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Produção de Textos Científicos W B A 0 14 0 _ v1 _ 1 2/200 Produção de Textos Científicos Autora: Profa. Dra. Sheila Pelegri de Sá Como citar este documento: SÁ, Sheila Pelegri de. Produção de Textos Científicos. Valinhos: 2015. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: As questões a serem observadas na produção de um texto 06 Assista a suas aulas 24 Unidade 2: O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio 32 Assista a suas aulas 51 Unidade 3: O processo de seleção das referências bibliográficas 59 Assista a suas aulas 75 Unidade 4: O resumo e a resenha, o fichamento e a paráfrase 83 Assista a suas aulas 99 2/200 3/200 Unidade 5: Os operadores argumentativos 106 Assista a suas aulas 122 Unidade 6: Os gêneros discursivos na esfera científica 130 Assista a suas aulas 146 Unidade 7: A revisão do trabalho acadêmico 154 Assista a suas aulas 171 Unidade 8: A construção do texto científico e a linguagem usada na academia 178 Assista a suas aulas 193 Sumário 3/305 4/200 Apresentação da Disciplina As práticas educacionais de um docente de nível superior centram-se, via de regra, na transmissão, sistematização e divulgação de saberes e conteúdos relacionados ao universo acadêmico no qual está inserido. Ainda que as tecnologias atuais favoreçam novas formas de produção e aquisição do conhecimento (virtuais, multimídia, robóticas etc.), a essência do trabalho do professor – e dos alunos – baseia-se na administração de conteúdos escritos, sejam eles os pontos de partida para um determinado saber ou os mecanismos de divulgação dos resultados de pesquisas. Dessa forma, a leitura e a escrita seguem como instrumentos essenciais na universidade, ainda que as suas plataformas de divulgação tenham sido ampliadas com as novas tecnologias. Ler é, sobretudo, interpretar. Na linguagem escrita formal, a leitura implica a interpretação de um código específico, a língua padrão, bem como do seu conjunto de regras previamente conhecidas, com a finalidade de depreender uma ou mais mensagens. Por essa razão, escrever é utilizar esse código de maneira coesa e coerente, possibilitando ao leitor a correta interpretação das informações que se deseja divulgar. As práticas acadêmicas demandam a leitura e redação de textos que pertencem a um gênero particular: o científico. Ao sistematizar, produzir e divulgar saberes e conteúdos, o pesquisador deve estruturar o texto de modo a garantir credibilidade ao discurso. 5/200 Diferentemente de outros gêneros textuais, o texto científico exige uma linguagem objetiva, precisa e formal, além do uso adequado da norma-padrão da língua e de um vocabulário técnico específico. Isso se dá em razão de pressupor-se que a sua circulação acontece na esfera acadêmica, ou seja, em seu meio característico. Além disso, trata-se de um gênero que resulta da necessidade de estabelecer e difundir o conhecimento científico, de modo que as estruturas envolvidas na construção do discurso demandam métodos e técnicas de redação que vão desde o planejamento e descrição das etapas da pesquisa até as diferentes formas de organizar dados e divulgar resultados. Esta disciplina tem por objetivo refletir sobre tais métodos e técnicas, apresentando e caracterizando as etapas de construção e divulgação do trabalho científico. 6/200 Unidade 1 As questões a serem observadas na produção de um texto Objetivos 1. Apresentar a disciplina, apontando a natureza e características do texto científico no contexto da prática docente; 2. Refletir acerca da natureza do texto no contexto da linguagem e da comunicação; 3. Pontuar as especificidades da produção do texto escrito. Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto7/200 INTRODUÇÃO Etimologicamente, a palavra texto tem origem no substantivo latino textus, originado do verbo texere, que significa tecer, construir. Atualmente, em amplo sentido, o conceito de texto transcende a ideia de composição escrita, ou seja, conjunto ordenado de palavras e frases, e pode também ser utilizado para fazer referência a imagens, gráficos e outras composições. Em essência, contudo, a palavra texto preserva o seu sentido original: todo texto é um tecido. É o entrelaçamento de sentenças que isoladamente não garantem o sentido transmitido em sua totalidade. Ou seja, é o resultado da organização de um discurso com o objetivo de transmitir uma mensagem. Tal entrelaçamento se dá por meio do uso de recursos coesivos, como você verá mais adiante. Na definição de Jean-Paul Bronckart, num sentido primeiro, “a noção de texto designa toda unidade de produção de linguagem que veicula uma mensagem linguisticamente organizada e que tende a produzir um efeito de coerência sobre o destinatário” (2012, p. 71). A comunicação pode ser realizada por meio de diferentes textos. Nem todos, entretanto, são compostos essencialmente por palavras. Essa distinção ocorre na esfera da linguagem. Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto8/200 1 Linguagem verbal e não verbal Entende-se por linguagem qualquer sistema de signos simbólicos empregados na intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e sentimentos, isto é, conteúdos da consciência (BECHARA, 2009, p. 18). Como se vê, de modo geral denomina- se linguagem qualquer sistema que estabeleça a transmissão e interpretação de mensagens e texto (enunciado ou discurso) o produto desta comunicação. Todo texto verbal é produto de uma determinada língua, ou seja, de uma convenção, um sistema arbitrário de signos comuns a uma determinada comunidade de falantes. De acordo com Evanildo Bechara, “Entende-se por signo ou sinal a unidade, concreta ou abstrata, real ou imaginária, que, uma vez conhecida, leva ao conhecimento de algo diferente dele mesmo: as nuvens negras e densas no céu manifestam ou são o sinal de chuva iminente; o -s final em livros é o signo ou sinal de pluralizador, assim como em cantas é o signo de 2ª pessoa do singular” (BECHARA, 2009, p. 18). Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto9/200 Os signos empregados no processo comunicacional podem ser sonoros, gráficos, textuais, etc. A transmissão e interpretação de mensagens por meio de sons (alarmes, buzinas, bipes etc.), cores (semáforos, uniformes etc.), sinais gráficos (sinalização de trânsito, ícones etc.) e gestos (LIBRAS, mímica etc.) são exemplos da chamada linguagem não verbal. Dessa forma, pode-se afirmar que todas as formas de comunicação que transmitem mensagens por meio de palavras são da ordem da linguagem verbal. Ainda, conteúdos comunicacionais podem ser mistos, ou seja, compostos pelas linguagens verbal e não verbal, o que é comum na publicidade e nas artes dramáticas, como o cinema, por exemplo. 1.1 A língua falada e a língua escrita Os processos de comunicação que envolvem o uso de palavras – a linguagem verbal – ocorrem tanto na oralidade, ou seja, por meio da fala, quanto na escrita, por meio do registro gráfico. Cada uma das modalidades e níveis da linguagem admitem aderências específicas em relação à norma-padrão, de acordo com o interlocutor e a situação de uso. A norma-padrão, muitas vezes confundida com a norma culta, é um modelo de uso da língua baseado na gramática normativa e aceito em uma determinada época como Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto10/200 regra geral, ainda que não pratique necessariamente todas as regras prescritas na gramática normativa. Denomina-se culta a prática da língua realizada em um meio social considerado culto, o que, via de regra, pressupõe um maior conhecimento da gramáticanormativa. Por exemplo: um recado deixado em uma rede social não é escrito da mesma forma que se escreve um relatório para o trabalho. Da mesma maneira, a forma como você fala ao encontrar um amigo em uma situação social não é a mesma como se expressa em uma entrevista. Ainda, as regras utilizadas na escrita quase sempre não são as mesmas que você usa ao falar. Assim, partindo de uma acepção ampla de comunicação por meio de diferentes linguagens, concluímos que a transmissão de mensagens por meio de palavras – a linguagem verbal – pode variar e adaptar-se às situações de uso, considerando a formalidade ou informalidade e a oralidade ou escrita. Dessa forma, quanto maior a intimidade entre emissor e receptor, menor a formalidade e, portanto, a preocupação com a aderência à norma-padrão da língua. Há também que se considerar que existem diferenças na produção do sentido em textos orais e escritos. Normalmente, na fala admitem-se certas repetições e expressões menos exatas, pois a comunicação oral conta com o suporte do contexto de enunciação, como a entonação e, muitas vezes, as expressões faciais e corporais. Na escrita, contudo, há maior necessidade Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto11/200 de clareza e concisão, já que o interlocutor normalmente não está presente no ato de contato com o texto. É importante ressaltar que as seleções do vocabulário, bem como o estilo utilizado em cada contexto comunicacional, denotam a intenção do emissor e deles depende a interpretação do receptor. 