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Prof ª. Veridiana Rehbein
Curso OAB
1 FASE XXIXa
DIREITO CIVIL
Responsabilidade Civil
 
MATERIAL DE APOIO 
DIREITO CIVIL - RESPONSABILIDADE CIVIL – PRIMEIRA FASE OAB 
 
 
 
Veridiana Maria Rehbein1 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. Conceito; 2 Espécies de Responsabilidade; 3. Pressupostos; 4. Culpa (pressuposto da 
responsabilidade subjetiva); 5. Responsabilidade objetiva; 6. Dano; 7. Nexo de 
causalidade; 8. Indenização; 9. Legitimidade ativa para o pedido de reparação; 10. 
Legitimidade passiva nas ações reparatórias; 11. Responsabilidade por fato de terceiro; 
12. Responsabilidade decorrente de guarda ou propriedade; 13. A relação entre a 
responsabilidade civil e a criminal. 14. Marco civil da Internet. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Mestre em Direito, Advogada e Professora da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC e do Centro de 
Ensino Integrado Santa Cruz – CEISC. 
 
 
A responsabilidade civil está em constante evolução em razão de vincular-se, 
necessariamente, ao modo de viver de cada tempo histórico. Diferentes produtos, serviços, 
práticas e comportamentos são capazes de gerar danos em novas circunstâncias. Busca a 
responsabilização civil o equilíbrio das relações jurídicas, conferindo certeza à 
reparabilidade do dano injusto. 
A responsabilidade civil se estabelece “a partir da relação entre um dever jurídico 
originário, decorrente de previsão normativa genérica ou específica, e um dever jurídico 
sucessivo, relativamente à consequência imputada ao agente que viola o primeiro dever” 
(MIRAGEM, 2015). Assim, a responsabilidade civil surge em face do descumprimento 
obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar 
determinada pessoa de observar deveres jurídicos previstos em regras ou princípios. 
A base da compreensão necessária para a solução das questões de 
responsabilidade civil no exame de ordem é a diferenciação entre responsabilidade objetiva 
e subjetiva. “Historicamente, os juristas fundamentam a reparação civil ou no dano ou na 
culpa. Aceitar o dano como fundamento da responsabilidade civil privilegia a reparação, 
porquanto basta que se cause um prejuízo para que surja o dever de repará-lo. Por sua 
vez, aceitar a culpa como fundamento da reparação civil importa limitar a imposição da 
responsabilidade e do consequente dever de indenizar ao sujeito que causou dano 
culposamente, o que priva de reparação o dano causado sem culpa, assim como o causado 
por culpa quando não se conseguir produzir prova dela” (DONIZETTI e QUINTELLA 2017, 
p. 399). 
 
1. Conceito 
 
Entende-se por responsabilidade civil o dever de reparação dos danos causados em 
decorrência da violação de um dever jurídico preexistente. Esse dever jurídico preexistente 
pode decorrer de um contrato ou da não observância de preceitos normativos gerais. Assim, 
o Direito brasileiro protege as pessoas que sofrem dano, impondo ao autor do ato que deu 
causa ao prejuízo o dever de reparar. Dessa forma, respondem pelo dano o seu causador, 
aquele que responde pelos atos do causador, o dono da coisa ou de animal que causa o 
dano (aqueles a quem a lei imputa o dever de reparar). 
 
 
 Nesse passo, é possível estabelecer a responsabilidade civil como consequência 
dos danos causados em decorrência de culpa (ato ilícito em sentido estrito) ou por 
determinação legal (fato da coisa, abuso de direito, risco da atividade) que corresponde à 
responsabilidade objetiva. 
O objetivo da relação obrigacional de responsabilidade civil será sempre o dever de 
indenizar, aí entendido o dever de responder com seu patrimônio pela reparação da vítima 
do dano ao qual se lhe imputa responsável. (MIRAGEM, 2015) 
Assim, são os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem que 
ficam sujeitos à reparação do dano causado (artigos 391 e 942). 
 
2. Espécies de Responsabilidade 
 
O dano pode decorrer do descumprimento de um contrato, caso em que haverá a 
denominada responsabilidade civil contratual ou negocial, ou do descumprimento de um 
dever jurídico decorrente da lei, o que gera a responsabilidade civil extracontratual ou 
aquiliana. A responsabilidade também se subdivide em subjetiva e objetiva e direta e 
indireta. 
 
Responsabilidade 
contratual: aquela 
decorrente de inexecução 
ou infração em contrato 
firmado pelas partes. 
Prevista no Código Civil 
como perdas e danos. 
Responsabilidade 
extracontratual ou 
aquiliana: decorre de ato 
ilícito. Tem por fonte a 
inobservância da lei, pois 
Responsabilidade 
objetiva: se funda no risco, 
com origem em 
determinação legal, 
independente de culpa do 
agente. 
Responsabilidade 
subjetiva: depende de 
demonstração de culpa do 
agente – art. 186. 
 
Responsabilidade direta: 
quando o fato é imputado ao 
agente por conduta própria; 
responsabilidade por ato 
próprio. 
 
Responsabilidade indireta 
ou complexa: incide sobre 
o agente por ato de terceiro 
(exemplo: art. 933 CC). 
 
 
 
não há negócio jurídico 
anterior entre as partes. 
 
