos grupos de normas de comportamento e tratados que orientam as práticas do comércio exterior e das relações internacionais. Com o intuito de expor as regras internacionais de mercado, especialmente as do comércio mundial, é preciso tratar de alguns conceitos importantes, como sistema financeiro internacional e sistemas regionais, especialmente para a América Latina. Neste momento, o comércio exterior se aproxima significativamente do cenário econômico mundial. Para compreender as regras de comércio exterior do cenário econômico mundial, é preciso entender a construção do sistema financeiro internacional, algumas perspectivas do funcionamento econômico – como a dos ciclos econômicos – e dos novos processos transnacionais, como a governança e os fluxos financeiros. Ao final, ao observar a nova cara da economia mundial transnacional, ou seja, que perpassa as fronteiras nacionais e o controle dos governos, será possível também discutir um pouco mais sobre economia informal e economia criativa. Já vimos que os regimes e regras internacionais são resultantes de acordos comuns entre os Estados. Estes acordos são consequência de longos processos de negociação com objetivo de criar regras de comportamento e de responsabilidades. Portanto, no caso do Sistema Financeiro Internacional, os governos buscaram chegar a acordos que mudam de tempos em tempos, conforme a liderança econômica das nações. Sob uma perspectiva dos estudos dos ciclos econômicos, onde o mercado e a economia sempre giram em momentos de crescimento, desaceleração e crises, é possível compreender que, a cada período da história contemporânea, o comércio exterior também sofre com a saúde e com as transformações financeiras internacionais. O objetivo desta aula é garantir que o futuro profissional domine minimamente as origens das dinâmicas econômicas internacionais do sistema financeiro. O comércio exterior não é baseado apenas na vontade de empreender, mas também em direitos e deveres regulamentados pelos Estados e fiscalizados por instituições nacionais e internacionais, como é o caso das 3 agências de desenvolvimento, o Fundo Monetário Internacional e os sistemas regionais. Boa leitura! CONTEXTUALIZANDO O Sistema Financeiro Internacional (SFI) é responsável pela organização das trocas de mercados de capitais, monetário, de crédito e de câmbio. Baseado no sistema financeiro de cada nação, em que ocorre a transferência de recursos dos poupadores (investidores) para o setor produtivo e de consumo, o SFI tenta organizar os fluxos de dinheiro e investimentos que percorrem o mundo. Se existe o comércio mundial, representado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), existem também os mercados financeiros, em que vários agentes (governos, instituições, empresas e indivíduos) fazem circular o dinheiro e fomentam o desenvolvimento ou a especulação no cenário econômico mundial. O fazer circular o dinheiro ocorre porque os agentes realizam transferências de seus recursos poupados (o dinheiro que sobra em sua economia) para situações de rendimento. De modo geral, podemos definir que os agentes envolvidos com o sistema financeiro (nacional e internacional) também são investidores, pois procuram multiplicar seus recursos a partir de rendimentos sobre o que se investe. Desse modo, os investidores do SFI buscam rendimentos fora de seu mercado local ou nacional, apostando sua economia no crescimento de outros mercados, instituições, empresas e, até mesmo, na economia de outras nações. Os investimentos no SFI ocorrem por operações de compra, venda e trocas de ativos financeiros que se submetem a regulações específicas em cada mercado e região. Mais do que simplesmente gerar lucro ao investidor, por que mercados e instituições se abrem para os investidores estrangeiros? Porque o dinheiro estrangeiro investido financia o setor produtivo e o custeio de novos investimentos para fomentar o crescimento de empresas e nações. Um governo libera títulos de dívidas nacionais ao mercado estrangeiro para que famílias e empresários ao redor do mundo gastem suas poupanças investindo (comprando) nesses títulos que, em um segundo momento, torna-se uma maneira de se captar recursos sem recorrer a empréstimos internacionais. O mesmo ocorre com empresas que abrem seu capital. Ao final, o crescimento da economia nacional ou da empresa gera lucros que serão redistribuídos aos investidores. 