Prévia do material em texto
Fisica Matema´tica I Prof. Dr. Matthew Luzum • Site: http://matt.luzum.org/Home/fmi2019 • Evaluac¸a˜o: exerc´ıcios (20%) + 2 provas (40% cada) • Sala do Prof.: 3093 Ala central Suma´rio 1 Se´rie de Fourier 1 1.1 Completeza da base cosnx, sennx . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.2 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.3 Outros aspetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 1.3.1 Mudanc¸a de Intervalo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 1.3.2 Se´rie de Fourier em senos ou co-senos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1.3.3 Fatos interessantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.3.4 Integrac¸a˜o da se´rie de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.3.5 Derivada da se´rie de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 1.4 Convergeˆncia em me´dia das se´ries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 1 Se´rie de Fourier Considere a se´rie de senos e cosenos do tipo (x ∈ R) a0 2 + ∞∑ n=1 [an cos(nx) + bn sen(nx)] (1) Essa se´rie e´ chamada se´rie trigonome´trica se x ∈ R. 1 Note que 0 ≤ | cosnx| ≤ 1 (2) 0 ≤ | sennx| ≤ 1 (3) Em geral, essa se´rie converge sob condic¸o˜es bem fracas impostas aos coeficientes an e bn. Se a se´rie trigonome´trica converge (absolutamente ou na˜o) ela representa uma func¸a˜o f(x) = a0 2 + ∞∑ n=1 [an cos(nx) + bn sen(nx)] (4) Quais sa˜o as propriedades dessas func¸o˜es? Lembre-se que para uma func¸a˜o anal´ıtica numa dada regia˜o e´ garantida a existeˆncia da se´rie de Taylor naquele regia˜o e essa se´rie e´ u´nica. f(z) = ∞∑ n=0 cnz n (5) (com f(z) anal´ıtica em z = 0.) Tambe´m e´ poss´ıvel generalizar essa ideia de se´rie de poteˆncias e obter a se´rie de Laurant (que tambe´m e´ u´nica) para descrever func¸o˜es na˜o anal´ıticas: f(z) = ∞∑ n=−∞ cnz n (6) A se´rie de Laurant (e seu caso particular — a se´rie de Taylor) quando existe descreve completamente a func¸a˜o naquela regia˜o. Entretanto, note que a se´rie de Laurant na˜o fica bem definida para func¸o˜es descontinuas. Fourier descobriu que se´ries trigonome´tricas podem ser usadas para descrever func¸o˜es descontinuas. Note que, devido a sua pro´pria definic¸a˜o, series trigonome´tricas descreve somente func¸o˜es perio´dicas de per´ıodo 2pi e mu´ltiplas. (Ou, func¸o˜es num intervalo finito, dentro do per´ıodo da se´rie.) No´s iremos calcular a fo´rmula geral para os coeficientes daqui ha´ pouco. 