1.2 Discurso e enunciação Se a comunicação por meio da linguagem verbal se constitui em cada comunidade linguística pelo conhecimento comum dos falantes de um determinado sistema a que se chama língua, a sua prática efetiva é o que se chama discurso. O discurso, que é a língua em ação, é dinâmico e intimamente ligado ao contexto de produção. Ao contrário da língua e dos signos linguísticos, que são historicamente condicionados e relativamente estáticos. Ou seja, as variações no uso da língua acontecem o tempo todo e dependem dos perfis dos falantes e das situações de uso, porém a sua normatização e o significado dicionarizado dos signos permanecem “oficiais” por longos espaços de tempo. Todo discurso é, portanto, um ato de enunciação. É o resultado do conhecimento prévio de um enunciador (emissor, falante) sobre uma determinada língua somado a uma situação particular de comunicação em que esse conhecimento é posto em prática. Sempre que você se pergunta o que alguém “quis Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto12/200 dizer” com uma determinada mensagem, trata-se de uma pergunta sobre a enunciação. Portanto, a enunciação está relacionada à intenção do emissor em relação à interpretação que o receptor fará de sua mensagem. Disso conclui-se que todo texto é o produto de uma enunciação. 2 A produção do texto escrito Todo texto resulta de um comportamento verbal concreto, ou seja, está situado em um contexto “físico” relacionado às coordenadas espaciotemporais de um agente. Assim, é sempre o produto de quatro parâmetros precisos: a. o lugar de produção; b. o momento de produção; c. o emissor; d. o receptor. Na oralidade, ou seja, nas situações de fala, via de regra emissor e receptor situam-se no mesmo local ou em proximidade suficiente para que se possa considerar o receptor um Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto13/200 coprodutor ou interlocutor. Na escrita, ao contrário, as coordenadas espaciotemporais do emissor e do receptor não coincidem, de modo que o receptor não age como interlocutor, salvo em situações em que é possível redigir respostas, como é o caso de cartas, fóruns e espaços para comentários. Assim, pode-se dizer que, depois de escrito, o texto possui uma existência independente do autor. Entre o contexto de escrita de um texto e o de sua leitura, é possível haver uma lacuna temporal imensa, de modo que as circunstâncias de escrita e leitura sejam bastante diferentes, o que interfere na produção de sentido. 2.1 As propriedades do texto Como foi dito, a essência do sentido etimológico da palavra texto se mantém. Ou seja, um texto não é um aglomerado indistinto de sentenças, ou um amontoado ou soma de frases. Para que se constitua como unidade textual, é preciso que haja um encadeamento semântico. Ou seja, é preciso que as sentenças estejam ligadas e possuam relação de sentido entre si. Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto14/200 Existem propriedades que garantem o relacionamento semântico entre as partes do texto e, com isso, a construção do seu sentido global. A coesão textual é a principal responsável pela textualidade, ou seja, pelo encadeamento semântico em um texto. É por meio do uso adequado de conectivos que um texto se torna fluido e organizado, sem repetições desnecessárias de palavras, o que contribui para a coerência textual. O uso adequado dos procedimentos coesivos costuma ocorrer sem grandes dificuldades na fala, sobretudo quando se considera a maior tolerância às repetições nessa situação de comunicação. Para saber mais Para saber mais sobre a norma gramatical no universo da produção textual, aprofundando seus conhecimentos sobre as noções de língua, linguagem e semântica, leia o capítulo “Teoria Gramatical” da Moderna Gramática Brasileira, de Evanildo Bechara. A fim de compreender melhor os mecanismos de coesão textual que garantem o correto encadeamento semântico das partes do texto, consulte a consagrada obra Para entender o texto, de José Luiz Fiorin e Francisco Platão Savioli. Ambas constam nas referências bibliográficas desta aula. Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto15/200 Na escrita, entretanto, é preciso lançar mão de estratégias: A coesão pode ser feita com uso de pronomes, verbos, numerais, advérbios, em um processo chamado coesão por retomada ou antecipação, como no exemplo: O jornalista não conseguiu entrar em contato com a assessoria de imprensa. Eles não atenderam ao telefone. O pronome “eles” retoma a expressão “assessoria de imprensa”. A coesão também pode ser feita com o uso de sinônimos (hiperônimos), substantivos, adjetivos e verbos, no processo chamado retomada por palavra lexical. Exemplo: Carlos não conseguiu chegar a tempo para realizar a prova. O estudante perdeu o ônibus. O hiperônimo “estudante” retoma o termo “Carlos”. A estratégia coesiva em geral mais passível de erros é a chamada coesão por encadeamento de segmentos textuais, ou seja, a ligação entre as partes do texto por meio de conectores ou operadores discursivos. Os mais conhecidos são: então, portanto, já que, no entanto, mas, porque, ora, assim, daí, dessa forma, isto é. Mas há vários outros. Cada operador estabelece um tipo de relação de sentido entre as partes do texto, de modo que, quando usados de maneira Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto16/200 inadequada, comprometem a coerência textual. Há operadores que marcam: 1. Gradação, como: até, até mesmo, no máximo, quando muito etc. 2. Relação de conjunção argumentativa, ou seja, argumentos em favor de uma conclusão, como: e, também, ainda, nem não só, mas também, tanto... como, além de, além disso etc. 3. Relação de disjunção argumentativa, ou seja, que levam a conclusões opostas, como: ou, ou então, caso contrário, seja... seja etc. 4. Relação de conclusão, como: portanto, logo, por conseguinte. 5. Relação de comparação, como: tanto quanto, mais que, menos que. 6. Explicação ou justificativa, como: já que, pois, que. 7. Relação de contrajunção,ou seja, contrapõem enunciados, como: mas, contudo, todavia, porém, entretanto, no entanto, porém. Ou relações de concessão como: embora, ainda que, mesmo que, apesar de que. 8. Introdução de argumento decisivo, como: aliás, além de tudo, ademais. 9. Generalização ou amplificação, como: de fato, realmente, é verdade que. 10. Introdução de exemplos, como: por exemplo, como. Entre outros. Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto17/200 Já a coerência textual é a responsável pela lógica interna do texto. É preciso que os argumentos caminhem semanticamente em uma única direção, de modo que as informações presentes no texto mantenham-se coerentes. É por meio da coesão e coerência textuais que se garante a adequada textualidade sem a qual o sentido global do texto fica comprometido. 2.2 Escrita e leitura: sistemas de produção e processamento textual Conforme referido na introdução desta disciplina, o gênero textual que dá conta da produção e divulgação do pensamento científico possui uma natureza bastante específica. É por meio dele que informações e saberes resultantes da prática acadêmica tornam-se públicos, de modo que, além das propriedades descritas anteriormente, é ainda necessário que haja adequação do texto à realidade de leitura, ou seja, ao perfil dos receptores (enunciatários, leitores) e ao seu contexto de leitura. Dessa forma, assim como se deve considerar nas demais produções textuais, na redação do texto científico é necessário considerar que seus leitores colocarão em ação diversas estratégias cognitivas. De modo geral, o processo de interpretação (decodificação) e construção de sentido na leitura de um texto evoca Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto18/200 três conhecimentos necessários ao leitor: O conhecimento linguístico, da ordem do conhecimento gramatical e lexical, é o conjunto de saberes relativos ao uso da língua na qual se estabelece o processo comunicacional. Trata-se do reconhecimento, por parte do leitor, das estruturas sintáticas, repertório lexical e recursos coesivos necessários ao estabelecimento de uma interpretação semântica da malha textual. O conhecimento enciclopédico, ou “de mundo”, refere-se ao conjunto de informações espaço temporalmente situadas, bem como aqueles relativos às vivências próprias ou de terceiros, que permitem reconhecer e interpretar ações e valores presentes nos textos. O conhecimento interacional refere-se à habilidade de interação entre emissor e receptor por meio da linguagem, permitindo reconhecer objetivos e propósitos pretendidos pelo emissor, reconhecimento de informações, seleção da variante linguística e adequação do gênero textual à situação comunicativa. Ainda, dá conta das estratégias textuais relativas ao gênero em que esse se enquadra. Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto19/200 Para saber mais Para conhecer mais profundamente as estratégias de produção textual no contexto educacional, consulte o material disponibilizado pelo Ministério da Educação no Portal do professor: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000013609.pdf> Leia também o Curso de Redação, do professor Antônio Suarez Abreu, presente nas referências bibliográficas desta aula. Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto20/200 Glossário Oralidade: toda situação de comunicação que ocorre por meio da fala. A linguagem oral é, em geral, mais espontânea e informal e se caracteriza pela proximidade física entre emissor e receptor. Ainda assim, há práticas orais bastante formais, como os discursos, palestras e conferências. Semântica: é o estudo sincrônico ou diacrônico da significação como parte dos sistemas das línguas naturais, o componente do sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados no processo de comunicação. Hiperônimo: é o vocábulo relativo a um sentido mais genérico de determinada palavra, em que há a relação de continente/conteúdo. Por exemplo: “Avistei uma vaca amarelada. A linha do horizonte estava repleta de ruminantes”. Em que “ruminante” retoma o termo “vaca”. Assim, as “vacas” estão contidas no grupo de “ruminantes”. Léxico: repertório de palavras existentes numa determinada língua e que pode ser agrupado por campos semânticos, ou seja, por grandes conjuntos de sentido. Glossário Oralidade: toda situação de comunicação que ocorre por meio da fala. A linguagem oral é, em geral, mais espontânea e informal e se caracteriza pela proximidade física entre emissor e receptor. Ainda assim, há práticas orais bastante formais, como os discursos, palestras e conferências. Semântica: é o estudo sincrônico ou diacrônico da significação como parte dos sistemas das línguas naturais, o componente do sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados no processo de comunicação. Hiperônimo: é o vocábulo relativo a um sentido mais genérico de determinada palavra, em que há a relação de continente/conteúdo. Por exemplo: “Avistei uma vaca amarelada. A linha do horizonte estava repleta de ruminantes”. Em que “ruminante” retoma o termo “vaca”. Assim, as “vacas” estão contidas no grupo de “ruminantes”. Léxico: repertório de palavras existentes numa determinada língua e que pode ser agrupado por campos semânticos, ou seja, por grandes conjuntos de sentido. Questão reflexão ? para 21/200 Como você viu, o texto não é um amontoado de frases e parágrafos. Para garantir um bom entendimento da matéria textual, é necessário adequar a comunicação a uma série de fatores. Pesquise e reflita sobre que é essencial para produzir um texto claro e adequado. 22/200 Considerações Finais Em síntese, é possível entender todo o texto como a materialização de uma situação de comunicação. É preciso adequar cada mensagem ao seu contexto, em que pesam o lugar e o momento de produção, o emissor e o receptor dessa. Na linguagem verbal escrita, que é o recorte específico desta disciplina, é necessário buscar clareza, coesão e coerência, com o uso correto léxico e da norma-padrão. Unidade 1 • As questões a serem observadas na produção de um texto23/200 Referências ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. São Paulo: Ática, 2004. BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev., ampl. e atual. conforme o novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos: por um interacionismo sociodiscursivo. Tradução de Anna Raquel Machado. São Paulo: EDUC, 2012. KOCH, Ingedore V.; ELIAS, Vanda M. Ler e Compreender os Sentidos do Texto. São Paulo: Contexto, 2006. PLATÃO; FIORIN. Para entender o texto: leitura e redação. 3. ed. São Paulo: Ática, 2003. 24/200 Aula 1 - Tema: As Questões a serem observadas na Produção de um Texto – Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 0606c420da4b8f08d95c700e38c2e7cf>. Aula 1 - Tema: As Questões a serem observadas na Produção de um Texto – Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/1017b95fa34e74aa080c40481e3114d3>. Assista a suas aulas 25/200 1. Tendo em mente a tecnologia como parte fundamental do novo cenário educacional, a leitura e a escrita: a) tornaram-se práticas obsoletas; b) estão sendo adaptadas para novos modelos educacionais, como as videoaulas; c) seguem como instrumentos essenciais na universidade; d) mantêm-se nos mesmos modelos de aquisição de conteúdos da década de 1970; e) são importantes, mas não essenciais na educação. Questão1 26/200 2. A palavra texto se origina no termo latino textus, originado do verbo texere (tecer), daí ser possível afirmar que: a) textos são unidades de sentido independentes, cujo significado se constrói basicamente a partir do repertório do leitor; b) todo texto é um conjunto ordenado de palavras e frases, cujo sentido se constrói na interação entre elas, o repertório do autor e do leitor; c) em um texto, cada frase possui o seu sentido independente; d) somente consideramos textos as mensagens compostas por palavras; e) nem todo texto utiliza uma linguagem. Questão 2 27/200 3. Assinale a única alternativa correta: a) A linguagem é verbal, visual e sonora. Entretanto, não pode se realizar em todas as formas ao mesmo tempo. b) A língua é o sistema de signos empregados para comunicar. c) A linguagem verbal é composta por toda forma de comunicação que emprega palavras. d) Cores, gestos e signos são considerados linguagem verbal. e) A linguagem não verbal é apenas escrita. Questão 3 28/200 4. De acordo com a aula, a norma-padrão é: a) o conjunto de regras de uso da língua consensuais entre os gramáticos e divulgadas em manuais; b) um modelo de uso da língua baseado na gramática normativa e aceito como regra geral; c) a norma que expressa o uso da língua por parte da camada da sociedade considerada mais culta; d) o padrão de uso da língua realizado informalmente; e) um modelo de uso da língua baseado na literatura erudita. Questão 4 29/200 5. Assinale a única alternativa correta: a) No processo comunicacional, devem ser considerados para a construção de sentido somente o emissor, local e receptor. b) Eventualmente, coesão, coerência e adequação devem ser consideradas na produção do texto científico, mas não necessariamente. c) Coerência é o conjunto de operadores discursivos utilizados para dar sentido às partes do texto. d) Na produção textual, o emissor evoca três conhecimentos por parte do leitor, que são fundamentais para a decodificação e construção de sentido na leitura: o linguístico, o de mundo e o interacional. e) O conhecimento interacional refere-se às vivências do leitor. Questão 5 30/200 Gabarito 1. Resposta: C. leitura e escrita são práticas essenciais na aquisição e produção de conhecimento. Na universidade, como em outros ambientes educacionais, as novas tecnologias oferecem outras plataformas e recursos para além do papel, tinta, livros impressos etc., que ampliam o acesso aos textos e os complementam com a possibilidade de aliar imagem, som e outras estratégias sem, contudo, substituírem ou colocarem em desuso as práticas textuais tradicionais. 2. Resposta: B. a ideia de entrelaçamento, de tessitura, está intimamente ligada ao processo de produção de sentido na composição textual. Palavra a palavra, frase a frase, parágrafo a paragrafo, a depreensão de sentido no texto está ligada à habilidade de compreender a relação entre cada uma de suas partes. 3. Resposta: C. a diferença entre a linguagem verbal e a não verbal reside no emprego de palavras (em sua modalidade oral ou escrita) para a comunicação. Todas as formas de comunicação que não usam palavras são chamadas de linguagem não verbal. 4. Resposta: B. 31/200 Gabarito a norma-padrão é aquela que manifesta as regras documentadas na gramática normativa e que preza a clareza, evitando desvios, gírias, coloquialismos e outros usos da língua que não os aceitos pelos gramáticos de cada época. 5. Resposta: D. a “a” é incorreta, pois, no processo comunicacional, para a produção de sentido, há que se levar em consideração o emissor, a mensagem (o código, ou língua), o receptor, a época e o lugar em que a comunicação ocorre. A “b” é incorreta, pois coesão, coerência e adequação (de nível, de modalidade, etc.) são essenciais na produção do texto científico. A “c” é incorreta, pois, ao uso correto dos operadores discursivos, dá-se o nome de coesão textual. A “e” é incorreta, pois o conhecimento interacional está ligado à habilidade de interação entre emissor e receptor durante o processo comunicacional. 32/200 Unidade 2 O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio Objetivos a. Definir o conceito de projeto de pesquisa; b. Apresentar as etapas essenciais no planejamento da pesquisa científica; c. Apresentar o conceito de plágio na esfera da pesquisa científica. Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio33/200 Introdução Quando se pretende realizar uma pesquisa de natureza científica, o primeiro passo é redigir um roteiro pormenorizado do que se pretende realizar, desde a elaboração das etapas de coleta e análise de dados até a apresentação dos resultados obtidos. É importante também apresentar a delimitação do tema e justificar a validade e viabilidade desse, bem como apresentar as reflexões teóricas que sustentarão a sua abordagem. Dessa forma, o primeiro texto que se redige é o projeto de pesquisa. Para iniciar a redação do projeto de pesquisa, é preciso ter em mente duas coisas: 1ª – Trata-se de um texto de natureza acadêmica. Deve, portanto, seguir a norma-padrão, obedecendo rigorosamente às regras de uso da língua, ao nível formal e à impessoalidade. 