3. Pressupostos 
 
Inexiste consenso doutrinário sobre a identificação precisa e/ou denominação dos 
elementos ou pressupostos da responsabilidade civil. No entanto, é inquestionável para 
qualquer teoria doutrinária que a responsabilidade civil exige ocorrência de dano, nexo de 
causalidade e ato/fato/atividade do causador ou responsável. Doutrinadores 
contemporâneos, mais atentos a crescente incidência de atividades de risco e da 
consequente responsabilização objetiva, inserem o requisito culpa como elemento apenas 
da responsabilidade subjetiva. 
Assim, são pressupostos da responsabilidade subjetiva: a) Dano, que pode ser 
material ou moral (individual ou coletivo); estético e aquele decorrente da perda de uma 
chance (que não se enquadra necessariamente no conceito de dano moral ou material); b) 
Ato Ilícito/lesivo; c) Nexo de causalidade e; d) Culpa. 
São pressupostos da responsabilidade objetiva: a) Dano, que pode ser material ou 
moral (individual ou coletivo); estético e aquele decorrente da perda de uma chance (que 
não se enquadra necessariamente no conceito de dano moral ou material); b) Ato 
antijurídico e; c) Nexo de causalidade. 
A partir de tais pressupostos podemos definir como ato ilícito em sentido amplo 
aquele contrário à lei ou ao direito (causar dano injusto a outra pessoa); o dano é o prejuízo 
(moral ou material – coletivo ou individual, estético ou a perda de uma chance) 
experimentado pela vítima; nexo de causalidade é o vínculo lógico entre determinada 
conduta antijurídica do agente e o dano experimentado pela vítima; por fim, a culpabilidade 
é um juízo de censura à conduta do agente, de reprovabilidade pelo direito, decorrente de 
dolo, negligência, imprudência ou imperícia. 
A responsabilização objetiva tem os mesmos pressupostos, exceto a culpabilidade. 
Diz-se que a responsabilidade objetiva se dá independentemente de culpa. 
O artigo 927 trata das duas espécies de responsabilidade civil: 
 
 
 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 
186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
 
Subjetiva 
Parágrafo único. Haverá obrigação de 
reparar o dano, independentemente de 
culpa, nos casos especificados em lei, ou 
quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, 
por sua natureza, risco para os direitos de 
outrem. 
Objetiva 
 
O ato ilícito em sentido estrito, que irá fundamentar a responsabilidade subjetiva, 
encontra-se definido no art. 186 do CC: 
 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violardireito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
O artigo 187 dispõe sobre o abuso de direito que também configura ilicitude. 
 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou 
pelos bons costumes. 
 
O artigo 188 afasta a ilicitude do ato em algumas circunstâncias. Alguns autores 
denominam “causas de justificação” outros “excludentes de antijuridicidade”. 
 
Art. 188. Não constituem atos ilícitos: 
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; 
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover 
perigo iminente. 
 
 
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as 
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do 
indispensável para a remoção do perigo. 
 
Cuidado: independentemente da excludente de ilicitude, o dano causado em estado 
de necessidade pode gerar o dever de indenizar (artigos 929 e 930). 
 
4. Culpa (pressuposto da responsabilidade subjetiva) 
 
Lembre-se que no Direito Civil a culpa é utilizada em sentido amplo, compreende o 
dolo e a culpa em sentido estrito. O conceito de culpa está, de modo objetivo, delineado 
pelo art. 186 do CC, mas sua compreensão é ampliada por entendimentos doutrinários e 
jurisprudenciais. 
Nesse passo, podemos estabelecer que a culpa, para a reparação civil, envolve a 
ação ou omissão que viola direito ou causa prejuízo a outrem. “A culpa pode empenhar 
ação ou omissão e revela-se através: da imprudência (comportamento açodado, 
precipitado, apressado, exagerado ou excessivo); da negligência (quando o agente se 
omite, deixa de agir quando deveria fazê-lo e deixa de observar regras subministradas pelo 
bom senso, que recomendam cuidado, atenção e zelo); e da imperícia (a atuação 
profissional sem o necessário conhecimento técnico ou científico que desqualifica o 
resultado e conduz ao dano)” (STOCO, 2015). 
Em síntese, cite-se as duas principais espécies de culpa: a) culpa in committendo/ 
procedendo: trata-se da culpa por erro de procedimento, ou seja, por ação equivocada 
atribuída ao próprio agente, gerando-se o dever de indenizar. Relaciona-se com a 
imprudência. Ex.: quando um motorista em excesso de velocidade causa um acidente; b) 
Culpa in omittendo: trata-se de culpa por erro de conduta, mas relaciona-se à omissão 
(negligência). Ex.: quando o médico deixa de solicitar um exame indispensável. 
Falava-se também em modalidades de culpa quanto a sua presunção: a) culpa in 
vigilando (quebra do dever de vigilância); b) culpa in eligendo (culpa decorrente da escolha 
ou eleição); c) culpa in custodiendo (falta de cuidado em se guardar uma coisa ou animal). 
Contudo, as situações nas quais antes se presumia culpa, hoje acarretam responsabilidade 
objetiva, como, por exemplo, a responsabilidade dos pais pelos danos causados pelos 
 
 
filhos, a responsabilidade do empregador por atos do empregado e a responsabilidade do 
dono ou detentor do animal. 
 