2 Em geral, as condic¸o˜es suficientes (mas na˜o necessa´rias) para que a se´rie f(x) = a0 2 + ∞∑ n=1 [an cos(nx) + bn sen(nx)] (7) seja va´lida sa˜o: 1. f(x) possui apenas um nu´mer finito de descontinuidades finitas num per´ıodo (i.e. no intervalo finito [0, 2pi] ou [−pi, pi]) 2. f(x) possui apenas um nu´mero finito de valores extremes, ma´ximos, e mı´nimos, no intervalo. Func¸o˜es que satisfazem essas condic¸o˜es sa˜o chamadas de piecewise regular ou “cont´ınua/regular por pedac¸os”. Em geral, para a grande maioria dos exemplos vistos em aplicac¸o˜es dessas se´ries em f´ısica e´ necessa´rio saber apenas esses dois teoremas (e definic¸o˜es): Definic¸a˜o 1: Uma func¸a˜o definida num intervalo fechado a ≤ x ≤ b e´ (cont´ınua por pedac¸os) seccionalmente cont´ınua quando o intervalo pode ser dividido em um nu´mero finito de subin- tervalos tais que em cada subintervalo 1. f(x) e´ cont´ınua 2. f(x) possui limites finitos nas extremidades esquerda e direita de cada subintervalo. Isso significa que lim �→0 f(b− �) (8) existem. f(x) e´ seccionalmente suave se f(x) e´ cont´ınua por pedac¸os e f ′(x) tambe´m. 3 Analogamente, se f(x), f ′(x), e f ′′(x) sa˜o cont´ınuas por pedac¸os, enta˜o f(x) e´ “muita suave” por pedac¸os. Definic¸a˜o 2: Uma func¸a˜o definida num intervalo fechado a ≤ x ≤ b satisfaz as condic¸o˜es de Dirichlet se • f(x) e´ continua por pedac¸os • O intervalo (a, b) pode ser dividido em um nu´mero finito de subintervalos onde f(x) e´ mono´notona (i.e., crescente ou decrescente). Teorema 1 Se f(x) e´ muito suave por pedac¸os no intervalo (−L,L) enta˜o sua se´rie de Fourier converge para f(x) = lim �→0 1 2 [f(x− �) + f(x+ �)] −L < x < L lim �→0 1 2 [f(−L+ �) + f(L− �)] x = ±L (9) Teorema 2 A afirmativa com relac¸a˜o dos limites no teorema 1 e´ verdadeira tambe´m se f(x), ao inve´s de ser “muito suave” por pedac¸os, satisfaz a condic¸o˜es de Dirichlet no intervalo entre −L ≤ x ≤ L. Em geral, trabalharemos com func¸o˜es que obedecem as condic¸o˜es de Dirichlet. 1.1 Completeza da base cosnx, sennx Vamos expressar cosnx e sennx na forma exponencial usando a fo´rmula de Euler. f(x) = a0 2 + ∞∑ n=1 [an cosnx+ bn sennx] (10) = a0 2 + ∞∑ n=1 [ an ( einx + e−inx 2 ) + bn ( einx − e−inx 2i )] (11) = a0 2 + ∞∑ n=1 [ 1 2 (an − ibn) einx + 1 2 (an + ibn) ] e−inx (12) 4 Assim, f(x) = ∞∑ n=−∞ cne inx (13) onde para n > 0, cn ≡ 1 2 (an − ibn) (14) c−n ≡ c∗n = 1 2 (an + ibn) (15) e c0 ≡ a0 2 (16) Agora, chame eix ≡ z. Assim, f(z) = ∞∑ n=−∞ cnz n (17) E´ equivalente a uma se´rie de Laurent no c´ırculo de raio 1 (no plano complexo). Como a se´rie de Laurent, quando existem, e´ u´nica. Vemos que o conjunto (o base) einx forma um conjunto completo no intervalo [0, 2pi]. Esse argumento e´ “bonitinho”, mas esta´ longe de mostrar de fato a completeza de um dado conjunto de func¸o˜es. No´s veremos a ideia de completeza em detalhe quando estudamos o problema de Sturm-Liouville em F´ısica Matema´tica II. Note, entretendo, que sennx e cosnx no intervalo [−pi, pi] sa˜o func¸o˜es ortogonais, ou seja ∫ pi −pi dx senmx sennx = piδmn m 6= 00 m = 0 (18)∫ pi −pi dx cosmx cosnx = piδmn m 6= 02pi m = 0 (19)∫ pi −pi dx senmx cosnx = 0 (20) 5 A u´ltima relac¸a˜o pode ser provado por simetria. sen e´ uma func¸a˜o impar e cos par: sen(nx) = − sen(−nx) (21) cos(nx) = cos(−nx) (22) Define uma outra varia´vel x′ = −x:∫ pi −pi dx senmx cosnx = ∫ 0 −pi dx sen(mx) cos(nx) + ∫ pi 0 dx sen(mx) cos(nx) (23) = ∫ pi 0 dx′ sen(−mx′) cos(−nx′) + ∫ pi 0 dx sen(mx) cos(nx) (24) = − ∫ pi 0 dx′ sen(mx′) cos(nx′) + ∫ pi 0 dx sen(mx) cos(nx) (25) = 0 (26) Como voceˆs provaram isso? O jeito mas fa´cil e´ primeiro mostrar que∫ pi −pi dx ( eimx )∗ einx = 2piδmn, ∀m,n ∈ Z (27) (ortogonalidade da base einx) Isso e´ trivial. De fato, ∫ pi −pi dxei(n−m)x = ∫ pi −pi dxeipx = eipx ip ∣∣∣∣pi −pi = 0 se n 6= m =⇒ p e´ inteiro∫ pi −pi dx = 2pi se n = m (28) Assim mostramos facilmente a identidade acima. Agora, fica fa´cil mostrar aqueles identidades que definirem a ortogonalidade de cosnx e sennx. De fato, ∫ pi −pi dxei(n−m)x = 2piδm,n (29) = ∫ pi −pi dx ( cos [(n−m)x] + i sen [(n−m)x] ) (30) Comparando a parte real e imagina´ria: 6 ∫ pi −pi dx cos [(n−m)x] = 2piδm,n (31)∫ pi −pi dx sen [(n−m)x] = 0 (32) Agora, usando propriedades gerais de cosenos e senos, vemos que 1 2 cos(n−m)x− 1 2 cos(n+m)x = senmx sennx (33) e assim ∫ pi −pi dx senmx sennx = 1 2 ∫ pi −pi dx cos(n−m)x− 1 2 ∫ pi −pi dx cos(n+m)x (34) = se m = n 6= 0 obtemos pise m 6= n obtemos 0 (35) assim, ∫ pi −pi dx senmx sennx = piδm,n (36) Exerc´ıcio: mostre que ∫ pi −pi dx cosmx cosnx = piδm,n (37) Agora, podemos calcular os coeficientes da se´rie de Fourier. De fato, f(x) = a0 2 + ∞∑ n=1 [an cos(nx) + bn sen(nx)] (38)∫ pi −pi dxf(x) = ∫ pi −pi dx a0 2 + ∫ pi −pi dx ∞∑ n=1 [an cos(nx)+ bn sen(nx)] . (39) Como a se´rie existe (por hipo´tese), podemos comutar o integral com a soma ∫ pi −pi dxf(x) = a0pi + ∞∑ n=1 an ∫ pi −pi dx cos(nx) + ∞∑ n=1 bn ∫ pi −pi dx sen(nx). (40) 7 O u´ltimo termo e´ 0 pois seno e´ impar ∫ pi −pi dx cosnx = piδn0 (41) e, como na soma n < 0, esse termo na˜o contribui. Assim, a0 = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) (42) E´ como se fosse a me´dia de f(x) no intervalo. Vamos mostrar agora que am = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) cosmx, m ≥ 0 (43) bm = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) senmx, m > 0 (44) De fato, com m > 0, 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) cosmx = ��� ��� ��� ��:01 pi ∫ pi −pi dx a0 2 cosmx + 1 pi ∫ pi −pi dx ∞∑ n=1 [an cos(nx) + bn sen(nx)] cosmx (45) = 1 pi ∞∑ n=1 an ∫ pi −pi dx cosnx cosmx+ ��� ��� ��� ��� ��� �:0 1 pi ∞∑ n=1 bn ∫ pi −pi dx sennx cosmx (46) O u´ltimo termo e´ zero pois seno e coseno sa˜o ortogonais. Enta˜o, 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) cosmx = 1 pi ∞∑ n=1 an ∫ pi −pi dx cosnx cosmx (47) = 1 pi ∞∑ n=1 anpiδn,m (48) = am (49) 8 Analogamente, pode mostrar que bm = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) senmx (50) Essa se´rie, constru´ıda com esses coeficientes, e´ chamada de se´rie de Fourier. 