2ª – Um projeto é uma proposta de trabalho. Além de conter todas as etapas previstas para a realização da pesquisa, deve ser claro e coerente, de modo que ao seu leitor não reste margem de dúvida sobre a sua exequibilidade. 1. O projeto de pesquisa A pesquisa científica não se baseia na observação inocente; é preciso ter ideias Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio34/200 preconcebidas. Nenhuma investigação parte de um olhar aleatório para o “cosmos”. Há sempre alguma espécie de interesse que motiva o pesquisador a se dedicar a algo, em detrimento das demais abordagens possíveis. Assim, antes de propor uma atividade de investigação científica, é fundamental delimitar com clareza o tema que se deseja pesquisar. Segundo Selltiz (1965, p. 33-34), “o tema geral de um estudo pode ser sugerido por alguma vantagem prática ou interesse cientifico ou intelectual em benefício dos conhecimentos sobre certa situação particular”. Ou seja, a escolha do tema está relacionada ao interesse do investigador e às vantagens que os resultados daquela pesquisa trazem à sociedade em geral e à comunidade científica em particular. Delimitar o tema permite estabelecer o recorte necessário para propor o problema de pesquisa. É fundamental, portanto, primeiramente, buscar o maior número de informações possível sobre o tema selecionado, de modo a evitar propor uma investigação que não traga contribuições relevantes, seja pela quantidade de trabalhos realizados anteriormente, seja por resvalar no óbvio, seja por não se tratar de um tema que necessite de atualizações, ou mesmo para evitar deter-se em detalhes que não têm importância. Dessa forma, é imprescindível realizar um levantamento prévio da bibliografia disponível sobre o tema, buscando Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio35/200 informações em bibliotecas, sites e outras bases de dados que disponibilizem textos científicos (livros, capítulos de livros, artigos, e resenhas) que tratam em alguma medida do tema selecionado. Há ainda a necessidade de garantir que o tema (ou assunto) escolhido seja proporcional em suas partes, ou seja, passível de se verificar com os instrumentos disponíveis ao pesquisador.É preciso que não seja demasiadamente extenso nem muito restrito e que tenha valor científico (interesse à comunidade acadêmica), além de, obviamente, ser exposto de forma clara e coerente. Portanto, durante a delimitação do tema, é importante considerar aspectos como a inovação, a atualização e a utilidade daquilo que se pretende investigar, bem como a pertinência e a exequibilidade da pesquisa. 1.1 A estrutura Como foi dito, o projeto de pesquisa é uma espécie de roteiro. É um documento destinado a propor organizadamente cada um dos passos do pesquisador. Deve, portanto, partir de um problema de pesquisa, ou seja, de uma pergunta a ser feita a partir de um tema que se deseja estudar. Qualquer questão não resolvida e que dá margem à discussão, em qualquer domínio do conhecimento, pode ser transformada em um problema de pesquisa. Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio36/200 Exemplos de problemas científicos: a. Qual é a composição da atmosfera de Vênus? b. Será que a propaganda de cigarro induz ao hábito de fumar? Como se sabe, a ciência não investiga apenas fatos, mas dúvidas que são levantadas a partir de determinados fatos. O problema de pesquisa pode ter motivações de ordem prática ou intelectual. Os de ordem prática são aqueles cujas respostas podem subsidiar determinadas ações ou predizer acontecimentos para planejar ações. Já os de ordem intelectual são voltados à exploração de objetos ou saberes pouco conhecidos ou pouco explorados especificamente, ou para a descrição de determinados fenômenos. Em ambos os casos, na maioria das vezes o problema de pesquisa resulta ou dos valores sociais do pesquisador (ligados a seus interesses ou posturas investigativas) ou dos incentivos sociais disponíveis (editais que divulgam subsídios para pesquisas em determinadas áreas), ou de ambos. Assim, definido o tema, o primeiro passo é responder a um “o que fazer?”. Um problema de investigação delimitado expressa a possível relação entre, no mínimo, duas variáveis conhecidas. É preciso que se considerem as seguintes premissas: Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio37/200 • Pergunta inteligente = que indique possíveis caminhos para o pesquisador. • Imaginação criativa + conhecimento disponível. De acordo com Kerlinger (1980, p. 35): “Um problema é uma questão que pergunta como as variáveis estão relacionadas”. Em seguida, o projeto deverá apresentar os seus objetivos gerais e específicos, ou seja, será necessário expor pontualmente a meta que o pesquisador deseja atingir. Isso se faz primeiramente, de maneira mais ampla, explicando aonde se deseja chegar com a discussão proposta e, em seguida, de maneira mais pontual, elencando os itens que compõem o problema de pesquisa. Após explanar o que se deseja pesquisar e atingir, é necessário expor a contribuição dessa pesquisa para o universo acadêmico. Essa explicação denomina-se justificativa. Na sequência, devem ser redigidas as hipóteses. Por hipótese, entende-se uma possível explicação para o problema de pesquisa que norteará todo o processo de investigação, sugerindo possíveis relações entre os fenômenos que se está estudando. Trata-se, portanto, de expor conjecturas que permitam ao pesquisador seguir em determinadas direções. Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio38/200 Convém que, a partir da exposição das hipóteses, seja redigida uma condensação, uma espécie de resenha, que apresente alguns dos textos teóricos que oferecerão sustentação para a reflexão proposta, relacionando-os à abordagem que se pretende realizar. Esta parte do projeto denomina-se fundamentação teórica. A partir da exposição desses primeiros elementos, com os quais se expõe claramente o que se deseja pesquisar e em qual direção seguir, deve-se construir um plano de trabalho, que irá apresentar um cronograma no qual se deve prever quanto tempo será destinado para o cumprimento de cada etapa do trabalho. Em seguida, deve-se explanar a forma como serão tratadas as variáveis na pesquisa. Mas o que são variáveis? Segundo José Carlos Köche, são [...] aqueles aspectos, propriedades, características individuais ou fatores mensuráveis ou parcialmente mensuráveis, através dos diferentes valores que assumem, discerníveis em um objeto de estudo, para testar a relação enunciada em uma proposição (2009, p. 112). Ou seja, as variáveis são o escopo do Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio39/200 trabalho, as diferentes informações com as quais se pretende lidar durante a pesquisa. Apresentado o escopo do trabalho, por meio da identificação das variáveis que serão trabalhadas, ou seja, do recorte proposto, deve-se descrever os métodos de coleta e análise de dados, ou seja, redigir um item denominado metodologia, destinado a explicitar a forma como serão levantados e interpretados os dados necessários para a realização da pesquisa. 2. Etapas da pesquisa Com base nas orientações expostas no tema anterior, você poderá organizar o seu projeto de pesquisa a partir, por exemplo, das etapas a seguir: • Escolha do tema. • Formulação do problema. • Revisão de literatura. • Justificativa. • Objetivos gerais e específicos. • Fundamentação teórica. • Metodologia (coleta e tabulação de dados). • Análise e discussão dos resultados. • Conclusão da análise dos resultados. • Redação e apresentação do trabalho científico. Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio40/200 A revisão da literatura Como foi dito anteriormente, logo após a delimitação do tema, é necessário estabelecer um levantamento sistemático do que já foi publicado a respeito dele. Este levantamento denomina-se revisão da literatura. Ao realizá-la, deve-se levar em consideração o que já foi publicado sobre o assunto e por quem, quais aspectos já foram abordados e as lacunas existentes na literatura. A revisão de literatura é muito importante, já que fornecerá elementos que evitem a duplicação de pesquisas sobre o mesmo enfoque do tema e favorecerá a definição de contornos mais precisos do problema a ser estudado. A justificativa Trata-se da etapa em que se pergunta sobre o “porquê” da realização da pesquisa, procurando identificar as razões da preferência pelo tema escolhido e sua importância em relação a outros temas. Pergunte-se sobre a relevância do tema e qual a razão dessa relevância, se houver. Procure saber quais os pontos positivos na abordagem proposta, bem como quais as vantagens e benefícios que sua pesquisa irá proporcionar. A justificativa deverá convencer o leitor do projeto da importância e relevância da pesquisa proposta. Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio41/200 Os objetivos Trata-se da intenção ao propor a pesquisa: sintetize o que pretende alcançar com a pesquisa. Os objetivos devem estar coerentes com a justificativa e o problema proposto. a. Objetivo geral: síntese do que se pretende alcançar; b. objetivos específicos: explicitarão os detalhes e serão um desdobramento do objetivo geral. Os objetivos informarão para que você está propondo a pesquisa, isto é, quais os resultados que pretende alcançar ou qual a contribuição que sua pesquisa irá efetivamente proporcionar. Metodologia Definirá o tipo de pesquisa, o universo da pesquisa, a amostragem, os instrumentos de coleta de dadose a forma como o pesquisador pretende tabular e analisar seus dados. Universo da pesquisa = a totalidade de indivíduos que possuem as mesmas características definidas para um determinado estudo. Amostra = parte da população ou do universo, selecionada de acordo com uma regra Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio42/200 ou plano. A amostra pode ser probabilística e não probabilística. Análise e discussão dos resultados Nessa etapa, você interpretará e analisará os dados que tabulou e organizou na etapa anterior. A análise deve ser feita para atender aos objetivos da pesquisa e para comparar e confrontar dados e provas com o objetivo de confirmar ou rejeitar a(s) hipótese(s) ou os pressupostos da pesquisa. Redação e apresentação do trabalho científico Nessa etapa, o pesquisador deverá redigir seu relatório de pesquisa: artigo, TCC, dissertação ou tese. Azevedo (1998, p. 22) argumenta que o texto deverá ser escrito de modo apurado, isto é, “gramaticalmente correto, fraseologicamente claro, terminologicamente preciso e estilisticamente agradável”. As normas de documentação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) deverão ser consultadas visando à padronização das indicações bibliográficas e à apresentação gráfica do texto. Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio43/200 As normas e orientações do próprio curso de pós-graduação também deverão ser consultadas. Para saber mais Para aprofundar seus conhecimentos na prática de redação do projeto de pesquisa, cumprindo as exigências de normalização (formatação) estabelecidas pela ABNT, consulte o artigo: <http://www.tecmundo.com.br/tutorial/59480-aprenda-usar-normas-abnt-trabalhos-academicos. htm> Leia também o Redação Científica, de João Bosco Medeiros (Atlas, 2006), e aprofunde-se nos conceitos que envolvem cada uma das etapas de elaboração do projeto. Link (2) <http://www.puc-rio.br/sobrepuc/admin/vrac/plagio.html>. Acesso em: maio 2015. <https://www.youtube.com/watch?v=x8UrA1fX754>. Acesso em: maio 2015. Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio44/200 3. Plágio Plágio é a reprodução de qualquer propriedade intelectual sem a correta citação da autoria. O plágio no universo acadêmico caracteriza-se pela citação de ideias, frases, textos completos ou fragmentos de livros, revistas, internet etc., sem o mencionar corretamente o autor que o divulgou/publicou. Comete-se plágio ao pesquisar uma fonte de dados bibliográfica e reproduzi-la em seu trabalho sem lhe dar o devido crédito, sem citar o seu autor como fonte de pesquisa. Trata-se de uma violação dos direitos autorais de outrem. Tal atitude tem implicações cíveis e penais. E o “desconhecimento da lei” não serve de desculpa, pois a lei é pública e explícita. Na universidade, espera-se que o aluno seja capaz de formular as próprias ideias, ainda que em articulação, veiculando-as com pesquisas realizadas em fontes publicadas. A habilidade de articular as próprias ideias com aquelas oriundas das fontes que compõem o instrumental teórico e o escopo da pesquisa é essencial para demonstrar amadurecimento intelectual e é, portanto, critério para a avaliação que os docentes farão desse pesquisador. Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio45/200 Tipos de plágio Garschagen (2006) aponta, pelo menos, três tipos de plágio: Integral: o “engano” de copiar literalmente o trabalho de alguém. Parcial: que ocorre quando o trabalho é um “mosaico” formado por cópias de parágrafos e frases de autores diversos, sem mencionar suas obras. Conceitual: a utilização da ideia do autor escrevendo de outra forma, porém, novamente, sem citar a fonte original. A propriedade intelectual, em qualquer de suas formas, é protegida por lei. De acordo com o Ministério da Cultura (MinC), a propriedade intelectual “lida com os direitos de propriedade das coisas intangíveis oriundas das inovações e criações da mente”. Implicações legais: Código Civil: Art. 524 “a lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de quem quer que, injustamente, os possua”. Código Penal: Crime contra o Direito Autoral, previsto nos Artigos 7, 22, 24, 33, 101 a 110, e 184 a 186 (direitos do autor formulados pela Lei 9.610/1998) e 299 (falsidade ideológica). Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio46/200 Para saber mais Para saber mais sobre as etapas da pesquisa científica e a elaboração do projeto de pesquisa, leia: Como elaborar projetos de pesquisa, de A. C Gil, presente nas referências bibliográficas desta aula. Conheça as regras de normalização de trabalhos acadêmicos consultando as NBRs da ABNT: ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro, 2011. ______. NBR 6022: Apresentação de artigos em publicações periódicas. Rio de Janeiro, 2003. ______. NBR 6024: informação e documentação: numeração progressiva das seções de um documento escrito: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. ______. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002. ______. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio47/200 Glossário Escopo: espaço, gama ou limite de operações. Intenção, alvo. Exequibilidade: característica do que é exequível, ou seja, passível de ser executado. A exequibilidade é a possibilidade de executar o que se pretende, considerando-se o contexto e as ferramentas disponíveis. Variável: elemento básico a que se podem atribuir diferentes valores e que entra na composição de um conjunto. Questão reflexão ? para 48/200 O projeto de pesquisa é uma etapa essencial para a redação de um artigo científico. A partir das etapas descritas e da importância de não se cometer o plágio, procure refletir sobre as características formais necessárias para a redação adequada de um texto dessa natureza. 49/200 Considerações Finais O projeto de pesquisa é, como se viu, um subgênero dentro do gênero texto científico. Possui características específicas, uma vez que deve atender estruturalmente à necessidade de proposição de uma investigação na esfera acadêmica. Além de exigir o cumprimento das regras de uso da modalidade formal e padrão da escrita, exige, por parte do redator, clareza, concisão e o cumprimento de cada uma das etapas descritas nesta aula. Por fim, para garantir a qualidade do projeto, é imprescindível respeitar os direitos autorais, realizando a correta citação de fontes de informação e evitando o plágio. Unidade 2 • O planejamento do trabalho acadêmico: a delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio50/200 Referências AZEVEDO, Israel Belo de. O prazer da produção científica. 7. ed. Piracicaba: UNIMEP, 1999. GARSCHAGEN, B. Universidade em tempos de plágio. 2006. Disponível em: <http:// observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=366ASP006>. Acesso em: 13 jun. 2015. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008. KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à pesquisa. 26. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2007. MEDEIROS, João Bosco. Redação científica.São Paulo: Atlas, 2006. SELLTIZ et al. Métodos de Pesquisa nas Relações Sociais. São Paulo, EPU, 1965. 51/200 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: O Planejamento do trabalho acadêmico: A delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio – Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/8a3aa2c23c2d4a4a0a3056c517586f49>. Aula 2 - Tema: O Planejamento do trabalho acadêmico: A delimitação do tema, as etapas da pesquisa e o plágio – Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ce- f650a71df89decc6ae022067b9117e>. 52/200 1. No universo da redação científica, a principal função do projeto de pesquisa é: a) apresentar os resultados obtidos; b) ser uma ferramenta precisa de coleta de dados; c) divulgar para a comunidade acadêmica o que já foi publicado sobre determinado tema; d) propor uma pesquisa científica, explicitando cada uma das etapas que se pretende cumprir; e) ser uma ferramenta inovadora para a análise dos dados. Questão 1 53/200 2. Em relação à delimitação do tema, é possível afirmar que: a) tema e problema são a mesma coisa; b) a viabilidade e exequibilidade não são relevantes; c) a inovação, utilidade e atualização são aspectos a serem considerados; d) nem todo tema deve, necessariamente, contribuir para o pensamento científico; e) não há necessidade de levantar a bibliografia já existente sobe o tema; isso será feito durante a pesquisa. Questão 2 54/200 3. Um problema de pesquisa é: a) uma questão resolvida da qual se discorda; b) a resposta a uma questão que se deseja estudar; c) algo que independe da curiosidade do pesquisador ou de subsídios preexistentes; d) uma parte opcional na redação do projeto; e) uma pergunta a ser feita a partir de um tema que se deseja estudar. Questão 3 55/200 4. Por hipótese entende-se uma possível explicação para o problema de pesquisa. Portanto, é correto afirmar que: a) as hipóteses expõem conjecturas que permitem ao pesquisador seguir em determinadas direções; b) as hipóteses são parte facultativa do projeto de pesquisa; c) as hipóteses não devem ser comprovadas na análise de dados, sob o risco de se cometer plágio; d) as hipóteses buscam responder aos questionamentos presentes na bibliografia preliminar; e) as hipóteses funcionam como um contra-argumento à justificativa. Questão 4 56/200 5. Sobre o plágio, só é incorreto afirmar que: a) comete-se plágio ao pesquisar uma fonte de dados bibliográfica e reproduzi-la em seu trabalho sem lhe dar o devido crédito; b) a propriedade intelectual, em qualquer de suas formas, é protegida por lei; c) ao alegar o desconhecimento da lei, o autor do plágio pode conseguir atenuar a penalidade imposta a quem comete este tipo de crime; d) na universidade, espera-se do aluno que este seja capaz de formular as próprias ideias; e) o plágio parcial ocorre quando o trabalho é um “mosaico” formado por cópias de parágrafos e frases de autores diversos, sem mencionar suas obras. Questão 5 57/200 Gabarito 1. Resposta: D. o projeto de pesquisa é o texto destinado a apresentar um roteiro de investigação que se deseja realizar a um orientador, departamento ou agência de fomento. 