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Artigo Científico - Nadyesa - A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS - FINAL

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A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS
Nadyesa Niewinski de Mattos[1: Aluna concludente do curso de Pós-Graduação em Direito Penal e Processo Penal da Universidade Estácio de Sá.]
Adriana de Souza Carvalho[2: Professor (a) Orientador (a) da Universidade Estácio de Sá]
RESUMO
O presente trabalho tem como tema a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais. Apresentando-se o relato em três capítulos que tratam, respectivamente, do crime e culpabilidade em todos seus aspectos. Das particularidades acerca da pessoa jurídica no âmbito penal. As espécies de crimes ambientais, bem como a ação penal aplicável, a desconsideração da personalidade jurídica como meio para aplicação da pena e, o atual posicionamento jurisprudencial acerca do tema. Como resultado final, é possível constatar que, muito embora a jurisprudência venha aplicando corretamente a lei, ainda é necessário um modelo concreto de responsabilização da pessoa jurídica no âmbito penal, que estabeleça um catálogo amplo de sanções aplicável exclusivamente às empresas. O método utilizado para a concretização desta pesquisa é o indutivo, associado à técnica de pesquisa bibliográfica e normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade, Crime Ambiental, Pessoa Jurídica.
INTRODUÇÃO
No presente trabalho, analisar-se-á descritivamente a possibilidade de a pessoa jurídica ser responsabilizada pelo cometimento de crimes ambientais, o entendimento doutrinário e jurisprudencial acerca do tema, que é muito polêmico em razão de características das empresas enquanto agentes, bem como os requisitos e formas de aplicação das sanções a ela impostas.
Assim, se estabeleceu o seguinte problema: É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais e de quais formas?
A pesquisa se justifica por se tratar de tema atual e polêmico, o qual ainda demanda várias problemáticas, que vêm sendo solucionadas pela jurisprudência, uma vez que a legislação não foi expressa ao tratar dos crimes ambientais no âmbito empresarial. Para tanto, é necessário estabelecer a possibilidade de a pessoa jurídica ser responsabilizada penalmente por crimes ambientais, cuja ação humana é feita através de seus funcionários, sócios, diretores, enfim, pessoas físicas.
O objetivo geral para solucionar o problema proposto é apontar de que forma a pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de crimes ambientais, de que forma será responsabilizada no âmbito penal pelos atos praticados e quais as sanções lhe serão aplicadas.
Sendo assim, definem-se os seguintes objetivos específicos: a) Investigar sobre os conceitos de crime e culpabilidade, e suas particularidades; b) Estudar todos os aspectos inerentes à pessoa jurídica no âmbito penal; c) apontar, descrever, classificar as espécies de crimes ambientais, bem como expor o estudo a respeito da ação penal, sanções aplicáveis às pessoas jurídicas, o entendimento doutrinário e jurisprudencial e, toda a problemática acerca do assunto tratado.
Adotou-se para tanto, o método indutivo, operacionalizado com a técnica de pesquisas bibliográficas e Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
O plano de desenvolvimento apresenta-se da seguinte forma, inicialmente adentrar-se-á no conceito de crime, seu histórico, suas consequências, as espécies de pena e sua finalidade, o conceito de culpabilidade, assim como suas formas de exclusão. Em seguida serão abordados todos os aspectos inerentes à pessoa jurídica no âmbito penal, buscando fazer uma breve introdução ao tema.
Finalmente, será tratado dos crimes ambientais, da ação penal pela qual irá tramitar o processo relativo aos crimes ambientais, incluindo os princípios e teorias relacionados a tais crimes cometidos por pessoa jurídica, das formas de aplicação da pena às empresas, bem como acerca do entendimento jurisprudencial de todos os pontos colacionados nesse último capítulo.
A importância desta pesquisa fundamenta-se na necessidade de um modelo de responsabilidade penal aplicável tão somente à pessoa jurídica, posto que os tribunais têm entendido pela responsabilização simultânea de pessoas físicas e jurídicas, muito embora a legislação específica dos crimes ambientais não coloque a responsabilização obrigatória às duas, apenas lhe dá a possibilidade. 
O CRIME COMO PARADIGMA PARA A RESPONSABILIDADE PENAL
CRIME
O conceito atual de crime é analisado sob três aspectos: formal, material e analítico. Sob o conceito formal, crime é toda a ação ou omissão proibida por lei, sob a ameaça de pena. Já o conceito material diz que crime é a ação ou omissão que contraria os valores ou interesses do corpo social, exigindo sua proibição com a ameaça de pena. Tais conceitos não são suficientes para analisar os elementos estruturais do conceito de crime. Por isso da necessidade de haver um conceito analítico e, consequentemente, mais aprofundado de crime.[3: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, p. 250]
O conceito analítico permite uma melhor análise e estudo de seus elementos, conceituado como ação típica, antijurídica e culpável. Definição adotada tanto pelos seguidores da teoria causalista (naturalista, clássica, tradicional), quanto pelos adeptos da teoria finalista da ação.[4: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, p. 97]
A Lei de Introdução ao Código Penal Brasileiro, no seu artigo 1º, traz a seguinte definição:
Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.[5: BRASIL. Decreto-Lei n. 3.914, de 09 de dezembro de 1941. Lei de introdução ao código penal. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3914.htm>. Acesso em: 19 nov. 2016. p. 1]
Nota-se, portanto, que não houve uma preocupação do legislador em aprofundar as definições de crime e contravenção penal, apenas destacou as características que os distinguem, as quais se restringem apenas à natureza da pena aplicável a cada tipo de infração penal, cabendo então, à doutrina nacional estudar e explicar tais conceitos.[6: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, p. 252]
CULPABILIDADE
O ponto fundamental neste estudo acerca da responsabilidade penal da pessoa jurídica, a culpabilidade aparece como um requisito indispensável no conceito de crime, de acordo com a teoria firmada por Welzel, a ação ou omissão típica e antijurídica tem de necessariamente ser culpável para que se constitua o crime.[7: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, p. 251]
Nucci conceitua culpabilidade da seguinte forma:
Trata-se de um juízo de reprovação social, incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente ser imputável, atuar com consciência potencial de ilicitude, bem como ter a possibilidade e a exigibilidade de atuar de outro modo, seguindo as regras impostas pelo Direito (teoria normativa pura, proveniente do finalismo).[8: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal, p. 281]