5. Responsabilidade objetiva 
 
Trata-se da responsabilidade civil decorrente de determinação legal, seja pela 
natureza da atividade desenvolvida pelo agente ou pelo risco inerente a ela. 
Na sociedade contemporânea, a grande diversidade e quantidade de produtos e 
serviços (na sua maioria com uso de tecnologia e decorrentes de conhecimentos das mais 
variadas áreas), traz consigo riscos decorrentes do progresso técnico-econômico. “Isso 
implica a criação de contínuos processos de distribuição destes mesmos riscos, segundo 
critérios afirmados pelo Direito, especialmente firmados sobre a noção de ganho decorrente 
da geração do risco, ou ainda, sua diluição conforme a maior aptidão para internalização 
dos custos e sua distribuição à sociedade. Eis aqui a justificativa das variadas hipóteses de 
responsabilidade objetiva, em que não se exige a demonstração de culpa para a imputação 
do dever de indenizar, uma vez que a causalidade se atribui, em termos abstratos, a 
determinada atividade, cujo responsável, por sua posição, será chamado a responder pelos 
danos que porventura dela decorrerem”. (MIRAGEM, 2015, p.38). 
Quanto à natureza da atividade, veja-se que o art. 927, parágrafo único do CC, 
estabelece a responsabilidade objetiva em situações específicas: quando a lei determinar 
ou quando a atividade for de risco. Um exemplo de responsabilidade objetiva determinada 
em lei é o contrato de transporte de pessoas e coisas, em que a responsabilidade pela 
reparação civil ocorre independentemente de culpa do transportador. 
Para facilitar a compreensão de atividades que, por sua natureza, implicam em risco, 
surgiram teorias do risco, veja as principais: 
 
Teoria do risco administrativo: responsabilidade objetiva do Estado. Ex: Art. 37, §6º, CF. 
Teoria do risco criado: quando o agente cria o risco. Ex: Art. 938, CC. 
Teoria do risco da atividade: quando a atividade cria riscos a terceiros. Ex.: postos de 
combustíveis 
 
 
Teoria do risco-proveito: o risco decorre de uma atividade lucrativa. Ex.: Direito do 
Consumidor 
Teoria do risco integral: não há excludentes do nexo de causalidade, desde que o dano 
seja conexo à atividade. Ex.: dano ambiental 
 
Ainda quanto ao risco da atividade, vemos o exemplo de transportador de produtos 
perigosos que, mesmo em caso de acidente causado por outrem, tem responsabilidade por 
danos ambientais causados (individuais ou coletivos). Veja outro exemplo de atividade de 
risco em uma questão sobre o tema: 
 
(VI Exame – reaplicação). A sociedade de transporte de valores “Transporte Blindado 
Ltda.”, na noite do dia 22/7/11, teve seu veículo atingido por tiros de fuzil disparados por 
um franco atirador. Em virtude da ação criminosa, o motorista do carro forte perdeu o 
controle da direção e atingiu frontalmente Rodrigo Cerdeira, estudante de Farmácia, que 
estava no abrigo do ponto de ônibus em frente à Universidade onde estuda. Devido ao 
atropelamento, Rodrigo permaneceu por sete dias na UTI, mas não resistiu aos 
ferimentos e veio a óbito. Com base no fato narrado, assinale a assertiva correta. 
(A) Configura-se hipótese de responsabilidade civil objetiva da empresa 
proprietária do carro forte com base na teoria do risco proveito, decorrente do risco 
da atividade desenvolvida. 
(B) Não há na hipótese em apreço a configuração da responsabilidade civil da empresa 
de transporte de valores, uma vez que presente a culpa exclusiva de terceiro, qual seja, 
do franco atirador. 
(C) Não há na hipótese a configuração da responsabilidade civil da empresa proprietária 
do carro forte, uma vez que presente a ausência de culpa do motorista do carro forte. 
(D) Configura-se hipótese de responsabilidade civil objetiva da empresa proprietária do 
carro forte com base na teoria do empreendimento. 
 
Gabarito: “A” 
 
Lembre-se que na responsabilidade objetiva não há a necessidade de comprovação 
de culpa e, quando se tratar de risco integral, nem o caso fortuito e a força maior são 
 
 
capazes de afastá-la (como nos casos de danos ao meio ambiente e do seguro obrigatório 
de veículos automotores). 
Exemplos de responsabilidade objetiva (independentemente de culpa): 
• A responsabilidade civil nas relações de consumo é, em regra, objetiva, a única 
exceção é aquela dos profissionais liberais (art. 14, §4º, CDC); 
• A responsabilidade civil decorrente de abuso de direito (art. 187) independe de 
culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico (Enunciado 37 da I 
Jornada de Direito Civil e entendimento preponderanteda doutrina); 
• Responsabilidade por fato de terceiro (art. 933); 
• Responsabilidade pelo fato do animal (art. 936); 
• Responsabilidade pela ruína de edifício ou construção (art. 937); 
• Responsabilidade do habitante de prédio pelos danos provenientes das coisas 
que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido (art. 938). 
 
