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Menor Infrator e a Psicologia Jurídica
Thiago Fernandes de Carvalho (UNIFAMA) thy.gos@hotmail.com
Edivan da Silva Rodrigues Novais (UNIFAMA) edivan14bis_@hotmail.com
Amanda Sgarbi Negrete Garcia (UNIFAMA) amandasgarbi@hotmail.com
Micaeli de Oliveira Santos (UNIFAMA) micaelisantosoliveira.2019@gmail.com
Resumo: O artigo visa apresentar um estudo sobre as atribuições e importância da atuação do Psicólogo Jurídico. Sua atuação é bem mais ampla que a elaboração de laudos e pareceres, e não tão somente diagnosticar, mas contribuir e promover a ressocialização do egresso a sociedade. Objetivamos contextualizar através de analise bibliográfica a atuação do Psicólogo jurídico frente a ressocialização de egressos e sua contribuição frente ao atendimento de menores infratores, trabalhando a multidisciplinaridade com o Direito e a Psicologia.
Palavras-chaves: menor infrator; direito; medidas socioeducativas.
Introdução 
Dentre as subdivisões da Psicologia, encontramos a Psicologia Forense ou Jurídica, uma área em ascensão, que vem conquistando cada vez mais espaço nas esferas acadêmicas. A Psicologia Forense objetiva estudar o comportamento humano no âmbito relação social e justiça, podemos citar como exemplo, as disputas de guarda compartilhadas e as medidas socioeducativas cumpridas por adolescentes infratores. 
Este artigo irá abordar a crescente criminalidade no Brasil, dando ênfase a criminalidade praticada por menores infratores. O aumento do índice de crimes gera sensação de insegurança, diante disto, os menores infratores que cometem atos infracionais são passiveis de medidas punitivas.
Estas medidas socioeducativas são estabelecidas pela Lei 8.069 de 13 de julho de 1990, dispostas no Art. 146, que são:
I – Advertência; 
II – Obrigação de reparar o dano;
III – Prestação de serviços à comunidade; 
IV – Liberdade assistida;
V – Inserção em regime de semiliberdade;
VI – Internação em estabelecimento educacional.
As medidas supracitadas foram impostas com o objetivo de reeducar e integrar o menor à família e a sociedade, porém as mesmas, mostram-se pouco eficientes. As unidades mão possuem tratamento especializado, são insuficientes, limitando-se ao isolamento social e restrição de atividades. Ao impor tais condições, sabe-se que o indivíduo, não terá uma correção efetiva, grande parte das vezes, o menor ao sair encontra-se mais violento e agressivo do que quando entrou na instituição, pois o mesmo sente-se inútil e ao sofrer castigos, torna-se reincidente ao delito praticado. Muitos egressos afirmam “não saber fazer nada”, muitos não possuem estudo ou pais presentes e precisam de certa forma sustentar a família e “dar melhor condição à mãe”, então praticam o que “sabem fazer”.
Atuação do Psicólogo Jurídico
O que leva uma criança ou adolescente a optar pelo mundo da violência e do crime? Por que ainda cedo tornam-se delinquentes? Por que ser rotulado de menor infrator e continuar cometendo crimes?
Paula Gomide (2008, pg. 35-49) diz que o lar é um lugar de aprendizado onde as figuras paternas – mãe e pai – são os principais exemplos de comportamento, onde a crianças os observará e imitará tais comportamentos.
Marjorie Cristina Rocha da Silva (2008) diz que os pais são importantes modelos para os filhos, e que os comportamentos dos pais em relação aos filhos influenciam os padrões de comportamento observados nas crianças. A autora define quatro estágios de comportamento que influenciam a conduta social das crianças. O primeiro estágio é definido por comportamentos ou ações da família, como por exemplo, uso e abuso de substâncias tóxicas, nenhuma ou pouca presença de avós ou avós e pais antissociais. O segundo estágio pode ser definido por fatores considerados como estresses sociais, por exemplo a pobreza, o desemprego ou vizinhança violenta. O terceiro estágio é definido como o temperamento da criança, como por exemplo hiperatividade, oposição, insônia, entre outros e o quarto estágio é definido a praticas educacionais ou de ensino ineficazes como por exemplo, gritos, surras ou superproteção dos pais.
O menor então a partir da observação dos modelos supracitados passa a não mais diferenciar seus comportamentos, não percebendo o quanto seus comportamentos são violentos, quanto tempo os pratica e nem a satisfação ao fazê-lo. O menor então passa a conviver com indivíduos semelhantes, usando-os como modelos de referência.
