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Edição n 286 - Maio de 2016 - 1 A QUALIDADE NO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL COMPORTAMENTO: Todos têm aptidão para liderar Ano XXV | Maio de 2016 | Edição 286 2 - Revista BQ - Banas Qualidade Os valores-p não me assustam. Análise de Dados Destemida Analisar dados com o Minitab Statistical Software é fácil e agora Minitab 17 está disponível em Português. Um Assistente integrado guia você durante todo o processo, desde a escolha da ferramenta correta até a realização da sua análise e interpretação dos seus resultados. Você conhece o seu negócio. 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Telefone: +55(11) 3742.4838 comercial@edila.com.br Assinaturas Telefone: +55(11) 9915.8240 assinaturas@edila.com.br Assinatura digital Anual (12 edições) : R$ 140,00 Bianual (24 edições) : R$190,00 A Revista Banas Qualidade - DIGITAL é publicada pela Quality Innovation Estratégia Empresarial Ltda. com sede em São Paulo/SP - Brasil. A publicação não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos aqui emitidos por seus articulistas e colunistas. ISSN - 1676-7845 Ano XXV - Edição 286 Maio de 2016 Hayrton R. do Prado Filho hayrton.prado@epse.com.br Desrespeito aos consumidores Mais uma vez está provado: a empresas brasileiras não têm o menor respeito aos consumidores. O Procon-SP divulgou os setores mais reclamados e o índice de soluções das empresas, que servem como parâmetro para os consumidores conhecerem os fornecedores mais reclamados e como eles atendem as demandas de seus clientes. O Ranking Estadual contém os 50 fornecedores (empresas ou grupo de empresas) que mais geraram reclamações fundamentadas, ou seja, demandas de consumidores que, não solucionadas em fase preliminar de atendimento, geraram a abertura de processo administrativo. Ao todo foram registrados 1.050.352 atendimentos entre consultas, orientações, carta de informações preliminares e reclamações. Destes, 60.949 geraram reclamações fundamentadas, sendo 46% no Procon-SP e 64% nos Procons municipais no interior, litoral e grande São Paulo. Em 2015 o grupo composto pelas empresas de telecomunicações liderou novamente o ranking como as empresas mais reclamadas, ocupando os quatro primeiros lugares. entre. Desde a criação do ranking estadual há quatro anos (2012), o segmento vem liderando as principais reclamações dos consumidores. A América Móvil conglomerado que reúne; Claro, Net e Embratel liderou o Ranking Estadual de reclamações fundamentadas dos Procons que integram o Sistema Estadual de Defesa do Consumidor com um total de 5.883 reclamações ao longo do ano de 2015. O Grupo Claro / Net / Embratel lidera o ranking de reclamações do estado com 5.883, 9,6% de todas as reclamações registradas no estado. Em segundo lugar temos o Grupo Vivo / Telefônica com 3.901, seguido da Sky Brasil Serviços Ltda. com 2.731. Em quarto lugar a Tim Celular S/A com 2.351 registros e em quinto o Grupos Pão de Açúcar (Pão de Açúcar/Extra/Pontofrio.Com/Casasbahia.Com/Casas Bahia/Ponto Frio) com 2.349. Um dos destaques no ranking é o Grupo Unimed, que subiu do 42º lugar no ano passado para o 8º lugar este ano, devido a problemas na gestão da carteira da Unimed Paulistana que deixou de atender seus clientes. Em 2014 foram 223 reclamações e em 2015, 1.497. Entre os varejistas, o destaque fica para o Grupo Pão de Açúcar, único entre os dez líderes do ranking, que apresentou um aumento de 67% de reclamações em relação ao ano anterior, passando de 1.402 em 2014 para 2.349 em 2015. O setor de telecomunicações mais uma vez lidera o ranking: quatro das cinco empresas ou grupos mais reclamados pertencem a esse segmento. O que chama a atenção é o aumento que algumas empresas apresentaram no número de reclamações em relação à 2014. A Nextel Telecomunicações Ltda teve aumento de 170%, de 235 para 634. A Sky teve aumento de quase 100%, passou de 1.367 para 2.731. Tim e Claro também tiveram aumentos expressivos, 68% e 57% respectivamente. No ranking das empresas que menos atendem as demandas dos consumidores o Grupo Unimed é o destaque negativo, com o índice de 94,46% de reclamações não atendidas, apesar de TAC firmado entre a empresa e Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual de São Paulo, Procon-SP e ANS. Editorial 4 - Revista BQ - Banas Qualidade 03 EDITORIAL 04 SUMÁRIO 06 INSIDE Por dentro da notícia 09 Em Foco A ISO 9001:2015 - Abordagem do Risco 10 SEIS SIGMA Aplicação do Lean Seis Sigma na gestão de Serviços de Saúde 14 GESTÃO Indicador, para que te quero? 20 COMPORTAMENTO Todos têm aptidão para liderar 26 OPINIÃO De quem é a culpa dos problemas das empresas 30 LOGÍSTICA O uso das Boas Práticas pelos Agentes de Cargas interessados na certificação OEA 34 CAPA A Qualidade no setor da Construção Civil 46 MASP Problemas com fornecedores? MASP neles! 51 PELO MUNDO 52 ESTATÍSTICA A sinergia entre as ferramentas do Lean Six Sigma 62 METODOLOGIA Pesquisando a salmonella em águas tratadas 68 FERRAMENTAS Sistemas de Gestão Ambiental I 72 CONFORMIDADE As latas de aço para embalagem de produtos 78 NORMALIZAÇÃO As lâmpadas de LED são obriigadas a serem fabricadas conforme as normas técnicas 82 METROLOGIA Monitorando o consumo de água em prédios 92 CARTAS Sumário Edição n 286 - Maio de 2016 - 5 Publicações Exclusivas Em plataforma digital interativa Nós levamos a informação onde ela precisa estar. www.banasqualidade.com.br www.revistanormas.com.br Pu bl ic aç õe s co m c on su lta a be rt a - c liq ue n a ca pa 6 - Revista BQ - Banas Qualidade Inside - inside - inside - inside - inside - inside - inside - inside- inside - inside - inside - inside Consultorias de gestão terão uma norma especifica para suas atividades As consultorias de gestão têm o potencial de ajudar as empresas a voar .. . se forem usadas corretamente. Um novo padrão de desenvolvimento tem como objetivo ajudar as empresas de consultorias e seus cl ientes a alcançarem o melhor de seus projetos de consultoria. Inovação, design organizacional, otimização, formação profissional, são apenas algumas das soluções que as empresas de consultorias de gestão podem utilizar para ajudar as organizações a terem uma melhor performance. Os serviços de consultoria para a industria e governos, cresceram mais de 1 000% nos últimos anos. Com um poderoso papel a desempenhar no mundo dos negócios e do governo, influenciando em decisões importantes e absorvendo um pedaço cada vez maior do orçamento de uma organização, a indústria de consultoria agora enfrenta as mais altas expectativas, requisitos mais rigorosos e uma maior evidência de um retorno sobre o investimento. A próxima norma ISO 20700 - Diretrizes para serviços de consultoria de gestão, tem como objetivo ajudar as empresas de consultorias e seus clientes a melhorar a transparência e o entendimento em seus projetos de consultoria, a fim de alcançar melhores resultados de negócios. Ela está atualmente em desenvolvimento e acaba de atingir a fase de Projeto de Norma Internacional (DIS), ou seja, membros da ISO terão a oportunidade de votar e comentar sobre o texto antes de ir para a redação final e publicação. A norma irá oferecer orientações de práticas recomendadas para ambas as partes, assegurando a todos sobre o que é necessário para se ter um processo de consultoria eficaz e eficiente, quais os seus objetivos e as suas próprias responsabilidades. Isto irá permitir às organizações, obterem melhores resultados de suas consultorias e para as consultorias, por A norma ISO 20700 deverá ser publicada no início de 2017. http://www.iso.org/iso/home/news_index/ news_archive/news.htm?refid=Ref2060 Norma Anti-suborno recebe luz verde O suborno é um problema grave de nossos tempos, custando vidas e corroendo economias em todo o mundo. Uma nova norma ISO em desenvolvimento, com foco no combate à corrupção, acaba de receber um forte voto de confiança, caminhando para a fase final antes da publicação. De acordo com o Banco Mundial, cerca de US $ 1 trilhão em subornos são pagos a cada ano, prejudicando as economias e contribuindo para a pobreza em todo o mundo. Muito tem sido feito pela legislação e acordos internacionais para combater o problema, mas ainda continua a ser Edição n 286 - Maio de 2016 - 7 Inside - inside - inside - inside - inside - inside - inside - inside- inside - inside - inside - inside uma preocupação significativa. Não é de admirar, então, que a versão preliminar de um novo padrão ISO em desenvolvimento, que visa ajudar as organizações a lutar contra a corrupção, recebeu 91% de votação de confiança pelos membros da ISO envolvidos na sua criação. A norma ISO 37001 - Anti-suborno - sistemas de gestão, é projetada para ajudar as organizações a implementarem medidas eficazes para prevenir e combater a corrupção e instaurar uma cultura de honestidade, transparência e integridade. Enquanto ela não pode garantir que o suborno não irá ocorrer, ela pode fornecer as ferramentas e sistemas para reduzir significativamente os riscos e ajudar as organizações a lidarem com o combate ao suborno de forma eficaz e eficiente. Implementação da ISO 37001 também irá fornecer garantias entre os investidores e