6. Dano 
 
O dano recebe outras denominações e o examinando precisa ficar atento, muitas 
vezes a lei menciona perdas e danos ou prejuízos reparáveis, por exemplo. Corresponde 
aos prejuízos experimentados pela vítima. Inicialmente dividia-se apenas em danos 
morais (extrapatrimoniais) e materiais (patrimoniais). Atualmente, por força da súmula 387 
do STJ (é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral), o direito 
brasileiro admite uma terceira categoria, a dos danos denominados estéticos. Por fim e 
mais recentemente, a admissão da reparabilidade da perda de uma chance que, conforme 
enunciado 444 da V Jornada de Direito Civil do CJF, “não se limita à categoria de danos 
extrapatrimoniais, pois, conforme as circunstâncias do caso concreto, a chance perdida 
pode apresentar também a natureza jurídica de dano patrimonial”, ou seja, por não se 
enquadrar especificamente em danos materiais ou morais (nem estéticos), pode ser 
considerada uma quarta modalidade de dano. 
Em relação ao público atingido (vítimas) o dano pode ser individual (experimentado 
pela pessoa, tanto moral quanto material); ou coletivo, que atinge uma coletividade de 
pessoas (como aquele causado ao meio ambiente, a direitos sociais, às relações de 
consumo, etc.). 
 
 
O dano material desdobra-se em dano positivo ou emergente, que corresponde 
ao prejuízo já sofrido, ou seja, à redução já experimentada na riqueza da vítima (como por 
exemplo as despesas médicas ocorridas para tratamento de vítima de atropelamento); e 
em danos negativos ou lucro cessante, que corresponde aos valores que, a despeito de 
eventual dispêndio, não foram auferidos pela vítima em razão do evento danoso. É o que 
ocorre, por exemplo, nos lucros que a vítima deixa de auferir, ou o negócio que deixa de 
realizar, ou mesmo a renda que deixa de ter (art. 402). 
Em relação aos danos morais, o entendimento que prevalece no direito brasileiro é 
o que o compreende como decorrente da lesão aos direitos de personalidade. Deve-se 
utilizar especialmente a expressão compensação, pois a indenização servirá como 
derivativo ou sucedâneo e não como ressarcimento. 
Lembre-se que pessoa jurídica também pode sofrer dano moral: 
 
Dano moral sofrido por 
pessoa jurídica. 
Art. 52, CC: Aplica-se às 
pessoas jurídicas, no que 
couber, a proteção dos 
direitos da personalidade. 
Súmula 227 do STJ: A 
pessoa jurídica pode sofrer 
dano moral. 
Honra objetiva: que 
compreende sua reputação, 
seu bom nome e sua fama 
perante a sociedade e o 
meio profissional. 
 
A jurisprudência consolidada dos tribunais superiores considera, em algumas 
situações, que não há necessidade de prova do dano moral, é o denominado dano moral 
presumido ou in re ipsa, aquele que decorre da gravidade do evento danoso. Como no 
caso de lesão física grave e nas situações abaixo, sumuladas pelo STJ: 
 
Súmula 370 - Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado. 
Súmula 385 - Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe 
indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito 
ao cancelamento. 
Súmula 388 - A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral. 
 
 
Súmula 403 - Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não 
autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. 
 
7. Nexo de causalidade 
 
Refere-se à vinculação ou liame jurídico que liga o fato, os danos experimentados e 
a responsabilidade do agente. “Não basta ter ocorrido um ato conforme ou contrário a direito 
e ter alguém sofrido um dano: somente há responsabilidade civil se for provada a relação 
causal – nexo de causalidade – entre o ato e o dano” (DONIZETTI e QUINTELLA, 2017, p. 
413) 
O nexo de causalidade é afastado (integral ou parcialmente) por ocasião de: 
a) culpa/fato exclusivo da vítima: quando a vítima fora a causadora do fato ou dos 
danos; 
b) culpa/fato concorrente da vítima: estabelece responsabilidade conjunta ou 
partida entre o agente e a vítima, eis que houve contribuição de ambos para a persecução 
do fato e danos experimentados, sendo apurada a responsabilidade de acordo com a 
contribuição de cada parte para o evento. Aqui não há o rompimento do nexo de 
causalidade, mas responsabilidade conjunta. 
O artigo 945 do CC trata da hipótese de concorrência de culpas: se a vítima tiver 
concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se 
em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. Observe-se, 
contudo, que embora o artigo faça referência à “culpabilidade”, o fato da vítima 
(concorrência de causas) também acarretará divisão de responsabilidade. Nesse sentido, 
veja o enunciado 459, da V Jornada de Direito Civil: 
 
A conduta da vítima pode ser fator atenuante do nexo de causalidade na responsabilidade 
civil objetiva. 
 
c) culpa/fato de terceiro: situações em que a culpa/fato decorre de terceiro (pessoa 
diversa foi a causadora do dano); 
d) caso fortuito ou força maior: evento alheio às partes, decorrente de fato imprevisível 
ou inevitável, afastando a responsabilidade pela reparação (salvo exceções). 
 
 
A previsão do caso fortuito e de força maior como eventos que rompem o nexo de 
causalidade se dá nos termos do parágrafo único, do art. 393, do CC, que estabelece: 
 
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos 
efeitos não era possível evitar ou impedir. 
 
Em relação ao caso fortuito, é importante observar que na responsabilidade objetiva, 
eventos inerentes (conexos) à atividade configuram caso fortuito interno e não afastam 
o dever de indenizar. “Diz-se, assim, caso fortuito interno, porque o risco representado 
pelo fato é inerente, interno à conduta ou à atividade do agente, de modo que deve 
responder quando dele decorra o dano. Distingue-se, nesse particular, do caso fortuito 
externo (ou força maior), em que o dano decorre de causa completamente estranha à 
conduta do agente (MIRAGEM, 2015, p. 247). Veja o enunciado da V Jornada de Direito 
Civil: 
 
Enunciado 443: O caso fortuito e a força maior somente serão considerados como 
excludentes da responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for conexo à 
atividade desenvolvida. 
 