4 Essa redistribuição de lucros pode ocorrer de forma programada, quando o investidor, na hora do investimento, já sabia quanto de porcentagem receberia sobre o seu investimento em um determinado tempo futuro; ou de forma mais irregular, onde o investimento renderá de acordo com o comportamento do mercado e da economia mundial. Em ambos os casos, existe o risco de investimento, onde quem investe, por mais que saiba o quanto irá render ou ter uma previsão na hora do investimento, nunca sabe ao certo se as partes que recebem o investimento conseguirão honrar com o prometido ou ir bem no mercado para gerar lucro. Por isso, muitas empresas de comércio exterior com capital aberto precisam se situar diante das projeções do cenário econômico mundial futuro. Saiba mais O SFI já sofreu diversas transformações ao decorrer das décadas. Um bom lugar para entender a relação dessas alterações e o Brasil é o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do governo federal. Para saber mais, acesse o site do Ipea (<www.ipea.gov.br>) e consulte os volumes gratuitos das Transformações do Sistema Financeiro Internacional, redigidos por Marcos Antonio Macedo Cintra e por Keiti da Rocha Gomes em 2012. Lá você encontra muitas das informações sobre definições do SFI, regulações, regimes e outros processos históricos da construção do atual SFI diante da economia e do comércio internacionais. TEMA 1 – SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL A economia mundial precisa de sustentação. O que isso significa? Que a economia mundial precisa de princípios e substâncias concretos, que permitam às nações e investidores estrangeiros se comunicarem e fecharem negócios entre si. O cenário econômico mundial reúne diversas nações. Cada uma possui seu dinheiro, políticas econômicas e seus próprios mercados internos que, em um cenário de globalização, podem criar ruídos ao diálogo entre investidores e investimentos internacionais. O SFI é um conjunto de dinâmicas e padrões de comportamento de investidores e receptores que fomentam o crescimento econômico mundial por meio dos repasses dos recursos poupados (dos investidores) ao sistema produtivo e de financiamento do desenvolvimento, como de políticas de 5 infraestrutura em uma nação ou expansão comercial de uma empresa. Portanto, o SFI se torna um conjunto de dinâmicas predeterminadas por normas de comportamento que criam um sistema que lida com as finanças (poupanças, investimentos e lucros) em um âmbito internacional. Como parte da sustentação da economia mundial, o SFI contribui no financiamento do desenvolvimento das empresas e das nações, ao mesmo tempo em que colabora com a diminuição das barreiras nacionais entre os mercados. Hoje o SFI se coloca tão forte, que pressiona a abertura de economias mais nacionalistas, especialmente por esses governos mais fechados perceberemos ganhos do capital investidor estrangeiro. Mas nem tudo são flores. O SFI também é abalado por grandes crises de especulação financeira de investimentos, as chamadas de crises financeiras internacionais. As crises financeiras internacionais podem surgir nos mercados financeiros comuns (cambial, monetário, de capitais e de créditos), mas também das oscilações de políticas econômicas dos governos. Independentemente de sua origem, as crises financeiras impactam diretamente no comércio exterior por criar o recuo de investimentos e a desaceleração econômica dos mercados. Importadores ou exportadores de bens e serviços precisam estar atentos às alterações constantes no comportamento dos agentes financeiros internacionais, assim como nas políticas econômicas de governos – sobretudo dos governos importantes à área comercial de sua atuação. Por muito tempo, a regulação do sistema financeiro era feita exclusivamente pelo próprio comportamento dos agentes envolvidos, ou seja, investidores e receptores criavam suas regras e especulações em total liberdade. Porém, essa liberdade extrema causava diversas crises especulativas e ameaçava a ordem econômica mundial. Aos poucos, especialmente no século XX, as políticas econômicas das nações passaram a ser monitoradas e seguirem algumas regras, como padrão-ouro e padrão-dólar. Esses padrões se definiam pela escolha de um meio material (o ouro ou o dólar dos Estados Unidos) para ter um parâmetro sobre os custos e os preços dos bens, serviços e retorno de investimentos. Desde o século XIX até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o padrão financeiro mundial era o ouro. Toda vez que um investidor estrangeiro exigia seu lucro do receptor, este não pagaria ao investidor com sua moeda local, mas em ouro. Se um investidor alemão investia em uma empresa brasileira no início do 6 século XX, quando a empresa gerasse lucro ele deveria ir ao banco e trocar o dinheiro brasileiro por ouro e, só então, pagar ao investidor alemão. Isso ocorria tanto entre indivíduos e empresas quanto entre governos e, sobretudo, entre bancos e instituições financeiras. Especialmente de 1870 até 1914, o Reino Unido da Grã-Bretanha liderou a economia mundial e impôs o padrão-ouro (também conhecido como padrão libra-ouro) ao comércio e ao SFI. Com as dificuldades econômicas britânicas durante a Primeira Guerra Mundial, o SFI ficou instável sem a certeza do padrão- ouro. Até que, em 1944, em Bretton Woods (EUA), criou-se uma nova ordem monetária mundial, que atrelava o dólar ao ouro, ou seja, era possível trocar as moedas estrangeiras por ouro e dólar ou o contrário. Este padrão-dólar vigorou até 1971, quando