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Liberdade de Expressão e Discurso de Ódio na Internet

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA 
INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
 
 
RAÍSA MAFRA DE LIMA 
 
 
 
 
 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO x OS DISCURSOS DE ÓDIO NA INTERNET. 
 
 
 
 
 
Boa Vista, RR 
2015 
 
 
 
 
RAÍSA MAFRA DE LIMA 
 
 
 
 
 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO x OS DISCURSOS DE ÓDIO NA INTERNET 
 
 
 
Monografia apresentada pela aluna Raísa 
Mafra de Lima como pré-requisito para 
conclusão do curso de Bacharelado em 
Direito. 
Orientador: Profa. Lívia Barreto Dutra. 
 
 
 
 
Boa Vista, RR 
2015 
 
 
 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO x OS DISCURSOS DE ÓDIO NA INTERNET 
RAÍSA MAFRA DE LIMA 
Este trabalho de conclusão de curso foi julgado e aprovado para obtenção do grau 
de Bacharel em Direito no curso de Direito da Universidade Federal de Roraima. 
Boa Vista, ___ de __________ de 2016. 
 
 
________________________________________________________________ 
Profa. Dra.1 
Orientadora - Universidade Federal de Roraima 
 
 
________________________________________________________________ 
Prof. 2 
Universidade Federal de Roraima 
 
 
________________________________________________________________ 
Prof. 3 
Universidade Federal de Roraima 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"A liberdade é o direito de fazer tudo quanto 
não prejudique a liberdade dos outros." 
(Vie de Monsieur Turgot - por Nicolas Caritat) 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
À Deus, por minha vida e de minha amada família. 
Aos meus pais, Jeronildes e Beatriz, que por tanto se orgulharem de minhas 
conquistas me incentivaram a chegar cada vez mais longe, que por tantas 
dificuldades que passaram deram às filhas o maior bem que pode existir para o 
futuro de uma sociedade melhor: além do amor, a oportunidade e apoio para os 
estudos. 
Às minhas irmãs, Rebeca e Ramoni, das quais sinto o maior orgulho e são 
minha inspiração para a busca dos meus sonhos. 
Ao meu noivo que me deu suporte e conforto nos momentos em que achei 
que não conseguiria concluir meu curso. 
À professora Lívia, que me orientou e incentivou sempre com uma simpatia 
contagiante e paciência, o qυе tornou possível а conclusão desta monografia. 
Agradeço também а todos оs professores da UFRR qυеmе acompanharam 
durante а graduação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
A monografia pretende efetuar análise das situações comuns aos usuários das 
redes sociais.Através de pesquisas, pretende-se compreender até que ponto o limite 
da liberdade de expressão, praticada virtualmente, difere do limite daquela praticado 
no mundo real e quando o seu exercício torna-se abusivo, incitando a intolerância 
social através do discurso de ódio, bem como quais as medidas judiciais exercidas 
pelo nosso ordenamento. A liberdade de expressão é um direito fundamental do 
homem, garantido pela Constituição Federal. As experiências mundiais em relação 
ao discurso de ódio, sendo a principal delas o Holocausto e o discurso da raça 
Ariana, geraram preocupação com as consequências que tais discursos podem 
gerar. Somado a isso, outro fator que preocupa é o uso da internet para espalhar 
esses pensamentos de intolerância, seja pela raça, seja pela religião ou pela 
orientação sexual. Surge aí a necessidade de criação de medidas que venham a 
proibir a disseminação do discurso de ódio na internet. Entretanto, a proibição 
desses discursos entra em conflito com o direito à liberdade de expressão, garantido 
por diversos documentos e legislações internacionais e de essencial importância 
para a democracia. Dessa forma, efetuar-se-á breve estudo acerca da problemática 
envolvendo a liberdade de expressão e o uso inconsequente da internet, naquilo que 
interessa ao Direito, em razão dos bens envolvidos serem tutelados pela 
Constituição Federal. A monografia utilizará o método qualitativo, eis que se valerá 
de diferentes abordagens com a finalidade deproduzir informações para melhor 
compreensão do tema. Também se valerá a pesquisa da metodologia exploratória, 
bibliográfica e documental, uma vez que será desenvolvida basicamente através de 
pesquisa bibliográfica em obras de renomados juristas constitucionais, civis e penais 
além de pesquisas em sites da internet, de artigos científicos e jurídicos, notícias, 
legislações, casos concretos que envolvam a temática, entre outros, visando 
proporcionar maior familiaridade com o problema a fim de torná-lo mais explícito e 
de fácil compreensão. 
Palavras Chave: liberdade de expressão; discurso de ódio; internet; redes sociais. 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMEN 
El documento tiene la intención de realizar el análisis de las situaciones comunes de 
los usuarios de las redes sociales. A través de la investigación, se pretende 
comprender los limites de la libertad de expresión en el entorno virtual y la libertad 
en el mundo real y cuando el ejercicio se vuelve abusivo, incitar a la intolerancia 
social a través de las expresiones de odio, así como el que la acción legal llevada a 
cabo por el sistema legal brasileño. La libertad de expresión es un derecho humano 
fundamental, garantizado por la Constitución. experiencias globales en relación al 
discurso del odio, el principal es el Holocausto y el discurso de la raza aria, generado 
preocupación por las consecuencias que tales discursos pueden generar. Sumado a 
esto, otro factor de preocupación es el uso de Internet para difundir estas ideas de 
intolerancia, y sea por raza, sea por la religión o la orientación sexual. Surge la 
necesidad de crear medidas que puedan prohibir la difusión de mensajes de odio en 
Internet. Sin embargo, la prohibición de estos discursos en conflicto con el derecho a 
lalibertad de expresión, garantizada por varios documentos y las leyes 
internacionales y de importancia esencial para la democracia. De este modo, el será 
hecho en breve estudio sobre el tema relacionado con la libertad de expresión y el 
uso imprudente de internet, lo que interesa a la ley, debido a que los productos en 
cuestión están protegidos por la Constitución Federal. En el documento se utilizará el 
método cualitativo, hea quí que era digno de los diferentes enfoques con el fin de 
producir información para una mejor comprensión del tema. Es también digno de la 
metodología de la investigación exploratoria, la literatura y documentos, ya que se 
desarrollará principalmente a través de la literatura en obras de abogados 
constitucionales reconocidos, civil y penal, así como la investigación sobre los sitios 
de Internet de artículos científicos y legales, noticias, legislación , casos concretos 
relacionados conel tema, entre otros, destinadas a proporcionar una mayor 
familiaridad con el problema con el fin de hacerlo más explícito y fácil de entender. 
Palabras clave: lalibertad de expresión; discursos de odio; internet; redes sociales. 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 
1 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO................12 
1.1 BREVE HISTÓRICO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS..................................12 
1.2 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO......................................................................19 
2 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO X O DISCURSO DE ÓDIO NA INTERNET .... 22 
2.1 HISTÓRICO E CONCEITO DE INTERNET........................................................22 
2.2 O DISCURSO DE ÓDIO NA INTERNET............................................................262.3 OS LIMITES À LIBERDADE DE EXPRESSÃO X O DISCURSO DE ÓDIO NA 
INTERNET................................................................................................................31 
3 O CONFLITO ENTRE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DISCURSO DE 
ÓDIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .......................................... 36 
3.1 TIPIFICAÇÃO DO DISCURSO DE ÓDIO PRATICADO NA INTERNET...........39 
3.2 ENTENDIMENTO DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO..................40 
3.3 DIREITO COMPARADO - A LIBERDADE DE EXPRESSÃO X O DISCURSO 
DE ÓDIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO INTERNACIONAL..............................42 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. .45 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 47 
 
