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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO DISCIPLINA: DIREITO DA SEGURIDADE SOCIAL 2019.1 A RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR DENTRO DO LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO-TRABALHISTA Anne Amélia de Araújo Cunha1 Leon Vitor de Brito Francelino2 Maria Carolina de Oliveira Camargo3 Coordenador: Prof. Raimundo Paulino Cavalcante Filho RESUMO: O limbo jurídico previdenciário-trabalhista ocorre diante da constatação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) da capacidade laborativa do empregado, cessando o recebimento do auxílio doença, e o exame médico da empresa, por sua vez, conclui pela incapacidade do trabalhador de exercer suas funções. Desta forma, o empregado fica impedido de voltar a seu cargo e de receber o auxílio. Neste artigo busca-se estudar o conceito de limbo previdenciário trabalhista, definindo os limites de responsabilidade do empregador dentro dele, tal como as soluções que podem ser adotadas diante desta situação. Palavras-chaves: direito do trabalho, seguridade social, limbo jurídico. ABSTRACT: The social-security legal limbo occurs when the National Social Security Institute (INSS) deems the employee capable of working, ceasing their sickness aid, while the 1 Acadêmica de Direito da Universidade Federal de Roraima. anneaacunhaa@gmail.com 2 Acadêmico de Direito da Universidade Federal de Roraima. leon.97.lf@gmail.com 3 Acadêmica de Direito da Universidade Federal de Roraima. maria.camarg@gmail.com company's medical examination finds the worker incapable of exercising their functions. The employee is prevented from returning to his job and, at the same time, to receive the government’s aid. This paper seeks to study the social-security legal limbo, defining the limits of the employer’s responsibility within it, as well the solutions that can be adopted in this situation. Key words: labour law, social security, legal limbo. SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO; 1. INTRODUÇÃO Artigo realizado sob a orientação do Prof. Raimundo Paulino Cavalcante Filho, apresentado como requisito para a conclusão da disciplina de Direito da Seguridade Social, do curso de Bacharelado em Direito da Universidade Federal de Roraima. Os objetivos da pesquisa concentram-se em analisar o fenômeno denominado de limbo jurídico previdenciário-trabalhista, buscando entender as consequências deste limbo para o empregado e qual deve ser a responsabilização do empregado no âmbito trabalhista. Para realização de tal estudo, será feita uma análise, explicando de forma sucinta o funcionamento do auxílio-doença dentro da seguridade social, a suspensão do contrato de trabalho, a conceituação do limbo jurídico trabalhista-previdenciário e finalmente, a responsabilidade do empregador. Busca-se responder quais as consequências de tal fenômeno, desdobramentos jurídicos e fáticos, e meios de responsabilizar o empregador, de forma a amparar o empregado, que se encontra vulnerável diante do limbo jurídico. Pesquisa acadêmica realizada utilizando método qualitativo e conceitual, através de pesquisa bibliográfica dos materiais publicados sobre o tema, jurisprudência e análise da legislação, em especial a Consolidação das Leis do Trabalho. SEGURIDADE SOCIAL A Seguridade Social está prevista e conceituada no caput do artigo 194 da Constituição Federal, como um "um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social". Dentro desta seara estão previstos vários dispositivos para amparar o cidadão que se encontra em alguma situação que necessite do apoio do sistema de Seguridade Social como por exemplo a aposentadoria para os idosos, a proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário por meio do seguro desemprego, a licença maternidade, a pensão por morte percebida pelos parentes pelo trabalhador, o auxílio reclusão fornecido aos familiares dos presos que possuem baixa renda, e por fim o instituto que será abordado no presente artigo o auxílio-doença. SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO Para os fins do