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NIVELAMENTO LÍNGUA PORTUGUESA Professora Dra. Angela Enz Teixeira Professora Me. Cristina Herold Constantino Professora Me. Débora Azevedo Malentachi GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; TEIXEIRA, Angela Enz; CONSTANTINO, Cristina Herold; MALENTACHI, Débora Azevedo. Nivelamento Língua Portuguesa. Angela Enz Teixeira ; Cristina Herold Constantino; Débora Azevedo Malentachi. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 196 p. “Graduação - EaD”. 1. Português. 2. Nivelamento. 3. Língua Portuguesa. 4. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. ???.??? CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Design Educacional Isabela Agulhon Iconografia Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa André Morais de Freitas Editoração Ellen Jeane da Silva Revisão Textual Yara Dias Kaio Vinicius Cardoso Gomes Carolina de Mello Magi Ana Portela Ilustração Daphine Marcon Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis- so, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R( ES ) Professora Dra. Angela Enz Teixeira Angela Enz Teixeira é doutora e mestre em Letras pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Tem experiência na área de Linguística, Literatura e Formação do Leitor, atuando, principalmente, nos seguintes temas: aluno- leitor, leitura literária, literatura infantojuvenil, ensino de literatura, produção textual e análise linguística. Leciona, em cursos de graduação e de pós- graduação, nas modalidades presencial e a distância, as disciplinas de Metodologia do Trabalho Científico, Estágio, Produção Textual e Metodologia do Ensino Superior. Professora Me. Cristina Herold Constantino Cristina Herold Constantino possui mestrado em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. É graduada em Letras pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Atualmente, é professora T40 da Unicesumar, coordenadora da disciplina de Metotologia de Pesquisa e Formação e Ética no ensino a distância, atuando, principalmente, nos seguintes temas: educação, linguagem, comunicação e ensino a distância. Professora Me. Débora Azevedo Malentachi Possui mestrado e graduação em Letras pela Universidade Estadual de Maringá - UEM, além de especialização em Língua Portuguesa e Literatura pela Sociedade Nacional de Educação, Ciência e Tecnologia. É Revisora de Língua Portuguesa, leciona Leitura e Produção Textual na UniCesumar, onde trabalha como professora formadora e conteudista na disciplina de Formação Sociocultural e Ética. Faz parte da Banca de Avaliação de Redação do Vestibular da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase no Ensino e Aprendizagem de Leitura e Produção de Textos, atuando, principalmente, nos seguintes temas: competências, habilidades e estratégias de leitura e de escrita, ações colaborativas, interação, mediação e autoria no processo de construção da escrita, autonomia na aprendizagem, vestibular, argumentatividade e originalidade, elaboração de questões objetivas, conhecimentos gerais. SEJA BEM-VINDO(A)! Olá, querido(a) aluno(a), é com imensa satisfação que trazemos até você o nosso mate- rial sobre Língua Portuguesa, Leitura eProdução Textual. Temos trabalhado ao longo dos últimos 15 anos com o ensino da Língua Portuguesa no ensino superior e, podem ter certeza, tem sido muito gratificante na medida em que testemunhamos o quanto os alunos que se empenham na compreensão de sua língua materna, extensivamente, têm apresentado êxito na vida acadêmica. Assim, podemos afirmar que o estudo da Língua Portuguesa contribui para a utilização mais adequada da linguagem, tanto na leitura quanto na produção de textos escritos. Caso você já tenha como prática o hábito da leitura e escreva textos coerentes, coesos, linguisticamente adequados, esta é mais uma oportunidade de aprofundar, solidificar e atualizar seus conhecimentos. Caso esteja dentre aqueles que têm encontrado difi- culdades na leitura e produção textual, desafiamos você a ingressar neste curso rumo a ampliar os seus conhecimentos linguísticos, com o firme propósito de que essa ex- periência contribua para fazer de você alguém que “maneja bem a palavra”. Conse- quentemente, esperamos propiciar momentos de aprendizagem significativos para a sua formação enquanto sujeito consciente do poder que há no universo da linguagem, usando-a enquanto exercício da cidadania, de modo ativo, proficiente, ético e compe- tente, não apenas em benefício de seus objetivos acadêmicos, pessoais e profissionais, mas, sobretudo, em busca de realizações que alcancem a coletividade. Portanto, nossos principais objetivos com este livro é que você aperfeiçoe suas habili- dades de escrita e de leitura e amplie seu conhecimento sobre a língua que está ao seu dispor, na verdade, o quanto ela já faz parte de sua vida e, por isso, deve ser compreen- dida e utilizada da melhor forma nos diferentes contexto ou situações, sejam eles orais ou escritos. Nesse sentido, nossa ênfase inicial consiste no estudo de algumas especifi- cidades da Língua Portuguesa, fundamentais para o bom desempenho da leitura e da escrita. Em seguida, complementaremos nossa caminhada com as principais técnicas e ferramentas pertinentes ao universo da linguagem e necessárias para a plena realização de leituras proficientes e produções de texto coerentes e de qualidade, com vistas a cumprir com o seu objetivo maior que é compreender e comunicar a mensagem a que se propõem. Para enfatizar o cuidado que tivemos em selecionar conteúdos pertinen- tes para sua formação, selecionamos questões de concursos variados envolvendo esses temas, para serem resolvidas nas atividades de autoestudo, no final de cada capítulo. Essas questões estão devidamente identificadas, distinguindo-se das questões inéditas. Dessa forma, propomos que caminhe conosco nesta jornada – breve, porém significa- tiva –, na qual você terá a oportunidade de somar, aos seus conhecimentos já adquiri- dos, outros novos que, certamente, serão não apenas úteis e necessários para sua vida acadêmica, mas, por extensão, fundamental para o desfrute de uma vida profissional e pessoal de excelência. Ótimos estudos! APRESENTAÇÃO NIVELAMENTO LÍNGUA PORTGUESA SUMÁRIO 09 UNIDADE I LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO 15 Introdução 16 Leitores: Algumas Características 23 Leitura: Etapas, Níveis e Concepções 32 Estratégias de Leitura 37 Considerações Finais 49 Referências 50 Gabarito UNIDADE II A FERRAMENTA DA LÍNGUA A SERVIÇO DA PRÓPRIA LÍNGUA 53 Introdução 54 Língua é Sinônimo de Gramática? 60 Como observar a Gramática nas Práticas de Texto 66 Considerações Finais 75 Referências 76 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III PRODUÇÃO DE TEXTOS: DA REFLEXÃO PARA A PRÁTICA 79 Introdução 80 Escrita, Estilo e Autoria 86 Concepções de Escrita 91 Elementos da Textualidade 94 Gêneros Textuais 102 Considerações Finais 113 Referências 115 Gabarito UNIDADE IV DIRECIONAMENTOS PARA A ESCRITA DE DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA 119 Introdução 120 A Dissertação Argumentativa 125 Por onde começar a tarefa de Escrita? 129 O Desenvolvimento: As diferentes formas de Organização 136 A Introdução 139 A Conclusão 141 Imprescindível: Revisão Final SUMÁRIO 11 143 Considerações Finais 154 Referências 155 Gabarito UNIDADE V PONTUAÇÃO EXPRESSIVA E USO DA VÍRGULA 159 Introdução 160 Pontuação: Definição e Funções 162 Sinais de Pontuação e Expressividade 171 Sobre a Vírgula 178 Dúvidas Frequentes – Vale a pena Saber 188 Considerações Finais 194 Referências 195 Gabarito 196 CONCLUSÃO U N ID A D E I Professora Me. Débora Azevedo Malentachi LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender a importância da leitura na formação humana e acadêmica, de modo a praticá-la com criticidade. ■ Autoavaliar suas características enquanto leitor, com vistas ao aprimoramento das habilidades típicas de leitores competentes, experientes e proficientes. ■ Entender a leitura enquanto produção de sentidos, colocando-se como sujeito ativo diante dos textos. