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Economia Institucional I 2017 - Aula 2

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Economia Institucional I
 
Aula 2 
 
Trajetória das abordagens institucionalistas em economia: a velha e a nova economia institucional (temas, autores e periodização). 
 
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O contexto do surgimento da Economia Institucionalista Original (EIO)
Principais escolas de economia até o final do S. XIX. 
Mercantilistas
Clássicos
Marxistas
Neoclássicos
Situação dos EUA nesse período.
Fim da Guerra de Secessão
Industrialização
Populismo
Começo do surgimento dos oligopólios/trustes.
Conflitos sociais
EUA rumo a ser a maior potência econômica e política. 
A EIO surge nesse período
Algumas características estruturais da EIO - I
“Pais” da escola: 
Thorstein Veblen (1857-1929)
John R. Commons (1862-1945)
Principais obras de Veblen: 
Teoria da Classe Ociosa (1899).
Teoria da Empresa (1904).
O Instinto do Trabalho Eficaz e o Estado das Artes Industriais (1914).
Os Engenheiros e o Sistema de Preços (1921).
A Propriedade Absenteísta e os Negócios no Período Recente (1923).
Principais obras de Commons:
Os Fundamentos Legais do Capitalismo (1924).
Economia Institucional (1934).
A Economia da Ação Coletiva (1950)
Algumas características estruturais da EIO - II
EIO não é uma escola unificada, tem duas tradições principais:
Linha originada em Veblen (e em seu discípulo Clarence Ayres): centralidade da tecnologia, ou seja, como se modifica e se adapta a sociedade quando surgem inovações.
Linha originada em Commons: importância da resolução de conflitos. 
As visões de ambas linhas nem sempre são totalmente compatíveis, logo o institucionalismo não é uma escola no sentido doutrinário mais estrito
Esta escola foi provavelmente a mais importante nos EUA no período entre as guerras, perdendo importância a partir de 1945, aprox. 
Algumas características estruturais da EIO - III
Alguns nomes importantes que podem ser vinculados com maior ou menor ênfase ao institucionalismo original são os de Wesley Mitchell, Clarence Ayres, Gardiner Means, Gunnar Myrdal, Karl Polanyi, John Kenneth Galbraith, Dudley Dillard, Robert Heilbroner, Warren Samuels, Anne Mayhew e Geoffrey Hodgson. 
A associação mais conhecida entre as que agrupam estes economistas é a AFEE (Association for an Evolutionary Economics) que publica o Journal of Economic Issues. 
 Origens da EIO
Surgimento nos EUA do fim do século XIX: aumento da concentração de capital, surgimento das grandes corporações, acirramento dos conflitos sociais. 
Isso se contrapõe a uma tradição jeffersoniana/populista que fala da importância de uma sociedade de pequenos proprietários mais ou menos iguais. 
Difunde-se nessa época a perspectiva do darwinismo social, que sugere que os melhores merecem ter mais (e que o papel das pessoas na sociedade é reflexo disso).
Veblen sugere, em sentido oposto, que a seleção funciona ao nível das instituições, mas não premia os melhores ao nível individual.
Para Veblen, a tecnologia provoca mudanças sociais (papel instrumental), mas as instituições existentes brecam e/ou limitam as transformações (papel cerimonial), reforçando a estrutura social existente. 
Alguns pontos metodológicos da EIO
Para a EIO, nas ciências sociais mais importante do que prever é compreender. 
Assume-se que os elementos normativos estão presentes na elaboração de teorias, e por isso devem ser assumidos e discutidos. Isso não quer dizer que não se possa fazer nunca uma separação entre fato e valor.
O modelo de ciência social desejada não é uma imitação da física (ou das matemáticas). A formalização não é uma meta em si. Não se procura soluções de equilíbrio ótimas e únicas. 
