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UNIVERSIDADE PAULISTA – CAMPUS FLAMBOYANT CURSO DE DIREITO Mônica Augusta Barbosa Silva R.A: C672521 TEORIA DAS PENAS Redução da maioridade penal no Brasil GOIÂNIA 2016 UNIVERSIDADE PAULISTA – CAMPUS FLAMBOYANT CURSO DE DIREITO Aluno: Mônica Augusta Barbosa Silva R.A: C672521 TEORIA DAS PENAS Redução da maioridade penal no Brasil Trabalho entregue à Universidade Paulista, como parte das exigências para a obtenção de nota de NP2, do 4° período do curso de Direito/noturno. Goiânia, 17 de novembro de 2016. _______________________________ Profº. Tito do Amaral GOIÂNIA 2016 SUMÁRIO Introdução ......................................................................................................... 4 1. Evolução e contexto histórico da maioridade penal no Brasil ........................ 5 1.2. A partir do Código Penal de 1940 .................................................... 6 2. Aspectos contrários à redução da maioridade penal ..................................... 8 3. Aspectos favoráveis à redução da maioridade penal .................................. 10 Conclusão ....................................................................................................... 13 Referências ..................................................................................................... 14 4 INTRODUÇÃO O tema “redução da maioridade penal no Brasil” têm sido estopim para diversas discussões acaloradas, envolvendo diversos segmentos da sociedade, desde os sociais, jurídico e político, sendo que o último não é producente à sociedade, principalmente com relação a políticas públicas voltadas aos menores e a família destes. Nosso sistema penitenciário também não se situa entre os melhores do mundo. A superlotação nos presídios e as precárias situações destes, dificulta a situação para a discussão da redução da maioridade penal. Mas em detrimento disto, grande parte da população leiga almeja esta redução, acreditando ser uma das medidas a ser instituída para conter a criminalidade. Este trabalho tem como objetivo trazer um maior esclarecimento sobre esta temática, inclusive sobre a ótica jurídica, exemplificando diversos argumentos inclusive, com base na opinião de juristas e doutrinadores, que divergem sobre a possibilidade da redução, e também sobre os resultados que seriam alcançados. Inicialmente, farei um breve histórico sobre como a maioridade penal era tratada nos códigos anteriores, bem como o critério utilizado para se definir a imputabilidade (biopsicológico). Tendo conhecimento disto, será analisada a evolução da maioridade penal após o Código Penal de 1940, ainda vigente; e o novo critério adotado para a imputabilidade penal (biológico). Por fim, serão apresentados argumentos de lados opostos: contrários e favoráveis à redução da maioridade penal, usando da opinião dos juristas e doutrinadores mencionados acima, considerando a realidade atual de nosso país. Este debate revela-se extremamente importante, visto que os mais leigos (sociedade em geral) apenas acreditam que menores de idade cada vez cometem mais crimes, não considerando toda a realidade que ocorre em torno deste tema. 5 1. EVOLUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL Segundo o sistema jurídico vigente em nosso país, a maioridade penal se dá aos 18 anos completos de idade. Essa norma encontra-se inscrita em três dispositivos: no artigo 27 do Código Penal; no artigo 104 caput do Estatuto da Criança e do Adolescente; e no artigo 228 da Constituição Federal. Mas nem sempre a maioridade penal ocorreu aos dezoito anos em nosso país. O primeiro código penal brasileiro surgiu em 1830, após a Proclamação da Independência. Segundo Bastos (2000): “O nosso Código Criminal de 1830 distinguia os menores em quatro classes, quanto à responsabilidade criminal: a) os menores de 14 anos seriam presumidamente irresponsáveis, salvo se se provasse terem agido com discernimento; b) os menores de 14 anos que tivessem agido com discernimento seriam recolhidos a casas de correção pelo tempo que o juiz parecesse, contanto que o recolhimento não excedesse a idade de 17 anos; c) os maiores de 14 anos e menores de 17 anos estariam sujeitos às penas de cumplicidade (isto é, caberia