1.2 Exemplos Por exemplo, considere a func¸a˜o f(x) = x2 no intervalo [−pi, pi]: Os coeficientes sa˜o a0 = 1 pi ∫ pi −pi dxx2 = 2 3 pi2 (51) bn = 1 pi ∫ pi −pi dx x2︸︷︷︸ par sennx︸ ︷︷ ︸ impar = 0, n > 0 (52) an = 1 pi ∫ pi −pi dxx2 cosnx = 1 pi ∫ pi −pi dxx2einx (53) Integrando por partes: ∫ pi −pi dxx2einx = � � � � ��> 0 einx in x2 ∣∣∣∣pi −pi − ∫ pi −pi dx einx in 2x (54) Integrac¸a˜o por partes de novo: − ∫ pi −pi dx einx in 2x = − e inx (in)2 2x ∣∣∣∣pi −pi + ∫ pi −pi dx einx (in)2 2 (55) = 2pi n2 [ einpi + e−inpi ] + ��� ��� ��� ��:02 (in)3 [ einpi − e−inpi] (56) = 4pi n2 cosnpi (57) = 4pi n2 (−1)n (58) Enta˜o, temos an = 4 n2 (−1)n, n > 0 (59) 9 e finalmente temos f(x) = x2 = pi2 3 + ∞∑ n=1 4(−1)n n2 cosnx (60) Fica claro que a se´rie de Fourier representa a extensa˜o perio´dica dos valores de f(x) no intervalo (−pi, pi). Fica claro tambe´m, atrave´s desse exemplo, que se • f(x) e´ par =⇒ bn = 0 (na˜o ha´ termos com sennx) • f(x) e´ impar =⇒ an = 0 (na˜o ha´ termos com cosnx) Considere agora a func¸a˜o discont´ınua f(x) = −1 se x < 0+1 se x ≥ 0 (61) Vamos calcular os coeficientes de Fourier: 10 a0 = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) = 1 pi ∫ 0 −pi dx(−1) + 1 pi ∫ pi 0 dx (62) = 1− 1 = 0 (63) Note que essa func¸a˜o e´ como se fosse a func¸a˜o sinal signx ≡ x|x| , se x 6= 0 (64) Essa func¸a˜o e´ impar. Logo, esperamos que an = 0. De fato, an = 1 pi ∫ 0 −pi dx(− cosnx) + 1 pi ∫ pi 0 dx cosnx (65) = 0 (66) bn = 1 pi ∫ 0 −pi dx(− sennx) + 1 pi ∫ pi 0 dx sennx (67) = 1 pi ∫ pi 0 dx sennx (x→−x) + 1 pi ∫ pi 0 dx sennx (68) = 2 pi ∫ pi 0 dx sennx (69) Em geral bn 6= 0. Fazendo separadamente em detalhe: 11 bn = 2 pi ∫ pi 0 dx sennx = 2 pi Im [∫ pi 0 dxeinx ] (70) = 2 pi Im [ einx in ∣∣∣∣pi 0 ] (71) = 2 pi Im [ einpi in − 1 in ] (72) = 2 pin Im [ (−i) (einpi − 1)] (73) = 2 pin Re [ 1− einpi] (74) = 2 pin [1− cosnpi] (75) = 2 pin [1− (−1)n] (76) = 0 se n = par4 pin se n = impar (77) A se´rie de Fourier e´, enta˜o, f(x) = 4 pi ∞∑ n=1,3,5,... 1 n sennx (78) ou, f(x) = 4 pi ∞∑ n=0 sen[(2n+ 1)x] 2n+ 1 (79) Note que f(0) = 0 de acordo com nossa se´ria acima. Isso mostra o fato geral mencionado antes que, numa descontinuidade, a se´rie de Fourier converge para a “me´dia aritme´tica”. 12 Nesse caso esse valor e´ zero ja´ que essa func¸a˜o e´ -1 para x < 0 e 1 para x > 0. Outro exemplo: “Onda de Serra” f(x) = x se − pi ≤ x ≤ pi (80) A se´rie de Fourier fics com coefficientes an = 0, n ≥ 0 pois f(x) e´ impar. Integrando por partes, bn = 1 pi ∫ pi −pi dxx sennx (81) = 1 pi [−x cosnx n ]pi −pi + ∫ pi −pi dx cosnx n (82) = 2(−1)n+1 n + �� �� �� �*0 1 pi sennx n ∣∣∣∣pi −pi (83) = 2(−1)n+1 n (84) Assim, x = ∞∑ n=1 2(−1)n+1 n sennx (85) 13 Imagine agora que consideremos apenas um nu´mero finito de termos: -3 -2 -1 1 2 3 -3 -2 -1 1 2 3 Note que: 1. Quando inclu´ımos mais termos na se´rie a acura´cia com a qual a se´rie finita representa f(x) aumenta. 