Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Biologia Celular I- Aula 2 1 Biologia Celular I- Aula 2 5 Observando Células Microscopia Óptica e Eletrônica Márcia Attias OBJETIVOS Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: Conhecer o breve histórico das microscopias óptica e eletrônica. Definir o que é um microscópio. Conceituar poder de resolução de um microscópio. Saber os princípios de funcionamento de um microscópio óptico simples. Saber os princípios de funcionamento de um microscópio eletrônico de transmissão. Saber os princípios de funcionamento de um microscópio eletrônico de varredura. Identificar aplicações da microscopia óptica e eletrônica na biologia. Biologia Celular I- Aula 2 2 INTRODUÇÃO O primeiro problema a enfrentar no estudo das células é o seu tamanho: as células são pequenas demais para serem observadas a olho nu. Por esse motivo as primeiras células foram observadas e descritas apenas no século XVII, quando foi inventado o microscópio óptico. O nome célula foi usado pela primeira vez por Robert Hooke para descrever as paredes celulares de uma lâmina de cortiça. Você tem ideia de qual seja o tamanho de uma célula? As maiores células medem cerca de 0,2mm; mas, em média, uma célula é 10 ou 20 vezes menor do que isso. Por outro lado, nós lhe perguntamos: qual o tamanho dos menores objetos que podemos distinguir a olho nu (sem ajuda de instrumentos especiais)? Podemos distinguir uma formiga de uma pulga, mas somos capazes de ver os olhos desses insetos? Os menores objetos que podemos distinguir (= resolver) também medem 0,2mm, mas no caso das células isso não ajuda muito, já que as estruturas internas das células são ainda menores. Esses detalhes só começaram a revelar os seus mistérios no início do século XX, quando foram construídos os primeiros microscópios eletrônicos, que revelaram a estrutura interna da célula e de partículas ainda menores, como os vírus.Veja na Figura 1 a necessidade de diferentes tipos de microscópios para observação de células e estruturas celulares. Figura 1: Nossos olhos conseguem identificar objetos maiores que 0,2mm. Praticamente todas as células, animais e vegetais, só são vistas ao microscópio óptico. Bactérias e algumas organelas celulares também são visíveis em microscopia óptica, mas estruturas menores que 0,2μm só foram visualizadas quando surgiram os microscópios eletrônicos. Imagem retirada de: https://edutec.unesp.br Biologia Celular I- Aula 2 3 Células e o Microscópio óptico No século XIX, com o aperfeiçoamento dos microscópios ópticos e o desenvolvimento das técnicas de preparo das amostras para observação (preservação e coloração), Schleiden e Schwann propuseram que todos os animais e plantas são formados por células. Esta proposta, lançada em 1838, ficou conhecida como a doutrina celular. Só por aí, você já pode avaliar que o estudo de células e a microscopia são praticamente inseparáveis, mas por que? As células, em geral, são: pequenas demais para serem vistas a olho nu, frágeis para serem manipuladas e transparentes. Por que então podemos vê-las utilizando um microscópio? Aliás, você sabe o que é um microscópio? Nesta aula vamos aprender um pouco sobre os microscópios ópticos e os eletrônicos. Eles são mais parecidos do que se pode imaginar à primeira vista. Observe a Figura 2 que você já vai aprendendo um pouco sobre eles. Figura 2: Esquema de construção de um microscópio óptico e um eletrônico. No microscópio óptico a luz é desviada por lentes de vidro. No microscópio eletrônico de transmissão o feixe de elétrons é desviado por bobinas magnéticas. Biologia Celular I- Aula 2 4 Preste atenção na Figura 2. Tanto no esquema do microscópio óptico quanto no eletrônico estão assinalados componentes de nomes semelhantes. Ambos possuem uma fonte de energia (luz ou elétrons), que é desviada por lentes de modo a formar uma imagem aumentada de uma amostra, permitindo a observação de detalhes invisíveis a olho nu. No microscópio óptico conseguimos distinguir objetos de até 0,2µm (dois décimos de micrômetro). E quanto é 1 µm? Veja no quadro aí