Esse conceito evoluiu conforme as diversas teorias adotadas, sendo a mais aceita a corrente normativa pura, ou finalista, a qual pressupõe que ao agir, o ser humano possui uma finalidade, que será analisada sob o aspecto doloso ou culposo. Consequentemente, tendo em vista a finalidade da ação ou da omissão, para tipificar uma conduta é necessário analisar o dolo ou a culpa, os quais se situam na tipicidade e não na culpabilidade. Neste prisma, culpabilidade pressupõe um juízo de reprovação social, que incide sobre o autor e o fato típico e antijurídico por ele praticado, devendo ainda, este ser imputável, agido com consciência potencial da ilicitude e, ainda, com a exigibilidade e possibilidade de um comportamento conforme o Direito.[9: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal,p. 282]
Assim, a culpabilidade apresenta-se como fundamento e limite da pena e, sobretudo, integra o conceito de crime, não sendo um mero pressuposto da pena, como se fosse um fato ou circunstância antecedente à pena, mas sim, a razão para sua aplicação.[10: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal, p. 285]
Ainda no que tange à culpabilidade, cumpre analisar suas excludentes, que conforme Walter Coelho são as “hipóteses em que a prática do ilícito penal não implica em reprovabilidade pessoal do agente do crime, e, assim sendo, acarretam a sua absolvição criminal”.[11: COELHO, Walter. Teoria geral do crime. 2. ed. Porto Alegre. Formato Artes Gráficas. v.2. 1998. p. 37]
A seguir, as causas excludentes de culpabilidade: 1. Erro de proibição (art. 21, caput, CP); 2. Coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte, CP); 3. Obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte, CP); 4. Inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art. 26, caput, CP); 5. Inimputabilidade por menoridade penal (art. 27, CP); 6. Inimputabilidade por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, §1º, CP).[12: JESUS, Damásio de. Direito penal: parte geral, p. 481]
No entanto, cumpre analisar tão somente as causas excludentes que se relacionam com o tema proposto, quais sejam, o erro de proibição, coação moral irresistível e, obediência hierárquica. Pois bem, o erro de proibição pressupõe que o sujeito alegar simplesmente o desconhecimento da lei ou, conhece-la mal, não é fato ensejador de sua excludente de culpabilidade, mas, sim, a real falta de potencial consciência da ilicitude. Ou seja, o sujeito que pratica o ato ilícito assim não o considera, ele supõe a não existência da regra que proíbe seu ato.[13: JESUS, Damásio de. Direito penal: parte geral, p. 487]
O artigo 22 do Código Penal trata da coação irresistível e obediência hierárquica: “Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.”[14: BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 21 nov. 2016. p. 5]
A esse respeito, Mirabete explica:
A coação existe quando há o emprego de força física ou de grave ameaça para obrigar o sujeito a praticar um crime. Pode ser assim física (vis corporalis ou vis absoluta) ou moral (vis compulsiva). Na coação física, o coator emprega meios que impedem o agente de resistir porque seu movimento corpóreo ou sua abstenção do movimento (na omissão) estão submetidos fisicamente ao coator.[15: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, p. 206]
E, mais à frente, trata da coação moral:
Existe na coação moral uma ameaça, e a vontade do coacto não é livre, embora possa decidir pelo que considere para si um mal menor; por isso, trata-se de hipótese em que se exclui não a ação, mas a culpabilidade, por não lhe ser exigível comportamento diverso. É indispensável, porém, que a coação seja irresistível, ou seja, inevitável, insuperável, inelutável, uma força de que o coacto não se pode subtrair, tudo sugerindo situação à qual ele não se pode opor, recusar-se ou fazer face, mas tão-somente sucumbir, ante o decreto do inexorável.[16: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, p. 207]
Bitencourt suscintamente define coação irresistível: “Coação irresistível é tudo o que pressiona a vontade impondo determinado comportamento, eliminando ou reduzindo o poder de escolha, consequentemente, trata-se de coação moral.”[17: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, p. 420]
No que tange à obediência hierárquica, Mirabete destaca:
Para que o subordinado cumpra a ordem e se exclua a culpabilidade, é necessário que aquela:
Seja emanada da autoridade competente;
Tenha o agente atribuições para a prática do ato; e
Não seja a ordem manifestamente ilegal.[18: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, p. 208]
Necessário se faz, inclusive, que a ordem não seja manifestamente ilegal, assim, o subordinado que cumprir tal ordem não agirá com culpabilidade, uma vez que, tendo avaliado incorretamente a ordem recebida, comete uma espécie de erro de proibição. Porém, caso a ordem seja manifestamente ilegal, isto é, claramente ilegal, são puníveis, o superior e subordinado e, responderão pelo crime em concurso.[19: BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de direito penal, p. 424]
CONSEQUÊNCIAS DO CRIME
Guilherme de Souza Nucci conceitua pena como sendo a sanção imposta pelo Estado, através da ação penal, ao criminoso cuja finalidade é a retribuição ao delito perpetrado e a prevenção a novos crimes.[20: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal, p. 368]
Desta forma, a pena deve ser imposta pena proporcional ao crime praticado, além da observação dos demais princípios, por isso existem diferentes espécies de pena, Nucci as explica:
São as seguintes: penas privativas de liberdade, penas restritivas de direito, pena pecuniária.
As penas privativas de liberdade são: reclusão, detenção e prisão simples. As duas primeiras constituem decorrência da prática de crimes e a terceira é aplicada às contravenções penais.
As penas restritivas de direitos são as seguintes: prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos, limitação de fim de semana, prestação pecuniária e perda de bens e valores.
A pena pecuniária é a multa.[21: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal, p. 377]
A respeito das penas privativas de liberdade, tem-se que hoje esta espécie não corresponde à finalidade a qual se destina, a de recuperação do delinquente, tendo em vista ser praticamente impossível ressocializar alguém que se encontra preso. Por essa, dentre outras razões, é que se deve evitar ao máximo a prisão de condenados a penas de curta duração.[22: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, p. 251-252]
Sobre as penas restritivas de direito, o Código Penal, art. 45, §1º, define a pena de prestação pecuniária, que consiste no pagamento em dinheiro à vítima, seus dependentes ou entidade pública ou privada com destinação social.[23: BRASIL. Código penal. p. 9]
Portanto, esta espécie de pena tem por finalidade a reparação do dano causado pela infração penal.[24: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, p. 563]
A pena de perda de bens e valores, prevista no art. 44 do Código Penal, é resumidamente explicada por Nucci:
A perda de bens e valores consiste na transferência, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, de bens e valores adquiridos licitamente pelo condenado, integrantes de seu patrimônio, tendo como teto o montante do prejuízo causado ou o proveito obtido pelo agente ou terceiro com a prática do crime, o que for maior.[25: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal, p. 407]
A prestação de serviços à comunidade é explicada na própria legislação, bem como seu local de aplicação:
Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade.