Rejeita-se a contraposição entre individualismo metodológico e holismo. Entende-se que os indivíduos são moldados pela sociedade em que vivem (ou na que foram criados), porém sem serem marionetes da cultura. Não se nega a causação para cima típica do individualismo metodológico, mas acrescenta-se a ela a causação de cima para baixo do holismo ou CRD - Causação Reconstitutiva Descendente (para Hodgson, esta combinação é a característica distintiva da EIO).
A EIO e a formalização em economia 
Questão básica: “formalizar uma teoria não é apenas torná-la mais precisa; mais adequadamente, alguns aspectos da mesma são destacados para produzirem uma representação altamente idealizada dela” (Rutherford, 1996, p.7). 
EIO rejeita formalização (para alguns, isso significa que rejeita toda teorização).
Ênfase nos processos de mudança leva a questionar estudo de situações de equilíbrio. 
Importância da causação cumulativa → path dependence. 
Mitchell: teoria “dentro da investigação” → importância dos levantamentos empíricos.
 O conceito de instituições na EIO
Há muitas definições de instituições. 
Uma clássica é: “Instituições é meramente um termo conveniente para os mais importantes entre os hábitos sociais amplamente prevalecentes e altamente padronizados” (Mitchell, cit. em Neale, p.1178).
Outra definição bastante abrangente é: “São relações humanas que estruturam as oportunidades através de restrições (constraints) e permissões (enablements). Uma restrição para uma pessoa é uma oportunidade para outra. As instituições permitem que os indivíduos façam o que não conseguem fazer sozinhos. Elas estruturam os incentivos utilizados ao calcular as vantagens individuais. Elas afetam crenças e preferências, e dão dicas para a ação não-calculada. Elas fornecem ordem e previsibilidade à interação humana” (Schmid, 2004, p.1). 
Em qualquer caso,o importante é lembrar que não existe uma economia com mercado e sem instituições. Aliás, o próprio mercado é uma instituição fundamental. 
As preocupações da EIO - I 
A mudança tecnológica é a principal causa da mudança das sociedades.
As sociedades humanas têm divisões internas; os grupos dominantes tendem a manter sua posição utilizando mecanismos de poder e estabelecendo diferenciações artificiais entre as pessoas. 
O ser humano é racional, mas não exclusivamente. Os instintos e os hábitos são parte fundamental da conduta humana.
Cada sociedade cria um conjunto particular de normas, regras, leis, de conduta sociais e individuais que determinam o que é correto e errado, aceitável e inaceitável, etc. Essas normas, etc., são as instituições dessa sociedade. 
O mercado não gera automaticamente os melhores resultados do ponto de vista social.
Os juízos de valor sociais são parte da pesquisa, e eles próprios devem ser objeto de investigação. 
A intervenção do governo pode compensar ou reforçar os resultados do processo de mercado.
As preocupações da EIO - II 
O objeto de estudo é “a evolução do controle e da organização da economia como um todo” (Samuels, p.105), ou seja, não se concentra na alocação de recursos, etc. 
Disso decorre que a para os institucionalistas economia é mais do que os mercados. São as instituições as que delimitam os mercados, e é através delas que o mercado opera e que são gerados os resultados do mercado.
Parte de suas contribuições é uma contestação contra a economia de mercado existente, e também contra o corpo de teoria econômica existente, ao qual consideram muito influenciado pelas estruturas existentes.
A economia é uma ciência de políticas (policy science); a importância da pesquisa econômica é função de sua relevância para resolver problemas das sociedades através da mudança institucional.
 A ação dos indivíduos para a EIO 
EIO´s atribuem grande importância ao conceito de hábito.
Eles tiram seu conceito de hábito de William James, que entende o hábito como um “caminho de descarga formado no cérebro” (Rutherford, 1996, p.56).
Para Veblen, os hábitos são formados para alcançar objetivos (são ações voltadas a fins, mas não resolvidas caso a caso).
Para Mitchell, a visão da economia tradicional exagera o papel da racionalidade, mas esta é ainda assim muito importante. 
Commons entende que os hábitos permitem ter espaço para lidar com o inesperado. 