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Leitores: algumas características ■ Leitura: etapas, níveis e concepções ■ Estratégias de leitura INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), bem-vindo a primeira unidade do nosso livro. Se alguém lhe perguntasse sobre como você se considera enquanto leitor, qual avaliação faria de si mesmo? Qual o significado da leitura para você e qual a sua concepção a esse respeito? Quais os motivos e objetivos que o conduzem nas suas leituras? O que busca a partir delas, como as realiza e qual seu nível de compreensão ao final de cada texto? Para que esta unidade lhe seja produtiva, é fundamental que você comece por uma autoavaliação acerca de suas características enquanto leitor. Esse será o seu primeiro passo, e as perguntas anteriores podem ajudá-lo(a) a iniciar esse processo de autoconhecimento. Aliás, para que você seja, de fato, um leitor de sucesso, é importante que esse passo seja parte de sua rotina acadêmica e, sobre- tudo, de sua vida pessoal. Todos nós somos leitores em processo e é sempre importante cuidar da QUALIDADE das nossas leituras, lançando-lhes um olhar crítico, avaliando nossas habilidades leitoras, de modo a lidar conscientemente com algumas difi- culdades que podem interferir no desenvolvimento desse processo fascinante que é a leitura – de mundo, de imagens, de palavras, de pessoas, de tudo o que está disponível para atribuição de sentidos. Tudo o que você já sabe sobre textos e leituras certamente tem algum valor. Porém, é tempo de aprofundar seus conhecimentos e aperfeiçoar suas habili- dades leitoras, de modo a acrescentar em sua formação humana, acadêmica e profissional todas as características de um leitor proficiente, experiente. Nesse sentido, visitaremos alguns estudiosos da linguagem que nos explicam as prin- cipais concepções de leitura. Vamos entender o porquê de sua importância, compreendê-la enquanto processo, analisar o encontro do leitor com o texto e averiguar as estratégias que constituem esse diálogo. Estudaremos suas etapas e níveis, concomitantemente passearemos por alguns textos e, na tarefa de interpretá-los, você perceberá que eles dizem muito mais do que está explícito em suas palavras. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 LEITORES: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS Já ouvimos muitos acadêmicos reclamandode suas dificuldades na leitura, e nossa maior satisfação enquanto professores é dizer-lhes que a leitura é um pro- cesso que pode ser aprendido. Ser alfabetizado, e muito bem alfabetizado, não basta para a formação de leitores críticos, experientes e proficientes. É necessá- rio mais do que simplesmente decodificar signos ou códigos linguísticos. Então, se não basta saber ler em sua língua materna, o que é preciso para ser um bom leitor? Para pensar nisso juntos, começamos com um texto de opinião que nos mostra outra face da moeda. Leitores: Algumas Características Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 Ótimo texto para refletir, não é mesmo? Você poderia resumi-lo em algumas poucas frases, usando suas próprias palavras? Ou poderia apenas sintetizar de imediato qual seu assunto geral e o ponto de vista defendido pela autora? Ou seria necessário realizar outra leitura? Se sua resposta para esta última pergunta for sim, muito bem! Faça-o sem nenhum constrangimento, pois alguns textos, mais que outros, exigem mais leituras, e releituras fazem parte natural do processo. Agora, não vamos simplesmente parafrasear ou dizer com outras palavras o que a autora tão claramente explicou e argumentou. Faremos a leitura daquilo que está dito por trás das linhas, as ideias implícitas. Se um mau leitor é tudo o que afirma a autora, então, podemos inferir que: ■ Um bom leitor é curioso, interessado, ávido por conhecimento. ■ Um bom leitor não espera que as motivações para a aprendizagem venham de fora, pois nele mesmo há volição, ou seja, vontade de aprender. O mau leitor É característico do mau leitor não apresentar curiosidade relativa ao que lhe é exterior. Ele não direciona sua vontade para além de seus interesses mais imediatos, tais como conhecer novas culturas, informar-se sobre política, buscar novos saberes etc. Ele é omisso ao contexto social. O mau leitor não consegue interagir com os textos, não faz perguntas, como: o que sei sobre tal assunto? O que não sei? Em condição de aprendiz, não consegue progredir, pois não tem iniciativa, nem criticidade sobre seu saber. Logo, não consegue concentrar-se na leitu- ra, nem sintetizar um texto, muito menos comparar a perspectiva do autor com a sua sobre o tema. Assim, é incapaz de avaliar um texto, sua discussão, sua confiabilidade e relevância. Ademais, o mau leitor não admite seus limi- tes cognitivos. Em um pensamento narcisista, o que pensa não condiz com o que faz em relação ao saber. Fonte: adaptado de Hagel (2004, on-line)1. LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 ■ Um bom leitor estuda não por mera obrigação ou simplesmente para concluir o que começou. Estuda porque reconhece suas limitações e objetiva superá-las. ■ Um bom leitor se comporta como um aprendiz em potencial. ■ Um bom leitor não vive imerso em uma ilha, escravizado e limitado em seus desejos interiores. Ele dialoga com o mundo da leitura, com a leitura do mundo, com os desejos de outras pessoas, impressos em uma folha de papel ou expressos em um simples olhar. ■ Um bom leitor nunca se sente vazio, porque busca concentrar sua aten- ção e seus interesses de fora (outros textos) para dentro (seus próprios textos) e de dentro para fora, interagindo com conteúdos que enrique- cem e enchem sua alma de conhecimento. O que fizemos aqui foi um diálogo com a autora do texto. Ainda com base em suas ideias, propomos que dê continuidade a esse diálogo, às inferências: se a autora diz que um mau leitor não se pergunta “o que sei sobre isso?”, um bom leitor faria o quê? Vamos lá! INFERIR é uma das ações ou estratégias de leitura sobre as quais abordaremos mais adiante. Para dar continuidade à temática, vamos apreciar um poema de Carlos Drummond de Andrade (2006, p. 854), retirado da obra Poesia Completa. A PALAVRA MÁGICA Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. Leitores: Algumas Características Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Vou procurá-la a vida inteira no mundo todo. Se tarda o encontro, se não a encontro, procuro sempre. Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra. Esse poema permite algumas interpretações… É possível que o eu lírico, isto é, a voz que fala no poema, simbolize um leitor convicto não apenas do valor e poder contido nas palavras, mas, sobretudo, de seu próprio valor diante delas. O mundo da linguagem está à disposição dos escritores que, por sua vez, escre- vem para serem lidos, compreendidos e, até mesmo, contestados. O leitor do mundo real tem a seu favor todo o universo da linguagem e, assim como acontece com o eu lírico, vive à procura da palavra que melhor tra- duza seus pensamentos, que da melhor forma possível expresse seus sentimentos. De modo consciente ou não, cada um dos leitores é a razão de ser de cada pala- vra. É quem deixa para sempre as palavras esquecidas e apagadas nos livros da estante, empoeirados; ou quem, espontânea ou obrigatoriamente, retira as relí- quias do armário eleva às palavras um sopro de vida. É fundamental, caro(a) aluno(a), que você compreenda que existe em cada leitura uma relação dialógica entre autor e leitor. Ambos interagem por meio da palavra escrita. De um lado da ponte, está o autor, que escreve para ser lido (não para que suas palavras fiquem eternamente à mercê da poeira). Do outro, o leitor que não é (ao menos não deveria ser) mera vítima do poder que há nas palavras do autor. Cabe ao leitor encontrar o autor ausente (porém presente em suas palavras) e, nesse diálogo, manter-se crítico e atento, de modo a propor a sua contrapalavra (sua opinião, seus argumentos). Um leitor crítico não cai na armadilha da alienação e da manipulação. LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 A ideia “palavra mágica”, no poema, também nos sugere a constatação de que, por ser tão mágica, uma mesma palavra ou texto pode gerar mil e uma inter- pretações. Isso porque nenhum leitor é igual ao outro e, por isso, cada qual faz de um mesmo texto leituras diferentes. Isso não significa que