Observe o entendimento sumulado do STJ: 
 
Súmula 479 - As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados 
por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de 
operações bancárias. 
 
Como exemplo de fortuito externo (que afasta o dever de indenizar), a jurisprudência 
do STJ tem reconhecido que o roubo dentro de ônibus, por se tratar de fato de terceiro 
inteiramente independente ao transporte em si, afasta a responsabilidade da empresa 
transportadora por danos causados aos passageiros (IJ 627, junho de 2018). 
Recebe a mesma interpretação o dano causado por pedra arremessada contra 
ônibus: “nos moldes do entendimento uníssono desta Corte, com suporte na doutrina, o ato 
culposo de terceiro, conexo com a atividade do transportador e relacionado com os riscos 
 
 
próprios do negócio, caracteriza o fortuito interno, inapto a excluir a responsabilidade do 
transportador. Por sua vez, o ato de terceiro que seja doloso ou alheio aos riscos 
próprios da atividade explorada,é fato estranho à atividade do transportador, 
caracterizando-se como fortuito externo, equiparável à força maior, rompendo o nexo 
causal e excluindo a responsabilidade civil do fornecedor; (STJ, EREsp 1318095 / MG, 
2017). 
Para a identificação do nexo de causalidade são utilizadas algumas teorias. Também 
não há consenso doutrinário sobre sua nomenclatura e classificação. A jurisprudência 
menciona preponderantemente a teoria da causalidade adequada, mas a FGV já 
fundamentou respostas na teoria do dano direto e imediato (art. 403, CC). Veja o conceito 
de ambas conforme Tartuce (2017): 
 
Teoria da causalidade adequada – teoria desenvolvida por Von Kries, pela qual se deve 
identificar, na presença de uma possível causa, aquela que, de forma potencial, gerou o 
evento dano. Na interpretação deste autor, por esta teoria, somente o fato relevante ou 
causa necessária para o evento danoso gera a responsabilidade civil, devendo a 
indenização ser adequada aos fatos que a envolvem. 
Teoria do dano direto e imediato ou teoria da interrupção do nexo causal – havendo 
violação do direito por parte do credor ou do terceiro, haverá interrupção do nexo causal 
com a consequente irresponsabilidade do suposto agente. Desse modo, somente devem 
ser reparados os danos que decorrem como efeitos necessários da conduta do agente. 
 
Bruno Miragem e Flavio Tartuce afirmam que a doutrina brasileira se divide entre a 
teoria da causalidade adequada e a do dano direto e imediato, mas que, ao se analisar os 
fundamentos na aplicação das duas teorias, percebe-se que em ambas o julgador 
menciona a interrupção do nexo causal como fundamento da exclusão da responsabilidade. 
“Nesse sentido, é didática a expressão “dano direto e imediato” para identificar que todas 
as causas que venham a se realizar depois da conduta do autor, e que venham a aumentar 
a extensão ou a gravidade do dano, quando não ligadas imediatamente a este autor, não 
serão de sua responsabilidade, senão daquele que deu causa à sua ocorrência”. 
(MIRAGEM, 2015). 
 
 
 Contudo, é possível notar uma diferença sutil entre as duas teorias, a teoria do dano 
direto e imediato é normalmente aplicada às situações que acarretam a exclusão total de 
responsabilidade em relação ao segundo dano (após a interrupção). Já a teoria da 
causalidade adequada permite a análise de concausas (causas concomitantes). A banca 
avaliadora se utilizou desse critério na peça da prova da segunda fase no exame XVI. 
Além das teorias para identificação do nexo de causalidade, temos as chamadas 
teorias das concausas que, segundo TARTUCE (2017) mantém relação direta com a 
causalidade adequada. 
 
Concausalidade ordinária, conjunta ou comum: consiste em condutas coordenadas e 
dependentes de duas ou mais pessoas. O dano é causado conjuntamente e os ofensores 
respondem solidariamente (art. 942, do CC). 
Concausalidade acumulativa: é aquela existente entre a conduta de duas ou mais 
pessoas que são independentes entre si. Neste caso, cada um deverá responder na 
proporção de suas culpas. (art. 945, do CC). 
Concausalidade alternativa ou disjuntiva: é aquela existente entre a conduta de duas 
ou mais pessoas, sendo que apenas uma das condutas é importante para ocorrência do 
evento danoso. (Já utilizada como fundamento de gabarito no Exame de Ordem em 
relação a responsabilidade decorrente do art. 938, do CC). 
 
Veja uma questão do Exame de Ordem sobre concausalidade alternativa: 
 
1. (OAB/FGV/XXV EXAME DE ORDEM) Marcos caminhava na rua em frente ao 
Edifício Roma quando, da janela de um dos apartamentos da frente do edifício, caiu uma 
torradeira elétrica, que o atingiu quando passava. Marcos sofreu fratura do braço direito, 
que foi diretamente atingido pelo objeto, e permaneceu seis semanas com o membro 
imobilizado, impossibilitado de trabalhar, até se recuperar plenamente do acidente. À luz 
do caso narrado, assinale a afirmativa correta. 
A) O condomínio do Edifício Roma poderá vir a ser responsabilizado pelos danos 
causados a Marcos, com base na teoria da causalidade alternativa. 
 