na margem. Dizemos então que 0,2 µm é o limite de resolução de um microscópio óptico. Estruturas menores só serão vistas no microscópio eletrônico, cujo limite de resolução pode chegar a 0,2nm nos equipamentos mais modernos. Esse limite de resolução depende de dois fatores. O primeiro, que você já deve ter imaginado, depende da precisão com que os microscópios são construídos e da qualidade dos seus componentes, em especial as lentes. O segundo é uma limitação física. A luz visível, tem um comprimento de onda bem maior que os elétrons. Assim, quando a onda luminosa atravessa um objeto menor de 0,2µm, ela não é “perturbada” por ele, ou seja, o objeto “não é visto”. Já o feixe de elétrons tem um comprimento de onda muito menor, e objetos muito pequenos podem desviar o seu trajeto. Na Figura 3 procuramos representar essa diferença. Limite de resolução de um microscópio óptico Conceito de limite (ou poder) de resolução: é a menor distância (d) entre dois pontos em que eles podem ser vistos como objetos distintos. O limite, ou poder de resolução de um microscópio óptico é de 0,2µm, mas de onde saiu esse valor? Ele é calculado pela seguinte fórmula: Onde: λ= 550nm, comprimento de onda médio da luz do microscópio óptico; α= abertura da lente objetiva em radianos (0,01rad=0,5o). Assim d=0,2μm no microscópio óptico. Unidades de medida Centímetro: 1cm = 10-2m Milímetro: 1mm = 10-3m Micrômetro: 1µm = 10-6m Nanômetro: 1nm= 10-9m Figura 3: O comprimento de onda da luz é bem maior que o comprimento de onda dos elétrons. Objetos como a estrela são grandes o suficiente para perturbar o trajeto da onda luminosa, enquanto o coração passa despercebido. O feixe de elétrons tem um comprimento de onda muito menor, podendo ser desviado por um objeto menor, como o representado pelo coração. Biologia Celular I- Aula 2 5 As lentes do microscópio óptico Nosso dia a dia está repleto de exemplos de objetos que utilizam lentes para ampliar objetos, para concentrar ou dissipar a luz. Nos microscópios ópticos mais simples a configuração é a mostrada na Figura 4. Todos os microscópios ópticos têm três tipos de lente, com funções específicas: Condensadora: como diz o próprio nome, a função da lente condensadora é concentrar o feixe de luz sobre o objeto a ser observado. Objetiva: A lente objetiva fica próxima do objeto a ser observado. Em geral os microscópios possuem um jogo de lentes objetivas, permitindo observação em diferentes graus de magnificação. Uma configuração inclui objetivas de 10X, 40X e 100X de aumento. Ocular: A lente ocular acrescenta mais um grau de aumento, ou seja, se a ocular for de 10X e a objetiva de 40X, o aumento final será de 400X. Um fato interessante é que os primeiros microscópios (Figura 5), já se assemelhavam ao microscópio atual. Vamos saber um pouco dessa história. Figura 4: Esquema de disposição das lentes e trajeto da luz em um microscópio óptico simples. Figura 5: Réplica do Microscópio utilizado por Robert Hooke. Biologia Celular I- Aula 2 6 HISTÓRICO DA MICROSCOPIA ÓPTICA O período na história da civilização ocidental entre os séculos XV e XVI é conhecido como Renascença. Foi neste período que viveram NicolauCopérnico, René Descartes, Galileu Galilei, Leonardo Da Vinci, Isaac Newton; artistas, filósofos e cientistas cujas obras nos impactam até hoje. Conceitos de química, física, matemática e astronomia que hoje são ensinados na escola, foram descobertos por esses cientistas que, quase sempre, se dedicavam a mais de uma disciplina. É bem possível que você tenha aprendido que o microscópio óptico foi inventado por Robert Hooke, na Inglaterra. Os microscópios ópticos já eram conhecidos e eram utilizados principalmente para pesquisas sobre a ótica das lentes e a propagação da luz. O grande diferencial de Robert Hooke foi ter utilizado o instrumento para observar vários seres e objetos, registrando suas observações em um livro, Micrographia, que fez grande sucesso e onde foi utilizado pela primeira vez o termo célula (Figura 6). Na plataforma CEDERJ você encontra mais imagens feitas por Hooke e muito mais coisas