todas as interpre- tações estarão corretas, adequadas ou coerentes. Cada texto traz as pistas para que o leitor faça interpretações coerentes, e não aleatórias. Até aqui, prezado(a) aluno(a), é importante que você compreenda, principal- mente, a importância de seu posicionamento crítico frente às leituras, de modo que você entre em cada texto de um jeito e saia dele uma nova pessoa: cada vez mais crítica, prudente, perspicaz e experiente; com uma roupagem nova em sua visão de mundo, com pontos de vista e conhecimentos enriquecidos. Para o bem ou para o mal (e, como nos contos de fada, torcemos para que o bem sem- pre prevaleça), os textos produzem efeitos em leitores atentos. Caso contrário, o que ocorre é uma leitura desatenta, aleatória, sem objetivos. Uma pseudoleitura. Na pseudoleitura, o sujeito lê o texto e, ao final dele, resta-lhe apenas um grande ponto de interrogação sinalizando sua completa falta de compreensão do que foi lido. Isso ocorre, basicamente, porque algo inadequado, involuntário e não consciente ocorreu no processo dessa leitura. Seja o cansaço que limita a concentração e, consequentemente, a compreensãodo texto; ou a preguiça de processar com o cérebro o que está sendo lido com os olhos; ou, ainda, a pressa de concluir a leitura simplesmente para dizer a quem quer que seja que leu o texto “in-tei-ri-nho”. Lamentavelmente, existem leitores muito mais preocupa- dos com a quantidade do que com a qualidade de suas leituras. Para valer de fato a pena, a quantidade de leituras deve estar de mãos dadas com a qualidade! Todo homem que lê demais e pensa de menos adquire a preguiça de pensar. (Albert Einstein) Leitores: Algumas Características Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 Existem outros fatores, de ordem pessoal, física, emocional ou cognitiva, que podem interferir nas leituras, e você mesmo poderia elencar ao menos um deles, tomando como ponto de partida circunstâncias em que, ao final de um texto, a temerosa pergunta lhe surgiu espontaneamente: “o que eu li mesmo?”. Já passou por situação semelhante? Se já, certamente não é o único e, ainda nesta unidade, trataremos sobre algumas estratégias fundamentais para evitar esse grande ponto de interrogação. Agora, vamos retomar o poema de Drummond e acrescentar outro rumo ao tema. O sentido que lhe atribuímos pode se estender aos signos não verbais, como, as imagens. Por alguns segundos, olhe a imagem a seguir: Essa imagem está na internet. É importante que façamos a observação de todos os detalhes que a compõem: o que pode nos sugerir, por exemplo, o olhar dessa mulher, seu rosto sem maquiagem e o fundo pálido da foto? Certamente, cada um dos aspectos, em separado ou em conjunto, pode suscitar várias impressões de leitura e interpretações muito pessoais. Depende das experiências de cada leitor e de seu contexto sócio-histórico-cultural. Figura 1 - Conjunto de impressões, leitura de imagem LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 Vamos refletir: ■ Que tipo de leitura faria dessa imagem uma mulher que sofreu violên- cia doméstica? ■ Qual seria o sentido dessa imagem para uma senhora que viveu no período da ditadura? Teria o mesmo sentido para uma jovem socialite contem- porânea que vive conectada com o consumismo e interessada apenas em dinheiro? ■ Qual interpretação faria um homem que considera admirável a natureza comunicativa da mulher? ■ O que diria dessa imagem um homem que se considera senhor da verdade e que não tolera ser contrariado, principalmente por mulheres? ■ O que diria uma cidadã comum e bem esclarecida acerca de seus direi- tos frente a uma imagem dessas? ■ Enfim, qual o sentido dessa imagem para você, e o que lhe faz pensar assim? ■ É possível estabelecer algum tipo de relação entre o poema de Drummond e a imagem? ■ Enquanto o poema nos sugere a leitura da palavra “que dorme na som- bra de um livro raro”, a mulher da imagem suscita que tipo de reflexão acerca da palavra? ■ Em suma, você percebeu como não existe mesmo um sentido único para cada palavra, texto ou imagem? Leitura: Etapas, Níveis e Concepções Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 LEITURA: ETAPAS, NÍVEIS E CONCEPÇÕES De modo geral, a leitura consiste em quatro etapas: ■ Decodificação – é o reconhecimento das letras, suas ligações com outras e com os seus significados. Decodificar é apenas o início do processo de leitura. ■ Compreensão – é assimilar as informações de um texto e captar suas ideias principais. Nessa etapa, é importante que o leitor tenha conhecimentos prévios sobre o assunto tratado no texto, para que tenha condições de atribuir significação às palavras decodificadas. ■ Interpretação – é a capacidade de análise crítica do leitor frente ao texto e só ocorre depois da compreensão. Se não há compreensão, não é possí- vel ao leitor interpretar o que leu. Nessa etapa, o leitor recupera todas as informações e conhecimentos prévios sobre o assunto, estabelece a inter- textualidade entre os textos, questiona, julga e tira conclusões a respeito do que leu, concorda com as palavras do autor ou as contesta. ■ Retenção – nessa etapa, ocorre a memorização das informações mais importantes, as quais ficam arquivadas na memória de longo prazo do leitor, seu repertório de conhecimentos. Desse repertório, o leitor resgata seus conhecimentos internalizados para dialogar com as novas leituras que realizará. LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 É importante considerar cada uma das etapas de leitura no processo de autoava- liação que combinamos no início desta unidade. Seu desempenho nessas etapas depende do nível de suas leituras. São, basicamente, três níveis: ■ Leitura superficial – nesse nível, o leitor consegue decodificar as palavras, mas não se preocupa em buscar os significados das que não compreende. Também não consegue entender o sentido global do texto, sendo incapaz de apontar o tema, seu assunto principal, sua relevância. Não consegue dialogar com o texto, nem se propor perguntas sobre ele. ■ Leitura adequada – esse é o nível da compreensão. O leitor consegue apreender a perspectiva do autor e é capaz de apontar a discussão tex- tual. Extrapolando a decodificação textual, ele estende sua atenção para as entrelinhas, por meio de suas inferências, construídas a partir de seu conhecimento prévio. ■ Leitura complexa – é o nível da leitura crítica, em que o leitor extrapola a compreensão e dialoga com o texto, questionando-o e se questionando. Ele é capaz de perceber o dialogismo do processo argumentativo e apon- tar intertextualidades quando houver. Tão importante quanto conhecer e refletir sobre as etapas e níveis de leitura, importa retomar, aqui, a tese – ler é um processo que pode ser aprendido. Por isso, o avanço de uma etapa para outra e de um nível para outro é perfeitamente possí- vel para qualquer pessoa, de qualquer idade, desde que haja vontade e empenho. Importa, também, considerar o fato de que teorias linguísticas não bastam para aperfeiçoar habilidades leitoras. Somente as desenvolvemos mediante a convicção do quanto a leitura é importante e do quanto precisamos dela para a nossa formação, não apenas profissional, mas humana. Nesse sentido, quem já não ouviu de pais, professores e até mesmo da mídia os famosos clichês: “a leitura é importante”, “leia mais”, “ler é viajar” etc.? Pois bem! Que a leitura é importante todo mundo já sabe. Que muitas leituras nos possibilitam conhecer e viajar por tantos outros mundos, contextos e situações, também sabemos. Entretanto, poucos sabem qual é, de fato, a verdadeira lei- tura, aquela capaz de formar, completar e transformar meros sujeitos passivos inseridos em uma sociedade em sujeitos ativos nela, isto é, cidadãos – no sen- tido pleno da palavra. Leitura: Etapas, Níveis e Concepções Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 Em que consiste, afinal, a verdadeira leitura? O texto da leitura complementar, que está no final desta unidade, sugere reflexões muito pertinentes a esse respeito. Foi escrito pela historiadora, filó- sofa, dramaturga e escritora mineira Guiomar de Grammont (1999). Vale a pena conhecer, na íntegra, as sábias palavras da autora. Impressionanteo poder trans(formador) da leitura, não é mesmo? Sociedades