presente artigo se faz necessário a compreensão dos dois conceitos supracitados principalmente para a análise do conceito de auxílio-doença, que está diretamente ligado ao tema do limbo jurídico previdenciário trabalhista. Na Consolidação das Leis do Trabalho os institutos da Suspensão do Contrato de trabalho e da Interrupção do contrato de trabalho são tratados de forma conjunta no Capítulo IV do Título IV, entre os artigos 471 e 476 - A. Isto ocorre em decorrência das características em comum dos institutos, ambos abordam uma situação na qual o trabalhador estará temporariamente fora da disposição do seu empregador sendo mantida, no entanto, a relação jurídica de emprego. A legislação estabelece: Art. 471. Ao empregado afastado do emprego, são asseguradas, por ocasião de sua volta, todas as vantagens que, em sua ausência, tenham sido atribuídas à categoria a que pertencia na empresa. E da mesma forma a doutrina elucida: “No curso do contrato de trabalho, este pode sofrer certos eventos que signifiquem a ausência de prestação de serviços, mas sem acarretar a cessação do vínculo de emprego. São as hipóteses de suspensão e interrupção do contrato de trabalho, conforme terminologia indicada no Capítulo IV, do Título IV, da Consolidação das Leis do Trabalho. Embora os referidos termos possam receber certas críticas por parte de alguns autores na doutrina, encontram-se adotados em nosso sistema de direito positivo. Na realidade, o que fica suspenso não é o contrato de emprego em si (que permanece em vigor), mas sim os seus efeitos principais, especialmente quanto à prestação do trabalho.” (GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa)¹ Especificamente sobre a interrupção observa-se a especificação: “Desta forma, pode-se inferir que, durante a interrupção contratual, não há trabalho, mas há salário, e o tempo de afastamento do trabalhador é considerado como de serviço para os efeitos legais.” (SILVA, Natália Augusta Sampaio.) ² Em resumo, na suspensão não ocorre o pagamento de salários da mesma forma em que não será computado o tempo de afastamento como tempo de serviço, sendo conhecida doutrinariamente como suspensão total, pois paralisa temporariamente além da prestação dos serviços, as obrigações patronais e qualquer outro efeito do contrato enquanto perdurar a paralisação dos serviços. Enquanto a interrupção é considera uma suspensão parcial, por suspender apenas a prestação do serviço sendo mantidas as demais obrigações por parte do empregador. Alguns exemplos de Interrupção e Suspensão do contrato de trabalho são: INTERRUPÇÃO SUSPENSÃO Licença-maternidade; Repousos semanais remunerados e feriados; Gozo de férias anuais; Faltas justificadas pelo empregador; Falecimento do cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua CTPS, que viva sob sua dependência econômica (até 2 dias); Casamento (até 3 dias); Doação voluntária de sangue devidamente comprovada (um dia em cada 12 meses de trabalho); Alistamento como eleitor (até 2 dias consecutivos ou não); Faltas injustificadas ao serviço; Período de suspensão disciplinar; Período em que o empregado estiver recebendo auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez (enquanto não se tornar definitiva a aposentadoria), pagos pela Previdência Social; Tempo em que o empregado se ausentar do trabalho para desempenhar as funções de administração sindical ou representação profissional, que será considerado como de licença não-remunerada, salvo assentimento da empresa ou cláusula contratual; AUXÍLIO DOENÇA O auxílio-doença está previsto na legislação brasileira nos artigos 476 da CLT e no artigo 60 da lei 8.213/91, com destaque do parágrafo 3º, que estabelecem: Art. 476 - Em caso de seguro-doença ou auxílio-enfermidade, o empregado é considerado em licença não remunerada, durante o prazo desse benefício. Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz. [...] § 3o Durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral. Como fica claro na análise dos artigos supracitados em caso em enfermidade o pagamento dos vencimentos do empregado é feito pelo empregador até o 15º dia de afastamento se tratando de uma interrupção no contrato de trabalho, a partir do 16º dia o empregado está apto para receber o auxílio-doença propriamente dito e é feito pelo INSS, desobrigando assim o empregador deste ônus, se tratando de uma suspensão do contrato de trabalho. LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO-TRABALHISTA Popularmente o termo “limbo” compreende um significado de estar incerto ou indefinido. Por tais razões foi o termo utilizado para a denominação, a qual então temos uma problemática que é ignorada, tanto no âmbito doutrinário quanto no jurisprudencial. Em síntese ocorreria uma ausência de trabalho, como também de salário e benefício previdenciário. A problemática supracitada nos proporciona a observância de que a ausência de uma solução para o entrave desta ausência de assistência ao trabalhador, que não pode receber o benefício previdenciário e também não pode retornar ao seu trabalho como normalmente remunerado. A ausência de uma resolução destes conflitos, ocasiona um grande vulto processual, com significativo número de litígios, tende a findar em aumento dos conflitos judiciais observando que o trabalhador fica desassistido, numa situação de incerteza, o que acaba por gerar uma situação de questionamento da efetividade real dos direitos fundamentais sociais e da reinserção e solidariedade na sociedade. “os direitos sociais de cunho prestacional encontram-se a serviço da igualdade e da liberdade material, objetivando a proteção da pessoa contra as necessidades de ordem material e a garantia de uma existência com dignidade, isto é, com um “mińimo existencial”, compreendido aqui de forma conexa ao princiṕio da dignidade e que abrange não apenas “um conjunto de prestações suficientes apenas para assegurar a existência (a garantia da vida humana - aqui seria o caso de um mińimo apenas vital) mas, mais do que isso, uma vida com dignidade, no sentido de uma vida saudável, como deflui do conceito de dignidade”. (SARLET, Ingo Wolfgang)³ Compreende-se então de modo mais claro que ocorreria o limbo jurídico- previdenciário quando o trabalhador tendo sido afastado para o recebimento de auxílio-doença, entretanto tendo findado o benefício ainda se compreende por análise médica comum que o referido trabalhador não estaria apto ao laboro. Por tais razões fica desassistido por ambas as partes, tanto pelo INSS quanto pelo seu empregador. O fato de não haver uma legislação específica voltada ao tema, que defina a divergência sobre o responsável pelo empregado em limbo causa uma questão relevante de insegurança na área do direito do trabalho e previdenciário. Dentre os questionamentos estão a existência ou não de uma obrigação das empresas receberem o funcionário que foi liberado pelo INSS e também a motivação real da não continuidade do benefício por parte da autarquia notando-se que o funcionário não possui condições reais de retorno ao labor. As hipóteses seriam sobre a possibilidade de o empregador determinar se aquele funcionário poderia voltar ao trabalho, ou se ele deve adimplir o salário neste período de discussão, ou se deveria buscar por meio judicial o ajuizamento de ação contra o INSS com busca de uma revisão da referida. A compreensão que geralmente as Cortes trabalhistas estão a apresentar é a da responsabilidade pelo funcionário caber ao empregador se liberado para as atividades laborais pela autarquia previdenciária, devendo então o empregador adimplir o salário mesmo não havendo efetivo retorno as atividades como dispõe o a CLT no Art. 476. Por tais razões após a alta médica o contrato do referido empregado tem retorno dos efeitos, de modo que teria o direito de ser readaptado ou de retornar ao exercício da sua função anterior. LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO TRABALHISTA. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR PELOS SALÁRIOS E DEMAIS VANTAGENS DECORRENTES DO VINCULO DE EMPREGO. Após a alta médica do INSS, a suspensão do pacto laboral deixa de existir, voltando o contrato em tela a produzir todos os seus efeitos. Se o empregador impede o retorno ao labor, deve tal situação ser vista como se o empregado estivesse à disposição da empresa esperando ordens, onde o tempo de trabalho deve ser contado e os salários e demais vantagens decorrentes o vinculo de emprego quitados pelo empregador, nos termos do art. 4º da CLT, salvo se constatada recusa deliberada e injustificada pelo empregado em assumir os serviços. (TRT-2 - RO: 7152120125020 SP 00007152120125020461 A28, Relator: MAURILIO DE PAIVA DIAS, Data de Julgamento: 17/09/2013, 5ª TURMA, Data de Publicação: 24/09/2013) RECURSO DE REVISTA. AUXÍLIO-DOENÇA. ALTA PREVIDENCIÁRIA. CONTROVÉRSIA QUANTO À SAÚDE DO EMPREGADO. RESPONSABILIDADE PELOS SALÁRIOS. O que se discute nos autos é se a empresa é responsável pelo pagamento dos salários em situações nas quais há um impasse entre o INSS e a empregadora, quanto à capacidade laboral do empregado. Considerando-se que a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho estão entre os fundamentos da República, nos termos do art. 1º, incisos III e IV, da CF, não há como conceber que o trabalhador, que depende do salário para sua subsistência e de sua família, seja dele privado em razão da divergência de entendimento entre o órgão previdenciário e o serviço médico do empregador , quanto à sua real condição de saúde. Assim, diante da alta médica apresentada à empresa, cabe a ela reintegrar o empregado e, caso não concorde com a avaliação previdenciária, questioná-la por meio das medidas cabíveis. Dessa forma, a responsabilidade pelo pagamento dos salários relativos aos períodos em que a reclamante estava de alta médica do INSS é da empregadora. Há precedentes. Recurso de revista conhecido e não provido. (RR- 691-17.2011.5.12.0051, Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, DEJT 26/02/2016) RETORNO AO TRABALHO APÓS ALTA PREVIDENCIÁRIA. RECUSA INJUSTIFICADA DO EMPREGADOR. LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO. É incontroverso nos autos que a reclamada, com fundamento em atestados médicos, impediu que a reclamante retornasse às suas atividades laborais tampouco procedeu à readaptação da trabalhadora em outras funções, embora a demandante tenha sido considerada apta para o trabalho pela perícia médica do INSS. Cumpre enfatizar que, nos termos do art. 2º da Lei 10.876/2004, o perito médico do INSS possui competência exclusiva para emissão de parecer conclusivo sobre a capacidade de retorno ao trabalho do empregado. Assim,pareceres médicos, ainda que emitidos por profissional da empresa, não têm o condão de respaldar a recusa da empresa em permitir o retorno do empregado ao seu posto de trabalho. Isso porque, embora a empregadora tenha o dever de preservar a integridade física e a saúde do trabalhador, não pode privá-lo de seu direito ao recebimento de salário. Dessa forma, a conduta da empresa, ao impedir o retorno do empregado à atividade laboral e, consequentemente, inviabilizar o percebimento da contraprestação pecuniária, mesmo após a alta previdenciária, se mostra ilícita, nos termos do art. 187 do Código Civil. Ressalte-se, ainda, que, segundo os termos do art. 476 da CLT, com o término do benefício previdenciário, o contrato de trabalho voltou a gerar todos os efeitos, permanecendo com o empregado o dever de prestar serviços e, com o empregador, o de pagar salários. Assim, impedido de retornar ao emprego, e já cessado o pagamento do benefício previdenciário, o empregado permanece no "limbo jurídico previdenciário trabalhista", como denominado pela doutrina. Com efeito, a jurisprudência desta Corte vem se consolidando no sentido de que, nessas hipóteses, há conduta ilícita do empregador em não permitir o retorno do empregado ao trabalho, pois evidenciada afronta ao princípio da dignidade da pessoa humana, inserto no art. 1º, inciso III, da Constituição Federal. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. A indicação de violação à Lei 1.060/50 não viabiliza a revista, uma vez que o mencionado dispositivo contém diversos artigos, incisos e parágrafos, não tendo a reclamante apontado especificamente qual deles teria sido vulnerado, a fim de permitir o confronto com a decisão recorrida. Incide, pois, a Súmula nº 221 desta Corte como obstáculo ao prosseguimento da revista. Já o único aresto apresentado é oriundo do mesmo tribunal prolator da decisão recorrida, nos termos do art. 896, a da CLT. Recurso de revista não conhecido. (RR - 128-68.2013.5.09.0008 , Relator Ministro: Breno Medeiros, Data de Julgamento: 07/03/2018, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 16/03/2018) Como referido nas decisões constantes acima de anos diferentes, constando um lapso temporal razoável com 2013, 2016 e 2018 nota-se uma continuidade do entendimento. Por tais razões compreendendo que a alta médica é um ato administrativo que possui uma legitimidade presumida, cabendo então ao empregador o ônus de comprovar as características seja no âmbito administrativo ou em uma ação própria contra a autarquia previdenciária. Por tais razões, se constatado por avaliação médica que o referido funcionário não possui condições de retorno as funções deverão informar a empresa que por sua vez poderá apresentar recurso ou uma Ação Acidentária contra o INSS. Por tais razões, havendo impossibilidade de realizar uma readaptação do referido funcionário, ele deve auferir licença remunerada enquanto não for solucionada a situação não desprestigiando a parte hipossuficiente da referida relação de contrato. Os procedimentos referidos mostram-se necessários a prevenção do agravamento da saúde do funcionário, assim como situações ainda mais graves para a contratante, tendo em vista que caso o empregado desempenhe as funções indevidas antes de estar apto possa vir a ser indenizado por tal razão em virtude de o empregador contribuir ao agravamento da doença ou situação. A RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR Considerando a existência do limbo jurídico previdenciário-trabalhista, cabe o questionamento sobre qual será a responsabilidade do empregador dentro da problemática apresentada. Compreende-se que a alta previdenciária acarreta o fim da suspensão do contrato de trabalho, devendo o empregador, portanto, remunerar o empregado, honrando o contrato de trabalho, uma vez que o mesmo volta a sua vigência. A decisão do INSS que atesta a aptidão do empregado para o exercício de suas funções goza de presunção de legitimidade e veracidade, motivo pelo qual cabe ao empregador demonstrar que apesar de a alta previdenciária ter sido concedida, o empregado permanece inapto para o trabalho. O Tribunal Superior do Trabalho tem jurisprudência no sentido de que em função do princípio da dignidade humana e conforme o valor social do trabalho (art. 1º, III e IV, da CF), o empregador deve remunerar o empregado de acordo com o período trabalhado, pois, a consequência do pagamento é a inexistência de renda mínima para sua subsistência. Da mesma forma entendem os tribunais: INCAPACIDADE LABORATIVA. LER/DORT. EMPREGADA CONSIDERADA APTA PELO INSS E INAPTA PELO MÉDICO DA EMPRESA. NAO- RECEBIMENTO DE SALÁRIO OU DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ART. 1º, III E IV C/C ART. 170 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DANO MORAL E MATERIAL. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO EMPREGADOR. OMISSAO VOLUNTÁRIA. COMPROVAÇAO. DEFERIMENTO. Não se pode olvidar que é fundamento basilar da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho (art. 1º, incisos III e IV da CF). Ademais, a valorização do trabalho humano, sobre que é fundada a ordem econômica, tem o fim de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 170 da CF). Neste caso, o ato ilícito e a culpa do reclamado pelo dano moral e material decorrem da omissão voluntária em não conduzir a reclamante à função compatível com sua capacidade laborativa, custeando seus salários enquanto negado o benefício previdenciário e, ainda, em não emitir nova CAT, buscando no Órgão competente o restabelecimento do auxílio- doença acidentário. Assim, o nexo de causalidade entre a omissão ilícita da empresa reclamada e a lesão imaterial e material suportada pela reclamante é evidente, pois não há dúvida de que - tomando-se em consideração a percepção do homem médio - na situação de total