 
9 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Atualmente, a internet é uma das maiores ferramentas de atualização e 
propagação de notícias e informações, principalmente pela facilidade de acesso 
através de computadores e, mais comumente, o telefone celular, sendo um ambiente 
favorável para livre expressão e difusão de ideias, ou seja, um espaço amplamente 
democrático, fazendo com que as pessoas falem abertamente sobre suas 
convicções e opiniões, chegando a qualquer lugar do mundo imediatamente. 
Entretanto, o crescimento e popularização da internet, apesar de trazer 
inúmeros benefícios, também trouxe a propagação da violência através das redes, 
uma vez que direitos são violados todos os dias, gerando conflitos que antes 
existiam apenas no mundo “real” e que agora passaram a existir também no mundo 
virtual. 
Muitas vezes, um comentário, opinião, imagem ou vídeo postado por uma 
pessoa pode ferir a honra de outrem, pode incitar o ódio contra um grupo de 
pessoas, seja pela etnia, pela cor, ou pela religião, e, o sujeito mascara seu 
preconceito, afirmando praticar seu direito à liberdade de expressão. 
Além disso, por permitir usuário anônimo, as redes sociais virtuais 
(Facebook, Twitter, Blogs, Instagram, Fóruns Virtuais de Discussão, entre 
outras)apresentam numerosa presença de discursos racistas, homofóbicos, 
xenófobos, intolerantes. 
O Discurso de Ódio praticado pela internet, além de discriminar e tratar de 
maneira degradante determinados grupos sociais, também incita o preconceito em 
outros usuários da rede social, especialmente crianças e adolescente, ou seja, o que 
10 
 
 
 
no “mundo real” seria um caso individual, virtualmente ele atinge milhares de 
pessoas, influenciando-as negativamente. 
A Declaração Universal dos Direitos do Homem dispõe, em seu artigo 19, 
que “todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que 
implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e 
difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideais por qualquer meio de 
expressão”. 
O Ordenamento Jurídico brasileiro aderiu à Declaração dos Direitos do 
Homem, conforme depreende-se do artigo 5°, inciso IV da Constituição: “é livre a 
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”, como também em seu 
inciso IX: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de 
comunicação, independentemente de censura ou licença”. 
Entretanto, no âmbito da internet, onde milhares de pessoas têm acesso ao 
que é publicado, em poucos segundos, pergunta-se, a liberdade de expressão 
praticada em rede está sujeita a qualquer limite ou controle? Pode-se postar 
qualquer informação que se queira, inclusive sobre outra pessoa, incitando a 
intolerância social, mascarando seu discurso de ódio como se estivesse exercendo 
seu direito à livre expressão? 
A relevância do seu estudo pode ser demonstrada não apenas pelo caráter 
inovador e atual, como também pela ainda esparsa doutrina sobre o tema. Deve-se 
mencionar que, desde o princípio, esta monografia não teve a presunção de esgotar 
todo o ponto objeto de análise, apenas almejando dar destaque a uma questão 
importante no cenário jurídico atual. 
Com essa finalidade, a presente monografia iniciará abordando um breve 
contexto histórico dos direitos fundamentais e da liberdade de expressão, para futura 
compreensão do conflito ora estudado. 
Posteriormente, será dedicado tópico para tratar acerca da Internet, como 
esta surgiu e os motivos pelos quais a prática do ódio vem aumentando através das 
redes sociais. Pretende-se analisar como esta pode influenciar e propagar essa 
11 
 
 
 
prática, sob alegação de que se está fazendo jus ao direito à liberdade de 
expressão. 
Por fim, no terceiro capítulo pretende-se discutir como o discurso de ódio é 
abordado dentro do Ordenamento Jurídico Brasileiro, se existem leis ou projetos que 
busquem a diminuição da prática, comparando-as com casos julgados em 
ordenamentos jurídicos de outros países, restando claro que não se busca, no 
presente trabalho, uma solução definitiva para o tema, mas sim uma introdução ao 
assuntoque se mostra tão atual e que trata-se de conflito que faz parte do cotidiano 
de muitas pessoas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
1 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
 
1.1 BREVE HISTÓRICO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
O jusnaturalismo foi a primeira doutrinaa reconhecer a existência de direitos 
naturais e inalienáveis inerentes ao ser humano, podendo prevalecer caso haja um 
conflito entre as normas do direito positivo e as do direito natural.(MOREIRA, 2010) 
As primeiras manifestações da doutrina jusnaturalista surgiram na Grécia, 
tendo o primeiro registro na obra Antígona, de Sófodes, com a expressão "justo por 
natureza", ou seja, conforme a razão. Entretanto, há quem reconheça que o 
jusnaturalismo tenha tido origem quando Platão se referia a uma justiça inata, 
universal e necessária.(GIGANTE, 2010) 
Destaca-se, ainda, o pensamento de São Tomás de Aquino, influenciado por 
Aristóteles, o qual chegou a afirmar que justiça natural é uma espécie de justiça 
política que ao se tornar lei seria chamada de “direito natural” (CRISPIM, 2011). A 
teoria Tomista defendia a concepção cristã da igualdade dos homens, além de 
profetizar a existência das duas ordens distintas, formadas pelo direito natural e pelo 
direito positivo. 
Referida doutrina teve particular relevância para o entendimento do valor 
fundamental da dignidade da pessoa humana, que passou a ser entendido como um 
valor próprio que nasce na qualidade de valor natural, inalienável e incondicionado, 
como cerne da personalidade do homem.(SARLET, 2008) 
Nos séculos seguintes, a doutrina jusnaturalista atingia seu ápice em termos 
de desenvolvimento, ao passo que, paralelamente, dá-se início a um processo de 
laicização do direito natural, culminando no pensamento iluminista, cujas teorias 
tiveram grande influência e foram bases centrais para o futuro da teoria do direito. 
A obra Do Direito da Guerra e da Paz, de Hugo Grotius, foi considerada 
durante muitos anos como a obra fundamental do Direito Natural, nela, Grotius 
atribui ao termo “Direito” três sentidos. O primeiro deles traz o Direito como “justo”, 
13 
 
 
 
depois o Direito como “faculdade ou aptidão”, correspondendo à qualidade moral da 
pessoa e, por último, o Direito como sinônimo de lex, ou seja, o conjunto das regras 
que são obrigatórias para que seja respeitado ou obtido o que é direito (rectum), e 
não apenas justo (justum). Para o autor, um sistema de Direito Natural poderia ser 
racionalmente construído e poderia gozar de validade universal, comparando-o às 
normas dos axiomas da matemática(GOYARD-FABRE,2003). 
Assim, Grotius separou o Direito Natural de todo o conteúdo teológico que o 
dominava, rompendo com a tradição jurídica clássica, eis que, segundo ele, a 
principal característica do Direito não está apenas na procura do justo, mas, sim, em 
um conceito racionalista, que seja resultante da vontade humana, se materializando 
através de um contrato social, passando a ser estabelecido, cada vez mais, por 
normas escritas(GOYARD-FABRE, 2003). 
Por sua vez, Thomas Hobbes deu novo rumo ao conceito do direito natural, 
atribuindo ao homem a titularidade de determinados direitos naturais que apenas 
seriam alcançados em estado de natureza, no mais, estariam à disposição da 
vontade do soberano(MARUYAMA, 2012). 
Hobbes, apesar de um defensor do direito natural, considerava que a 
sociedade não poderia se sustentar apenas neste, pois culminaria numa guerra de 
todos contra todos. Assim, haveria a necessidade da criação de um direito positivo 
ou de um contrato social garantido por um poder centralizado que estabeleceria 
regras de convívio pacífico para a sociedade. E foi justamente essa crítica do autor a 
base dos seguidores do positivismo jurídico. 
Outra doutrina relevante é a do jusfilósofo John Locke, o primeiro iluminista de 
destaque, que teve como sua principal obra o livro intitulado “Dois Tratados Sobre o 
Governo Civil”, de 1690. No pensamento de Locke o homem vivia num estado de 
natureza, guiado por esses direitos essenciais, mas, assim como Hobbes, o homem 
teria o poder de organizar o Estado e a sociedade de acordo com sua razão e 
vontade(VÁRNAGY, 2010). 
O jusfilósofo defendia os direitos naturais e inalienáveis dos homens, quais 
sejam a vida, propriedade e o direito à liberdade. Em primeiro lugar, todo ser 
14 
 