dois terços da que caberia ao adulto) e se ao juiz parecesse justo; d) o maior de 17 anos e menor de 21 anos gozaria da atenuante da menoridade.”1 Em 1889, com o advento da República, surgiu o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, Decreto nº. 847, de 11 de outubro de 1890, chamado de Código Republicano. Seu art. 27, §1º dizia que somente seria irresponsável penalmente os menores com idade até 9 anos. Segundo este Código, haveria a aplicação do critério biopsicológico, baseando-se no discernimento e possível conhecimento do agente. Saraiva (2003): “Ao final do século XIX, a imputabilidade penal era alcançada aos quatorze anos, podendo retroagir aos nove anos, de acordo com o ‘discernimento’ do infrator.”2 Com a evolução do ordenamento jurídico brasileiro, surgiu em 1921 a Lei 4.242, que eliminou o critério biopisicológico, e fixou a idade de 14 anos como 1 BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra da Silva, Comentários a Constituição do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. 2 ed Atual. São Paulo: Saraiva, 2000 v VIII. 2 SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente em conflito com a lei: da indiferença à proteção integral: uma abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. 6 sendo a mínima para que um indivíduo responde a processo penal. Posteriormente, em 1927 foi criado o Decreto nº 17.943, o primeiro Código intitulado como Código de Menores, composto de 123 artigos, conhecido como Código Mello Mattos, realizado por uma comissão chefiada pelo jurista José Cândido de Mello Matos, no qual visava além da proteção da criança que antes estava desprotegida a repressão aos crimes cometidos na época por crianças e adolescentes ou infanto-juvenil.3 O Código de Menores trazia diversas novidades em relação ao que era usado anteriormente, e fazia três tipos de classificações: os menores de 14 anos, que não eram submetidos a nenhum processo; os maiores de 14 e menores de 18, que não eram sujeitos ao processo penal e sim a um processo especial, tendo em vista que o critério do discernimento foi abolido, e os maiores de 16 e menores de 18 anos, autores de crime grave ou considerados indivíduos perigosos. 1.2. A partir do Código Penal de 1940 O Código Penal de 1940 (Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940) fixou a idade de 18 anos como sendo mínima para que um indivíduo sofresse um processo penal. No entanto, em 1963, foi proposto pelo Ministro Nelson Hungria o Projeto Hungria, trazendo em seu artigo 33 a incorporação do critério biopsicológico, sendo permitida a imposição de pena aos que se encontrassem entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito), se caso tivessem opera do com discernimento, sendo a pena aplicável reduzida de um terço até a metade. Havia assim, uma presunção relativa de inimputabilidade. Todavia, o referido projeto não se tornou lei. Anos depois, foi proposto um novo Código Penal, pelo Decreto-Lei 1.004 de 21 de outubro de 1969. Foi adotado neste código a proposta de Hungriatentando-se retomar o critério biopsicológico, contudo, este foi revogado antes mesmo de entrar em vigor, desta forma, a imputabilidade 3 ROCHA, Sidnei Bonfim da. A redução da maioridade penal. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 112, maio 2013. Disponível em: <http://ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13332&revista_caderno=12>. Acesso em 16/11/16. 7 penal continuou na forma determinada pelo Código Penal de 1940, isto é, em 18 anos, sendo os menores submetidos à legislação especial.4 Em 1979 surgiu a Lei nº. 6.697, que estabeleceu um novo Código de Menores, abordando uma questão antes ainda não mencionada: a sua “situação irregular”. Desta forma, o artigo 2º deste referido código compreendeu não somente o menor infrator, mas também aquele abandonado, não se fazendo qualquer distinção entre eles, a vítima de maus tratos ou castigos, em perigo moral, o menor em abandono jurídico, e o menor com desvio de conduta em razão de inadaptação familiar ou comunitária. Nesta lei, foram também abordadas questões preventivas, com o intuito de tirar os menores de situações em que poderiam cometer atos ilícitos, que foram chamadas de medidas de vigilância. Anos depois, em 1988 veio