unilateralmente os Estados Unidos se recusaram a manter a conversibilidade de sua moeda ao ouro para o mundo. A importância dos padrões (libra-ouro ou dólar-ouro) estava em manter um parâmetro de valores universais sobre bens e serviços. Os cálculos de investidores estrangeiros eram facilitados e o pagamento entre mercados de nações distintas poderia ser feito usando o metal como moeda mundial. Já para as economias que atrelavam sua moeda ao ouro (Reino Unido e depois Estados Unidos), por mais que fortes e líderes que fossem, elas se tornavam mais suscetíveis às crises financeiras internacionais e ao encarecimento do processo produtivo de suas economias: ficava muito caro o preço final de um produto cuja produção foi paga em libra ou em dólar diante da concorrência de produtos semelhantes e cujos trabalhadores foram pagos com moedas mais fracas. Desde 1971, o dólar deixa sua conversibilidade e preços fixos ao ouro e passa a ter um valor flutuante, que varia de acordo com a saúde da economia dos Estados Unidos e da economia mundial. Muitos governos e empresas juntam o dólar como moeda de reservas por ser ainda a mais utilizada nas transações internacionais. Neste caso, eles assumem riscos próprios, visto que até o dólar hoje pode se valorizar ou desvalorizar. Com isso, caso a sua empresa ou governo possua muita poupança em dólar ou em euro (moeda da União Europeia), isso se torna um investimento também de risco, variando a cada dia o seu valor e sua capacidade para novos investimentos. O SFI é um sistema frágil, em que a cada dia novas informações e ações dos mercados podem resultar em avanços ou crises. O comportamento dos seus agentes financeiros segue alguns padrões, como respeito à regulação financeira 7 e econômica dos governos, à responsabilidade de se cumprir com os acordos e tratados entre as partes e a utilização de moedas fortes, como o dólar, para que haja conversibilidade nas negociações entre moedas diferentes. Nesse contexto, o SFI passa a interferir diretamente nos mercados de importação e exportação ao acelerar ou desacelerar o crescimento econômico mundial. Se a governança sobre o SFI é dada pela ação conjunta de governos, empresas e investidores em padrões razoáveis de comportamento, como em seguir regulações nacionais que evitam crimes de especulação financeira, a ordem internacional financeira também é resultado das relações entre as nações. As moedas fortes, como o dólar, só são fortes assim porque existe uma economia forte que parte dos Estados Unidos para o mundo. Somadas às iniciativas de investidores e receptores estadunidenses, as políticas econômicas dos Estados Unidos aquecem e propiciam maior confiança em sua moeda para as transações internacionais. O dólar se mantém como moeda de lastro (moeda de equilíbrio) no mercado internacional. A liquidez desse lastro necessita ser averiguada em cada mercado que se investe. Esta liquidez seria a capacidade de o receptor pagar ao investidor usando a moeda de lastro. Isso quer dizer que a empresa, banco ou o governo possui liquidez do dólar quando existe um número suficiente dessa moeda estrangeira em seus cofres para pagamentos. Se não existe liquidez, uma grande demanda por pagamentos pode resultar em não pagamento por falta da moeda estrangeira, o que gera uma quebra financeira. Em momentos de crise, muitos investidores buscam recuperar e resgatar seus investimentos em mercados estrangeiros, o que leva os governos, empresas e bancos a uma correria para sacar o dinheiro investido. A grande procura e a baixa moeda nos cofres – já que a maior parte da moeda que entrou dos investidores está sendo usada em suas políticas ou expansões – levam ao não pagamento dos investidores, que se transformam em credores estrangeiros. Em alguns momentos, governos como o brasileiro, argentino e grego já se tornaram maus pagadores, dando calotes na dívida externa e nos investidores estrangeiros e precisando de empréstimos internacionais ou de reaquecer suas economias para pagar o que devem. Em um mundo onde os investidores são tantos e diversos, as origens dos investimentos são plurais. Essa pluralidade, junto às especulações e à busca por rendimentos mais rentáveis e seguros, leva o fluxo do sistema financeiro a mudar 8 a cada dia. Demandas de investidores por economias que se preocupam com o desenvolvimento sustentável, por exemplo, enfraquecem economias de nações e empresas com baixa preocupação ambiental. No atual cenário do SFI, muitos governos perdem a capacidade de controlar ou ao menos planejar seus gastos ao contar com determinados investimentos estrangeiros. Ao permanecer por longo prazo em uma nação, empresa ou setor, essa instabilidade de investimentos gera inseguranças e cria a dinâmica conhecida como economia transnacional. Este termo se refere a esse grande fluxo financeiro de investimentos que perpassam as fronteiras e o controle dos Estados sobre tempo e origem. O tempopara os investimentos permanecerem