 
 
humano tem direito à vida, que é o mais elementar de todos os direitos humanos. 
Ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa. Em segundo lugar, todo 
homem tem direito à propriedade privada se, por esforço e mérito pessoal 
(meritocracia) conseguiu adquirir um bem de valor e ninguém tem o direito de tirar ou 
destruir um patrimônio que foi construído pelo seu mérito individual. Em terceiro 
lugar, todo homem tem direito à liberdade para fazer as coisas sem sofrer 
interferência alguma, seja ela de pensamento, de locomoção, de opinião ou de 
expressão.(NASCIMENTO, 2013) 
Segundo Locke, os governos existem para preservar esse direito. Se por 
ventura o governo desrespeita a lei estabelecida pela comunidade e coloca em risco 
a vida, a liberdade ou a propriedade privada dos homens, este governo deixa de 
cumprir o seu objetivo, tornando-se ilegítimo e tirânico. 
Jean-Jacques Rousseau, no “Contrato Social”, propõe a mudança da vida em 
sociedade a partir da elevação crítica da discussão sobre a realidade social. No 
primeiro capítulo, defende ser o homem o fim em si mesmo, fato deste indivíduo, ser 
a essência de todas as coisas, ou seja, as leis, o governo e as regras serão 
definidas por um conjunto de pessoas, a fim de satisfazer as necessidades 
individuais. Dessa forma, o homem não poderia ter o direito à liberdade e, ao mesmo 
tempo, estar preso por alguma das amarras da sociedade de seu tempo. 
Segundo ele, renunciar à liberdade é renunciar à condição de homem, aos 
direitos da humanidade, e , inclusive, aos seus deveres(ROUSSEAU, 2008). Em 
Rousseau, a liberdade é tida como a prerrogativa conferida ao homem de ser 
respeitado em sua dignidade e ser igual aos demais ao mesmo tempo em que é livre 
para decidir sobre a opção que acha mais acertada, sendo que não se pode 
renunciar a esta liberdade, pois, ao fazê-lo, põe fim aos seus direitos e abandona a 
qualidade de ser homem individual. 
Em meados do século XVIII o processo de elaboração da doutrina 
contratualista e dos direitos naturais do indivíduo chega ao seu ponto culminante e o 
pensamento de Immanuel Kant é o marco dessa fase dos direitos humanos, 
segundo leciona Norberto Bobbio. Na sua teoria, Kant afirma que o homem natural 
tem um único direito, o de liberdade, entendida como independência em face de 
15 
 
 
 
todo constrangimento imposto pela vontade de outro, e os demais direitos, como o 
de igualdade, estão aí incluídos (BOBBIO, 2004). 
Bobbio explica que os direitos do homem nascem quando o aumento do seu 
poder sobre a natureza e sobre os direitos dos outros homens cria nova ameaça à 
liberdade do indivíduo ou permite novos remédios para as suas carências. 
Foi durante a Idade Média que surgiram os primeiros documentos que 
contribuíram para a efetivação dos direitos humanos, sendo estes contratos feudais, 
onde o rei se comprometia respeitar os direitos de seus súditos. 
Mas, a mais célebre foi a declaração outorgada pelo rei João Sem Terra, na 
Inglaterra, assinada no ano de 1215, quando coagido pelos barões e pelo clero, que 
ficou conhecido como Magna Carta, na qual concedia, de forma perpétua, "para 
todos os homens livres do reino da Inglaterra, todas as liberdades, cuja continuação 
se expressam, transmissíveis a seus descendentes" (BOBBIO, 2004, p. 73-74). 
Os seguintes marcos para a história dos direitos humanos foram a Petição de 
Direitos (Petition of Rights) e a Declaração de Direitos (Bill of Rights). 
 A Petição de Direitos foi feita em 1628 pelo Parlamento Inglês e enviada a 
Carlos I como uma declaração de liberdade civis. Iniciada por Sir Edward Coke, 
baseou–se em estatutos e cartas anteriores e afirmou quatro princípios, dentre eles 
o de que nenhum súdito poderia ser encarcerado sem motivo demonstrado, sendo a 
reafirmação do direito de habeas corpus. 
A BillofRights teve John Locke como seu principal teórico e fez surgir, para a 
Inglaterra, a monarquia constitucional submetida à soberania popular, afastando a 
ideia de que o poder real era divino. Esta declaração serviu de inspiração ideológica 
para a formação das democracias liberais da Europa e da América nos séculos XVIII 
e XIX. 
Indispensável mencionar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 
de 1789, que, segundo Fabio Konder Comparato (COMPARATO, 2010), juntamente 
com as declarações de direito norte-americanas, representou a emancipação 
16 
 
 
 
histórica do indivíduo perante os grupos sociais aos quais ele sempre se submeteu: 
a família, o clã, o estamento, as organizações religiosas. 
A Declaração se baseava na ideia de que todos os homens nascem livres e 
iguais em direitos e que a única fonte de poder era o próprio povo, o que mudou 
radicalmente os fundamentos da legitimidade política. 
Encontra-se na obra do jurista José Afonso da Silva (SILVA, 2010, p.157-
158), menção às três principais características da Declaração de 1789 que foram 
apontadas por Jacques Robert, quais sejam: o intelectualismo, o mundialismo e o 
individualismo. 
Intelectualismo porque a afirmação de direitos imprescritíveis do homem e a 
restauração de um poder legítimo, baseado no consentimento popular, foi uma 
operação de ordem puramente intelectual que se desenrolaria no plano unicamente 
das ideias; é que, para os homens de 1789, a Declaração dos direitos era antes de 
tudo um documento filosófico e jurídico que devia anunciar a chegada de uma 
sociedade ideal. 
Mundialismo, no sentido de que “os princípios enunciados no texto da 
Declaração pretendem um valor geral que ultrapassa os indivíduos do país, para 
alcançar valor universal” (SILVA, 2010, p.158). 
Individualismo, porque “só consagra as liberdades dos indivíduos, não 
menciona a liberdade de associação nem a liberdade de reunião; preocupa-se com 
defender o indivíduo contra o Estado”(SILVA, 2010, p.158). 
Após a Declaração de 1789, outras surgiram, mais tarde, ao redor do mundo, 
é o casoda famosa Constituição Mexicana de 1917, que, na opinião de alguns 
estudiosos, é considerada um marco no tocante à concepção dos direitos 
fundamentais. 
Outro documento que merece nossa atenção é a Constituição de Weimar, de 
1919, na Alemanha. Ao final da primeira guerra, o país encontrava-se em situação 
agravada e com suas instituições políticas em declínio, de modo que não havia nem 
condições para reunir a Assembleia Constituinte.Com muito custo, elaborou-se uma 
17 
 
 
 
constituição que previa os direitos e deveres fundamentais dos alemães, 
abrangendo-se o indivíduo, sua vida social, sua religião, bem como a educação que 
lhe era devida para atingir a emancipação econômica. 
 O fato de trazer a propriedade submetida à função social, entre outras 
características, a fez um modelo, servindo de inspiração para outros ordenamentos, 
como o Brasil, que enunciou pela primeira vez, na Carta de 1934, uma Ordem 
Econômica e Social. 
Entretanto, a primeira Constituição Brasileira a positivar direitos do homem foi 
a de 1824, a Constituição do Império, que já deliberava acerca dos direitos 
individuais dos cidadãos. As demais Cartas passaram a contemplar inúmeros outros 
direitos, contudo, foi com a atual, promulgada em 05 de outubro de 1988, que os 
direitos fundamentais vieram ao seu auge, ao eleger a dignidade da pessoa humana 
como um dos princípios fundamentais do Estado democrático de Direito. 
A dignidade reúne quase todos os direitos fundamentais previstos na Magna 
Carta, dentre os quais se destacam a liberdade de pensamento e de expressão. Os 
direitos do homem nascem de uma forma gradual, são direitos históricos, uma vez 
que se modificam ao longo do tempo e dependendo da época e da cultura em que 
são adotados. Por este motivo, segundo Norberto Bobbio, a expressão correta seria 
fundamentos dos direitos do homem (BOBBIO, 2004). 
Dentre os direitos do homem, existem aqueles com estatutos diversos entre 
si, sendo uns em que são suspensos em algumas circunstâncias e outros que não 
se aplicam a todas as categorias de pessoas, bem como aqueles que valem em 
qualquer circunstância e para todos os homens, sem distinção, os quais são 
chamados de direitos fundamentais. 
Segundo Carl Schmitt, os direitos fundamentais podem ser definidos com 
base em dois critérios formais, sendo eles o que constarem na Carta Magna e que 
receberem desta um grau mais elevado de garantia ou de segurança, tornando-os 
imutáveis ou de mudança dificultada, isto é, somente alteráveis mediante lei de 
emenda, como ocorre na Constituição Federal de 1988, dispondo o art. 60, § 4º, IV 
18 
 