2. Resposta: C. quando se delimita um tema de pesquisa, é muito importante considerar o que já foi publicado sobre ele, de modo a avaliar a questão da inovação na abordagem do tema, bem como a necessidade de atualização. Além disso, é importante refletir sobre a utilidade desse tema no universo da pesquisa acadêmica, já que determinados temas, embora curiosos, não contribuem diretamente para a construção de saberes. 3. Resposta: E. o problema de pesquisa é a pergunta a respeito do tema escolhido que norteará todo o percurso da investigação. 4. Resposta: A. as hipóteses são as respostas possíveis, inferidas, que são levantadas a partir do problema de pesquisa e indicam o direcionamento que a pesquisa receberá. 5. Resposta: C. não há qualquer atenuante para a 58/200 alegação de desconhecimento por parte do autor do plágio. Independentemente do conhecimento prévio acerca da obra plagiada, ao não citar o seu autor original, configura-se o desrespeito aos direitos autorais. Gabarito 59/200 Unidade 3 O processo de seleção das referências bibliográficas Objetivos a. Definir as diferentes fontes de informação; b. Entender as diretrizes de pesquisa bibliográfica; c. Explorar técnicas de levantamento e interpretação de textos. Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas60/200 1 O que são fontes de informação e como selecioná- las No universo da redação acadêmica, é imprescindível ter em mente que os dados a serem apresentados e analisados devem sempre ser originados de um universo tangível, ou seja, não se pode especular ou inferir simplesmente, conduzindo a argumentação sem o apoio de informações extraídas de dados empíricos. É preciso que a abordagem do tema parta de informações concretas, colhidas em fontes confiáveis de informação. Nesse sentido, jamais se devem inserir em um texto científico dados cuja origem não seja mencionada ou não possa ser comprovada. Daí, inclusive, a exigência da correta referência bibliográfica em cada citação realizada, pois ao referir-se com exatidão à obra e autor dos quais se origina o dado mencionado, além de preservar os direitos autorais, o pesquisador permite aos seus leitores irem às obras citadas para conferirem os dados e ampliarem a sua leitura. Se você deseja citar uma notícia veiculada em um jornal impresso ou site, por exemplo, para que ela fundamente ou reforce os seus argumentos, é essencial que a sua origem seja mencionada com precisão. Ter esse cuidado significa, neste primeiro momento, não apenas evitar que dados falaciosos sejam divulgados, mas, principalmente, garantir a seriedade de seu texto, demonstrando a lisura na Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas61/200 abordagem do tema e no desenvolvimento do problema que resultam de selecionar adequadamente os dados. Existem diferentes fontes de dados, assim como inúmeras ferramentas de coleta e análise. De todo modo, o percurso da pesquisa que resultará no texto científico tem início com a leitura do que já foi publicado acerca do tema selecionado, seja em fontes impressas (livros e periódicos) ou digitais. 1.1 A pesquisa bibliográfica O primeiro passo para estruturar um texto que propõe ou divulga uma pesquisa científica deve ser levantar e avaliar o que já foi publicado sobre o tema escolhido e, mais especificamente, quais os dados textuais disponíveis para subsidiar teoricamente o problema de pesquisa proposto. Assim, o principal objetivo de uma pesquisa bibliográfica – aquela cujos dados são oriundos de fontes publicadas – é levantar um histórico sobre o tema para, em seguida, obter informações atualizadas sobre o que se deseja pesquisar. Isso significa consultar bases de dados, bibliotecas (físicas e virtuais) e referências bibliográficas presentes em trabalhos publicados, selecionando obras e volumes que possam estar relacionados ao tema. Após o levantamento das fontes de dados bibliográficas que permitem avaliar o Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas62/200 status do tema pesquisado no universo acadêmico e a seleção das obras que melhor podem embasar a discussão proposta pelo problema de pesquisa, a leitura dos dados bibliográficos pode também indicar as respostas ao problema, ou seja, pode também ser fonte paraa confirmação ou não das hipóteses, levantando contradições ou reiterando o posicionamento do pesquisador. Quanto maior, mais coerente e exata for a base de dados bibliográficos que corrobora as hipóteses, melhor e mais fundamentada será a pesquisa. Ainda assim, um trabalho bem elaborado leva em consideração argumentos que refutam a hipótese, expondo-os e estabelecendo, assim, uma discussão consistente. Outra importante função do levantamento bibliográfico é evitar a repetição de trabalhos já realizados, permitindo ao pesquisador a proposição de um novo recorte ou abordagem do escopo quando o problema original já estiver saturado de publicações e não necessitar de atualizações. Por fim, cabe ressaltar a importância das fontes bibliográficas como subsídios para a redação do texto científico, sobretudo quando oferecem argumentos de autoridade, extraídos de autores consagrados nos campos do saber elencado para a pesquisa em questão. Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas63/200 1.2 Tipos de fontes bibliográfi- cas Como você viu, a pesquisa bibliográfica é aquela cuja fonte de dados são textos publicados. Tais publicações podem ser de diferentes tipos, desde os livros completos, capítulos de livros, artigos publicados em periódicos científicos, revistas, jornais até sites e portais. Seja qual for a plataforma que divulga os textos dessa natureza, a depender da originalidade das informações que eles apresentam, são divididos em três categorias: Fontes primárias são aquelas que contêm trabalhos originais, cujo conhecimento é original. Além disso, são aquelas publicadas pela primeira vez pelos autores. Podem ser livros, periódicos, artigos, jornais etc. Já as fontes secundárias contêm trabalhos não originais e que basicamente citam, revisam e interpretam trabalhos originais: são resumos, traduções, resenhas, por exemplo. As fontes terciárias são as que contêm índices categorizados de trabalhos primários e secundários, com ou sem resumo: são os estudos recapitulativos. 1.3 Fases da pesquisa bibliográfica Ao dar início à coleta de dados por meio da fonte bibliográfica, o pesquisador deve seguir algumas etapas que, findo o Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas64/200 percurso, colaborarão bastante para a estrutura do texto científico que resultará dela. Para tanto, incialmente, é fundamental determinar os objetivos da pesquisa: tratar-se-á de uma investigação sobre o que já foi publicado acerca do tema, um levantamento das teorias disponíveis para embasar a análise de dados, um levantamento de dados publicados acerca do escopo do trabalho, ou todas essas possibilidades combinadas? Uma vez determinados os objetivos, o pesquisador deverá elaborar um plano de trabalho, no qual sistematize o material com o qual pretende trabalhar, os prazos e os estilos de leitura de cada fonte. A seguir, será necessário identificar e localizar as fontes para obter o material que fornecerá os dados, ou seja, as publicações. Para tanto, é importante estar atento aos detalhamentos de cada publicação, como editora, coleção (quando houver), ano, edição etc., pois muitas obras sofrem alterações e atualizações, tanto gráficas quanto de conteúdo, de modo que as referências bibliográficas devem estar sempre precisamente relacionadas aos textos que de fato forem consultados. Da mesma maneira, materiais recolhidos de fontes digitais, sobretudo on-line, estão sujeitos a alterações e deslocamentos, de modo que as datas de acesso devem sempre constar nas referências, assim como as URLs completas, para garantir a posterior localização exata do texto-fonte. Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas65/200 Feito isso, inicia-se o percurso de leitura, que vem a ser a pesquisa bibliográfica em si. De acordo com Lima e Mioto (2007, p. 41), Salvador (1986) orienta que sejam realizadas leituras sucessivas do material para obter as informações e/ou dados necessários em cada momento da pesquisa, identificando-as como: • Leitura de reconhecimento do material bibliográfico: leitura rápida que tem o objetivo de localizar e selecionar o material que pode apresentar informações e/ou dados referentes ao tema. Trata-se do momento de incursão em bibliotecas e bases de dados computadorizadas para a localização de obras relacionadas ao tema. • Leitura exploratória: é também uma leitura rápida, mas seu objetivo é verificar se as informações e/ou dados selecionados interessam de fato para o estudo; requer conhecimento sobre o tema, domínio da terminologia e habilidade no manuseio das publicações científicas. É o momento da leitura dos sumários e de manuseio das obras para verificar a existência das informações que respondem aos objetivos propostos. • Leitura seletiva: é a que procura selecionar o material que de fato interessa, relacionando-o Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas66/200 diretamente aos objetivos da pesquisa. Momento de seleção das informações e/ou dados pertinentes e relevantes, quando são identificadas e descartadas as informações e/ou dados secundários. • Leitura reflexiva ou crítica: é o estudo crítico do material, orientado por critérios determinados a partir do ponto de vista do autor da obra, tendo como finalidade ordenar e sumarizar as informações ali contidas. É a leitura realizada nos textos escolhidos como definitivos e busca responder aos objetivos da pesquisa. Trata-se do momento de compreensão das afirmações e justificativas do autor. • Leitura interpretativa: é o momento mais complexo e tem por objetivo relacionar as ideias expressas na obra com o problema para o qual se busca resposta. Implica a interpretação das ideias do autor, acompanhada de uma inter-relação dessas com o propósito do pesquisador. Requer um exercício de associação de ideias, transferência de situações, comparação de propósitos, liberdade de pensar e capacidade de criar. O critério norteador nesse momento é o propósito do pesquisador. A partir da realização desses diferentes estilos de leitura do material, o pesquisador escolhe as ferramentas que melhor sistematizarão os dados colhidos, que Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas67/200 podem ser a tomada de apontamentos, a confecção de fichas, resumos e resenhas que, finalmente, apoiarão redação do trabalho acadêmico. 2. A seleção bibliográfica A pesquisa bibliográfica parte de um procedimento que deve ser criterioso: a sua seleção. Do universo de obras disponíveis, é necessário filtrar aquelas que, de fato, podem contribuir para o desenvolvimento da pesquisa, tanto do ponto de vista da fundamentação teórica quanto da oferta de dados. Como você viu, antes de começar a ler, é essencial elaborar um roteiro de trabalho. Ele funcionará como uma primeira estrutura do seu texto, com base nas reflexões resultantes dos vários aspectos que podem apresentar o problema de pesquisa. Tais reflexões nortearão as leituras, pois, sem uma ideia-diretriz, a estrutura não se sustenta. Portanto, antes de começar a ler a bibliografia, é preciso ter em mente as grandes linhas que serão os pilares do trabalho. Esses pilares surgem, em geral, da intuição do próprio pesquisador, ou são sugeridos pela tese a ser defendida, a partir do problema, de sugestões do orientador ou de estudos anteriores. São essas ideias – ou pilares – que funcionam como caminhos, como Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas68/200 elementos que devem ser aproveitados na composição do trabalho. O roteiro é chamado de “provisório”, pois será reformulado ao longo da pesquisa,já que novas ideias tendem a surgir e algumas antigas podem perder a força. O plano definitivo só se estabelece ao fim da pesquisa, após a seleção dos materiais que de fato contribuem para o desenvolvimento da análise pretendida. 2.1 Bibliografia técnica e especial O objetivo da seleção técnica da bibliografia é a descrição e a classificação de livros e documentos similares, segundo critérios como autor, gênero, conteúdo, data etc., por meio dos quais é possível levantar as obras que atendem ao escopo. Dessa técnica, originam-se os boletins, repertórios e catálogos bibliográficos. São eles o ponto de partida para elaborar a bibliografia no âmbito do plano de trabalho. A partir da seleção técnica, é possível localizar as obras que especificamente dão conta da discussão proposta. Trata-se de uma escolha criteriosa, daí chamar-se a bibliografia de especial. As obras oriundas dessa técnica são especializadas no levantamento de publicações, tanto em áreas restritas quanto determinadas. Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas69/200 2.2 As bases de dados As bases de dados referenciais listam referências bibliográficas de determinados assuntos, cujo conteúdo abrange a descrição dos dados dos artigos de periódicos. Geralmente, incluem somente o resumo do artigo. As bases de dados textuais são aquelas que, além de incluir todas as informações dadas numa base referencial, dão acesso imediato ao texto completo do artigo, tais como as bases Scielo, Lilacs, Portal da Capes, Ovid. 2.3 Localização das fontes Após a etapa da pesquisa que levanta o material bibliográfico, é preciso localizar e obter o documento recuperado. Esse material pode ser obtido de diversas maneiras: a. serviço on-line: o artigo; b. bibliotecas: a revista e o livro; c. sistema de empréstimo entre bibliotecas (EEB) d. separata: junto a colega ou orientador e. pedido on-line (Comut). Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas70/200 Para saber mais Para saber mais sobre a pesquisa bibliográfica como fonte de informações, leia Metodologia do trabalho científico, de Antônio Joaquim Severino (Cortez, 2000), especialmente o capítulo III. Leia também o Como elaborar projetos de pesquisa, de Antônio Carlos Gil (Atlas, 2002), com especial atenção ao item 4.3. Links <http://www.scielo.br/pdf/rk/v10nspe/a0410spe>. Acesso em: maio 2015. <http://www.portaleducacao.com.br/administracao/artigos/34257/tipos-fontes-e-formas-de- coletas-de-dados>. Acesso em: maio 2015. Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas71/200 Glossário Empírico: baseado na experiência e na observação. Inferir: concluir, deduzir. Refutam: que constestam, desmentem, negam. Tangível: tocável, alcançável, suficientemente claro ou definido para ser percebido ou entendido. Questão reflexão ? para 72/200 Com base nas informações apresentadas sobre a etapa da pesquisa bibliográfica, estabeleça uma relação concreta entre a leitura e o desenvolvimento de um artigo científico. 73/200 Considerações Finais Como você viu, não é possível iniciar uma reflexão científica sem estar familiarizado com a pesquisa bibliográfica. Essa é uma etapa essencial não apenas por oferecer os dados que, num primeiro momento, podem ser utilizados como fontes para a análise que pretende responder ao problema de pesquisa, mas, sobretudo, por ser a etapa que dá início ao plano de trabalho, por meio da qual é possível verificar o cenário atualizado no qual o pesquisador deverá se inserir, além de oferecer as bases teóricas e metodológicas para o estabelecimento da análise. Unidade 3 • O processo de seleção das referências bibliográficas74/200 Referências GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. LAKATOS, E.M.; MARCONI, M. A. Fundamentos da metodologia científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001. LIMA, T.; MIOTO, R. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katálysis. Florianópolis, v. 10, n. esp., p. 37-45, 2007. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007. 75/200 Aula 3 - Tema: Processo de Seleção das Referências Bibliográficas – Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/2b9cfc63e6e449cba047f463d9a05c98>. Aula 3 - Tema: Processo de Seleção das Referências Bibliográficas – Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/43f- 59c3df8c551defe81603420487036>. Assista a suas aulas 76/200 1. Em relação à seleção de dados baseada na pesquisa bibliográfica, só é correto afirmar que: a) as fontes bibliográficas só oferecem dados secundários. Os dados primários devem ser colhidos em pesquisas de campo e estudos de caso; b) as fontes bibliográficas em papel oferecem dados empíricos e as digitais dão conta das teorias e métodos; c) jamais se devem inserir em um texto científico dados cuja origem não seja mencionada ou não possa ser comprovada; d) para a confecção de um artigo científico, a pesquisa bibliográfica é opcional; e) os dados publicados em livros e outros materiais não necessitam de atualizações. Questão 1 77/200 2. Qual o primeiro passo para estruturar um texto que propõe ou divulga uma pesquisa científica? a) Redigir o projeto. b) Estruturar o questionário para levantamento de dados na pesquisa de campo. c) Redigir o artigo científico. d) Levantar e avaliar o que já foi publicado sobre o tema. e) Checar as hipóteses. Questão 2 78/200 3. Assinale a única alternativa incorreta no que se refere à coleta e análise de dados de fontes bibliográficas: a) Quanto maior, mais coerente e exata for a base de dados bibliográficos que corrobora as hipóteses, melhor e mais fundamentada será a pesquisa. b) A pesquisa bibliográfica é aquela cuja fonte de dados são textos