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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE MATEMA´TICA - DMA PROGRAMA DE PO´S-GRADUAC¸A˜O EM MATEMA´TICA WENDELL BARROS DE SOUZA MEDIDA DE BOREL EM R SA˜O CRISTO´VA˜O-SE 2019 Cap´ıtulo 1 Medida de Borel em R Neste semina´rio construiremos uma teoria para mensurar subconjuntos em R tendo por base que a medida de um intervalo e´ seu comprimento. Iniciaremos com uma construc¸a˜o mais geral que produz uma ampla famı´lia de medidas em R cujo domı´nio e´ a σ-a´lgebra de Borel BR Definic¸a˜o 1.1. Uma medida e´ dita de Borel quando esta estiver definida sobre conjuntos de Borel em R, ou seja, o domı´nio e´ a σ-a´lgebra de Borel. Como motivac¸a˜o, suponhamos que µ e´ uma medida de Borel finita e seja F (x) = µ((−∞, x]), onde F e´ dita func¸a˜o distribuic¸a˜o de µ. Enta˜o, (i) F e´ na˜o-decrescente (ii) F e´ cont´ınua a` direita (iii) µ((a, b]) = F (b)− F (a), se b > a Nosso objetivo e´ inverter este processo e construir uma medida a partir de uma func¸a˜o na˜o- decrescente e cont´ınua a` direita. Obviamente no caso especial F (x) = x, temos o habitual comprimento de medida, ou seja, µ((a, b]) = F (b)− F (a) = b− a. Para isso, nossa teoria sera´ construida a partir dos seguintes intervalos (−∞, b], (a, b), (a,∞),R, ∅ com −∞ ≤ a < b <∞ . Estes sa˜o chamados de h-intervalos. A famı´lia Eh = {(−∞, b], (a, b), (a,∞),R, ∅ : a, b ∈ R e b > a} 1 dos h-intervalos e´ uma famı´lia elementar (ou seja, fechada para intersec¸o˜es finitas, o complementar de cada conjunto da famı´lia e´ unia˜o finita disjunta de conjuntos da famı´lia e ∅ ∈ E). Da´ı, por E ser uma famı´lia elementar, podemos concluir que a colec¸a˜o das unio˜es disjuntas e finitas de h-intervalos e´ uma a´lgebra que gera a σ-a´lgebra de Borel BR. Vejamos agora a seguinte proposic¸a˜o: Proposic¸a˜o 1.1. Seja F : R→ R na˜o-decrescente e cont´ınua a` direita. Sejam (aj , bj ] j = 1, . . . , n, com aj ≤ bj h-intervalos disjuntos dois a dois. Considere que µ0 ( ⋃ 1≤j≤n (aj , bj ] ) = n∑ j=1 [F (bj)− F (aj)] e µ(∅) = 0. Enta˜o, µ0 e´ uma pre´-medida. Demonstrac¸a˜o. Primeiramente notemos que µ0 ≥ 0 e que µ0 esta´ bem definida. De fato, µ0 ( ⋃ 1≤j≤n (aj , bj ] ) = n∑ j=1 [F (bj)− F (aj)] ≥ 0, pois bj ≥ aj e F e´ na˜o-decrescente. Logo, µ0 ≥ 0 Agora observemos que µ0 esta´ bem definida. Com efeito, se ((aj , bj ]) n j=1 e´ uma colec¸a˜o de elemnetos disjuntos dois a dois e ∪nj=1(aj , bj ] = (a, b], enta˜o ∪nj=1(aj , bj ] = (a1, b1] ∪ (a2, b2] ∪ (a3, b3] ∪ · · · ∪ (an−1, bn−1] ∪ (an, bn] = (a, b], onde a = a1 < b1 = a2 < b2 = a3 < b3 = · · · = an−1 < bn−1 = an < bn = b. Assim sendo, bj = aj+1, ∀ j = 1, 2, . . . , n. Consequentemente, F (bj) = F (aj+1), ∀ j = 1, 2, . . . , n. Assim os termos da soma acima se anulam ao momento que sa˜o somados, restando n∑ j=1 [F (bj)− F (aj)] = F (b)− F (a). Logo, µ0 ( ⋃ 1≤j≤n (aj , bj ] ) = µ((a, b]). 