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Prof. Leonardo Fetter Curso OAB 1 FASE XXIXa PROCESSO CIVIL 1 SUMÁRIO PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL ........................................ 8 1.1 Princípio do devido processo legal ................................................................................................ 9 1.2 Princípio da isonomia .................................................................................................................... 9 1.3 Princípio do juiz natural ou da imparcialidade do juiz .......................................................... 11 1.4 Princípio do contraditório e da ampla defesa ....................................................................... 12 1.5 Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional / princípio do acesso à justiça .............. 14 1.6 Princípio da motivação das decisões judiciais ............................................................................. 14 1.7 Princípio da boa-fé processual .................................................................................................... 14 1.8 Duração razoável do processo .................................................................................................... 15 1.9 Princípio do duplo grau de jurisdição .......................................................................................... 16 1.10 Princípio da proporcionalidade e razoabilidade ....................................................................... 17 1.11 Princípio da Legalidade: ........................................................................................................ 17 1.12 Princípio da publicidade dos atos processuais ...................................................................... 18 PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO ................................................................................. 19 2.1 Investidura ................................................................................................................................... 19 2.2 Indelegabilidade .......................................................................................................................... 20 2.3 Aderência ou territorialidade ...................................................................................................... 20 2.4 Indeclinabilidade ......................................................................................................................... 20 2.5 Inércia .......................................................................................................................................... 21 ATOS PROCESSUAIS .............................................................................................. 21 3.1 Teoria geral e espécies ................................................................................................................ 21 3.2 Sistema de transmissão de dados: fac-símile ou outro similar ................................................... 23 3.3 Processo eletrônico ..................................................................................................................... 24 3.4 Nulidades ..................................................................................................................................... 27 3.5 Ineficácia ..................................................................................................................................... 28 3.6 Expediente forense ..................................................................................................................... 28 3.7 Processo calendário .................................................................................................................... 29 ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO .................................................................................... 30 LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL .................................................................... 30 TUTELAS PROVISÓRIAS......................................................................................... 31 PROCESSO DE CONHECIMENTO .......................................................................... 32 7.1 Procedimentos no novo processo civil ........................................................................................ 32 2 PETIÇÃO INICIAL ..................................................................................................... 33 8.1 Endereçamento ........................................................................................................................... 33 8.2 Da qualificação das partes........................................................................................................... 34 EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL ............................................................................... 36 INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL E IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO ......... 37 10.1 Juízo de admissibilidade: ........................................................................................................... 37 10.2 Indeferimento da petição inicial: .............................................................................................. 38 10.3 Hipóteses de indeferimento (art. 330, CPC): ............................................................................ 40 10.4 Improcedência liminar do pedido: ............................................................................................ 43 10.5 Requisitos para improcedência liminar: .................................................................................... 44 CITAÇÃO .................................................................................................................. 45 11.1 Formas de citação ..................................................................................................................... 46 11.2 Nulidade da citação ................................................................................................................... 48 11.3 Não poderá ser citado: .............................................................................................................. 49 MECANISMOS DE SOLUÇÃO ADEQUADA DE CONFLITOS ................................. 50 12.1 Da conciliação e mediação ........................................................................................................ 51 12.3 Ausência das partes em audiência ............................................................................................ 53 12.4 Prazo para defesa ...................................................................................................................... 53 12.5 Mediação ................................................................................................................................... 54 12.6 Funções do mediador ................................................................................................................ 54 12.7 Conciliação e mediação envolvendo o Poder Público ............................................................... 55 12.8 A mediação extrajudicial dos direitos disponíveis e indisponíveis transacionáveis ................. 56 12.9 Audiência de conciliação após o encerramento da fase postulatória ...................................... 57 DO DESINTERESSE DAS PARTES ......................................................................... 57 13.1 Prazo para defesa ...................................................................................................................... 59 ARBITRAGEM E A LEI 9.307/96 COM AS MODIFICAÇÕES INTRODUZIDAS PELA LEI Nº 13.129/15 ....................................................................................................... 60 14.1 A conciliação e a mediação judiciais no CPC e na Lei nº 13.140/15 ......................................... 60 LITISCONSÓRCIOE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS .......................................... 61 CUSTAS PROCESSUAIS ......................................................................................... 64 16.1 Justiça gratuita .......................................................................................................................... 64 16.2 Má-fé na relação processual ..................................................................................................... 66 16.3 Responsabilidade por dano processual ..................................................................................... 