Prévia do material em texto
1 Utilização da Análise de Investimento nas Empresas de Tecnologia do Vale do Itajaí/SC Autoria: Alessandra Vasconcelos Gallon, Tarcísio Pedro da Silva, Nelson Hein, José Leônidas Olinquevitch Resumo A elevada incerteza e os riscos associados às empresas de tecnologia, relacionam-se à própria natureza inovadora do negócio. Diante da limitação de recursos e da concorrência acentuada, a utilização dos instrumentos de análise de investimento pelas empresas de tecnologia torna- se fundamental na elaboração de novos produtos. Nesta perspectiva, este artigo objetiva constatar o grau de importância da utilização dos instrumentos de análise de investimento na elaboração de novos produtos pelos gestores das pequenas e médias empresas de tecnologia do Vale do Itajaí/SC. Para tanto, foi realizado um estudo exploratório de multi-casos, com abordagem qualitativa. Utilizou-se como instrumento de pesquisa um questionário estruturado com perguntas fechadas de acordo com a escala de Lickert (TAMAYO, 1998), atribuindo pesos de 1 (um) até 5 (cinco) às suas importâncias. Por meio deste, verificou-se o grau de importância dos instrumentos financeiros para análise de projetos de investimentos pelos gestores das empresas. Os resultados da pesquisa apontam que de uma forma geral, os gestores das empresas consideram relevante a utilização dos instrumentos na análise de investimento na elaboração de projetos de novos produtos. Entre os instrumentos averiguados, o Pay-back, a Taxa Interna de Retorno e o Ponto de Fisher como medida de risco foram considerados os mais importantes. A utilização destes instrumentos nas empresas de tecnologias pesquisadas favorece a redução de gastos operacionais, melhoria da produtividade e exploração de novas oportunidades de negócios. 1 Introdução O processo de investimentos nas empresas de um modo geral está focado no risco do investimento. Nas empresas de tecnologia, a utilização dos recursos econômicos obedece as mesmas orientações, sendo que o foco está na avaliação permanente dos gastos empregados comparados com os benefícios esperados na elaboração de novos produtos. A análise de investimentos, segundo Kuhnen e Bauer (1996), é um conjunto de técnicas que permitem a comparação entre os resultados de tomada de decisões referentes a alternativas diferentes de uma forma científica. Souza e Clemente (2004) ressaltam que as decisões de capital são simplesmente cruciais nas empresas e podem tanto consolidar uma trajetória de expansão, quando oportunas e no tempo certo, quanto comprometer a própria sobrevivência da empresa. Neste sentido, torna-se imprescindível que as decisões de capital, especialmente as que envolvem projetos de investimentos na elaboração de novos produtos, se baseiem, tanto quanto possível, em previsão e cálculo de todas suas implicações relevantes. A partir das análises e avaliações relativas às decisões de capital buscar-se-á a melhora substancial do nível de informação e as condições de risco para a tomada de decisão com diminuição do nível de incerteza. Há vários instrumentos financeiros que podem ser utilizados na análise de projetos de investimentos nas pequenas e médias empresas de tecnologia, em que destacam-se os indicadores Valor Presente Líquido (VPL), Valor Presente Líquido Anualizado (VPLa), Índice Benefício/Custo (IBC), Retorno Adicional sobre o Investimento (ROIA), Taxa Interna de Retorno (TIR) e Período de Recuperação do Investimento (Pay-back). Além disso, temas como Custo de Oportunidade (CO), Ponto de Fischer como medida de risco, Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RSPL) e Índice de Lucratividade (IL) também merecem realce na tomada de decisão. 2 Assim, este artigo tem como objetivo constatar o grau de importância da utilização dos instrumentos de análise de investimento na elaboração de novos produtos pelos gestores das pequenas e médias empresas de tecnologia do Vale do Itajaí/SC. A pesquisa justifica-se por verificar até que ponto os gestores das pequenas e médias empresas de tecnologia do Vale do Itajaí/SC consideram importante a utilização dos instrumentos de análise de investimento no processo de elaboração de novos produtos. Dessa forma, esse estudo foi proposto com o intuito de auxiliar as pequenas e médias empresas de tecnologia na utilização de instrumentos indispensáveis a tomada de decisão e conseqüente sucesso empresarial. 