2 Mais geralmente, se (Ii) n i=1 e (Jj) m j=1 sa˜o colec¸o˜es de h-intervalos disjuntos dois a dois tais que n⋃ i=1 Ii = m⋃ j=1 Jj . Afirmamos que Ii = m⋃ j=1 (Ii ∩ Jj). Com efeito, Ii ∩ Jj ⊆ Ii ⇒ m⋃ j=1 (Ii ∩ Jj) ⊆ Ii. Por outro lado, seja x ∈ Jj . Como ⋃n i=1 Ii = ⋃m j=1 Jj , enta˜o x ∈ Ii, para algum i = 1, 2, , n. Da´ı x ∈ Ii ∩ Jj . Portanto, segue-se a igualdade. Analogamente, mostra-se que Jj = ∪ni=1(Ii ∩ Jj). Dessa forma, encontramos µ0(Ii) = µ0 [ m⋃ j=1 (Ii ∩ Jj) ] . Consequentemente, n∑ i=1 µ0(Ii) = n∑ i=1 µ0 [ m⋃ j=1 (Ii ∩ Jj) ] , onde considereamos que Ii ∩ Jj = (eij , fij ],∀ i = 1, 2, · · · , n e j = 1, 2, · · · ,m. Assim, por hipo´tese, obtemos n∑ i=1 µ0 [ m⋃ j=1 (Ii ∩ Jj) ] = n∑ i=1 m∑ j=1 [F (fij)− F (eij)] = m∑ j=1 n∑ i=1 [F (fij)− F (eij)] Da´ı, m∑ j=1 n∑ i=1 [F (fij)− F (eij)] = m∑ j=1 µ0 [ n⋃ i=1 (Ii ∩ Jj) ] = m∑ j=1 µ0(Jj). Portanto, n∑ i=1 µ0(Ii) = m∑ j=1 µ0(Jj). Assim, se Ii = (ai, bi], enta˜o n∑ i=1 µ0(Ii) = n∑ i=1 µ0((ai, bi]) = n∑ i=1 [F (bi)− F (ai)] = µ0(∪ni=1Ii). Do mesmo modo, se Jj = (cj , dj ], obtemos m∑ j=1 µ0(Jj) = m∑ j=1 µ0((cj , dj ]) = m∑ j=1 [F (dj)− F (cj)] = µ0(∪mj=1Jj). 3 Como ∑n i=1 µ0(Ii) = ∑m j=1 µ0(Jj), inferimos que µ0(∪ni=1Ii) = µ0(∪mj=1Jj). Logo, µ0 esta´ bem definida. Por fim, falta mostrar que se (Ii) n i=1 e´ uma sequeˆncia de h-intervalos disjuntos dois a dois com ⋃ i∈N Ii ∈ U , enta˜o µ0(∪i∈NIi) = ∑ µ0(Ii). Uma vez que ∪i∈NIi e´ uma unia˜o disjunta e finita de h-intervalos, a sequeˆncia (Ii)ni=1 pode ser dividida em um nu´mero finito de subsequeˆncias de tal forma que a unia˜o dos intervalos em cada subsequeˆncia e´ um u´nico h-intervalo. Ao considerar cada subsequeˆncia separadamente e utilizar a aditividade finita de µ0, podemos assumir que ∪i∈NIi e´ o h-intervalo I = (a, b].Neste caso, temos µ0(I) = µ0(∪i∈NIi) = µ0(∪ni=1Ii) + µ0(I\ ∪ni=1 Ii) ≥ µ0(∪ni=1Ii) = n∑ i=1 µ0(Ii), para todo n ∈ N, pois µ0(I\ ∪ni=1 Ii) ≥ 0, uma vez que, µ0 ≥ 0. Portanto, µ0(I) ≥ n∑ i=1 µ0(Ii). Passando ao limite, quando n→∞, obtemos µ0(I) ≥ ∑ µ0(Ii). Para provar a desigualdade inversa, denotaremos Ii por (ai, bi] e vamos supor primeiro que a e b sa˜o nu´meros reais. Como F e´ cont´ınua a` direita e na˜o-decrescente, enta˜o dado � > 0, existem δ, δi > 0 tais que F (a+ δ)− F (a) < � e F (bi + δi)− F (bi) < � 2i . Note que [a+ δ, b] ⊆ ∪i∈N(ai, bi + δi), pois (a, b] = ∪i∈N(ai, bi]. Estamos desconsiderando os intervalos que esta˜o inclusos em algum intervalo maior. Por compacidade, podemos