Inúmeros estudos apontam a relação estreita entre a dinâmica familiar e o desenvolvimento de praticas infracionais. Não se tem conhecimento cientifico se há uma pré-disposição genética em relação a atos criminosos, mas, há estudos que demonstram a relação de menores infratores com pais que praticam atos criminosos ou são reincidentes na pratica criminal.
Paula Gomide (2008, pg. 35-49) diz que não se trata de uma análise de fatores biológicos, mas se a espécie está sendo programada ou influenciada pelo modo de vida. Mas havendo ou não pré-disposição genética, estudos comprovam que o comportamento só será desenvolvido se houver condições propicias a tais atos.
Marjorie Cristina Rocha da Silva (2008) afirma que crianças que foram expostas a punições injustificáveis, sofre uma defasagem de valores morais, não sabendo definir o certo ou errado, tendenciados a procurar grupos desviantes, tornando-se facilmente persuadidos. Os menores que sofreram abusos físicos e sexuais, tendem ao abuso de substâncias tóxicas, havendo uma correlação entre o abuso de substâncias e comportamento antissociais.
Marjorie Cristina Rocha da Silva (2008) afirma que há uma forte relação entre carência afetiva e criminalidade, sendo possível dizer que modelos violentos, geram modelos violentos, favorecendo o comportamento dos filhos, validando a frase “violência gera violência”, esse fato segundo a autora supracitada recebe o nome de transmissão intergeracional da violência.
Nota-se que a escola também influencia e modifica comportamentos, criando novos valores. Fiorelli e Mangini (2009) afirma que a escola é fonte de graves distorções comportamentais, servindo de entrada para o uso de substâncias ilícitas e comportamentos violentos.
Estudos demonstram que a história de vida, imitação de comportamentos aprendidos “tanto em casa quanto na rua” são importantes fatores de comportamentos violentos posteriores. Uma criança que sofre maus tratos, é negligenciada ou não teve a presença de uma figura materna/paterna na sua infância/adolescência, assim como aquela em que os pais não tem nenhum tipo de controle ou utilizam de punições injustificadas, tendem a favorecer um comportamento antissocial.
 Marjorie Cristina Rocha da Silva (2008) afirma que a disciplina sem cuidado, é que está definida por não cumprimento de regras estabelecidas. Esses menores são ameaços pelos pais, mas quando se confrontam com comportamentos agressivos, omitem-se, deixando de cumprir as regras estabelecidas. A doutrina, afirma que a família, como primeiro contato social, vai estabelecer os padrões comportamentais das crianças. Assim as crianças que são cuidadas com uma disciplina “solta”, estão propicias a desenvolverem comportamentos violentos, haja visto que os comportamentos de agressividade e oposição, desenvolvem-se onde não há disciplina. Em relação a punições injustificadas Marjorie Cristina Rocha da Silva (2008), diz que é uma falha utilizar tal método educativo, porque a punição caracteriza-se pelo humor dos pais e não em conformidade com o comportamento do menor, havendo instabilidade nas consequências comportamentais, o menor não sabe mais como agir, e aprende a distinguir o humor dos pais, do que agir de maneira correta.
Segundo Marjorie Cristina Rocha da Silva (2008) há uma ligação entre a carência afetiva e pratica de crimes, segundo a autora a carência prejudica a capacidade de construção de relações afetivas com outras pessoas, ocasionando a ausência de remorso ao praticar crimes violentos.
Um menor que sofre maus tratos no lar, negligencia, punições injustificadas, pais ausentes e cruéis, sentem-se rejeitadas,considerando-se inferiores aos demais da sociedade, diminuindo sua baixa autoestima. Estudos demonstram que menores com a baixa autoestima, são persuadidas facilmente, sendo que as condutas antissociais produzem uma sensação de compensação, como cometer atos infracionais, que funciona como uma compensação, por que aumenta o conceito do menor. Esses menores tendem a procurar pares desviantes, ou seja, amigos que cometem crimes, e escolhem o mesmo como uma referencial.
Para Paula Gomide (2008, pg. 35-49), o adolescente que está inserido em grupos, tem propensão a cometer atos infracionais, haja visto, que os jovens aceitam correr um risco maior em grupo, do que sozinhos. Em grupo a responsabilidade se desfaz, reduzindo a ansiedade. A autora também pontua, que um dos fatores determinantes, é a conformidade social, que este menor está inserido, relacionado a pobreza, miséria, provocações, etc..., desta forma, sentem-se insatisfeitos com o meio social e “vão à luta a sua própria maneira”.