2 Análise de investimentos O Processo de tomada de decisão tem sido historicamente, um dos grandes desafios enfrentados pelos dirigentes das empresas, especialmente com o aumento do ritmo de atividades e da complexidade gerencial deste final de século. Seja pela intensificação do fluxo de informações, seja pela tecnologia utilizada para obter essas informações ou mesmo, pelas diversas influências (internas ou externas) sofridas pelo gestor durante esse processo (SILVA, 2002). De acordo com Cassarro (2001), o processo decisório é uma escolha entre alternativas, obedecendo a critérios previamente estabelecidos. Estas alternativas poderão ser os objetivos, os programas, os recursos, a estrutura ou os procedimentos de uma atividade. O termo “análise” está relacionado à reflexão sobre todas as características e fatores relativos a uma determinada questão e segundo Souza e Clemente (2004), um investimento, para a empresa, é um desembolso que é feito visando gerar um fluxo de benefícios futuros, usualmente superior a um ano. Assim, um estudo de análise de investimento compreende: um investimento a ser realizado; enumeração de alternativas viáveis; análise de cada alternativa; comparação das alternativas; e, escolha da melhor alternativa. Assaf Neto (1992, p. 1) comenta que uma empresa, em determinado momento, pode ser vista como “um conjunto de projetos de investimento em diferentes momentos de execução. O seu objetivo financeiro, ao avaliar alternativas de investimento, é o de maximizar a contribuição marginal desses recursos de capital, promovendo o incremento de sua riqueza líquida”. Para os objetivos da análise de investimentos, nesse sentido, a empresa é considerada como uma entidade orientada para a acumulação de capital. A empresa é uma entidade de capital cujo objetivo é sua valorização (SOUZA; CLEMENTE, 2004). Segundo Casarotto e Kopittke (2000), deve-se ter em mente que a análise das alternativas de investimento é apenas um passo de um processo de solução de um problema. De nada adianta uma boa técnica de análise de alternativas se estas não forem adequadamente geradas. É importante ressaltar, conforme Assaf Neto (1992, p. 1), que o “investimento de capital se apresenta geralmente como uma parte (algumas vezes pequena) do processo de tomada de decisões empresariais.” Pois freqüentemente há objetivos estratégicos que se apresentam como fatores decisoriais importantes na seleção de projetos de investimentos. Cepromat (2006) propõe uma metodologia que engloba as seguintes fases do processo decisório: identificação do problema; análise do problema; estabelecimento de soluções alternativas; análise e comparação das soluções alternativas; seleção de alternativas mais adequadas; implantação da alternativa selecionada; e, avaliação da alternativa selecionada. Charles Kepner e Benjamim Tregoe (apud Casarotto e Kopittke, 2000), também apresentam sua metodologia composta de sete fases adequadas à análise de decisão, sob a ótica dos objetivos da empresa. Tais fases são as seguintes: estabelecer os objetivos; classificar os objetivos; desenvolver alternativas dentre as quais será feita a escolha; avaliar as 3 alternativas; escolher a melhor alternativa como decisão tentativa; avaliar as conseqüências adversas da decisão tentativa; e, controlar os efeitos da decisão final, evitando conseqüências adversas e fazendo um acompanhamento adequado. Adverte-se quenem sempre precisamos de técnicas tão estruturadas para tomar decisões, a relação custo versus benefício deve ser favorável. Casarotto e Kopittke (2000) afirmam que para justificar a utilização de métodos de análise de investimentos, as situações analisadas deverão apresentar as seguintes características: a) ser suficientemente importante para justificar o esforço de se utilizar um método estruturado; b) a decisão não óbvia e é necessário organizar o problema; e c) o aspecto econômico é significativo e influenciará na decisão. A consideração do terceiro aspecto, isto é, a importância do aspecto econômico na decisão, nos conduz a considerar que o aspecto econômico da decisão é preponderante. Neste caso, a decisão será tomada considerando-se principalmente este aspecto, e marginalmente outros aspectos. Segundo Kassai et al (2000), o que acontece muito nas empresas é a falta de informações adequadas para suprir as necessidades do processo decisório. Em algumas existe falta de informações e em outras, abundância, porém com péssima qualidade. 