67 16.4 Dever de colaboração ............................................................................................................... 67 PRECLUSÃO ............................................................................................................ 68 17.1 Preclusão temporal ................................................................................................................... 68 3 17.2 Preclusão lógica ......................................................................................................................... 68 17.3 Preclusão consumativa.............................................................................................................. 69 17.4 Preclusão “pro judicato” ........................................................................................................... 69 CONTESTAÇÃO E RECONVENÇÃO ....................................................................... 70 18.1 Formas de resposta: .................................................................................................................. 70 18.2 Princípio da Eventualidade ou da concentração de defesa: ..................................................... 71 18.3 Ônus da impugnação especificada: ........................................................................................... 72 18.4 Prazo para contestação: ............................................................................................................ 72 18.5 Preliminares: ............................................................................................................................. 74 18.6 Defesas que devem ser alegadas fora da contestação ou que podem ser alegadas depois da contestação: ...................................................................................................................................... 80 18.7 Aditamento ou indeferimento da contestação: ........................................................................ 81 18.8 Reconvenção ............................................................................................................................. 82 REVELIA ................................................................................................................... 83 19.1 São efeitos da revelia: ............................................................................................................... 86 19.2 Quando a revelia não produz seus efeitos: ............................................................................... 86 19.3 Observações importantes sobre a revelia:................................................................................ 87 COMPETÊNCIA ........................................................................................................ 87 20.1 Incompetência ........................................................................................................................... 89 20.2 Modificação de competência .................................................................................................... 90 SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO ................................................................................ 92 21.1 Arguição de impedimento ou suspeição ................................................................................... 92 21.2 Hipóteses de impedimento ....................................................................................................... 93 21.3 Hipóteses de suspeição ............................................................................................................. 95 RÉPLICA ................................................................................................................... 96 FORMAÇÃO E SUSPENSÃO DO PROCESSO ....................................................... 97 23.1 Suspensão do processo ............................................................................................................. 97 PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES .......................................................................... 100 JULGAMENTO CONFORME ESTADO DO PROCESSO: EXTINÇÃO PARCIAL OU TOTAL DO PROCESSO ......................................................................................... 101 25.1 Providências preliminares ....................................................................................................... 101 25.2 Julgamento conforme estado do processo ............................................................................. 103 25.4 Julgamento antecipado do mérito .......................................................................................... 104 25.5 Julgamento antecipado parcial do mérito .............................................................................. 105 DESPACHO SANEADOR ....................................................................................... 106 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO ................................................................................. 107 27.1 Dos atos em audiência: ........................................................................................................... 109 4 27.2 Antecipação e adiamento da audiência de instrução e julgamento: ...................................... 109 27.3 Conciliação .............................................................................................................................. 110 27.4 Documentos da audiência ....................................................................................................... 111 27.5 Estrutura da audiência ............................................................................................................ 111 TEORIA GERAL DA PROVA .................................................................................. 112 28.1 Conceito de prova ................................................................................................................... 112 28.2 Características e objeto da prova ............................................................................................ 113 28.3 Valoração da prova ................................................................................................................. 114 28.4 A quem cabe o requerimento de produção de provas? ......................................................... 115 28.5 Ônus da prova ......................................................................................................................... 116 28.5.1 Ônus da prova em ações do consumidor ............................................................................. 118 28.6 Provas por presunção .............................................................................................................. 118 28.7 Provas ilícitas ........................................................................................................................... 119 28.8 Instrução por meio de carta precatória ou rogatória ............................................................. 119 28.9 Dever de cooperação: ............................................................................................................. 120 28.10 Prova emprestada .................................................................................................................121 28.11 Produção antecipada de provas ............................................................................................ 121 28.11.1Tipos de provas que podem ser antecipadas ...................................................................... 123 28.11.2 Competência ...................................................................................................................... 123 28.11.3 Petição e procedimento ..................................................................................................... 124 28.11.4 Medida inaudita altera parte ............................................................................................. 126 28.11.5 Destino dos autos ............................................................................................................... 126 PROVAS EM ESPÉCIE ........................................................................................... 126 29.1 Ata notarial .............................................................................................................................. 127 29.2 Depoimento pessoal ............................................................................................................... 129 29.3 Confissão: conceito ................................................................................................................. 