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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS GABRIEL DO NASCIMENTO RODRIGUES ESTUDO DE CASO SOBRE EXPORTAÇÃO DAS PEQUENAS EMPRESAS DO MUNICÍPIO DE BELÉM E REGIÃO METROPOLITANA QUE FORAM ATENDIDAS PELA APEX – BRASIL/PEIEX NO PERÍODO 2016-2018 Belém – PA 2019 Gabriel do Nascimento Rodrigues ESTUDO DE CASO SOBRE EXPORTAÇÃO DAS PEQUENAS EMPRESAS DO MUNICÍPIO DE BELÉM E REGIÃO METROPOLITANA QUE FORAM ATENDIDAS PELA APEX – BRASIL/PEIEX NO PERÍODO 2016-2018 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do Bacharel em Ciências Econômicas da Universidade Federal do Pará. Orientador: Professor Dr. Leandro Morais de Almeida Belém – PA 2019 Gabriel do Nascimento Rodrigues ESTUDO DE CASO SOBRE EXPORTAÇÃO DAS PEQUENAS EMPRESAS DO MUNICÍPIO DE BELÉM E REGIÃO METROPOLITANA QUE FORAM ATENDIDAS PELA APEX – BRASIL/PEIEX NO CICLO 2016-2018 MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA _____________________________________________________ Prof. Dr. Leandro Morais de Almeida Orientador ______________________________________________________ Prof. (a) Dr, (a) Marcia Jucá Teixeira Diniz Examinadora ______________________________________________________ Examinadora Prof. (a) Dr, (a) Ana Elizabeth Neirão Reymão Apresentado em: 11/01/2019 Conceito/Nota: ___________ Belém 2019 AGRADECIMENTOS Inicio agradecendo a Deus por tudo que me foi dado, desde uma família, um lugar pra morar, dormir, comida e roupa; até o discernimento, sabedoria e muita força de vontade pra acordar cada dia e fazer o meu melhor. A caminhada ainda é longa, contudo, saber que estar em segurança à torna mais tranquila e confortante. À minha família -- inclusive meu cachorro, Léo - por todo suporte fornecido, financeiramente e psicologicamente. Apesar das diferenças, o dia a dia torna-se mais plácido ao saber que existem pessoas lhe acompanhando, torcendo, comemorando as vitórias e lhe ajudando a levantar com as quedas da vida. Um agradecimento especial a minha vó por ser realmente uma segunda mãe, sempre me instruindo e jamais faltando afeto; e à minha mãe, pois além do amor materno, sempre é minha companheira e ajuda nas decisões mais difíceis em minha vida, quem eu converso quando estou perdido e quem me espera em casa com sorriso mais aconchegante desse mundo. Ao meu amor, por todos esses anos, passados e os que virão, por toda ternura e carinho. Em seus braços que encontro minha calma quando estou desnorteado, é a certeza do seu amor que me faz querer ficar, mesmo tendo diversas coisas mundo afora, nada se compara a estar com você. Independente de brigas e discussões, ao final do dia tudo se ajeita. Muito obrigado por entender meus momentos, auxiliar nas dificuldades que senti e por me ajudar a sonhar, você me fez crer que eu posso ser diferente e fazer diferente. A todos meus amigos, desde os da infância, ensino fundamental, ensino médio e faculdade, meu mais sincero muito obrigado. Obrigado por me descontrair quando estive tenso, nas conversas diárias, nos passeios e por serem sempre companheiros. Lembranças especiais aos meus amigos de infância: Elmir, Thiago e Belmiro; melhores amigos do ensino médio pra vida: Neto, Tiago, Carlos, Carol, Marília e Thaís; aos companheiros da faculdade: Saymon, Maelson, Matheus e Fernando; e a todos que aqui não pude citar, mas que foram importantíssimos pra mim. Aos meus professores e professoras que tentaram sempre transmitir o conhecimento da ciência econômica e me incentivar a ser um economista que trabalhe em prol do bem da sociedade, ajude meu companheiro menos favorecido e bata o pé frente às injustiças, entendendo que antes de qualquer bem material, somos seres-humanos. Agradeço também aos demais funcionários que fizeram a faculdade de economia funcionar, estes foram fundamentais para minha vida acadêmica. Muito obrigado ao meu orientador Leandro Almeida, por me fazer comprar a minha própria ideia e acreditar em meu potencial para fazer esse trabalho; à professora Márcia Diniz, por fazer eu me apaixonar por microeconomia a ponto de escolher trabalhar nessa área; à professora Elizabeth Reymão por seu esforço e toda atenção prestada a todos os alunos e alunas; e vários outros (as) que aqui não pude citar. De fato a vitória é de todos que aqui citei e alguns que não citei. Essa e outras conquistas em minha vida vieram de vocês. Gratidão a todos! “Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes, e, entre Reis, não perder a naturalidade. E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, se a todos podes ser de alguma utilidade. Se és capaz de dar, segundo por segundo, ao minuto fatal todo valor e brilho. Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo, e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!”. (Rudyard Kipling) RESUMO A internacionalização de empresas ainda aparenta ser um tema restrito as grandes empresas multinacionais, os pequenos empreendedores tradicionais ainda visualizam e sentem fortes barreiras para expansão de seus produtos para novos mercados e vislumbram acesso a esses mercados. Esse cenário vem mudando gradualmente, a dinâmica contemporânea das multinacionais possibilita desmembramento da produção da firma, especializando cada produto em países com maior grau de competitividade, concomitantemente a isso governos e empresas vêm trabalhando conjuntamente para fomentar que empresas nascentes já tenham em sua estratégia a produção voltada para o nível global. Essa pesquisa tem como objetivo analisar a efetividade da política nacional de incentivo ao comércio exterior a nível local, representada nesse caso, pelo Peiex núcleo operacional Belém e Região Metropolitana do ciclo 2016-2018, para as pequenas empresas aderidas ao programa da região no âmbito de compreender se essa política tem trazido benefícios diversos para as firmas. A pesquisa foi desenvolvidos através de estudos bibliográficos, documentais e dados secundários referentes à exportação, além disso, foi elaborado um formulário para que as empresas aderidas ao projeto respondessem, como forma de balizar as benesses para essas empresas. Os resultados demonstraram que as firmas aderidas ao projeto tiveram proveito com informações, ferramentas e eventos envolvendo a exportação, contudo, não alcançaram a exportação efetiva. Isso demonstra que o projeto tem fomentado os empreendedores a inserirem em sua estratégia de desenvolvimento a internacionalização de suas firmas, com a ressalva de que o projeto deve especializar-se mais a fim de conseguir que mais empresas efetivem exportações. Palavras-chave: Internacionalização de empresas. Comércio Exterior. Exportação. Apex- Brasil. Peiex ABSTRACT The internationalization of companies still seems to be a theme restricted to large multinational companies, traditional small entrepreneurs still see and feel strong barriers to expand their products to new markets and envisage access to these markets. Gradually this scenario is changing, the contemporary dynamics of the multinationals makes it possible to break up the firm's production, specializing each product in countries with a greater degree of competitiveness, concomitantly to this, governments and companies have been workingtogether to encourage start-up companies to already have in their strategy the production towards the global level. This research aims to analyze the effectiveness of the national policy of encouraging foreign trade at local level, represented in this case, by Peiex operating nucleus Belém and Metropolitan Region of the 2016-2018 cycle, for small companies adhering to the region's program in the scope of understand if this policy has brought diverse benefits to firms. The research was developed through bibliographical studies, documentaries and secondary data related to the export, in addition, a form was elaborated so that the companies adhering to the project responded, as a way of marking the benefits for these companies. The results showed that the firms adhering to the project benefited from information, tools and events involving the export, but did not reach the effective export. This demonstrates that the project has encouraged entrepreneurs to include in their development strategy the internationalization of their firms, with the exception that the project must specialize more in order to get more companies to export. Keywords: Internationalization of companies. Foreign Trade. Export. Apex-Brasil. Peiex LISTA DE TABELAS Tabela 1- Eventos demográficos das empresas com as respectivas distribuições percentuais e taxas, por faixas de pessoal ocupado assalariado, segundo as variáveis selecionadas - Brasil 2016 .......................................................................................................................................... 33 Tabela 2 - Número de estabelecimentos Optantes e Não-Optantes do Simples Nacional ...... 35 Tabela 3 – Quantidade de vínculos Optantes e Não-Optantes do Simples Nacional .............. 35 Tabela 4 – Faturamento das empresas por porte através da exportação .................................. 39 Tabela 5 – Participação (em %) das empresas porte nas exportações brasileiras ................... 40 Tabela 6 – Fluxos de Investimento Direto Estrangeiro na economia brasileira ...................... 