 
 
que os direitos fundamentais não podem ser abolidos nem mesmo por emenda 
(BONAVIDES, 2010). 
Assim, Carl Schmitt observa à medida que foram elevados à categoria de 
norma positiva constitucional, esses preceitos passaram a ser definidos como 
normas jurídicas de caráter objetivo e subjetivo, em defesa da dignidade, da 
liberdade e da igualdade da pessoa humana. 
José Afonso da Silva enumera como características dos direitos fundamentais 
a historicidade, vez que nascem, modificam-se e desaparecem, repelindo toda 
fundamentação baseada no direito natural, na essência do homem ou na natureza 
das coisas; inalienabilidade, pois são direitos intransferíveis, inegociáveis, deles não 
podendo se desfazer porque são indisponíveis; imprescritibilidade eis que o 
exercício de boa parte dos direitos fundamentais ocorre só no fato de existirem 
reconhecidos na ordem jurídica, ou seja, nunca deixam de ser exigíveis e, ao mesmo 
tempo, são sempre exercíveis e exercidos; e, por último, a irrenunciabilidade, pois 
não se pode renunciar aos direitos fundamentais, mesmo que estes não sejam 
exercidos (SILVA, 2010). 
 
 
1.2 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
A liberdade é um dos maiores bens do ser humano. Sem liberdade não é 
possível falar em dignidade e sem sua proteção muitos outros direitos perdem sua 
razão de ser.É um direito fundamental da pessoa humana, de primeira dimensão, de 
suma importância para a democracia de um Estado, o qual reconhece a autonomia 
dos particulares e garante a independência do indivíduo perante a sociedade na qual 
ele está inserido. 
Tal direito se inclui no rol de direitos da personalidade, está intimamente 
ligada à formação da autonomia individual. Por meio dela, o indivíduo tem acesso às 
informações, o que lhe permite formar sua personalidade e a partir disso fazer 
escolhas livres e conscientes. 
19 
 
 
 
Por este motivo, o direito à liberdade de expressão é indisponível e inato, 
nasce com a pessoa, podendo ela expressar ou não seus pensamentos, haja vista 
que essa liberdade pode ser de fazer ou não fazer e tem como destinatário toda e 
qualquer pessoa, inclusive a jurídica, sem qualquer distinção. Segundo José Afonso 
da Silva, a liberdade consiste na possibilidade de coordenação consciente dos 
meios necessários à realização da felicidade pessoal (SILVA, 2010). 
Salienta o referido autor, ao abordar a liberdade de expressão, que esta 
resume-se à própria ideia de liberdade de pensamento, em suas várias formas, 
sendo exteriorizada com o exercício das demais liberdades relacionadas, quais 
sejam a liberdade de comunicação, de religião, de expressão intelectual, artística, 
científica e cultural e de transmissão e recepção de conhecimento. 
Estaseparação dos direitos afins resultaria do modo como a Constituição trata 
a matéria, que está consagrada pelo ordenamento jurídico brasileiro através de 
diversos dispositivos. Assim, os incisos IV1 e V2 do artigo 5º da ConstituiçãoFederal 
cuidam da liberdade de manifestação do pensamento, enquanto osincisos IX3 e X4, 
por sua vez, se ocupam da liberdade de expressãoda atividade intelectual, artística, 
científica e de comunicação e os incisos XIV5 e XXXIII6, que tratam da liberdade de 
informação.Há ainda o art. 220, caput, §§ 1º e 2º7, que abordam o tema á luz da à 
comunicação social. 
 
1IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
2
 V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral 
ou à imagem; 
3
 IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de 
censura ou licença; 
4
 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a 
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 
5
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao 
exercício profissional; 
6
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de 
interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas 
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; 
7
 Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, 
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. 
 
20 
 
 
 
Porém, a liberdade de expressão não é um direito absoluto, sendo que nas 
hipóteses onde o exercício da liberdade de pensamento e expressão fere direito 
constitucionalmente consagrado de outrem, há de existir a devida limitação e 
punição. 
Vê-se que apesar de ser proibida a censura e dispensada a licença, deve 
haver a responsabilização daqueles que praticarem abuso no exercício do seu 
direito de liberdade de expressão. 
SegundoAndré Ramos Tavaresa doutrina brasileira não oferece um conceito 
uniforme ao direito à liberdadede expressão justamente pelo fato da própria 
Constituição não ter consagrado o direito em um único dispositivo, dele tratando de 
maneira esparsa (TAVARES, 2015). 
No âmbito do Sistema Interamericano a Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos (CADH), assinado em 22 de novembro de 1969 em San José da Costa 
Rica, a liberdade de expressão está disposta em seu artigo 13, o qual traz cinco 
subitens. In Verbis: 
1.Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse 
direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e 
idéias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por 
escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de 
sua escolha. 
2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito 
a censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser 
expressamente fixadas pela lei e ser necessárias para assegurar: a. o 
respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou b. a proteção da 
segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas. 
3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios indiretos, 
tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, 
de freqüências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na 
difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a 
comunicação e a circulação de idéias e opiniões. 
4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com o 
objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância 
e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2. 
 
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação 
jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. 
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. 
21 
 
 
 
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda 
apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à 
discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência. 
 
Nota-se que o aludido dispositivo contém previsão detalhada acerca da 
liberdade de expressão, consagrando tal direito de forma abrangente. Assim como 
no ordenamento pátrio, no sistema interamericano regra é a liberdade de expressão, 
sendo vedada a censura prévia, existindo apenas a possibilidade de 
responsabilização ulterior. 
Já a Corte Européia de Direitos Humanos contribui para a compreensão do 
conceito de liberdade de expressão, e as circunstâncias em que este direito passa a 
merecer proteção do Estado, como garantia do cidadão, eis que traz, em seu artigo 
10, o seguinte inciso (MAIA, 2008): 
[...] 2. O exercício desta liberdades, porquanto implica deveres e 
responsabilidades, pode ser submetido a certas formalidades, condições, 
restrições ou sanções, previstas pela lei, que constituam providências 
necessárias, numa sociedade democrática, para a segurança nacional, a 
integridade territorial ou a segurança pública, a defesa da ordem e a 
prevenção do crime, a proteção da saúde ou da moral, a proteção da honra 
ou dos direitos de outrem, para impedir a divulgação de informações 
confidenciais, ou para garantir a autoridade e a imparcialidade do poder 
judicial. 
Percebe-se que a proteção à liberdade está presente em quase todas os 
ordenamentos jurídicos, sendo importante frisar que essas Declarações tiveram 
como base a Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1945, a qual assegura a 
liberdade de expressão em seu art. 19. 
O direito à liberdade de expressão tem assegurada sua qualidade de direito 
fundamental não só nessas declarações, como também nas constituições de 
diversos países. Ainda assim, além da garantia legal, cabe ao Estado promover as 
condições necessárias para que a liberdade possa ser exercida dentro dos limites 
preestabelecidos, pois, muitas vezes, o abuso a esse direito ultrapassa os limites 
internos e externos dos indivíduos para repercutir em atos coletivos, abrangendo 
grupos, classes ou categorias de pessoas. 
22 
 
 
 