outras partes interessadas, mostrando que a organização dispõe de um sistema eficaz para gerir o risco de suborno. http://www.iso.org/iso/home/news_index/ news_archive/news.htm?refid=Ref2069 Gerenciamento de registros na era digital A imagem do gerenciamento de registros está mudando. Com a ascensão do conteúdo digital, e a nossa crescente dependência sobre ele, alterações quanto a forma como gerimos os nossos registros são inevitáveis. Ajuda está a caminho com a norma ISO 15489-1 que acaba de ser publicada. A estratégia de gerenciamento de registros tem que levar em conta o quadro geral. Isso envolve a compreensão do contexto em que operam, a natureza do negócio, os riscos e os requisitos associados ao negócio. A boa notícia é que é possível projetar sistemas e aplicar regras para que os registros sejam feitos e mantidos corretamente - sejam eles dados, documentos ou até mesmo conteúdo de mídia social - resultando em uma série de benefícios de aumento de negócios. A criação e gestão de registros tem sido sempre importante - desde os tempos antigos aos dias de hoje. As principais razões para a manutenção de registros não mudaram: a prestação de contas, o negócio eficiente, a proteção dos direitos e prerrogativas e a capacidade de reconstruir o passado. Agora, a rápida mudança para o mundo digital e on-line tem simplesmente introduzido razões adicionais para criar, capturar e gerenciar bem os registros: a mudança para o negócio orientado a dados, as iniciativas de governos mais transparentes, serviços compartilhados e de colaboração e a maior ênfase na responsabilidade corporativa. As expectativas para a segurança da informação também estão se tornando cada vez mais importantes para as partes interessadas dentro e fora das fronteiras organizacionais. http://www.iso.org/iso/home/news_index/ news_archive/news.htm?refid=Ref2072 Segurança e saude no trabalho O stress no trabalho é um problema social significativo - expectativas maiores, o aumento da concorrência e mudanças rápidas na tecnologia e tendências são formas de pressão sobre os trabalhadores , podendo alterar o seu papel completamente. Este tipo de estresse pode resultar em consequências graves para a saúde e bem-estar A Organização Internacional do Trabalho (OIT) escolheu o estresse no trabalho como o tema do Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho. Há muito que pode ser feito para prevenir e gerir tais stresses, incluindo os programas de bem-estar eficazes e reduzir quaisquer riscos para a saúde e a segurança que possam ocorrer como resultado do trabalho das pessoas. http://www.iso.org/iso/home/news_ index/news_archive/news.htm?refid=Ref2071 8 - Revista BQ - Banas Qualidade Inside - inside - inside - inside - inside - inside - Febre do lítio: o petróleo branco Em meio à nuvem negra que paira sobre a indústria de mineração global, há um ponto brilhante e esperançoso: o lítio. 4Este ano parece ser chave para a decolagem da produção desse metal, indispensável para o funcionamento de muitas baterias de carros elétricos e outros dispositivos de alta tecnologia, incluindo iPhones. Por isso, enquanto os produtores de petróleo lamentam seus infortúnios e as empresas de mineração tentam sobreviver ao naufrágio dos mercados, o setor de lítio vive bons momentos. O preço do lítio importado da China dobrou em dois meses, entre novembro e dezembro de 2015, atingindo US$ 13.000 por tonelada, de acordo com a revista The Economist. Parte da euforia tem a ver com o anúncio do empresário Elon Musk no início deste mês sobre seu desejo de expandir a produção dos carros elétricos Tesla. Para produzir 500.000 veículos por ano, basicamente a empresa precisará absorver toda a produção de lítio no mundo. E esse é apenas um dos concorrentes do mercado de carros elétricos, sem mencionar os produtores de pilhas para computadores e outros dispositivos eletrônicos, que também precisam garantir boas fontes de lítio. Na América Latina, há razões para olhar com muito interesse essa corrida: três nações localizadas em uma espécie de "triângulo de ouro" do lítio concentram reservas importantes do metal. Argentina, Bolívia e Chile estão na mira da indústria mineira. Os três países agrupam cerca de 60% das reservas conhecidas de lítio, de acordo com estudos realizados pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em Inglês). Isso levou a revista norte-americana Forbes a declarar há alguns anos que a área é a "Arábia Saudita do lítio", em uma referência à abundância de petróleo no país do Oriente Médio. h t t p : / / w w w . b b c . c o m / p o r t u g u e s e / noticias/2016/04/160422_litio_bolivia_if PBE Veicular chega ao oitavo ciclo com adesão de todas as montadoras O Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), coordenado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), chega ao seu oitavo ciclo com participação recorde desde a sua criação, todas as montadoras e importadoras aderiram e, com isso, 90% dos carros comercializados no País trarão a informação de eficiência de consumo e emissão de gases, tanto poluentes como de efeito estufa (CO2). A princípio, a regra já atinge 795 modelos e versões. Ao longo do primeiro semestre do ano, outros 131 modelos e versões serão incluídos, fechando 2016 com 926 veículos enquadrados no programa. Este ano, a principal novidade é que a classificação da emissão de gases poluentes passa a ser exibida também por meio de letras, como já ocorre com a avaliação do consumo e a eficiência do veículo em km por litro de combustível, o que facilita o entendimento do consumidor. Outra novidade do oitavo ciclo é a entrada dos veículos leves a diesel (picape, SUV e fora de estrada), que estarão etiquetados a partir do dia 1º de maio, e a inclusão de duas novas categorias: picape e os microcompactos (veículos com até seis metros de comprimento). http://www.inmetro.gov. br/noticias/verNoticia.asp?seq_noticia=3852 Edição n 286 - Maio de 2016 - 9 Em Foco A ISO 9001:2015 Abordagem do Risco Por Dr Nigel H Croft Hoje em dia, as organizações operam em contextos cada vez mais imprevisíveis e complexos tornando-se fundamental abordar a questão do risco de uma forma consciente, planejada e sistematizada. Embora a ISO 9001:2015 não exija que a organização tenha um sistema de gestão de risco (seguindo, por exemplo, a norma ISO 31000), a “mentalidade de risco” deve estar presente em todas suas decisões e ações, tanto ao nível estratégico como operacional. Isto eliminou a necessidade da ISO 9001:2015 ter uma clausula separada sobre “ações preventivas” – na realidade tudo que uma organização faz deve ser no sentido de evitar não conformidades nos seus processos, produtos e serviços. A organização deve perguntar constantemente para si mesmo: “O que poderia dar errado?” “Qual seria a probabilidade disto acontecer?” “Quais seriam as consequências potenciais?” e “Como deveremos tratar este risco”? A forma de abordar risco vai depender do contexto em que a organização opera. Para empresas fornecendo produtos e serviços simples, sem grandes implicações em termos de segurança ou financeiros, pode ser suficiente uma análise e priorização das suas atividades, de maneira a evitar problemas que poderiam afetar a satisfação do cliente. Para empresas atuando em áreas mais críticas espera- se uma abordagem mais abrangente (usando analises tipo FMEA, HAZOP, HACCP ou até metodologias estatísticas sofisticadas como simulações tipo Monte Carlo). A norma ISO 31010 oferece várias opções para analises de risco que poderiam ser aplicáveis em determinados contextos. A ISO 9001:2015 também reforça a necessidade de pensar do lado positivo - não somente evitando as coisas ruins, mas aproveitando as oportunidades para fazê- las melhores - uma nova tecnologia, uma matéria-prima mais barata, o concorrente com problemas, por exemplo. Por isso, a ISO 9001:2015 exige que a organização analise os “riscos e oportunidades” de forma equilibrada, para que seu sistema possa alcançar os resultados pretendidos. Dr Nigel H Croft Presidente do Conselho; APCER Brasil 10 - Revista BQ - Banas Qualidade Seis Sigma Aplicação do Lean Seis Sigma na gestão de serviços de saúde O Lean Seis Sigma deve ser empregado em todo o sistema e não apenas aos setores de atendimento direto aos clientes. Edição n 286 - Maio de 2016 - 11 Por Cristina Werkema Hospitais e laboratórios de medicina diagnóstica são muito similares a fábricas: altos volumes estão envolvidos, os mesmos procedimentos são repetidos de modo regular e os processos são muito dependentes de equipamentos. Portanto, vários métodos usados na otimização de fábricas também funcionam – e muito bem – em hospitais e laboratórios. Além disso, é natural aplicar o programa na área da saúde porque é usualmente necessário alcançar níveis de qualidade Seis Sigma ou superiores. Vale lembrar que, em 2001, o Institute of Medicine, nos Estados Unidos, tratou das questões ligadas à qualidade e estabeleceu seis metas para a saúde: “o atendimento deve ser seguro, eficaz, com foco no paciente, oportuno, eficiente e justo”. É importante ressaltar que muitas das métricas dos projetos Lean Seis Sigma estão associadas à qualidade do atendimento e não a ganhos financeiros. Isso ocorre porque os profissionais da área da saúde são muito mais motivados por questões associadas à segurança dos pacientes e à qualidade dos serviços prestados do que por resultados financeiros. No entanto, o Lean Seis Sigma deve ser aplicado em todo o sistema e não apenas aos setores de atendimento direto aos clientes. Também é válido destacar que a aplicação de técnicas estatísticas já é algo histórico em testes clínicos realizados pela indústria farmacêutica, o que facilita a disseminação do Lean Seis Sigma nesse setor. As principais categorias de projetos Lean Seis Sigma na área da saúde são: 1. Aumentar o número de admissões. 