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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL Campus Cachoeira do Sul/RS Curso de Psicologia Disciplina: Teorias Psicoterápicas I Professora: Cristiana Rezende Caneda Acadêmicos: Aléxia Costa, Carolina Rosa, Eveline Freese, Filipe Muller, Hanna Kemel, João Paulo, José Elui, Kamila Moreira e Laíne Domingues. O CASO DE SCHREBER As memórias de Schreber foram apresentadas como uma peça de argumentação jurídica para que ele pudesse sair do manicômio em que se encontrava. Schreber veio de uma família de pedagogos, de educadores. Seu pai inventou uma série de instrumentos e métodos para serem usados na educação das crianças como, por exemplo, meios para que mantivessem a postura ereta ou para que não se masturbassem. Dessa forma, o menino teve uma educação excessivamente pedagógica. Com a morte do pai, porém, seu irmão mais velho passou a ocupar o lugar de referência masculina. Schreber seguiu o mesmo caminho profissional deste, na carreira jurídica. Um acontecimento trágico foi quando o seu irmão comete suicídio. Mas apesar dessas dificuldades, ele veio a se formar na faculdade de Direito e a construir uma carreira, assim, progredindo na vida. Inclusive, ao abrir suas memórias, Schreber alega que não teve do que se queixar, lamentando apenas o fato de não ter tido filhos. Segue nessa direção até ser nomeado para a Corte de Apelação da Baixa Saxônia, um cargo mais elevado. E é nesse momento em que começam a fluir nele determinados pensamentos desagradáveis que têm início com a ideia de "como seria ser cupulado como uma mulher". Tal pensamento é visto, por ele, como um intruso, algo que não é seu. Passando, assim, a questionar quem teria posto esse pensamento em sua cabeça e se estaria ficando doente. Então, ele é internado. Sendo nesse contexto que ele começa a escrever. Ao fazer isso, ele intencionava argumentar que o que lhe aconteceu tratava-se de algo inusitado e que não ocorre com muitas pessoas, mas que não era um impedimento para o seu funcionamento psíquico e que, portanto, poderia ser readmitido no trabalho. Schreber narra o que lhe aconteceu da seguinte forma: por conta de certas peculiaridades de seu corpo e em seu jeito de pensar ele teria atraído a volúpia de Deus. Nesse sentido, Deus o estaria enviando uma espécie de conexão, chamada por ele de “raios divinos”, os quais se instalaram em cada parte de seu corpo. Assim, de acordo com ele, isso explicaria uma série de fenômenos que ele estaria experimentando. Dentre tais fenômenos, estariam acontecimentos como interrupções ou falhas nos pensamentos; impressão de que os pássaros queriam lhe dizer algo e de que seios estariam crescendo em seu corpo. Schreber chamou esse fenômeno de “emasculação”, ou seja, o ato de estar transformando-se em uma mulher. Isso tudo o fez concluir que Deus pretendia transformá-lo em uma mulher para que, juntos, dessem origem a uma nova raça. Todo o seu delírio se cria a partir dessa história. Após tentar lutar contra isso, ele se resigna e aceita, uma vez que esta seria uma forma de salvação da humanidade. Freud tomou conhecimento do caso de Schreber a partir das memórias que este deixou por escrito. Os dois não tiveram contato. Com base nesse caso, construiu sua teoria acerca da psicose. Inicialmente, Freud testou a hipótese do desejo homossexual projetado no outro como causa do delírio de perseguição na paranoia. Mais tarde, porém, Freud propõe que se avalie as condições para o recalque das representações de desejo. Desta maneira, Freud propõe que a psicose de Schreber se expressa como mecanismo de defesa contra sua libido homossexual, estabelecendo, paralelamente, a projeção como mecanismo da paranoia. Em Três ensaios da sexualidade Freud defende a ideia da bissexualidade inata dos seres humanos, sendo assim, estabelece que, através da insatisfação heterossexual, no caso do Schreber, estabelecer-se-ia a homossexualidade, no entanto, esta libido homossexual seria recalcada. Todavia, após o recalcamento, a mesma libido retornaria com a falência das defesas do ego, que por sua vez, se defenderia com o desenvolvimento da paranoia. Este caso foi decisivo para Freud dar início à teoria da psicose, pois Freud antes disso baseava sua teoria psicanalítica na neurose com as histerias e fobias. O complexo de édipo ocorre em três tempos, o primeiro em que a criança se enamora pelo Outro Materno, o segundo em que há a introdução de um terceiro sujeito que coloca a lei, e o terceiro em que a criança se identifica com o pai ou terceiro sujeito. Na psicose esses três tempos ocorrem diferentes, segundo Castro e Rodrigues (2016, p. 73), “[...] na psicose não ocorre a entrada de um terceiro que pudesse inserir a lei (NP) e que fizesse barreira ao gozo do Outro materno, impedindo assim que o Desejo da Mãe (DM) prevaleça.” REFERÊNCIAS COUTINHO, Alberto Henrique Soares de Azeredo. Schreber e as psicoses na psiquiatria e na psicanálise: uma breve leitura. Reverso, Belo Horizonte, v. 27, n. 52, p. 51-61, set. 2005. FARIA, F. A.; SANTOS, Y. M.; PRÓCHNO, C. C. S. O corpo em psicanálise: o caso Schreber. Horizonte Científico. VOL 5, Nº 2 (DEZ 2011). FREUD, S. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, v. 12, 1969. FREUD, S. (1911). Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de Paranóia (Dementia Paranoides). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, v. 12, 1969. RODRIGUES, C. E.; DE CASTRO, J. E. INVENTAR UM CORPO: SCHREBER E SUA METÁFORA DELIRANTE. Vol. 16, num. 3, Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, 2016.