3 Instrumentos de análise de investimentos Sobre o crescente grau de utilização dos instrumentos de análise de investimentos nas empresas, Souza e Clemente (2004) destacam que as técnicas de análise de investimentos estão sendo utilizadas tanto para investimentos de porte, associados a longos horizontes de planejamento, como também para operações de curto prazo, como por exemplo, nas decisões rotineiras sobre compras a vista versus compras a prazo. Dentre os instrumentos financeiros, que geram informações mínimas necessárias para uma adequada avaliação de investimentos, e que variam desde o “bom senso” até os mais sofisticados modelos matemáticos, nove se destacam quando adequadamente utilizados. São eles: Valor Presente Líquido (VPL), Valor Presente Líquido Anualizado (VPLa), Índice Benefício/Custo (IBC), Retorno Adicional sobre o Investimento (ROIA), Taxa Interna de Retorno (TIR), Período de Recuperação do Investimento (Pay-back), Custo de Oportunidade (CO), Ponto de Fischer como medida de risco, Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RSPL) e Índice de Lucratividade (IL). 3.1 Valor Presente Líquido (VPL) O Valor Presente Líquido (VPL) de um projeto de investimento pode ser definido como a soma algébrica dos valores descontados do fluxo de caixa a ele associado. Conceitualmente, a viabilidade econômica de um projeto analisado por este método é indicada pela diferença positiva entre receitas e custos, atualizados a determinada taxa de juros (VIEIRA, 2002). Para Assaf Neto (1992, p. 3), o VPL “reflete a riqueza em valores absolutos do investimento medida pela diferença entre o valor presente das entradas de caixa e o valor presente das saídas de caixa.” Normalmente este método é utilizado para análise de investimentos isolados que envolvam o curto prazo ou que tenham baixo número de períodos, de sorte que um valor anual teria pouco significado prático para tomada de decisão. Segundo Marim (1980), levando em consideração a vida econômica, o intervalo de tempo entre a data do investimento inicial e a data final do retorno do capital, este método pode ser subdividido em dois casos: alternativas que envolvem vidas econômicas iguais; e, alternativas que envolvem vidas econômicas diferentes. 4 Vieira (2002) ressalta que o valor presente líquido é um método bastante difundido na área de tomada de decisão sobre investimento, por tratar-se de um método de fácil elaboração. Além de ser de fácil elaboração, Vieira (2002) também descreve outras vantagens do VPL, dentre as quais se destacam: a) o valor presente líquido pressupõe que um real disponível hoje, vale mais do que um real disponível amanhã, porque este pode ser aplicado e começar imediatamente a render juros (valor temporal do dinheiro); b) o valor presente líquido depende unicamente dos fluxos de caixa previsionais do projeto e do custo de oportunidade do capital, não é afetado pelas preferências do decisor, pelos métodos de contabilização usados pela empresa, pela rentabilidade da atividade atual da empresa ou pela rentabilidade de outros projetos autônomos, o que conduziria a decisões menos qualificadas; e c) outra propriedade muito importante do valor presente líquido é a propriedade da aditividade. De acordo com Samanez (2001), o objetivo do VPL é encontrar projetos ou alternativas de investimentos que valham mais para os patrocinadores do que custam – projetos que tenham um VLP positivo. Seu cálculo reflete as preferências entre consumo presente e consumo futuro e a incerteza associada aos fluxos de caixa são ajustados a esses fatores chama-se desconto, e a magnitude desses fatores é refletida na taxa de desconto usada (custo do capital), conforme apresenta a Figura 1. Figura 1 - Valor Presente líquido Fonte: adaptado de Souza (2003) Algumas vezes, porém, principalmente para projetos com horizontes de planejamento longos, o desempenho do valor monetário do VPL apresenta dificuldades para comparação e como alternativa surge o VPLa. 3.2 Valor Presente Líquido Anualizado (VPLa) De acordo com Souza e Clemente (2004), o Valor Presente Líquido Anualizado (VPLa), que também é conhecido como Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE), é uma variação do método do VPL. Pois enquanto o VPL concentra todos os valores do fluxo de caixa na data zero, no VPLa o fluxo de caixa correspondente ao projeto de investimento é transformado em uma série uniforme. O VPLa ou VAUE é um método de avaliação de investimentos que visa determinar a série anual uniforme que será equivalente às quantias a serem desembolsadas durante a realização de um projeto. Consiste em transformar os fluxos de entradas e saídas em uma série uniforme equivalente de entradas e saídas e, em seguida, de resultados líquidos para o retorno do capital, à Taxa Mínima de Atratividade (TMA), que é taxa a partir da qual o investidor considera que está obtendo ganhos financeiros (MACHADO, 1997). 