à tona a Constituição Federal do Brasil, ainda hoje vigente, que dispõe, em seu artigo 288: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.”5 A legislação especial a que faz referência, se tornou vigente a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sob a Lei Federal n° 8069/90, que dispõe sobre as sanções para os menores de dezoito anos. De acordo com diversos estudiosos, os menores de idade não cometem crimes, justamente por terem tratamento diferenciado. Àcerca disto, Cury comenta: “Por serem inimputáveis, a criança ou o adolescente jamais cometem crimes ou contravenções, incorrendo tão só em ato infracional, caso adotem conduta de tipicidade objetivamente idêntica. O cotejo entre o comportamento do menor e aquele descrito como crime ou contravenção atua apenas como critério para identificar os fatos possíveis de relevância infracional, dentro da sistemática do Estatuto da Criança e do Adolescente. Exatamente porque não se cogita de crime ou de contravenção, ao menor infrator não se aplicam penas, porém medidas outras de cunho educativo e protetivo, sem critérios rígidos de duração, já que vinculadas exclusivamente à sua finalidade essencial.”6 . 4 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005.Vol.1. 5 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em 15/11/2016. 6 CURY, Munir, MARÇURA, Jurandir Norberto e PAULA, Paulo Afonso Garrido de. Estatuto da Criança e do Adolescente Anotado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. 8 2. ASPECTOS CONTRÁRIOS À REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL Conforme já visto, a maioridade penal foi, e ainda é um tema bastante controverso para diversos estudiosos, e mesmo para a população em geral. Neste tópico, veremos opiniões e aspectos contrários à redução da maioridade penal, sob diversos prismas. Para Segundo Cezar Roberto Bitencourt: “Nessa faixa etária (entre 16 e 17 anos) os menores precisam, como seres em formação, mais de educação, de formação, e não de prisão ou de encarceramento, que representa a universidade do crime, de onde é impossível alguém sair melhor do que entrou. A experiência do cárcere transforma um simples batedor de carteira em um grande marginal.”7 Outro argumento bastante importante é sobre a relação entre criminalidade e educação. Não é dúvida de que, há uma grande proporcionalidade entre um sistema de governo onde a educação funciona, e a taxa de criminalidade, principalmente dos mais jovens. Quanto a este argumento, expõe Marli Martins Mattos: “É mais eficiente educar do que punir. Educação de qualidade é uma ferramenta muito mais eficiente para resolver o problema da criminalidade entre os jovens do que o investimento em mais prisões para esses mesmos jovens. O problema de criminalidade entre menores só irá ser resolvido de forma efetiva quando o problema da educação for superado.”8 De acordo com Roberto Gurgel, é necessário um estudo mais aprofundado envolvendo a realidade social do país. “A redução da maioridade penal não é a panaceia que muitos afirmam que irá resolver o problema da criminalidade no nosso país", disse Gurgel. A proposta de redução da maioridade penal também já foi criticada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Além de considerar a medida inconstitucional, uma vez que a maioridade aos 18 anos foi consolidada na Carta Magna de 1988, Cardozo acredita que a mudança agravará a situação do sistema carcerário brasileiro, 7 BITENCOURT, César Roberto. Código penal comentado. São Paulo: Saraiva, 2002. 8 MATTOS, Marli Martins. Redução da maioridade penal. Ijuí – RS, 2015. Disponível em: < http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/3575/CORRE%C3%87 %C3%95ES%20MONOGRAFIA%202015-3.pdf?sequence=1> . Acesso em: 18/11/2016. 