interessantes. Ultrapassando limites A microscopia óptica não para de evoluir e os progressos são fantásticos. Nos microscópios mais simples, chamados de microscópios de campo claro, as amostras em geral precisam ser coradas (lembre que no início da aula comentamos que as células são pequenas, frágeis e transparentes) e, muitas vezes, precisam ser fixadas com substâncias químicas como álcool ou formol. Esses tratamentos, normalmente, matam a célula, embora preservem sua forma (Figura 7). Figura 6: Imagem de uma lâmina de cortiça registrada por Robert Hooke no livro Micrographia. Cada compartimento foi chamado célula. Figura 7: Imagem de uma célula corada e observada em microscopia óptica de campo claro. O núcleo oval (roxo escuro) se destaca e o formato da célula, alongado e com expansões, são observados. Biologia Celular I- Aula 2 7 Porém, é possível observar células vivas e até filmá-las com adaptações nos sistemas de lentes. São os microscópios de contraste de fase e os de contraste interferencial. Na Figura 8, vemos exemplos de imagens obtidas com esses microscópios. Figura 8: Conforme o tipo de microscópio ótico, o contraste da imagem é bem diferente. (A) No microscópio óptico de campo claro, se a amostra não tiver sido corada, como vemos aqui, o contraste é muito baixo. (B) Quando são usados anéis de fase, a luz cria halos em torno dos objetos, gerando uma imagem de contraste de fase. (C) Com outro tipo de objetiva, temos os microscópios de contraste interferencial, que geram imagens sombreadas, dando a noção de relevo das estruturas celulares. Outra limitação rompida na microscopia óptica foi com relação à própria luz. Vimos que o limite de resolução depende do comprimento de onda da luz. O comprimento de onda da luz visível se situa entre 700nm (vermelho) e 400nm (violeta). Abaixo desse está a radiação ultravioleta (Figura 9). Os raios ultravioleta não são visíveis, mas são capazes de excitar moléculas fluorescentes. As moléculas fluorescentes absorvem os raios ultravioleta e emitem luz num comprimento de onda maior, visível. Temos exemplo dessas substâncias fluorescentes no nosso dia a dia: são as cores que “brilham no escuro”. Hoje em dia, há inúmeras moléculas fluorescentes disponíveis para inúmeros usos no estudo de células. É possível marcar uma única proteína de modo que ela se destaque e possa ser localizada num microscópio óptico de fluorescência. Graças à biotecnologia e à manipulação genética também é possível produzir em laboratório células ou bactérias fluorescentes. Biologia Celular I- Aula 2 8 Com os microscópios de fluorescência o poder de resolução dos microscópios ópticos foi ampliado e sua combinação a tecnologias de computação resultou em microscópios onde é possível observar vários planos de uma célula ou tecido e gerar modelos tridimensionais de com uma resolução que só era possível com os microscópios eletrônicos. Não temos espaço aqui para detalhar todos os métodos e marcadores que foram desenvolvidos para marcar estruturas e observar fenômenos celulares (locomoção, divisão, alimentação, etc.), mas apresentamos algumas imagens representativas deste avanço (Figura 10). Voltando ao básico: como se forma a imagem ampliada no microscópio óptico Em todos os microscópios ópticos a fonte de luz é concentrada pelas lentes condensadoras sobre uma amostra montada sobre a lâmina. O feixe luminoso atravessa a amostra e é captado pela lente objetiva que produz uma primeira imagem ampliada do objeto. Esta imagem intermediária será em seguida captada pela lente ocular que projetará a imagem final na retina do observador (Figura 11). O aumento final é o resultado da multiplicação do aumento dado pela lente objetiva pelo aumento da lente ocular (veja exercícios no fim desta aula). Figura 9: Escala comparativa do comprimento de onda de diferentes radiações. Os elétrons se situam na mesma faixa dos Raiox-X. Na Microscopia óptica, além da faixa do espectro visível, também são utilizadas radiações na faixa do ultravioleta (UV) para a microscopia de fluorescência. Biologia Celular I- Aula 2 9 Como existem