2. Reduzir o tempo de espera para atendimento. 3. Aumentar a eficiência de processos. 4. Reduzir o uso inadequado de materiais. 5. Reduzir deficiências. 6. Melhorar a alocação de recursos humanos. 7. Melhorar a utilização de instalações e equipamentos. Instituição The Johns Hopkins Hospital Mayo Clinic NewYork- Presbyterian Hospital Início do Lean Sigma 2004 2006 2004 Número de Belts Green Belts: > 75 Master Black Belts: 4 Mais de 400 pessoas já participaram do programa. Green Belts: > 200 Black Belts: > 26 Master Black Belts: 4 Exemplo de projeto Redução do desperdício de sangue para menos de 2% das unidades processadas, gerando um aproveitamento de mais de 2.500 unidades e um ganho financeiro superior a quinhentos mil dólares. Redução de 45 para 3 dias do tempo de ciclo entre o contato inicial do paciente com o Rochester Transplant Center e a primeira consulta. Redução da variância no tempo de internação em 13% no campus de Cornell e em 26% no campus de Columbia. Objetivos do Lean Seis Sigma Melhorar a segurança, qualidade e eficiência do sistema de atendimento do hospital; criar uma cultura de melhoria contínua; compartilhar amplamente os resultados e lições aprendidas. Melhorar e demonstrar qualidade, segurança, serviço e valor. Aumentar a receita; aumentar o rendimento e a eficiência dos departamentos de internação e emergência. 12 - Revista BQ - Banas Qualidade Nos Estados Unidos, muitas empresas da área da saúde, incluindo grandes hospitais, estão aplicando o Lean Seis Sigma. A revista iSixSigma Magazine, em uma de suas edições (1), apresentou como destaque de capa uma matéria sobre o assunto. Nessa reportagem são apresentados os casos de três hospitais, cujos pontos principais destacamos na figura da página anterior. No Brasil, alguns exemplos de projetos na área da saúde foram apresentados pelo Hospital do Câncer na Conferência Six Sigma, promovida pelo IBC no período de 20 e 21/09/2006: A Reduzir o tempo de espera e aumentar a capacidade de atendimento na central de quimioterapia. BReduzir o tempo de espera de pacientes para atendimento no ambulatório de curativos. CAdequar as datas de pagamentos às entradas de caixa. DAumentar a produtividade do processo de criobiologia. EAdequar o consumo, estoque e reposição de materiais usados no centro cirúrgico. FAgilizar a preparação e digitação de todos os atendimentos de posse do faturamento. Para um aprofundamento no tema da aplicação do Lean Seis Sigma na área da saúde sugerimos a leitura do excelente livro intitulado Improving Healthcare Quality and Cost with Six Sigma (2). Essa é uma obra fácil de ler, abrangente e repleta de exemplos e estudos de caso. Referências 1. Schmidt, Elaine. “Healing Healthcare”. iSixSigma Magazine, v.4, n.1, pp. 24-31, January/February 2008. 2. Trusko, Brett E.; Pexton, Carolyn; Harrington, H. James; Gupta, Praveen. Improving Healthcare Quality and Cost with Six Sigma (Upper Saddle River: Financial Times Press, 2007), 472p. Cristina Werkema é proprietária e diretora do Grupo Werkema e autora das obras da Série Seis Sigma Criando a Cultura Lean Seis Sigma, Design for Lean Six Sigma: Ferramentas Básicas Usadas nas Etapas D e M do DMADV, Lean Seis Sigma: Introdução às Ferramentas do Lean Manufacturing, Avaliação de Sistemas de Medição, Perguntas e Respostas Sobre o Lean Seis Sigma, Métodos PDCA e DMAIC e Suas Ferramentas Analíticas, Inferência Estatística: Como Estabelecer Conclusões com Confiança no Giro do PDCA e DMAIC e Ferramentas Estatísticas Básicas do Lean Seis Sigma Integradas ao PDCA e DMAIC, além de oito livros sobre estatística aplicada à gestão empresarial, área na qual atua há mais de vinte anos. cristina@ werkemaconsultores.com.br. Edição n 286 - Maio de 2016 - 13 14 - Revista BQ - Banas Qualidade Indicador, para que te quero? Edição n 286 - Maio de 2016 - 15 Gestão Apesar de ser óbvio afirmar que não devemos fazer medições com o propósito de obter medições, essa é uma prática muito comum nas empresas, já que o uso de computadores e sistemas de informação facilitou muito a medição, coleta e armazenamento de dados Por Eduardo Moura Medir o desempenho é fundamental para melhorá-lo. Por isso é raro encontrar uma empresa que não se guie por algum tipo de medição. Seria como um carro sem velocímetro e sem medidor de combustível, ou um avião sem painel de comando. É verdade que o fato isolado de medir o desempenho não assegura o sucesso, pois de pouco valem os indicadores do painel se as coordenadas de destino estiverem incorretas ou se o piloto estiver embriagado. Mas uma vez cumpridos tais requisitos básicos, a questão de decidir quais indicadores medimos e que uso fazemos da informação é algo simplesmente vital. Apesar de ser óbvio afirmar que não devemos fazer medições com o propósito de obter medições, essa é uma prática muito comum nas empresas, já que o uso de computadores e sistemas de informação facilitou muito a medição, coleta e armazenamento de dados que depois nunca se transformam em informação útil efetivamente utilizada. Porque uma coisa que os computadores ainda não fazem é questionar se tudo o que medimos é realmente necessário, e se de fato estamos medindo somente o que é suficiente. Sem conceitos claros e definições corretas sobre o quê medir e que uso dar às medições, é muito provável que estejamos cometendo um erro duplo: acumulando muitos dados desnecessários e ao mesmo tempo não contando com informação relevante. Por isso não é nada raro encontrar empresas que têm seu sistema de informação saturado de dados, mas que são incapazes de responder corretamente à simples pergunta “quais dos nossos produtos mais contribuem para a lucratividade do negócio?”. Isto porque, na triste realidade da absoluta maioria das empresas, o paradigma do Reino dos Custos tem levado seus súditos a dividirem o sistema de negócios em pequenos feudos e sub-feudos, e a partir daí todos são vistos como contribuintes igualmente importantes para a nobre tarefa de acumular e reportar dados minuciosos cujo fim supremo é calcular um Indicador-Rei chamado “Custo do Produto” o qual, como déspota insano, acaba levando todos a tomar as piores decisões. Portanto, consideremos seriamente a definição dada por Goldratt quanto ao uso estratégico das medições, isto é, o “para quê” de um sistema de indicadores de desempenho (quadro ao lado). É interessante destacar alguns pontos chave embutidos nessa brilhante frase: Cabe às partes intervir para melhorar o sistema. Enquanto durar o processo evolutivo do sistema, toda intervenção de melhoria sempre será sobre um ponto ou parte específica do mesmo, e nunca sobre o sistema como um todo. Toda melhoria requer uma ação efetiva de mudança, ou seja, introduzir algum elemento novo na praxis do sistema. É preciso ir além de discursos ou intenções, e reconhecer que resultados expressivamente melhores requerem um esforço intelectual intenso para definir a filosofia correta, um trabalho analítico profundo para estabelecer a visão estratégica 16 - Revista BQ - Banas Qualidade acertada e uma disciplina fanática para executar as táticas corretas, e que tudo isso transformará radicalmente o status quo. Embora as ações de melhoria sejam sempre pontuais, a definição das mesmas deve sempre ser feita a partir de uma perspectiva sistêmica, reconhecendo que isso requer a subordinação das partes ao objetivo global. Isso significa que, em um dado momento, somente uma das partes (a restrição do sistema) estará trabalhando no máximo da sua capacidade, ou, em outras palavras, que todas as demais partes estarão trabalhando abaixo da sua capacidade (isto é, com capacidade extra disponível para apoiar o trabalho na restrição do sistema). O que implica que a informação vital para a melhoria do sistema como um todo será apenas aquela que diz respeito à maximização do desempenho da restrição do sistema. O que nos libera do trabalho exaustivo e infrutífero de acumular dados sobre todas as partes e com isso perder o foco do que é realmente essencial. Estabelecer um sistema de indicadores que seja verdadeiramente eficaz não é tarefa que as partes possam fazer isoladamente, mas sim é responsabilidade não- delegável da alta gerência. Se adotarmos tais premissas, reconheceremos as seguintes virtudes de um indicador de desempenho sadio: É prático e fácil de obter: o tempo de ciclo coleta- análise-decisão-ação é curto, e preferivelmente realizado no próprio “gemba”. Tem efeito produtivo no curto prazo e efeito cultural no largo prazo: leva às ações corretas para a melhoria global do sistema e