9 que está 50% além de sua capacidade. “Reduzir a maioridade penal significa negar a possibilidade de dar um tratamento melhor para um adolescente”, disse Cardozo. Ministros do Supremo Tribunal Federal, como Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, também já se manifestaram contra a alteração das regras sobre maioridade penal. Eles defendem, no entanto, uma aplicação mais efetiva do ECA, seja com fornecimento de melhores condições de educação, de saúde e de pleno emprego aos jovens, para evitar infrações, seja com tratamento adequado nas unidades de internação, reduzindo a reincidência e facilitando a ressocialização.9 Além dos fatos mencionados acima, o objetivo da prisão não é só punir o responsável por um crime, como também fazer a sua ressocialização, evitando- se assim, a reincidência. No entanto, nós sabemos que o sistema prisional brasileiro não coopera nesse sentido. Mattos propõe então: “O sistema prisional brasileiro não contribui para a reinserção dos jovens na sociedade, o índice de reincidência nas prisões brasileiras é de 70%. Ou seja, 7 em cada 10 ex prisioneiros voltam à cadeia. É mais provável que os jovens saiam de lá mais perigosos do que quando entraram.”10 Segundo Maristela Cristina de Oliveira, que dispõe sobre como esse assunto afeta a sociedade como um todo: “A aplicação das medidas sócio-educativas do Estatuto da Criança e do Adolescente como forma de ressocialização e de punição também é largamente defendida principalmente por cidadãos ligados aos direitos da criança e do adolescente, tanto no Brasil como em outros países. O ECA, legislação considerada exemplo para outros países, abrange a questão educacional, trabalhista, protecionista e ressocializadora do menor e apresenta soluções que, segundo estudos e pesquisas, poderiam reduzir drasticamente os crimes praticados por adolescentes.”11 9 ZAMPIER, Débora. Redução da maioridade penal é tema controverso entre juristas. In Agência Brasil. Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-07-13/reducao-da- maioridade-penal-e-tema-controverso-entre-juristas. Acesso em 14/11/2016. 10 MATTOS, Marli Martins. Redução da maioridade penal. Ijuí – RS, 2015. Disponível em: < http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/3575/CORRE%C3%87%C3%95ES%20MONOGRAFIA%202015-3.pdf?sequence=1> . Acesso em: 18/11/2016. 11 OLIVEIRA, Maristela Cristina de. Redução da maioridade penal: uma abordagem jurídica. Londrina, 2008. Disponível em: http://www.escoladegestao.pr.gov.br/arquivos/File/artigos/justica_e_cidadania/reducao_da_mai oridade_penal_uma_abordagem_juridica.pdf. Acesso em: 14/11/2016. 10 Por fim, temos o argumento do ilustre Alexandre de Moraes, em sua obra de Direito Constitucional: “Assim, o artigo 228 da Constituição Federal encerraria a hipótese e garantia individual prevista fora do rol exemplificativo do art.5°, cuja possibilidade já foi declarada pelo STF em relação ao art. 150, III, b ( ADIn 939-7 DF) e consequentemente, autentica cláusula pétrea prevista no artigo 60,§4°, IV” (...). Essa verdadeira cláusula de irresponsabilidade penal do menor de 18 anos enquanto garantia positiva de liberdade, igualmente transforma-se em garantia negativa em relação ao Estado, impedindo a persecução penal em Juízo.”12 Ademais, os menores infratores já são responsabilizados através das sanções denominadas medidas socioeducativas, dispostas no artigo 112 da legislação especial, o Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo as seguintes: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida só pode ser aplicada pelo Juiz, observando os seguintes fatores: gravidade da infração, circunstâncias do fato e capacidade do menor infrator em cumpri-la. 3. ASPECTOS FAVORÁVEIS À REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL Pode-se dizer que apenas uma minoria é favorável à redução da maioridade penal, e por isto, os argumentos para sua defesa não são muito amplos. As opiniões favoráveis concernentes a mudança da Constituição Federal e Código Penal para que os menores de idade sejam imputáveis esbarram na questão dó próprio Estatuto da Criança e Adolescente. Cerqueira e Marques, quando comentam sobre o assunto, demonstram a maneira de pensar sobre este aspecto daqueles convergentes a mudança: “O Estatuto da Criança e do Adolescente é muito benevolente, e por isso não intimida os menores. Como meio de ajuste à realidade social e de instituir instrumentos para encarar a criminalidade com vigor é necessário que se considere imputável qualquer pessoa com idade a partir de dezesseis anos de idade. O ECA, não seguiu o avanço deste 12 MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 5. Ed., São Paulo: Atlas,2005, p.2176. 