131 29.3.1 (In)eficácia da confissão: ...................................................................................................... 132 29.3.2 Classificação da confissão: ................................................................................................... 133 29.3.3 Efeitos da confissão: ............................................................................................................. 134 29.3.4 Indivisibilidade da confissão ................................................................................................. 135 29.4 Exibição de documento ou coisa: ............................................................................................ 135 29.4.1 Procedimento e efeitos da exibição requerida contra a parte ............................................ 135 29.4.2 Quando o documento ou coisa estiver em poder de terceiros: .......................................... 137 29.5 Prova documental: conceito e força probante ....................................................................... 139 5 29.5.1 Documentos públicos ........................................................................................................... 140 29.5.2 Documentos particulares ..................................................................................................... 141 29.5.3 Alguns documentos regulados pelo CPC: ............................................................................. 143 A) Telegrama, radiograma ou qualquer outro meio de transmissão: ......................................... 143 B) Cartas e registros domésticos: ................................................................................................ 143 C) Nota escrita: ............................................................................................................................ 144 D) Livros empresariais:................................................................................................................. 144 E) Reproduções mecânicas de coisas ou fatos: ........................................................................... 144 F) Arguição de falsidade de documento ..................................................................................... 145 29.5.4 Procedimento do incidente de falsidade ............................................................................. 146 29.5.5 Produção da prova documental ........................................................................................... 146 29.5.6 Produção de prova que pertencem à administração pública: ............................................. 148 29.5.7 Documentos eletrônicos ...................................................................................................... 149 29.6 Prova testemunhal: conceito e admissibilidade ..................................................................... 150 29.6.1 Direitos e deveres da testemunha: ...................................................................................... 151 29.6.2 Produção da prova testemunhal: ......................................................................................... 154 29.7 Prova pericial ........................................................................................................................... 157 29.8 Inspeção judicial ...................................................................................................................... 160 EXTINÇÃO DO PROCESSO .................................................................................. 160 30.1 Alegações Finais ...................................................................................................................... 160 30.2 Sentença .................................................................................................................................. 161 30.3 Sentença terminativa: extinção do processo SEM resolução do mérito ................................ 162 30.4 Sentença definitiva: extinção do processo COM resolução do mérito ................................... 166 30.5 Estrutura e formalidades da sentença .................................................................................... 167 30.6 Classificação da sentença ........................................................................................................ 169 30.7 Remessa necessária ................................................................................................................ 169 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO ................................................................................. 170 31.1 Princípio da autonomia da execução ...................................................................................... 170 31.2 Princípio do título .................................................................................................................... 171 31.3 Princípio da patrimonialidade / responsabilidade patrimonial .............................................. 171 31.4 Princípio da disponibilidade da execução ............................................................................... 171 31.5 Princípio do exato adimplemento e da utilidade .................................................................... 172 31.6 Princípio da menor onerosidade ............................................................................................. 172 31.7 Princípio do contraditório ....................................................................................................... 172 6 AS PARTES NA RELAÇÃO PROCESSUAL EXECUTIVA ..................................... 172 REQUISITOS DA EXECUÇÃO ............................................................................... 176 33.1 Inadimplemento do devedor .................................................................................................. 176 33.2 Titulo executivo ....................................................................................................................... 177 33.2.1 Requisitos do título executivo .............................................................................................. 178 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL ................................................................... 178 34.1 Responsabilidade patrimonial de terceiros ............................................................................ 181 LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA ................................................................................184 35.1 Liquidação provisória .............................................................................................................. 184 35.2 Liquidação de sentença parcialmente ilíquida ........................................................................ 185 35.3 Liquidação por arbitramento x Liquidação pelo procedimento comum ................................ 185 MEIOS DE EXECUÇÃO .......................................................................................... 186 36.1 Execução de título extrajudicial: regras gerais ........................................................................ 186 36.2 Execução por quantia certa ..................................................................................................... 188 36.2.1 Processo de execução para entrega de coisa certa ............................................................. 196 36.3 Processo de execução para entrega de coisa incerta ............................................................. 198 36.4 Processo de execução de obrigação de fazer e não fazer ....................................................... 198 36.5 Execução contra fazenda pública ............................................................................................ 200 36.6 Execução de alimentos ............................................................................................................ 200 FRAUDE A EXECUÇÃO E FRAUDE CONTRA CREDORES ................................. 200 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ........................................................................... 203 38.1 Cumprimento de sentença: obrigação de fazer, não fazer e entrega de coisa certa ............. 204 38.2 Cumprimento de sentença de quantia certa .......................................................................... 204 38.3 Cumprimento de sentença de quantia certa contra fazenda pública ..................................... 205 38.4 Cumprimento de sentença de prestação de alimentos .......................................................... 206 PROTESTO DA DECISÃO JUDICIAL TRANSITADA EM JULGADO E NEGATIVAÇÃO DO NOME DO DEVEDOR ........................................................... 