em um setor e a origem dos investidores se tornam cada vez mais difíceis de serem identificados e controlados, ao ponto de permitirem planos econômicos nacionais em médio e longo prazo. Desse modo, o SFI, apesar de manter comportamentos semelhantes entre seus agentes, também sofre com a especulação e a instabilidade dos novos tempos de dinâmicas transnacionais. A fuga de capitais e a inconstância de investidores podem prejudicar economias nacionais e favorecer ou prejudicar outros agentes envolvidos, como empresas e instituições receptoras dos investimentos. Logo, o SFI se mostra relevante ao futuro profissional do comércio exterior ao demonstrar que as dinâmicas de importação e exportação se baseiam, não só na lei da oferta e da demanda, como na própria organização financeira internacional. TEMA 2 – MODELOS ECONÔMICOS Como vimos anteriormente, o SFI depende dos modelos econômicos que as nações aplicam em suas políticas. Agora que já compreendemos um pouco mais sobre os agentes do SFI (investidores e receptores), é importante retornarmos aos debates sobre os atuais modelos econômicos que tentam controlar e lidar com o sistema de crises financeiras na globalização. Se durante a Idade Média o modelo econômico predominante era o feudalismo – uma economia de subsistência por trocas (escambo) de produtos e com pouca monetarização – e durante a Idade Moderna predominou o mercantilismo nas grandes potências europeias colonizadoras, em nosso tempo os modelos econômicos se dividem basicamente em quatro: 9 1. Liberalismo clássico; 2. Neoliberalismo; 3. Neokeynesianismo; 4. Mercados planificados (controlados pelos governos socialistas). Evidentemente que existem outros modelos, como os coletores de subsistência em povoamentos menores e os sociais liberais. Porém, a ideia aqui é simplificar para se compreender a base simples e, só depois, encarar as peculiaridades de cada nação. No século XIX, o economista Stuart Mill reuniu o pensamento de diversos economistas e indicou o “caminho do meio”, conhecido como liberalismo clássico. Este modelo definiu a política econômica e financeira das nações ocidentais até sua grande crise, em 1914, com a Primeira Guerra Mundial. Mill defendia que as ideias de Adam Smith (pai do liberalismo econômico) eram importantes, como o mercado guiando o bem comum pela lei da oferta e da procura, por exemplo. Segundo Mill, Smith seria muito otimista por acreditar que os interesses comerciais e dos comerciantes não impactariam em situações negativas à população e às nações. Por outro lado, Mill defendia que as ideias do economista Thomas Malthus eram pessimistas, especialmente quando este dizia que o crescimento populacional superaria a capacidade do planeta de repor os recursos e, portanto, a distribuição de renda e a livre iniciativa comercial dos indivíduos poria em risco a própria humanidade. Para Mill, Malthus esquecia que os avanços tecnológicos tornavam mais eficiente a exploração dos recursos e seu menor uso. Essa ideia baseava-se na livre iniciativa e competição, ou seja, se cada um buscar produzir com menos custos, acaba-se financiando o desenvolvimento de novos saberes e tecnologias. Por fim, Mill defendia que o melhor caminho do liberalismo seria o de David Ricardo, ou seja, o “caminho do meio”. Ricardo concordava com as ideias liberais de Smith e acreditava que as nações deveriam orientar o comércio internacional. Não como no mercantilismo, em que os governos autoritários são detentores das negociações, mas financiando e auxiliando em diplomacia os empresários nacionais. Ricardo defendia a divisão internacional do trabalho, em que cada nação deveria se especializar em produzir de acordo com suas vantagens comparativas. Por exemplo, nações com grande quantidade de terras 10 tropicais deveriam se dedicar à agricultura. Nações com terrenos difíceis, à industrialização. Além da divisão internacional do trabalho e do comércio internacional, Mill defendia que Ricardo já mencionava o conceito de demanda agregada, ou seja, que o preço final de um produto considera seu custo de produção e lucro e também o desejo do público de ter aquele bem. Produtos na moda, por exemplo, tendem a ter um preço mais elevado pelo desejo agregado. É por isso que Mill defendia os preceitos de Ricardo de que os governos deveriam liberar o mercado de seu controle estatal abusivo e permitir que as empresas pudessem comercializar internacionalmente com maior flexibilidade não só na compra e venda, como nos investimentos vistos no SFI. Nos três casos, o que se tem é a organização do liberalismo clássico, em que os governos se focam em regular as relações jurídicas do mercado e a garantir o bem-estar social da população. Com as grandes guerras mundiais e a crise de 1929, o liberalismo clássico sofreu críticas, ao passo que novos modelos já estavam em criação, como o keynesianismo (hoje transformado em neokeynesianismo) e os mercados de economia planificada (socialistas e