estabelece o comportamento correto e coerente das pessoas. É relevante: é fácil estabelecer a “ponte” entre o indicador e algum aspecto vital de desempenho do sistema. Tudo isso leva a concluir que, a menos que a alta direção realize um esforço intencional de avaliar criticamente e revisar seu sistema de indicadores de desempenho, com base em Edição n 286 - Maio de 2016 - 17 Gestão paradigmas administrativos mais adequados à realidade atual dos negócios, com grande chance estará condenando a empresa a um desempenho muito aquém do seu verdadeiro potencial, pois as medições tradicionais, com enfoque essencialmente financeiro e fundamentadas no paradigma de alocação de custos, além de não apresentarem as qualidades acima, sistematicamente levam as pessoas a fazer o que é prejudicial ao sistema. Um exemplo prático, para não ficar apenas no plano conceitual: é comum o uso do indicador “taxa de utilização de ativos”, que leva os recursos produtivos a operarem continuamente, a fim de “diluir o custo fixo” (parar a produção é tabu). O resultado típico é que, não havendo vendas que desovem a produção extra, o inventário aumenta, e com ele o custo total, incluindo o custo de manter produto que não vende ou descartar produto que se tornou obsoleto. Que é o resultado oposto ao que se buscava originalmente. Mas, como tais consequências estouram distantes no tempo e no espaço em relação à decisão anteriormente tomada de continuar produzindo para aumentar a taxa de utilização do ativo, acrescentando- se ainda o fato de que cada parte é avaliada isoladamente, sem uma visão sistêmica que revele a interação das mesmas, a vida segue adiante e tais perdas crônicas acabam sendo absorvidas, planejadas e vistas como “normais”. Um belo dia tal empresa implementa Lean Manufacturing e muda para o sistema puxado, produzindo apenas o que o mercado está pedindo. Os inventários se reduzem drasticamente, e eventualmente, não havendo puxada do mercado, não há POLÍTICAS, PRÁTICAS E TAREFAS DE AJUSTE COERENTES CONTRADIC. Po lít ic a de R el aç õe s In te rp es so ai s C ód ig o de É tic a M an ut en çã o de F un da çõ es Fu nd o U ni fic ad o do s Fu nc io ná rio s Av al ia çã o de d es em pe nh o 36 0 gr au s Si st em a de a te nç ão a c rít ic as e s ug es tõ es Si st em a de re co nh ec im en to a e qu ip es e in di ví du os Fó ru m d e In ov aç ão Po lít ic a de S us te nt ab ilid ad e Am bi en ta l N ão a va lia m os o s ge re nt es C rô ni ca s jo rn ad as d e H or as E xt ra s Honestidade e Transparência ⓿ Respeito às pessoas ⓿ ⓿ ⓿ ⓿ ⓿ ⓿ ⓿ Inovação e Excelência ⓿ ⓿ Compromisso com o Meio Ambiente ⓿ ⓿ ⓿ ⓿ Política formal atual ⓿ Política/prática formal, nova ⓿ Política informal, atual Que políticas e práticas confirmam (ou contradizem) nossos valores? (à parte dos processos empresariais já padronizados?) VALORES 18 - Revista BQ - Banas Qualidade necessidade de produzir, e a linha pára. Além disso, mesmo quando há puxada do mercado, como agora a linha de produção está sincronizada com o sistema kanban, nenhum recurso trabalhará num ritmo maior à capacidade do gargalo da linha ou acima da velocidade de puxada do mercado. Tudo isso torna a empresa muito mais enxuta, mais ágil, mais flexível e responsiva ao mercado, ou seja: melhor. Porém, em tal empresa foram mantidos os indicadores financeiros tradicionais. Resultado: os números indicam que o custo de produção aumentou! (já que o custo da “mão de obra”, o “custo” das horas paradas e demais custos fixos agora são rateados a uma quantidade menor de unidades produzidas). Concluindo, é possível afirmar que uma forma de validar a solidez e profundidade de um processo de mudança, é observar o que aconteceu com o sistema de indicadores que guiam as decisões do negócio: se não houve mudança nos indicadores, então nada realmente mudou. Cultura organizacional “Falar é fácil; fazer é que são elas” é um ditado popular que também se aplica ao desafio de consolidar uma cultura organizacional forte, onde todos vivam e compartilhem os mesmos valores. Recomendo uma ferramenta simples, mas que tem demonstrado ser muito efetiva para apoiar um esforço coerente de consolidação da ideologia empresarial. Infelizmente é muito comum encontrar nas organizações uma considerável distância entre o que os valores declaram e o que as pessoas vivem na prática. Penso que isso ocorre não porque a alta direção seja incompetente mas porque, por um lado, não tem implementado um conjunto coerente de políticas e práticas especificamente projetadas com a finalidade de traduzir e confirmar os valores no dia-a- dia de trabalho, e também, por outro lado, porque eventuais práticas contraditórias aos valores não foram minuciosamente identificadas e erradicadas. Para tal fim, concebi e venho utilizando em várias empresas o que denominei de “matriz da ideologia empresarial”. A figura seguinte fornece um exemplo prático e revela a estrutura dessa matriz: Nas linhas da matriz estão os valores, pois esses são a base fundamental da cultura organizacional. As colunas contêm as políticas e práticas, separadas em dois grupos: coerentes com os valores e contraditórias com os mesmos. A cor vermelha das “bolinhas” de relação indica novas políticas e práticas a serem criadas, enquanto que as de cor preta mostram as já existentes. Note que neste exemplo (real), há muitas bolinhas vermelhas, indicando que se as novas políticas e práticas não forem implementadas, a empresa não contará com suficientes mecanismos que sinalizem e de fato confirmem às pessoas que os valores são mesmo uma realidade na empresa, e não meros discursos ou intenções. Além disso, a matriz também alerta que se as atuais práticas contraditórias não forem eliminadas, elas acabaram falando muito mais alto que qualquer declaração de valor, correndo-se o risco de colocar as mesmas em total descrédito. A partir daí, é fácil estabelecer um plano de ações necessárias e suficientes para consolidar a cultura organizacional na prática. Eduardo Moura é diretor da Qualiplus Excelência Empresarial – emoura@qualiplus.com.br GestãoGestão Edição n 286 - Maio de 2016 - 19 20 - Revista BQ - Banas Qualidade Todos têm aptidão para liderar Edição n 286 - Maio de 2016 - 21 Comportamento Muito se fala sobre se a liderança pode ser aprendida, quem tem e quem não tem aptidão para ser líder, o que é um líder, quais as suas características ? 22 - Revista BQ - Banas Qualidade Por Ernesto Berg Muito se fala sobre se a liderança pode ser aprendida, quem tem e quem não tem aptidão para ser líder, o que é um líder, quais suas características, e muitas outras questões que são dirigidas a mim nas palestras e cursos que ministro sobre esse tema. Os questionamentos têm certa razão de ser porque muita informação desencontrada existe a respeito e, em vez de elucidar, serve mais de pedra de tropeço do que de ajuda. Portanto, é hora de fazer três perguntas: 1Todos nós podemos ser líderes? Muitos afirmam que a liderança é algo que já nasce com o indivíduo e quem não a possui não tem como adquiri- la. Essas pessoas tomam como exemplo grandes líderes carismáticos que existiram ao longo da história como Jesus Cristo, Júlio César, Napoleão, Lincoln, Gandhi, Nelson Mandela e outros semelhantes. É certo que líderes como esses são raros e não se formam em bancos escolares ou cursos de verão. Eles têm uma forte personalidade carismática que foge aos padrões usuais do comportamento humano. Prefiro deixar aos psicólogos, sociólogos e historiadores a tarefa de estudá-los e tentar explicá-los. Meu intuito é enfocar a liderança exclusivamente no âmbito das organizações. Sob essa ótica, todos podem tornar-se líderes, embora em graus diferentes. 2 Liderança pode ser ensinada e aprendida? Ao contrário do que se acreditava no passado, pesquisas minuciosas e a própria prática gerencial do dia a dia comprovaram que a liderança é passível de ser ensinada, adquirida e desenvolvida. Nesse processo o treinamento desempenha papel vital e insubstituível. No entanto, é preciso ressaltar que nem todos aprendem com a mesma facilidade, pois isso varia de pessoa a pessoa. Enquanto alguns assimilam rapidamente os conceitos e ideias sobre liderança, extraindo resultados práticos imediatos e duradouros, outros o fazem mais lentamente e de forma parcial, atingindo, com isso, resultados menores. Mas todos, sem exceção, terão uma real melhoria de desempenho de liderança em relação ao que eram antes, desde que sejam adotadas e seguidas as práticas apropriadas. 