2. Todas as curvas va˜o para zero quando x = pi. 3. Na vizinhanc¸a de x = pi (onde a descontinuidade aparece) a se´rie tem um “overshoot” que persiste e na˜o diminui quando inclu´ımos mais termos na se´rie. Esse e´ um exemplo do conhecido “fenoˆmeno do Gibbs”, que voceˆs podem ler mais sobre no livro de Arfken (cap. 14). 1.3 Outros aspetos 1.3.1 Mudanc¸a de Intervalo Ate´ agora, nosso intervalo em x era de 2pi (ou 0→ 2pi ou −pi → pi). Isso na˜o e´ uma restric¸a˜o para a aplicabilidade da se´rie de Fourier. De fato, se f(x) tem per´ıodo 2L, podemos escrever 14 f(x) = a0 2 + ∞∑ n=1 [ an cos (npix L ) + bn sen (npix L )] (86) (note que cos ( npix L ) tem per´ıodo 2L.) Os coeficientes ficara˜o an = 1 L ∫ L −L dxf(x) cos (npix L ) , n = 0, 1, 2, . . . (87) bn = 1 L ∫ L −L dxf(x) sen (npix L ) , n = 1, 2, . . . (88) Obviamente, qualquer intervalo (x0, x0 + 2L) serve. Escolhemos de −L → L por con- venieˆncia. Note que o per´ıodo era 2L. Para um per´ıodo L, temos L→ L/2 nas equac¸o˜es. 1.3.2 Se´rie de Fourier em senos ou co-senos Suponha f(x) arbitra´ria (na˜o necessariamente par ou impar). Se calcularmos as integrais sobre a metade do domı´nio, e definirmos an = 2 L ∫ L 0 f(x) cos (npix L ) dx (89) e formarmos a se´rie gc(x) ≡ a0 2 + ∞∑ n=1 an cos (npix L ) , (90) esta se´rie representara´ a extensa˜o par ou sime´trica de f(x), ou seja gc(x) = f(x), 0 < x < Lf(−x), −L < x < 0 (91) gc(x) e´ a se´rie de Fourier em co-senos de f(x). Analogamente podemos definir bn = 2 L ∫ L 0 f(x) sen (npix L ) dx (92) 15 e construir a se´rie gs(x) ≡ ∞∑ n=1 bn sen (npix L ) (93) onde gs(x) = f(x), 0 < x < L−f(−x), −L < x < 0 (94) e´ a extensa˜o anti-sime´trica (ou impar) de f(x). Por exemplo, suponha que f(x) seja A se´rie de Fourier (com per´ıodo 2L) sera´ A se´rie em co-senos sera´ 16 A se´rie em senos sera´ 1.3.3 Fatos interessantes 1. Naquele exemplo onde f(x) = −1 se x < 0+1 se x ≥ 0 (95) a se´rie de Fourier era tal que o n-e´simo coeficiente ia ∼ 1 n . Esse tipo de dependeˆncia e´ o meso que ocorre na se´rie harmoˆnica, que e´ divergente. Convergeˆncia, nesse caso para esse tipo de se´rie e´ bem lenta. O fato de que an ∼ 1n geralmente ocorre quando a func¸a˜o tem descontinuidades. 2. Se f(x) e´ cont´ınua (mas talvez com derivadas descont´ınuas), geralmente o n-e´simo coeficiente ∼ 1 n2 (convergeˆncia e´ muito mais ra´pida). 1.3.4 Integrac¸a˜o da se´rie de Fourier Se a se´rie de Fourier de f(x) converge podemos fazer a integral termo a termo (i.e., trocar∫ ∑→∑∫ ). ∫ x x0 dx˜f(x˜) = a0 x˜ 2 ∣∣∣∣x x0 + ∞∑ n=1 [ an n sennx˜ ∣∣∣∣x x0 − bn n cosnx˜ ∣∣∣∣x x0 ] (96) 17 Note que a integral da se´rie, em geral, convergira´ mais ra´pido do que a se´rie original devido ao fator extra∼ 1 n que vem da integrac¸a˜o de cosnx e sennx. 