comunistas). O keynesianismo foi criado por John Maynard Keynes para retirar o Reino Unido e, posteriormente, os Estados Unidos da crise se 1929. Os mercados planificados foram resultado das revoluções na Europa Oriental que, mais tarde, originaram a União Soviética. Durante a Guerra Fria, essas revoluções ocorreram em outras partes do mundo, como na China, Angola e em Cuba, concorrendo diretamente com o modelo de Keynes. Enquanto os Estados Unidos e outras nações ocidentais substituíram o liberalismo clássico pelo modelo de Keynes, a União Soviética e seus aliados tomaram para si a iniciativa de mercado e o questionamento da autorregulação dos mercados. Tanto Keynes quanto o socialismo questionavam a extrema liberdade comercial e financeira que existia no liberalismo clássico, mas cada qual encontrou o seu modo de lidar com esse desafio. Keynes defendia que o mercado deveria ser livre e que o governo deveria intervir economicamente (com políticas fiscais, sociais e de distribuição de renda e grandes obras de infraestrutura) para reaquecer a economia em momentos de crise. De outro lado, os socialistas deixavam todo o controle comercial aos burocratas do governo que 11 eliminavam a competição de mercado e, consequentemente, a especulação financeira. Ambos os modelos também se mostraram desgastados nos anos 1970, sofrendo com as crises financeiras internacionais, como a do petróleo (a ser tratada em uma próxima aula). Com as dificuldades econômicas em ambos os lados da Guerra Fria (capitalistas e comunistas), cada um voltou-se para novos modelos, como o neoliberalismo. O neoliberalismo, especialmente marcado por nomes como Milton Friedman, trouxe a liberdade de mercado do liberalismo clássico de volta e garantiu a intervenção dos governos na economia por meio do controle dos bancos centrais em suas políticas fiscais. O neoliberalismo, desenvolvido nos anos 1970, emplacou nos Estados Unidos e no Reino Unido nos anos 1980 com os governos de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, respectivamente. Neste modelo, os governos reduziriam seus gastos ao extremo, evitando endividamentos por meio de privatizações e repasse das responsabilidades sociais à sociedade civil organizada e ao mercado. Nas nações socialistas, pouco a pouco o modelo neoliberal também foi abrindo mercado e transformando economias, como a russa e as do Leste Europeu nos anos 1980 e 1990. Assim como os modelos anteriores, o neoliberalismo também sofreu com crises do SFI ao final dos anos 1990. Além desses modelos, existem ainda as ideias de Friedrich Hayek noliberalismo, em que os Estados deveriam permitir a total liberdade dos mercados, inclusive acabando com os bancos centrais e não dando financiamento às empresas, deixando tudo sob organização do próprio mercado. Suas ideias nunca foram postas em prática pelas grandes nações, que preferiram passar do keynesianismo diretamente para o neoliberalismo ou para o neokeynesianismo. Nos últimos anos, vivenciamos um embate entre ideias do modelo neoliberal e do neokeynesianismo, ou seja, os governos devem ou não gastar sua poupança para retirar os mercados das crises e acelerar o desenvolvimento social? A resposta é difícil de ser encontrada e, para complicar ainda mais, os gestores do sistema ONU ainda defendem que não importa o modelo, a economia deve ser pautada no desenvolvimento sustentável. Com isso, o pensamento de mercado agressivo (e selvagem) é contido em busca do bem comum, onde os modelos econômicos diferenciados ao redor do mundo se esbarram e também se interconectam por meio dos canais do SFI. 12 Ainda que existam economias fechadas, como a Coreia do Norte, elas são poucas em quantidade se comparadas ao número de economias de mercado (neoliberais e neokeynesianas) existentes. Por isso, a busca por uma governança global entre mercados, sistemas e governos passa pelas dinâmicas transnacionais do SFI, em que o controle maior ou menor do fluxo de investimentos estrangeiros é sempre debatido. Mesmo que a especulação gere crises, em cada modelo os governos buscam tirar o maior proveito dessas novas dinâmicas que, em consequência, também alteram os modelos em uma adaptação contínua às novas fases do capital e do comportamento dos mercados. TEMA 3 – REGIMES INTERNACIONAIS DO SISTEMA FINANCEIRO Ainda sobre os regimes, é preciso ressaltar, mesmo que brevemente, a relevância das agências internacionais de desenvolvimento e de monitoramento financeiro internacional. Como parte do sistema ONU, organizações como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) fazem parte da rede de organizações internacionais que se preocupam e existem para socorrer o SFI e as nações em perigo de crises socioeconômicas ou que possam pôr em risco o próprio SFI com suas crises nacionais. Se a Organização Mundial do Comércio (OMC) cuida das relações de regulação dos mercados de bens e serviços, o FMI, por exemplo, acompanha em suas análises as dinâmicas transnacionais dos