3 E os líderes circunstanciais? Existem pessoas que, por motivo do conhecimento que possuem ou de alguma habilidade especial, podem exercer uma liderança provisória. É o que aconteceu no metrô de Nova Iorque há alguns anos, quando a perna de uma mulher ficou presa entre a plataforma de embarque e o vagão do metrô, sujeita a ser decepada a qualquer momento pelo peso do vagão. Por requerer uma ação urgente, o desespero foi geral, pois ninguém sabia o que fazer. Naquele momento surgiu Patrick Kinsella, atendente de guichê da companhia de metrô; ele mandou que todos, ao seu comando empurrassem para o lado oposto - ao mesmo tempo-, o vagão que prendia a perna da senhora. Assim, mais de uma centena de pessoas (entre eles engenheiros, executivos, donas de casa, professores etc.) ao comando de Kinsella fizeram o incomum esforço de mover o vagão por apenas alguns centímetros, mas o suficiente para que algumas pessoas puxassem a perna da senhora e a livrasse de tê-la amputada pelo peso da enorme estrutura que a prendia. Num momento de crise, um pacato funcionário do metrô, foi o líder de mais de uma centena de pessoas porque sabia o que fazer na situação mais crucial, agrupando-as em um esforço conjunto. Terminado o processo, Kinsella saiu de cena, deixou de ser o comandante da operação, e voltou a ser novamente um cidadão comum. Esse é um exemplo de Edição n 286 - Maio de 2016 - 23 Comportamento liderança circunstancial que todos nós, eventualmente, poderemos exercer, por termos alguma habilidade específica imprescindível num dado momento, independente de nossa posição social, cultura ou formação profissional. As quatro características do líder Estudos realizados pelos especilaistas Warren Bennis e Burt Nanus com quase cem líderes (homens e mulheres) dos mais variados campos de atividades, revelaram quatro características comuns a todos eles: 1 Alta dose de criatividade. (Efeito Clio) Clio era a musa da criatividade na mitologia grega. Líderes mostram grande capacidade criativa, enxergando ângulos e possibilidades muito além da condição habitual da maioria das pessoas. 2 Grande capacidade de motivar pessoas e desenvolver-lhes o potencial. (Efeito Pigmaleão) Na mitologia grega Pigmaleão esculpiu uma estátua de mulher tão linda que, de tanto admirá- la, ele acabou se apaixonando por ela. Então a deusa Vênus acabou premiando Pigmaleão dando vida à estátua. Trazendo para o campo organizacional, o efeito Pigmaleão significa que as expectativas dos gestores afetam o desempenho dos subordinados, porque os chefes, inconscientemente, se comportam de acordo com as expectativas que têm na capacidade (ou não) dos liderados. Estes, por sua vez, acabam correspondendo a essa expectativa – positiva ou negativa -, devido ao tratamento que recebem do chefe. 24 - Revista BQ - Banas Qualidade Comportamento 3 Considerável concentração em fazer o trabalho bem feito. (Efeito Wallenda) Karl Wallenda foi um famoso equilibrista e artista de circo que costumava caminhar sobre um cabo de aço entre dois prédios, sem nenhuma proteção por baixo. Aos 73 anos de idade resolveu fazer sua última travessia entre dois prédios de 10 andares, na cidade de Porto Rico. Por infortúnio, ele despencou durante a apresentação e faleceu. Wallenda afirmava que não tinha medo de cair, porque concentrava- se ao máximo em fazer uma travessia perfeita na corda bamba. Em outras palavras, ele se concentrava em fazer o trabalho bem feito, em vez de se concentrar em não cair. Infelizmente, em Porto Rico, por ser sua última apresentação, Wallenda mostrou-se pela primeira vez receoso, e o seu pensamento predominante foi o de não cair, o que abalou sua confiança e propiciou a queda. Líderes focam sua atenção no trabalho bem feito, em vez de se preocuparem em não errar. 4 Crença inabalável nos resultados positivos, sem receio de possíveis fracassos. (Efeito Fênix) Ainda na mitologia grega, Fênix era um pássaro que morria por entrar em autocombustão, mas logo em seguida renascia das próprias cinzas, revitalizado. Líderes verdadeiros acreditam sempre no sucesso dos empreendimentos, mesmo que ocorram quedas e fracassos momentâneos pois, quando isso acontece, imediatamente se põem de pé e continuam o trajeto em direção aos objetivos fixados. Riscos da liderança De fato, liderança não é um trabalho fácil. Ela está carregada de demandas, complexidades, expectativas e ambiguidades que a maioria das pessoas não imagina que existam quando decide trilhar o caminho da liderança. Além disso, se você não tem a intenção de assumir riscos, a liderança não é para você. É impossível evitar riscos e, ao mesmo tempo, esperar que você progrida. O progresso sempre implica em enfrentar riscos. Se quisermos ser líderes, devemos frequentemente nos perguntar: “Por que eu embarquei nessa de ser um líder, chefe, gerente, diretor (ou o que for)?” Se a resposta for: “Para preencher meus próprios interesses, ou para fazer meus sonhos se tornarem realidade”, então você pretende ser líder pelos motivos errados, porque está ali pelas recompensas, o que irá diminuir a sua importância como líder. Acabará criando a cultura de que tudo – ou quase tudo - depende de você, e isso não é liderança, mas ilusão e autopromoção. A grande diferença entre verdadeiros líderes e falsos líderes, é que os verdadeiros líderes assumem um cargo não pelo que possam ganhar, mas pelo que possam dar. Pense nisso. Ernesto Berg é consultor de empresas, professor, palestrante, articulista, autor de 14 livros, especialista em desenvolvimento organizacional, negociação, gestão do tempo, criatividade na tomada de decisão, administração de conflitos- berg@quebrandobarreiras.com.br Edição n 286 - Maio de 2016 - 25 26 - Revista BQ - Banas Qualidade De quem é a culpa dos problemas das empresas Edição n 286 - Maio de 2016 - 27 Opinião Um país ainda tão marcado pela pobreza como o Brasil tem que colocar foco nos fatores críticos para o sucesso das gerações futuras. E quais seriam esses pilares? Por Dennis Giacometti No Brasil, 64% das empresas encerram as atividades antes de completarem seis anos; e apenas uma, em cada cem, chega aos 50 anos de forma saudável. Reconhecido mundialmente como país de empreendedores, o Brasil se destaca por apresentar elevada taxa de mortalidade empresarial precoce. No momento de encerrar as atividades, como acontece em outras situações da vida, há que achar um culpado que, claro, nunca é o próprio empreendedor, sempre “outro”. Na maioria das vezes, a culpa do fracasso é do governo! Será então que não somos corresponsáveis pelo atual estado da indústria nacional? Se essa maneira de pensar for verdadeira, como explicar o fato de que em quase todos os segmentos econômicos existem, no mínimo, três empresas nacionais de sucesso, independente das ciclotimias naturais do capitalismo? Como essas empresas conseguem perpetuar-se em cenários tão adversos como os relatados pela maioria dos empresários brasileiros? Jogam na zona cinzenta, para enfrentar, por exemplo, o poder da burocracia? Bem possível… Arriscam-se nas ginásticas fiscais e contábeis para fugir do fisco? Hipótese, evidentemente, cada vez menos provável, em razão da implacabilidade dos órgãos reguladores e gestores do setor. Então, em que se baseia a capacidade de superação permanente dessas organizações acostumadas a enfrentar cenários difíceis e desafios? Uma análise criteriosa baseada na experiência revela que o principal fator de diferenciação dessas empresas de sucesso é o Trabalho do Conhecimento. Seus acionistas e CEOs, de modo consciente ou intuitivo, investem em conhecimento. Isso ocorre de diferentes maneiras, em função dos recursos financeiros que cada um destina para esse fim. Quem não dispõe de recursos para a gestão do conhecimento, para a montagem de unidades de inteligência ou para a realização de onerosos estudos de mercado, viagens internacionais inspiradoras e outras iniciativas do gênero, recorre a eventos e congressos realizados por aqui, a muita leitura e até mesmo a pequenos estudos de mercado para ficar mais próximo das tendências de seu setor. Investir no conhecimento, porém, não é tudo. Na verdade, essas “soluções” representam apenas um por cento do esforço para se manter na liderança. O restante tem a ver com a capacidade dessas organizações para transformar o conhecimento em prática inovadora. Além de contribuir para antecipar as oportunidades e riscos do mercado, a gestão do conhecimento precisa se transformar em vórtice da inovação. Essa é a sua missão crítica. Inovação não só na área de produtos e serviços, processos internos, mas principalmente na forma como os colaboradores desenvolvem a interdependência entre as áreas para criar um ambiente propício ao avanço das práticas evolutivas. Somente assim será possível sair da mesmice, “do inferno chinês” (que amanhã será vietnamita, indiano, tailandês etc.) e consequentemente da briga única e exclusiva por preço. As empresas brasileiras precisam ser obstinadas com a inovação, com a ousadia, com a diferenciação de suas marcas. Devem gerir o tempo de tal 28 - Revista BQ - Banas Qualidade Gestão forma que possam pensar na reformulação do “galinheiro” nos próximos cinco ou seis anos, em vez de ficar correndo atrás dos frangos soltos 15 horas por dia. A interação dos empresários com os governos também exige inovação e criatividade, para tentar vencer os principais obstáculos que o setor público coloca diariamente à atividade das empresas. Nesse sentido, vale tentar lembrar de atitudes diferenciadas que teriam sido tomadas pelas principais entidades que representam a indústria no país nos últimos 20 anos. Alguém se arrisca a elencar cinco ações geniais? Ações que impactaram positivamente a agenda dos governantes? Alguém conhece o sonho da Fiesp, por exemplo, para 2025 e sabe qual seria o seu projeto Brasil com base na perspectiva da evolução industrial de São Paulo? Até onde sabemos, na realidade, não