Todos os EIO´s enfatizam que as normas são muito mais fáceis de mudar do que os hábitos. Todavia, para Veblenessa mudança não pode ser consciente, mas Commons e Ayres acreditam que a ação intencional rumo à mudança pode ser bem sucedida.
Tecnologia e poder na EIO - I
A tecnologia é a força principal na evolução do sistemas econômicos (especialmente na tradição de Veblen-Ayres).
A escolha da (de uma) tecnologia entre as opções possíveis está sujeita ao jogo de poderes entre diferentes atores que pretendem canalizá-la de maneira conveniente para si.
A EIO entende que não podem ser estudadas coisas como propriedade, direitos, contratos, firmas (corporações), etc., sem pensar em termos de poder. 
O poder inclui a possibilidade de determinar preços, mas vai além dela. Mais corretamente, se centra “... no poder como participação na economia, decidindo quais interesses contam na alocação de recursos, na distribuição da renda bem como na determinação do nível de renda e de emprego” (Samuels, p.110). 
Tecnologia e poder na EIO - II
Para a EIO, a economia é um processo decisório discricionário no qual os (grupos de) atores manobram para conseguir posições melhores, e não um mecanismo neutro. Análises teóricas de como operam mercados ideais devem ser cuidadosamente diferenciadas do estudo dos mercados reais.
Os direitos não podem ser tomados como dados, exógenos ou pré-existentes, mas devem ser também objeto de análise. 
Aceita-se que ignorar a estrutura de poder existente serve para legitimar o status-quo. 
A percepção dos interesses e a formação das preferências dos indivíduos ocorrem dentro de uma cultura que está condicionada por essas estruturas de poder (os valores decorrem do poder, e o poder decorre dos valores). 
Macroeconomia e o papel do governo na EIO
A estrutura econômica encontra-se dividida entre um núcleo oligopolista (que origina um setor planejado na economia) e uma periferia competitiva.
A existência desta dualidade será central na determinação dos níveis de emprego, preço, renda, etc. 
Os EIO´s, em geral, avaliam que os governos têm estado mais preocupados em garantir as expectativas das grandes corporações do que em garantir o pleno emprego (todavia, Hodgson fala de que é difícil definir os EIO´s em termos de perspectiva política).
O governo desempenha um papel fundamental na economia, e sua presença não pode ser vista principalmente em termos da criação de ineficiências e distorções.
Uma questão fundamental não é se o governo deve ou não intervir, mas entender quem é favorecido pela sua intervenção ou omissão. 
Algumas características da Nova Economia Institucional (NEI)
“Pais” da escola: Ronald Coase, Oliver Williamson e Douglass North. 
	Todavia as visões deles nem sempre são compatíveis, logo o novo institucionalismo não é uma escola no sentido doutrinário mais estrito. 
Esta escola começa a existir como um movimento intelectual em meados dos anos 1970 (Williamson fala de sua existência no prefácio de “Markets and Hierarchies”, de 1975). 
Alguns pesquisadores que podem ser vinculados com maior ou menor ênfase à NEI são os de Paul Joskow, Claude Ménard, Yoram Barzel, Lee Alston, Gary Libecap e Avner Greif.
A associação que agrupa estes economistas é a SIOE (Society for Institutional and Organizational Economics), denominada até 2015 ISNIE (International Society for the New Institutional Economics) que foi fundada em 1997 e realiza conferências anuais desde então. 
 Não tem publicação oficial, embora alguns periódicos publiquem muitos trabalhos nesta orientação, como o Journal of Law, Economics and Organizations. 
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Aula 2 - Características da EIO e da NEI
Características do Pensamento da NEI - I
No site da SIOE encontra-se a seguinte definição da escola:
A SIOE [acrônimo inglês para “Sociedade para a Economia Institucional e Organizacional”] promove investigações teóricas e empíricas rigorosas sobre a natureza, comportamento e governança das organizações e instituições, usando abordagens oriundas da economia, da teoria das organizações, do direito, da ciência política e de outras ciências sociais.