2 A LIBERDADE DE EXPRESSÃO X O DISCURSO DE ÓDIO NA INTERNET 
 
2.1 HISTÓRICO E CONCEITO DE INTERNET 
A internet surgiu durante a Guerra Fria, após o Departamento de Defesa 
norte-americano procurar um sistema de telecomunicações que garantisse que um 
ataque nuclear russo não interrompesse a corrente de comando dos Estados 
Unidos. Para isso, foram criadas pequenas redes locais (LAN) posicionadas em 
lugares estratégicos do país e coligadas por meio de redes de telecomunicação 
geográfica (WAN). Assim, na eventualidade de um ataque nuclear, essa rede 
garantiria a comunicação entre as remanescentes cidades coligadas (PAESANI, 
2012). 
Mas foi a partir de 1973, quando o Departamento de Pesquisa avançada da 
Universidade da Califórnia registrou o protocolo TCP/IP que a internet começou a se 
tornar popular. Hoje, é vista como um dos maiores meios de comunicação, que 
interliga milhões de computadores, smartphones e outros aparelhos em todo o 
mundo, permitindo o acesso a uma quantidade de informações praticamente 
inesgotáveis, anulando toda distância de lugar e tempo (PAESANI, 2012). 
De acordo com Blum, Bruno e Abrusio (ABRUSIO, P.26); 
[...] ela é uma imensa Rede, ou seja, Rede das Redes, vista como um meio 
de comunicação que interliga dezenas de milhões de computadores no 
mundo inteiro [...] anulando toda distância de lugar e tempo, através de 
diversas funções, podendo citar, dentre elas, e-mail (correio eletrônico), 
ecommerce (comercio eletrônico), e-government (governo eletrônico), 
elearning (ensino a distancia) entre outras. Atualmente não pertence a 
nenhum país, podendo ser utilizada por todos. 
A Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) editou a norma nº. 
004/95, a qual traz, como sendo o conceito da internet o “nome genérico que 
designa o conjunto de redes, os meios de transmissão e comutação, roteadores, 
equipamentos e protocolos necessários à comunicação entre computadores, bem 
como o software e os dados contidos nesses computadores.” (BRASIL, 1995) 
23 
 
 
 
Gustavo Testa Corrêa entende a internet como um sistema global de rede de 
computadores que possibilita a comunicação e atransferência de arquivos de uma 
máquina à outra qualquer, conectada na rede,possibilitando, assim, um intercâmbio 
de informações sem precedentes na história,de maneira rápida, eficiente e sem a 
limitação de fronteiras, culminando com acriação de novos mecanismos de 
relacionamento (CORRÊA, 2012). 
Depreende-se daí que a Rede mundial de computadores não é apenas um 
sistema organizado de máquinas, mas sim constitui verdadeiro instrumento de 
comunicação no mundo atual, aproximando as grandes distâncias territoriais e 
garantindo as trocas comerciais e pessoais, em qualquer noção de espaço e de 
tempo. 
Importante salientar, ainda, o pensamento de Ivar Hartmann, que aproxima o 
conceito de Internet da noção de fenômeno social. Para o referido autor, a Rede 
Mundial de Computadores poderia ser tida como um verdadeiro fenômeno social 
pela facilidade de se conseguir o acesso a ela, pelo caráter global de sua estrutura, 
pela sua descentralização, por ser extremamente rápida a transmissão das 
informações e, por fim, pelo aspecto dúplice em que essas informações são 
transmitidas. 
É possível compreender seu significado, numa visão bem simples, como 
sendo uma rede de computadores interligados entre si por meio de um sistema 
internacional,capaz de permitir um constante intercâmbio de informações, 
armazenamento e transmissão de dados e a utilização de diversos outros serviços 
disponibilizados pela rede e que representa um potente fenômeno social, que 
permitem a troca contínua e em tempo quase real de diversas informações e dados. 
Dessa forma, informações lançadas na rede chegam rapidamente a milhares de 
pessoas no mundo inteiro.(SANTOS, 2013) 
Segundo Castells“a internet é um meio de comunicação que permite, pela 
primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em 
escala global”(CASTELLS, 2003, p.08). O que importa dizer que nesse ambiente 
virtual tão difundido na sociedade, existe uma infinidade de redes sociais, blogs, 
24 
 
 
 
vídeos e sites dos quais permitem uma rápida e intensa propagação de informações 
entre seus usuários. 
Percebe-se, portanto, que, por ser a web um espaço onde não há regulação 
específica acerca do conteúdo que pode ser veiculado bem como da 
responsabilidade pelo que é difundido – apesar de alguns países possuírem 
legislação própria que tratam das responsabilidades na internet, não há um 
consenso internacional acerca do tema– o espaço de liberdade que o usuário tem é 
muito mais amplo.(FELTRIN, 2011) 
Neste contexto, a liberdade de expressão aliada à internet nem sempre é 
usada com ointuito de construção de uma comunidade melhor ou em prol de alguma 
causa social. Muitas vezes, a liberdade conferida pela web e garantida 
constitucionalmente, é utilizada de forma errada, ilegal. (FELTRIN, 2011) 
Então, mesmo que o ambiente virtual potencialize o direito à liberdade de 
expressão, eis que existem inúmeros espaços para se propagar ideias e 
pensamentos, deve haver cuidado no exercício dessa livre expressão, pois esta 
pode ultrapassar os limites delineados pelo direito, e que, no Ordenamento Jurídico 
Brasileiro, foi autorizado no artigo 5º, IV da Constituição Federal, e dessa forma 
configurar abuso de direito. 
O abuso de direito, previsto explicitamente no art. 1878, do Código Civil 
brasileiro, ocorre toda a vez que alguém, ao exercer um direito que lhe é 
assegurado, excede os limites estabelecidos, tanto pela lei, quando pelas finalidades 
sociais e econômicas, ferindo direitos de outrem. 
Uma das formas de configuração desse abuso de direito na Internet é através 
do discurso do ódio, que, segundo alude Meyer-Pflug"consiste na manifestação de 
idéias que incitam a discriminação racial, social ou religiosa em relação a 
determinados grupos, na maioria das vezes, as minorias”(MEYER-PFLUG, 2009, p. 
97).Evidenciando, ainda,que este tipo de discurso tem a finalidade de desqualificar e 
inferiorizar um grupo de pessoas. 
 
8
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os 
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
25 
 
 
 
Outro fator negativo é que, na internet, pessoas podem se reinventar, 
utilizando perfis fakes, comentários anônimos, entre outros. Assim, o sujeito pode se 
apresentar com uma identidade diferente de acordo com sua vontade e interesse, 
amparado pelo anonimato que o espaço digital permite. É exatamente esse 
sentimento de anonimato do meio digital que traz a ideia de que aquelas pessoas 
que atacam não serão responsabilizados pelos atos que cometem. Além disso, a 
internet, por sua versatilidade, é um meio que propicia o discurso de ódio.(RANGEL, 
2013) 
 
2.2 O DISCURSO DE ÓDIO NA INTERNET 
 
Para melhor compreensão do tema, faz-se necessário encontrar o conceito 
de"discurso de ódio". Antes de especificar sobre o que se trata, importante distingui-
lo de outras expressões que podem gerar confusão no conceito, tais como 
"preconceito", "discriminação" e "racismo". 
Segundo Bobbio o preconceito é uma opinião equivocada, considerada como 
verdadeira por determinadas pessoas. Entretanto, adverte que nem toda 
manifestação equivocada pode ser considerada como preconceito. O autor 
diferencia o termo em duas classes: os individuais e os sociais (MEYER-PFLUG, 
2009). 
O primeiro está relacionado às crenças e às superstições. Já o preconceito 
social é aplicado por um determinado grupo social contra outro, sendo este o mais 
grave, uma vez que tem o poder de disseminar até mesmo guerras, na medida em 
que esses grupos sociais acreditam no conteúdo preconceituoso e se enfrentam. 
No que tange ao racismo, este pode ser conceituado como qualquer 
pensamento ou atitude que separam as raças humanas por considerarem algumas 
superiores a outras. Já a discriminação nasce no momento em que se detecta a 
existência de diferenças entre os grupos, é o ato de tratamento injusto dado a 
alguém por causa de características pessoais. 
Bobbio aduz que a discriminação é mais forte do que a simples diferença, 
pois ela é utilizada em um sentido pejorativo e tem por fundamento critérios 
26 
 