existe nem uma referência que sirva de inspiração, já que o Brasil não possui um projeto para navegar no atual cenário mundial tão complexo e competitivo. Há mais coisas para qualificar do que sonha a nossa vã “filosofia”. Um projeto para o Brasil não deve ser confundido com programas de governo apresentados pelos presidenciáveis a cada quatro anos e que depois ficam na gaveta. A questão é como criar uma identidade que diferencie o país no presente cenário de nações altamente competitivas. Algo que transcenda as ciclotimias naturais do capitalismo, que eleja quatro ou cinco áreas potenciais de desenvolvimento sustentável por 20 ou 30 anos, acima das demandas por incentivos ao consumo ou aos investimentos. Um país ainda tão marcado pela pobreza como o Brasil tem que colocar foco nos fatores críticos para o sucesso das gerações futuras. E quais seriam esses pilares? Para estimular a inovação, seria necessário criar um centro de altos estudos que reunisse o maior número possível de profissionais práticos e teóricos, com o objetivo de facilitar a definição e a forma de implementação destes grandes diferenciais que tornarão possível uma mudança qualitativa do Brasil. Se o país colocasse tempo, energia e recursos no Trabalho do Conhecimento, em dois anos, no máximo, conseguiria definir as grandes linhas mestras para acelerar seu desenvolvimento econômico, social e político. Cabeças brilhantes e pensantes não nos faltam. Na dúvida, o Brasil poderia até “copiar” a China, os Emirados Árabes, a Suécia ou outros países que já fizeram mudanças qualitativas. Isso já seria suficiente. Dennis Giacometti é sócio presidente da Giacometti Comunicação e da Zhuo – Gestão, Inovação e Estratégia de Marca. Edição n 286 - Maio de 2016 - 29 30 - Revista BQ - Banas Qualidade O uso de Boas Práticas pelos Agentes de Cargas interessados na Certificação OEA Neste artigo comentamos especificamente sobre o uso de boas práticas pelos Agentes de Cargas (ou Freight Forwarders) interessados ou já certificados como Operadores Econômicos Autorizados (OEA) conforme a Instrução Normativa RFB nº 1598 de dezembro de 2015. Edição n 286 - Maio de 2016 - 31 Logística Por Daniel Gobbi Costa Inicialmente para estas empresas é necessário a realização de uma avaliação completa em suas práticas de Segurança, baseando-se em gerenciamento de riscos e medidas de Segurança apropriadas a sua característica de atuação. Em seguida deverá ser implementado e mantido critérios de segurança que garantam o processo de melhoria contínua das boas práticas utilizadas. Ainda como parte introdutória, devemos reconhecer que um Agente de Carga normalmente não desempenha um papel significativo nos aspectos físicos do armazenamento, carregamento, transporte e distribuição de mercadorias, mas desempenha um papel muito importante no manuseio da informação, especialmente a que é transmitida entre os transportadores, as Aduanas e as outras partes da Cadeia Logística. Neste sentido - e antes de mais nada - o papel do Agente de Carga é também o de educar e motivar os outros membros da Cadeia Logística, para que estes participem de programas de Supply Chain Security, tais como o de Operador Econômico Autorizado (OEA). Abaixo estão apresentados alguns critérios mínimos, que devem ser considerados pelas empresas de Agenciamento de Cargas para a obtenção e manutenção de seus controles internos: 1Parceiros Comerciais O termo “Parceiros Comerciais” inclui todos os prestadores de serviço dentro da Cadeia Logística, os quais podem ser considerados os transportadores internacionais, nacionais e outras empresas conforme suas obrigações. As empresas de Agenciamento de Cargas deverão implementar procedimentos para o estudo de novos parceiros e para a manutenção dos atuais, com avaliações que vão além dos requisitos financeiros, e devem ser definidos indicadores de segurança. As empresas deverão cooperar para identificar quais informações específicas - sobre quais fatores, práticas ou riscos - são relevantes para os processos. Cabe registrar que as empresas de agenciamento de cargas deverão assegurar que seus parceiros, por contrato, se comprometam a seguir as recomendações de Segurança internacional. 2Segurança dos processos As empresas de agenciamento de cargas devem, juntamente com os importadores e exportadores, definir instruções para a segurança nos locais de carregamento, inspeção e lacração apropriada das embalagens e unidades de cargas (containers e baús), visando a manutenção da integridade dos processos. Essas empresas deverão também solicitar aos seus parceiros comerciais que seja realizada uma inspeção no veículo e na unidade de carga (“inspeção de sete pontos”), antes dos mesmos serem carregados. É fundamental o fechamento com lacre das unidades de Carga, para a manutenção da Segurança da Cadeia Logística. Estes lacres deverão obedecer (ou exceder) a norma ISO 17712 para lacres de Alta Segurança. 3Controles de acesso físico O controle de acesso físico deverá ser capaz de impedir a entrada, não acompanhada ou não autorizada, às instalações da empresa. É necessário que se mantenha o controle de acesso dos funcionários e visitantes, para proteção dos ativos da empresa. Os pontos de acesso deverão possuir controle de identificação positiva para todos no momento de entrada. Os empregados e fornecedores de serviço somente devem ter acesso às áreas da empresa onde tenham necessidade legítima de trabalho. Para os funcionários e visitantes a empresa deverá 32 - Revista BQ - Banas Qualidade implementar e manter procedimentos para a entrega, devolução e modificação dos dispositivos de acesso, tais como chaves, cartões de proximidade, etc. Visitantes deverão apresentar uma identificação com foto no momento de ingressar nas instalações da empresa, deverão ser acompanhados todo o tempo e exibir em local visível sua identificação temporária. 4Recrutamento,Manutenção e Desligamento de pessoal A empresa deverá implementar e manter processos para avaliar os candidatos com possibilidades de emprego, e realizar verificações periódicas dos empregados atuais. Ao término do contrato de serviço, a empresa deverá providenciar a retirada da identificação do colaborador e eliminar a permissão de acesso às instalações e aos sistemas, para os funcionários que foram desligados da empresa. 5Confiabilidade da Informação Medidas deverão ser implementadas para garantir que as informações transmitidas pelas empresas de agenciamento de cargas sejam coerentes e de ótima qualidade (sendo completas e claras), com o objetivo de que autoridades possam maximizar o uso de ferramentas de classificação para liberação da mercadoria, ou para a designação de um exame físico. Os procedimentos serão definidos para assegurar que toda informação fornecida pelo importador, exportador, embarcador, etc., que seja utilizada para a liberação das mercadorias, esteja legível e protegida contra modificações, perda ou introdução de dados errados. Em compliance com a Legislação Aduaneira, o Agente de Cargas deverá orientar que seu cliente (importador ou exportador) realize os reportes correspondentes e - quando for o caso - dos itens faltantes ou sobrantes ou das anomalias das quais tenha conhecimento. 6Segurança física das instalações As instalações onde são realizados o manuseio e o arquivamento de documentos - assim como os possíveis locais usados para realizar a entrada ou saída de mercadorias internacional - deverão possuir barreiras físicas e elementos de identificação, para garantir contra o acesso não autorizado. 7Segurança da Informação (TI) As empresas de agenciamento de cargas deverão implementar ferramentas para identificar o abuso dos sistemas de computação, e detectar o uso inapropriado e a manipulação indevida (ou mesmo alteração) das informações comerciais. Deverão ser tomadas medidas para proteger a informação eletrônica, inclusive informando aos empregados sobre a necessidade de proteger suas senhas e o acesso aos computadores. 