1.3.5 Derivada da se´rie de Fourier Integrac¸a˜o, como vimos acima, melhora as propriedades de convergeˆncia da se´rie de Fourier. Derivadas, por outro lado, em geral pioram bastante a convergeˆncia da se´rie. Por exemplo: Considere a se´rie de Fourier para f(x) = x, −pi < x < pi (97) Vimos anteriormente que (85) x = 2 ∞∑ n=1 (−1)n+1 sennx n (98) Vamos agora tirar a derivada d dx dos dois lados. 1 = 2 d dx ∞∑ n=1 (−1)n+1 sennx n (99) E agora? Trocando a derivada e a soma, encontramos 1 = 2 ∞∑ n=1 (−1)n+1 cosnx (100) Essa se´rie na˜o e´ convergente! Agora, se a sua se´rie convergir mais rapidamente, tudo esta´ OK. Exemplo: Onda triangular 18 f(x) = x 0 < x < pi−x −pi < x < 0 (101) A se´rie de Fourier so´ tem cosenos (por que?) e encontramos f(x) = pi 2 − 4 pi ∑ n=1 cos [(2n+ 1)x] (2n+ 1)2 (102) Note que o coeficiente lim n�1 an ∼ 1 n2 (103) Tirando a derivada dos dois lados d dx x 0 < x < pi−x −pi < x < 0 = 4pi ∞∑ n=1 sen [(2n+ 1)x] 2n+ 1 (104) = 1 0 < x < pi−1 −pi < x < 0 (105) que e´ exatamente a se´rie de Fourier que calculamos anteriormente para a func¸a˜o (lembram?). Nesse caso tudo ficou OK pois a se´rie de Fourier original convergia rapida- mente evido ao fato de que o n-e´simo coeficiente ∼ 1 n2 . 19 Em geral, por causa desse fator ∼ n que aparece devido a diferenciac¸a˜o, a rapidez da convergeˆncia da se´rie pode diminuir bastante e, a`s vezes, transformar a se´rie em uma se´rie divergente. 1.4 Convergeˆncia em me´dia das se´ries de Fourier Vamos primeiro lembrar da ideia de convergeˆncia ponto a ponto. Imagine que voceˆ tenha uma func¸a˜o f(x) em a ≤ x ≤ b e voceˆ tenha uma sequeˆncia de func¸o˜es {fn(x)} Essa sequeˆncia converge para f(x) ponto a ponto se lim n→∞ fn(x) = f(x), em a ≤ x ≤ b (106) O teorema 1 e´ muito “forte”, no sentido de que, quando f(x) for muito suave, a se´rie de Fourier converge nesse caso ponto a ponto Veremos agora que em geral a se´rie de Fourier na˜o necessariamente converge ponto a ponto, mas converge em me´dia. Vamos lembrar um pouco de F´ısica experimental I: Imagine que voceˆ tenha um conjunto de dados experimentais {yi} e voceˆ quer saber qua˜o bem sua curva teo´rica {y¯i} representa os dados. Como voceˆ mede isso? Desvio me´dio quadrado: Par a uma sequeˆncia de n pontos experimentais D = 1 n n∑ i=0 (yi − y¯i)2 ≥ 0 (107) Define agora n ≡ L ∆x onde L ≡ b− a e tomemos ∆x→ 0, n→∞ =⇒ L finito 6= 0. D = 1 L ∫ b a dx [y(x)− y¯(x)]2 ≥ 0 (108) Assim, caso existem alguns paraˆmetros por ser determinados em y¯(x), voceˆ poderia en- contra´-los minimizando D. Isso faria com que a diferenc¸a entre as func¸o˜es y(x) e y¯(x) fosse mı´nima. Seguindo essa ideia, dizemos que uma dada sequeˆncia de func¸o˜es {fmn} converge em me´dia para uma outra func¸a˜o f(x) num intervalo [a, b] se: 20 lim n→∞ ∫ b a [f(x)− fn(x)]2 dx = 0, (109) Note que convergeˆncia ponto a ponto definida via lim n→∞ fn(x) = f(x) (110) na˜o necessariamente implica em convergeˆncia em me´dia. Analogomente, convergeˆncia em me´dia na˜o implica em convergeˆncia ponto a ponto. Esses conceitos sa˜o equivalentes somente se podermos comutar limn→∞ com a ∫ b a (o que na˜o e´ sempre poss´ıvel). Enta˜o, depois dessa discussa˜o, podemos definir a integral D ≡ ∫ b a dx [f(x)− g(x)]2 (111) para 2 func¸o˜es f(x) e g(x) definidas para x ∈ [a, b] como desvio quadrado de f(x) e g(x). Vamos agora aplicar essa ideia a`s se´ries de Fourier. Suponha que tenhamos uma f(x) dada em x ∈ [−pi, pi] e que queremos aproximar f(x) pela se´rie trigonome´trica com um nu´mero N (finito) de termos (assume que converge) gn(x) = A0 2 + N∑ k=1 (Ak cos kx+Bk sen kx) (112) onde Ak e Bk na˜o sa˜o a priori conhecidos. Podemos obter Ak e Bk de forma que o desvio quadrado D entre f(x) e gn(x) seja mı´nimo para x ∈ [−pi, pi]. Assim, Dn = ∫ pi −pi dx [f(x)− gn(x)]2 → mı´nimo (113) Vamos calcular todos os termos de forma expl´ıcita em Dn. 21 Dn = ∫ pi −pi dx [f(x)− gn(x)]2 (114) = ∫ pi −pi dx [ f(x)2 − 2f(x)gn(x) + g2n(x) ] (115) Cada termo com gn(x) fica: ∫ pi −pi dxf(x)gn(x) = ∫ pi −pi dx A0 2 f(x) + N∑ k=1 ∫ pi −pi dxf(x)Ak cos kx+ N∑ k=1 ∫ pi −pi Bkf(x) sen kx (116) = A0 2 ∫ pi −pi dxf(x) + N∑ k=1 Ak ∫ pi −pi dxf(x) cos kx+ N∑ k=1 Bk ∫ pi −pi dxf(x) sen kx (117) Agora ∫ pi −pi dxg2n(x) = ∫ pi −pi dx [ A0 2 + N∑ k=1 (Ak cos kx+Bk sen kx) ][ A0 2 + N∑ k=1 (Ak cos kx+Bk sen kx) ] (118) = A20 4 2pi + 2 A0 2 N∑ `=1 A` �� �� �� ��*0∫ pi −pi dx cos `x +B` �� �� �� ��*0∫ pi −pi dx sen `x + N∑ k=1 N∑ `=1 AkA` ∫ pi −pi dx cos kx cos `x︸ ︷︷ ︸ piδk` + N∑ k=1 N∑ `=1 BkB` ∫ pi −pi dx cos kx sen `x︸ ︷︷ ︸ piδk` + 2 N∑ k=1 N∑ `=1 AkB` ��� ��� ���: 0∫ pi −pi cos kx sen `x (119) Usando as relac¸o˜es de ortogonalidade de sen kx e cos kx, obtemos 22 ∫ pi −pi dxg2n(x) = A20pi 2 + pi N∑ k=1 N∑ `=1 [AkA`δk` +BkB`δk`] (120) = A20pi 2 + pi N∑ k=1 ( A2k +B 2 k ) (121) Assim, Dn = ∫ pi −pi dxf 2(x)− A0 ∫ pi −pi dxf(x) + 2 N∑ k=1 Ak ∫ pi −pi dxf(x) cos kx+ 2 N∑ k=1 Bk ∫ pi −pi dxf(x) sen kx + A20pi 2 + pi N∑ k=1 ( A2k +B 2 k ) (122) Vamos agora minimizar Dn com relac¸a˜o aos Ak, Bk. Dn = Dn(Ak, Bk) e assim, no mı´nimo ∂Dn ∂A0 = 0 (123) = − ∫ pi −pi dxf(x) + A0pi (124) =⇒ A0 = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x). (125) Esse e´ o valor de A0 que minimiza Dn. Para ` > 0: ∂Dn ∂A` = 0 (126) = −2 ∫ pi −pi dxf(x) cos `x+ 2A`pi (127) =⇒ A` = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) cos `x. (128) 23 ∂Dn ∂B` = 0 (129) = −2 ∫ pi −pi dxf(x) sen `x+ 2B`pi (130) =⇒ B` = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) sen `x. (131) Assim, vemos que