várias lentes objetivas num mesmo microscópio, uma grande variedade de aumentos pode ser facilmente atingida, bastando girar o revólver. Assim, se utilizamos uma objetiva de 20X e uma ocular de 10X o aumento final será de 200X (10x20=200). Hoje em dia a imagem final pode também ser capturada por uma câmara fotográfica, de vídeo ou ainda por um sistema de computação. Uma ampliação suplementar pode ser obtida ampliando uma fotografia da imagem observada. Figura 10: (A) Diferentes componentes celulares podem ser marcados com moléculas florescentes de cores diferentes e observadas na microscopia de fluorescência. Em vermelho, com localização na parte mais central da célula, vemos uma nuvem de tubulina e em verde, com localização mais periférica a actina. (B) Nos microscópios de fluorescência de super-resolução, esses filamentos podem ser mais bem definidos e os microtúbulos individualizados. (Cortesia: Fernando Almeida) Figura 11: Esquema (muito simplificado) da formação da imagem em um microscópio óptico. No lugar onde vemos o observador (olho) pode ser instalada uma câmera de captura que projetará a imagem em uma tela, onde haverá um aumento suplementar. As linhas pontilhadas representam o trajeto da luz: Raios que passem pelo centro ótico da lente não são desviados e os raios que passam pela periferia convergem para o ponto focal da lente, marcado pelo traço vertical. O mesmo ocorre na lente ocular. Biologia Celular I- Aula 2 10 CALMA! Antes que você solte aquela famosa frase: “Não entendi nada! ”, vamos fazer um balanço do que vimos até aqui, para você ver que não é verdade. O que já devemos estar sabendo até aqui? 1- Que os microscópios são instrumentos essenciais no estudo das células. 2- Que os microscópios ópticos mais tradicionais utilizam a o espectro visível da luz (Figura 9), que é orientada por lentes de vidro, formando imagens ampliadas das células e tecidos (amostras). 3- Que o poder de resolução de um microscópio óptico é de 0,2μm. 4- Que é possível observar células ou tecidos não corados em microscópios ópticos de contraste de fase ou contraste interferencial. 5- Que iluminação na faixa do ultravioleta (espectro não visível da luz) é utilizada na microscopia de fluorescência. 6- Que utilizando marcadores fluorescentes e microscópios sofisticados, é possível observar detalhes da estrutura celular que sóeram visíveis em microscópios eletrônicos. Microscópios eletrônicos Microscópios eletrônicos? Sim! O que são microscópios eletrônicos? Volte à Figura 2. Ali estão esquematizados lado a lado um microscópio óptico e um eletrônico. A diferença mais fundamental entre eles é a fonte de energia utilizada. Enquanto o comprimento de onda da luz visível varia de 400 a 700nm, o comprimento de onda dos elétrons é de cerca de 0,002 nm (Figura 9). Aplicando a formula para a distância mínima entre dois objetos (ou limite de resolução) para este comprimento de onda teremos um limite de resolução 1000 vezes menor que o do microscópio óptico, ou seja, 0,2 nm. Os primeiros microscópios eletrônicos foram construídos na década de 1920. Vários cientistas trabalharam no desenvolvimento deste instrumento e, mais tarde, no desenvolvimento de métodos de preparo das amostras para que as células não fossem destruídas pelo impacto do feixe de elétrons sobre elas. Figura 12: Max Knoll e Ernst Ruska montam O primeiro microscópio eletrônico. Biologia Celular I- Aula 2 11 Quantos tipos de Microscópio Eletrônico existem? Quando falamos em microscópio eletrônico, na verdade estamos nos referindo a uma família de instrumentos que utiliza um feixe de elétrons para produzir uma imagem ampliada de um objeto. Essa família é composta, basicamente, por dois tipos de microscópios: os microscópios eletrônicos de transmissão e os microscópios eletrônicos de varredura. Os primeiros se baseiam na capacidade do feixe de elétrons de atravessar a amostra, enquanto nos segundos o feixe de elétrons percorre a superfície da amostra gerando um sinal que será visualizado num monitor. A ideia por trás dos microscópios eletrônicos é bastante simples: um