§ 2º A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais.[26: BRASIL. Código penal. p. 9]
A interdição temporária de direitos, cominada no art. 47 do Código Penal, segundo Nucci, é a mais autêntica pena restritiva de direitos, pois tem por finalidade impedir o exercício de determinada função ou atividade por um período determinado, como forma de punir o agente de crime relacionado à referida função ou atividade proibida, ou frequentar determinados lugares.[27: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal, p. 408]
A última das penas restritivas de direitos é a limitação do fim de semana,prevista no art. 48 e parágrafo único do Código Penal, que prevê a obrigação do condenado de permanecer, aos sábados e domingos, em Casa de Albergado ou lugar correspondente, por um período de cinco horas diárias, com o fim de participar de cursos, palestras, bem como desenvolvimento de atividades educativas.[28: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, p. 275]
Por fim, a pena pecuniária (multa), instituída no artigo 49 do Código Penal, consiste no pagamento de determinada quantia em pecúnia, fixada em lei e determinada sua quantia na sentença, calculada em dias-multa e, destinada ao Fundo Penitenciário. O juiz, ao fixar a pena de multa, deve atentar-se, inclusive, para a situação econômica do réu, pois, o importante é que esta sanção seja de grande relevância no patrimônio do condenado.[29: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, p. 284][30: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal, p. 423]
RESPONSABILIDADE PENAL EMPRESARIAL
CONCEITO DE PESSOA JURÍDICA
Antes de adentrar ao mérito da questão é preciso esclarecer o que a doutrina entende como pessoa jurídica. O ilustre doutrinador de Direito Empresarial, Fabio Ulhoa Coelho a conceitua da seguinte forma:
Pessoa jurídica é o sujeito de direito personificado não-humano. É também chamada de pessoa moral. Como sujeito de direito, tem aptidão para titularizar direitos e obrigações. Por ser personificada, está autorizada a praticar os atos em geral da vida civil – comprar, vender, tomar emprestado, dar em locação etc. –, independentemente de específicas autorizações da lei. Finalmente, como entidade não-humana, está excluída da prática dos atos para os quais o atributo da humanidade é pressuposto, como casar, adotar, doar órgãos e outros.[31: COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil. 2. ed. vol. I. São Paulo: Saraiva. 2006. p. 233]
A pessoa jurídica existe em decorrência da vontade em comum de uma pluralidade de membros. Conforme legislação em vigor surge a partir do registro para aquisição da personalidade jurídica, ou seja, para que isto ocorra, se faz necessário a inscrição do ato constitutivo ou do contrato social no registro competente.[32: VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 10 ed. vol. I. São Paulo: Atlas. 2010. p. 227][33: GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil: parte geral. 13. Ed. Vol. I. São Paulo: Saraiva. 2011. p. 230]
Classificam-se em pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado. A primeira, criada constitucionalmente, em razão da necessidade social de soberania de um Estado sobre outro, tendo na história seu suporte e, tem elevada posição no próprio Estado. Já as pessoas jurídicas de direito privado surgem a partir da vontade humana, em torno de uma finalidade em comum.[34: VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: parte geral, p. 227]
As pessoas jurídicas de direito público externo são mencionadas no artigo 40 da Constituição Federal, quais sejam, as nações estrangeiras e a Santa Sé, e se submetem ao regime do direito internacional público. Já as pessoas jurídicas de direito público interno estão enumeradas no artigo 41 do Código Civil e são as seguintes: I — a União; II — os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III — os Municípios; IV — as autarquias, inclusive as associações públicas; V — as demais entidades de caráter público criadas por lei.[35: MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso de direito civil: parte geral. 45. ed. v. 1. São Paulo: Saraiva, 2016. Biblioteca Digital Saraiva. Disponível em: <https://central-usuario.editorasaraiva.com.br/leitor/epub:154230>. Livro digital. ISBN 978850219611-7. cap. 1.2]
As pessoas jurídicas de direito privado estão enumeradas no artigo 44 também do Código Civil. São elas: I — as associações; II — as sociedades; III — as fundações; IV — as organizações religiosas; V — os partidos políticos; VI — as empresas individuais de responsabilidade limitada.[36: MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso de direito civil: parte geral. cap. 1.3]
CAPACIDADE DA PESSOA JURÍDICA
A respeito da capacidade das pessoas jurídicas no direito romano, Silvio de Salvo Venosa brevemente explica: “As pessoas jurídicas são capazes de direito e incapazes de fato; não podem ser titulares de todos os direitos, como, por exemplo, os direitos de família. Seus direitos restringem-se ao campo patrimonial.”[37: VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: parte geral, p. 221]
Acerca das obrigações da pessoa jurídica, Monteiro ensina:
Também não podem cometer crimes (societas delinquere non potest — universitas non delinquunt). Agindo por intermédio de representantes, se estes por acaso exorbitam, desviando-se da lei, recai individualmente sobre esses representantes a culpa pelos atos criminosos praticados em nome delas256. Já decidiu por isso o Supremo Tribunal Federal que não cabe ação penal contra pessoa jurídica257. Mas se reconhece a prática, por pessoas jurídicas, de crimes contra o consumidor e o meio ambiente.[38: MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso de direito civil: parte geral, cap. 1.1]
Nesse sentido pode-se concluir que a pessoa jurídica tem capacidade jurídica especial. Seu campo jurídico de atuação limita-se em seu contrato social, estatutos e na própria lei. Significa dizer que, não pode atuar por si mesma, mas, sim, por meio das pessoas naturais que compõem seu órgão social e conselho deliberativo, estas, por sua vez, praticam atos como se fossem o próprio ente social.[39: GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil: parte geral, p. 241]
Coelho trata da formação de vontade das pessoas jurídicas:
Como sujeito de direito personificado, a pessoa jurídica pode praticar os atos jurídicos em geral. Exceto aqueles em relação aos quais está proibida ou impossibilitada de praticar (por falta de atributos humanos), todos os demais atos e negócios jurídicos podem ser praticados pela pessoa jurídica, independentemente de expressa e específica autorização legal. Se assim é, a lei confere à “vontade” da pessoa jurídica a mesma eficácia liberada à vontade de homens e mulheres. Quer dizer, os direitos e obrigações podem ser criados, modificados e extintos pela vontade dos sujeitos disciplinados pela ordem jurídica, entre os quais se encontram as pessoas morais.[40: COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil., p. 244-245]