 
 
ilegítimos, normalmente relacionados à ideia de superioridade de um grupo em 
relação ao outro. 
O discurso de ódio compõe-se de dois elementos básicos: discriminação e 
externalidade. Afirma Winfried Brugger que “o discurso do ódio refere-se a palavras 
que tendem a insultar, intimidar ou assediar pessoas em virtude de sua raça, cor, 
etnicidade, nacionalidade, sexo ou religião, ou que têm a capacidade de instigar 
violência, ódio ou discriminação contra tais pessoas” (BRUGGER, 2007, p. 118). 
Ou seja, consiste na divulgação de mensagens que difundem e estimulam o 
ódio racial, a xenofobia, a homofobia e outras formas de ódio baseadas na 
intolerância, que confrontam os limites éticos de convivência objetivando a privação 
de direitos dessas minorias e, em casos extremos, para dar razão a homicídios. 
Segundo Rosane Leal da Silva o discurso de ódio caracteriza-se pelo 
conteúdo segregacionista, fundado na dicotomia da superioridade do emissor e na 
inferioridade do atingido e pela externalidade, existindo apenas quando for dado a 
conhecer a outrem que não o próprio emissor, uma vez que a palavra "discurso" 
sugere a ideia de "ser proferido em público, ou escrita como se fosse para esse fim". 
(PRIBERAM, 2016) 
Importante salientar que não se tratam de agressões dirigidas a uma pessoa 
específica, não é um insulto individual, o discurso de ódio é aquele dirigido a um 
grupo ou uma classe de pessoas. (BOCCHI, 2014) 
O Conselho da Europa (Concil of Europe) é um Organização internacional 
fundada a 5 de Maio de 1949, tendo como propósito não só a defesa dos direitos 
humanos como também o desenvolvimento democrático e a estabilidade político-
social na Europa. Dentro do Conselho da Europa encontra-se a Convenção 
Europeia dos Direitos Humanos e o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. 
Esse conselho tem uma definição muito parecida acerca do Discurso de Ódio, 
aduzindo ser qualquer expressão que espalha, incita, promove ou justifica ódio 
racial, xenofobia, antissemitismo ou qualquer outra forma de intolerância, incluído aí 
a intolerância causada por nacionalismo agressivo e etnocentrismo, discriminação e 
hostilidade contra minorias, migrantes e pessoas de origem estrangeira. 
27 
 
 
 
Percebe-se, assim, que o discurso de ódio visa objetificar um grupo de 
pessoas, atacando-as, conforme foi salientado anteriormente. Além de demonstrar 
emoção de aversão extrema, desprezo, intolerância, o autor ainda apoiar, provocar 
ou incitar outros a propagarem esse ódio. Quando se faz um discurso nesse sentido, 
está sendo ferido o direito fundamental da dignidade da pessoa humana, não 
apenas de um indivíduo, mas de um grupo, ou um povo que possuem as mesmascaracterísticas, seja a raça, a religião ou a ideologia, por exemplo. 
A importância da dignidade da pessoa humana como direito fundamental é 
salientada por Ingo Wolfgang Sarlet9: 
[...] sem que se reconheçam á pessoa humana os direitos 
fundamentais que lhe são inerentes, em verdade estar-se-á negando-lhe a 
própria dignidade, o que nos remete á controvérsia em torno da afirmação de 
que ter dignidade equivale apenas a ter direitos(e/ou ser sujeito de direitos), 
pois mesmo em se admitindo que onde houver direitos fundamentais há 
dignidade, a relação primária entre dignidade e direitos, pelo menos de 
acordo com o que sustenta parte da doutrina, consiste no fato de que as 
pessoas são titulares de direitos humanos em função de sua inerente 
dignidade. 
O discurso de ódio vai além da forma falada, ele pode ser praticado em 
diferentes esferas de atividades, sendo ela política, ou através da mídia ou por meio 
de publicações na internet. Quando esse tipo de discurso é lançado nas redes 
sociais, através da internet, a mensagem, foto, vídeo, etc, atinge a milhares de 
pessoas quase que instantaneamente. 
Entretanto a identificação desse tipo de discurso não se encontra de maneira 
explicita nas redes sociais, pois os seus propagadores buscam incentivar outras 
pessoas a cultivarem esse ódio de maneira implícita, muitas vezes utilizando o 
argumento de estar exercendo o direito fundamental da liberdade de expressão. 
Tratando-se, dessa forma, de um discurso articulado para ofender e atacar os 
direitos fundamentais de outrem. (CABRAL, 2013) 
A organização "Artigo 19"10 recomenda a adoção de alguns critérios de 
identificação do discurso de ódio, elaborados para servir de orientação às Cortes 
 
9 SARLET, 2011, p.102 
10 Organização não-governamental de direitos humanos nascida em 1987, em Londres, com a missão de 
defender e promover o direito à liberdade de expressão e de acesso à informação em todo o mundo. Seu nome 
tem origem no 19º artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU 
28 
 
 
 
para identificá-los. Sendo assim, a ofensa deve ser “a mais severa e profunda forma 
de opróbrio”; deve haver intenção de incitar o ódio além de ser considerada a forma, 
estilo e natureza dos argumentos empregados; o discurso deve ser dirigido ao 
público em geral ou à um número de indivíduos em um espaço público; não é 
necessário que o dano ocorra de fato, entretanto é preciso haver a averiguação de 
algum nível de risco de que algum dano resulte de tal incitação; o tempo entre o 
discurso e a ação não pode ser demasiado longo de forma que não seja razoável 
imputar ao emissor do discurso a responsabilidade pelo eventual resultado e, por 
ultimo, o contexto em que é proferido o discurso é de suma importância para verificar 
se as declarações tem potencial de incitar ódio e gerar alguma ação. 
Para Bhikhu Parekh existem três características essenciais para se identificar 
esse tipo de discurso. Primeiramente, ele deve dirigir-se a um indivíduo específico 
ou a um grupo de indivíduos baseado em uma característica arbitrária e 
normativamente irrelevante, ou seja, deve delimitar uma parcela particular da 
humanidade. Segundo que o discurso de ódio, para ser assim caracterizado, deve 
estigmatizar o grupo-alvo, imputando a ele, seja de maneira implícita ou explícita, 
uma qualidade considerada indesejável. 
Por último, o grupo alvo é visto como indesejado e tido como um objeto 
legítimo de hostilidade, que, segundo os haters, não pode ser confiável como 
membro da sociedade e representa uma ameaça a sua estabilidade e bem-estar. O 
pensamento é de que a sociedade estaria melhor sem eles e, por este motivo, 
passam a atacar, julgando ser legítimo o extermínio ou expulsão do grupo alvo. E se 
isso for impossível, passa-se a discriminá-lo ou confiná-los a uma existência sombria 
à margem da sociedade. Dessa maneira, o discurso de ódio encoraja e pretende 
justificar a discriminação.(RANGEL, 2013) 
Segundo Steffen (apud MOREIRA, 2012) o incitamento a ódio através da 
Internet não é diferente do incitamento através de um jornal, da televisão ou de um 
livro, por exemplo. Naturalmente, a diferença está no alcance do qual podem chegar 
este discursos e argumentos. A Internet fornece aos propagadores de ódio uma 
maneira fácil e eficaz de poder levar a milhões de pessoas suas visões e 
pensamentos através não só de palavras, como também de aúdios, vídeos, 
29 
 