5 Para Marim (1980), o método do valor anual é utilizado com maior freqüência, pois a maioria das pessoas parece estar mais familiarizada com o conceito de valor anual do que com o conceito de valor presente ou de taxa de retorno sobre o investimento. Segundo Casarotto e Kopittke, este método consiste em achar a série uniforme anual equivalente ao fluxo de caixa dos investimentos à TMA, ou seja, acha-se a série uniforme equivalente a todos os custos e receitas para cada projeto utilizando-se a TMA. O melhor projeto é aquele que tiver o maior saldo positivo, conforme Figura 2. Figura 2 - Valor Anual Uniforme Equivalente Fonte: adaptado de Souza (2003) 3.3 Índice Benefício/Custo O Índice Benefício/Custo, conforme Souza e Clemente (2004, p. 81) “é uma medida de quanto se espera ganhar por unidade de capital investido. A hipótese implícita no cálculo do IBC é que os recursos liberados ao longo da vida útil do projeto sejam reinvestidos à Taxa Mínima de Atratividade (TMA).” Ou seja, que sejam reinvestidos a melhor taxa, com baixo risco, disponível para aplicação do capital em análise. Nesse sentido, a decisão de investir sempre terá pelo menos duas alternativas para serem avaliadas: investir no projeto ou “investir na TMA”. E caso IBC > 1, indica que o projeto de investimento merece continuar sendo analisado. Em outras palavras, o IBC é a razão entre o Fluxo esperado de Benefícios de um projeto e o Fluxo Esperado de Investimentos necessários para realizá-lo e para efeito de se aceitar ou rejeitar um projeto de investimento, a análise é análoga (SOUZA; CLEMENTE, 2004). 3.4 Retorno Adicional sobre o Investimento (ROIA) De acordo com Souza e Clemente (2004, p. 82), o Retorno Adicional sobre o Investimento (ROIA) “é a melhor estimativa de rentabilidade para um projeto deinvestimento”, e representa em termos percentuais, a riqueza gerada pelo projeto, já expurgada o efeito da TMA. Dessa forma, pode-se afirmar que o ROIA, que deriva da taxa equivalente ao Índice Benefício/Custo (IBC) para cada período do projeto, é semelhante ao percentual obtido através do conceito de Valor Econômico Agregado (EVA). 3.5 Taxa Interna de Retorno (TIR) A Taxa Interna de Retorno (TIR) é a taxa de retorno esperada do projeto de investimento. O método da TIR não tem como finalidade a um determinado custo de capital, como o VPL, mas, ao contrário, seu objetivo é encontrar uma taxa intrínseca de rendimento (SAMANEZ, 2001). 6 Assaf Neto (1992,p. 8) afirma que TIR “é a taxa de juros que faz com que o valor presente das entradas esperadas de caixa se iguale ao valor presente das saídas de caixa determinadas pelo investimento.” Kassai (1996, p. 2) destaca que “a Taxa Interna de Retorno ou Internal Rate of Return (IRR) é um dos métodos mais sofisticados de se avaliar propostas de investimentos. Representa a taxa de desconto que iguala, num único momento, os fluxos de entradas com os de saídas de caixa.” Para Gitman (1984), a taxa interna de retorno é a taxa de desconto que leva o valor atual das entradas de caixa a se igualarem ao investimento inicial referente a um projeto. Ou seja, a TIR é a taxa de desconto que leva o VPL de uma oportunidade de investimento a igualar-se a zero, já que o valor atual das entradas é igual ao investimento inicial. Como nem todas as propostas financeiras se constituem de fluxos de caixa semelhantes, o cálculo da taxa de retorno torna-se bastante custoso, pois se tem de calcular pelos artifícios de tentativas e interpelações. De acordo com Samanez (2001), a regra decisória a ser seguida no método da TIR é: empreenda o projeto de investimento de capital se a TIR exceder o custo de oportunidade do capital. Segundo Souza (2003), a Taxa Interna de Retorno de um investimento pode ser: a) maior do que a Taxa Mínima de Atratividade: significa que o investimento é economicamente atrativo; b) igual à Taxa Mínima de Atratividade: o investimento está economicamente numa situação de indiferença; e c) menor do que a Taxa Mínima de Atratividade: o investimento não é economicamente atrativo, pois seu retorno é superado pelo retorno de um investimento sem risco. 3.6 Período de Recuperação do Investimento (Pay-back) Souza e Clemente (2004) afirmam que em contextos dinâmicos, como o de economias globalizadas, o Pay-back assume importância no processo de decisões de investimento, e como a tendência é de mudanças contínuas é acentuadas na economia, não se pode esperar muito para recuperar o capital investido sob pena de se alijar das próximas oportunidades de investimentos. Para Assaf Neto (1992, p. 5), o método do Pay-back “consiste, em essência, no cálculo do prazo necessário para que o montante do dispêndio de capital efetuado seja recuperado através de fluxos líquidos de caixa gerados pelo investimento”. O autor ressalta que apesar de não ser baseado no critério de fluxo de caixa descontado, o período de Pay-back se destaca pela sua simplicidade e ampla utilização pelas empresas. Em outras palavras, o Pay-back é o número de períodos necessários para que o fluxo de benefícios supere o capital investido, e o risco do projeto de investimento aumenta à medida que o Pay-back se aproxima do final do horizonte de planejamento (SOUZA; CLEMENTE, 2004). 