206 A HIPOTECA JUDICIÁRIA ...................................................................................... 207 SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DAS EXECUÇÕES .................................................... 208 41.1 Suspensão das execuções ....................................................................................................... 208 41.2 Extinção das execuções ........................................................................................................... 209 DEFESA DO EXECUTADO .................................................................................... 210 42.1 Defesa do executado ............................................................................................................... 210 42.2 Embargos à execução .............................................................................................................. 210 42.3 Procedimento dos embargos .................................................................................................. 213 42.4 Impugnação ao cumprimento de sentença ............................................................................ 217 42.4.1 Procedimento da impugnação ao cumprimento de sentença ............................................. 219 7 EXCEÇÕES DE PRÉ-EXECUTIVIDADE ................................................................ 220 DEFESA DO EXECUTADO APÓS A APRESENTAÇÃO DOS EMBARGOS ......... 221 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 223 8 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL O conflito entre pessoas e o conflito que pode resultar na instauração de um processo judicial são diferentes. No processo há a interferência judicial, na figura de um juiz, cuja a função é a de aplicar a lei ao caso concreto, na busca da pacificação social, através de um mecanismo político e ético (GONÇALVES; LENZA, 2016). Processo Civil é um dos subgrupos de processo, ainda se tem processo penal e processo do trabalho. O processo civil tem ligação com todos os demais ramos do direito, entre eles, com o Direito Constitucional. Direito material (direito primário) é aquilo que pertence a cada um, por exemplo o direito de um filho de postular alimento do pai. O direito processual (direito secundário) é aquele de pleitear perante o Estado um direito material desrespeitado, onde, através das normas de direito processual, o Estado-juiz fará valer o direito. O direito processual é formado por um conjunto de normas processuais, que, segundo Fredie Didier Jr (2016), podem ser princípios (como o devido processo legal) ou regras (como a proibição do uso de provas ilícitas). A norma é fundamental porque estrutura o modelo do processo civil brasileiro e serve de norte para compreensão de todos atos e procedimentos, portanto, além da regra é muito importante estudar os princípios do direito processual, pois visam alcançar o estado de coisas ideal. Assim, neste primeiro problema, vamos revisar alguns dos principais princípios do processo civil. 01 9 1.1 Princípio do devido processo legal O direito ao processo é uma das garantias constitucionais, direito fundamental previsto no artigo 5º, inciso XXXV, portanto, é um princípio constitucional e processual. O princípio do devido processo legal, também conhecido como due process of law, significa dizer que para a composição da lide será prestada a tutela jurisdicional e essa tutela deverá seguir as normas processuais traçadas, dais quais o Estado não poderá declinar, sob pena de violação do princípio do devido processo leal. Encontra-se previsto no artigo 5º, inciso LIV e LV, da Constituição Federal, que diz que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. O devido processo legal está relacionado com o outros princípios, como: contraditório, ampla defesa e duração razoável do processo. A finalidade do devido processo legal é não permitir o abuso de direito, ou seja, prezar por um processo justo e equânime. 1.2 Princípio da isonomia Trata-se de um princípio que visa dar tratamento igual às partes, objetivando um processo justo e equilibrado. Encontra-se presente no artigo 5º, caput, da Constituição Federal, bem como no artigo 7º do CPC, com as seguintes redações: Art. 5o. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos 10 ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Também está vinculado ao princípio da isonomia o direito ao contraditório e ampla defesa, conforme artigo 5º, inciso LV, da CF, e as súmulas vinculantes número 5 e 14. A isonomia formal é aquela que busca tratamento igualitário sem levar em consideração diferenças entre os sujeitos da ação, já a isonomia real, a qual leva em consideração a peculiaridade de cada sujeito, é a famosa frase “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de sua desigualdade”. Pelo princípio da isonomia o juiz deve ser imparcial ao conduzir o processo e emergindo circunstâncias que geram a parcialidade,o juiz deve afastar-se ou ser afastado. Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes; VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. § 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz. § 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz. § 3o O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo. Art. 145. Há suspeição do juiz: I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; 11 II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio; III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes. § 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões. § 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando: I - houver sido provocada por quem a alega; II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do arguido. Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição: I - ao membro do Ministério Público; II - aos auxiliares da justiça; III - aos demais sujeitos imparciais do processo. § 1o A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos. § 2o O juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo o arguido no prazo de 15 (quinze) dias e facultando a produção de prova, quando necessária. § 3o Nos tribunais, a arguição a que se refere o § 1o será disciplinada pelo regimento interno. § 4o O disposto nos §§ 1o e 2o não se aplica à arguição de impedimento ou de suspeição de testemunha. 1.3 Princípio do juiz natural ou da imparcialidade do juiz O princípio do juiz natural determina que as partes têm direito a um julgamento realizado por um juiz competente e imparcial artigo 5º, LIII e XXXVII, da CF. O primeiro inciso dispõe que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente, e o segundo, que não haverá juízo ou tribunal de exceção. Requisitos para caracterização do juiz natural: a) o julgamento deve ser proferido por alguém investido de jurisdição; b) o órgão deve ser preexistente; c) a causa deve ser submetida ao juiz competente, de acordo com as regras postas pela CF e por lei. Exceção: leis novas que suprimam o órgão ou que alterem a competência absoluta (hipóteses de lei superveniente, art. 43, CPC). 12 Exemplo: a partir da lei 9.278/96 (vide art. 9º, da lei) a união estável deixou de ser julgada pelas Varas Cíveis comuns e passou a ser julgada pelas Varas de família, essa alteração não viola o princípio da imparcialidade do juiz ou do juiz natural. Todos os processos que ainda não haviam sido julgados, quando sobreveio lei nova, foram encaminhados às Varas de família. 1.4 Princípio do contraditório e da ampla defesa Trata-se de um princípio muito importante, que garante às partes a oportunidade de se manifestar em todos os atos do processo, tratamento paritário para dialogar com o juiz, sob pena de nulidade, não podendo, assim, o juiz julgar qualquer ação sem que os litigantes tenham tido a oportunidade de se defender. Encontra amparo legal no artigo, art. 7º, 9º e 10, do CPC. Neste princípio podemos chamar a atenção do fato que o juiz não pode proferir nenhuma decisão sem antes ter ouvido todas as partes, é vedada a decisão surpresa, nem mesmo quando se tratar de matéria que deva ser decidida de ofício. Exceção 01: quando se tratar de tutela provisória de urgência, tutela de evidência e a decisão prevista no artigo 701 (decisão autorizadora do mandado de pagamento na ação monitória). Nestes casos, para evitar dano irreparável ou de difícil reparação, o direito de defesa não é afastado, somente tomado a posteriori. Exceção 02: No artigo 332, do CPC, estão descritas as hipóteses em que o juiz poderá julgar liminarmente improcedente o pedido do autor, sem mesmo citar o réu, isto não acarretará em nulidade da decisão, por ofensa ao princípio, visto que não prejudica ao réu, mas sim o autor (o que caberá apelação da liminar). ATENÇÃO: o art. 346 do Código de Processo Civil não gera ofensa ao contraditório: Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial. 13 Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar. Art. 349. Ao réu revel será lícita a produção de provas, contrapostas às alegações do autor, desde que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos processuais indispensáveis a essa produção. ATENÇÃO: Cabe ao Poder Judiciário fazer com que o devido processo legal e o contraditório sejam respeitados, na forma da parte final do art. 7º do Código de Processo Civil. Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento; Art. 5º, LV, CF: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; NEGÓCIO JURÍDICO: As partes podem estipular, de comum acordo, mudanças no procedimento: Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveresprocessuais, antes ou durante o processo. Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. AMPLIAÇÃO DO CONTRADITÓRIO: Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito; 14 1.5 Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional / princípio do acesso à justiça O artigo 3º do CPC, disciplina que “não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito”, estando quase igualmente de acordo com o artigo 5º, inciso XXXV, da CF. Diante disso, não pode o Poder Judiciário deixar de amparar casos que lesionem ou ameacem lesionar algum direito e nem poderá deixar de prestar uma tutela efetiva e justa, para tanto devem ser observadas todas garantias fundamentais do processo, princípios e direitos básicos. 1.6 Princípio da motivação das decisões judiciais Este princípio disciplina que todas as decisões judiciais devem obrigatoriamente ser motivava, de acordo com o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal e artigo 11 do CPC, abaixo transcritos: Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Art. 93. (...) IX. todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação A motivação é pressuposto indispensável, visto que, se a parte não souber os motivos que levaram o juiz a tomar determinada decisão ficará impossível ao litigante fundamentar em eventual recurso, ou pelo avaliar a possibilidade de interpor recurso contra a decisão. 1.7 Princípio da boa-fé processual De acordo com este princípio as partes do processo devem sempre se comportar com boa-fé, lealdade e urbanidade, este princípio está intimamente ligado 15 ao princípio da dignidade da pessoa humana, pois visa promovê-lo no ordenamento jurídico, no julgamento da causa. Encontra-se previsto no artigo 5º do CPC. A parte que agir com má-fé pode ser penalizada com multa. As práticas consideradas má-fé estão previstas no art. 80 do CPC: Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou interveniente. Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II - alterar a verdade dos fatos; III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI - provocar incidente manifestamente infundado; VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou. § 1o Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. § 2o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo. § 3o O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos. 1.8 Duração razoável do processo É decorrente do Pacto São José da Costa Rica. O princípio da duração razoável do processo é também conhecido como princípio da celeridade processual. Não há na lei uma predeterminação de duração do processo, todavia não se pode tolerar a procrastinação injustificável do judiciário e seus serviços. Está previsto no artigo 5º, inciso LXXVIII, da CF, garantindo que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que 16 garantam a celeridade de sua tramitação”. Está previsto também nos artigos 4º e 6º do CPC. A obediência aos prazos processuais é uma forma de atender ao princípio da duração razoável do processo. Para as partes, a consequência da não observância dos prazos processuais é a preclusão, ou seja, a perda do direito de manifestação: Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou de emendar o ato processual, independentemente de declaração judicial, ficando assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por justa causa. O magistrado também deverá obedecer prazos processuais, na forma do art. 226 do CPC: Art. 226. O juiz proferirá: I - os despachos no prazo de 5 (cinco) dias; II - as decisões interlocutórias no prazo de 10 (dez) dias; III - as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias. Art. 235. Qualquer parte, o Ministério Público ou a Defensoria Pública poderá representar ao corregedor do tribunal ou ao Conselho Nacional de Justiça contra juiz ou relator que injustificadamente exceder os prazos previstos em lei, regulamento ou regimento interno. § 1º Distribuída a representação ao órgão competente e ouvido previamente o juiz, não sendo caso de arquivamento liminar, será instaurado procedimento para apuração da responsabilidade, com intimação do representado por meio eletrônico para, querendo, apresentar justificativa no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º Sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis, em até 48 (quarenta e oito) horas após a apresentação ou não da justificativa de que trata o § 1o, se for o caso, o corregedor do tribunal ou o relator no Conselho Nacional de Justiça determinará a intimação do representado por meio eletrônico para que, em 10 (dez) dias, pratique o ato. § 3º Mantida a inércia, os autos serão remetidos ao substituto legal do juiz ou do relator contra o qual se representou para decisão em 10 (dez) dias. 1.9 Princípio do duplo grau de jurisdição Este princípio não se encontra expresso na Constituição Federal, mas diante de terem sido criados juízos e tribunais, cuja competência é julgar os recursos contra as decisões de primeiro grau, automaticamente estabeleceu-se o duplo grau de jurisdição, que busca reanalisar os atos judiciais que geram inconformismo na parte 17 e estão substanciados por falhas, ilegalidades, provas, através do julgamento de um órgão superior. Deste princípio, decorre a necessidade de hierarquia diferente entre dois juízos distintos, portanto temos os de primeiro grau (juízes singulares) e o de segundo grau (Tribunais Superiores). Os primeiros são os juízos da causa e o segundo, os juízos dos recursos (THEODORO JÚNIOR, 2017). Exceções: não há duplo grau de jurisdição para as causas que tem competência originária dos tribunais, por exemplo, para as ações originárias do Supremo Tribunal Federal, para embargos infringentes (previstos na lei de execução fiscal), nas hipóteses do artigo 1.013, §3º,do CPC. 1.10 Princípio da proporcionalidade e razoabilidade De acordo com o artigo 8º do CPC, o juiz, ao aplicar as normas deverá atender os fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Exemplo de aplicação dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade: obrigação alimentar. 1.11 Princípio da Legalidade: Previsto no artigo 8º, do CPC, e artigo 5º, II, da CF, equivale a limitar o exercício do Poder Público, o juiz não poderá afastar-se da lei, mas nada impede que ele tenha que adequá-las às peculiaridades de cada caso. Lembrando que o direito não é apenas legal, não está somente escrito na lei (fonte formal), há as fontes formais acessórias ou indiretas: analogia, costumes, princípios gerais do direito (art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), súmulas do STF (art. 103-A, e parágrafos, da CF; Lei n. 11.417/2006), decisões de mérito do STF 18 (art. 102, §2º, da CF); e as fontes não formais (informais): doutrina e os precedentes jurisprudenciais (salvo as súmulas vinculantes e as decisões de mérito do STF). 1.12 Princípio da publicidade dos atos processuais Está previsto nos artigos 5º, LX, 93, X, ambos da CF e artigos 11, caput, e 368 ambos do CPC, impõe que sejam públicos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário, justifica-se no fato de haver interesse público maior que somente das partes, pois visa a garantia da paz e harmonia social. A publicidade é mecanismo de controle das decisões judiciais. Todavia não se aplica somente as decisões, mas também a qualquer esfera dos Poderes institucionais, segundo o artigo 37 da CF. Exceção: processos que correm com segredo de justiça: o segredo de justiça ocorre, evidentemente, apenas com terceiros, não com as partes e seus procuradores. Haverá segredo de justiça quando: a) em que o exigir o interesse público ou social (art. 189, I, CPC); b) que dizem respeito a casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes (art. 189, II); c) em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade (art. 189, III); d) que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo (art. 189, IV) (GONÇALVES; LENZA, 2016). 