O menor é passível de aprendizado, sendo possível estabelecer valores sociais novos, e desencorajar que surjam comportamentos antissociais, ensinando-o a desenvolver novos meios de direcionar suas aflições. Assim temos a importância de campanhas elucidativas e educativas, prevenindo a criminalidade e a violência, fazendo com que o menor tenha ciência dos seus atos e os danos causados a sociedade. Importante salientar, que estas campanhas trazem a ciência, dos malefícios causados a crianças que são abusadas, violentadas, abandonadas e castigadas continuadamente sem justificativas.
As relações parentais atuam nos comportamentos dos menores, assim é importante desenvolver estratégias de intervenções com os pais, para que aprendam a ter atitudes corretas com os filhos.
Faz-se necessário prestar apoio psicológico ao menor e as famílias, oferecendo medidas socioeducativas, fazendo com que esse menor, sinta-se útil, e possa descobrir novas experiencias como o gosto pela leitura, musica, esportes, artes, etc.... Esse menor ao assimilar novos conhecimentos e adquirir repertórios comportamentais e assertivos, possa ser reinserido novamente a sociedade, sendo tratado como os demais, resgatando sua dignidade, ensinando novos valores e meios de equiparação, afim de que desenvolva novas habilidades sociais.
A doutrina e novos estudos são assertivos e categóricos na reversão de comportamentos sociais de menores envolvidos em práticas criminais, propostas como as anteriormente supracitadas mostraram-se eficientes, são medidas que proporcionam acolhimento e segurança, aumentando a autoestima do menor e prevenindo a sua reincidência criminal.
Campanhas de prevenção a violência e a criminalidade, são vistas como medidas eficazes, assim como ações de prevenção a marginalização e exclusão do menor, somadas as ações que potencializem a educação e a qualificação profissional. Assim, a proposta ideal para que comportamentos antissociais, não venham a ocorrer, é desenvolver ações de intervenção que possam reverter os quadros supracitados, prevenindo índices de reincidência de atos infracionais, favorecendo o aprendizado de novos repertórios comportamentais e habilidades sociais empáticas.
Conclusão 
Este artigo procurou esclarecer os fatores que são determinantes ao levar um menor a cometer atos infracionais, embasada em referências bibliográficas de Paula Gomide e Marjorie Cristina Rocha da Silva que são categóricas ao afirmar que os comportamentos reproduzidos pro menores infratores, foram transmitidos no lar, tendo em vista que os pais são o principal referencial de modelo e as práticas educativas parentais influenciam os padrões comportamentais. Há vários fatores que são desencadeantes, mas esse menor só tornar um criminoso, se houver um ambiente familiar propicio. Neste trabalho, procuramos sugerir, propostas a serrem desenvolvidas que se mostrem eficientes e não firam a dignidade do menor.
Concluímos que da mesma forma em que o menor reproduz as práticas que foram ensinadas, é possível ensinar novos repertórios comportamentais, afim de que esse menor desenvolva habilidades sociais empáticas, resgatando sua dignidade e revertendo o quadro que lhe foi ensinado.
As estratégias de trabalho intervencionais com os pais, são importantíssimas, para que estes desenvolvam atitudes corretas com os filhos, que reproduzem seus comportamentos, fazendo-se necessário trabalhar com a família, compartilhando experiências e desenvolvendo novas habilidades.
Bibliografia 
CESCA, Taís Burin. O papel do psicólogo jurídico na violência intrafamiliar: possíveis articulações. Disponível em : http://www.scielo.br/pdf/psoc/v16n3/a06v16n3 . Acesso em 10 de junho de 2019.
FIORELLI, J. O. MANGINI, R.C.R. Um olhar sobre o delinquente. In: FIORELLI, J. O. MANGINI, R.C. R. Psicologia Jurídica. São Paulo: Atlas, 2009.pgs 222 - 240.
FRANÇA, Fátima. Reflexões sobre psicologia jurídica e seu panorama no Brasil. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ptp/v6n1/v6n1a06.pdf. Acesso em 10 de junho de 2019.
GOMIDE, P. Determinantes do comportamento Infrator. In: GOMIDE, P. Menor – Infrator – A caminho de um novo tempo. Curitiba. Juruá, 2009. pgs 35-49.
SILVA, Marjorie Cristina Rocha da; FONTANA, Elisandra. Psicologia Jurídica: caracterização da pratica e instrumentos utilizados. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-64072011000100005. Acesso em 10 de junho de 2019.

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