3.7 Ponto de Fischer como medida de risco Souza e Clemente (2004) comentam que uma outra análise da dimensão do risco pode ser feita por meio do Ponto de Fischer, que leva em consideração o comportamento normativo do binômio risco-retorno (mais ganhos só assumindo mais risco), e que preconiza a existência de um limite para a variabilidade da TMA em que o investidor seria indiferente entre duas alternativas de investimentos. Para Kassai (1996), a análise que estabelece a relação entre a Taxa Interna de Retorno (TIR) e o Valor Presente Líquido (VPL) é que indica o chamado ponto de interseção de Fischer, conforme apresenta a Figura 3. 7 Figura 3 – Ponto de Fischer como limite da variabilidade da TMA Fonte: adaptado de Kassai (1996, p. 4) Observa-se que o Ponto de Fischer melhora a percepção de risco do investimento à medida que estabelece um novo limite para a variabilidade da TMA. Nesse caso hipotético, Kassai (1996, p. 5) comenta que, “com base na TMA, se for maior que o ponto de interseção e Fischer, o Projeto B será aceito, se não, será rejeitado em prol do Projeto A.” 3.8 Custo de Oportunidade (CO) A noção de custo de oportunidade deriva do processo de escolha dos indivíduos. E escolha significa que uma opção será preferida em detrimento de outras em um conjunto de possibilidades. Como não se pode optar por todas as alternativas, a melhor possibilidade descartada representa o custo de oportunidade daquela escolhida (MIRANDA; REIS; ROGERS, 2005). Souza e Clemente (2004, p. 24) destacam que os métodos de avaliação das oportunidades de investimento “baseiam-se na comparação da magnitude do investimento, ou seja, do dispêndio de capital, com os ganhos líquidos esperados durante certo período de tempo, denominado horizonte de planejamento.” Para Beuren (1993), o custo de oportunidade é o custo da alternativa abandonada que lhe proporcionaria maior satisfação. A diferença de valores entre duas taxas de juros, provindas de alternativas econômicas diferentes de investimentos, constitui, para a alternativa aceita e de menor valor, uma taxa de juros chamada custo de oportunidade (HIRSCHFELD, 1998). 40%12% 30% 1000 800 400 NPV Interseção de Fischer Projeto A Projeto B COMPARAÇÃO: NPV X TIR 8 Martins (2003) afirma que o custo de oportunidade representa o quanto a empresa sacrificou em termos de remuneração por ter aplicado seus recursos numa alternativa ao invés de outra. Horngren (1986), de maneira mais ampla, conceitua o custo de oportunidade como: o sacrifício mensurável de rejeição de uma alternativa; o montante máximo sacrificado pelo abandono de uma alternativa; e, o lucro máximo que poderia ter sido obtido se o bem, serviço ou capacidade produtivos tivessem sido aplicados a outro uso operacional. Segundo Souza (2003, p. 66), o custo de oportunidade utilizado no projeto de investimento “poderá ser definido mediante determinação do custo médio ponderado do capital, que trata da média ponderada do custo de capital próprio e de terceiros relativo ao total do capital utilizado.” Apesar de ser um importante instrumento na análise de investimentos, Beuren (1993, p. 4) comenta que “a nível de implementação de conceito de custo de oportunidade no processo decisório das empresas, encontram-se dificuldades na determinação de um único atributo para as diversas alternativas bem como a mensuração das mesmas.” 3.9 Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RSPL) De acordo com Kassai et al. (2000), retorno de investimento é o benefício esperado ou exigido e que deve remunerar os investimentos efetuados. Um empreendimento só se viabiliza se remunera adequadamente seus proprietários, bem como outros detentores de capitais. Nesse sentido Souza (2003, p. 83) ressalta que “a preocupação com a geração de lucros prevista no projeto de investimento de capital justifica-se em decorrência da relação direta entre o fluxo de caixa e o fluxo de resultado no médio e longo prazo.” Faz-se importante ressaltar que os investimentos são necessários e é saudável que haja políticas de incentivos. Entretanto, se não houver níveis de retorno de investimento satisfatórios, poderão estar comprometendo sua própria existência. Mesmo as empresas sem fins lucrativos ou outras entidades organizadas para determinados fins precisamque seus investimentos sejam remunerados de alguma forma, para que possam dar continuidade a suas atividades. Portanto, se faz necessário obter um retorno compatível de seus investimentos (KASSAI et al., 2000). Nesse sentido, através do indicador do Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RSPL), tem-se a rentabilidade do empreendimento sobre o patrimônio líquido total da empresa mais o projeto de investimento. Este indicador é calculado através da razão entre o lucro líquido e o patrimônio líquido médio. Souza (2003, p. 83) afirma que “verifica-se, com a utilização do RSPL, qual a capacidade que a empresa tem de gerar lucros com relação aos capitais próprios aplicados em projetos de investimentos.” 