admitir que [a+ δ, b] ⊆ N⋃ i=1 (ai, bi + δi), 4 onde os intervalos de tal unia˜o esta˜o dispostos de maneira crescente, isto e´, bi + δi ∈ (ai+1, bi+1 + δi+1),∀i = 1, · · · , N − 1, e tem um elemento do compacto em questa˜o. Da´ı, µ0(I) = µ0((a, b]) = F (b)− F (a). Como F (a+ δ)− F (a) < �, enta˜o F (b)− F (a) ≤ F (b)− F (a+ δ) + �. Ale´m disso, como F e´ decrescente, inferimos que F (b) ≤ F (bN + δN ), F (a+ δ) ≤ F (a1) e F (ai+1 ≤ F (bi + δi), pois b < bj + δj ≤ bN + δN , a+ δ ≤ a1(e)ai+1 < bi + δi. Desta maneira, temos que F (b)− F (a+ δ) + � ≤ N∑ i=1 [F (bi + δi)− F (ai)] + � = N∑ i=1 [F (bi + δi)− F (bi)] + N∑ i=1 [F (bi)− F (ai)] + �. Dessa forma µ0(I) ≤ N∑ i=1 [F (bi + δi)− F (bi)] + N∑ i=1 [F (bi)− F (ai)] + �. Como F (bi + δi)− F (bi) < �2i para cada i = 1, · · · , N e N∑ i=1 [F (bi)− F (ai)] = N∑ i=1 µ0((ai, bi]) = N∑ i=1 µ0(Ii). Conclu´ımos que N∑ i=1 [F (bi + δi)− F (bi)] + N∑ i=1 [F (bi)− F (ai)] + � ≤ N∑ i=1 � 2i + N∑ i=1 µ0(Ii) + �. Enta˜o encontramos µ0(I) ≤ ∑ � 2i + ∑ µ0(Ii) + � = ∑ µ0(Ii) + 2�. Como �e´ qualquer, podemos fazer � tentder a 0 e obter µ0(I) ≤ ∑ µ0(Ii). Por fim, µ0(I) = ∑ µ0(Ii). Terminando o argumento nos casos em que a e b sa˜o nu´meros reais. Se 5 a = −∞ para qualquer M <∞, o mesmo racioc´ınio e´ aplica´vel, inferindo-se a senguinte desigualdade F (b)− F (−M) ≤ ∑ µ0(Ii) + 2� Para o caso b =∞, obtemos F (M)− F (a) ≤ ∑ µ0(Ii) + 2�. Por fim, passando ao limite, quando �→ 0 e M →∞, chegamos ao resultado desenjado. Portanto, µ0(I) = ∑ µ0(Ii)⇒ µ0(∪i∈N(Ii) = ∑ µ0(Ii). Como por hipo´tese µ0(∅) = 0, conclui-se que µ0 e´ uma pre´-medida sobre a A´lgebra U . O pro´ximo resultado estabelece uma correspondeˆncia um a um entre medidas de Borel e func¸o˜es na˜o-decrescentes. Teorema 1.1. Se F : R→ R e´ uma func¸a˜o na˜o decrescente e cont´ınua a` direita, enta˜o existe uma u´nica medida de Borel µF em R tal que µF ( [a, b] ) = F (b)− F (a),∀ a, b. Se G : R→ R e´ uma outra func¸a˜o com as mesmas caracter´ısticas de F , temos que µF = µG⇔ F −G = c, para alguma constante c ∈ R. Reciprocamente, se µ e´ uma medida de Borel em R finita em todos os conjuntos de Borel limitados e definimos F (x) = µ((0, x]), se x > 0 0, se x = 0 −µ((0, x]), se x < 0 enta˜o F e´ na˜o-decrescente, cont´ınua a direita e µ = µF . Demonstrac¸a˜o. A pre´-medida µ0 originada por F e definida em U , satisfaz a fo´rmula µ0((a, b]) = F (b)− F (a). Como R = ∪n∈Z(n, n+ 1] e µ0((n, n+ 1]) <∞, enta˜o µ0 e´ σ-finita. Pelo Teorema da extensa˜o de Hahn, a pre´-medida µ0 e´ extens´ıvel de forma u´nica a uma medida µF sobre a σ-algebra dos conjuntos de Borel BR(a qual e´ gerada por U). Com isso, µF ((a, b]) = F (b)− F (a). 