feixe de elétrons é gerado a partir de um filamento aquecido (semelhante ao que ocorre quando acendemos uma lâmpada). Os elétrons têm carga negativa, por isso o trajeto e a aceleração deste feixe pode ser influenciada por bobinas magnéticas. Estas bobinas são as lentes dos microscópios eletrônicos. As amostras que são observadas, como tudo que existe, são formadas por átomos. O que acontece quando um elétron interage com um átomo? Depende de vários fatores, da velocidade com que o elétron está se deslocando e, principalmente, da natureza do átomo. Um pouco de história O século XX conheceu uma verdadeira “febre” a partir da descoberta da estrutura do átomo. Os elétrons, especificamente, foram descobertos por Thompson, em 1897. Anto os cálculos feitos pelos físicos teóricos, quanto os experimentos feitos nos “tubos de raios catódicos”, vieram provar a natureza ondulatória dos elétrons. Esses pioneiros, provavelmente, não faziam a menor ideia aonde aquelas observações iriam levar, mas o estudo do comportamento ondulatório dos elétrons resultou tanto na invenção dos aparelhos de televisão quanto na de um dos instrumentos fundamentais no estudo da Biologia Celular: o microscópio eletrônico. No ano de 1926, Bush provou que era possível focalizar um feixe de elétrons utilizando uma lente eletromagnética circular, estabelecendo assim os fundamentos da óptica eletrônica. Com base nesses princípios, foi iniciada em 1931 a construção do primeiro microscópio eletrônico por um grupo liderado por Ruska (Figura 12). Pelo enorme avanço que a microscopia eletrônica trouxe para às ciências, Ruska recebeu o Prêmio Nobel na década de 80. Figura 13: Tipos de interação entre um elétron e um átomo. O átomo A é de um elemento leve, os elétrons (1) que interagirem com ele, têm grande chance de atravessar pela nuvem de elétrons, sofrendo apenas pequenos desvios e perdendo velocidade e energia. O elétron 2 não interagiu com nenhum átomo e atravessa a mostra sem desvio e sem perda de energia. O elétron 3 está interagindo com um átomo de um elemento pesado (B) e há maior chance de ser barrado e sofrer um desvio elástico, como se quicasse. Biologia Celular I- Aula 2 12 Como assim? Todos os átomos possuem um núcleo, formado por prótons e nêutrons e em torno desses uma nuvem de elétrons. Os átomos de elementos leves, como o Hidrogênio e o Carbono, possuem núcleos com 1 e 4 prótons, respectivamente. Enquanto isso, os elementos pesados como Cobre, Ósmio e Ouro possuem, respectivamente, 27, 76 e 79 prótons no seu núcleo. Qual é a chance de um elétron passar por entre os átomos de um desses elementos sem ser barrado? Isso mesmo, quanto maior o número atômico do elemento que compõe a amostra, maior a chance de o elétron ser desviado. As amostras biológicas são formadas essencialmente por elementos leves (Carbono, Hidrogênio, Oxigênio e Nitrogênio), com pouca capacidade de barrar elétrons. Por isso, para serem observados ao microscópio eletrônico as células e tecidos passam por várias etapas de processamento que incluem a impregnação por metais pesados, como o Ósmio, o Ferro e o Chumbo. Na Figura 13 estão ilustrados estes conceitos. Continuando, no quadro aí em cima está contida a grande “sacação” dos pesquisadores que desenvolveram o microscópio eletrônico, mas eles não pararam por aí: também desenvolveram um segundo tipo de microscópio eletrônico que aproveita os elétrons que são desviados a partir da superfície da amostra. Neste caso o feixe de elétrons se movimenta sobre a amostra, como o leitor de um CD que vai lendo ponto a ponto a informação ali contida. Os elétrons desviados são captados por um detector que os converte em imagem digital. De acordo com o relevo da amostra temos áreas sombreadas ou mais claras, nos dando a ideia de 3 dimensões. Seguindo o ditado popular: uma imagem vale por mil palavras, então observe na Figura 14 uma imagem obtida no microscópio eletrônico de transmissão lado a lado com uma imagem de uma célula semelhante observada em microscopia eletrônica de varredura. Que informações temos com um instrumento ou o outro? É