19 ACESSO DO ADVOGADO AO PROCESSO VISTA DO PROCESSO: O advogado pode ter vista de qualquer processo judicial em tramitação, mesmo sem procuração, desde que não estejam sob a proteção do segredo de justiça, caso em que é necessário procuração. CARGA DE PROCESSO EM ANDAMENTO: para que o advogado faça carga dos processos que estão em tramitação será necessário apresentar procuração. CARGA DE PROCESSO ARQUIVADO: para que o advogado faça carga dos processos que estão arquivados, não é necessário procuração, salvo processos em segredo de justiça. PROCESSO ARBITRAL: o processo arbitral, por ser uma atividade não estatal, não é regrado pela publicidade, ou seja, as partes podem definir se o processo tramita sob a proteção do segredo de justiça ou de forma pública. PUBLICIDADE NO NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL: a publicidade dos atos processuais não poderá ser alterada no negócio jurídico processual (art. 190, CPC), visto que decorre de lei. PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO 2.1 Investidura De acordo com este princípio, apenas o juiz, regularmente investido no cargo, tem competência para exercer a jurisdição, sendo que “a ausência de investidura 02 20 implica óbice intransponível para o exercício da jurisdição, pressuposto processual da própria existência do processo”. (GONÇALVES, 2016, p. 104). 2.2 Indelegabilidade A função jurisdicional não poderá ser exercida por outro órgão que não o Poder Judiciário, sendo, portanto, indelegável. Isso porque afetaria o princípio constitucional do juiz natural. Fala-se que a exceção ao princípio seria nos casos de cartas precatórias ou de ordem, na verdade não se trata de delegação voluntária, mas de cooperação entre órgãos jurisdicionais, pois a responsabilidade de prosseguimento da ação é do juiz competente. 2.3 Aderência ou territorialidade Ao exercer a função jurisdicional, o juiz deve-se limitar ao território nacional, bem como, ao limite de sua competência, seja ela na comarca, Estado, Distrito Federal ou todo território nacional. Entretanto, há casos em que os juízes devem cooperar entre si, como no caso da carta precatória. 2.4 Indeclinabilidade Trata-se de um princípio que visa garantir a tutela jurisdicional aos processos, devendo o juiz, independentemente de lacuna ou obscuridade na lei julgar a demanda. Neste caso ele irá julgar através dos mecanismos de integração, visto que de acordo com o artigo 5º, inciso XXXV, da CF, não se “excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Há uma exceção, o juiz poderá declinar- se sob a alegação de suspeição por motivo íntimo, amparado pelo artigo 145, §1º, do CPC. 21 2.5 Inércia Também chamado de princípio da ação ou da demanda, ou princípio da iniciativa da parte, regula que, como o juiz não tem autonomia para agir por conta própria, ou seja, de ofício, deve necessariamente ser provocado pela parte interessada, conforme o artigo 2º do CPC. ATOS PROCESSUAIS O processo consiste em uma sucessão de atos. Atos processuais são os atos humanos realizados no processo, os quais devem ser praticados em conformidade com o que determina a lei. Podem ser orais ou por escrito, todavia, sempre que forem orais, serão reduzidos a termo pelo escrivão, para sua documentação nos autos, por exemplo, o pregão nas hastas públicas e as audiências de instrução e julgamento. “No entanto, o CPC flexibiliza essa regra, em especial no artigo 190, ao permitir que, nos processos em que se admite a autocomposição, as partes capazes possam estipular mudanças no procedimento e convencionar sobre o seu ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou depois do processo, com o controle do juiz” (GONÇALVES, 2016, p. 307). Um ato processual não se assemelha a um fato processual, visto que esses se realizam independentemente da vontade do agente, ocorrendo naturalmente, porém causando algum efeito ao processo, como a morte de uma das partes, por exemplo. 3.1 Teoria geral e espécies Como visto, os atos processuais são os atos praticados dentro de um processo, voluntariamente por uma das partes e que tenham alguma relevância processual. 03 22 Quanto a sua forma, os atos são considerados válidos se atingirem a finalidade para a qual foram propostos. Em regra, não precisam seguir uma forma determinada, diante do princípio da instrumentalidade das formas, exceto se a lei expressamente a estipular. Independentemente de sua forma, em regra, os atos processuais serão públicos. Há determinados casos, entretanto, que requerem uma proteção maior, necessitando tramitar em segredo de justiça, sendo eles (artigo 189): I - em que o exija o interesse público ou social; II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento decarta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. Estes atos protegidos pelo segredo de justiça ficam restringidos à apreciação das partes e de seus procuradores, cabendo a um terceiro interessado apenas a possibilidade de ter acesso a certidão do dispositivo da sentença, do inventário e da partilha. É possível a prática de atos processuais também por meio eletrônico. Um requisito obrigatório de todos os atos e termos processuais é a utilização da língua nacional (portuguesa). Na hipótese de a parte querer juntar ao processo um documento escrito em outra língua que não a nacional, deverá necessariamente juntar também a respectiva tradução, realizada por tradutor juramentado. Os atos processuais classificam-se de acordo com a pessoa que o pratica, podendo ser ato das partes, do juiz ou dos auxiliares da justiça. a) Atos processuais das partes: previsto no artigo 200 do CPC, se subdivide em declarações unilaterais, que são os atos realizados apenas pela parte, como no caso da petição inicial, ou bilaterais, que requerem a manifestação de ambas as partes, como no caso do acordo. São atos que geram imediatamente a constituição, modificação ou extinção de direitos processuais. Os atos das partes também podem ser classificados em atos postulatórios, que exprimem a pretensão 23 das partes (petição inicial), instrutórios, que visam provar as respectivas alegações, ou dispositivos, que são os atos que finalizam o processo. b) Atos processuais do juiz: o pronunciamento do juiz poderá ser feito através de sentenças, decisões interlocutórias e despachos. De acordo com art. 203, §1º, sentença é o meio pelo qual o juiz, através dos artigos 485 e 487, finaliza a fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. Decisão interlocutória é toda decisão judicial que não se enquadra no conceito de sentença (§ 2º). E despacho são os demais procedimentos do juiz realizados no processo, de ofício ou a requerimento da parte (§ 3º). c) Atos processuais dos auxiliares de justiça: são os atos praticados pelo escrivão ou chefe de secretaria, por exemplo. Estão disciplinados nos artigos 206 a 201 do CPC. Todavia não podemos deixar de mencionar que há outras pessoas que também pode praticar atos jurídicos no curso do processo e que não estão sistematizadas no Código, como por exemplo, os oficiais de justiça, depositários, peritos, testemunhas, leiloeiros, arrematantes, etc. 3.2 Sistema de transmissão de dados: fac-símile ou outro similar Regulado pela Lei n. 9.800/1999, a qual não foi revogado pelo Código de Processo Civil de 2015, considerar-se-á cumprindo o ato sempre que a mensagem enviada via fax for dentro do prazo legal, incumbindo a parte apresentar os originais até cinco dias da data de seu término (art. 2º). Ainda que o ato processual não esteja sujeito a prazo, o agente tem o dever de entregar até cinco dias os originais em cartório. O prazo é contínuo e não se interrompe pela eventual intercalação de sábado, domingo ou feriado. Não obstante o CPC/2015 determinar que a contagem dos prazos ocorre em dias úteis, neste caso estamos tratando de lei específica que regulamente atos processuais por fac-símile, assim, deverá ser em dias corridos. Para a determinação do termo inicial da contagem do prazo de cnco dias para apresentação dos originais, o entendimento fixado pela jurisprudência 24 do STJ, que se harmoniza com o do STF, é no sentido de distinguirem-se duas situações: (i) se o ato praticado está sujeito a prazo predeterminado, contar-se-á o quinquídio legal a partir do dia seguinte ao término do prazo do recurso ou ato, pouco importando se a petição foi transmitida antes de findo o prazo de lei; (ii) se o ato não estiver sujeito a prazo legal, a entrega dos originais terá de correr em cinco dias contados a partir da recepção do fax pelo órgão judiciário de destino. É, aliás, o que decorre da literalidade do art. 2º e parágrafo único da Lei 9.800/1999 (THEODORO JR, 2017, p. 491). Além desse meio, a partir da Lei 11.280/2006, que acrescentou o parágrafo único ao artigo 154, do CPC, acrescentou a possibilidade de utilização das vias eletrônicas no processo judicial. O uso da internet deverá atender requisitos de autencidade, integridade e validade, o que se torna possível através da assinatura digital. 