 
B) Marcos apenas poderá cobrar indenização por danos materiais e morais do morador 
do apartamento do qual caiu o objeto, tendo que comprovar tal fato. 
C) Marcos não poderá cobrar nenhuma indenização a título de danos materiais pelo 
acidente sofrido, pois não permaneceu com nenhuma incapacidade permanente. 
D) Caso Marcos consiga identificar de qual janela caiu o objeto, o respectivo morador 
poderá alegar ausência de culpa ou dolo para se eximir de pagar qualquer indenização a 
ele. 
Gabarito: “A” 
 
 
8. Indenização 
 
Apurada a responsabilidade, o art. 944, do CC, estabelece a apuração do valor da 
indenização a partir da extensão dos danos. O parágrafo único, do artigo 944, prevê uma 
exceção: se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá 
o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. 
De modo geral, a reparação, portanto, deve alcançar todos os prejuízos 
experimentados pela vítima. No caso da responsabilidade contratual, veja-se que o art. 404 
do CC estabelece que as perdas e danos correspondem ao principal, lucros cessantes, 
honorários, juros e correção. 
Porém, é possível verificar a previsão legal em situações específicas, como no caso 
do homicídio, em que há o dever de pagamento das despesas de funeral, médicas, luto e 
alimentos aos dependentes da vítima (art. 948). Em relação aos alimentos indenizatórios, 
importa atentar ao fato de que em famílias de baixa renda presume-se uma contribuição 
mútua entre pais e filhos, independentemente do desenvolvimento de atividade remunerada 
na data do óbito. Veja súmula 491, do STF. 
 
SÚMULA 491 - É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que 
não exerça trabalho remunerado. 
 
 
 
No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, além das despesas de tratamento e dos 
lucros cessantes, o ofensor deverá indenizará o ofendido todos os outros prejuízos que o 
ofendido prove haver sofrido (art. 949). 
 
9. Legitimidade ativa para o pedido de reparação 
 
Quanto à legitimidade ativa para a reparação civil, temos que a vítima é a titular do 
direito. Também poderão pleitear a reparação os sucessores, nos termos do artigo 943 do 
CC. Veja a tese fixada pelo STJ na edição nº 125 do “Jurisprudência em teses”: 
 
5) Embora a violação moral atinja apenas os direitos subjetivos do falecido, o espólio e 
os herdeiros têm legitimidade ativa ad causam para pleitear a reparação dos danos 
morais suportados pelo de cujus. 
 
Tanto a pessoa física como pessoa jurídica podem pleitear dano moral e/ou dano 
material, eis que consolidado entendimento de que a pessoa jurídica também sofre 
exposição moral (desde que à honra objetiva). 
Importa ressaltar que muitas vezes os familiares próximos sofrem danos em 
decorrência de ato antijurídico praticado diretamente a outra pessoa. Veja-se os casos dos 
dependentes (a quem o morto prestava alimentos) que ficarão privados da verba de 
subsistência com a morte da vítima, assim como sofrerão danos de natureza 
extrapatrimonial. São os chamados danos reflexos ou por ricochete. Mais recentemente a 
jurisprudência passou a admitir o dano reflexo também em casos em que a vítima 
direta permanece viva (litisconsórcio ativo). Trata-se de direito próprio pedido em nome 
próprio e não de direito alheio pedido em nome próprio. Veja a tese fixada pelo STJ na 
edição nº 125 do “Jurisprudência em teses”: 
 
4) A legitimidade para pleitear a reparação por danos morais é, em regra, do próprio 
ofendido, no entanto, em certas situações, são colegitimadas também aquelas pessoas 
que, sendo muito próximas afetivamente à vítima, são atingidasindiretamente pelo 
 
 
evento danoso, reconhecendo-se, em tais casos, o chamado dano moral reflexo ou em 
ricochete. 
 
 
10. Legitimidade passiva nas ações reparatórias 
 
São responsáveis pela reparação civil o agente causador do dano, bem como os 
responsáveis solidários ou subsidiários. O artigo 942, parágrafo único determina que são 
solidariamente responsáveis com os autores os coautores e as pessoas designadas no art. 
932. 
Há também a responsabilidade pela reparação decorrente de contrato, como ocorre 
no caso de seguro. Observe as súmulas do STJ em relação a esse tema: 
 
Súmula 529 - No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de 
ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do 
apontado causador do dano. 
Súmula 537 - Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a 
denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente 
junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à vítima, nos limites 
contratados na apólice. 
 