FUNDAMENTAL VOCÊ LER ESTE QUADRO Porque conseguimos ler estas palavras? Porque as letras são pretas em um fundo de outra cor, isto é, temos um contraste de cores. O mesmo acontece no microscópio eletrônico: se todos os elétrons passassem ou todos fossem desviados, não teríamos imagem. Como alguns são desviados e outros não, o resultado são perfis escuros, onde os elétrons foram barrados, e áreas claras, onde eles atravessaram, ou seja, foram transmitidos. Figura 14: (A) microscopia eletrônica de transmissão, de 4 células. Se destacam os núcleos (N) e, em torno deles, várias organelas. (B) microscópia eletrônica de varredura de 3 células. Percebemos um relevo, com a parte centra (onde deve estar o núcleo) mais alta. A distância e os contatos entre as células podem ser avaliados. Biologia Celular I- Aula 2 13 Um de cada vez: Microscópio Eletrônico de Transmissão (MET) A Figura 15 apresenta lado a lado a imagem de um microscópio eletrônico de transmissão e um esquema de sua montagem, incluindo a fonte de elétrons (filamento), as lentes magnéticas que orientam o feixe de elétrons na ampliação da imagem final e a posição onde fica a amostra. Você já viu um esquema semelhante na Figura 2, lá no início da aula, onde comentamos que o MET e o Microscópio óptico possuem várias semelhanças na sua concepção, mas quais são as diferenças fundamentais entre eles? microscópio óptico Microscópio eletrônico FONTE luz visivel, cujo comprimento de onda varia de 400 a 700nm Feixe de elétrons, cujo comprimento de onda é em torno de 0,005nm LENTES São de vidro. Para diferentes aumentos são utilizadas lentesdiferentes. São eletromagnetos. Conforme a corrente aplicada nessas lentes varia, o feixe será modificado, resultando em diversos aumentos. Figura 15: Disposição dos componentes do MET (Lentes, fonte de elétrons, amostra) e um modelo comercial. As imagens são projetadas na tela que fica na base da coluna, mas atualmente são capturadas por uma câmera e projetadas num monitor ligado a um computador, onde são gravadas. Biologia Celular I- Aula 2 14 No microscópio eletrônico de transmissão o feixe de elétrons tem que atravessar a amostra (no nosso caso, as células). Pois bem, como você pode ver na Figura 14, as células são razoavelmente espessas e o feixe de elétrons não conseguiria atravessar uma célula sem que a maioria dos elétrons fosse barrada. Por este motivo, o que, em geral, observamos ao microscópio eletrônico de transmissão, são cortes ultrafinos das células. Só para você ter uma ideia, uma célula simples, como a hemácia, tem cerca de 7µm de diâmetro e 1µm de altura e os cortes ultrafinos têm 0,1µm, dez vezes menos. Para ter ideia sobre o relevo das células e de vários objetos, usamos o microscópio eletrônico de varredura. Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) No microscópio de varredura (Figura 16) a imagem é construída a partir dos elétrons que não atravessam a amostra. Nesse microscópio, o feixe de elétrons é deslocado por molas defletoras, varrendo a superfície da amostra, ponto a ponto, em linhas de cima para baixo, semelhante ao scanner que muitos têm em casa. Em cada ponto o feixe de elétrons gera um sinal que é captado pelos detectores e transformado em fótons, que são visualizados em um monitor acoplado a um computador, que armazena as imagens. O Microscópio de varredura é utilizado não apenas no estudo de células, mas tem muitas aplicações no controle de qualidade de peças de precisão, no estudo de insetos e plantas. Você vai encontrar muitos exemplos interessantes na plataforma CEDERJ. O que os diferencia fundamentalmente é: Figura 16: No microscópio eletrônico de varredura a coluna é menor que no de transmissão. As amostras são varridas ponto a ponto pelo feixe de elétrons e o sinal gerado é convertido em uma imagem digital. As molas defletoras deslocam o feixe fazendo com que varra a superfície da amostra. Biologia Celular I- Aula 2 15 RESUMO Os microscópios ópticos começaram a ser construídos no século XVII e com eles foram observadas e batizadas as primeiras células. O aperfeiçoamento na construção de