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A Busca e Uso da Informação

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CHOO, Chun Wei. Como ficamos sabendo – um modelo de uso da informação. In: ______. A Organização do Conhecimento. São Paulo: SENAC, 2006.
RESUMO
Coletar informações é algo fabuloso. Tal fato pode ser exemplificado através dos relatos da descoberta da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick em 1953. A capacidade especial de um completava a do outro.
Eles competiam pela conquista do Prêmio Nobel contra Linus Pauling que já havia descoberto a estrutura básica da molécula de proteína. A única coisa que Watson e Crick sabiam até aquele momento era que a molécula do DNA tinha a forma de um espiral regular.
Em 1951, em viagem ao sul da Itália, Watson tentara aproximar-se do que era então o principal cientista na Inglaterra a trabalhar na estrutura do DNA, Maurice Wilkins. Este por sua vez achou a irmã de Watson muito bonita e logo estavam almoçando juntos, fato este considerado como um tremendo golpe de sorte por Watson, pois se os dois dessem certo, ele poderia aproximar-se do trabalho de raios X sobre DNA de Wilkins.
No entanto, a alegria de Watson durou muito pouco, pois Wilkins não se mostrou atraído nem pela beleza de sua irmã, nem pelo seu forte interesse na estrutura do DNA.
Watson acabou trabalhando com Crick no Laboratório Cavendish, na Universidade de Cambridge. Assim, Watson e crick entraram pra o privilegiado círculo de cientistas entre os quais a informação circula por uma espécie de toque de tambores, enquanto outros aguardam a publicação de um artigo formal num jornal universitário.
Certa feita, quando Watson e Crick desenvolveram uma configuração do DNA que precisava ser verificada por meio de dados de difração de raios X, caiu nas mãos de Rosalind Franklin, cristalógrafa de Maurice Wilkins, com quem eles não mantinham exatamente as melhores relações. Conseguiram obter dados com Max Perut, chefe de Crick, que era membro de um comitê nomeado pelo Medical Research Council e os acompanhou nas atividades de pesquisa do laboratório de Randall. Como Randall queria convencer o comitê externo de que possuía um produtivo grupo de pesquisa, instruíra o pessoal a produzir um extensivo resumo de suas realizações. Esse resumo foi preparado, mimeografado e enviado a todos os membros do comitê.
O que permitiu a Watson e Crick ganhar a corrida foi a regra observada pelo bioquímico austríaco, que trabalhava na Universidade de Colúmbia, Erwin Chargaff. Essa regra dizia que as quatro bases químicas do DNA sempre apareciam em pares. De quando em quando, essa evidência um tanto obscura influenciava a direção que os dois cientistas davam à sua pesquisa, até o momento em que a estrutura em dupla hélice foi plenamente descoberta.
Esse relato nos leva a concluir que a informação e o insight nascem no coração e na mente dos indivíduos, e que a busca e o uso da informação são um processo dinâmico e socialmente desordenado que se desdobra em camadas de contingências cognitivas, emocionais e situacionais.
A busca e o processamento da informação são fundamentais em muitos sistemas sociais e atividades humanas, e a análise das necessidades e dos usos da informação vêm se tornando um componente cada vez mais importante da pesquisa em áreas como a psicologia cognitiva, estudo da comunicação, difusão de inovações, recuperação da informação, sistemas de informação, tomada de decisões e aprendizagem organizacional.
A orientação para o usuário vê a informação como uma construção subjetiva criada dentro da mente dos usuários. Embora um documento ou registro possa ser definido ou representado em referência a algo ou a algum assunto, o usuário encerra esse conteúdo objetivo num envelope interpretativo, de modo que a informação torna-se significativa, e é esse pacote de conteúdo mais interpretação que os usuários julgam valioso e útil. 
Portanto, o valor da informação reside no relacionamento que o usuário constrói entre si mesmo e determinada informação. Assim, a informação objetiva pode receber diferentes significados subjetivos de diferentes indivíduos. Enquanto a pesquisa orientada para sistemas observa o que acontece no ambiente externo para o indivíduo em termos de instrumentos, serviços e práticas, a pesquisa orientada para o usuário examina as preferências e necessidades cognitivas e psicológicas do indivíduo, e como elas afetam a busca e os padrões de comunicação da informação.