 
 
fotografias, elementos de persuasão e conquista do usuário, além de poder ter 
acesso a tudo isso em tempo real. 
Jeremy Waldron(apud BRIAN LEITER, 2012), que define o discurso de ódio 
como sendo aquele em que se publicam profundo desrespeito, ódio e difamação 
contra grupos minoritários, acreditaque as formas de ataque às minorias vulneráveis 
estão incluídosaqueles que são publicados na internet, eis que, num ambiente virtual 
o ataque pode ressoar por muito mais tempo depois do que a palavra falada, 
afirmando, ainda, que o debate sobre a regulação da incitação ao ódio deve focar 
nesse ponto, visto que a permanência da ofensa postada ou da imagem publicada, 
por exemplo, é preocupante justamente pelo fato da duração e do alcance que esta 
mensagem pode ter. 
Para ele, o fato de o discurso não depender da existência e da preservação 
do papel impresso e ser facilmente acessado através de sites de busca, como o 
Google ou similares,faz piorar o problema acerca do tema, vez que aqueles fazem 
com quem o material torne-se rapidamente disponível para qualquer pessoa no 
mundo. Além disso, esses discursos tornam-se uma parte permanente do meio em 
que essas minorias fazem parte, como por exemplo, um vídeo de calúnia que torna-
se "viral", atraindo milhões de telespectadores, para, em seguida, existir no 
ciberespaço para sempre. 
O sentimento de anonimato e distanciamento entre o ofensor e o ofendido em 
discursos de ódio através da internet perpetram a sensação de que são isentos de 
responsabilidade. Além disso, a versatilidade encontrada na web, suas várias formas 
de se expressar, acaba propiciando o discurso de ódio: 
O incitamento a ódio através da Internet não é diferente do incitamento 
através de um jornal, de um panfleto, um livro ou mesmo dentro de uma 
torcida organizada. A diferença, naturalmente, está no alcance destes 
discursos e argumentos. A Internet fornece aos movimentos de ódio uma 
maneira fácil e de custo baixo de levar a – potencialmente – milhões de 
pessoas suas visões e pensamentos. Além disso, as próprias características 
interativas e a multiplicidade de linguagens que o meio suporta – áudio, 
vídeo, texto, fotografia, etc. – são, em si, elementos de persuasão, de 
conquista do usuário, e podem ser articuladas como forma de exposição e 
construção do discurso odioso (STEFFEN, C; WAINBERG, J.A., 2008, p. 23) 
É como pensa também Adriana Abreu M. Dias, segundo ela, quando o 
discurso de ódio é praticado através da internet, a maior dificuldade a ser 
30 
 
 
 
encontrada é o fato de que, na Internet, o discurso de ódio é produzido, legitimado e 
reproduzido à exaustão cada site retirado do ar, por denúncia, recebe, em média, 
três novos "espectadores", ou seja, nas redes sociais, quando uma pagina é 
denunciada, outras surgem e o debate intolerante continua a se proliferar, 
dificultando a ação do Estado. 
 
2.3 OS LIMITES À LIBERDADE DE EXPRESSÃO x O DISCURSO DE ÓDIO NA 
INTERNET 
 
As manifestações de ódio perpetradas no ciberespaço, por meio de suas 
características peculiares de disseminação das informações, atingem grande 
extensão e amplitude quanto a seus efeitos. A exclusão de fronteiras temporais e 
espaciais possibilitada pela Internet,permitindo o acesso aos dados inseridos na 
rede a qualquer pessoa que esteja conectada, além de sua característica de espaço 
cultural interativo, onde as informações podem ser apropriadas e republicadas 
inúmeras vezes, em um espaço de tempo curtíssimo, amplia o poder do discurso de 
ódio, em especial quanto à possibilidade de violação à dignidade de um número 
exponencialmente maior de vítimas, comparada até mesmo à mídia de radiodifusão 
e televisiva.(PEZZELA, 2015) 
A livre expressão é um direito fundamental, portanto, aquela praticada na 
internet é legal. Todavia, jamais podem ser ultrapassados os limites subjetivos 
existentes no ordenamento jurídico brasileiro, pois, como já mencionado no capítulo 
anterior, a mesma Constituição que protege o direito à liberdade de expressão, 
garante a igualdade de tratamento a todos. 
A grande questão, no momento, é saber como equilibrar a liberdade de 
expressão e o limite alcançado por ela, ponto especialmente importante e difícil no 
mundo virtual da Internet, onde toda a informação se espalha tão rapidamente e 
facilmente como nunca antes. Com a grande proliferação de contas nas redes 
sociais e micro blogs é bastante comum alguém sentir-se ofendido e processar o 
31 
 
 
 
autor do ato, seja feito através de uma imagem ou mesmo um comentário. 
(POZZEBON, 2011) 
Ressalta-se que os direitos fundamentais são relativos, já que podem entrar 
em conflito uns com os outros, impondo-se, assim, limitações recíprocas. A liberdade 
de expressão, como qualquer outro direito fundamental, não é absoluta e possui 
limites, vez que nenhum direito fundamental pode ser usado como escudo para a 
prática de atos ilícitos, estando seu titular protegido apenas quando este se move na 
seara dos atos lícitos, pois seria uma contradição em termos definir uma mesma 
conduta como um direito e um ilícito, conforme leciona André Ramos 
Tavares(TAVARES, 2015, p.528): 
Não existe nenhum direito humano consagrado pelas Constituições 
que se possa considerar absoluto, no sentido de sempre valer como máxima 
a ser aplicada nos casos concretos, independentemente da consideração de 
outras circunstâncias ou valores constitucionais. Nesse sentido, é correto 
afirmar que os direitos fundamentais não são absolutos. Existe uma ampla 
gama de hipóteses que acabam por restringir o alcance absoluto dos direitos 
fundamentais. Assim, tem-se de considerar que os direitos humanos 
consagrados e assegurados: 1º) não podem servir de escudo protetivo para a 
prática de atividades ilícitas; 2º) não servem para respaldar irresponsabilidade 
civil; 3º) não podem anular os demais direitos igualmente consagrados pela 
Constituição; 4º) não podem anular igual direito das demais pessoas, 
devendo ser aplicados harmonicamente no âmbito material. 
 
Em outras palavras, mesmo sendo um direito fundamental, a liberdade de 
expressão não se caracteriza como absoluto uma vez que, em algumas situações 
ela concorrerá ou estará em colisão com outros direitos fundamentais, o que deverá 
ser dirimido mediante um juízo de ponderação, a ser realizado no caso concreto, ou 
seja, o seu exercício não pode ferir ou desrespeitar os direitos das outras pessoas e 
nem ser utilizado para efetuar atividades ilícitas ou criminosas. 
As manifestações e ideias de uma pessoa não podem ofender a outrem, eis 
que a liberdade de expressão não serve como justificativa para incitar a violência, o 
ódio, a intolerância, indo de encontro a outros direitos fundamentais igualmente 
protegidos pela Constituição Federal. Nas hipóteses onde o exercício da liberdade 
de pensamento e expressão fere direito constitucionalmente consagrado de outrem, 
há de existir a devida limitação e punição. (A. SILVA, 2014) 
32 
 
 
 
Tal lógica também é aplicada na expressão intelectual e artística, de modo 
que se uma página da internet prega o preconceito contra uma minoria, deve 
imediatamente ser retirada do ar e os responsáveis por ele devidamente punidos. 
Vê-se que apesar de ser proibida a censura e dispensada a licença, deve haver a 
responsabilização daqueles que praticarem abuso no exercício do seu direito de 
liberdade de expressão. 
Esse cerceamento do direito à liberdade de expressão devido ao abuso do 
mesmo, pode ser entendido como uma forma de censura permitida no nosso 
ordenamento jurídico, que seria a judicial (através da sanção). (A. SILVA, 2014) 
O artigo 10ª da Convenção Europeia dos Direitos do Homem é utilizado 
internacionalmente quando se fala em discurso de ódio e liberdade de expressão, 
percebe-se que este direito fundamental passa a ser limitado quando se impõe 
responsabilidades dos atos praticados em seu nome: 
ARTIGO 10.º 
Liberdade de expressão 
1 - Qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão. Este direito 
compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber ou de transmitir 
informações ou ideais sem que possa haver ingerência de quaisquer 
autoridades públicas e sem considerações de fronteiras. O presente artigo 
não impede que os Estados submetam as empresas de radiodifusão, de 
cinematografia ou de televisão a um regime de autorização prévia. 
2 - O exercício destas liberdades, porquanto implica deveres e 
responsabilidades, pode ser submetido a certas formalidades, condições, 
restrições ou sanções, previstas pela lei, que constituam providências 
necessárias, numa sociedade democrática, para a segurança nacional, a 
integridade territorial ou a segurança pública, a defesa da ordem e a 
prevenção do crime, a protecção da saúde ou da moral, a protecção da honra 
ou dos direitos de outrem, para impedir a divulgação de informações 
confidenciais, ou para garantir a autoridade e a imparcialidade do Poder 
Judicial. 
A forma de abuso do direito de liberdade de expressão que mais nos 
interessa no momento é quando ele ocorre através da intolerância e do seu 
consequente discurso de ódio, que ocorrem quando um indivíduo se utiliza de seu 
direito à liberdade de expressão para inferiorizar e/ou discriminar outrem baseado 
em suas características, tais como sexo, etnia, orientação sexual, religião, entre 
outras. (A. SILVA, 2014) 
33 
 