inteiras podem ser modificadas se forem compostas por multidões de leitores críticos. Leitores críticos são “perigosamente” mais humanos. Percebeu que ser perigoso, no sentido sugerido pelo texto de Guiomar de Grammont (1999), da leitura complementar, não consiste em algo destrutivo? Muito pelo contrário, consiste na construção de uma sociedade mais justa e solidária, feita por pes- soas muito mais conscientes de seus deveres, muito bem preparadas para exigir seus direitos. A “pensar fundo na questão”, o que mais você diria sobre a LEITURA? Qual a sua opinião sobre as ideias da autora Guiomar de Grammont? Você percebeu o quanto seus exemplos e argumentos estão carregados de ironia? Você conse- guiu fazer a leitura nas entrelinhas? Está satisfeito com a leitura que realizou desse texto de Guiomar de Grammont? Se não, sugerimos que leia-o de novo. Experimente-o mais uma vez. FAÇA SUAS ANOTAÇÕES ÀS MARGENS. Pelo computador, você pode utilizar o ícone inserir comentários. É ótimo! Se, no decor- rer das suas leituras, você tiver por hábito registrar seus argumentos, suas ideias, A leitura caracteriza-se como um dos processos que possibilita a partici- pação do homem na vida em sociedade, em termos de compreensão do presente e passado e em termos de possibilidade de transformação socio- cultural futura. (Ezequiel T. da Silva) LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 questionamentos e conclusões, então, você já não será mais um sujeito passivo diante dos textos e, por isso, a cada leitura será uma nova pessoa. Para Leffa (1996, p. 10), “ler é [...] reconhecer o mundo através de espelhos [...] é, na sua essência, olhar uma coisa e ver outra”. Como, por exemplo, fixar os olhos em um montante de dinheiro e ver uma casa luxuosa. Trata-se de um processo de “triangulação”. Segundo o autor, “sem triangulação não há leitura” (LEFFA, 1996, p. 10), há somente uma tentativa de leitura. O leitor lê, mas não entende; olha, mas não vê. Em termos mais específicos, existem três linhas teóricas a respeito da leitura: alguns teóricos acreditam que ler é extrair significado do texto; para outros, atri- buir-lhe significados; para o terceiro grupo, ler é interagir. Na primeira concepção, concepção ascendente, o texto tem maior impor- tância, tem um fim em si mesmo, é a voz absoluta e precisa do leitor apenas para ser decodificado. O significado, exato e completo, está contido nas palavras do autor, cabendo ao leitor, simplesmente, a árdua tarefa de compreendê-las inte- gralmente e, assim, descobrir esse significado. Na segunda concepção, concepção descendente, o leitor ganha importância. Nessa acepção, a origem do significado de um texto está no leitor. “O mesmo texto pode provocar em cada leitor e mesmo em cada leitura uma visão dife- rente da realidade” (LEFFA, 1996, p. 14). Por fim, na terceira concepção, concepção interativa, o sentido da leitura consiste, exclusivamente, da relação entre leitor e texto. Este não é mais impor- tante que aquele, ou vice e versa. Ambos dependem um do outro e da interação entre eles para que a atribuição de sentidos ocorra de modo eficaz. A leitura é, portanto, um processo de interlocução entre leitor e autor, mediado pelo texto. Não se trata apenas de extrair informações da escrita, decodificando-a palavra por palavra. É um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de cons- trução de significados do texto. Ainda com o intuito de pensar a leitura em seu sentido pleno, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 69-70), encontramos a seguinte definição: Leitura: Etapas, Níveis e Concepções Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de com- preensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu co- nhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc.[...]. Observe que, de fato, tal como nos ensinou Paulo Freire (2001, p. 9), “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, isto é, toda a leitura de mundo e outros elementos prévios que o leitor traz consigo contribuem, e muito, para que ele compreenda os conteúdos lidos. A partir da definição supracitada, vamos esmiu- çar alguns desses elementos e acrescentar outros. CONHECIMENTO SOBRE O ASSUNTO Sem conhecimento prévio sobre o assunto a ser lido, as dificuldades de compre- ensão são gigantescas, mas não intransponíveis. Se em um curso de oratória somos convocados para falar ao público e alta- mente surpreendidos com o assunto sorteado, algo que desconhecemos totalmente ou sobre o qual temos pouco domínio, a situação seria embaraçosa, não é mesmo? Não teríamos nenhuma chance, nem mesmo tempo para buscarmos informa- ções a respeito, a fim de conseguirmos, ao menos, meia dúzia de palavras para dizer. Por outro lado, se nos for proposta a leitura de conteúdos sobre os quais não temos prévio conhecimento, a situação não será tão embaraçosa quanto a mesma circunstância no curso de oratória, porque teremos tempo e condições para suprir essa lacuna por meio de uma série de leituras. Não há leitura qualitativa no leitor de um livro. A qualidade (profundidade?) do mergulho de um leitor em um texto depende – e muito – de seus mer- gulhos anteriores. (João W. Geraldi) LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 O conhecimento prévio sobre o assunto possibilita ao leitor colocar em prática uma estratégia de leitura fundamental: inferir ou levantar hipóteses sobre o que será dito no texto antes mesmo de iniciar sua leitura. No percurso da leitura, caberá ao leitor confirmá-las ou refutá-las. Quanto mais leituras qualitativamente realizadas sobre conteúdos diversos – não apenas os exigidos pela academia –, maior o repertório de conhecimentos do leitor, tanto o de mundo quanto o linguístico. Consequentemente, maiores as possibilidades de compreensão e interpretação de textos. É mais do que natural e até mesmo necessário ao nosso crescimento, em alguns momentos da vida, sermos desafiados a compreender algum texto que nos apresente assuntos completamente novos, ou velhos assuntos tratados sob um viés completamente inusitado. Isso significa que, provavelmente, aquele texto exigirá mais que uma leitura para que possamos compreendê-lo em sua totalidade. Como já dissemos, releituras fazem parte do processo. Depende do grau de complexidade não apenas decorrente da novidade do assunto, mas, tam- bém, do estilo de quem o produziu. Alguns escritores utilizam uma linguagem bastante rebuscada, períodos muito extensos, inversão de classes gramaticais e outros fatores que podem, sim, exigir muito mais o empenho de seus leitores. CONHECIMENTO LINGUÍSTICO Nas aulas de gramática, em que o estudo da língua ocorre de modo completo, sistemático e minucioso, adquirimos um repertório linguístico importantíssimo e essencial para o nosso desempenho enquanto leitores e, também, produtores de texto. Entretanto, para que seja ampliado, esse repertório requer a prática de muitas leituras realizadas de modo crítico e consciente. Portanto, na leitura dos tantos materiais sobre os quais você se debruça, lan- ce-lhes um olhar de detetive. Seja um detetive de palavras. Observe o estilo do autor, o emprego de regências e concordâncias. Atente para o modo como ele usa os pronomes. Olhe atentamente para a escrita de palavras que você não consi- derafáceis. Memorize-as e comece a usá-las com certa frequência, nas situações Leitura: Etapas, Níveis e Concepções Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 que julgar convenientes, seja na fala ou na escrita. Identifique as figuras de lin- guagem utilizadas pelo autor, como, as ironias e metáforas. Se não se lembra das figuras de linguagem, busque revisá-las e aplicá-las na produção de seus próprios textos. Além de um dicionário da língua portuguesa em mãos, tenha também uma gramática e a estude de vez em quando. CONHECIMENTO SOBRE O AUTOR O conhecimento prévio sobre o autor – seu estilo de escrita, as ideias que defende ou que contesta, suas crenças ou descrenças, seu posicionamento político e outros fatores – também garante ao leitor bagagem para inferir, por exemplo, o ponto de vista defendido por ele, suas prováveis ideias e seus possíveis argu- mentos ou conclusões. Caso o leitor conheça, por exemplo, boa parte das obras de Cecília Meireles, uma