Já a pesquisa integrativa abrange todo o processo de busca e utilização da informação. Seus objetivos incluem entender a situação ou o contexto que levou ao reconhecimento da necessidade de informação, examinar as atividades de busca e armazenamento da informação e analisar como a informação é utilizada para resolver problemas, tomar decisões e criar significado. O pressuposto é que o estudo sobre a necessidade da informação e como essas necessidades são percebidas, representadas, definidas e vivenciadas. Também é importante estudar como a informação obtida é usada, entender como a informação ajuda o usuário e avaliar os resultados do uso, inclusive seu impacto, seus benefícios e sua contribuição para a noção de eficiência ou desempenho. A pesquisa integrativa vê a busca de informação como um processo dinâmico, que se constitui das ações e necessidades do indivíduo, assim como das características físicas e sociais do ambiente no qual o indivíduo reúne e usa a informação.
Uma importante pesquisa para definir um modelo abrangente de busca de informação foi empreendida por Saracevic e outros autores. O objetivo do projeto, planejado para vários anos, era enumerar formalmente todos os elementos importantes que caracterizam as atividades de busca e armazenamento da informação. Quarenta perguntas foram pesquisadas, cada uma por nove pesquisadores. O modelo proposto de busca e armazenamento da informação foi elaborado em sete principais etapas:
O usuário tem um problema a resolver (características do usuário, declaração do problema).
O usuário procura resolver o problema formulando uma pergunta e iniciando uma interação com um sistema de informação (declaração da pergunta, característica da pergunta).
Interação de pré-investigação com um pesquisador intermediário, humano ou computador (características do pesquisador, análise da pergunta).
Formulação de uma busca (estratégia de busca, características da busca).
Atividade de busca e interações (busca).
Entrega das respostas ao usuário (itens armazenados, formatos despachados).
Avaliação das respostas pelo usuário (relevância, utilidade).
A análise dos dados empíricos mostrou que “os modelos sugeridos foram aprovados, ou seja, os elementos sugeridos pelos modelos apresentaram uma significativa relação com os resultados armazenados”.
Quanto aos estudos centrados no usuário e orientados para tarefas, estes adotaram uma perspectiva psicológica da comunicação científica que enfatizou a interação entre o cientista e seu ambiente (do qual os outros cientistas são um elemento importante). Cada cientista leva para cada situação um conjunto de atributos psicológicos, ou seja, seu estilo, sua subjetividade, sua tendência, tudo desempenha um papel importante na maneira como ele seleciona, retém e usa a informação obtida na pesquisa.
Foi precisamente essa diferença na observação, seleção e interpretação de diferentes cientistas que permitiu o progresso da ciência.
Os estudos sobre necessidades e usos da informação contribuíram significativamente para que se possa entender como as pessoas buscam a informação. Inovações foram introduzidas para promover o intercâmbio e simplificar o acesso à informação.
Vejamos algumas observações de caráter geral:
As necessidades e os usos da informação devem ser examinados dentro do contexto profissional, organizacional e social dos usuários.
Os usuários obtêm informações de muitas e diferentes fontes, formais e informais. As fontes informais, inclusive colegas e contatos pessoais, são quase sempre tão ou mais importantes que as fontes formais, como bibliotecas ou bancos de dados on-line.Um grande número de critérios pode influenciar a seleção e o uso das fontes de informação. As pesquisas descobriram que muitos grupos de usuários preferem fontes locais e acessíveis, que não são necessariamente as melhores.
Quanto aos estudos integrativos e centrados no usuário, acredita-se que os indivíduos estão constantemente construindo seu mundo social a partir do mundo de aparência que os cerca. As necessidades de informação nascem dessas tentativas de dar sentido ao mundo. A busca de informação “quase sempre é frustrada em algum grau, devido à divisão entre os significados incorporados nos sistemas de informação e o sentido altamente pessoal do problema daquele que busca a informação”. As necessidades pessoais podem ser psicológicas, emocionais ou cognitivas. Os papéis profissionais e as necessidades pessoais são influenciados pelo ambiente de trabalho, e têm dimensões socioculturais, político-econômicas e físicas.
Em suma, a pesquisa indica que, ao longo dos anos, os estudos sobre necessidades e usos da informação ampliaram progressivamente sua orientação e seu foco. Portanto, vemos um movimento que abandona a pesquisa primordialmente orientada para sistemas e tarefas e se orienta para a pesquisa mais integrativa e mais centrada no usuário.
		
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