desamparo vivenciada pela autora, permanecendo dez meses sem receber o auxílio previdenciário, porque considerada apta ao trabalho pelo INSS, e sem perceber seus vencimentos, porque não aceito o retorno ao trabalho pela empresa, sem ter como prover a si e à sua família e diante da indefinição do quadro narrado; a dor pessoal, o sofrimento íntimo, o abalo psíquico e o constrangimento tornam-se patentes. (TRT- 14 - RO: 68220084011400 RO 00682.2008.401.14.00, Relator: JUIZ FEDERAL DO TRABALHO CONVOCADO SHIKOU SADAHIRO, Data de Julgamento: 26/08/2009, PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DETRT14 n.0160, de 28/08/2009). (Grifo nosso) Interpretando o artigo 476 da CLT em conjunto com o artigo 63 da lei 8213/91, que estabelece: “O segurado empregado, inclusive o doméstico, em gozo de auxílio-doença será considerado pela empresa e pelo empregador doméstico como licenciado.”, entende-se que a licença não remunerada ocorre apenas na percepção do auxílio doença. Como este não é o caso configurado, uma vez que se deu fim ao benefício recebido pelo empregado, volta a valer o contrato de trabalho, tornando-se obrigação do empregador remunerar o empregado. Nesse sentido, decide o TST: DANOS MATERIAIS E MORAIS - BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO NEGADO AO EMPREGADO - INAPTIDÃO PARA O TRABALHO - RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR PELO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS. Após a alta previdenciária, e consequente fim do período de suspensão do contrato de trabalho, a regra impositiva de pagamento de salários volta a ter eficácia, ainda que a empresa, contrariando as conclusões da Previdência Social, considere o empregado inapto ao trabalho. Com efeito, deve o empregador responder pelo pagamento dos salários devidos no período em que o empregado esteve à disposição da empresa (art.4º da CLT), sobretudo diante do seu comparecimento para retorno ao trabalho. Estão configurados os elementos que ensejam o dever de reparação, nos termos da teoria da responsabilidade subjetiva: o dano moral (sofrimento psicológico decorrente da privação total de rendimentos por longo período), o nexo de causalidade (dano relacionado com a eficácia do contrato de trabalho) e a culpa (omissão patronal no tocante ao pagamento dos salários) (RR-142900-28.2010.5.17.0011. Relator Desembargador Convocado João Pedro Silvestrin, 8ª Turma, j. 20/11/2013, DEJT 22/11/2013). (Grifo nosso) Considera-se que a melhor solução viável para as partes é readaptação do empregado a uma função compatível com seu atual estado de saúde. É a melhor solução pois, o empregado não pode voltar a uma função para o qual está inapto, tal medida vai contra aos princípios do direito trabalhista, ademais, é adequado porque será pago o salário a um funcionário que está efetivamente trabalhando, embora em outra função. Desta forma se posiciona a jurisprudência: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. CESSAÇÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. RETORNO AO TRABALHO. APTIDÃO RECONHECIDA PELO INSS E NEGADA POR MÉDICO DA EMPRESA. EFEITOS DO CONTRATO DE TRABALHO. Ocorrendo divergência entre a conclusão da perícia previdenciária e o atestado médico da empresa, competia ao reclamado diligenciar junto ao INSS solução para o deslinde da questão ou até mesmo realocar o empregador em setor diverso daquele que antes laborava, enquanto não houvesse reforma da decisão administrativa. Não se pode atribuir ao obreiro o ônus de suportar os prejuízos decorrentes do impasse entre as decisões, ficando desemparado sem percepção de nenhum meio de subsistência. Assim, comprovada a tentativa do obreiro de retorno ao trabalho, tendo sido negada pelo reclamado, incumbe a este a responsabilidade pelo pagamento dos salários e demais verbas compreendidas a partir da cessação do auxílio-doença. Inocorrência de violação aos dispositivos legais e constitucionais a ensejar o processamento da revista com supedâneo no art. 896, -c-, da CLT. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR - 753- 72.2012.5.04.0333, Relator Ministro: Arnaldo Boson Paes, Data de Julgamento: 20/08/2014, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 22/08/2014) (Grifo nosso) No entanto, para algumas empresas não é possível realizar a readaptação, devido a seu porte e a falta de vagas adequadas em tal situação, sendo adequado que o empresário forneça meios de assistência para que o empregado consiga o benefício previdenciário. O empregador deve manter seu salário até que o benefício seja concedido mediante recurso administrativo ou decisão judicial. CONCLUSÃO Como exposto no decorrer do trabalho o legislativo ainda não alcançou a solução para os casos concretos em que o trabalhador se encontra desemparado tanto pelo Estado quanto pelo seu empregador, por isso o temo jurídico limbo jurídico. Portanto, o judiciário vem suprindo parcialmente estes casos como observado pela jurisprudência reiterada sobre o tema. Entende-se inicialmente que o empregador deve sempre tentar realizar a readaptação do funcionário caso se encontre na situação em questão e caso isto não seja possível deve adimplir com o pagamento do auxílio-doença até que consiga por via administrativa ou judicial que o pagamento do auxílio seja realizado pelo Estado. Entretanto, é evidente que ausência de previsão legal para os casos que configurem este limbo sobre o amparo financeiro do empregado enfermo gera muito prejuízo ao detentor do direito em questão, gerando uma insegurança quanto ao recebimento dos seus vencimentos somado à já grave enfermidade que o aflige. Desta forma, urge-se por uma posição do legislativo que traga uma solução ao dilema posto, seja esta a confirmação da aplicação já utilizada pelo judiciário ou outra que os membros do parlamento entendam como mais adequada para a solução do problema. REFERÊNCIAS ANGELIS, Juliano De. Suspensão e interrupção do contrato de trabalho. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 03 nov. 2014. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.50497&seo=1>. Acesso em: 11 jun. 2019. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. ______. Consolidação das Leis do Trabalho, 1943. CARVALHO, Augusto César Leite de. Direito do trabalho: curso e discurso. Direito do trabalho: curso e discurso, 2016. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho, 6ª edição, Niterói: Impetus, 2012, fl., 660. CORRERA, Marcelo Carita. Da contribuição de seguridade social e o auxílio-doença. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 20, n. 4229, 29 jan. 2015. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/32605>. Acesso em: 15 jun. 2019. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2015. FERREIRA, Farley Roberto Rodrigues de Carvalho. A incapacidade temporária por doença no contrato de trabalho. 2015. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. GANEM, Leandro Wehdorn. Interrupção e suspensão no Contrato de Trabalho. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 17 maio 2018. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.590721&seo=1>. Acesso em: 11 jun. 2019. [1]GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho, 6ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 533. REZENDE, Luara Zanfolin Frasson de. Limbo jurídico-previdenciário trabalhista. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/30033/limbo-juridico-previdenciario-trabalhista SANTOS, Nadinajara Amaral dos; RAFAGNIN, Thiago Ribeiro. Limbo jurídico previdenciário- trabalhista e a responsabilidade civil do empregador que obsta o retorno do empregado ao trabalho. (Re)pensando Direito, Santo Ângelo/RS. v. 08. n. 15. jan./jul. 2018, p. 120-142. Disponível em: http://local.cnecsan.edu.br/revista/index.php/direito/index. [3]SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2006. [2]SILVA, Natália Augusta Sampaio. Da interrupção e suspensão do contrato de trabalho: aspectos gerais. Revista do Direito Trabalhista - RDT. Brasília, v. 17, n. 2, p. 26-29, fev. 2011. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 39, ed. rev. e atualizada até a emenda constitucional n. 90, de 15.9.2015. São Paulo: Malheiros, 2016.
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