publicados. c) Livros completos ou capítulos, artigos publicados em periódicos científicos, revistas, jornais, sites e portais são exemplos de dados bibliográficos. d) Outra importante função do levantamento bibliográfico é evitar a repetição de trabalhos já realizados. e) Materiais recolhidos de fontes digitais, sobretudo on-line, são definitivos e não estão sujeitos a alterações e deslocamentos. Questão 3 79/200 4. Segundo Salvador (1986), a leitura interpretativa: a) tem por objetivo relacionar as ideias expressas na obra com o problema para o qual se busca resposta; b) procura determinar o material que de fato interessa, relacionando-o diretamente aos objetivos da pesquisa; c) é o momento mais complexo e tem por objetivo relacionar as ideias expressas na obra com o problema para o qual se busca resposta; d) é o estudo crítico do material orientado por critérios determinados a partir do ponto de vista do autor da obra, tendo como finalidade ordenar e sumarizar as informações ali contidas; e) consiste em uma leitura rápida que objetiva localizar e selecionar o material que pode apresentar informações e/ou dados referentes ao tema. Questão 4 80/200 5. Em relação às bases de dados, só não é correto afirmar que: a) o objetivo da seleção técnica da bibliografia é a descrição e a classificação de livros e documentos similares, segundo critérios como autor, gênero, conteúdo, data etc. b) os boletins, repertórios e catálogos bibliográficos são o ponto de partida para elaborar a bibliografia no âmbito do plano de trabalho; c) a partir da seleção técnica, é possível localizar as obras que especificamente dão conta da discussão proposta; d) asobras que se originam na seleção técnica e especial são especializadas no levantamento de publicações, tanto em áreas restritas quanto determinadas; e) a seleção de dados nas fontes bibliográficas não obedece a critérios que especificam obras segundo a sua relação com o tema e problema. Questão 5 81/200 Gabarito 1. Resposta: C. Sejam dados colhidos em pesquisas bibliográficas ou outras fontes, jamais se deve deixar de fazer a correta referência à sua origem e autoria. A alternativa A é incorreta, pois as fontes bibliográficas podem oferecer dados primários, secundários e terciários. A B é incorreta, pois as plataformas (impresso ou digital) não interferem na natureza dos dados divulgados. A D é incorreta, pois nenhuma pesquisa, independente do formato do seu relatório final (artigo, TCC, monografia, tese), pode ter início sem a pesquisa bibliográfica. A E é incorreta, pois, independentemente da plataforma de divulgação, dados sujeitos ao contexto (época, lugar, circunstâncias) são passíveis de alterações e a eles cabem atualizações. 2. Resposta: D. O primeiro passo, após a escolha do tema, é levantar o que há disponível sobre ele publicado. Só após essa primeira checagem é possível estabelecer objetivos e hipóteses a serem checadas. A partir delas, escreve- se o projeto e, seguidas as etapas da pesquisa, redige-se o artigo que divulga os resultados. 3. Resposta: E. Todos os textos divulgados on-line estão sujeitos a alterações e descolamentos, 82/200 que podem ser resultado de migrações de hospedagem, redesenho de sites e plataformas, atualizações de dados ou extinção de páginas. Por isso, é imprescindível citar a data de acesso nas referências. 4. Resposta: C. A leitura interpretativa implica na interpretação das ideias do autor, acompanhada de uma inter-relação dessas com o propósito do pesquisador. Requer um exercício de associação de ideias, transferência de situações, comparação de propósitos, liberdade de pensar e capacidade de criar. O critério norteador nesse momento é o propósito do pesquisador. 5. Resposta: E. A natureza técnica e especial da seleção de dados bibliográfica está diretamente relacionada à necessidade de filtrar as obras segundo a sua relação com o tema proposto. Gabarito 83/200 Unidade 4 O resumo e a resenha, o fichamento e a paráfrase Objetivos a. Apresentar e definir as diferentes técnicas de estudo na construção do saber científico: resumo, resenha, fichamento e paráfrase; b. Refletir sobre as características de coleta de informações; c. Utilizar os recursos necessários para o aprimoramento da pesquisa. Unidade 4 • O resumo e a resenha, o fichamento e a paráfrase84/200 Introdução Ao longo do processo de pesquisa bibliográfica, chega o momento em que a leitura seletiva, ou seja, o processo de identificação e seleção de obras que devem participar da estruturação do projeto e, posteriormente, fornecerem reflexões, métodos e dados para o desenvolvimento da investigação, demanda o uso de técnicas de registro e organização do montante de informações levantadas, de modo que seja possível retornar a elas e aprofundar-se de acordo com as necessidades resultantes do andamento do projeto. Dessa maneira, é essencial criar métodos para registro e organização das leituras realizadas, que podem variar de acordo com as especificidades de cada investigação, bem como com o perfil do pesquisador. Assim, este é o momento de você conhecer as principais estratégias de síntese e análise de dados bibliográficos. 1. Resumo e Resenha 1.1 O resumo Partindo-se do princípio de que a memória humana seleciona certas informações e apaga outras, num processo de seleção intrinsecamente ligado às motivações que são próprias Unidade 4 • O resumo e a resenha, o fichamento e a paráfrase85/200 ao sujeito e de suas características pessoais, não se pode apostar na leitura apenas como a garantia de absorção e armazenamento dos dados que serão evocados para a realização da reflexão necessária no processo interpretativo que compõe a prática de pesquisa. O resumo é, portanto, uma forma de reunir e apresentar por escrito, de maneira concisa, coerente e, frequentemente, seletiva, as informações básicas de um texto preexistente. É a condensação de uma situação, cena, fala ou texto escrito, pondo-se em destaque os elementos de maior interesse e importância. Pode-se dizer, portanto, que se trata do resultado de um processo mental de compreensão, desencadeado por meio da exposição a uma situação de comunicação. A finalidade do resumo é, basicamente, difundir as informações contidas em livros, artigos ou outros documentos, bem como auxiliar o(a) estudante e / ou profissional nos seus estudos teóricos. Para realizar um resumo, é necessário cumprir algumas etapas: Todo resumo deve ser precedido da completa referência bibliográfica, de modo que, ao manuseá-lo, seja sempre simples localizar a que obra ele se refere. Em relação à sua dimensão, o resumo deve corresponder, em geral, a 1/3 do da extensão do texto original. Via de regra, notas e comunicações devem ter até 100 palavras, monografias e artigos até Unidade 4 • O resumo e a resenha, o fichamento e a paráfrase86/200 250 palavras e relatórios e teses até 500 palavras. Ao começar a escrever, primeiramente, deve-se apresentar de forma sucinta o assunto, sendo seletivo e evitando repetir as ideias essenciais. É importante evitar transcrições e, quando o fizer, apresentá-las entre aspas, sempre respeitando a ordem das ideias apresentadas. Do ponto de vista do estilo, é necessário empregar a norma-padrão, buscando uma linguagem clara, coesa, coerente e concisa. Outro aspecto essencial na redação do resumo é manter-se fiel às ideias do autor, empregando expressões do texto só quando se fizer necessário. O resumo deve ser composto de uma sequência de frases interligadas e não de uma enumeração de tópicos, que o transformaria numa simples lista. É importante também evitar expressões como “o autor disse”, “o autor falou”, “segundo o autor”, “de acordo com o livro”. 1.1.1 Tipos de resumo O resumo indicativo ou descritivo é aquele que faz referência às partes mais importantes do texto. Em geral, descreve apenas a natureza, forma e propósito da obra. Dispensa comentários e juízos de valor e não dispensa a leitura do texto- fonte. Já o resumo informativo ou analítico é o Unidade 4 • O resumo e a resenha, o fichamento e a paráfrase87/200 que contém todas as informações principais apresentadas no texto, dispensando sua leitura prévia. Por fim, o resumo informativo/indicativo informa o conteúdo e as principais ideias do autor, mostra os objetivos e o assunto, os métodos e as técnicas, os resultados e as conclusões. Não apresenta, contudo, julgamentos de valor e comentários pessoais. 1.2 A resenha Resumo crítico, recensão crítica ou resenha crítica é o texto que contém um resumo das informações seguido de avaliação do autor. A resenha vem a ser, portanto, uma síntese seguida de comentário da obra a que se refere. Em geral, ela é feita para revistas especializadas de diversas áreas da ciência, arte e filosofia e tem o objetivo de permitir ao pesquisador realizar uma seleção bibliográfica com o auxílio da avaliação de um especialista na área sobre a qual o texto discorre. Para elaborar uma resenha completa, o ideal é seguir um roteiro que contenha os seguintes tópicos: 1. Referência do autor Unidade 4 • O resumo e a resenha, o fichamento e a paráfrase88/200 2. Credenciais do autor Informações gerais sobre o autor. Autoridade no campo científico? Quem fez o estudo? Quando? Por quê? Em que local? 3. Conhecimento