Nesta continuidade, Bitencourt leciona: 
A conduta (ação ou omissão), pedra angular da Teoria do Crime, é produto exclusivo do Homem. A capacidade da ação, e de culpabilidade, exige a presença de uma vontade, entendida como faculdade psíquica da pessoa individual, que somente o ser humano pode ter.[41: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, p. 272]
Partindo desse pressuposto, possível é dizer que a pessoa jurídica tem vontade própria, uma vez que manifestada através de seus sócios e, portanto, pode ser responsabilizada por seus atos, tanto civil quanto penalmente.[42: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 8 ed. vol. I. São Paulo: Saraiva. 2010. p. 254]
Superada a questão da capacidade, necessário examinar a possibilidade de a pessoa jurídica ser caracterizada como sujeito ativo de um crime e, nesse sentido, Nucci explana que o sujeito ativo é quem pratica determinada conduta descrita pelo tipo penal. Este conceito abrange tanto aquele que pratica o tipo penal, quanto o coautor ou partícipe, os quais colaboram de alguma forma com a conduta típica.[43: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal, p. 164][44: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, p. 122]
Foi com o advento da Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que trata dos crimes contra o meio ambiente, que foi implantada a responsabilidade penal da pessoa jurídica, além da civil e administrativa, nos casosem que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade, notadamente, não excluindo a responsabilidade das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes, uma vez que a vontade da pessoa jurídica é por elas praticada.[45: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral, p. 255]
DOLO DA PESSOA JURÍDICA
Bitencourt conceitua dolo como “a consciência e a vontade de realização da conduta descrita em um tipo penal.” E adiante ressalta: “O dolo, puramente natural, constitui o elemento central do injusto pessoal da ação, representado pela vontade consciente de ação dirigida imediatamente contra o mandamento normativo.”[46: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, p. 313]
Existem três teorias que tratam do dolo: a da vontade, a da representação e a do assentimento. Para a teoria da vontade, adotada pelo Código Penal brasileiro, é preciso que o agente tenha vontade e consciência da prática de seu ato, para que configure o dolo.[47: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral, p. 139]
Ante esta análise sobre a teoria e conceito de dolo, é possível dizer que a pessoa jurídica não tem consciência e vontade próprias e, desse modo, não é capaz de agir dolosamente na prática de um crime. Outrossim, são penalmente responsáveis seus representantes legais, em razão dos crimes cometidos em nome da pessoa jurídica.[48: JESUS, Damásio de. Direito penal: parte geral, p. 168]
Esta ideia tem evoluído com o passar dos anos e, apesar da controvérsia, a própria Constituição Federal prevê, nos artigos 173, §5º, e 225, §3º, que deve ser estabelecida sanção à pessoa jurídica pelo cometimento de atos que atentem à economia popular, à ordem econômica e ao meio ambiente.[49: JESUS, Damásio de. Direito penal: parte geral, p. 168]
Há de prevalecer a ideia de que, muito embora a vontade e consciência de praticar determinado crime é manifestada pelos representantes legais da pessoa jurídica, não pode ela ser excluída do âmbito da responsabilidade penal.[50: VIVIANI, Rodrigo Andrade. Dos pressupostos para responsabilizar penalmente a pessoa jurídica no ordenamento jurídico brasileiro. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 67, ago. 2009. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6518> Acesso em: 23 nov. 2016. p. 2]
CULPABILIDADE E IMPUTABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA
A doutrina majoritária entende não ser possível haver dolo na conduta da pessoa jurídica. Todavia, necessária se faz a ideia de que a pessoa jurídica pode e deve ser responsabilizada penalmente por atos de seus sócios ou representantes legais, que agem em nome dela. Com efeito, fundamental para entendimento do trabalho apresentado, é discorrer a respeito da culpabilidade e imputabilidade inerentes à pessoa jurídica.
Iennaco, em seu estudo acerca da responsabilidade penal da pessoa jurídica, prevê um modelo construtivista de culpabilidade empresarial:
Efetivamente, o conceito construtivista de culpabilidade empresarial tem como base três pilares do conceito de culpabilidade individual: a fidelidade ao Direito como condição para a vigência da norma, o sinalagma básico do direito penal e, por último, a capacidade de questionar a vigência da norma.[51: MORAES, Rodrigo Iennaco de. Responsabilidade penal da pessoa jurídica, p. 36]
Apesar de não haver concretamente um conceito acerca da culpabilidade da pessoa jurídica, a jurisprudência entende perfeitamente possível a configuração de sua culpabilidade, em atenção à atual necessidade que se vê no sistema jurídico brasileiro de punir a pessoa jurídica também, em razão de atos praticados por seus sócios ou representantes legais. Inclusive no julgado abaixo verificou-se a exclusão da responsabilidade da pessoa física que agiu em nome da pessoa jurídica, responsabilizando penalmente apenas esta última, pelos atos praticados em seu nome. Observa-se:
CRIME AMBIENTAL. ART. 48 DA LEI 9.605/98. RESPONSABILIZAÇÃO DE PESSOA JURÍDICA DESVINCULADA DA PESSOA FÍSICA. POSSIBILIDADE. RESPONSABILIZAÇÃO DE ENTE PÚBLICO. VIABILIDADE. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. HERMENÊUTICA JURÍDICA. PRINCÍPIO DA ISONOMIA. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA. MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS. FACTIBILIDADE DE FIGURAR COMO RÉU. IMPEDIR/DIFICULTAR REGENERAÇÃO DE VEGETAÇÃO. DESÍGNIO AUTÔNOMO. MATERIALIDADE, AUTORIA E DOLO DEMONSTRADOS. CONDENAÇÃO. CULPABILIDADE E MOTIVOS. AFASTAMENTO DA VALORAÇÃO NEGATIVA. REDUÇÃO DA MULTA. 1. De acordo com recentes entendimentos dos Tribunais Superiores, a teoria da dupla imputação, segundo a qual a responsabilidade penal da pessoa jurídica não poderia ser dissociada da pessoa física atuante em seu benefício, não encontra suporte jurídico, já que não há tal exigência no art. 225, § 3º, da Constituição Federal. Logo, é possível a responsabilização, em isolado, da pessoa jurídica envolvida na prática de crime ambiental. (...)[52: BRASIL. Tribunal Regional Federal 4ª Região. Acórdão nº 00005749020094047200 do Processo nº 0000574-90.2009.404.7200, Relator: Sebastião Ogê Muniz. 7ª Turma. Julgamento: 01 jul. 2014. Publicado no DJE: 17 jul. 2014. p.1]