3.10 Índice de Lucratividade (IL) Segundo Souza (2003, p. 75), o Índice de Lucratividade (IL) “representa a relação entre o valor presente das entradas líquidas de caixa do projeto e o investimento inicial, utilizando, a exemplo do VPL, uma taxa mínima de atratividade.” A partir da utilização do IL, o projeto de investimento será considerado rentável quando o valor presente das entradas líquidas de caixa superarem o investimento inicial. Assim, sempre que o índice de lucratividade for maior que 1, o projeto deverá ser aprovado mediante a utilização desse critério. Souza (2003, p. 75) ressalta que “o processo de seleção será decorrência do maior índice de lucratividade apresentado pelos projetos em análise.” 9 4 Método e procedimentos da pesquisa O artigo busca constatar o grau de importância da utilização dos instrumentos de análise de investimento na elaboração de novos produtos pelos gestores das pequenas e médias empresas de tecnologia do Vale do Itajaí/SC. Para tal, a metodologia da pesquisa utilizada consistiu de um estudo exploratório de multi-casos, com abordagem qualitativa. No que concerne ao estudo exploratório, Andrade (2002) aponta como finalidades principais: proporcionar maior conhecimento sobre o assunto que se vai investigar; facilitar a delimitação do tema de pesquisa; orientar a fixação dos objetivos da pesquisa e a formulação das hipóteses; ou descobrir um novo tipo de enfoque sobre o assunto. O estudo exploratório de multi-casos foi realizado, enfocando o objetivo do artigo, nas 21 empresas de tecnologia consideradas de pequeno e médio porte do Vale do Itajaí/SC. Responderam ao questionário 12 empresas, perfazendo a amostra em 57,14%, portanto considerada adequada. Quanto aos procedimentos de coleta de dados, optou-se por aplicar um questionário estruturado com perguntas fechadas de acordo com a escala de Lickert (TAMAYO, 1998), atribuindo pesos de 1 (um) até 5 (cinco) às suas importâncias com o objetivo de verificar o grau de importância dos instrumentos financeiros para análise de projetos de investimentos pelos gestores das empresas. O questionário tem que ter clareza e limitado em extensão e estar acompanhado de notas que expliquem a natureza da pesquisa e ressaltam a importância e necessidade das respostas, a fim de motivar o informante (COLAUTO; BEUREN, 2004). A abordagem qualitativa foi a estratégia adotada para a descrição e explicação dos impactos investigados. A abordagem qualitativa, conforme Richardson (1999), caracteriza-se por não empregar instrumental estatístico para análise de um problema. Em outras palavras, ela não se atém a numerar ou medir, de forma quantitativa, unidades ou categorias homogêneas. Para complementar a análise a técnica estatística da análise de componentes principais foi utilizada. Segundo Maroco (2003, p. 231) esta “é uma técnica de análise exploratória multivariada que transforma um conjunto de variáveis correlacionadas num conjunto menor de variáveis independentes, combinações lineares das variáveis originais, designadas por “componentes principais”.” Em síntese, por meio da análise quantitativa realizada através da análise de componente principais, com aplicação do software LHStat - Análise Estatística de Dados, versão 1.3.0, procurou-se descobrir quais dos 10 atributos da pesquisa são mais importantes para os gestores das empresas. Os resultados do estudo não podem ser generalizados a outras empresas, dado as particularidades dos multi-casos explorados, constituindo-se, portanto, em uma limitação da presente pesquisa. 5 Importância da utilização dos instrumentos de análise de investimento nas empresas Para fins de apuração do grau de importância da utilização dos instrumentos de análise de investimento na elaboração de novos produtos pelos gestores das pequenas e médias empresas de tecnologia do Vale do Itajaí/SC, foram considerados 10 instrumentos financeiros. Estes foram inicialmente caracterizados para averiguar se são considerados importantes nas empresas estudadas. Na seqüência segue os resultados da análise de componentes principais. 