fluxos de investimentos e de especulação. O FMI, como uma reserva de capital para investimento em nações, precisa estar atento às boas oportunidades de se investir e gerar retorno aos seus sócios. As nações mais ricas fazem parte do FMI como investidores. Por sua vez, o FMI utiliza esses recursos para proteger o SFI de crises, investindo (emprestando) dinheiro aos Estados em risco econômico ou financeiro. Por diversas vezes, o Brasil contraiu empréstimos e financiamentos com o FMI, especialmente nos anos 1990, quanto o modelo neoliberal chegou às práticas econômicas do governo brasileiro por imposição dos investidores. Naquela época, só teríamos o empréstimo se seguíssemos a cartilha de tarefas neoliberais definidas no Consenso de Washington (EUA). Como organização vinculada ao sistema ONU, o FMI não deve ter um comportamento que vise ao investimento em objetivos de lucros e também à proteção dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável que a ONU defende desde 1992 (Rio-Eco 92). 13 Além de assegurar estabilidade monetária e lastro ao SFI, como no empréstimo aos governos para que cumpram e paguem suas dívidas com investidores estrangeiros, o FMI orienta o gasto do dinheiro emprestado/investido para que o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos sejam respeitados. Aqui vale uma crítica: não é raro identificar experimentalismos por parte do FMI em modelos econômicos que são levados à prática em nações em desenvolvimento, que precisam da ajuda para não quebrarem economicamente e, com isso, gerarem crises às nações ricas que sustentam o fundo internacional. Em outra ponta está o Banco Mundial (BM), que investe para que os governos financiem políticas públicas de desenvolvimento, não em relação ao pagamento das dívidas das nações com os investidores estrangeiros, mas pela defesa dos direitos humanos no desenvolvimento sustentável. É importante destacar que o BM atua em nações pobres e também em nações tidas como ricas, tanto por meio de financiamentos quanto por orientações de políticas e boas práticas na gestão e nas iniciativas de governo. Para isso, o BM mantém em seus documentos um banco de boas práticas de cidades, governos estaduais, regionais e nacionais que são tidas como exemplos de desenvolvimento socioeconômico e que podem ter apoio da organização para sua implementação, caso pedido por um governo. O BM cuida mais de práticas de políticas de desenvolvimento e crescimento socioeconômicos. Em paralelo, o FMI tenta proteger a saúde do SFI e garantir que as dívidas contraídas com investidores estrangeiros nas economias nacionais sejam sanadas por meio de novos empréstimos. Já em relação às dívidas empresariais aos estrangeiros, cabe os governos definirem as pautas, auxílios ou punições. De modo geral, as empresas sempre acabam recebendo auxílio das agências financeiras nacionais ou outras internacionais privadas, além de bancos. Ao evitar que uma empresa quebre, o governo ou o banco financiador protege a saúde setorial do mercado e, assim, pode evitar uma crise maior local e até internacional. Todavia, o dinheiro que sai das agências nacionais, como do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDS), no Brasil, acaba utilizando de verba pública, ou seja, da poupança dos indivíduos que chegam ao Estado por meio dos impostos e outras formas de coletas diretas e indiretas. Logo, o dinheiro do contribuinte sustenta, muitas das vezes, o risco de investimento de empresários 14 que passam a se garantir na ajuda pública, se nada der certo. Esse dinheiro público, comum também a muitas outras agências de desenvolvimento em outros países, protege um setor da sociedade. Por outro lado, como diria Friedrich Hayek, pode levar à irresponsabilidade empresarial e de governo, que gasta o dinheiro do povo para manter interesses privados. Como em economia e em finanças não existe um único caminho possível, essa questão torna-se mais um debate moral do que propriamente racional. Cabe ao futuro profissional ter discernimento e se posicionar sobre os modelos econômicos apresentados e outros, bem como sobre a relação com as agências nacionais e internacionais de desenvolvimento e financiamento. As escolhas e responsabilidades institucionais partem sempre da ação dos indivíduos, especialmente de profissionais qualificados. TEMA 4 – SISTEMAS REGIONAIS DA AMÉRICA LATINA Agora é o momento de falarmos um pouco mais sobre a América Latina. Como já sabemos, a América Latina é uma região onde as dinâmicas do SFI cresceram nas últimas décadas. O crescimento populacional e de consumo e a diminuição da pobreza apontam para uma atração maior de investidores estrangeiros. Não é à toa que o FMI interveio por diversas vezes na saúde monetária e financeira da região e nas dinâmicas de integração que fomentam os mercados regionais e facilitam regras de investimentos estrangeiros. Além de blocos regionais já mencionados, como o Mercosul, é preciso voltar um pouco na história