A ideia de Iennaco é nesse mesmo sentido, quando, em uma breve análise, fala sobre a implantação da ideia de funcionalismo no Direito Penal, na década de 70, com a obra de Roxin, e conclui o seguinte:
Assim, a alteração do conceito de culpabilidade, tendo como fundamento a prevenção geral positiva (funcionalismo sistêmico de Jakobs) poderia servir de supedâneo à responsabilização da pessoa jurídica, desde que, no âmbito da tipicidade, se reconhecesse viável a imputação da conduta (própria ou de seus agentes internos).[53: MORAES, Rodrigo Iennaco de. Responsabilidade penal da pessoa jurídica, p. 30]
Sobre a imputabilidade, entende-se seja pressuposto da culpabilidade, e não seu elemento. Imputabilidade refere-se à condição psíquica que o agente tem de entender sua conduta como antijurídica, ou seja, se ele tem consciência e vontade dentro do que se chama autodeterminação.[54: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, p. 197]
Ainda, considerando que a culpabilidade é um juízo de reprovação social, que incide sobre o fato típico praticado e seu autor, tem-se que a imputabilidade não é seu pressuposto, mas sim, condição para a reprovabilidade, portanto, imputabilidade é a capacidade do agente de ser culpável.[55: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral, p. 281][56: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, p. 407]
Outrossim, para que se configure a imputabilidade, é necessário que o agente tenha a capacidade de compreender o injusto e, a vontade de cometê-lo. A ausência de quaisquer destes dois elementos afasta a imputabilidade.[57: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, p. 408]
É este o ponto decisivo para o nascimento da responsabilidade penal, tanto no sistema psíquico da pessoa humana, quanto no sistema organizativo da pessoa jurídica, deve haver o desenvolvimento de uma complexidade interna suficientes para que sejam considerados pessoas no Direito Penal. Portanto, no presente caso, é necessário que o sistema de organização da pessoa jurídica alcance um nível máximo de autorreferencialidade – auto-organização, para que seja considerada pessoa de Direito.[58: DÍEZ, Carlos Gómez-Jara. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: teoria do crime para pessoas jurídicas. São Paulo: Atlas. 2015. p. 35-36]
No que tange à imputabilidade da pessoa jurídica, muito clara é a ideia estabelecida por Rodrigo Iennaco:
A imputação da punição ao crime implica, em regra, imputação ao sujeito do ato que constitui crime. Mas a regra não é decorrência de uma lei natural. A imputação da punição poderá ser relacionada diretamente à pessoa jurídica se a condição, o ato contrário ao ordenamento jurídico-penal, puder ser atribuída também a essa mesma pessoa jurídica. Isso ocorrerá se forpossível considerar a pessoa jurídica sujeito de ação (dependendo, ainda, do conceito de ação jurídico-penal que se adotar). Poderia ainda a pessoa jurídica ser punida pela prática de uma ação humana praticada em seu nome e em seu proveito, no âmbito de expressão de suas atividades empresariais (ilícitas em si ou lícitas com efeitos danosos). A conduta será sempre o ponto inicial da teoria do delito e o ponto final da imputação.[59: MORAES, Rodrigo Iennaco de. Responsabilidade penal da pessoa jurídica, p. 57]
Para aplicação da imputabilidade objetiva, é necessário verificar se a conduta lesiva criou ao bem jurídico tutelado um risco juridicamente relevante e reprovável, se o perigo efetivamente realizou-se no resultado jurídico e, se o âmbito do tipo incriminador engloba o resultado jurídico produzido.[60: JESUS, Damásio de. Direito penal: parte geral, p. 285]
Ante esta análise e, tendo em vista a real função da imputabilidade, é possível afirmar que a pessoa jurídica está perfeitamente sujeita à culpabilidade e imputabilidade.
FUNÇÕES E APLICAÇÃO DA PENA
Conforme análise anterior, entende-se por pena a sanção imposta pelo Estado ao delinquente, tendo finalidade retributiva ao delito e prevenção de novos crimes.[61: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral, p. 368]
Nucci explica ainda, brevemente, o caráter preventivo da pena, sendo esta, inclusive sua principal função:
O caráter preventivo da pena desdobra-se em dois aspectos, geral e especial, que se subdividem em outros dois. Temos quatro enfoques: a) geral negativo, significando o poder intimidativo que ela representa a toda a sociedade, destinatária da norma penal; b) geral positivo, demonstrando e reafirmando a existência e eficiência do Direito Penal; c) especial negativo, significando a intimidação ao autor do delito para que não torne a agir do mesmo modo, recolhendo-o ao cárcere, quando necessário e evitando a prática de outras infrações penais; d) especial positivo, que consiste na proposta de ressocialização do condenado, para que volte ao convívio social, quando finalizada a pena ou quando, por benefícios, a liberdade seja antecipada.[62: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral, p. 368]
Por fim, Carlos Gómez-Jára Díez conclui acerca da sanção penal inerente às pessoas jurídicas:
Neste sentido, o mais adequado seria contar com um Direito Penal empresarial que contemplasse penas – sanções penais – baseadas na culpabilidade da organização empresarial e em medidas de segurança – sanções interditórias – fundamentadas na periculosidade da empresa, e por isso advoga o modelo construtivista de autorresponsabilidade penal empresarial.[63: DÍEZ, Carlos Gómez-Jara. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: teoria do crime para pessoas jurídicas, p. 67]
Impossível fugir do estudo feito por Díez acerca da sanção aplicada à pessoa jurídica em razão de determinado delito praticado em nome desta e, neste ponto o modelo construtivista de responsabilidade penal inerente à pessoa jurídica ganha força no sentido de que se faz realmente necessário punir com a finalidade de prevenção geral positiva e, sua aplicação visa incidir sobre a liberdade de auto-organização da pessoa jurídica, estimulando a ideia de autorresponsabilidade da mesma e, consequentemente, reforçando a manutenção de uma cultura empresarial de fidelidade ao Direito.[64: DÍEZ, Carlos Gómez-Jara. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: teoria do crime para pessoas jurídicas, p. 45]
Tendo em vista a finalidade preventiva da pena, concomitantemente ao efeito de intimidar o autor para que não pratique novo crime e, aliada à teoria anteriormente apresentada acerca da culpabilidade e imputabilidade inerentes à pessoa jurídica, tem-se que é perfeitamente aplicável a pena a esta, em razão do crime cometido por seus representantes legais.