11 novo centenário. É uma legislação atrasada, antiquada e obsoleta, visto que contraria o movimento do direito, que se encontra estático diante de um tema que demanda novas reflexões. Sem contar que o Estatuto fixa somente três anos como pena máxima ao menor delinquente independente da gravidade do delito que ele pratique.”13 Ainda sobre o assunto, Barbosa comenta a respeito do critério para aplicação da imputabilidade, que, conforme falado anteriormente, deixou de ser biopiscológico e passou a ser fixado na idade: “O melhor critério é o biopsicológico, considerando-se que a idade de dezesseis anos é a idade de aquisição facultativa dos direitos políticos, (...) se a mulher casada se emancipa civilmente com o casamento aos dezesseis anos e se projeto de lei visa a que o maior de dezesseis anos possa dirigir veículos, não se compreende que não possa responder pelos atos ilícitos que porventura praticar.”14 Este autor argumenta que, devido aos direitos políticos serem dados nesta idade, garantindo a cidadania aos maiores de 16 anos de idade, através de critérios biológicos, fica inviável a imputabilidade penal apenas para os maiores de 18 anos, contrapondo-se às regras constitucionais básicas de igualdade. No entanto, a esmagadora maioria de autores que se posicionam a favor da redução da maioridade penal, argumentam que é que a Constituição Federal de 1988 atribuiu maturidade ao jovem de 16 anos de idade, principalmente quanto ao direito de voto, mesmo facultativo. Com isto, podem eleger seus representantes políticos, os que irão conduzir e legislar os interesses de toda a nação brasileira. Contudo, não podem ser penalizados por crimes eleitorais se acaso cometam, e somente lhes serão aplicadas medidas de proteção instituídas pelo ECA. Há posicionamentos também de que no Código Civil, no seu artigo 5º, parágrafo único, inciso I, é concedida a emancipação aos 16 anos de idade, com a autorização dos pais, declarado em Cartório, atentando para o fato de que o 13 CERQUEIRA, Lucília Olímpia; MARQUES, Micaella Bruno da Cruz. Redução da maioridade penal: uma solução viável?. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 72, jan 2010. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=7096&n_link=revista_artigos_leitura>. Acesso em: 15/11/2016. 14 BARBOSA MF. Menoridade penal. RJTJESP, LEX - 138. 1992. 12 jovem amadurece mais cedo, podendo casar, constituir família, ter responsabilidade da mantença de um lar e educação e criação dos filhos, inclusive pode ser proprietário de empresa e gerenciá-la. Com isto, diz o escritor Cláudio da Silva Leiria: “No Brasil os legisladores na esfera penal se valeram do critério biológico, e instituíram que até 18 anos de idade estes não possuem plena capacidade de entendimento para entender o caráter criminoso de atos que praticam. Tal constatação não é cabível no mundo moderno e globalizado em que vivemos.”15 Entre os estudiosos e doutrinadores do direito que se destacam em defender a redução da maioridade penal no Brasil, para 16 anos de idade, encontram-se: Manoel Pedro Pimentel, Diógenes Malacarne, Marcelo Fontes Barbosa, Cláudio da Silva Leiria e Paulo José da Costa Junior, este último Professor de Direito Penal, na USP, e livre-docente da Universidade de Roma, advogado criminalista renomado no Brasil, com mais de cinqüenta anos de profissão, autor de quarenta livros na esfera penal, membro da Academia Paulista de Letras, hoje com 82 anos de idade, ainda atuante na área do direito penal. Segundo Paulo José da Costa Junior, este teria convencido o jurista Nelson Hungria em estabelecer no Código Penal em 1969 a maioridade penal em 16 anos de idade, estabelecendo o critério biopsicológico aos maiores de 16 e memores de 18 anos de idade, possibilitando a aplicação de pena, desde que o menor entendesse ou tivesse possibilidade de entendimento do caráter ilícito de sua conduta. Este Código Penal não entrou em vigor, devido às críticas da época, 28 voltando a imputabilidade penal a partir dos 18 anos de idade, como era anteriormente no Código Penal de 1940, e que vigora até hoje. 15 Lereia, Carlos Alberto. Redução da maioridade penal: por que não?. Disponível em: http://www.pontojurídico.com/modules.php?name=Newa&file=article&sid=152-39K. Acesso em 14/11/2016. 