e mencionar a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), criada em 1948, a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), em 1960, e a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), em 1980. A primeira fazparte do sistema ONU. Já a ALALC e a ALADI foram os dois primeiros modelos de integração e cooperação ao nível comercial e econômico da região. Nos três casos, modelos econômicos próprios à América Latina eram desenvolvidos e implementados para fortalecer economicamente a região. Contudo, a pluralidade sociocultural e econômica da região dificultava a criação de modelos generalistas para todas as nações latino-americanas. Essa diversidade só foi levada em consideração em 1980 quando a ALALC é substituída pela ALADI, que permitia, em cláusulas específicas, a criação de outros processos de integração regional dentro de seu domínio. Com isso, 15 surgiram os diversos blocos de integração que conhecemos, como o CARICOM, o Mercosul e a atual Comunidade Andina. Se em um primeiro momento a integração regional desses novos blocos era pautada no neoliberalismo e no fortalecimento econômico e de mercado, nos anos 2000 a agenda também ganhou contornos de integração social e política nos moldes da União Europeia. Assim, propostas como a criação da ALCA pelos Estados Unidos (que integraria todo o continente) foram recusadas por se pautarem somente nas questões comerciais. Elas ignoravam o desnível das economias da região (umas mais desenvolvidas e outras muito pequenas, que poderiam desaparecer com uma livre concorrência). Por esse motivo, nesse tom mais sociopolítico, cria-se a União de Nações Sul-Americanas em 2008. A UNASUL leva em consideração as questões econômicas e cria uma autoridade regional capaz de dialogar com o SFI e com políticas econômicas nacionais de seus Estados-membros. Em 2009, foi criado o Banco do Sul, como agência financeira de desenvolvimento para a região, especialmente em políticas sociais e de infraestrutura nos moldes do neokeynesianismo. Para além da UNASUL e de outros blocos latino-americanos fora da América do Sul, existe ainda o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), criado em 1959 para financiar o desenvolvimento das nações americanas. Ainda que tenha surgido na Organização dos Estados Americanos, o BID hoje se pauta em alinhar as economias americanas, o que é visto por muitos críticos como uma organização a serviço dos Estados Unidos na região. Como sua sede fica nos Estados Unidos, o BID teria essa imagem de alinhar propostas de desenvolvimento às ideias estadunidenses e de implementar políticas econômicas nas nações que auxilia para favorecer os mercados de seus investidores. De modo geral, a região da América Latina conta com importantes agências de financiamento e práticas do SFI que não se limitam ao continente americano, como visto nas ações do BM e do FMI. Entretanto, desde o século XX, as nações latino-americanas buscam, com o apoio das demais nações no mundo, seu próprio caminho de se regular e se proteger das dinâmicas do SFI e do cenário econômico mundial. Muitas são as iniciativas que comprovam que as nações latino-americanas estão se fortalecendo diante das pressões externas e 16 sabendo lidar com os investimentos estrangeiros, aproveitando oportunidades em outros mercados ao redor do mundo. TEMA 5 – FLUXOS TRANSNACIONAIS O SFI e o cenário econômico mundial de hoje se sustentam a partir das dinâmicas transnacionais, ou seja, de investimentos e relações comerciais que nem sempre são controladas pelos governos. Moedas virtuais, canais de investimentos na internet e outros mecanismos questionam o controle dos governos estatais sobre os fluxos financeiros através de suas fronteiras. Essas dinâmicas transnacionais são alvo de iniciativas políticas que buscam controlar, fiscalizar e orientar suas práticas no seio dos governos. Se os vazamentos de informações sigilosas de governos impactam na saúde do mercado, os governantes buscam controlar ao máximo e punir seus responsáveis. Mas será que o Estado está perdendo essa batalha pelo controle da informação (especulação) e do capital? É cedo para afirmar que sim ou não, mas a questão já é relevante nos estudos do SFI e da economia mundial. Se os processos de integração regional buscam uma livre circulação de pessoas, bens e serviços, até que ponto essa livre circulação não questiona o futuro controle dos Estados? Muitos teóricos alegam que a integração regional cumpre exatamente essas ideias: diminuir barreiras e trazer maior liberdade aos indivíduos e ao mercado. Porém, a liberdade extrema de indivíduos e de mercados podem gerar crises que nenhum agente tradicional poderia conter. Se algo foge ao Estado, como ele poderia solucioná-lo? Em meio a tantas perguntas, uma possível resposta está nas novas práticas de governança global. Ao invés de governos, seria possível criar governanças, ou seja, responsabilidades compartilhadas entre governos, empresas, organizações internacionais, sociais e tantos outros agentes. Ao defender seus interesses, cada um estaria atento e teria recursos e mecanismos próprios para sanar desafios e crises comuns. Esse comunitarismo poderia solucionar o desafio dos governos de ter de controlar sozinhos as dinâmicas transnacionais. Mas até que ponto esses agentes se coordenariam de forma horizontal (igualitária) e não hierarquicamente? Para críticos desta forma de governança global, as empresas acabariam se colocando acima dos demais agentes, criando uma pirâmide que substitui o Estado (interesse coletivo) em favor do interesse de poucos (grandes empresários). 