OS CRIMES AMBIENTAIS E A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA
4.1 CRIMES AMBIENTAIS
A Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Foi a primeira lei que criminalizou efetivamente as condutas nocivas ao meio ambiente.[65: BRASIL. Lei dos crimes ambientais. p. 01]
Paulo Affonso Leme Machado aponta as inovações propostas pela referida lei:
A Lei 9.605/98 tem como inovações marcantes a não utilização do encarceramento como norma geral para as pessoas físicas criminosas, a responsabilização penal das pessoas jurídicas e a valorização da intervenção da Administração Pública, através de autorizações, licenças e permissões.[66: MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 19. ed. São Paulo: Malheiros Editores LTDA, 2011. p. 781-782]
As espécies de crimes ambientais estão estabelecidas no Capítulo V da supracitada lei, quais sejam: dos crimes contra a fauna, flora, poluição, crimes contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural, dos crimes contra a administração ambiental.[67: BRASIL. Lei dos crimes ambientais. p. 05-11]
Quanto aos crimes ambientais tipificados na Lei 9.605/98, Fiorillo trata de forma bem sucinta:
Concluímos, por via de consequência, que as sanções penais derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente passaram, inicialmente em decorrência do que estabelece a Constituição Federal e posteriormente a partir da Lei n. 9.605/98, a ser atribuídas àqueles, pessoas físicas ou jurídicas, consideradas infratores do plano ambiental dentro de previsão circunscrita às situações previstas no atual ordenamento jurídico, ou seja, quem(pessoa física ou jurídica) de qualquer forma concorrer para a prática dos crimes ambientais será responsabilizada na forma do que estabelece o Direito Ambiental Constitucional e demais regras do subsistema aplicáveis.[68: FIORILLO. Celso Antonio Pacheco Fiorillo. Curso de direito ambiental brasileiro. p. 881]
A seguir, passa-se ao exame prático de aplicação das sanções penais à pessoa jurídica.
4.2 AÇÃO PENAL, PRINCÍPIOS, TEORIAS E APLICAÇÃO DA PENA NO ÂMBITO EMPRESARIAL
Partindo do pressuposto que as sanções penais são cabíveis somente em ultima ratio, passa-se à análise da norma penal aplicada em matéria de proteção ao meio ambiente, sendo frequentemente utilizada a norma penal em branco, que pressupõe um preceito incompleto, necessitando de complementação legislativa, até mesmo de normas extrapenais, prática esta, fundada no caráter complexo, multidisciplinar da problemática ambiental.[69: MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. p. 850]
Nesse sentido, cumpre destacar que a legislação ambiental possui características peculiares, uma delas é o caráter preventivo das normas, que levam à antecipação da tutela penal, sendo a criação de crimes de perigo concreto, abstrato e de mera conduta. Trata-se de norma penal em branco, que exige uma complementação advinda de outras normas. Foi desta forma estabelecida, visando evitar danos irreversíveis ao meio ambiente, que fossem tornar sem efeito a tutela penal ambiental. Outrossim, referido princípio da prevenção é o que norteia a proteção constitucional ambiental, inclusive a tutela penal.[70: FIORILLO. Celso Antonio Pacheco Fiorillo; CONTE, Christiany Pegorari. Crimes ambientais. p. 13-14]
Para que seja possível o início da Ação Penal, o legislador instituiu o Inquérito Civil como meio de perícia e constatação do dano ambiental, possibilitando que o Ministério Público adiante suas investigações. Conforme leciona Celso Antonio Pacheco Fiorillo:
A perícia produzida no inquérito civil poderá, portanto, segundo nosso direito em vigor, ser aproveitada diretamente no processo penal, observando o rigoroso devido processo legal (princípio do contraditório), situação que, sem dúvida alguma, elimina penosa trajetória que sempre caracterizou nosso ortodoxo processo penal.[71: FIORILLO. Celso Antonio Pacheco Fiorillo. Curso de direito ambiental brasileiro. p. 859]
Por conseguinte, bem como os crimes ambientais, a Lei n. 9.605/98 regula também a ação eo processo penal relativamente às infrações penais ambientais, assim, a ação penal é pública incondicionada, conforme art. 26 da Lei.[72: BRASIL. Lei dos crimes ambientais. p. 04]
A competência jurisdicional em face da tutela criminal ambiental tem inúmeras divergências, Fiorillo aponta nos seus ensinamentos uma decisão unanime da 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, que cancelou a Súmula 91, de outubro de 1993, a qual estabelecia que a competência para processar e julgar crimes praticados contra a fauna seria da Justiça Federal. Tal procedimento se deu em razão do julgamento de conflito de competência entre a 2ª Vara Federal de Ribeirão Preto/SP e a Vara Criminal de Santa Rosa de Viterbo/SP, em que ambos assumiram a competência para processar e julgar ação penal destinada a apurar a pesca com equipamentos proibidos. O relator do processo, Ministro Fontes de Alencar, entendeu ser competência da Justiça Estadual, passando então, a ser a nova orientação da Corte, caracterizando regra geral.[73: FIORILLO, Celso Antonio Pacheco Fiorillo. Curso de direito ambiental brasileiro. p. 861]
A respeito das sanções penais, Fiorillo faz uma breve introdução:
O direito criminal ambiental apresenta, ainda, sanções penais aplicáveis especificamente aos tipos de condutas perpetradas. Referidas sanções são estabelecidas conforme o texto constitucional e aplicadas de acordo com a natureza do agente, em atendimento ao princípio da individualização da pena. Por esse princípio deverá existir estreita correspondência entre a responsabilização da conduta do agente e a sanção a ser aplicada, visando atingir as finalidades das penas, quais sejam: prevenção (sobretudo) e repressão.[74: FIORILLO. Celso Antonio Pacheco Fiorillo; CONTE, Christiany Pegorari. Crimes ambientais. p. 14]