45 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Participação das Micro e Pequenas Empresas no PIB (%) - Brasil (1985 e 2011) .................................................................................................................................................. 31 Gráfico 2 - Taxa de Emprego por Porte Empresarial .............................................................. 32 Gráfico 3 – Taxa de Sobrevivência das empresas de menor porte .......................................... 34 Gráfico 4 - Demografia das empresas brasileiras 2007-2016 .................................................. 38 Gráfico 5- Porte das Empresas Entrevistadas .......................................................................... 55 Gráfico 6 - Empresas Exportadoras e Não Exportadoras ....................................................... 55 Gráfico 7 – Índice dos principais entraves sentidos pelas empresas não exportadoras para alcançarem a exportação ........................................................................................................... 59 Gráfico 8 - Índice dos principais benefícios para as empresas não exportadoras alcançarem a exportação ................................................................................................................................. 60 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Hélice Tríplice ......................................................................................................... 47 LISTA DE SIGLAS APEX-BRASIL - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos PEIEX - Programa de Extensão Industrial Exportadora N.O – Núcleo Operacional MDIC - Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística FGV – Fundação Getúlio Vargas OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul IDE – Investimento Direto no Exterior MEI – Microempreendedores Individuais ME – Micro Empresa EPP – Empresa de Pequeno Porter MPME – Micro, Pequenas e Médias Empresas ICMS - Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços ISS – Imposto Sobre Serviços SN – Simples Nacional SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 15 2. A INTERNACIONALIZAÇÃO PRODUTIVA DAS EMPRESAS............................... 19 2.1. A ABORDAGEM CLÁSSICA SOBRE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS ...................................................................................................................................... 19 2.1.1. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO TRADICIONAL CONTEMPORÂNEO DAS MULTINACIONAIS ..................................................................... 26 2.1.2. O EXEMPLO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO E INTERNACIONALIZAÇÃO DA COREIA DO SUL ............................................................... 27 2.2 AS PEQUENAS EMPRESAS E OS DESAFIOS DA INTERNACIONALIZAÇÃO .... 29 2.2.1. AS MPES NO BRASIL ........................................................................................................ 30 3. A POLÍTICA NACIONAL DE INCENTIVO AO COMÉRCIO EXTERIOR .......... 41 3.1. UM APANHADO HISTÓRICO ............................................................................................ 42 3.2. AGÊNCIA BRASILEIRA DE PROMOÇÃO DE EXPORTAÇÕES E INVESTIMENTOS (APEX-BRASIL) ......................................................................................... 45 3.3. PROGRAMA DE EXTENSÃO INDUSTRIAL EXPORTADORA (PEIEX) ............... 47 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES – O PEIEX BELÉM E REGIÃO METROPOLITANA ..................................................................................................................... 51 4.1. METODOLOGIA ..................................................................................................................... 51 4.2. O PEIEX BELÉM E REGIÃO METROPOLITANA ......................................................... 53 4.2.1. PORTE DAS EMPRESAS .................................................................................................. 54 4.2.2. EMPRESAS EXPORTADORAS E NÃO EXPORTADORAS .................................... 55 4.2.2.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS EMPRESAS EXPORTADORAS................ 56 4.2.2.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS EMPRESAS NÃO EXPORTADORAS ..... 58 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 64 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 67 APÊNDICE A .................................................................................................................................. 72 QUESTIONÁRIO RELATIVO AO COMÉRCIO EXTERIOR, APLICADO ÀS EMPRESAS PARTICIPANTES DO PEIEX 2016-2018 DO RAMO DE ALIMENTOS E BEBIDAS NÚCLEO BELÉM. .................................................................................................... 72 I) Empresas exportadoras: ........................................................................................................ 72 II) Empresas não exportadoras, mas com potencial/interesse/perspectiva de exportar: .........................................................................................................................................................73 III) Sobre o PEIEX: .................................................................................................................... 75 APÊNDICE B .................................................................................................................................. 77 15 1. INTRODUÇÃO Levando em conta que atualmente em um mundo cada vez mais globalizado, as trocas comerciais entre os países ganha mais força e interfere diretamente sobre o desempenho destes ao passo que cria oportunidades ás empresas residentes dos países a aumentarem seu potencial de mercado na forma de possibilitar maior acesso de seus produtos aos mercados internacionais. Assim, resumidamente, se presume que o melhor resultado da abertura é referente à ampliação focando o mercado estrangeiro. Políticas de incentivo á exportação começaram durante o período do regime militar, este se caracterizava por ser protecionista quanto às importações e incentivando as exportações a fim de obter superávits comerciais. Evidencia-se uma forte vontade política de aceleração da atuação exportadora no Brasil através da política cambial baseada em minidesvalorizações da moeda nacional combinada com a criação de agências governamentais que incentivavam a exportação e a diversificação da mesma, um desses incentivos foi a criação do Befiex (Programa Especial de Exportação), o qual concedia benefícios fiscais aos exportadores. Os recursos para incentivar as exportações e o desenvolvimento advinham de bancos americanos e europeus, dada à liquidez do sistema bancário internacional da época. Os créditos bancários que alimentavam as políticas de exportação e desenvolvimento durante o regime militar foram cessados devido à crise da dívida externa, dessa forma, as divisas que antes entravam eram destinadas ao projeto desenvolvimentista, passaram a ser destinadas ao pagamento das dívidas externas junto aos bancos internacionais, o que demonstra a alta vulnerabilidade do país (LEOPOLDI, 2016). A partir do final do século XX, o comércio internacional tornou-se uma pauta importante dentro da política econômica brasileira, para Cassano (2007), no início da década de 80, o processo de abertura comercial era inevitável, pois, segundo o autor, o processo de substituição de importações estava se esgotando – que simbolizava o protecionismo nacional dentro do comércio exterior. No final da década de 80, Brasil encontrava-se em um cenário de recessão e instabilidade; inflação descontrolada; crise de endividamento externo, fazendo com que a política comercial exterior fosse voltada principalmente para ter uma balança comercial favorável através de superávits 16 comerciais, incentivando a exportação e redução de importações; e política econômica indefinida levando agentes econômicos a repensar o modelo que estava sendo adotado. A política comercial exportadora iniciou-se durante o governo Collor, porém, segundo Cervo e Bueno (2002) esta ganhou maior notoriedade a partir dos governos de Fernando Henrique Cardoso. Para Leopoldi (2016), durante seu período de governo, Fernando Henrique Cardoso tentou resolver as questões de medidas burocráticas ligadas ao comércio exterior que prejudicavam as atividades comerciais do país, criou organismos que buscariam trabalhar de forma conjunta com o empresariado brasileiro, a fim de facilitar o processo da exportação. Nessa perspectiva, o tradicional estado burocrático passa a dar lugar a uma burocracia porosa, marcada por um relacionamento aberto com o empresariado, movimentos da sociedade civil e os diversos órgãos governamentais. Em 2003, o governo federal criou a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) juntamente com seus membros regionais do PEIEX (Programa de qualificação para exportação) no intuito de estimular preferencialmente os pequenos empreendimentos a atingirem a exportação ou aprimorarem sua pauta exportadora, no caso dos que já exportam. Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (2018), no ano de 2017, o Estado do Pará representou aproximadamente 20% (vinte por cento) do Superávit na Balança Comercial, colaborando com cerca de R$ 13,5 bilhões. Fatos que demonstram a fundamental importância do Estado no que tange a comercio exterior. A alta relevância do estado do paraense para o superávit da balança comercial é justificado principalmente pela exportação de minérios, e outras commodities advindas da indústria extrativa, que respondem por cerca de 78% da pauta de exportação do Estado. O cerne da questão está no fato de que tais setores econômicos no estado paraense são amplamente dominados por empresas de maior porte. O que corrobora para que empresas de menor porte ainda apresentem demasiada dificuldade para alcançarem o grau de agentes exportadores, essencialmente pelo obstáculo em adequar seus produtos aos elevados padrões internacionais. O setor de alimentos e bebidas mostra-se como um dos pilares da economia, devido sua abrangência à diversos setores econômicos e a capacidade de interligação entre os mesmos, seja de forma direta ou indireta. E é representado por insumos e produtos essenciais para a vida (GOUVEIA, 2006). É o mais expoente setor entre todos, 17 tanto no que tange a produção industrial como na exportação. Sua produção é autossuficiente e sua vocação agrícola é internacionalmente reconhecida, de acordo com a Apex, o Brasil é um dos países que mais exporta no ramo de alimentos e bebidas além das exportações desses produtores terem a maior representatividade, em 2017, 36% de tudo que foi exportado no Brasil era algum alimento ou bebida. Em concordância com Gouveia (2006), de modo geral a produção e venda das empresas abrangem tanto commodities, as quais possuem baixo valor agregado, como os processados, cujos demandam mais aporte tecnológico. Apesar da grande dimensão do ramo de alimentos e bebidas, este ainda precisa traçar caminhos mais consistentes rumo à evolução de Pesquisas e Desenvolvimento na área a fim de incentivar a diversificação de produtos com maior valor agregado de modo a garantir o sucesso das empresas desse setor. Conforme Rochinheski (2015), as empresas que são vinculadas ao PEIEX tem a possibilidade de utilizar mecanismos, ferramentas e eventos organizados tanto pelo núcleo operacional da região, como da Apex-Brasil, com o intuito de estimular o crescimento destas firmas que como consequência gerarão mais emprego e renda e trarão posteriores retorno a economia nacional. Este estudo tem foco no núcleo operacional do PEIEX Belém, o qual está localizado dentro do Parque de Ciência e Tecnologia Guamá. Em que grau a Apex-Brasil através do PEIEX núcleo Belém-PA, contribuíram para que as empresas de menor porte consigam alcançar sua primeira exportação e o aprimoramento do processo exportador em empresas que já exportavam? Dada importância ao fato que empresas de menor porte que não exportam ou que possuem menor grau de especialização na exportação, a hipótese é que começam a exportar ou aprofundar suas trocas comerciais quando recebem apoio de políticas públicas de incentivo a exportação, que nesse caso é o Peiex. O presente trabalho tem como objetivo geral compreender quais são os efeitos da política de promoção à exportação adotada pelo governo brasileiro, especialmente o PEIEX (Programa de qualificação para exportação), para as micro, pequenas e médias empresas da região metropolitana de Belém. O presente estudo avaliará as empresa do ramo de alimentos e bebidas que fizeram parte do programa durante o ciclo dos anos de 2016-2018. 18 Como objetivos específicos,a pesquisa buscará compreender de qual forma foi proposta a política de promoção à exportação para as pequenas empresas, ao passo que almeja apreender como o PEIEX núcleo operacional de Belém insere-se nessa política; como estas entidades conseguem corroborar para o crescimento dos empreendimentos da região e quais foram os resultados desse projeto para os mesmos durante o período vigente. O interesse por este tema se justifica em contribuir para a expansão do entendimento sobre um tema tão relevante para a economia nacional e que vem ganhando maior notoriedade no decorrer dos anos. A especialização na compreensão dessa discussão é capaz de gerar maior conhecimento e entendimento na área gerando melhores resultados no andamento das negociações futuras. O tema que ainda é pouco trabalhado dentro do município e estado paraense bem como nacionalmente, possibilita posteriores pesquisas no setor engrandecendo o mesmo. A proposta desse trabalho é avaliar a efetividade do PEIEX, programa governamental de incentivo a exportação que faz parte da Apex-Brasil. Nesse sentido, busca-se compreender os efeitos dessa política para as empresas regionais e a sociedade como um todo, bem como o aumento da experiência internacional ocasionada pelo aumento da produtividade, melhoria na qualidade dos produtos, expansão da competitividade e diminuição da dependência do mercado externo; o que ocasionará em aumento de emprego e renda. Além deste primeiro capítulo introdutório, o presente trabalho é composto ainda por outros quatro capítulos. O segundo capítulo trata da internacionalização produtiva das empresas, baseando-se em pesquisas bibliográficas, o referente capítulo faz um apanhado desde a abordagem clássica sobre internacionalização das empresas, perpassando por um estudo das multinacionais clássicas e contemporâneas, além dos desafios que as pequenas empresas enfrentam para se internacionalizar. O capítulo três abrange a discussão sobre a política nacional de incentivo ao comércio exterior, versando acerca de um breve apanhado histórico desde o período de substituição de importações; a abertura comercial da década de 90; a criação e funções da Apex-Brasil e Peiex. O quarto capítulo concentra-se nos resultados e discussões desse trabalho envolvendo pesquisa primária com as empresas do ramo de alimentos e bebidas que foram aderidas no projeto no período 2016-2018. Por fim, o último, e quinto capítulo é destinado para as considerações finais, referências bibliográficas e anexos. 19 2. A INTERNACIONALIZAÇÃO PRODUTIVA DAS EMPRESAS Neste capítulo serão abordados os fundamentos teóricos que envolvem a internacionalização das empresas de micro, pequeno e médio porte da região metropolitana de Belém. Perpassando por uma analise “macro” dada através da política de incentivo a exportação do governo brasileiro, a atuação da Apex-Brasil regionalmente, representada pelo núcleo operacional de Belém do Peiex. 2.1. A ABORDAGEM CLÁSSICA SOBRE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS Desde a escola mercantilista há o surgimento da discussão sobre a importância do comércio exterior para o desenvolvimento de um país, para estes, a importância desse comércio advinha da necessidade de existir uma balança comercial favorável, objetivando superávit comercial. Adam Smith (A PORTER, 2005) já promovia o pensamento favorável às vantagens absolutas como forma de obter o superávit comercial. Vantagens absolutas é um termo que refere à produtividade que cada país tem para produzir um determinado produto comparando uns com os outros. Em outras palavras, se um determinado país ou região é mais produtivo com um produto ou serviço “x”, este deve se especializar no mesmo enquanto outros países especializam-se em outros produtos e/ou serviços que são mais propensos. David Ricardo (1817) tenta preencher as lacunas deixadas por Adam Smith e então cria a teoria das vantagens comparativas, a qual expanda a teoria da vantagem absoluta ao introduzir a ideia de custo de oportunidade. Dessa forma, buscou demonstrar com sua teoria que as trocas comerciais são possíveis mesmo em países sem nenhuma vantagem absoluta. A entrada do século XX trás consigo novos paradigmas: com a ascensão da economia de escala e padronização, a tecnologia passa a ser tratada como um fator de produção, assim como há o desenvolvimento de estruturas de mercado mais específicas acompanhadas de maior configuração industrial. Novas teorias surgem a partir desse momento bem como: Teoria da Dotação Relativa de Fatores de Eli Hecksher (1919) e Berthil Olhin (1933), justificando que cada produto pode ter um custo diferente em diversos países; a Teoria da Deterioração dos Termos de Troca (Raul Prebisch, 2016), refere que países agrícolas devem exportar mais para poderem adquirir bens 20 industrializados – essa foi a principal fundamentação teórica para adoção de substituição de importações na américa latina, conduzida pela CEPAL; Teoria do Comércio e dos Mercados Imperfeitos de Paul Krugman (1985) e a Teoria da Vantagem Competitiva da Nações (MICHAEL PORTER, 1990). Após a II guerra, desenvolve-se o crescimento do multilateralismo, acompanhado de uma forte desregulamentação e incentivo ao comércio exterior, assim, as trocas comerciais passaram a se tornar mais frequentes, e a balança comercial favorável já não era obrigatória, haja vista que algumas importações podem ser benéficas para seu comprador, como é o caso de aquisição de tecnologia nova. Nessa perspectiva, a aproximação das nações tornou-se importante sendo reconhecida como globalização. A globalização foi percursor da internacionalização de empresas, economias e sociedades. Segundo Caseiro (2014), a globalização não é um tema atual, este já possuía um escopo na Companhia das Índias Orientais; contudo, o fato que marca sua ascensão da globalização é a queda do muro de Berlim, o qual demarca o fim da antiga ordem mundial que tinha como característica um mundo “dividido em dois”, entre capitalistas e socialistas – representados pela U.R.S.S. A partir disso, o capitalismo torna-se o sistema hegemônico e o mundo caminha para integração. De acordo com Caseiro (2014), a globalização altera a forma como os principais atores internacionais se relacionam, resultado da evolução de novas tecnologias no ramo de tecnologia da informação e comunicação. Nesse sentido, a globalização é a atividade econômica para além das fronteiras, promove a aceleração da internacionalização de produtos; aumenta a mobilidade de capitais; e a velocidade que o conhecimento e informação são transmitidos. A globalização é um processo histórico e social complexo, e que carrega muitas características e práticas de cunho político, assim, por vezes pode existir animosidade e conflito, quando interesses contrários são postos frente a frente. Por isso, Guedes (2006), afirma que a globalização tem por obrigação contemplar três aspectos fundamentais: material, espaço-temporal e cognitivo. O material representa o fluxo de pessoas, bens, serviços e capitais; espaço-temporal refere-se à organização social a níveis local e global; e o terceiro diz respeito à existência da relação causal entre acontecimentos distantes e questões locais. 