5.1 Análise de componentes principais A Figura 4 apresenta os resultados da análise de componentes principais. 10 Figura 4 – Mapa Fatorial resultante da análise de componentes principais Fonte: dados da pesquisa. Com base no mapa fatorial, os resultados obtidos apontam a utilização dos instrumentos na análise de insvestimentos na elaboração de novos produtos, que entre os instrumentos averiguados apontaram que o Pay-back, a Taxa Interna de Retorno e o Ponto de Fisher como medida de risco foram considerados os mais importantes, pois quanto mais distante for a linha maior a sua relação com a importância na utilização destes instrumentos. No entanto, alguns instrumentos apresentam uma baixa relação e portanto são considerados como moderados, como o ROIA, VPL, VPLa, IL e Custo de oportunidade. Porém, um ponto importante é que não há relação entre o ROIA e o VPL em que sua utilização acontece, em mesma linnha, porém para direções opostas. Verifica-se que os o IBC e o RSPL, apresentam, de alguma forma, o interesse pela sua utilização, pois a proximidade entre estes instrumentos é nítida e sua linha de direcionamento 11 apresenta, praticamente o mesmo tamanho. Contata-se também que o VPL também apresenta proximidade com a utilização e sua linha de crescimento acontece, porém em menor número. Considerando a utiolização dos instrumentos na análise de projetos de investimento em novos produtos, o Pay-back e a TIR são intensamente utilizados, pois a identificação do traço linear no centro do mapa até a sua localização no mesmo apresenta uma longa linha e a proximidade netre elas considera uma forte relação. Em consideração ao Pay-back e o Ponto de Fischer, seu tracejamento apresenta uma sobreposição, apontando uma excelente posição e forte contentamento no resultado. O Indice de lucratividade, que representa as entradas de caixa em relação ao capital investido, e o Custo de oprtunidade, que representa a satisfação na aplicação dos recursos em detrimento de outras, são apresentados pelos respondentes como de menor utilização. O VPLa e o ROIA, por sua vez, apresenta o mesmo trajeto na linha oposta a utilização pelos respondentes, conseqüentemente sua utilização pelas empresas de tecnologia equiparadas, mesmo não apresentando uma grande proximidade entre as linhas. No entanto, tres empresas aprsentam uma utilização entre o Custo de oportunidade e o ROIA, porém sem direção e com a mínima possibilidade de estar na direção da utilização por alguma das empresas, apresentando uma baixa concentração na sua utilização e menor consideração. Outro ponto que resalta é que as empresas que utilizam o Payback, Ponto de Fischer e a TIR não tuilizam o Custo de oprtunidade, pois sua relação de utilização estão em postos extremos e direções opostas. Sua posição em relação ao mapa fatorial está para o lado contrário das demais empresas. Assim, entende-se que as empresas não relacionam os instrumentos mais utilizadoscom o instrumento menos utilizado. Contudo, entre os instrumentos mais tulizados pelos respondentes das empresa de tecnologia foi a Taxa interna de retorno, que representa a taxa que anula o valor presente líquido de um fluxo de caixa. Desta forma, a forte concentrado de empresa no entorno do traçado linear consideram a TIR como a melhor forme de analisar os novos investimentos em projetos pelas empresas de tecnologia. 6 Considerações finais O artigo objetivou constatar o grau de importância da utilização dos instrumentos de análise de investimento na elaboração de novos produtos pelos gestores das pequenas e médias empresas de tecnologia do Vale do Itajaí/SC. Para tanto, foi realizado um estudo exploratório de multi-casos, com abordagem qualitativa. A pesquisa foi aplicada em 21 empresas, escolhidos aleatoriamente. Pesquisou-se 9 instrumentos para identificar a importância na utilização, entre eles: Valor Presente Líquido (VPL), Valor Presente Líquido Anualizado (VPLa), Índice Benefício/Custo (IBC), Retorno Adicional sobre o Investimento (ROIA), Taxa Interna de Retorno (TIR), Período de Recuperação do Investimento (Pay-back), Ponto de Fischer como medida de risco, Custo de Oportunidade (CO), Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RSPL) e o Índice de Lucratividade (IL). Primeiramente foi utilizada a escala de Lickert em pesos para a análise da importância. Ressalta-se que a importância dada aos instrumentos pelos respondentes é geral. Foi relacionada a importância geral e a utilização dos instrumentos pelos respondentes das empresas de tecnologia. Por último, utilizou-se a técnica estatística da análise de componentes principais. Com base na análise dos resultados da relação da importância geral dos instrumentos utilizados pelas empresas de tecnologia de uma forma geral, os gestores das empresas consideram relevante a utilização dos instrumentos na análise de investimento na elaboração de projetos de novos produtos. 