O artigo 21 da Lei n. 9.605/98 prevê que as penas aplicáveis às pessoas jurídicas são: multa, restritiva de direitos e, prestação de serviço à comunidade, e poderão ser aplicadas isolada, cumulativa ou alternativamente.[75: BRASIL. Lei dos crimes ambientais. p. 03]
Com relação à pena de multa, Édis Milaré aponta as críticas de Sérgio Salomão Shecaira ao ressaltar que deveria ter sido adotado um critério específico de aplicação da pena de multa para as empresas, pois atualmente se pune da mesma forma pessoas físicas e jurídicas. Para Shecaira, a legislação protetiva do meio ambiente deveria ter fixado uma unidade específica, correspondente a um dia de faturamento da empresa, e não em dias-multa como é aplicado atualmente, pois assim, uma empresa de grande porte poderá ter uma pena pecuniária muito inferior à sua possibilidade de ressarcimento do dano ou mesmo com a vantagem obtida pelo crime que praticou.[76: MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. p. 866]
O artigo 22 da referida lei aponta as espécies de penas restritivas de direito aplicáveis à pessoa jurídica, quais sejam: suspensão parcial ou total de atividades, que será aplicada quanto tais atividades estiverem em desacordo com as disposições legais relativas à proteção do meio ambiente; a interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade aplica-se quando estiver funcionando sem a devida autorização, ou não estiverem de acordo com a autorização concedida, ou ainda, violando dispositivo legal, e; a proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações, pelo prazo de até dez anos.[77: BRASIL. Lei dos crimes ambientais. p. 03]
Importante notar que a pena de prestação de serviços à comunidade, disposta no artigo 23 da mesma lei, foi a medida imposta pelo legislador, em atenção ao princípio da proporcionalidade em seus diversos aspectos, pela adequação da medida, de modo que as penas aplicáveis sejam compatíveis com as finalidades que se pretende atingir; pela necessidade ou exigibilidade, sendo que os meios utilizados para determinada finalidade sejam os menos onerosos para o cidadão, e; a proporcionalidade em sentido estrito, ou seja, deve haver um equilíbrio entre o ônus imposto pela medida ao agente e o benefício trazido por ela para o meio ambiente.[78: BRASIL. Lei dos crimes ambientais. p. 03][79: FIORILLO. Celso Antonio Pacheco Fiorillo; CONTE, Christiany Pegorari. Crimes ambientais. p. 76]
Assim, Díez aponta que no momento de fixar as espécies de pena aplicáveis às empresas, deve-se observar a realidade empresarial, no sentido de que as necessidades da sociedade moderna devem ter relação com a punição das empresas, bem como o impacto destas organizações empresariais na sociedade atual.[80: DÍEZ, Carlos Gómez-Jara. A responsabilidade penal da pessoa jurídica e o dano ambiental. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora LTDA, 2013. p. 41]
A Lei n. 9.605/98 trata, ainda, em seu artigo 24, sobre a liquidação forçada, uma espécie de pena aplicada nos casos em que a pessoa jurídica foi criada, ou esteja sendo utilizada com a finalidade de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crimes ambientais, ou seja, a empresa é utilizada como uma espécie de escudo ou instrumento para a prática de ilícitos ambientais por parte das pessoas físicas que a integram. Aplicando-se a liquidação forçada, o patrimônio da empresa passa a ser considerado como produto do crime e, consequentemente é perdido em favor do fundo penitenciário nacional.[81: FIORILLO. Celso Antonio Pacheco Fiorillo; CONTE, Christiany Pegorari. Crimes ambientais. p. 77]
O artigo 6º da Lei dos Crimes Ambientais trata sobre algumas observações que devem ser feitas no momento da aplicação da pena. Assim, o juiz deve aplicar as sanções cabíveis ao caso concreto, sobretudo, deve levar em conta alguns princípios penais, como o princípio da insignificância, que no campo do direito penal ambiental, é preciso ser analisado com cautela, vez que não basta analisar o comportamento do agente isoladamente, como medida para se avaliar a extensão da lesão produzida, é necessário também examinar os efeitos da atividade lesiva, pois, se o bem jurídico tutelado não chegou a ser agravado, consequentemente não há injusto a ser considerado e, portanto, excluída está a tipicidade formal.[82: BRASIL. Lei dos crimes ambientais. p. 01][83: MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. p. 869]
O princípio constitucional da legalidade, previsto nos artigos 5º, XXXIX da Constituição Federal e 1º do Código Penal, também deve ser observado, que, em suma, pode-se dizer que a norma penal ambiental deve adequar-se ao tipo penal para que possa ser punida.[84: FIORILLO. Celso Antonio Pacheco Fiorillo; CONTE, Christiany Pegorari. Crimes ambientais. p. 40-41]
No que tange ao princípio da proporcionalidade, tem-se que a finalidade da sanção penal deve se ajustar à importância do bem jurídico que está sendo tutelado, considerando ainda, as condições pessoais do agente. Assim, nos crimes ambientais, deve estar em consonância com a natureza do agente, isto é, se a pena será aplicável à pessoa física ou jurídica (art. 225, §3º, e art. 173, §5º, ambos da Constituição Federal).[85: CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral. 3. ed. Salvador: Juspodivm, 2015. p. 98][86: FIORILLO. Celso Antonio Pacheco Fiorillo; CONTE, Christiany Pegorari. Crimes ambientais. p. 42]
Sobre o princípio da individualização da pena, previsto no art. 5º, XLVI, da Constituição Federal, Nucci leciona que a pena não deve ser padronizada, cabendo a cada delinquente a exata medida punitiva pelo que fez.
