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Legislação previdenciária sobre acidentes do trabalho

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Legislação previdenciária sobre acidentes do trabalho: aspectos referentes aos direitos dos trabalhadores
A previdência social, há 94 anos, é uma rede de proteção para os trabalhadores e suas famílias, mas sustentar esse sistema previdenciário é um dos maiores desafios que se impõe ao estado brasileiro neste momento.
A cada mês são pagos quase R$ 34 bilhões correspondentes a cerca de 29 milhões de benefícios, somente no regime geral de previdência social (RGPS) – INSS.
Fato este que se agrava com o alto índice de acidentes de trabalho, pois eles implicam em danos sociais imediatos. Estas ocorrências compromete a saúde e a integridade física do empregado, prejudicando o desenvolvimento do trabalho. O reflexo também pode ser constatado nos dependentes que podem eventualmente perder a base de sustentação familiar. Sem falar dos custos que ocorrem nas áreas sociais, mais especificamente na saúde e na previdência social.
Entre junho de 2001 e outubro de 2014, os auditores fiscais do trabalho concluíram 22.796 análises de acidentes e doenças do trabalho, com intuito de identificar condições e fatores de risco que levam à ocorrência de agravos à saúde do trabalhador. Estes especialistas também verificaram a ocorrência de infrações às normas trabalhistas de proteção à segurança e saúde no trabalho (Brasil, 2014).
As análises têm sido fundamentais para o estabelecimento de prioridades no planejamento das ações fiscais na área de segurança e saúde no trabalho. Fato este que fundamenta as ações regressivas contra empresas que causaram despesas previdenciárias em razão de acidentes do trabalho resultantes do descumprimento das normas de proteção à saúde e a vida do trabalhador.
Essas informações e resultados precisam de uma adequada divulgação, pois contém dados relativos aos empregadores, ao processo e ambiente de trabalho, a circunstância do acidente ou doença do trabalho e os autos de infração impostos. Para tanto, estes resultados devem colaborar com as medidas de prevenção de acidentes e doenças do trabalho.
Segundo o ministério do trabalho e emprego, entre 1988 e 2011, ocorreram 82.171 mortes, no Brasil, relacionadas com práticas laborais. Esse número continua aumentando, segundo estatísticas oficiais, ocorrem 2.800 mortes por ano. Este índice é considero inaceitável, pois a grande maioria dos casos registrados é resultado de acidentes e doenças plenamente evitáveis (Brasil, 2014).
Ao longo das unidades curriculares estamos enfatizando a importância da prevenção e da preservação da integridade física do trabalhador, já que, frente ao vínculo empregatício, existe a possibilidade da ocorrência do acidente do trabalho, pois é indispensável à participação da mão-de-obra humana nas relações de emprego, exercida pela figura do empregado conforme prevê a CLT em seu artigo 3.º:
Art. 3 - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
Com o aparecimento da constituição federal de 1988 os trabalhadores passaram a agregar direitos. A saúde neste momento passa a ser considerada como direito social, garantindo aos trabalhadores a redução dos riscos inerentes ao trabalho, além de dispor seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
Desta maneira, o ordenamento jurídico brasileiro abrange normas jurídicas que retratam o acidente do trabalho em diversos âmbitos jurídicos, principalmente previdenciário e trabalhista, com o objetivo de preservar a dignidade do empregado que sofreu um sinistro laboral.
A definição legal do acidente do trabalho consta na Lei n.º 8.213/91:
Art. 19 - Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII, do artigo 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
Embora estejamos abordando a temática legislação sobre os acidentes do trabalho, não podemos nos esquecer de que esta legislação também prevê direitos que antecipam um acidente de trabalho. São eles:
A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador.
Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho.
É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos da operação a executar e do produto a manipular.
ministério do trabalho e da previdência social fiscalizará, e os sindicatos e entidades representativas de classe acompanharão o fiel cumprimento do disposto nos parágrafos anteriores.
Entretanto, há de se ressaltar que outros artigos previdenciários trazem determinações legais, as quais são necessárias à caracterização do acidente do trabalho.
Desta maneira, o artigo 20, incisos I e II, Lei n.º 8.213/91, equipara doenças profissionais e do trabalho com acidente do trabalho:
Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:
I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.
§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:
a) a doença degenerativa;
b) a inerente a grupo etário;
c) a que não produza incapacidade laborativa;
d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.
Deste modo, é possível interpretar que acidente de trabalho acontece quando o trabalhador está no exercício de suas atividades e ocorrem lesões corporais ou perturbações funcionais, resultantes em morte, perda ou redução, permanente ou temporária, das capacidades físicas ou mentais do trabalhador.
Os agravos à saúde decorrentes de acidentes de trabalho (AT) podem ou não resultar em incapacidade laboral, quer seja temporária ou permanente, estas incapacidades repercutem na atualidade por meio de um problema social, econômico e de saúde pública.
Complementando essas informações, a Lei n.º 8.213/91 trata de acidente do trabalho também em seu artigo 21, as seguintes ocorrências:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;
II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de:
a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;
b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho;
c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;
d) ato de pessoa privada do uso da razão;
e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior;
III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade;
IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:
a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;
c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoçãoutilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
Os acidentes de trabalho podem ser classificados como:
Todo acidente deve ser comunicado à previdência social por meio da comunicação de acidente do trabalho (CAT). Este é um documento emitido para reconhecer um acidente de trabalho ou de trajeto e também uma doença ocupacional.
Acidentes registrados correspondem ao número de acidentes cuja CAT foi cadastrada no INSS. Não é contabilizado o reinício de tratamento ou afastamento por agravamento de lesão de acidente do trabalho ou doença do trabalho, já comunicados anteriormente ao INSS.
Mas, quando essa comunicação deve ser realizada?
A empresa é obrigada a informar à previdência social todos os acidentes de trabalho ocorridos com seus empregados, mesmo que não haja afastamento das atividades, até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência. Em caso de morte, a comunicação deverá ser imediata.
A empresa que não informar o acidente de trabalho dentro do prazo legal estará sujeita à aplicação de multa. Mas, se a empresa não realizar o registro da CAT, o próprio trabalhador, o dependente, a entidade sindical, o médico ou a autoridade pública poderão efetivar a qualquer tempo o registro deste instrumento, o que não exclui a possibilidade da aplicação de multa à empresa.
Para qualquer dos casos indicados acima, deverão ser emitidas quatro vias sendo:
1.ª via ao INSS
2.ª via ao segurado ou dependente
3.ª via do sindicato de classe do trabalhador
4.ª via à empresa
Para concluir essa etapa, é importante ressaltar a necessidade deste conteúdo para a prática profissional do técnico em segurança do trabalho. É imprescindível que este profissional compreenda a legislação previdenciária quanto aos aspectos referentes aos direitos dos trabalhadores. Ao apropriar-se desse conhecimento, o técnico identifica a importância de sua atuação e reconhece a necessidade de um adequado planejamento de ações que promovam a saúde e a segurança dos trabalhadores.

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