21 Para De Matos et al. (2015), a globalização vem com a ideia de criar uma “aldeia global” no sentido de integrar os mercados mundialmente, mas não somente sob a ótica de mercado, mas também sobre pessoas e empresas. A internacionalização favorece maiores possibilidades para as empresas de expansão do mercado consumidor, gerando altos lucros devido à proximidade entre o vendedor e o comprador. A internacionalização de umaeconomia é vista por Leopoldi (2016), como um processo gradativo de inserção dentro da economia mundial. Esta pode se dar de forma dependente do Estado ou até mesmo em um formato de coalizão estatal e interesses econômicos particulares, bem como um ramo específico da economia que vise expandir a sua atuação no mercado através da busca de novos consumidores. A definição de internacionalização de uma empresa é representada pelo volume de investimento estrangeiro direto (IED) e das exportações e importações do país, ou seja, as movimentações de bens e serviços, e movimentações financeiras. Este trabalho focará no fluxo de bens e serviços, especificamente nas exportações de alimentos e bebidas. Para Leopoldi (2016), a internacionalização de países, principalmente os emergentes, em geral se dá através da liberalização econômica, a qual permite maior fluxo de capital, bens, serviços e pessoas dentro da “aldeia global”,costuma ser acompanhado de desregulamentações e flexibilizações, contrastando-se com o protecionismo percebido em países desenvolvidos e já integrados globalmente. Apesar da tendência a liberalização econômica no estagio inicial de internacionalização, a presença do Estado é capaz de proporcionar estrutura suficiente para fortalecer a competividade industrial das empresas nacionais. A exemplo do caso Sul-Coreano, dado através de apoio financeiro, incentivos fiscais, assistência em assuntos administrativos e técnicos, etc. para empresas que evidenciaram possuir capacidade financeira, organizacional, de inovação e capital humano, atestando que com participação racional o governo pode potencializar a internacionalização e desenvolvimento do país (RUPPERT e BERTELLA, 2018). Conforme Cassano (2007), não se deve encarar a internacionalização de empresas como a única solução para todos os desafios e dificuldades que envolvem o crescimento de uma empresa e de uma nação, conquanto, a internacionalização é capaz de auxiliar a empresa a melhorar seu grau de competitividade, por consequência confirmar sua sobrevivência em um mercado competitivo, a julgar os altos padrões determinados dentro do comércio exterior. Nesse sentido, em muitos casos a 22 globalização foi determinística para conservação de algumas firmas, justamente por não fixarem seu campo de atuação somente no mercado interno, possibilitando expansão de receitas. Nessa lógica o interesse de países e empresas em adentrar o comércio exterior é latente, contudo alcançar maior área de mercado não é uma tarefa fácil nem simples. O processo de internacionalização demanda cuidados, bem como conhecer o mercado o qual se pretende exportar e saber se seu produto é viável dentro do mesmo; investimento em tecnologias mais atuais que capacitem à produção industrial; novos fornecedores; especialização de mão-de-obra; adequação de embalagem e rótulos; e entendimentos acerca das políticas de exportação de cada país e os custos envolvidos no transporte dessa mercadoria ou serviço (DE MATOS, et al., 2015). A internacionalização para Johanson e Vahlne (2009), – principais representantes da escola nórdica de internacionalização da universidade de Uppsala – não é uma construção racional, baseada em uma sequência planejada, na verdade, uma empresa se internacionaliza por demanda e necessidade. Para os autores, independente da forma como a empresa se internacionaliza, essa expansão para novos mercado é uma consequência do crescimento da firma. Quando o mercado doméstico está saturado, e, portanto as oportunidades lucrativas começam a reduzir, observa-se a tendência pela busca de novos consumidores em outros mercados. Como uma mudança “drástica” trás consigo um mar de incertezas, geralmente as empresas almejam expandir para locais que possuam estrutura similar ao seu lugar de origem. Penrose (1956), defende que o desempenho de uma firma depende inteiramente da interação criativa e dinâmica dos recursos produtivos e as oportunidades de mercado da região. A autora enfatiza maior importância para os recursos produtivos, bem como os de caráter tecnológico, empresarial e administrativo, como os que ditarão a expansão e diversificação de uma empresa através do tempo, assim, à demanda de um produto é predominante somente no curto prazo, e no longo prazo, as distinções entre oferta e demanda são completamente arbitrárias. Em termos gerenciais-administrativos, uma firma que visa crescer, deve constituir uma unidade de planejamento, o que significa que conforme se expande, crescem também suas responsabilidades administrativas. Pode-se afirmar dessa forma que o crescimento de uma firma está diretamente apenso ao conhecimento dominada pela mesma, fazendo dessa forma que a empresa continue a desenvolver-se motivada 23 por sua eficiência administrativa, até alcançar a fronteira de sua expansão, representada nesse caso por sua internacionalização (MARINHO, 2013). Hemais e Hilal são representantes da teoria da internacionalização da empresa, os quais tomaram como base as ideias formuladas por Penrose. Esta teoria afirma que existem custos associados ao funcionamento dos mercados, esses custos de funcionamento são conhecidos como custos de transação e são esses custos de transação que moldam os contornos da firma dentro do mercado. Esses custos costumam ser: os produtos até a tecnologia, formas de gestão e principalmente o conhecimento. Tudo isso explica as motivações para expansão das fronteiras de uma firma: essas se tornarão multinacionais quando for mais vantajoso financeiramente, ou seja, quando suas atividades forem capazes de cobrir os custos de transação. Assim, uma firma tende a escolher localização com menor custo para as atividades que desenvolve e irá crescer até o ponto que o custo de transação for maior que a internacionalização do mercado externo (MARINHO, 2013). Para Porter (1991), e a teoria da competitividade das nações, a internacionalização de uma economia está intrinsicamente ligada à inovação e modernização. Portanto, o autor defende que a nação depende diretamente das firmas para se internacionalizar, pois, são elas que alcançarão a inovação e modernização. As organizações se beneficiam em ter fortes concorrentes domésticos devido a pressões e desafios trazidos pelos mesmos através da concorrência global. A capacidade de inovação e adaptabilidade está diretamente conectada a alguns fatores, quando bem postos, o ambiente comercial torna-se apto para incentivar a competição. Entres os atributos tem-se: Condições de fatores: oferta de mão-de-obra qualificada e/ou infraestrutura de qualidade; Condições de demanda: mercado consumidor que consuma os produtos; setores industriais correlatos ou de apoio; estratégia, rivalidade e estrutura: as condições estabelecidas pelas nações para criação e regulação das firmas. O modelo de internacionalização de multinacionais defendido por Dunning (1988), denominado de “Paradigma Eclético”, também conhecido como modelo OLI, propõe que a internacionalização de uma empresa depende de sua atuação em três diferentes fatores, os quais podem variar de país para país. São eles: Vantagens proprietárias específicas, que se refere à natureza e extensão da vantagem competitiva que uma empresa tem frente às demais dentro do mercado que a multinacional está 24 inserida. Esta vantagem é essencial para da existência da multinacional; Vantagens de localização são vantagens específicas de uma determinada localidade dentro do comércio exterior e que não pode ser repassado para outros lugares; e Vantagens de Internacionalização, quando uma empresa consegue