8Capacitação em Segurança e conscientização sobre ameaças As empresas deverão implementar e manter um programa de conscientização para reconhecer e criar consciência sobre as ameaças em cada ponto da Cadeia Logística. Edição n 286 - Maio de 2016 - 33 Logística Os empregados deverão conhecer os procedimentos estabelecidos pela empresa para considerar uma situação e como denunciá-la. Deverá ser oferecida capacitação específica para ajudar os empregados a manter a integridade da mercadoria, reconhecer conspirações internas e proteger os controles de acesso. Concluímos este artigo afirmando que, os critérios mínimos aqui apresentados, estão sendo desenvolvidos especialmente com o objetivo de identificar grupos de empresas que possuam práticas seguras e efetivas, desenhadas para melhorar o desempenho da Cadeia Logística e mitigar a possibilidade de que esta possa ser contaminada por agentes ilícitos. As medidas de segurança de uma Cadeia Logística segura reduzem os riscos de roubo, perdas e contrabando de mercadorias e, quando não aplicadas, poderão facilitar a introdução de elementos perigosos no fluxo do processo. Daniel Gobbi Costa: Graduado em Administração de Empresas e habilitação em Comércio Exterior, com especialização nas áreas de Logística, Qualidade e Gerenciamento de Projetos. Atua desde 2007 em atividades de Auditoria/Consultoria nas áreas Logística e de Comércio Exterior participando de projetos de implementação e manutenção de controles internos, agora como Sócio/Responsável nas empresas Alliance Consultoria e Treinamento Empresarial (www.allcompliance. com.br) e Innova Consultoria Empresarial e Qualificação Executiva (www.innova-bpc.com. br). dgobbi@allcompliance.com.br Uma boa informação é a essência da percepção da necessidade onde a expectativa foi atingida. TRANSMISSÃO VIA INTERNET TRADUÇÃO SIMULTÂNEA WEBCASTING REDES APLICATIVOS 55 11 3959-1199 comercial@avsc.com.br | avsc.com.brTÉCNICOS CERTIFICADOS INTERNACIONALMENTE SISTEMA INTERATIVO PESQUISA DE QUALIDADE 34 - Revista BQ - Banas Qualidade A Qualidade no setor da construção civil Edição n 286 - Maio de 2016 - 35 A indústria da construção civil é muito importante, qualquer que seja o parâmetro que se utilize: volume de inversão, capital circulante, número de pessoas empregadas, utilidades dos produtos, etc. Assim, sobre ela são depositados os anseios e as expectativas de um produto de qualidade para o consumidor e para os construtores. Buscar a qualidade tornou-se uma necessidade para os profissionais atuantes nos diversos setores da engenharia civil e arquitetura 36 - Revista BQ - Banas Qualidade Normalmente, a produção na construção civil envolve o planejamento; o projeto; a aplicação de materiais fabricados e componentes fora do canteiro de obras e a de execução propriamente dita. Depois de terminada a obra segue-se a etapa de uso, que contempla as atividades de operação e a de manutenção. Em consequência, o nível de satisfação do usuário e o desempenho do edifício dependem muito da qualidade das quatro primeiras etapas, em especial das etapas de planejamento e projeto, ou seja, a observância aos aspectos e níveis de qualidade de um projeto, pode ser determinante para obtenção de um excelente produto final. As falhas podem ter suas origens em qualquer uma das atividades inerentes ao processo chamado de construção civil, ou seja, a concepção, a execução e a utilização da obra. Paralelamente a isto, pode-se também visualizar o problema como uma consequência de ações humanas, tais como a falta de capacitação técnica do pessoal envolvido no processo (tanto na etapa de concepção como nas de execução e de manutenção), utilização de materiais de baixa qualidade, de causas naturais ligadas ao envelhecimento dos materiais componentes das edificações e de ações externas, tais como choques, ataques químicos, físicos e biológicos relativos ao ambiente. A publicação da NBR 15575 representou tecnicamente as necessidades da sociedade brasileira no que se refere à aquisição de imóveis, levando em conta o estágio técnico e socioeconômico do Brasil. A norma também tem como característica estabelecer as responsabilidades de cada um dos responsáveis por uma edificação: construtores, incorporadores, projetistas, fabricantes de materiais, administradores condominiais e os próprios usuários. Sendo uma norma de desempenho, estabelece os parâmetros técnicos para vários requisitos importantes de uma edificação, como desempenho acústico, desempenho térmico, durabilidade, garantia e vida útil, e determina um nível mínimo obrigatório para cada um deles. Seu maior diferencial é estabelecer como metodologia o conceito de desempenho da edificação, alinhado às tendências internacionais, em complemento às antigas normas prescritivas. A abordagem de desempenho está ligada ao comportamento que se espera de uma edificação quando em uso, dentro de determinadas condições, tendo como foco as necessidades de seus usuários ao longo do seu tempo de vida útil. Essa norma, sob o título geral Edificações habitacionais – Desempenho, contém as seguintes partes: Parte 1: Requisitos gerais; Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais; Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos; Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas e externas – SVVIE; Parte 5: Requisitos para os sistemas de coberturas; e Parte 6: Requisitos para os sistemas hidrossanitários. Importante saber que as normas de desempenho são estabelecidas buscando atender aos requisitos dos usuários, que, no caso dessa norma, referem- se aos sistemas que compõem edificações habitacionais, independentemente dos seus materiais constituintes e do sistema construtivo utilizado. Seu foco está nos requisitos dos usuários para o edifício habitacional e seus sistemas, quanto ao seu comportamento em uso e não na prescrição de como os sistemas são construídos. A forma de estabelecimento do desempenho é comum e internacionalmente pensada por meio da definição de requisitos (qualitativos), critérios (quantitativos ou premissas) e métodos de avaliação, os quais permitem a mensuração clara do seu atendimento. As normas Por Hayrton Rodrigues do Prado Filho Edição n 286 - Maio de 2016 - 37 prescritivas estabelecem os requisitos com base no uso consagrado de produtos ou procedimentos, buscando o atendimento aos requisitos dos usuários de forma indireta. Por sua vez, as normas de desempenho traduzem os requisitos dos usuários em requisitos e critérios, e são consideradas complementares às normas prescritivas, sem substituí-las. A utilização simultânea delas visa atender aos requisitos do usuário com soluções tecnicamente adequadas. No caso de conflito ou diferença de critérios ou métodos entre as normas requeridas e essa norma, deve-se atender aos critérios mais exigentes. A abordagem dessa norma explora os conceitos que muitas vezes não são considerados em normas prescritivas específicas, por exemplo, a durabilidade dos sistemas, a manutenibilidade da edificação e o conforto tátil e antropodinâmico dos usuários. Todas as disposições contidas nessa norma aplicam- se aos sistemas que compõem edificações habitacionais, projetados, construídos, operados e submetidos a intervenções de manutenção que atendam às instruções específicas do respectivo manual de uso, operação e manutenção. Os requisitos do usuário relativos à segurança são expressos pelos seguintes fatores: segurança estrutural; segurança contra fogo; segurança no uso e na operação. Os requisitos do usuário relativos à habitabilidade são expressos pelos seguintes fatores: estanqueidade; desempenho térmico; desempenho acústico; desempenho lumínico; saúde, higiene e qualidade do ar; funcionalidade e acessibilidade; conforto tátil e antropodinâmico. Os requisitos do usuário relativos à sustentabilidade são expressos pelos seguintes fatores: durabilidade; manutenibilidade; impacto ambiental. Além disso, a avaliação de desempenho busca analisar a adequação ao uso de um sistema ou de um processo construtivo destinado a atender a uma função, independentemente da solução técnica adotada. Para atingir esta finalidade, na avaliação do desempenho é realizada uma investigação sistemática baseada em métodos consistentes, capazes de produzir uma interpretação objetiva sobre o comportamento esperado do sistema nas condições de uso definidas. Em função disso, a avaliação do desempenho requer o domínio de uma ampla base de conhecimentos científicos sobre cada aspecto funcional de uma edificação, sobre materiais e técnicas de construção, bem como sobre os diferentes requisitos dos usuários nas mais diversas condições de uso. Recomenda-se que os resultados desta investigação sistemática, que orientaram a realização do projeto, sejam documentados por meio de registro de imagens, memorial de cálculo, observações instrumentadas, catálogos técnicos dos produtos, registro de eventuais planos de CAPA 38 - Revista BQ - Banas Qualidade expansão de serviços públicos ou outras formas, conforme conveniência. Os requisitos de desempenho derivados de todos os requisitos dos usuários podem resultar em uma lista muito extensa; neste sentido é conveniente limitar o número de requisitos a serem considerados em um contexto de uso definido. Dessa forma, nas Seções 7 a 17 são estabelecidos os requisitos e critérios que devem ser atendidos por edificações habitacionais. Por exemplo, cabe ao fornecedor de sistemas caracterizar o desempenho de acordo com essa norma. Convém que fabricantes de produtos, sem normas brasileiras específicas ou que não tenham seus produtos com o desempenho caracterizado, forneçam resultados comprobatórios do desempenho de seus produtos com base nessa norma ou em normas específicas internacionais ou estrangeiras. Ao contrário das normas tradicionais, que prescrevem características dos produtos com base na consagração do uso, as normas de desempenho definem as propriedades necessárias dos diferentes elementos da construção, independentemente do material constituinte. No primeiro caso, deve-se utilizar o produto em atendimento às suas características. No segundo, deve-se desenvolver e aplicar o produto para que atenda às necessidades da construção. Para que se atinja e se mantenha o desempenho pretendido durante o prazo de vida útil de projeto, a norma estabelece incumbências para incorporadores, construtores, projetistas, usuários e outros. Suprime algumas indefinições que