3.3 Processo eletrônico O processo eletrônico ganhou forma com o objetivo de proporcionar maior celeridade e efetividade ao processo. Essa forma processual está disciplinada na Lei nº 11.419/06, e nos artigos 193 a 199 do CPC. Os atos processuais podem ser totais ou parcialmente digitais, permitindo que sejam produzidos, comunicados, armazenados e validados por meio eletrônico (artigo 193 do CPC). De acordo com o artigo 194 do CPC, os sistemas de automação processual deverão respeitar a publicidade dos atos, o acesso e a participação das partes e de seus procuradores, inclusive nas audiências e sessões de julgamento, observadas as garantias da disponibilidade, independência da plataforma computacional, acessibilidade e interoperabilidade dos sistemas, serviços, dados e informações que o Poder Judiciário administre no exercício de suas funções. O ato processual eletrônico será registrado em padrões abertos, atendendo os requisitos de autenticidade, integridade, temporalidade, não repúdio, conservação e, nos casos de segredo de justiça, confidencialidade, observada a infraestrutura de chaves públicas unificada nacionalmente (artigo 195 do CPC). Todos os atos praticados pela via eletrônica deverão ser assinados eletronicamente por assinatura digital certificada por Autoridade Certificadora e 25 mediante controle em cadastro do Poder Judiciário (art. 8º, parágrafo único da lei 11.419/06). Implantado o Diário da Justiça Eletrônica (antigo Diário oficial), que agora já não é mais impresso. O Poder Judiciário deverá manter de forma gratuita, em suas unidades, à disposição dos interessados, equipamentos necessários à prática de atos processuais, consulta e acesso ao sistema, bem como documentos constantes no processo. No caso de a unidade não possuir os referidos equipamentos será admitida a prática de atos por meio não eletrônico. Ainda, de acordo com o artigo 199 do CPC, as unidades do Poder Judiciário assegurarão às pessoas com deficiência acessibilidade aos seus sítios na rede mundial de computadores, ao meio eletrônico de prática de atos judiciais, à comunicação eletrônica dos atos processuais e à assinatura eletrônica. Há regras específicas para citações e intimações, precatórias, rogatórias e de ordem. Art. 4o Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, disponibilizado em sítio da rede mundial de computadores, para publicação de atos judiciais e administrativos próprios e dos órgãos a eles subordinados, bem como comunicações em geral. § 1o O sítio e o conteúdo das publicações de que trata este artigo deverão ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei específica. § 2o A publicação eletrônica na forma deste artigo substitui qualquer outro meio e publicação oficial, para quaisquer efeitos legais, à exceção dos casos que, por lei, exigem intimação ou vista pessoal. § 3o Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico. § 4o Os prazos processuais terão início no primeiro dia útil que seguir ao considerado como data da publicação. § 5o A criação do Diário da Justiça eletrônico deverá ser acompanhada de ampla divulgação,e o ato administrativo correspondente será publicado durante 30 (trinta) dias no diário oficial em uso. Art. 5o As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem na forma do art. 2o desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico. § 1o Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos a sua realização. § 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, nos casos em que a consulta se dê em dia não útil, a intimação será considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte. § 3o A consulta referida nos §§ 1o e 2o deste artigo deverá ser feita em até 10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse prazo. 26 § 4o Em caráter informativo, poderá ser efetivada remessa de correspondência eletrônica, comunicando o envio da intimação e a abertura automática do prazo processual nos termos do § 3o deste artigo, aos que manifestarem interesse por esse serviço. § 5o Nos casos urgentes em que a intimação feita na forma deste artigo possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema, o ato processual deverá ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade, conforme determinado pelo juiz. § 6o As intimações feitas na forma deste artigo, inclusive da Fazenda Pública, serão consideradas pessoais para todos os efeitos legais. Art. 6o Observadas as formas e as cautelas do art. 5o desta Lei, as citações, inclusive da Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal e Infracional, poderão ser feitas por meio eletrônico, desde que a íntegra dos autos seja acessível ao citando. Art. 7o As cartas precatórias, rogatórias, de ordem e, de um modo geral, todas as comunicações oficiais que transitem entre órgãos do Poder Judiciário, bem como entre os deste e os dos demais Poderes, serão feitas preferentemente por meio eletrônico. Cabe ressaltar que os atos eletrônicos são considerados desde o dia e hora de seu envio ao Sistema, ocasião em que é gerado o protocolo eletrônico. Quando a petição eletrônica for enviada para atender prazo processual, serão consideradas tempestivas as transmitidas até as 24 (vinte e quatro) horas do seu último dia (art. 3º e parágrafo único). O processo eletrônico por meio de autos totalmente digitais está regulado nos artigos 8º a 13 da Lei 11.419, permitindo que desde a petição inicial até o julgamento da ação, em última instância, seja de forma informatizada. As provas e documentos digitalizados valerão com o mesmo efeito dos documentos originais, segundo o artigo 11. Os originais dos documentos digitalizados, deverão ser preservados pelo seu detentor até o trânsito em julgado da sentença ou, quando admitida, até o final do prazo para interposição de ação rescisória. Os documentos cuja digitalização seja tecnicamente inviável devido ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade deverão ser apresentados ao cartório ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de petição eletrônica comunicando o fato, os quais serão devolvidos à parte após o trânsito em julgado. 27 3.4 Nulidades Um ato processual será considerado nulo quando não observar todos os requisitos de validade e acarretar algum prejuízo. Se o juiz identificar uma nulidade durante o processo, ordenará que seja corrigida, avaliando, inclusive, se os atos posteriores que dele dependam também devem ser reparados (artigo 282 do CPC). A nulidade de um ato só poderá anular os atos posteriores que dele dependam, não prejudicando os atos posteriores independentes, conforme disciplina o artigo 281 do CPC. Após o encerramento do processo ainda haverá a possibilidade de ser alegada alguma nulidade absoluta, através da ação rescisória, entretanto, passado o prazo para a propositura da ação, a nulidade restará sanada. Já a nulidade relativa deverá ser alegada na primeira oportunidade, sob pena de preclusão. Enquanto a nulidade não for identificada e o juiz não a reconhecer ela será considerada um ato válido, produzindo seus efeitos normalmente. A nulidade, neste caso, diz respeito apenas aos atos praticados pelo juiz ou seus auxiliares, sendo que os atos praticados pelas partes, caso estejam em desconformidade com os requisitos legais, apenas não irão gerar efeitos, sendo atos ineficazes e não nulos. São exemplos de atos nulos: - As decisões prolatadas por juízes impedidos ou por juízos absolutamente incompetentes; - Falta de intervenção do Ministério Público, quando obrigatória; - A citação realizada sem obediência às formalidades legais; - A sentença que não observe a forma prescrita em lei. (GONÇALVES, 2016, p. 322). A nulidade absoluta poderá ser decretada de ofício ou por qualquer uma das partes (exceto em alguns casos), já a relativa só poderá ser alegada pela parte interessada/prejudicada. De acordo com o artigo 277 do CPC, o ato será considerado válido pelo juiz, desde que tenha alcançado a finalidade para o qual foi previsto, mesmo que tenha sido realizado de forma contrária a lei. Isso porque adota-se o princípio da 28 instrumentalidade das formas, que diz que a forma é necessária apenas para que o ato alcance o seu objetivo, sendo que se atingir o objetivo por outro meio não existirá o vício. Exemplo: o réu é citado de forma incorreta, mas comparece à audiência e se defende. O ato que inicialmente era nulo se tornará válido. 