combinar positivamente uma vantagem proprietária específica e vantagensde localização com mecanismos de mercado. O mesmo autor cita quatro motivos para uma empresa se internacionalizar: Acesso a recursos naturais e/ou trabalho a um menor custo; Acesso a mercados específicos; Acesso a eficiência a partir da divisão mais eficiente do trabalho; e Acesso a ativos estratégicos ao redor mundo. Para o funcionamento dessa configuração, é importante que haja a interação das três variáveis e o efeito causado por essa interação sejam fortemente contextuais. A teoria eclética funciona então como um “envelope”, o qual agrega diversas construções teóricas para uma análise específica de um tema, pode ser dita como uma estrutura conceitual capaz de analisar amplamente a internacionalização. A entrada de empresas, conforme Zen e Fensterseifer (2008), em novos mercados pode ser marcada por diversas formas, sendo elas: Exportação Franquia Alianças Estratégicas Investimento Direto no Exterior (IDE) A exportação é a forma mais simples, que demanda menos volume de recursos e menores riscos, esta pode ocorrer de forma direta – quando a empresa cria seu próprio departamento de exportação para efetuar essa venda com sua marca – e/ou de forma indireta, utilizando serviços de uma tranding company ou uma empresa de gerenciamento de exportação, e nesse caso, pode variar sob qual marca o produto será vendido: com o nome da produtora ou da trading/empresa de gerenciamento. Apesar de ser simples, a exportação demanda conhecimento e experiência. Esse trabalho focará nesse tipo de internacionalização. As franquias ocorrem em um acordo entre empresas para utilização de licenciamento para fabricação de bens e produtos, utilizando a marca dessas empresas. Em outras palavras, uma empresa utilizará a patente da outra para efetuar a fabricação e/ou venda de seus produtos e serviços. Nesse sentido, a franqueador oferece a patente 25 da empresa, o sistema de gestão, as competências e os serviços, enquanto o franqueado é encarregado de gerir o empreendimento. Alianças estratégias baseiam-se na troca de conhecimento entre firmas, podendo ser de caráter tecnológico, capacitações e produtos em comum acordo e que sejam benéficos para ambos. Em um contexto competitivo, essas alianças podem proporcionar maior sucesso do que trabalhar independentemente. O investimento direto no exterior (IDE) abrange joint-vetures, fusões, aquisições e até mesmo construção de um parque fabril em outro espaço geográfico. Joint-ventures possuem caráter mais formal e, visto que tratam-se da associação do capital de uma ou mais firmas para criação de mais filiais comuns. A fusão ocorre com a junção de duas ou mais empresas, concebendo uma nova organização, que, por sua vez, pode possuir uma nova administração e denominação. A fusão é benéfica, pois, há aumento do investimento tecnológico, redução de pessoal administrativo e expande a possibilidade de entrada em mercados exteriores. A aquisição é uma forma rápida de entrada no mercado, por tratar-se de um empreendimento já estabelecido no mercado a ser adquirido, isso reduz burocracias, porém, o custo para este é demasiado elevado. Suas vantagens residem na distribuição ágil dos produtos, acesso a marcas já consolidadas no mercado, além de canais de distribuição e tecnologias pré-existentes. Pode ser desvantajoso quando a empresa adquirente não tiver conhecimento cultural e problemas com comunicação que podem dificultar a integração da firma no mercado. A construção de um novo parque fabril pode ser muito oneroso quando não tiver apoio, principalmente do Estado, ao passo que divergências culturais podem culminar em um revés. Todos esses tipos de entrada, segundo Guarrido apud. Zen e Fensterseifer (2008), podem ser divididos em dois grupos conforme seu grau de risco. Os autores denominaram de “modos de baixa complexidade” e “modos de alta complexidade”. Os de baixa complexidade demandam menor recurso, logo possuem risco menor. A exportação direta e indireta se enquadram nesse modo, ao passo que os de maior complexidade, demandam mais capital, e portanto, o risco tende a ser maior. Aqui encontra-se o IDE e acordos contratuais. 26 2.1.1. O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO TRADICIONAL E CONTEMPORÂNEO DAS MULTINACIONAIS As empresas multinacionais surgem a partir do saturamento do mercado interno de países desenvolvidos, essas firmas investiram em novas tecnologias, processos e métodos e juntamente com a globalização puderam expandir geograficamente. As multinacionais reestruturaram-se em localidades onde suas atividades tinham maior potencial, diversificaram sua produção e especializaram-se, assim, essas trouxeram uma nova dinâmica de competitividade a nível local e global (DE NEGRI, 1997). A entrada de multinacionais em novas economias pode ser benéfico para a firma, da mesma forma que pode ser para a economia do país que as recebem, todavia, é importante frisar que há vantagens e desvantagens na abertura comercial. Entre as vantagens da abertura comercial está a redução do preço de bens industrializados devido ao aumento da competição entre as firmas. Contudo, aberturas bruscas podem ser nocivas para as empresas residentes, que sem preparo podem ruir quando comparada com a competição desleal de empresas com maior potencial tecnológico e processual. Nesse sentido, afirma-se, portanto, que uma abertura comercial deve ocorrer de forma gradual para que firmas nacionais consigam se adaptar as mudanças e não afetarem diretamente a geração de emprego e renda. As novas multinacionais possuem uma dinâmica diferenciada das tradicionais. As tradicionais optam pelo processo de fusão ou aquisição de firmas em terras estrangeiras; enquanto as novas multinacionais operam de forma variada na entrada em novos mercados, podendo ser principalmente através de alianças, joint ventures e até posse integral de subsidiárias. Algumas dessas são focadas em produtos específicos enquanto outras abrangem diversos setores, se expandem essencialmente por sua forma inovadora, já que não costumam contar com tecnologia de ponta e nem grandes aportes para o marketing. Novas multinacionais têm como principais características a rápida inserção em mercados internacionais; seu diferencial é a inovação organizacional e não tecnológica; e suas inovações estratégicas favorecem a exploração de experiências em novos mercados locais e sua condição de empresa periférica como vantagem. Assim, afirma-se que essas empresas não cresceram necessariamente por aproveitarem somente seus 27 pontos fortes, mas sim utilizando recursos de outras empresas já inseridas no mercado através de seu alto grau de conexão internacional dada por alianças globais. Essas novas firmas multinacionais tem de equilibrar o desejo de alcance global com a necessidade de melhorar suas capacidades, para isso, utilizam vantagens competitivas de atuar em mercados em desenvolvimento como modelo de aquisição de lucro, enquanto se expandem para mercados desenvolvidos, os quais possuem demanda mais sofisticadas para que consigam expandir sua capacidade. Nesse sentido, as novas firmas internacionalizadas compõe um diferente processo de elaboração e venda de seus produtos, fazendo com que a produção seja diluída em diversos países que possibilitam menores custos – como mão-de-obra mais barata e qualificada; recursos naturais em maior quantidade e em menor preço – para as firmas, ao passo que sua venda também é repassada para inúmeros outros mercados. Esse processo quebra o tradicional modelo de inserção de funcionalidade única de uma empresa em país, o qual a firma elaborava toda sua produção em um único ponto.2.1.2. O EXEMPLO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO E INTERNACIONALIZAÇÃO DA COREIA DO SUL Empresas industriais de países tecnologicamente avançados e amplamente internacionalizados costumam passar por uma trajetória tecnológica composta por três estágios, como afirma Kim (2005). Os três estágios são: fluida, transição e específica. No primeiro estágio as empresas criam uma nova tecnologia e integram a um ramo tecnológico e a taxa de inovação tende a ser alta, visto que a competição costuma depender do desempenho. Já na fase de transição, a tendência é ir em direção de um produto dominante e a métodos de produção em série, conferindo maior capacidade à economias de escala devido ao aumento da competição por preços. Com o avanço e amadurecimento do ramo industrial, a competição por preços é aquecida e a produção tende a torna-se quase completamente automizada, dando origem a produtos altamente padronizados e específicos. O mesmo autor reitera que a Coréia do Sul chegou ao último estágio de avanço tecnológico. No início da década de 1960 o país basicamente trabalhava com tecnologia reversa advinda de outros países, sua mão-de-obra barata, mas dedicada ao trabalho proporcionou bons resultados. Contudo, em anos posteriores, políticas protecionistas adotadas por Estados Unidos e Europa, além do salário crescente apresentaram-se como 28 uma grande barreira, o que fez o país inverter o sentido. A partir da década de 1980 houveram intensos investimentos em P&D (pesquisa e desenvolvimento) como saída para aumentar a competitividade, a inovação tornou-se lema do país. O desenvolvimento tecnológico da