6 Ale´m disso, se G tem as mesmas caracter´ısticas F , enta˜o µF = µG ⇔ F −G = c para alguma constante c ∈ R. De fato, analisemos os seguintes casos: (i) Se x ≥ 0, tome a = 0, logo µF = µG ⇔ µF ((0, x]) = µG((0, x]) ⇔ F (x)− F (0) = G(x)−G(0) ⇔ F (x)−G(x) = F (0)−G(0) ⇔ F −G = c, onde c := F (0)−G(0) (ii) Se x < 0, tome b=0, logo µF = µG ⇔ µF ((x, 0]) = µG((x, 0]) ⇔ F (0)− F (x) = G(0)−G(x) ⇔ F (x)−G(x) = F (0)−G(0) ⇔ F −G = c, onde c := F (0)−G(0) Logo, µF = µG ⇔ F − G = c. Agora, suponha que µ e´ uma medida de Borel em R finita em todos os conjuntos de Borel limitados e defina F (x) = µ((0, x]), se x > 0 0, se x = 0 −µ((0, x]), se x < 0 Enta˜o, podemos concluir que µ e´ na˜o-decrescente ( pois, por µ ser uma medida⇒µ e´ mono´tona).Se x > 0 e xn ↘ x, enta˜o ⋂ (0, xn] = (0, x].Se x < 0 e xn ↘ x, enta˜o ⋃ (0, xn] = (0, x]. Portanto, em ambos os casos F (xn)↘ F (x) Por fim, µ = µF . Com efeito, considere os seguintes casos, (i) Seja 0 < a ≤ b. Temos que (a, b] = (0, b]\(0, a]. Da´ı, µ((a, b]) = µ((0, b]\(0, a]). Como (0, a] ⊆ (0, b] eµ((a, 0]) < +∞ 7 enta˜o µ((a, b]) = µ((0, b]\(0, a]) = µ((0, b])− µ((0, a]) = F (b)− F (a). Dessa forma, µ((a, b]) = µF ((a, b]). (ii) Seja a < b < 0. Veja que (a, b] = (a, 0]\(b, 0], onde(b, 0] ⊆ (a, 0]e µ((b, 0]),+∞, assim µ((a, b]) = µ((a, 0]\(b, 0]) = µ((a, 0])− µ((b, 0]) = −F (a) + F (b). Consequentemente µ((a, b]) = µF ((a, b]). (iii) Seja a < 0 < b. Observe que (a, b) = (a, 0]∪˙(0, b], logo µ((a, b]) = µ((a, 0]∪˙(0, b]) = µ((a, 0]) + µ((0, b]) = −F (a) + F (b) = F (b)− F (a). Dessa forma, µ((a, b]) = µF ((a, b]). (iv) Seja a = 0 = b. Da´ı µ((a, b]) = µ((0, 0]) = 0 = F (0)− F (0) = F (b)− F (a) Portanto, µ((a, b]) = µF ((a, b]). Isto mostra que µ((a, b]) = µF ((a, b]) em U , assim pelo Teorema da extensa˜o de Hahn, µ((a, b]) = µF ((a, b]) em BR. Antes de darmos in´ıcio a pro´xima sec¸a˜o vejamos as seguintes definic¸o˜es. Definic¸a˜o 1.2. Uma medida µ : M → [0,∞] e´ completa se M conte´m todos os subconjuntos de quaisquer conjuntos nulos. Teorema 1.2. Suponhamos (X,M, µ) um espac¸o de medida. Sejam (i) N = {N ∈M : µ(N ) = 0} ; (ii) M = {E ∪ F : E ∈M e F ⊂ N para algum N ∈ N} ; Enta˜o, M e´ uma σ-a´lgebra e existe uma u´nica extensa˜o µ, da medida µ, a uma medida sobre M. Ale´m disso, µ e´ completa. A medida µ no teorema acima e´ chamada de completamento de µ, e M e´ chamado completa- mento de M com respeito a µ 8 1.1 Medida de Lebesgue-Stieltjes A teoria de medidas exteriores fornece para cada F na˜o-decrescente e cont´ınua a direita, na˜o so´ a medida de Borel µF mas tambe´m a medida completa µF cujo domı´nio inclui a σ-a´lgebra de Borel BR. A medida de Lebesgue-Stieltjes associada a func¸a˜o F e´ o completamento