13 CONCLUSÃO Após constatação das diversas argumentações de estudiosos no direito, entre juristas e doutrinadores na matéria constitucional e penal, sobre a redução da maioridade penal ser viável ou não juridicamente, verifica-se que este tema ainda continua sendo motivo de divergências em nossa realidade. Devemos considerar também, que possuímos uma legislação penal bastante desatualizada, e que feita em um tempo em que o contexto das relações, da informação e da criminalidade era bastante distinto do que temos hoje. Este inclusive é um dos argumentos que algunsestudiosos utilizam para apoiar a redução da maioridade penal, afirmando que em 1940, época da criação do código penal vigente, as crianças e adolescentes não tinham tanto esclarecimento e tampouco maturidade como o tem hoje, visto que o acesso à informação tornou isso possível e descontrolável. No entanto, outros estudiosos utilizam-se do argumento de que, embora o Código Penal seja bastante antigo, a Constituição Federal é bem mais recente, e fixou como cláusula pétrea a idade para imputação penal como sendo dezoito anos. Sendo assim, seria inconstitucional alterar este disposto, mesmo com emenda à Constituição. Diante dos relevantes posicionamentos acerca do tema, percebe-se que a discussão culmina num ponto jurídico comum: não há consenso, portanto não há como se falar em pacificação social nesse quesito. Ademais, as acaloradas discussões nas demais áreas da sociedade não se sustentam sem se desvendar primeiramente a questão jurídica, social, e as possíveis consequências do que a redução da maioridade penal poderia acarretar em nossa sociedade. Por fim, conclui-se que, a redução da maioridade penal é plausível, mas seria tão somente uma das formas dentre várias outras para acabar com a criminalidade, pois por si só, esta não alcançaria tal finalidade. 14 REFERÊNCIAS BARBOSA MF. Menoridade penal. RJTJESP, LEX - 138. 1992. BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra da Silva, Comentários a Constituição do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. 2 ed Atual. São Paulo: Saraiva, 2000 v VIII. BITENCOURT, César Roberto. Código penal comentado. São Paulo: Saraiva, 2002. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em 15/11/2016. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005.Vol.1. CERQUEIRA, Lucília Olímpia; MARQUES, Micaella Bruno da Cruz. Redução da maioridade penal: uma solução viável?. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 72, jan 2010. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=7096&n_link=revista_artigos_leitura>. Acesso em: 15/11/2016. CURY, Munir, MARÇURA, Jurandir Norberto e PAULA, Paulo Afonso Garrido de. Estatuto da Criança e do Adolescente Anotado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. LEREIA, Carlos Alberto. Redução da maioridade penal: por que não?. Disponível em: http://www.pontojurídico.com/modules.php?name=Newa&file=article&sid=152- 39K. Acesso em 14/11/2016. MATTOS, Marli Martins. Redução da maioridade penal. Ijuí – RS, 2015. Disponível em: < http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/3575/C ORRE%C3%87%C3%95ES%20MONOGRAFIA%202015-3.pdf?sequence=1> . Acesso em: 18/11/2016. 15 MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 5. Ed., São Paulo: Atlas,2005, p.2176. OLIVEIRA, Maristela Cristina de. Redução da maioridade penal: uma abordagem jurídica. Londrina, 2008. Disponível em: <http://www.escoladegestao.pr.gov.br/arquivos/File/artigos/justica_e_cidadania/ reducao_da_maioridade_penal_uma_abordagem_juridica.pdf. Acesso em: 14/11/2016. ROCHA, Sidnei Bonfim da. A redução da maioridade penal. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 112, maio 2013. Disponível em: <http://ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13332&revista_ca derno=12>. Acesso em 16/11/16. ROCHA, Sidnei Bonfim da. A redução da maioridade penal. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 112, maio 2013. Disponível em: <http://ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13332&revista_ca derno=12>. Acesso em 16/11/16. SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente em conflito com a lei: da indiferença à proteção integral: uma abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.
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