Coréia foi sustentáculo para seu elevado grau de internacionalização, baseou-se em um processo de aprendizado tecnológico. Pode-se abstrair da experiência coreana os seguintes aprendizados: O papel do governo incialmente é fundamental para o estágio inicial da indústria, fornecendo suporte que os empresários demandam, contudo, em longo prazo, é importante incentivar que as firmas tomem seus próprios passos, caso contrário, o crescimento pode ser prejudicado; os chaebols ¹ 1 apesar de muitos momentos tomarem um partido mais agressivo, foram importantes para mobilizar recursos e impelir o aprendizado tecnológico; trabalhadores dedicados e interessados em aprender; entrada contínua de tecnologia estrangeira; estímulo competitivo proveniente do mercado externo; aumento massivo de investimentos e P&D advindos de firmas privadas; A combinação desses fatores foi o principal motivo do incrível crescimento da Coréia (KIM, 2005). Ao realizar uma análise comparativa, podemos compreender quais passos ainda são necessários ao Brasil visando o aprendizado tecnológico e internacionalização de sua economia. As firmas brasileiras ainda carecem de suporte do Estado, à medida que deve haver sensibilidade quanto o momento de desburocratização e tornar as empresas livres para tomarem seus rumos; incentivar e capacitar os trabalhadores; possibilitar a entrada de tecnologias internacionais e não enxergá-las como um entrave para o desenvolvimento tecnológico nacional; estimular à competitividade através do fomento a entrada no mercado externo. A conjunção desses fatores tende a incitar as firmas e os trabalhadores a alcançarem o crescimento. No contexto de internacionalização, empresas de menor porte tendem a apresentar maior dificuldade para acessarem novos mercados quando comparadas com empresas de maior porte. Para Bedê, Moreira e Schmidt (2013) e Penrose (2006), o principal motivo é a discrepância de recursos disponíveis, tanto capital próprio como de 1 Grandes conglomerados industriais que receberam apoio governamental e hoje são um dos pilares da economia sul-coreana. 29 terceiros. Preparar uma firma para internacionalização não é simples, existem padrões rigorosos e diferenciados para cada mercado, e na maioria dos casos, empresas de menor porte não possuem recursos suficientes para adaptar-se e produtos a graus maiores de rigorosidade. A alternativa encontrada seriam empréstimos e financiamentos de longo prazo, contudo, devido ao elevado risco presente em pequenas empresas, o acesso a esses meios torna-se ainda mais restrito e as taxas de juros maiores. Empresas maiores além de possuírem alto capital próprio, obtém crédito com maior facilidade, pode-se concluir com isso, que há uma desvantagem significativa no grau de dificuldade para internacionalizar uma empresa de menor porte, mesmo que seja através da exportação, que é o patamar mais simples. 2.2 AS PEQUENAS EMPRESAS E OS DESAFIOS DA INTERNACIONALIZAÇÃO A conceituação do que são micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) é um desafio de muito tempo, uma vez que não existe um consenso acerca do assunto. A Comunidade Europeia com receio de que a ausência dessa definição poderia levar a uma desigualdade e distorções na concorrência entre empresas dos países-membros. Essa definição então leva em consideração termos ditos como “clássicos”, como pessoal ocupado, faturamento e balanço; mas também dá importância à estrutura de propriedade da empresa – dada a influência dos recursos que as empresas têm ao seu dispor, isso significa dizer que não são elegíveis como MPMEs empresas menores que são controladas por empresas maiores (GUIMARÃES, CARVALHO E PAIXÃO, 2018). Para De Campos, José Guilherme Ferraz et al. (2008), as pequenas empresas são eficazes na criação de novos postos de trabalho, são mais consistentes em um ambiente de abundância de mão-de-obra e capital em deficiência - caraterísticas de países em desenvolvimento- tornando-se assim referência na geração de empego e redução da pobreza; também contribuem por serem uma significativa fonte de inovação, dado o ambiente competitivo que normalmente estão inseridas e contribuem para o empreendedorismo e a exportação que servirá como base futura de expansão industrial; promovem grande dinamismo á economia que estão inseridas e flexibilizam a estrutura industrial. 30 Lie, Henrique Palma Lima e Escrivão Filho (2016), consideram que o gerenciamento de empresas de menor porte é diferenciado e específico devido ao seu tamanho reduzido. Para os autores existem alguns fatores que podem conduzir o sucesso ou insucesso do empreendimento: fatores ambientais; organizacionais; e comportamentais. Fatores ambientais dizem respeito ao contexto que a empresa se insere; organizacionais é a forma como a empresa trabalha englobando a tecnologia, comportamento, tomadas de decisão e estratégias; e fatores comportamentais dizem respeito a valores, crenças e atitudes dos líderes. Os fatores citados acima se apresentam como um desafio para as pequenas empresas. Como exemplo de um fator ambiental tem: a concorrência desleal com empresas grandes, que afeta diretamente a capacidade de barganha com fornecedores e compradores e limitam a sua influência no mercado; os fatores organizacionais são afetados pela falta de recursos financeiros, materiais, pessoal qualificado, ausência de planejamento estratégico, além de uma estrutura organizacional informal demais. A informalidade também é empecilho quando líderes costumam manter relações sem a devida formalidade, corroborado pela falta de ferramentas formais de gerenciamento e tempo limitado para fazer todo o trabalho de gestão. Conclui-se assim que a nível internacional, as particularidades das pequenas empresas, com preponderância dos líderes, são seu baixo nível de composição funcional e estratégias pouco definidas, fato que dificulta a competição contra empresas de maior porte, principalmente no que tange a possibilidadede internacionalização. A realidade não é tão diferente para o Brasil, no qual grande parte das pequenas empresas não consegue sobreviver após o seu primeiro ano de vida, muito por razão da grande burocracia e gestão ineficiente. 2.2.1. AS MPES NO BRASIL Em consonância com Velden (2004), pode-se afirmar que as empresas de menor porte desempenham um papel central dentro da economia brasileira gerando renda e riqueza, são responsáveis por uma considerável fração do PIB – 29% em 2011, conforme o gráfico 1 - além de representar uma elevada porcentagem dos empregos gerados. Entretanto, segundo dados do IBGE exposto no gráfico 2, apesar de gerarem 74% dos empregos totais em 2017, no que tange a criação de riqueza ainda estão aquém das empresas de maior porte, visto que o salário médio é de quase mil reais a menos 31 para firmas menores se comparado com empresas grandes. O setor que mais tem contratações para organizações pequenas é o de comércio e serviços. Com isso, fica claro que a remuneração em firmas de menor porte é consideravelmente inferior às grandes empresas, fato que reflete tanto a baixa qualificação em empreendimentos pequenos quanto à baixa qualidade dos postos de trabalho criada pelas mesmas. Empresas de menor porte costumam ter um perfil de características diferenciadas, se posicionando da seguinte forma: não são grandes organizações em tamanho reduzido e não são geridas de forma departamentalizada como grandes firmas; atuam normalmente no mercado de bens, produtos e serviços com demandas elásticas e constantes flutuações no tempo; mercado com poucas barreiras, mas com concorrência extremamente acirrada; enormes dificuldades de sobrevivência e a grande maioria não chegam ao segundo ano de existência. Gráfico 1 - Participação das Micro e Pequenas Empresas no PIB (%) - Brasil, 1985 e 2011) Fonte: Sebrae/FGV / Autoria Própria 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Empresas de Menor Porte Empresas de Grande Porte Empresas de Menor Porte Empresas de Grande Porte 1985 2011 32 Gráfico 2 - Taxa de Emprego por Porte Empresarial Fonte: IBGE/ Autoria Própria Ao analisamos a situação Brasileira, conforme tabela 1, percebe-se a importância das MPMEs, que representaram em 2016, oitenta e nove, vírgula oito por cento (89,8%) do total de empreendimentos nacionais. Contudo, a discrepância existente nos dados de pessoal ocupado e pessoal assalariado demonstra a insuficiência de geração de emprego e renda das mesmas. Outro dado é a diferença entre empresas entrantes e saídas: um déficit de 113.526 empresas em 2016, isso se torna preocupante, pois, segundo Guerra e Teixeira (2010), da mesma forma que uma MPME gera emprego em sua natalidade, esses são destruídos em sua mortalidade. Em linhas gerais, o decréscimo de empresas de menor porte tem interferência direta no desemprego. 