das grandes representantes da literatura brasileira, e, certo dia, depara-se com um poema de sua autoria que antes não conhecia, já a partir de seu título poderá inferir algumas hipóteses - temáticas: talvez o poema aborde a transito- riedade das coisas e da vida, ou então a fantasia; talvez, a solidão; quem sabe, seja um poema marcado por apelos sensoriais. Enfim, as hipóteses antecipam possi- bilidades e, como consequência, auxiliam na compreensão leitora. CONHECIMENTO SOBRE O GÊNERO Uma bula de remédios exige uma leitura específica. Um gibi requer outra pos- tura completamente diferente por parte do leitor. Não é possível ler um texto científico da mesma forma como se lê uma receita caseira. É fundamental consi- derar as características específicas de cada gênero, pois esse tipo de conhecimento auxilia na compreensão. Ao ler um projeto acadêmico, por exemplo, é importante que o leitor conheça não apenas as especificidades do gênero e as partes que o compõem, mas, também, LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 a função de cada uma dessas partes. Se não souber, por exemplo, em que con- siste a introdução, a justificativa e os objetivos do projeto, encontrará grandes obstáculos para dialogar com o autor do projeto – via texto – e, por fim, terá sérias dificuldades para prosseguir a leitura, tornando-se impossível compreen- der o conteúdo em sua totalidade. MOTIVAÇÃO E INTENÇÃO É muito importante que o leitor esteja motivado para realizar a leitura com a intenção de fazê-la da melhor forma possível, mesmo quando tratar-se de uma leitura obrigatória, imposta por um sistema que requer a devolução de resultados para que lhe seja atribuído algum tipo de conceito ou nota. Se lhe faltar moti- vação, será mais difícil (não impossível) colocar os neurônios para trabalhar, já que, em se tratando de leitura, esta consiste em um “trabalho ativo de compre- ensão e interpretação do texto”. Porém, mesmo sem motivação, a intenção de ler pode fazer a diferença e ajudá-lo a cumprir suas tarefas. Ainda assim, a motivação não perde a sua relevância. Como encontrar moti- vação, por exemplo, para fazer a leitura de textos exigidos pela faculdade e que, embora abordem assuntos importantes para a sua formação acadêmica e pro- fissional, não correspondem às suas preferências literárias? Se a motivação não vem de dentro, terá que buscá-la do lado de fora: nos objetivos! OBJETIVOS Antes de iniciar qualquer leitura, é fundamental que tenhamos muito bem defi- nido ao menos um objetivo para realizá-la. E, mais uma vez, a ideia da intenção vem à tona. A intenção de ler para cumprir determinado objetivo. Nossa postura frente aos textos, e também nossa motivação, dependerá disso. Sem motivação não saímos do lugar e sem objetivos não chegamos a lugar algum. Leitura: Etapas, Níveis e Concepções Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Seu sucesso enquanto leitor(a) requer, pois, a soma de vários fatores, mas, sobretudo, de objetivos específicos pré-determinados antes da leitura, com vis- tas ao cumprimento de algum objetivo geral. Citamos, por exemplo, as leituras realizadas com fins para uma pesquisa acadêmica. Se, por solicitação do pro- fessor, o objetivo geral de uma pesquisa for investigar o nível de leitura dos brasileiros, o acadêmico terá como objetivo específico coletar informações nos textos que, previamente selecionados para a realização da pesquisa, apresenta- mos dados necessários. Nem sempre é o professor quem determina o objetivo geral. Na graduação, em especial, muitas vezes é o aluno quem terá que tomar todas as decisões: qual será a temática da sua pesquisa dentro de determinado eixo do conhecimento, qual será o objetivo geral, quais os objetivos específicos, quais livros deverá selecionar e assim por diante. Geraldi (2008) aponta alguns objetivos possíveis para a leitura: busca de informações, estudo do texto, fruição do texto e texto como pretexto. Muitos exemplos serviriam de ilustração para cada um desses objetivos, porém vamos elencar apenas alguns. ■ Busca de informações – esse objetivo ocorre na realização de pesqui- sas acadêmicas ou muitas outras situações, como, por exemplo, quando o leitor, por curiosidade, quer ampliar seu conhecimento a respeito de qualquer tema de seu interesse. Quando precisa resolver alguma situa- ção-problema e busca, nas fontes específicas, as informações certas para solucioná-la. Quando um candidato entra no site de uma empresa de grande porte e, de posse das informações ali apresentadas, elabora seu currículo de modo a convencer a empresa de que suas qualificações cor- respondem às suas exigências. ■ Estudo do texto – esse objetivo pode ser a prioridade do leitor frente aos textos que apresentam conteúdos que serão cobrados em avaliações acadêmicas ou em concursos etc. Tal objetivo ocorre também quando o leitor quer apenas ganhar conhecimento sobre o conteúdo apresentado no texto e sua forma, analisando o estilo do autor, bem como os detalhes linguísticos, sintáticos e estilísticos que o compõem. LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 ■ Fruição do texto – esse objetivo advém das leituras-prazer, das leituras que visam, exclusivamente, o entretenimento. A leitura sem compromis- sos predeterminados. ■ Texto como pretexto – se o leitor vai ao texto com a intenção de para- fraseá-lo ou produzir outro a fim de contestar seu conteúdo, então, seu objetivo será usá-lo como pretexto; se o leitor tem que produzir um texto de opinião na academia e carece de conteúdo para fazê-lo, pode usar bons textos como pretexto para citá-los em sua produção, de modo a atribuir mais credibilidade aos seus argumentos ESTRATÉGIAS DE LEITURA Observe, prezado(a) aluno(a), que DEFINIR OBJETIVOS IMPLICA NA ESCOLHA DE ESTRATÉGIAS. E isso, é claro, não vale apenas para a leitura. Se você pretende alcançar o objetivo X, precisará das estratégias W, Y e Z. Escolhidas as estratégias, faça delas seu norte. Se perceber que alguma delas não foi uma escolha adequada, faça mudanças. Empenhe-se nas estratégias que funcionam, de modo a atingir seu objetivo da melhor forma possível. Estratégias de Leitura Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .610 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Vamos conhecer algumas das principais estratégias de leitura à sua disposi- ção? Façamos isso a partir da citação a seguir: Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipa- ção, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo li- do,permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas (BRASIL, 1998, p. 69-70). Em suma, um leitor competente coloca em prática as estratégias supracitadas: ■ Selecionar – é uma das estratégias primordiais na vida de qualquer lei- tor. Afinal, em determinadas situações mais que outras, é impossível ler tudo o que queremos ou todos os títulos que nos mandam ler em tão pouco tempo para cumprir certa tarefa. Para nos manter informados, não precisamos ler todos os jornais ou assistir a todos os telejornais, basta sele- cionar os de boa qualidade. Para atingir certo objetivo em determinada leitura, basta selecionar os trechos mais importantes. Qualquer indivíduo já é seletivo por natureza (você não lê, por exemplo, todos os e-mails que caem em sua caixa de entrada, não é mesmo? Você não tem tempo nem paciência para isso, sem contar as ameaças de spam) e um leitor compe- tente aperfeiçoa ainda mais suas habilidades leitoras, de modo consciente. ■ Antecipar e inferir – a primeira consiste em fazer previsões ou levantar hipóteses do que será lido, a partir do título do texto, de seu conheci- mento sobre o autor, sobre o assunto etc.; na segunda, o leitor lê o que está nas entrelinhas ou por trás das linhas do texto, a partir de seu raciocínio lógico, das pistas textuais e das advindas de outras leituras, bem como da relação que estabelece entre os textos (intertextualidade). Inferir também consiste em deduzir, por exemplo, o significado de uma palavra desco- nhecida a partir do contexto em que está inserida. Ambas as estratégias são importantes, pois permitem ao leitor atribuir vários sentidos ao texto ativamente e ler o que não está explícito, de modo a identificar as infor- mações ou ideias implícitas no texto. ■ Verificar – é a estratégia que permite ao leitor avaliar, confirmar ou refu- tar as previsões feitas e, também, ter a certeza de que suas inferências estão coerentes e de acordo com o texto, considerando suas pistas textu- ais e outros fatores extratextuais necessários à sua interpretação, como, por exemplo, o momento e o contexto histórico em que foi produzido. LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 São estratégias básicas e todas de igual importância. Ao praticá-las, de modo consciente e frequente, o leitor desenvolve características que demonstram sua competência leitora. Ler nas entrelinhas do texto é uma arte. Vamos juntos praticar um pouco mais dessa arte, lendo a charge abaixo. Figura 2 - Charge para exemplificação Fonte: Questão 13. Prova Enade/2014 Letras. Que informações implícitas podem ser inferidas na leitura da charge anterior? Com base em que pistas ou elementos textuais, você fez as inferências? E que tipos de conhecimentos você utilizou para chegar a essa conclusão? Estratégias de Leitura Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 Com base nessa charge, exemplificamos um nível de leitura realizado por leito- res atentos que leem nas entrelinhas do texto. Leem nas entrelinhas, porque os sentidos dessa charge não se constroem só pela linguagem verbal e não verbal, mas também pelos conhecimentos linguísticos e de mundo trazidos pelo leitor. Assim, a partir dessa charge, podemos inferir estas informações: ■ Três homens bons morreram – essa inferência dupla (homens bons + morreram) é feita por uma pista não verbal e outra verbal. A não ver- bal é a imagem dos anjos conversando. A pista verbal está no segundo balão, pelo qual o anjo diz “ganhamos três grandes penas”, significando que os três foram para o céu, ou seja, não vivem na terra mais (morre- ram) e foram merecedores do céu, não do inferno (foram homens bons). ■ Os três homens foram grandes escritores – essa inferência pode ser feita pela pista não verbal presente no segundo balão, em que o sintagma “grandes penas” é uma metáfora para grandes escritores. Contudo, se o leitor já conhecia a profissão dos três homens, o conhecimento de mundo também participou dessa inferência, facilitando a construção dos signi- ficados da charge. ■ Os anjos estão pesarosos pelo falecimento dos autores – essa inferência pode ser feita pela pista não verbal, mais especificamente, pela expressão dos anjos, que retrata pesar e não alegria. Com ênfase no conhecimento prévio dos leitores sobre os autores, os leitores podem inferir que a grande perda (uma pena) foi para o Brasil, considerando-se que Ariano Suassuna era paraibano; Rubem Alves, mineiro; João Ubaldo Ribeiro, baiano. Uma das características da charge é sua significação estar ligada a um contexto. Essa charge foi criada em julho de 2014, mês que marca a perda desses três grandes nomes. Nesse período, a charge teve maior força significativa, devido à recente repercussão das mortes pela mídia. Em nenhum momento, porém, o texto foi desrespeitoso à memória de João, Ariano e Rubem, considerando-se que anjos são figuras positivas no imaginário popular e que, se os autores foram para o céu, eles receberam um elogio póstumo. Quanto à imagem dos autores abaixo dos anjos, essa nos permite inferir que João, Ariano e Rubem estão escrevendo e divertindo-se juntos no céu. Essa inferência não pode ser comprovada indubitavelmente pela imagem, porque a LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 imagem pode retratar o afazer desses homens em vida e não sua estada no céu. Logo, as duas inferências são possíveis, embora não possam ser comprovadas na charge. A esse tipo de inferência chamamos de subentendido. O subentendido é uma interpretação que, embora não contrarie o texto da leitura, não é a única opção. Logo, o subentendido é de responsabilidade do leitor e sua validade está na condição de não ser uma inferência contraditória ao texto. A inferência que pode ser confirmada pelo texto é chamada de pressuposto. Nessa charge, pressupomos que os autores eram homens bons (foram para o céu) e eram ótimos escritores (grandes penas). Essas informações são comprovadas no texto e, por isso, devemos tê-las como verdadeiras, caso contrário, a charge ficaria sem sentido. Assim, chamamos de pressuposto a inferência que é com- provada por pistas textuais, é tida como verdadeira e a essa condição atrela-se os sentidos construídos. A seguir, apresentamos uma frase que foi pronunciada há alguns anos por uma personalidade política, e com este exemplo demonstramos a importância de cuidar das palavras que usamos para expressar nossas ideias. “Ela é inteligente, apesar de ser mulher”. (Frase de Mário Amato, em 1989, referindo-se à ministra Dorothea Werneck) Na época em que pronunciou essa frase, Mário Amato, autor de tantos outros dizeres polêmicos, conquistou a antipatia das mulheres. Ele disse, explicitamente, que Dorothea é mulher e que é inteligente. Temos, então, duas informações escri- tas na linha do texto. Por outro lado, pode-se inferir outra informação, a que está implícita: as mulheres não são inteligentes. O que é um pressuposto, na fala de Mário Amato. Quaisas informações explícitas nessa frase? Qual a informação implícita? CONSIDERAÇÕES FINAIS Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 Esse tipo de informação não pode ser negada.Trata-se de uma informa- ção pressuposta, implícita no conectivo “apesar de”. Em entrevista posterior ao evento em que essa frase foi registrada por jornalistas, Mário Amato explicou-se: “aquilo foi brincadeira”, conforme o site da Revista Veja (on-line)2. Entretanto, mesmo que tenha sido uma brincadeira (aliás, extremamente inadequada e infe- liz), em seu dizer existe uma marca linguística que denuncia a sua indelicadeza. CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), a partir de vários aspectos relacionados à leitura, sobre os quais discutimos nesta unidade, você teve a oportunidade de se autoavaliar enquanto leitor(a). Por fim, gostaríamos de sintetizar algumas das principais característi- cas do leitor competente. Segundo o que foi discutido, o leitor competente: constrói vários sentidos possíveis e coerentes com o conteúdo do texto; compreende a mensagem que o autor pretendia e propõe outras leituras não previstas pelo autor; é leitor ativo (agente) que busca atribuir significados ativamente; a cada nova leitura, altera o significado de tudo o que já leu; delimita objetivos e analisa sua própria lei- tura; emprega as estratégias de leitura; controla o que lê e toma decisões diante de dificuldades de compreensão; tem iniciativa própria para selecionar o texto ou trechos deste texto que atendam ao objetivo daquela leitura; compreende o que lê e, também, o que não está escrito; estabelece relações entre o texto que lê e outros já lidos (construção de intertextualidade). Vale a pena retomar a primeira pergunta que abriu nossa introdução: como você se considera enquanto leitor(a)? E acrescentamos esta: onde você quer che- gar enquanto leitor(a)? LEITORES E LEITURAS: DA AUTOAVALIAÇÃO PARA A FORMAÇÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 Esperamos que nossas discussões a respeito de leitores e leituras tenham contribuído para a sua aprendizagem e seu crescimento, e que sua autoavaliação não pare por aqui. Não desista nunca diante das dificuldades de compreensão em razão das peculiaridades e complexidades de cada texto. E lembre-se: somos todos leitores em processo. Não se esqueça de colocar em prática as estratégias que ensinamos, não deixe de considerar a importância de interagir com o autor, mediante a palavra escrita, questionar o que é lido e reler os textos quantas vezes se fizer necessário. Aprimore suas habilidades leitoras mediante a prática diária de leituras, as que fazem parte da academia e as que você realiza por iniciativa própria. Sua dedicação, autonomia e iniciativa nesse processo serão sempre fun- damentais para seu sucesso. Seja um(a) leitor(a) experiente, proficiente, ativo(a), atuante, competente! 