12 Os resultados da técnica da análise de componentes principais indicam que os atributos que atingiram maior importância entre os instrumentos averiguados, o Pay-back, a Taxa Interna de Retorno e o Ponto de Fisher como medida de risco foram considerados os mais importantes. A utilização destes instrumentos nas empresas de tecnologias pesquisadas favorece a redução de gastos operacionais, melhoria da produtividade e exploração de novas oportunidades de negócios. Referências ANDRADE, Maria Margarida de. Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação: noções práticas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 165 p. ASSAF NETO, Alexandre. Os métodos quantitativos de análise de investimentos. Caderno de Estudos, n. 6, São Paulo, FIPECAFI, Out. 1992. BEUREN, Ilse Maria. Conceituação e contabilização do custo de oportunidade. Caderno de Estudos, n. 8, São Paulo, FIPECAFI, Abr. 1993. CASAROTTO, Nelson; KOPITTKE, Bruno Hartmut. Análise de Investimentos. São Paulo: Atlas, 2000. CASSARRO, Antônio Carlos. Sistemas de informações para tomada de decisões. 3. ed. São Paulo: Thomson, 2001. CEPROMAT. Sistema de Informação Gerencial-SIG. Disponível em: <http://www.cepromat.mt.gov.br/arquivos/A_fdd575dad7b0e9273cb28e5bd2dde658SIG_MT .pdf> . Acesso em: 24 de jan. de 2006. COLAUTO, Romualdo Douglas; BEUREN, Ilse Maria. Coleta, análise e interpretação dos dados. Cap. 5. BEUREN, Ilse Maria. (org.). Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004. GITMAN, Lawrence J. Princípios da Administração Financeira. São Paulo: Editora Harper & Row do Brasil Ltda., 1984. HIRSCHFELD, Henrique. Engenharia Econômica e Análise de Custos. São Paulo: Atlas, 1998. HORNGREN, Charles. Contabilidade de custos. São Paulo: Atlas, 1986. KASSAI, José Roberto. Conciliação entre a TIR e ROI: uma abordagem matemática e contábil do retorno do investimento. Cadernos de Estudos, São Paulo, FIPECAFI, n. 14., jul./dez. 1996. KASSAI, José Roberto et al. Retorno de Investimento: abordagem matemática e contábil do lucro empresarial. São Paulo: Atlas, 1999. KUHNEN, Osmar Leonardo; BAUER, Udibert Reinoldo. Matemática Financeira aplicada e Análise de Investimentos. São Paulo: Atlas, 1996. MACHADO, Mardem de Almeida. Ensino de Matemática Financeira por CBT - Uma Abordagem Metodológica. 1997. 137 f. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) – Curso de Pós-graduação em Engenharia da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1997. MARIM, Walter Chaves. Análise de Alternativas de Investimento: uma abordagem financeira. São Paulo: Atlas, 1980. MAROCO, J.. Análise estatística – com utilização do SPSS. 2. ed. Lisboa: Silabo, 2003. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. São Paulo: Atlas, 2003. MIRANDA, Gilberto José; REIS, Ernando Antônio dos; ROGERS, Pablo. Valor de Empresas e Medidas de Desempenho Econômico: Um Estudo em Empresas Atacadistas Brasileiras. 2005. Disponível em: <http://www.pablo.prof.ufu.br/artigos/enanpad4.pdf > Acesso em: 28 de janeiro de 2006. RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 13 SAMANEZ, Carlos Patrício. Matemática Financeira: aplicações à análise e investimentos. São Paulo: Editora Prentice Hall, 2001. SILVA, Carlos Eduardo Sanches da. Método para Avaliação do Desempenho do Processo de Desenvolvimento de Produtos. 2001. 205 f. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) – Curso de Pós-graduação em Engenharia da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. SILVA, Veridiano Lucas da. Diagnóstico do nível de tecnologia da informação e dos sistemas de informações contábeis-gerenciais no processo decisório das micro e pequenas empresas do ramo de confecções do município de Colatina-ES. 2002. 147 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Curso de Pós-graduação em Engenharia da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002. SOUZA, Alceu; CLEMENTE, Ademir. Decisões Financeiras e Análise de Investimento. São Paulo: Atlas, 2004. SOUZA, Acilon Batista de. Projetos de investimentos de capital: elaboração, análise e tomada de decisão. São Paulo: Atlas, 2003. TAMAYO, R. P.. Existe el método científico? historia y realidad. México: la ciência para todos, 1998. VIEIRA, João Batista. Avaliação Econômico-Financeira da Implantação de um Consórcio para Exploração de Argilas: Estudo de caso na Cadeia Produtiva Cerâmica de Rondônia. 2002. 223 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Curso de Pós-graduação em Engenharia da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.