existiam, como, por exemplo, a responsabilidade sobre os levantamentos necessários em terrenos com passivo ambiental. A NBR 15575 estabelece que, para edificações ou conjuntos habitacionais com local de implantação definido, os projetos devem ser desenvolvidos com base nas características geomorfológicas do local, avaliando-se convenientemente os riscos de deslizamentos, enchentes, erosões e outros. Devem ainda ser considerados riscos de explosões oriundas do confinamento de gases resultantes de aterros sanitários, solos contaminados, proximidade de pedreiras e outros, tomando-se as providências necessárias para que não ocorram prejuízos à segurança e à funcionalidade da obra. Os projetos devem ainda prever as interações com construções existentes nas proximidades, considerando- se as eventuais sobreposições de bulbos de pressão, efeitos de grupo de estacas, rebaixamento do lençol freático e desconfinamento do solo em função do corte do terreno. Do ponto de vista da segurança e estabilidade ao longo da vida útil da estrutura, devem ser consideradas as condições de agressividade do solo, do ar e da água na época do projeto, prevendo-se, quando necessário, as proteções pertinentes à estrutura e suas partes. Além disso, o setor da construção possui, atualmente, 645 NBRs/NMs indispensáveis; 251 Regulamentos Técnicos; e 54 Projetos de NBRs e NMs em discussão. Reformas de edificações É de extrema importância a conscientização de proprietários quanto à responsabilidade sobre obras nas edificações, pois, normalmente, nos regulamentos internos dos prédios, algumas providências importantes devem ser consideradas. Todas as reformas e construções realizadas por moradores que afetem a estrutura, vedações ou quaisquer instalações devem ser comprovadamente documentadas e comunicadas ao síndico do condomínio antes de seu início, contendo a descrição dos serviços a serem executados. A NBR 16280 de 03/2014 – Reforma em edificações – Sistema de gestão de reformas Edição n 286 - Maio de 2016 - 39 – Requisitos estabelece os requisitos para os sistemas de gestão de controle de processos, projetos,execução e segurança, incluindo meios principalmente para: prevenções de perda de desempenho decorrente das ações de intervenção gerais ou pontuais nos sistemas, elementos ou componentes da edificação; planejamento, projetos e análises técnicas de implicações da reforma na edificação; alteração das características originais da edificação ou de suas funções; descrição das características da execução das obras de reforma; segurança da edificação, do entorno e de seus usuários; registro documental da situação da edificação, antes da reforma, dos procedimentos utilizados e do pós-obra de reforma; e supervisão técnica dos processos e das obras. Esta norma se aplica, exclusivamente, às reformas de edificações. O tema “reforma de edificações” assume relevância na sociedade à medida que, com a existência de demanda, do crescimento das cidades e urbanização de novas regiões, passa a ser atividade a ser disciplinada na sua forma de gestão. O envelhecimento das obras construídas impõe determinados processos, por segurança, perda de função ou qualidade que devem ser conduzidas com base em requisitos bem definidos. Mudanças econômicas e culturais trazem necessidades que podem levar a processos de alteração das construções. Contudo, estas transformações devem preservar a segurança das edificações, seus usuários e o entorno por ela impactados. Obviamente, em toda atividade existe a presença do elemento “risco” que, nas análises de gestão, deve ser tratado adequadamente. As edificações cumprem funções de serviço definidas em projeto. Contudo, ao longo do tempo de serviço, existirão necessidades de ajustes, adequações a novas demandas e até mesmo recuperação de suas propriedades técnicas. O valor agregado às edificações, seja econômico ou social, normalmente é evidenciado por características que sustentam as atividades humanas de forma estruturada, passando por gerações e fazendo história. Os serviços de reforma devem atender a um plano formal de diretrizes, que contemple: a preservação dos sistemas de segurança existentes na edificação; a apresentação de toda e qualquer modificação que altere ou comprometa a segurança da edificação ou do seu entorno à análise da incorporadora/construtora e do projetista, dentro do prazo decadencial (legal) e, após esse prazo, um responsável técnico designado pelo responsável legal deve efetuar a análise; os meios que protejam os usuários das edificações de eventuais danos ou prejuízos decorrentes da execução dos serviços de reforma e sua vizinhança; a descrição dos processos de forma clara e objetiva, atendendo aos regulamentos exigíveis para a realização CAPA 40 - Revista BQ - Banas Qualidade das obras e sua forma de comunicação; quando aplicável, o registro e a aprovação nos órgãos competentes e pelo condomínio, exigidos para sua execução; a definição dos responsáveis e suas atribuições em todas as fases do processo; a previsão de recursos para o planejamento da reforma: materiais, técnicos, financeiros e humanos, capazes de atender às interferências nos diferentes sistemas da edificação e prover informações e condições para prevenir ou mitigar os riscos; a garantia de que a reforma não prejudica a continuidade dos diferentes tipos de manutenção as edificações, após a obra. O plano de reforma deve ser elaborado por profissional habilitado por apresentar a descrição de impactos nos sistemas, subsistemas, equipamentos e afins da edificação, e por encaminhar o plano ao responsável legal da edificação em comunicado formal para análise antes do início da obra de reforma. O plano deve atender às seguintes condições: o atendimento às legislações vigentes e normas técnicas pertinentes para realização das obras; o estudo que garanta a segurança da edificação e dos usuários, durante e após a execução da obra; a autorização para circulação, nas dependências da edificação, dos insumos e funcionários que realizarão as obras nos horários de trabalho permitidos; a apresentação de projetos, desenhos, memoriais descritivos e referências técnicas, quando aplicáveis; o escopo dos serviços a serem realizados; a identificação de atividades que propiciem a geração de ruídos, com previsão dos níveis de pressão sonora máxima durante a obra; a identificação de uso de materiais tóxicos, combustíveis e inflamáveis; a localização e implicações no entorno da reforma; o cronograma da reforma; os dados das empresas, profissionais e funcionários envolvidos na realização da reforma; a responsabilidade técnica pelo projeto, pela execução e pela supervisão das obras, quando aplicável, deve ser documentada de forma legal e apresentada para a nomeação do respectivo interveniente; o planejamento de descarte de resíduos, em atendimento à legislação vigente; o estabelecimento do local de armazenamento dos insumos a serem empregados e resíduos gerados; as implicações sobre o manual de uso, operação e manutenção das edificações, conforme a NBR 14037, e na gestão da manutenção, conforme a NBR 5674, quando aplicável. Fluxo de gestão de obra de reformas de edificações O plano de reforma deve ser elaborado por profissional habilitado por apresentar a descrição de impactos nos sistemas, subsistemas, equipamentos e afins da edificação, e por encaminhar o plano ao responsável legal da edificação em comunicado formal para análise antes do início da obra de reforma. O Edição n 286 - Maio de 2016 - 41 plano deve atender às seguintes condições: atendimento às legislações vigentes e normas técnicas pertinentes para realização das obras; estudo que garanta a segurança da edificação e dos usuários, durante e após a execução da obra; autorização para circulação, nas dependências da edificação, dos insumos e funcionários que realizarão as obras nos horários de trabalho permitidos; apresentação de projetos, desenhos, memoriais descritivos e referências técnicas, quando aplicáveis; escopo dos serviços a serem realizados; identificação de atividades que propiciem a geração de ruídos, com previsão dos níveis de pressão sonora máxima durante a obra; identificação de uso de materiais tóxicos, combustíveis e inflamáveis; localização e implicações no entorno da reforma; cronograma da reforma; dados das empresas, profissionais e funcionários envolvidos na realização da reforma; a responsabilidade técnica pelo projeto, pela execução e pela supervisão das obras, quando aplicável, deve ser documentada de forma legal e apresentada para a nomeação do respectivo interveniente; planejamento de descarte de resíduos, em atendimento à legislação vigente; estabelecimento do local de armazenamento dos insumos a serem empregados e resíduos gerados; implicações sobre o manual de uso, operação e manutenção das edificações, conforme NBR 14037, e na gestão da manutenção, conforme a NBR 5674, quando aplicável. As adequações técnicas ou reformas em áreas privativas da edificação que afetem a estrutura, as vedações ou quaisquer sistemas da unidade ou da edificação devem atender aos requisitos do item 5.1 e ser comprovadamente documentadas e comunicadas ao
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