lentes, filtros e sistemas de iluminação deu origem a uma grande variedade de microscópios ópticos. Além dos de campo claro, que requerem que o material seja corado, existem microscópios de contraste de fase e de contraste interferencial, onde as células podem ser observadas vivas e sem coloração especial. Os microscópios de fluorescência permitem ver estruturas que normalmente não seriam observadas com os comprimentos de onda da luz visível. Progressos tecnológicos vêm sendo introduzidos na microscopia óptica, aumentando o poder de resolução desses instrumentos. Os microscópios eletrônicos foram desenvolvidos no século XX e, assim como os microscópios ópticos, estão em constante evolução e seu poder de resolução é cada vez maior, permitindo observar objetos cada vez menores. Nos microscópios de transmissão observamos fatias ultrafinas das células e tecidos, que mostram a sua estrutura interna. Nos microscópios de varredura, em geral são observados aspectos da superfície das amostras. EXERCÍCIOS 1. Em geral, os microscópios ópticos possuem um conjunto de lestes oculares e diversas objetivas. Qual o aumento final que será obtido em cada uma dessas combinações? objetiva ocular Aumento final 10x 5x 10x 10x 40x 10x 100x 10x 2. Por que as células receberam esse nome? 3. Compare o microscópio de Hooke (Figura 5) ao modelo atual (Figura 4) identificando as partes análogas. 4. Se uma amostra não possui cor ou contraste natural, pode ser observada ao microscópio óptico? Que soluções você tem para este problema? 5. Em que tipo(s) de sistema óptico podemos observar células vivas e sem a adição de corantes? 6. Qual a principal característica da microscopia de fluorescência com relação a: Natureza da luz utilizada? Natureza dos corantes utilizados? 7. Qual o limite de resolução do microscópio óptico? 8. Exercite seu poder de comunicação, você vai precisar dele para explicar aos seus futuros alunos o que é poder de resolução de um microscópio. Em suas palavras, explique este conceito. Não é necessário usar fórmulas matemáticas. 9. Uma hemácia mede 7 μm. Quando observada sob um aumento total de 1.000 vezes, quanto medirá em centímetros? 10. Por que, em geral, o núcleo é a única estrutura claramente visível dentro de uma célula observada ao microscópio óptico? 11. Vamos treinar o valor das medidas? 1 Km tem 1000 metros, certo? 1m tem 100cm. Quantos micrômetros (µm) há em 1m ? E em 1 centímetro? O que é maior: 1 µm ou 1 nm (nanômetro)? Quantas vezes? 12. Uma célula foi fotografada com 2.000x de aumento no microscópio óptico. Uma estrutura que tenha na realidade 2 μm aparecerá com que comprimento na foto? Biologia Celular I- Aula 2 16 13. Tanto no microscópio óptico quanto no eletrônico, qual a função da lente condensadora? E da lente objetiva? 14. Porque no microscópio eletrônico de transmissão observamos fatias de células enquanto no de varredura podemos observar células ou até organismos inteiros? 15. Nos microscópios eletrônicos, via de regra, não é possível observar células vivas. Cite duas razões para isso. 16. Quais os tipos de interação entre um elétron e um átomo? 17. Que tipo de elemento atômico tem maior probabilidade de barrar o trajeto de um elétron, o carbono, que existe em enormes quantidades nas células, ou o ferro, que está presente em muito menor quantidade? 18. Nos microscópios de varredura podemos observar pequenos animais, flores e células inteiros, mas para observação no microscópio de transmissão eles precisam ser cortados em fatias muito finas. Justifique essas diferenças. 19. Todos os microscópios, ópticos e eletrônicos, possuem uma lente que é chamada condensadora. Por que ela tem este nome? Qual a sua função? No que ela difere das outras lentes? 20. Mencionamos na aula que as células precisam muitas vezes serem fixadas. O que é o processo de fixação? Cite uma substância que pode ser usada como fixador. Prezado aluno, você não vai encontrar respostas para essas perguntas apenas com o texto da aula. Elas são um estímulo para você visitar a plataforma e frequentar as tutorias e a aula prática!
Compartilhar