17 Para teóricos como David Friedman, esse cenário seria positivo, onde o anarcocapitalismo acabaria com os governos e promoveria os bens sociais por meio da inteira iniciativa privada. Já outros teóricos, como Milton Santos, defende que os governos ainda devem deter a grande autoridade e responsabilidade de defenderem o interesse coletivo, e não as empresas privadas. Mais uma vez, cabe ao futuro profissional estudar, pesquisar e compreender essa situação para se posicionar dentro do mercado de trabalho. TROCANDO IDEIAS O anarcocapitalismo, também conhecido como anarquismo da propriedade privada ou anarquismo de livre mercado, seria uma versão radical do liberalismo clássico somada ao anarquismo individualista. Isto é, a liberdade de deter a propriedade privada está atrelada à liberdade e à vida dos indivíduos, pois quaisquer formas de governo estatais são desnecessárias e prejudiciais à liberdade e ao bem-estar humano. Muitos ainda associam essa ideia ao libertarianismo, onde o Estado é a origem das disfunções sociais e dos desafios que enfrentamos hoje. Os adeptos do libertarianismo simpatizam com o anarcocapitalismo ao defenderem a total liberdade individual de escolhas, o que esbarra em um grande desafio: até onde a liberdade de um indivíduo não fere a dos demais? Essa questão é uma das grandes críticas que as respostas até hoje dadas não convenceram os líderes políticos de aplicarem essas ideias à risca. Enquanto o anarcocapitalismo defende a eliminação completa do Estado em favor da soberania individual em um livre mercado (nas ideias de Gustave de Molinari, Murray Rothbard e David Friedman), a social-democracia se firma em governos como os da Suécia, Noruega, Holanda e Dinamarca, reforçando o papel dos governos na manutenção do bem-estar social. Agora pense um pouco mais sobre qual seu posicionamento econômico e como os governos deveriam se adaptar às novas dinâmicas do SFI e do cenário econômico mundial. A reflexão é fundamental para o amadurecimento do conteúdo apresentado e em sua formação como um excelente profissional. Bons estudos! 18 NA PRÁTICA Como prática, a sugestão é diferenciar as relações entre o Banco Mundial (BM) e oFundo Monetário Internacional (FMI) em seus objetivos. Perceba que o Banco Mundial se aproxima mais ao desenvolvimento e que o FMI está ligado à solução das crises do sistema financeiro internacional. Olhe para a história da América Latina, como a do Brasil, e perceba em quais situações o BM e o FMI interviram em nossa economia e em nossas políticas públicas. Reflita criticamente sobre a relevância e atuação desses organismos internacionais diante do conteúdo apresentado neste módulo. FINALIZANDO Esta aula apresentou os diversos modelos econômicos vigentes atualmente, como o neoliberalismo, o neokeynesianismo e as economias planificadas (socialistas). Lembrando que esses não são os únicos modelos, mas os que mais se mostram representativos às dinâmicas econômicas mundiais e ao Sistema Financeiro Internacional (SFI). A economia mundial advém das economias nacionais e dinâmicas de mercado. Já o SFI foca-se na relação entre investidores e mercados, transpassando fronteiras nacionais em busca de lucro. Muitos desses investidores investem em dívidas de nações, esperando que elas se desenvolvam economicamente e paguem as dívidas contraídas com juros. Empresários também abrem seu capital para receber investimentos estrangeiros e financiar expansões e inserções em novos mercados internacionais. O SFI possui uma série de agentes que regulam e buscam manter a sua saúde, como o FMI às nações e as agências de desenvolvimento nacionais e internacionais, como o BNDS, no Brasil. Os setores público e privado fazem parte do SFI e estão subordinados aos reflexos da especulação financeira internacional e das crises. Cada nação e agente financeiro busca modelos e estratégias próprias para se proteger e se fortalecer em tempos de crise. 19 REFERÊNCIAS CINTRA, M. A. M.; GOMES, K. R. (Org.). As transformações no sistema financeiro internacional. Brasília: IPEA, 2012. CULPI, L. A. Empresas Transnacionais. Curitiba: InterSaberes, 2016. FREIRE, C. M. Internacionalização de empresas brasileiras: o caso de O Boticário. 143 f. Dissertação (Mestrado em Ciências em Administração) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.