Logo as questões fundamentais seriam:
Interdisciplinaridade
Predomínio da economia
Preocupação com as instituições e organizações.
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Aula 2 - Características da EIO e da NEI
Características do Pensamento da NEI - II
Instituições são relevantes para explicar o desempenho econômico
Instituições vistas como ‘regras do jogo’, restrições que balizam o agir dos indivíduos
	“Instituições são restrições, formais ou informais, construídas pelos seres humanos, que estruturam sua interação social, econômica e política”. (North 1991: 97).
Crescentemente, passa a se destacar que as instituições também desempenham um papel “informacional-cognitivo”, ou seja, passam a ser parte da maneira em que os indivíduos formam sua visão de mundo, deixando de ser unicamente restrições externas (Dequech, 2002)
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Aula 2 - Características da EIO e da NEI
Características do Pensamento da NEI - III
Para o presidente da SIOE, Serguei Guriev (no site da SIOE):
“O debate sobre o papel das institutições mudou em forma dramática desde que a ISNIE começou em 1996. A pesquisa em instituições virou parte do mainstream econômico. Estudos qualitativos e descritivos têm sido complementados por trabalhos quantitativos cada vez mais rigorosos, aplicando métodos econométricos modernos e sofisticados.”
Finalmente, Economia Organizacional seria:
“a aplicação da lógica e dos métodos econômicos para entender a natureza, desenho e e desempenho das organizações, especialmente aquelas que são administradas (managed), como as firmas de negócios (business firms).” (Gibbons & Roberts, 2015, no site da SIOE).
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Aula 2 - Características da EIO e da NEI
A NEI e o Mainstream - I
A NEI considera-se ‘diferente, mas não hostil’ em relação ao mainstream. Entende que este não dá boas respostas a problemas da maior importância para a compreensão da sociedade.
North: ‘honrosa exceção é teoria dos preços em economias desenvolvidas’.
As perguntas que orientam as pesquisas de ambas escolas são diferentes.
Tem maior permissividade com o relaxamento de pressupostos (racionalidade, informação, preferências dadas).
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Aula 2 - Características da EIO e da NEI
A NEI e o Mainstream - II
A atitude dos economistas da NEI é diferente daquela dos mainstreamers. Segundo Coase (1999, p.3): 
Os economistas, em termos gerais, não estudam o funcionamento do sistema econômico real. Eles teorizam sobre esse assunto. Como disse uma vez o economista inglês Ely Devons em uma conferência, “Se os economistas quisessem estudar os cavalos, eles não olhariam para os cavalos. Eles se sentariam em seus escritórios e pensariam: ’o que eu faria se fosse um cavalo?’” E descobririam logo que iriam maximizar sua utilidade. 
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Aula 2 - Características da EIO e da NEI
Questões metodológicas da NEI
A NEI defende uma pluralidade de abordagens:
- Estudos de Caso e História: indução		
- Modelos (formais ou não): dedução
- Economia experimental
Proposições empíricas e, preferencialmente, falseáveis.
Análises teóricas e empíricas devem ser interativas e evoluir conjuntamente. 
Em relação à EIO, a NEI acredita ter maior rigor analítico, pois suas análises seriam falseáveis e replicáveis, características que para eles não se encontram nas análises da EIO.
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Aula 2 - Características da EIO e da NEI
Esquema de 4 níveis para a análise social
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Contexto de regras informais
(normas sociais, ética, costumes etc.)
100 a 1000 anos
Ambiente institucional formal:
(Sistema político, leis e direitos de propriedade)
10 a 100 anos
Estruturas de Governança
(contratos, firmas, formas de organização interna)
1 a 10 anos
Decisão individual:
(teoria da agência, preferências, racionalidade)
Contínuo
Desempenho Econômico
renda; distribuição, pobreza, inovação, conflitos sociais e políticos etc.
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