11. Responsabilidade por fato de terceiro (ou indireta). 
 
O Código Civil prevê hipóteses de responsabilidade civil decorrente de fato de 
terceiro. De modo expresso, o art. 932 estabelece a responsabilidade solidária (art. 942 
CC) nas seguintes hipóteses: I - dos pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua 
autoridade e em sua companhia; II - do tutor e do curador, pelos pupilos e curatelados, que 
se acharem nas mesmas condições; III – do empregador ou comitente, por seus 
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão 
dele; IV - dos donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue 
por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; 
 
 
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente 
quantia. 
O artigo 933 determina que a responsabilidade das pessoas indicadas no artigo 932 
é objetiva. “O novo Código Civil (art. 933), seguindo evolução doutrinária, considera a 
responsabilidade civil por ato/fato de terceiro como sendo objetiva, aumentando 
sobejamente a garantia da vítima. Malgrado a responsabilização objetiva do empregador, 
esta só exsurgirá se, antes, for demonstrada a culpa do empregado ou preposto, à 
exceção, por evidência, da relação de consumo" (REsp 1135988/SP, DJe 17/10/2013; 
DJe 05/03/2018). 
Lembre-se, contudo, que embora a regra seja de que a responsabilidade por fato de 
terceiro é solidária (entre causador e responsável) o incapaz responde subsidiariamente, 
conforme art. 928 (se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou 
não dispuserem de meios suficientes). 
 
12. Responsabilidade decorrente de guarda ou propriedade 
 
Também é necessário lembrar a responsabilidade decorrente da propriedade de 
coisa ou animal, prevista nos art. 936 a 938 do CC, também denominada de 
responsabilidade pelo fato da coisa. 
 
Responsabilidade do dono ou detentor 
do animal 
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal 
ressarcirá o dano por este causado, se não 
provar culpa da vítima ou força maior. 
V Jornada de Direito Civil - Enunciado 
452 
A responsabilidade civil do dono ou 
detentor de animal é objetiva, admitindo-se 
a excludente do fato exclusivo de terceiro. 
Responsabilidade do dono de edifício e 
construção 
Art. 937. O dono de edifício ou construção 
responde pelos danos que resultarem de 
 
 
sua ruína, se esta provier de falta de 
reparos, cuja necessidade fosse manifesta. 
VI Jornada de Direito Civil - Enunciado 
556 
A responsabilidade civil do dono do prédio 
ou construção por sua ruína, tratada pelo 
art. 937 do CC, é objetiva. 
Responsabilidade do habitante de 
prédio 
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou 
parte dele, responde pelo dano proveniente 
das coisas que dele caírem ou forem 
lançadas em lugar indevido. 
VI Jornada de Direito Civil - Enunciado 
557 
Nos termos do art. 938 do CC, se a coisa 
cair ou for lançada de condomínio edilício, 
não sendo possível identificar de qual 
unidade, responderá o condomínio, 
assegurado o direito de regresso. 
 
13. A relação entre a responsabilidade civil e a criminal 
 
O art. 935 do Código Civil determina que a responsabilidade civil é independente da 
criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o 
seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal 
O Enunciado 45, da I Jornada de Direito Civil, colaborou com a interpretação do 
artigo ao inserir a expressão “categoricamente”, ou seja, se a existência do fato e a autoria 
se acharem “categoricamente” decididas no juízo criminal, essa definição não será alterada 
no juízo cível. Embora os ilícitos civis sejam diferentes dos ilícitos criminais, uma vez 
decididos fato e autoria, independentemente das outras circunstâncias, não se poderá 
decidir de forma diferente no juízo cível. 
Por isso, muito cuidado: embora o artigo afirme a independência, trata-se, na 
verdade, de uma independência relativa. 
 
 
O Código de Processo Penal, ao tratar “da ação civil”, complementa o art. 935 ao 
determinar que a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, 
contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil (art. 64); e que não obstante 
a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver 
sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato (art. 66). 
Decisão do STJ constante em Informativo de Jurisprudência (437), sobre a 
absolvição criminal do preposto do responsável civil anteriormente condenado em juízo 
cível, é bem elucidativa da questão. Segundo o STJ, “a absolvição no juízo criminal não 
exclui automaticamente a possibilidade de condenação no juízo cível, conforme está 
disposto no art. 64 do CPP. Os critérios de apreciação da prova são diferentes: o Direito 
Penal exige integração de condições mais rigorosas e taxativas, uma vez que está 
adstrito ao princípio da presunção de inocência; já o Direito Civil é menos rigoroso, 
parte de pressupostos diversos, pois a culpa, mesmo levíssima, induz à 
responsabilidade e ao dever de indenizar. Assim, pode haver ato ilícito gerador do dever 
de indenizar civilmente, sem que penalmente o agente tenha sido responsabilizado pelo 
fato” (REsp 1.117.131-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/6/2010). 
Outra decisão publicada em Informativo de Jurisprudência (517) do STJ (aqui 
transcrita parcialmente) também é esclarecedora: 
 
Dessa forma, tratou o legislador de estabelecer a existência de uma autonomia relativa 
entre essas esferas. Essa relativização da independência de jurisdições se justifica em 
virtude de o direito penal incorporar exigência probatória mais rígida para a solução das 
questões submetidas a seus ditames, sobretudo em decorrência do princípio da 
presunção de inocência. O direito civil, por sua vez, parte de pressupostos diversos. 
Neste, autoriza-se que, com o reconhecimento de culpa, ainda que levíssima, possa-se 
conduzir à responsabilização do agente e, consequentemente, ao dever de indenizar. O 
juízo cível é, portanto, menos rigoroso do que o criminal no que concerne aos 
pressupostos da condenação, o que explica a possibilidade de haver decisões 
aparentemente conflitantes em ambas as esferas. Além disso, somente as questões 
decididas definitivamente no juízo criminal podem irradiar efeito vinculante no juízo 
cível. 
 