De acordo com o princípio da personalidade ou pessoalidade, ninguém poderá ser responsabilizado por fato cometido por terceiro. Assim sendo, a pena não pode passar da pessoa do condenado, conforme preceitua o art. 5º, XLV, da Constituição Federal.[87: BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. p. 3]
Carlos Gómez-Jara Díez, ao analisar a questão da culpabilidade da pessoa jurídica, aponta uma situação problemática quanto à extinção desta culpabilidade, uma vez que a legislação prevê tão somente que a mera constatação de um defeito organizativo da pessoa jurídica, juntamente coma atuação de um representante legal, pressupõe imediatamente a responsabilidade penal da empresa. Díez ressalta, ainda, que para sustentar que a pessoa jurídica tem uma capacidade de culpabilidade, na mesma proporção devem existir causas excludentes de tal culpabilidade.[88: DÍEZ, Carlos Gómez-Jara. A responsabilidade penal da pessoa jurídica e o dano ambiental. p. 53-54]
4.3 POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS
A jurisprudência nacional tem entendido a possibilidade de a pessoa jurídica ser responsabilizada penalmente por crimes ambientais. Em uma recente decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, analisando agravo regimental que pleiteava o reconhecimento da extinção da punibilidade em razão da prescrição e, o reconhecimento da impossibilidade de imputação isolada de conduta criminosa à pessoa jurídica, sob a alegação da defesa de que a pena privativa de liberdade seria inaplicável (nem mesmo em substituição) em face da não titularidade da pessoa jurídica ao direito subjetivo de liberdade, houve o entendimento de que, por óbvio, as pessoas jurídicas realmente não se sujeitam à privação de liberdade. Justamente por esta razão é que o artigo 21 da Lei 9.605/98 indica como sanções penais à elas aplicáveis, isolada, cumulativa ou alternativamente, somente as penas de multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade, de modo que a empresa receba punição pelo delito praticado. [89: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental nº 944.034, Relator: Ministro Gilmar Mendes. Segunda Turma. Julgamento: 30 set. 2016. Publicado no DJE: 10 out. 2016. p. 7]
No tocante à necessidade ou não da responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas e jurídicas, o Superior Tribunal de Justiça entende pela responsabilização simultânea da pessoa jurídica e da pessoa física, pois esta age com elemento subjetivo próprio, que atua em seu nome ou em seu benefício.[90: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial nº 898.302, Relator (a): Ministra Maria Thereza de Assis Moura. Sexta Turma. Julgamento: 07 dez. 2010. Publicado no DJE: 17 dez. 2010. p. 1]
De modo geral, observa-se a necessidade de analisar o caso concreto para estabelecer se a responsabilidade penal no âmbito empresarial será imputada à pessoa jurídica conjunta e cumulativamente com as pessoas físicas envolvidas.
Já Rodrigo Iennaco de Moraes analisa esta situação sob outro aspecto:
Uma vez afirmada, no plano hipotético, a responsabilidade penal da pessoa jurídica, em sede constitucional, legal, doutrinária e jurisprudencial, não se nega que tal responsabilidade é indireta, vale dizer, ao ente coletivo é aplicada a pena em virtude de ação ou omissão de pessoa física que atua em seu nome ou proveito. Isso não significa, por outro lado, que seja imprescindível, do ponto de vista processual, a formação de um litisconsórcio passivo.[91: MORAES, Rodrigo Iennaco de. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. p. 91]
A extinção da pessoa jurídica, com o encerramento de suas atividades é uma das possibilidades da extinguir sua punibilidade. No entanto, outra forma é a prescrição da pretensão punitiva estatal, uma vez que o Código Penal é aplicado subsidiariamente aos casos de crime ambiental, por não haver ordem expressa na lei que trata do assunto, conforme julgado do Superior Tribunal de Justiça. [92: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargos de Declaração no Agravo Regimental no Recurso Especial nº 1230099. Ministro (a): Laurita Vaz. Quinta Turma. Julgamento: 20 ago. 2013. Publicado no DJE: 27 ago. 2013. p. 1]
Nesta problemática de um catálogo de sanções, da responsabilidade conjunta e, de hipóteses de extinção da punibilidade envolvendo a pessoa jurídica, Díez aponta a imprescindibilidade de se estabelecer um modelo no qual a responsabilidade individual – ou a necessidade de identificar uma pessoa física cuja atuação dê origem à responsabilidade da empresa – não seja pressuposto para a responsabilidade penal empresarial.[93: DÍEZ, Carlos Gómez-Jara. A responsabilidade penal da pessoa jurídica e o dano ambiental. p. 52]
O modelo construtivista de autorresponsabilidade penal empresarial por ele indicado, prevê um catálogo amplo de sanções, que vão desde aquelas que de fundamentam na culpabilidade empresarial (penas empresariais) até as baseadas no grau de periculosidade das empresas (medidas de segurança), supondo também sanções e/ou técnicas de intervenção compatíveis à realidade empresarial, de modo a estimular o cumprimento de seu papel de cidadãos corporativos fiéis ao Direito, bem como a preservação do meio ambiente.[94: DÍEZ, Carlos Gómez-Jara. A responsabilidade penal da pessoa jurídica e o dano ambiental. p. 58-59]
CONCLUSÃO
Após uma análise aprofundada de todo o histórico penal da personalidade da pessoa jurídica e da relação da pessoa jurídica nos crimes ambientais, é possível concluir que o legislador evoluiu consideravelmente com o advento da Lei n. 9.605/98, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, ao elencar possibilidade de a empresa ser responsabilizada penalmente pelo cometimento dos crimes ambientais enumerados na lei.
O objetivo da lei foi punir com mais firmeza também a pessoa jurídica, cuja personalidade era utilizada por pessoas físicas para cometer danos ao meio ambiente em seu proveito, no intuito de inibir a prática de novos crimes, punindo os já cometidos.
No entanto, tendo como base o atual Código Penal, a pessoa jurídica não tem personalidade para ser sujeito ativo de qualquer crime, assim, tem-se que a pessoa jurídica não pode ser responsabilizada penalmente.
Alguns doutrinadores vêm trazendo uma ideia de um novo modelo, contrário ao atual, que possibilitaria a aplicação da pena às pessoas jurídicas, em razão de determinada conduta típica a ela exclusivamente atribuída, de forma que não seja necessário analisar antes, uma conduta humana praticada em benefício de uma empresa. Este modelo prevê a possibilidade de se atribuir culpabilidade à pessoa jurídica. Para tanto, é necessário submeter o juízo de censura a critérios que não estejam vinculados aos aspectos psíquicos inerentes somente à pessoa humana.
Por fim, ante todo o estudo trabalhado acerca da atual concepção de responsabilidade penal da pessoa jurídica e, mesmo reconhecendo a atual eficácia da Lei n. 9.605/98, tem-se a necessidade de um novo sistema, apoiado na responsabilização penal da pessoa jurídica em detrimento de uma conduta praticada por pessoa física em nome da empresa e, em seu proveito, com um catálogo mais amplo de sanções realmente efetivas no sentido de coibir a prática de novos crimes, bem como a previsão expressa de possibilidades de excludentes de culpabilidade, assim como há tais previsões no Código Penal.
REFERÊNCIAS
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