50,1 10,6 13,3 26 0 10 20 30 40 50 60 Micro Pequena Média Grande 2016 33 Tabela 1- Eventos demográficos das empresas com as respectivas distribuições percentuais e taxas, por faixas de pessoal ocupado assalariado, segundo as variáveis selecionadas - Brasil 2016 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Metodologia das Estatísticas de Empresas, Cadastros e Classificações, Cadastro Central de Empresas 2013-2016. Estudo do Datasebrae (2016), afirma que a taxa de sobrevivência de empresas de menor porte cresceu de 2008 para 2011, passando de 54% para 76%, conforme Gráfico 3. Boa parte dessa elevação é justificada pela ampliação do número de Microempreendedores Individuais (MEI), quando os MEI são excluídos, esse dado reduz de 54% para 58%. Apesar da notável melhoria, as empresas de menor porte ainda enfrentam imensas dificuldades para manter seu negócio funcionando. Pessoa e Diniz (2017) em conformidade com Velden (2004), justificam essa deformidade pela falta de conhecimento prévio sobre o nicho que a empresa pretende adentrar, baixa capacitação gerencial, reduzido poder dos proprietários na condução dos seus negócios e forte concorrência com empresas de maior porte; os autores também criticam fatores estruturais da economia como o sistema de crédito: dificuldade de acesso de crédito por parte dos MPME, estrutura tributária regressiva e em cascata, onerando os agentes de menor porte e alta e complexas demanda de obrigações acessórias exigidas pela legislação. 4 481 596 2 056 734 45,9 1 967 715 43,9 457 147 10,2 38 517 432 2 846 698 7,4 9 000 513 23,4 26 670 221 69,2 32 011 930 - - 6 104 650 19,1 25 907 280 80,9 3 833 122 1 573 707 41,1 1 816 071 47,4 443 344 11,6 36 942 601 2 224 285 6 8 438 653 22,8 26 279 663 71,1 31 272 598 - - 5 736 344 18,3 25 536 254 81,7 85,5 76,5 92,3 - 97 - 648 474 483 027 74,5 151 644 23,4 13 803 2,1 1 574 831 622 413 39,5 561 860 35,7 390 558 24,8 739 332 - - 368 306 49,8 371 026 50,2 14,5 23,5 7,7 - 3 - 719 551 596 553 82,9 115 223 16 7 775 1,1 1 458 877 785 013 53,8 409 471 28,1 264 393 18,1 507 051 - - 254 231 50,1 252 820 49,9 16,1 29 - 5,9 - 1,7 - Distribui ção (%) Faixas de pessoal ocupado assalariado 0 Variáveis selecionadas Total 1 a 9 10 ou mais Total Distribui ção (%) Total Distribui ção (%) Total Ativas Número de empresas Pessoal ocupado total Pessoal ocupado assalariado Sobreviventes Taxa de saída no mercado Número de empresas Pessoal ocupado total Pessoal ocupado assalariado Entradas Saídas Número de empresas Pessoal ocupado total Pessoal ocupado assalariado Número de empresas Pessoal ocupado total Pessoal ocupado assalariado Taxa de sobrevivência no mercado Taxa de entrada no mercado 34 Gráfico 3 – Taxa de Sobrevivência das empresas de menor porte Fonte: Sobrevivência das Empresas no Brasil. Sebrae, 2016 / Autoria Própria Segundo a OCDE (2009), as MPE representam mais de 90% das empresas de serviço e industriais, contudo, devido ao seu menor porte, custos maiores podem ser incutidos. Assim, muitos países tem buscado criar mecanismos e saídas para reduzir essa desigualdade através de simplificações, desburocratizações, eliminações de obrigações acessórias e até mesmo redução fiscal. No Brasil esse mecanismo foi implementado pelo Simples Nacional. O Simples Nacional trouxe os seguintes benefícios para as MPE’s: redução de carga tributária; simplificação da estrutura fiscal através da possibilidade de pagamento de um único documento vários tributos federais, estaduais e municipais, incluindo ICMS, municipais e ISS. A realidade da economia brasileira antes do Simples Nacional não era favorável: economia crescendo de forma lenta; taxa de desemprego e inflação elevada; e salário mínimo relativamente baixo. No mesmo período muitas reformas foram feitas, como a do sistema financeiro, regime previdenciário, responsabilidade fiscal, privatizações e metas de inflação (PAES, 2015). Para analisar e compreender em que termos o Simples Nacional tem dado suporte para as MPE’s, as tabelas 2e 3 trazem dados pertinentes sobre o número de estabelecimentos optantes do sistema e quantidade de vínculos empregatícios criados. Explorando a tabela 2, referente ao crescimento ou decréscimo do número de estabelecimentos optantes e não optantes do Simples Nacional, percebe-se um 54 55 76 76 77 54 52 56 55 58 51 54 49 49 45 2008 2009 2010 2011 2012 Incluindo MEI Excluindo MEI Sobrevivetes da ME 35 crescimento sustentado das empresas optantes pelo SN (Simples Nacional), e uma taxa significativamente inferior de crescimento de firmas não optantes. Logo, há evidênciasque quando uma empresa decide se formalizar, a probabilidade dela ser optante é boa. A tabela 3 sobre vínculos empregatícios gerados, comprova que a tendência de crescimento em firmas aderentes ao SN é representativamente maior que empresas não- optantes, ainda que em valores absolutos predomine as não-optantes, os resultados inferem a expansão da formalidade de empregos. Tabela 2 - Número de estabelecimentos Optantes e Não-Optantes do Simples Nacional Fonte: PAES (2015) / Autoria Própria. Tabela 3 – Quantidade de vínculos Optantes e Não-Optantes do Simples Nacional Fonte: PAES (2015) / Autoria Própria. A partir dos dados analisados sobre os resultados do Simples Nacional, há evidências que teve um importante efeito para a economia brasileira nos últimos anos. Apresentou-se como porta de entrada para mais empresas, bem como sua formalização; as empresas optantes cresceram em um ritmo mais rápido que das empresas não Mês Ano Optante Não-Optante Total Dezembro 2007 1,931,035 1,627,521 3,558,556 Dezembro 2008 2,093,595 1,781,342 3,874,937 Dezembro 2009 2,239,921 1,810,092 4,050,013 Dezembro 2010 2,272,576 1,737,604 4,010,180 Dezembro 2011 2,463,099 1,854,589 4,317,688 Dezembro 2012 2,516,632 1,825,459 4,342,091 Variação Anual 3,75% 0,49% 2,30%Mês Ano Optante Não-Optante Total Dezembro 2007 7,040,663 23,182,607 30,223,270 Dezembro 2008 7,801,843 25,517,818 33,319,661 Dezembro 2009 8,382,468 26,471,213 34,853,681 Dezembro 2010 9,311,042 28,207,623 37,518,665 Dezembro 2011 9,949,169 30,460,075 40,409,244 Dezembro 2012 10,581,393 30,904,571 41,485,964 Variação Anual 6,28% 3,40% 4,04% 36 optantes, em todos os quesitos, sendo capazes de agregar maior quantidade de empregos, gerar maior massa salarial e expandir a média salarial (PAES, 2015). É um sistema muito interessante e com bons resultados, porém, seu custo é elevado para a sociedade brasileira, portanto deve ser reparado para que somente empresas de menor porte possam gozar deste benefício. Outro ponto importante de análise para compreender a dinâmica das empresas de menor porte é discutir o ambiente de negócios. Ambiente de negócios pode ser definido como as condições de um país ou região que determina o período de vida de uma empresa, está inteiramente relacionado aos procedimentos e questões relativas à abertura e encerramento de uma firma e os recolhimentos de tributos, assim, a melhoria do ambiente de negócios está diretamente ligada a fatores como desburocratização desses procedimentos. Para Cavalcante (2015), mensurar o nível do ambiente de negócios de uma determinada região, é uma árdua missão, porém, o Banco Mundial criou uma metodologia capaz de captar os aspectos relativos ao nível de evolução de um ambiente de negócios. A metodologia é conhecida como Doing Business. Esses indicadores podem servir como base para formuladores de políticas econômicas a fim de criarem formas de desburocratização, a servir de “guia” para empresários avaliarem em qual país ou região estes investirá. De modo geral, há uma correlação direta entre a qualidade do ambiente de negócios e o nível de investimento. Com aumento do nível de investimentos, há inserção cada vez maior de estoque de capital – como compra de maquinário e equipamentos, que por sua vez aumentam a produtividade do trabalho. Por analogia, pode-se apontar um nexo entre a qualidade do ambiente de negócios, níveis de investimento e a produtividade do trabalho. De acordo com o livro Doing Business (2015), um trabalhador norte-americano é capaz de fazer em média, o trabalho de quatro trabalhadores brasileiros, não porque este é “preguiçoso” ou o trabalhador norte-americano é “mais disposto”, mas sim por ausência de condições suficientes para produzir em maior quantidade. Os trabalhadores brasileiros tem menor produtividade pelos seguintes motivos: tecnologia defasada; infraestrutura improdutiva, falta de infraestrutura de qualidade; elevada burocracia; baixa infraestrutura de transporte dentro da região onde o trabalhador produz; alta 37 rotatividade do trabalho; reduzida qualificação; e falta de objetividade e foco por parte do trabalhador, o que reflete em muitas horas extras para concluir seu trabalho. No índice do Banco Mundial chamado de Doing Business, em 2015, o Brasil ficou em 123° em um ranking de 189, são precisos 107,5 dias para abrir uma empresa no país, tempo esse que engloba muitos procedimentos e elevado índice de burocracia. A nível de comparação, o tempo médio da América Latina é de 36,1 dias, enquanto que na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômica (OCDE), são 11,1 dias; em termos de custo, o percentual sob a renda per capta é de 4,6% no Brasil, superando 33,1% da América e perdendo com pouca desvantagem para a OCDE (3,6%); os procedimentos adotados no Brasil são 13, 9 na América Latina e apenas 5 para OCDE (LIVRO DOING BUSINESS, 2015). Como exemplo de boas práticas, estão os gregos, que mais fizeram melhorias em busca de um bom ambiente de negócios. Em 2012 houve a criação de uma nova forma de sociedade limitada simplificada, que ficou conhecida como “sociedade privada”, esta sendo menos onerosa que a comum, em 2013, a mesma aboliu a exigência de capital mínimo integralizado. Outro exemplo é do nosso vizinho, o Chile: em 2010 o país