da medida µF . Analisemos a regularidade das medidas de Lebesgue-Stieltjes. Fixada uma medida de Lebesgue- Stieltjes completa µ sobre R associada a func¸a˜o F na˜o-decrescente e cont´ınua a direita, e denotamos por Mµ o domı´nio de µ. E´ poss´ıvel concluir que, para cada E ∈Mµ, µ(E) = inf {∑ [F (bi)− F (ai)] : E ⊂ ⋃ i∈N (ai, bi] } = inf {∑ µ((ai, bi]) : E ⊂ ⋃ i∈N (ai, bi] } . Na primeira fo´rmula para µ(E) pode-se trocar h-intervalos por intervalos abertos. Lema 1.1. Seja E ∈Mµ. Enta˜o, µ(E) = inf {∑ µ((ai, bi)) : E ⊂ ⋃ i∈N (ai, bi) } . Demonstrac¸a˜o. (≤) Como e´ mono´tona e sub-adtiva, para E ⊂ ∪∞i=1(ai, bi) temos µ(E) ≤ µ ( ∪i∈N (ai, bi) ) ≤ ∑ i∈N µ(ai, bi). (≥) Seja µ(E) finito ( ou na˜o), dado � > 0 existe uma sequeˆncia de intervalos fechados a` direita {(ai, bi]}N com E ⊂ ∪i(ai, bi]e ∑ i µ((ai, bi]) ≤ µ(E) + �. Como a func¸a˜o F e´ cont´ınua a` direita, para todo i ∈ N existe δi > 0 tal que µ((bi, bi + δi]) = F (bi, bi + δi)− F (bi) < � 2i . Logo, temos E ⊂ ∪i(ai, bi + δi) e tambe´m ∑ i µ((ai, bi + δi)) ≤ ∑ i µ((ai, bi]) + ∑ i µ((bi, bi + δi]) ≤ µ(E) + 2�. Teorema 1.3 (A Regularidade das Medidas de Lebesgue-Stieltjes). : Seja E ∈Mµ. Enta˜o, µ(E) = inf {µ(U) : E ⊂ U e U e´ aberto} = sup {µ(K) : E ⊂ K e K e´ compacto} . 9 1.2 Medida de Lebesgue A medida de Lebesgue e´ a medida completa µ = µF associada a` func¸a˜o identidade F (x) = x. Indicamos a medida de Lebesgue por m. O domı´nio de m e´ chamado a classe dos conjuntos mensura´veis a` Lebesgue. Tal conjunto sera´ denotado por L. A restric¸a˜o de m a BR e´ tambe´m dita medida de Lebesgue. Teorema 1.4. Se E ⊂ R e t, r ∈ R, considere a translac¸a˜o e a dilatac¸a˜o de E: E + t = {x+ t : x ∈ E} e rE = {rx : x ∈ E} . Se E ∈ L, enta˜o E + t ∈ L e rE ∈ L para todos t, r ∈ R. Ale´m disso, m(E + t) = m(E) e m(rE) = |r|m(E). Demonstrac¸a˜o. Sabemos que se E e´ uma aberto enta˜o E + t e rE tambe´m sa˜o. O mesmo vale para BR. Defina, sobre BR, as seguintes medidas mt(E) = m(E + t) e mr(E) = m(rE). Note que que mt e mr coincidem, respectivamente, com m e |r|m em intervalos limitados. De fato, mt((a, b]) = m((a, b] + t) = µ((a+ t, b+ t]) = b+ t− (a+ t)− (a+ t) = b− a = µ((a, b]) e tambe´m temos que mr((a, b]) = m(r(a, b]) = µ((ra, rb]), se r ≥ 0µ((rb, ra]), se r < 0 = r(b− a), se r ≥ 0−r(b− a), se r < 0 ou seja, µ((a, b]) = |r|µ((a, b]). Pelo teorema da extensa˜o de Hahn, inferismos que mt = m e mr = |r|µ em BR. Em particular, se E ∈ BR e´ tal que m(E) = 0 segue que m(E + t) = m(E) = 0rE = |r|m(E) = 0, logo segue o resultado para L ( basta utilizar a definic¸a˜o de completamento). 