3.5 Ineficácia A ineficácia de um ato processual ocorre quando não há a observância de alguma forma essencial ou estrutural do processo. A ineficácia, diferentemente da nulidade, não será sanada pelo decurso do tempo, podendo ser alegada a qualquer momento, ou seja, não gera a preclusão. Se for identificada a ineficácia no curso do processo, o juiz determinará que o ato seja sanado, com a renovação dos atos viciados e os seus subsequentes, e se o processo já estiver encerrado poderá ser alegada através de uma ação declaratória de ineficácia, impugnação ao cumprimento de sentença ou ação de embargos à execução. 3.6 Expediente forense Os atos processuais serão praticados em dias úteis, das 06 às 20 horas, conforme o artigo 212 do CPC. Este prazo poderá ser prorrogado no caso de finalização de algum ato iniciado dentro do horário, quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar grave dano (§1º), exceto no caso dos atos (não eletrônicos) que dependam de protocolo, sendo que esses só poderão ser realizados dentro do horário de expediente do respectivo órgão. Já os atos processuais realizados por meio eletrônico poderão ocorrer até as 24 horas do último dia do prazo, independentemente do horário (artigo 213 do CPC). 29 No período das férias forenses, feriados ou dias úteis fora do horário mencionado anteriormente os atos processuais não serão praticados, exceto no caso das citações, intimações, penhoras e tutelas de urgência, independentemente de autorização judicial. Ainda, durante as férias forenses também serão praticados outros atos processuais, conforme o artigo 215 do CPC. Art. 215. Processam-se durante as férias forenses, onde as houver, e não se suspendem pela superveniência delas: I - os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários à conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo adiamento; II - a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de tutor e curador; III - os processos que a lei determinar.Para efeito forense, além dos declarados em lei, também consideram-se como feriados, os sábados, os domingos e os dias em que não haja expediente nos órgãos jurisdicionais (artigo 216 do CPC). Em regra, os atos processuais se realizarão na sede do juízo (cartório ou vara judicial). Porém, de acordo com o artigo 217 do CPC, também podem se realizar em outro lugar, em razão de deferência, interesse da justiça (cartas precatórias), bem como diante da natureza do ato ou de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz (testemunha que não tem condições de se locomover). 3.7 Processo calendário “Neste momento, sobretudo na audiência de saneamento e organização do processo. Em cooperação com as partes, pode-se celebrar outro negócio jurídico plurilateral típico: o calendário processual (art. 191, CPC)” (DIDIER JR, 2016, p. 706). Trata-se de um agendamento para a prática de atos processuais, feito de comum acordo entre partes e órgão julgador e em atenção às particularidades da causa. Normalmente relacionado à prática dos atos instrutórios, o calendário também pode ter por objeto atos postulatórios (entrega de razões-finais, p. ex.), decisórios e executórios (DIDIER JR, 2016, p. 706) 30 O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados (§1º, art. 191, CPC). Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário (§2º, art. 191, CPC). ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO A jurisdição é algo único, não se divide. Porém, é separada em algumas espécies, como a jurisdição contenciosa e voluntária, a distinção em relação ao seu objeto, órgão que a exerce e hierarquia. A jurisdição contenciosa é aquela em que o juiz interfere diretamente na demanda, julgando o processo de acordo com o que entende correto e impondo a sua vontade sobre as partes. Já na voluntária, o juiz age como um tipo de fiscal da lei, cabendo a ele apenas participar e validar alguns atos de interesse privado, como no caso da separação consensual. Quanto ao objeto e ao órgão que a exerce, a jurisdição se divide em relação ao conteúdo que será apreciado pelo Poder Judiciário. Diante disso, é definido quem tem a competência para o julgamento da demanda, que será apreciada pela justiça comum ou especial. A especial cuida das matérias trabalhista, eleitoral e militar, sobrando as demais para a justiça comum, que se subdivide em estadual e federal. E, por fim, quanto à hierarquia, a jurisdição pode ser inferior ou superior, dependendo da instância do órgão a quem compete o julgamento. LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL Como regra, a jurisdição brasileira deve se limitar ao território nacional, entretanto, em alguns casos, admite-se a aceitação de decisões de outros países, 04 05 31 levando-se em conta alguns limites definidos nos tratados internacionais, e diante do interesse de manterem uma boa relação entre si. A competência brasileira para o julgamento das demandas está prevista no artigo 21 do CPC, que disciplina que: Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Além dessas, cabe também à autoridade judiciária julgar as ações de alimentos quando o credor tiver domicílio ou residência no Brasil ou quando o réu mantiver vínculos no Brasil, como posse ou propriedade de bens. Ou, ainda, nas hipóteses de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil ou em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional. (MOTA et al., 2016, p. 586). O artigo 23 do CPC, elenca as hipóteses de competência exclusiva da jurisdição brasileira: Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. TUTELAS PROVISÓRIAS O objetivo do Estado Democrático de Direito é de prestar a tutela, mas não só prestar a tutela, prestar de forma efetiva. Pouco importa qual das partes será carecedora da tutela, o Estado, através da jurisdição tem o dever de dar a tutela ao direito, assim, sendo ela inicial, correspondente a composição judicial do conflito, 06 32 temos a tutela de conhecimento, se já a vantagem pretendida já se encontra juridicamente comprovada, temos a tutela de execução. Todavia, há situações em que a demora do processo judicial pode comprometer a efetividade da tutela. PROCESSO DE CONHECIMENTO Ação é o meio pelo qual as pessoas exercem o direito subjetivo de provocar o Poder Judiciário, requerendo uma solução à demanda proposta, ou seja, o meio utilizado para a defesa de seus direitos. Para a concretização desse direito é preciso seguir todo um trâmite processual. O direito de ação está previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da CF, e trata-se de um direito independente, não estando diretamente vinculado ao direito material. Assim, mesmo que a ação seja julgada improcedente, continua existindo o direito de ação. E a demanda é o problema apresentado ao juiz, aquilo que se visa requerer com a ação proposta. A ação deverá seguir um procedimento, que terá seus passos estipulados por lei, poderá ser procedimento comum ou especial. O procedimento comum é regulado pelo Código de Processo Civil, já os procedimentos especiais são regulados por leis específicas de determinados temas do direito. 7.1 Procedimentos no novo processo civil A partir da entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil, as disposições relativas ao procedimento sumário e aos procedimentos especiais (do antigo CPC, que foram revogadas) passam a seguir o procedimento comum ou um dos procedimentos especiais regulados em outras leis, conforme dispõe o artigo 1.046. Desta forma, conforme o § 1o, do referido artigo, o procedimento sumário deixa de existir nos novos processos, contudo, as ações propostas que não foram sentenciadas até a entrada em vigor do CPC, seguirão o rito sumário normalmente. Os procedimentos podem ser classificados em: 07 33 a) Comuns: segue sempre o mesmo padrão, são aqueles que a lei não definir o procedimento especial. É encontrado no Livro I, Título I, da Parte Especial do CPC. b) Especiais: possuí procedimento específico, dispostos em leis esparsas. PETIÇÃO INICIAL O juiz não age por ofício nos processos, isto é, faz-se necessário a iniciativa da parte (ou do Ministério Público, arts. 177 e 720) a partir da formulação do pedido, a petição inicial é a peça exordial para a inauguração do processo civil, independente do rito. Será a responsável pela instauração da demanda e da tutela pública ou privada. Portanto, Petição Inicial “é o ato que dá início ao processo, e define os contornos subjetivo e objetivo da lide, dos quais o juiz não poderá desbordar” (GONÇALVES; LENZA,
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