 
 
14. Marco civil da Internet 
 
A Lei 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, que estabelece 
princípios, garantias,direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil, também disciplina 
importantes aspectos da responsabilidade civil, especialmente nos seguintes artigos: 
 
Art. 18. O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por 
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. 
 
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o 
provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por 
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, 
não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e 
dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como 
infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário. 
§ 1o A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, 
identificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que permita a 
localização inequívoca do material. 
 
O STJ tem se manifestado sobre o tema em diversos julgados. Veja o teor do 
Informativo de Jurisprudência 558 de 2015: 
 
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE POR OFENSAS 
PROFERIDAS POR INTERNAUTA E VEICULADAS EM PORTAL DE NOTÍCIAS. 
A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo destinado 
a comentários de internautas terá responsabilidade solidária por comentários, postados 
nesse campo, que, mesmo relacionados à matéria jornalística veiculada, sejam ofensivos 
a terceiro e que tenham ocorrido antes da entrada em vigor do marco 
civil da internet (Lei 12.965/2014). Inicialmente, cumpre registrar que, de acordo com a 
classificação dos provedores de serviços na internet apresentada pela Min. Nancy 
Andrighi no REsp 1.381.610-RS, essa sociedade se enquadra nas categorias: provedora 
 
 
de informação - que produz as informações divulgadas na Internet -, no que tange à 
matéria jornalística divulgada no site; e provedora de conteúdo - que disponibiliza na rede 
as informações criadas ou desenvolvidas pelos provedores de informação -, no que 
tocante às postagens dos usuários. Essa classificação é importante porque tem reflexos 
diretos na responsabilidade civil do provedor. De fato, a doutrina e a jurisprudência 
do STJ têm se manifestado pela ausência de responsabilidade dos provedores de 
conteúdo pelas mensagens postadas diretamente pelos usuários (REsp 1.338.214-
MT, Terceira Turma, DJe 2/12/2013) e, de outra parte, pela responsabilidade dos 
provedores de informação pelas matérias por ele divulgadas (REsp 1.381.610-RS, 
Terceira Turma, DJe 12/9/2013). [...] 
 REsp 1.352.053-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/3/2015, 
DJe 30/3/2015. 
 
 
A ementa do acórdão no AgInt no AREsp 1177619 / SP (29/10/2018) traz uma 
síntese do atual entendimento do STJ: 
 
[...] 5. A jurisprudência desta Corte define que: 
(a) para fatos anteriores à publicação do Marco Civil da Internet, basta a ciência 
inequívoca do conteúdo ofensivo pelo provedor, sem sua retirada em prazo razoável, 
para que este se torne responsável e, 
(b) após a entrada em vigor da Lei nº 12.965/2014, o termo inicial da responsabilidade 
solidária do provedor é o momento da notificação judicial que ordena a retirada do 
conteúdo da internet. 
 
 
Veja recente questão do Exame de Ordem sobre esse tema: 
 
2. (OAB/FGV/XXVII EXAME DE ORDEM) Ao visitar a página de Internet de uma rede 
social, Samuel deparou-se com uma publicação, feita por Rafael, que dirigia uma série 
de ofensas graves contra ele. Imediatamente, Samuel entrou em contato com o provedor 
de aplicações responsável pela rede social, solicitando que o conteúdo fosse retirado, 
 
 
mas o provedor quedou-se inerte por três meses, sequer respondendo ao pedido. 
Decorrido esse tempo, o próprio Rafael optou por retirar, espontaneamente, a publicação. 
Samuel decidiu, então, ajuizar ação indenizatória por danos morais em face de Rafael e 
do provedor. Sobre a hipótese narrada, de acordo com a legislação civil brasileira, 
assinale a afirmativa correta. 
A) Rafael e o provedor podem ser responsabilizados solidariamente pelos danos 
causados a Samuel enquanto o conteúdo não foi retirado. 
B) O provedor não poderá ser obrigado a indenizar Samuel quanto ao fato de 
não ter retirado o conteúdo, tendo em vista não ter havido determinação judicial 
para que realizasse a retirada. 
C) Rafael não responderá pelo dever de indenizar, pois a difusão do conteúdo lesivo 
se deu por fato exclusivo de terceiro, isto é, do provedor. 
D) Rafael não responderá pelo dever de indenizar, pois o fato de Samuel não ter 
solicitado diretamente a ele a retirada da publicação configura fato exclusivo da vítima. 
Gabarito: “B” 
 
 
REFERÊNCIAS: 
 
DONIZETTI, Elpídio e QUINTELLA, Felipe. Curso Didático de Direito Civil. 6ª ed. ver. e 
atual. São Paulo: Atlas, 2017. 
 
MIRAGEM, Bruno. Direito Civil: Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva: 2015. 
 
STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. 
 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil – Vol. 2 – Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil, 
13ª edição. Forense, 12/2017. [Grupo GEN]. 
 
_____. Manual de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2018. 
 
 
www.ceisc.com.br
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para ENEM e vestibulares
	1. Conceito
	3. Pressupostos
	4. Culpa (pressuposto da responsabilidade subjetiva)
	5. Responsabilidade objetiva
	6. Dano
	7. Nexo de causalidade
	8. Indenização
	9. Legitimidade ativa para o pedido de reparação
	10. Legitimidade passiva nas ações reparatórias
	11. Responsabilidade por fato de terceiro (ou indireta).
	12. Responsabilidade decorrente de guarda ou propriedade

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