Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EPISTEMOLOGIA GENÉTICA AULA 1 Prof. Wilson da Silva e Prof.a Márcia Regina Mocelin 2 CONVERSA INICIAL A epistemologia genética – pressupostos filosóficos Olá! Nesta aula, abordaremos os seguintes assuntos: 1. Jean Piaget – o filósofo 2. O inatismo 3. O empirismo 4. O construtivismo 5. A epistemologia genética TEMA 1 – JEAN PIAGET – O FILÓSOFO Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, na Suíça, em 1896 (o mesmo ano de nascimento de Vigotski!), e, desde muito cedo, interessou-se pelas ciências. Seu primeiro trabalho científico foi aos 10 anos de idade, sobre um pardal albino que observou num parque público. Um pouco depois, começou a trabalhar como auxiliar no Museu das Ciências Naturais de Neuchâtel. Nos quatro anos seguintes publicou aproximadamente 20 artigos sobre moluscos e temas afins. Seu interesse, no entanto, não se restringia à biologia, mas estendia-se à sociologia e principalmente à filosofia. Embora os problemas que interessassem o jovem Piaget fossem próprios da filosofia – por exemplo, como se passa de um nível elementar de conhecimento para um nível superior –, Piaget não estava contente com a solução meramente especulativa que a filosofia apresentava. Dessa forma, Piaget recorreu à psicologia para desenvolver um método científico para abordar aquele complexo problema filosófico. A epistemologia, criada por Piaget e intitulada epistemologia genética, é um campo interdisciplinar do conhecimento, que estuda a gênese do pensamento humano desde o nascimento até a idade adulta. Jean Piaget foi o grande representante da epistemologia genética, respaldando seus estudos em questões de ordem filosófica, sobretudo na natureza e na validade do conhecimento. Toda teoria epistemológica deve fazer menção a um sujeito conhecedor e a um objeto que é conhecido por esse sujeito. Surgem, assim, três teorias que explicam o surgimento do conhecimento: ou o Desktop Realce Desktop Realce 3 sujeito já nasce com os conhecimentos (inatismo) ou os adquire pela experiência (empirismo) ou, ainda, o conhecimento é resultado de uma síntese dialética das duas possibilidades anteriores. Piaget, com sua epistemologia genética, situa-se na terceira possibilidade. Com base nesses pressupostos filosóficos: o inatismo, o empirismo e o construtivismo, é que se pode compreender a epistemologia genética. TEMA 2 – O INATISMO Na perspectiva filosófica, o conhecimento é o resultado da relação de dois elementos básicos: alguém que conhece algo e algo que é conhecido; ou, dito de outra forma, um sujeito conhecedor e um objeto a ser conhecido. O inatismo pode ser considerado uma doutrina segundo a qual, no homem, existem conhecimentos ou princípios práticos inatos, ou seja, não adquiridos com a experiência ou pela experiência e anteriores a ela. Pensando a relação sujeito x objeto na perspectiva inatista, pode-se imaginar uma seta indo do sujeito para o objeto do conhecimento, o que enfatiza que as variáveis mais importantes, nessa perspectiva, estão no sujeito e não no meio. Na maior parte da sua obra, Piaget critica as teorias inatistas, dizendo que não é possível explicar, de maneira satisfatória, a natureza dos conhecimentos de uma perspectiva puramente inatista. TEMA 3 – O EMPIRISMO O empirismo pode ser definido como um movimento que acredita nas experiências como únicas (ou principais) formadoras das ideias, discordando, portanto, da noção de ideias inatas. Pensando a relação sujeito x objeto na perspectiva inatista, pode-se imaginar uma seta indo do objeto do conhecimento para o sujeito, o que enfatiza que as variáveis mais importantes, nessa perspectiva, estão no objeto de conhecimento. Piaget também se opõe às explicações puramente empiristas sobre a natureza dos conhecimentos. TEMA 4 – O CONSTRUTIVISMO A explicação de Piaget sobre a gênese dos conhecimentos representa uma síntese dialética entre o empirismo e o inatismo. Para Piaget, o 4 conhecimento não procede somente do sujeito, nem somente do objeto, mas sim da interação entre os dois. Pensando a relação sujeito x objeto na perspectiva construtivista, pode-se imaginar uma seta indo tanto do sujeito, quanto do objeto do conhecimento, enfatizando o papel da interação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Como diz Piaget: a inteligência não se inicia pelo conhecimento do eu nem pelo conhecimento das coisas, mas pela interação dos dois. Nessa interação, a inteligência organiza o mundo organizando a si própria. TEMA 5 – A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA Piaget afirma que as teorias clássicas do conhecimento foram as primeiras a formular a pergunta “Como é possível o conhecimento?”, que logo se desdobrou numa pluralidade de problemas. Mas o postulado comum das diversas epistemologias tradicionais é que o conhecimento é fato e não processo, ao passo que a epistemologia genética de Piaget vê o conhecimento mais como um processo. A epistemologia genética estuda a complexa relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento e, mais particularmente, as mudanças histórico- evolutivas que se dão nessa relação sujeito-objeto. A epistemologia genética criada por Piaget não é uma disciplina filosófica, como a epistemologia tradicional, porque se afasta da especulação, estudando a gênese das estruturas e dos conceitos científicos, buscando esclarecer, por meio da experiência, os processos fundamentais de formação do conhecimento. Pode-se dizer que a epistemologia genética também não é uma ciência como as outras, mas sim uma matéria interdisciplinar, que se ocupa de todas as ciências. NA PRÁTICA Faça uma entrevista com um(a) pedagogo(a) ou professor(a) de uma escola sobre o que ele(a) conhece da epistemologia genética tratada nesta aula e lhe pergunte se acha importante o professor/pedagogo conhecer o que é a epistemologia. FINALIZANDO 5 Vimos nesta aula que Piaget, embora possuísse formação biológica, não restringia seu interesse, no entanto, à biologia, mas estendia-o à sociologia e principalmente à filosofia. Vimos que as teorias epistemológicas devem fazer referência a alguém que conhece algo (um sujeito conhecedor) e a algo que é conhecido por esse sujeito (um objeto de conhecimento). Mostramos que há três possibilidades de se explicar o surgimento dos conhecimentos: o inatismo, segundo o qual o sujeito já nasce com os conhecimentos; o empirismo, para o qual os conhecimentos são adquiridos pela experiência; ou o interacionismo, em que o conhecimento é resultado de uma síntese dialética das duas possibilidades anteriores. Vimos que a epistemologia piagetiana se identifica com a terceira possibilidade. Também destacamos que a epistemologia, criada por Piaget e intitulada epistemologia genética, é um campo interdisciplinar do conhecimento, que estuda a gênese do pensamento humano desde o nascimento até a idade adulta. 6 REFERÊNCIAS ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. PIAGET, J. A epistemologia genética. Petrópolis: Vozes, 1971. _____. A equilibração das estruturas cognitivas: problema central do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. _____. Problemas de psicologia genética. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores).
Compartilhar