10 1.3 O conjunto de Cantor A medida de Lebesgue de um conjunto unita´rio {x}, consistindo de um u´nico ponto e´ 0. Seja An = (x− 1/n, n+ 1/n), ∀ n ∈ N. Note que An+1 ⊆ An. Com efeito, seja a ∈ An+1, enta˜o a ∈ ( x− 1 n+ 1 , x+ 1 n+ 1 ) . Portanto, x− 1 n+ 1 < a < x+ 1 n+ 1 Veja que x− 1 n < x− 1 n+ 1 ⇔ −1 n < −1 n+ 1 ⇔ 1 n > 1 n+ 1 ⇔ n+ 1 > n⇔ 1 > 0. De mesmo modo, observe que x+ 1 n+ 1 < x+ 1 n ⇔ 1 n+ 1 < 1 n ⇔ n+ 1⇔ 0 < 1. Logo, x− 1 n < a < x+ 1 n . Assim a ∈ (x− 1/n, n+ 1/n), ∀ n ∈ N. Portanto, An+1 ⊆ An. Da´ı, m ( ⋂ n∈N An ) = lim n→∞m(An). Obviamente, temos que ⋂ n∈N An = {x} . Logo, m({x}) = m ( ⋂ n∈N An ) = lim n→∞m(An) = limn→∞m (( x− 1 n , x+ 1 n )) . Dessa forma , m({x}) = lim n→∞ 2 n = 0. Consequentemente, a medida de Lebesgue de qualquer conjunto enumera´vel {xn}n∈N tambe´m e´ 0, pois m({xn}n∈N) = m ( ⋃ n∈N {xn} ) = ∑ m({xn}) = 0. Em particular, como N, Z e Q sa˜o enumera´veis, temos que m(N) = m(Z) = m(Q) = 0. Um exemplo de um conjunto na˜o-enumera´vel de medida nula e´ o conjunto de Cantor. Mostraremos uma maneira de 11 como construir o conjunto de Cantor. Para cada x ∈ [0, 1] possui uma u´nica representac¸a˜o decimal na base 3, a menos que x = p3q para alguns p, q ∈ Z. Esta e´ dada por x = ∑ xn 3n , com xn = 0, 1 ou 2. Caso x = p3q , existem duas representac¸o˜es poss´ıveis para este nu´mero, uma com xn = 0 para todo n > q e ouutra com xn = 2 para todo n > q. No u´ltimo caso,temos que ∞∑ n=q+1 2 3n = 2 3n+1 ∞∑ n=0 1 3n = 1 3q . Defimos o conjunto de Cantor atrave´s da seguinte igualdade C = { x ∈ [0, 1] : x = ∑ xn 3n , com xn 6= 1, ∀n ∈ N } , isto e´, C e´ encontrado da seguinte maneira: retiramos de [0, 1] o seu terc¸o me´dio aberto ( 1 3 , 2 3 ) ; em seguida, excluimos os terc¸os me´dios abertos de [ 0, 13 ] e [ 2 3 , 1 ] , isto e´, elimina-se os conjuntos ( 1 9 , 2 9 ) e( 7 9 , 8 9 ) , sobrando os intervalos fechados [ 0, 19 ] , [ 2 9 , 1 3 ] , [ 2 3 , 7 9 ] e [ 8 9 , 1 ] . O processo segue este percurso. Proposic¸a˜o 1.2. Seja C o conjunto de Cantor, enta˜o m(C) = 0. Demonstrac¸a˜o. Note que C e´ obtido eliminando um intervalo de comprimento 13 , dois de tamanho 1 9 , quatro de diaˆmetro 127 , e seguimos este racioc´ınio indutivamente. Logo, m(C) = 1− ∑ 2n−1 3n = 1− 1 3 ∞∑ n=0 ( 2 3 )n = 1− 1 3 1 1− 23 = 0, pois m([0, 1]) = m({0} ∪ (0, 1]) = m({0}) +m((0, 1]) = 1. 12 Refereˆncias Bibliogra´ficas [1] FOLLAND, G. B. Real Analysis Modern Techniques and Their Applications. Pure and Applied Mathematics (New York) (Second ed.) New York: John Wiley Sons Inc; 1999. [2] BARTLE, Robert G.; SCHERBAK, I. The Elements of Integration and Lebesgue Measure. 1◦ Ed. Wiley-Interscience; 1995. [3] OLIVEIRA, Oswaldo R.B. Medida e Integrac¸a˜o. Notas de aula; 2016. 13
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