39 1. (FUNDEP/2014 - IF-SP - Professor - Língua Portuguesa) - A leitura e a produção de textos são atividades completamente diferentes, pois exigem, cada qual, de- terminadas técnicas e habilidades específicas, apropriadas à sua natureza e aos seus objetivos. Por outro lado, tanto uma quanto a outra, constituem ações in- trínsecas, que coexistem, dialogam entre si e se completam. Em síntese, a leitu- ra é a matéria-prima e a constituição de modelos para a escrita. Nesse sentido, identifique a seguir as assertivas que fundamentam essa relação intrínseca entre leitura e produção de textos: I. “Quem lê demais e pensa de menos adquire a preguiça de pensar.” (Albert Einstein). II. “Aprendi que o ato de escrever é uma sequela do ato de ler.” (Moacyr Scliar). III. “Qualquer um de nós, senhor de um assunto, é, em princípio, capaz de es- crever sobre ele. [...] Há apenas uma falta de preparação inicial, que o esforço e a prática vencem.” (Mattoso Câmara Jr.). IV. “Tudo aponta para a necessidade de aprendermos a escrever a partir daqui- lo que nós lemos. É este o truque a ser explicado.” (Frank Smith) Estão corretas: a. Apenas II e IV. b. Apenas II e III. c. Apenas III e IV. d. Apenas I e IV. e. Apenas I e II. 2. (ENADE LETRAS 2014 – Questão 13) Fonte: Chargeonline (2014). 40 Verifica-se que a palavra “pena”, na primeira fala, foi empregada com o mesmo sen- tido que no seguinte trecho: a. “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido” (Fernando Pessoa). b. “Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cínica com a vida, o que também foi uma pena, mas necessário. Viver pra sempre tão bobo e perdido teria sido fatal” (Tati Bernardi). c. “E pra deixar acontecer/A pena tem que valer/Tem que ser com você” (Jorge e Mateus). d. “A primeira imagem que surge quando o assunto é pena são os pássaros” (Arte no Corpo). e. “De boas palavras transborda o meu coração. Ao Rei consagro o que compus; a minha língua é como a pena de habilidoso escritor” (Bíblia Sagrada - Salmo). 3. (Adaptado: ENADE LETRAS 2014 – Questão 17) – Assinale a opção que melhor expressa as ideias desenvolvidas no texto de H. K. Olinto. A própria produção literária atual encaminha-se na direção de uma fusão com vários segmentos culturais, de que a chamada cultura de massa, tradicionalmen- te discutida em sua diferença negativa, constitui tão somente um dos aspectos de negociação em bases renovadas. A defesa exclusiva da literatura clássica e da herança nacional, um casamento expresso e legitimado pela construção e ma- nutenção de repertórios recheados de um saber cultural canônico, no entanto parece tão problemática quanto a sua rejeição global. Hoje, circulam e prevale- cem formas culturais mistas, e até os textos canônicos são relidos como pontos de cruzamento de discursos amplos, que transcendem as fronteiras tradicionais da esfera do literário e do horizonte de pertença a espaços nacionais linguística e geograficamente circunscritos. Fonte: adaptado de Olinto e Scholhammer (2008, p. 75). 41 a. b. c. 42 d. e. 43 4. Considerando as 4 etapas da leitura (quais sejam, decodificação, compreensão, interpretação e retenção), marque, seguindo a legenda, a etapa necessária à si- tuação ou ao objetivo de leitura exposto abaixo (ou a que melhor os descreva). 1. Decodificação. 2. Compreensão. 3. Interpretação. 4. Retenção. ( ) Consegue comparar textos sobre o mesmo tema. ( ) Leitura de vários textos para apresentação em uma comunicação oral. ( ) Leitura adequada e prazerosa de poesia. ( ) Consegue apreender as ideias do autor, mas ainda precisa de outras leitu- ras para tecer sua própria argumentação a respeito do tema. ( ) Consegue ler em voz alta, sabe o significado das palavras, mas não conse- gue responder questões simples sobre as ideias do texto. A sequência correta é: a. 4, 2, 3, 1, 1. b. 4, 4, 3, 1, 2. c. 4, 3, 4, 2, 1. d. 3, 4, 3, 2, 1. e. 4, 4, 3, 2, 1. 5. (Adaptado: ENADE 2014 – Gestão Ambiental) – Ao falar de sustentabilidade, são necessários parâmetros de medição relativos às exigências humanas em relação ao planeta e o que o planeta pode oferecer/produzir aos seus habitantes. Assim, falamos sobre pegada ecológica e biocapacidade do planeta. Pegada ecológica é um indicador que estima a demanda ou a exigência humana sobre o meio ambiente, considerando-se o nível de atividade para atender ao padrão de con- sumo atual (com a tecnologia atual). É, de certa forma, uma maneira de medir o fluxo de ativos ambientais de que necessitamos para sustentar nosso padrão de consumo. Esse indicador é medido em hectare global, medida de área equiva- lentea 10.000 m². Na medida hectare global, são consideradas apenas as áreas produtivas do planeta. A biocapacidade do planeta, indicador que reflete a rege- neração (natural) do meio ambiente é medida também em hectare global. Uma 44 razão entre pegada ecológica e biocapacidade do planeta igual a 1 indica que a exigência humana sobre os recursos do meio ambiente é reposta na sua totalida- de pelo planeta, devido à capacidade natural de regeneração. Se for maior que 1, a razão indica que a demanda humana é maior que a capacidade do planeta de se recuperar e, se for menor que 1, indica que o planeta se recupera mais rapida- mente. Analise o gráfico e as afirmações que o seguem. Fonte: Lopes (2012, on-line)3. O gráfico evidencia: I. Que, em 1970, o planeta estava equilibrado em se tratando de sustentabili- dade. II. Tendência a desequilíbrio gradual e contínuo da sustentabilidade do planeta. III. Um desequilíbrio relativo à sustentabilidade do planeta, para o qual há uma solução: o comércio internacional, em que os países mais populosos expor- tam insumos de países menos populosos, contendo, com essa transação, o desequilíbrio global. IV. Um aumento populacional mundial muito intenso de 1970 a 1975, quando o problema de sustentabilidade do planeta começou, indicando que esse au- mento causou o desequilíbrio global, confirmado pelos dados até 2008 que mostraram que a pegada ecológica, medida em termos per capita, era de 2,7 hectares globais (gha). V. Que, de 1961 a 1970, não havia o que o enunciado explica como pegada eco- lógica. 45 Marque a opção correta: a. Todas as explicações estão corretas. b. Somente as explicações I, II e III estão corretas. c. Somente as explicações IV e V estão corretas. d. Somente as explicações I e II estão corretas. e. Somente as explicações II e V estão corretas. MATERIAL COMPLEMENTAR Estratégias de Leitura Isabel Sole Editora: Artmed Ano: 1998 Sinopse: o livro escrito por Isabel Solé aborda diferentes formas de trabalhar com o ensino da leitura. Seu propósito principal é promover nos alunos a utilização de estratégias que permitam interpretar e compreender de forma autônoma os textos lidos. Enfatizando sempre que o ato de ler é um processo complexo, a autora, utilizando um texto simples e agradável de ser lido, explicita-o dentro de uma perspectiva construtivista da aprendizagem 47 A PENSAR FUNDO NA QUESTÃO, EU DIRIA QUE LER DEVIA SER PROIBIDO. Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impos- síveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sus- tinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos. Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, in- conformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação. Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas, para que conhecer, se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais? Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para cami- nhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimu- lar a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido. Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Transportam-nos a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Fazem- -nos acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas. Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida desti- nou para a repetição e para o trabalho duro. Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus di- reitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade. 48 O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utili- tárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura? É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem traba- lhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um. Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos. Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para exe- cutar ordens, a palavra é inútil. Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público,o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida. Ler pode tornar o homem perigosamente mais humano. Fonte: Grammont (apud PRADO; CONDINI, 1999, p. 71-73). REFERÊNCIAS ANDRADE, C. D. de. Poesia Completa. Editora Nova Aguiar: Rio de Janeiro, 2006. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos de ensino fun- damental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998. FREIRE, P. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2001. GERALDI, J. W. (Org.). O texto na sala de aula. 4. ed. São Paulo: Ática, 2008. GRAMMONT, G. de. Ler devia ser proibido. In: PRADO, J.; CONDINI, P. (Orgs.). A for- mação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus,1999, p.71-3. LEFFA, V. J. Aspectos da leitura. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1996. OLINTO, H. K. Literatura/cultura/ficções reais. In: OLINTO, H. K.; SCHOLHAMMER,K.E. Literatura e cultura. Rio de Janeiro: EPUC, 2008, p. 75. PROVA ENADE, 2014. Letras, Português: Licenciatura. Nov. 2014. INEP. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2014/30_le- tras_portugues_licenciatura.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2016. SILVA, E. T. da. Criticidade e leitura: ensaios. Campinas: Mercado das letras, 1998. WERNECK, D. Apesar de ser mulher. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990. REFERÊNCIAS ON-LINE 1 Em: <http://www.espacoacademico.com.br/032/32cnagel.htm>. Acesso em: 21 nov. 2016. 2 Em: <http://veja.abril.com.br/210802/entrevista.html>. Acesso em: 21 nov. 2016. 3 Em: <https://financasfaceis.wordpress.com/2012/07/29/desenvolvimento-susten- tavel-i/>. Acesso em: 21 nov. 2016. 49 GABARITO 1. A. 2. B. 3. B. 4. E. 5. D. U N ID A D E II Professora Me. Cristina Herold Constantino A FERRAMENTA DA LÍNGUA A SERVIÇO DA PRÓPRIA LÍNGUA Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender a concepção linguística de língua. ■ Reconhecer a variabilidade da língua. ■ Considerar o padrão como uma modalidade necessária. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Língua é sinônimo de gramática? ■ Concepções de gramática ■ A relação ortografia e língua ■ Como observar a gramática nas práticas de texto ■ Norma padrão: Por quê? Para quê? ■ Reflexões acerca do emprego da noção de gramática Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 53 INTRODUÇÃO Pensamos que a primeira pergunta a se fazer para nós mesmos é: o que eu entendo por língua? Quais informações eu tenho sobre a concepção de língua? Até porque esse é um parâmetro para identificarmos, talvez, o segundo aspecto que nos vem à mente: tenho domínio sobre a língua? Tenho utilizado a língua de maneira adequada? Imagine a imagem de uma língua. Quem sabe, essa imagem criada em sua mente nos auxilie na explicação complexa e abrangente, mas, ao mesmo tempo, simples e tão básica do que vem a ser a língua. Você deve estar imaginando o que essa imagem mental tem a ver com o que está sendo dito. Na verdade, pode ter tudo, mas também pode não ter, depende do que você quer dizer. É isso mesmo! É apenas uma representação do quanto a língua é básica e faz parte das nossas atividades mais corriqueiras; por outro lado, pode cha- mar a nossa atenção para a complexidade que a envolve. O que isso quer dizer, então? Quer dizer que a língua (enquanto palavra – signo linguístico) possui grande variedade de sentidos; ou, ainda, poderia dizer que a língua, enquanto instrumento de comunicação, pode ser utilizada de diferentes maneiras, reali- zada em sua diversidade linguística. Isso quer dizer que a língua portuguesa não é uma só? São várias ao mesmo tempo? Como assim? A propósito, quando nos perguntam se não sabemos falar a língua portuguesa, normalmente as pessoas se referem, até mesmo ironicamente, à gramática? Assim, cabe a seguinte per- gunta: língua é sinônimo de gramática? Será? Durante a abordagem sobre esse assunto, vamos refletir sobre três concepções importantes de gramática, mostrando como elas se manifestam socialmente, em nosso cotidiano. Também vamos discutir o que vem a ser a língua ou a norma padrão, destacando a insistência escolar sobre seu ensino e os contextos em que ela é imprescindível. A FERRAMENTA DA LÍNGUA A SERVIÇO DA PRÓPRIA LÍNGUA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E54 LÍNGUA É SINÔNIMO DE GRAMÁTICA? Sim, a concepção de língua pode estar relacionada à gramática. Cabe, agora, buscarmos entender melhor de que modo isso ocorre. Nada melhor do que come- çarmos pela sua etimologia, ou seja, a palavra Gramática origina-se do grego: γραμματική, transl. grammatiké, feminino substantivado de grammatikós, e pode ser entendida como o conjunto de regras individuais usadas para um determinado uso de uma língua, não necessariamente o que se entende por seu uso “correto”. É o ramo da Linguística que tem por objetivo estudar a forma, a composição e todas as questões adicionais de uma determinada Língua. Nesse sentido, a gramática tem muito a ver com cada um de nós, uma vez que se ocupa essencialmente das regras individuais – a saber – aquelas que nós utili- zamos, também, em nosso cotidiano mais informal; podemos afirmar, então, que nossa vida está relacionada à língua, ou seja, tudo o que diz respeito ao emprego, ao uso da língua, não necessariamente ao uso padrão, mas também e inclusive à norma culta possui relação com o que somos e fazemos. Dessa forma, podemos entender a língua como um manual de normas e regras que regulam a língua, bem como regras as quais os falantes têm interiorizado acerca de sua língua materna. Língua é Sinônimo de Gramática? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 55 CONCEPÇÃO DE GRAMÁTICA O doutor em Linguística, professor Sírio Possenti (1983, on-line)1, estabelece uma relação entre gramática e política, apontando as diversas características da língua representadas, basicamente, por meio de três tipos de compreensão do que vem a ser gramática. Segundo o autor, no sentido mais comum, o termo gramática designa um conjunto de regras que devem ser seguidas por aqueles que querem “falar e escrever corretamente”. Neste sentido, pois, gramática é um conjunto de regras a serem seguidas. Usualmente, tais regras prescritivas são expostas, nos compêndios, misturadas com descrições de dados, em relação aos quais, no entanto, em vários capítulos das gramáticas, fica mais do que evidente que o que é descrito é, ao mesmo tempo, prescrito. Citem-se como exemplos mais evidentes os capítulos sobre concordância, regên- cia e colocação dos pronomes átonos. Num segundo sentido, gramática é um conjunto de regras que um cientista dedicado ao estudo de fatos da Língua encontra nos dados que analisa a partir de uma certa teoria e de um certo método. Neste caso, por gramática se entende um conjunto de leis que regem a estruturação real de enunciados realmente produzidos por falantes, regras que são utilizadas. Neste caso, não importa se o emprego de determinada regra implica numa avaliação positiva ou negativa da expressão linguística por parte da comunidade, ou de qualquer segmento dela, que fala esta mesma língua. Gramáticas do primeiro tipo preocupam-se mais com como deve ser dito, as do segundo ocupam-se exclusivamente de como se diz. Para que a diferença fique bem clara, imagine-se um antropólo- go que descreva determinado sistema de parentesco de um certo povo, e outro que o censure por desrespeitoso, por não distinguir-se o papel do pai e do tio [...]. Num terceiro sentido, a palavra gramática designa o conjunto de regras que o falante de fato aprendeu e das quais lança mão ao falar. É pre- ciso que fique claro que sempre que alguém fala o faz segundo regras de uma certa gramática, e o fato mesmo de que fala testemunha isto, porque usualmente não se “inventam” regras para construir expressões. Pelo conhecimento não consciente, em geral, de tais regras o falante sabe sua língua, pelo menos uma ou algumas de suas variedades. O conjunto de regras linguísticas que um falante conhece constitui a sua gramática, o seu repertório linguístico. Ocorre que língua não é um conceito óbvio. Pelo menos, pode-se dizer que há um conceito de A FERRAMENTA DA LÍNGUA A SERVIÇO
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