os valores dos coeficientes Ak e Bk que minimizam Dn sa˜o exatamente aquelas expresso˜es vinda da se´rie de Fourier! Note que de fato temos um mı´nimo pois ∂2Dn ∂A2` = 2pi > 0. (132) Vamos agora substituir essas novas Ak e Bk no Dn para calcular Dn = ∫ pi −pi dxf(x)2 + A0pi [ A0 2 − ∫ pi −pi dx f(x) pi ] + N∑ k=1 Akpi [ Ak − 2 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) cos kx ] + N∑ k=1 Bkpi [ Bk − 2 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) sen kx ] (133) No mı´nimo: Dn ∣∣∣∣ min = ∫ pi −pi dxf(x)2 − [ a20pi 2 + pi N∑ k=1 ( a2k + b 2 k )] (134) onde am = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) cosmx (135) bm = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) senmx (136) Note que por definic¸a˜o, Dn ≥ 0 =⇒ Dn ∣∣∣∣ min ≥ 0 e assim a20 2 + N∑ k=1 ( a2k + b 2 k ) ≤ 1 pi ∫ pi −pi dxf 2(x) (137) Agora, nesse ponto podemos tomar N → ∞. A se´rie trigonome´trica com nu´mero de termos finito vira uma se´rie de Fourier e assim 24 a20 2 + ∞∑ k=1 ( a2k + b 2 k ) ≤ 1 pi ∫ pi −pi dxf 2(x) (138) Essa e´ a desigualdade de Bessel. Nesse aspecto, a se´rie de Fourier e´ considerada uma representac¸a˜o fiel (ou adequada) da func¸a˜o f(x) se lim n→∞ Dn ∣∣∣∣ min = 0 (139) o que equivale a dizer que converge em me´dia pois lim n→∞ Dn ∣∣∣∣ min = 0 =⇒ lim n→∞ ∫ pi −pi [ f(x)− gFouriern (x) ]2 = 0 (140) Assim, se a se´rie de Fourier de f(x) convergir em me´dia para f(x), a desigualdade de Bessel se torna a famosa relac¸a˜o de Parseval 1 pi ∫ pi −pi dxf 2(x) = a20 2 + ∞∑ k=1 ( a2k + b 2 k ) (141) onde ak = 1 pi∫ pi −pi dxf(x) cos kx (142) bk = 1 pi ∫ pi −pi dxf(x) sen kx (143) Dizemos que {sen kx, cos kx} forma um conjunto completo em relac¸a˜o a uma dada classe de func¸o˜es se a relac¸a˜o de Parsevel e´ satisfeita para essa classe de func¸o˜es. Teorema 3 O sistema {sen kx, cos kx} e´ completo para todas as func¸o˜es cont´ınuas por partes no intervalo x ∈ [−pi, pi]. Note que existe alo similar a relac¸a˜o de Parseval para espac¸os vetoriais de dimensa˜o finita. Defina ~a = N∑ i=1 aieˆi (144) 25 onde eˆi · eˆj = δij (145) O produto escalar e´ definido por ~a ·~b = ( N∑ i=1 aieˆi ) · ( N∑ k=1 bkeˆk ) (146) = N∑ i,k=1 aibkeˆi · eˆk (147) = N∑ i=1 aibi (148) Agora ~a · ~a = N∑ k=1 a2k (149) Fazendo a analogia ~a ·~b→ ∫ pi −pi dxf(x)g(x) (150) ~a = N∑ i=1 aieˆi → f(x) = a0 2 + N∑ k=1 [ak cos kx+ bk sen kx] (151) Vemos que ~a · ~a = N∑ k=1 a2k → 1 pi ∫ pi −pi dxf 2(x) = a20 2 + N∑ k=1 ( a2k + b 2 k ) (152) (Note que a base {| sennx, cosnx} e´ ortogonal mas na˜o ortonormal). 26 Série de Fourier Completeza da base cosnx, `39`42`"613A``45`47`"603Asennx Exemplos Outros aspetos Mudança de Intervalo Série de Fourier em senos ou co-senos Fatos interessantes Integração da série de Fourier Derivada da série de Fourier Convergência em média das séries de Fourier