instaurou um sistema de registro online de empresas, um ano depois uma lei obrigou o governo a liberar licenças provisórias ou permanentes logo após o protocolo do mesmo. Em 2013, outra lei permitiu que empresários constituíssem certo tipo de entidades jurídicas online e sem custos. Essas e outras medidas fizeram o período cair de 27 para 5,5 dias necessários para abrir uma empresa (LIVRO DOING BUSINESS, 2015). Com base no exposto, percebe-se o quanto o ambiente de negócios é importante para determinar tanto a possibilidade de nascimento, como de sucesso e ciclo de vida de uma firma. O Estado brasileiro precisa conseguir criar suportes para manutenção da existência e produtividade de suas empresas, principalmente, as de menor porte, as quais são as principais geradoras de emprego. Sem maior desburocratização, redução de procedimentos e facilidade de acesso a informações, a tendência é de desestímulo ao empreendedorismo ou até mesmo encolhimento de empreendimentos. No que tange a exportação das empresas de menor porte, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (2018), no ano de 2016, pouco mais de 25.000 (vinte e cinco mil) empresas exportaram. Conforme informações do 38 Cadastro Central de Empresas do IBGE (Gráfico 4, 2016) existem no Brasil aproximadamente 4.5 milhões de empresas, ou seja, apenas 0,56% das empresas nacionais exportam. Além disso, ainda segundo dados do MDIC – tabelas 5 e 6 - em 2016 das vinte e cinco mil empresas exportadoras 12.671 (doze mil seiscentos e setenta e um) empresas eram de micro e pequeno porte, representando quase metade do total de empresas exportadoras. Porém, no que se referem à participação das exportações brasileiras, no mesmo ano de 2016, as mesmas simbolizam somente 1.2%. Com adição das médias empresas nessa soma, o valor sobe para 5,8%. Empresas de menor porte faturaram cerca de dez milhões e setecentos mil dólares com suas exportações. Gráfico 4: Demografia das empresas brasileiras 2007-2016 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2016). Demografia das Empresas. O fomento a um crescimento forte e sustentado das exportações faz parte da trajetória de soberania nacional de qualquer nação, apesar do Brasil ter frequente crescimento de suas exportações, ela ainda é insuficientequando comparada aos demais países emergentes. Somado a isso, salienta-se que um pequeno grupo de grandes 39 empresas concentra uma imensa parcela das exportações. O número de MPMEs exportadoras aumentou desde o fim do século XX, em contrapartida, a evolução do conjunto de exportações totais foi muito maior que este crescimento. O primeiro passo para internacionalização de uma empresa é a exportação, pois esta sugere um processo gradual de aquisição, integração e uso de conhecimento sobre mercados e operações externas. Segundo Bedê, Moreira e Schmidt (2013), a internacionalização de uma empresa é justificada, pois fomenta a criação de empregos e trocas comerciais, que por sua vez, possibilitam o estreitamento de contato entre países, favorecendo o desenvolvimento e a posteriori resulta na melhora no padrão de vida. A atividade exportadora possibilita que as empresas engajadas nesse movimento sejam beneficiadas através da possibilidade de aquisição de novas competências, as quais as tornam mais capazes de lidar com diversos cenários competitivos. Ao vender para novos mercados, as firmas podem dessa forma adquirir maior conhecimento de mercado, gostos de consumidores, etc. o que potencializa o crescimento da firma e a torna mais competitiva tanto externamente como internamente. Tabela 4 – Faturamento das empresas por porte através da exportação Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (2018) / Autoria Própria. Não definido Pessoa Física Micro e Pequena Média Grande 2010 0 278 1.964 8.199 191.474 201.915 2011 0 406 2.032 8.819 244.782 256.039 2012 3 502 1.787 8.131 232.156 242.579 2013 0 285 1.766 7.906 232.078 242.035 2014 0 331 1.961 8.664 214.144 225.100 2015 0 315 2.064 8.428 180.327 191.134 2016 0 238 2.283 8.466 174.249 185.236 ANO TOTAL US$ Milhões 40 Tabela 5 – Participação (em %) das empresas porte nas exportações brasileiras Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (2018) / Autoria Própria. Pianto e Chang (2006), consideram que a formulação de uma estratégia voltada para a internacionalização de um país é extremamente delicada e repleta de desafios, portanto, para estes, o país em questão deve focar no seu potencial diferencial competitivo, dada a maior possibilidade de agregação de valor, logo, maiores retornos para economia. Nesse âmbito é de suma importância à política de exportação estar em consonância com a política econômica adotada pelo país, visando desburocratizar, agilizar e evitar a criação de obstáculos à exportação. A estratégia de exportação deve ser clara e transparente delimitando os desafios e dificuldades e como estes poderão ser transpostos. Os números apresentados acima nos remetem a uma preocupação acerca da disseminação da cultura de exportação no Brasil, contudo, apesar dos inexpressivos resultados, o governo brasileiro vem tentado modificar esse quadro e tornar a exportação algo comum dentro das empresas nacionais, com ênfase nas de menor porte. Uma das medidas foi à criação da Apex-Brasil, a qual visa promover os produtos e serviços das empresas brasileiras dentro do cenário internacional, e atrair investimento externo para setores estratégicos da economia (DE FÁTIMA SOUSA, BOTELHO, 2015). Não definido Pessoa Física Micro e Pequena Média Grande 2010 - 0,1 1,0 4,1 94,8 100 2011 - 0,2 0,8 3,4 95,6 100 2012 0 0,2 0,7 3,4 95,7 100 2013 - 0,1 0,7 3,3 95,9 100 2014 - 0,1 0,9 3,8 95,1 100 2015 - 0,2 1,1 4,4 94,3 100 2016 - 0,1 1,2 4,6 94,1 100 ANO Part. % TOTAL 41 3. A POLÍTICA NACIONAL DE INCENTIVO AO COMÉRCIO EXTERIOR A formulação de uma estratégia competitiva externa é de extrema importância para inserção de uma economia dentro do mercado internacional, e mostra-se como um árduo desafio. Poucos países possuem medidas que podem ser chamadas de “estratégia de exportação”, esse universo reduz ainda mais quando leva-se em consideração resultados positivos após aplicações das referidas estratégias de exportação. Para obter efeitos favoráveis dentro de uma estratégia nacional de exportação, o foco não deve ser somente nos fatores externos, o plano deve integrar a política econômica, a fim de buscar soluções para gargalos internos que impeçam a expansão da competitividade comercial. O projeto nacional de exportação deve ter clareza na definição de prioridades, problemas, oportunidades e obstáculos para melhor aplicar os recursos financeiros com eficácia. As prioridades devem ser determinadas através de necessidades específicas dos principais setores de crescimento, das prioridades dos clientes (MPMEs), investidor estrangeiro direto e dos mercados-alvo. Essa definição facilitará ações e coordenações pertinentes a nível público e privado e a inserção de empresas no mercado internacional. Independente dos obstáculos a serem encontrados, uma estratégia tem que ser coerente e realista para situação do país, para que facilite e estimule a entradas das empresas nacionais no mercado externo e de novos setores. Nessa contextualização, o Mdic lançou em 2003 o programa Brasil Exportador, o qual é composto por diversos órgãos e instituições governamentais trabalhando em conjunto e coordenadamente gerenciando 44 programas e projetos, alguns existentes e outros a serem criados. O presente trabalho não pretende detalhar os mesmos, a intenção é entender como foi a construção da estratégia da política nacional de incentivo ao comércio exterior. Os projetos e programas do Brasil Exportador visam fortalecer a competitividade do Brasil no cenário externo, trabalhando dessa forma, as instituições, capacidade financeira, competitividade operacional, competitividade produtiva exportadora e a competitividade comercial e de negociações e firmas potenciais exportadoras. Em suma a intenção deste programa é ampliar a base exportadora, diversificar os mercados consumidores e a inserção das empresas de menor porte no comércio internacional. 42 Os dois principais ramos trabalhados do projeto Brasil Exportador são competitividade institucional e competitividade financeira. Políticas de fortalecimento da competitividade institucional podem beneficiar tanto empresas exportadoras como potenciais exportadoras, caso a atividade exportadora torne-se mais viável, ambos são beneficiados através de maior desburocratização e desregulamentação das exportações por parte das instituições e órgãos brasileiros. Competitividade financeira é a segunda área mais trabalhada dentro do Brasil exportador, e é através dessa medida que se pode medir o impacto da participação de potenciais exportadoras e/ou exportadoras em uma dinâmica de internacionalização. Financiamentos voltados ao pequeno exportador podem ter grande impacto na entrada de firmas com potencial exportador, o mesmo ocorre aos financiamentos não condicionados ao tamanho da firma, porém, as firmas potenciais exportadoras provavelmente comporiam uma parcela menor das empresas as quais utilizam esse financiamento (PIANTO E CHANG, 2006). Atualmente a Apex-Brasil é a agência responsável pela condução
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