 
 
Quando essa discriminação ocorre, fere-se a dignidade humana, um dos 
fundamentos principais da Constituição Federal é infringido, e aí que inicia o conflito 
entre os bens fundamentais da pessoa humana, quais sejam a liberdade de 
expressão e a sua dignidade, conflito este que se toma maiores proporções quando 
tais ideais são lançados na internet. 
O discurso de ódio se configura como tal por ultrapassar o limite do direito á 
liberdade de expressão, incitando a violência, desqualificando a pessoa que não 
detém as mesmas características ou que não concorda com as mesmas ideias, 
violando o principio da dignidade da pessoa humana, princípio que faz as vezes de 
base para o Estado democrático de direito, e, ao eleger o destinatário como “inimigo 
comum” incita a violência e seu extermínio, o que o torna merecedor de atenção 
especial por parte dos juristas, especialmente quando essas mensagens são 
veiculadas na internet, tecnologia que vai muito além de qualquer outro meio de 
comunicação.(SILVEIRA, 2012) 
O que torna a questão ainda discutível é o fato de existirem grupos políticos 
que apoiam o discurso de ódio como uma forma de liberdade de expressão, 
defendendo este direito como sendo uma opinião e que mesmo que seja praticado 
de maneira agressiva, a pessoa tem o direito de expô-la. (CABRAL, 2013) 
Mencionada corrente prega que as diferenças precisam ser expostas e que as 
opiniões divergentes devem ser discutidas para que cada um possa formar sua 
própria forma de pensar após ter conhecimento das variadas formas de enxergar a 
sociedade. Istoporque o direito à livre expressão está ligado à tolerância pela 
pluralidade social, podendo cada um expor o que pensa, exercendo esse direito em 
sua plenitude e respeitando a ideia de cada indivíduo, mesmo que esta desagrade a 
maioria das pessoas.(CABRAL, 2013) 
Esta doutrina defende a tolerância à intolerância. Acerca do assunto, salienta 
Bobbio ser melhor uma liberdade sempre em perigo, mas expansiva, do que uma 
liberdade protegida, mas incapaz de se desenvolver, vez que somente uma 
liberdade em perigo é capaz de se renovar, enquanto uma liberdade incapaz de se 
renovar transforma-se mais cedo ou mais tarde, numa nova escravidão. (CABRAL, 
2013) 
34 
 
 
 
Mas a corrente mais aceita ainda é aquela em que se tem a preocupação 
quanto ao exercício da liberdade de expressão e se este incentiva o discurso do 
ódio. Daniel Sarmento questiona até que ponto, por exemplo, deve-se tolerar o 
intolerante, respondendo logo em seguida que "a verdade é que nem sempre a 
tolerância é a resposta moralmente correta diante de um conflito social". Ou seja, 
essa tolerância ao intolerante, de maneira exagerada, pode provocar a violação ou 
ameaça aos direitos humanos e à dignidade da pessoa humana (SARMENTO, 
2010). 
Ainda sobre o tema, Brugger explica a diferença entre a proteção dada ao 
discurso de ódio e a proteção que é dada à liberdade de expressão, diferenciando-
as (BRUGGER, 2009, p. 2): 
A maneira pela qual os sistemas jurídicos devem lidar com o discurso 
do ódio é uma matéria controvertida, mas isso não deve ser uma surpresa. 
Geralmente, Estados liberais valorizam a liberdade de expressão em 
abstrato, mas, na prática, é apenas o discurso ofensivo ou repulsivo que 
normalmente precisa de proteção. O discurso do ódio é uma das formas de 
discurso repugnante. A visão de que esse discurso horrendo mereça proteção 
está descrita nas obras de Voltaire, um proeminente representante do 
Iluminismo francês, cuja filosofia era “eu desaprovo o que você diz, mas eu 
defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. A visão contrária é que o 
conteúdo do discurso do ódio elimina, ou pelo menos minimiza, seu caráter 
comunicativo e, por essa razão, a expressão de mensagens racistas é 
apropriadamente vista mais como uma conduta do que como um discurso, 
não sendo aplicáveis, portanto, os argumentos baseados na liberdade de 
expressão. 
Com efeito, a proibição do discurso de ódio é vista mais como uma forma de 
garantir a liberdade de expressão do que de suprimí-la. Esse tipo de discurso não 
visa ao diálogo e busca apenas silenciar a expressão de minorias. Evidentemente os 
usuários da internet tem o direito de exercer suas liberdades fundamentais mas 
devem também preservar os demais direitos inerentes à pessoa humana. (LEITE, 
2013) 
Quando se navega na internet, não é difícil notar extremistas que aproveitam 
os fóruns abertos e outros ciberespaços para promover a sua ideologia intolerante. A 
verdade é que a Internet tem permitido que os considerados haterspossam ter uma 
audiência de milhões de pessoas, facilitando a comunicação entre os fanáticos que 
compartilham da mesma ideia, e que venham a buscar novos seguidores de forma 
anônima e mais barata. 
35 
 
 
 
Nos Estados Unidos, durante o período 2005-2008, supremacistas brancos 
espalharam suas mensagens de ódio e recrutaram novos membros através do uso 
de redes sociais, em sites populares como o MySpace e Facebook, mas tambéms 
em sites extremistas como New Saxon, que lhes permitem conectar-se a outros 
indivíduos muito mais facilmente do que os fóruns baseados na web ou grupos de 
discussão. Alguns deles tramavam o assassinato de Barack Obama. Dois deles 
foram presos e indicaram que teriam sido apresentados um ao outro por um amigo 
em comum em um site de rede social (LEADERSHIP CONFERENCE, 2009). 
Mesmo quando uma publicação é proibida de ir ao ar, após o crivo realizado 
pelos sites, os haters estão encontrando novas maneiras para espalhar a sua 
mensagem. Muitos jornais on-line permitem que os leitores postem comentários 
depois de cada artigo, é quando grupos de extremistas utilizam-se desses espaços 
para enviar comentários de ódio, muitas vezes completamente alheios ao artigo ao 
qual estão ligados. 
Além disso, sites de compartilhamento de vídeo, como o YouTube e 
MySpaceVideo, são outro meio encontrado pelos extremistas para promover o 
material de propaganda e de ódio. Na maioria das vezes os usuários procuram por 
informações completamente alheia ao assunto e acabam encontrando esses vídeos. 
(LEADERSHIP CONFERENCE, 2009) 
Com o cada vez mais crescente número de pessoas que acessam a internet 
através do telefone celular, os grupos extremistas estão reformatando seus sites 
para torná-los acessíveis através de Mobile Web. Sites como o Stormfront, por 
exemplo, um dos maiores e mais populares ciberespaços que tratam da supremacia 
ariana e o fórum Vanguard News Network, são totalmente acessíveis e pesquisáveis 
através de um telefone celular. 
É possível o acesso aos referidos sites uma vez que, nos Estados Unidos, a 
Primeira Emenda protege normalmente o discurso de ódio, apesar de haver grande 
debate acerca dessa questão. Entretanto, quando a publicação contém uma ameaça 
direta, contra uma determinada pessoa, organização ou instituição, ele cruza a linha 
de conduta criminosa, ou seja, o discurso de ódio contendo ameaças criminosas não 
é protegido. (WALDRON, 2012) 
36 
 
 
 
Na Europa, no ano de 2015, foi possível acompanhar noticias acerca do 
grande numero de imigrantes sírios que deixaram seu país em busca de condições 
humanas de vida, vez que seu país encontra-se em guerra. E com o aumento da 
chegada dos imigrantes, cresceu também a hostilidade e a violência xenófobas. Nos 
seis primeiros meses do ano, foram registrados 150 incêndios criminosos e outros 
tipos de ataques contra abrigos para pessoas que aguardam a análise de seus 
pedidos de asilo. (KILLIG, 2015) 
A crise dos refugiados também chegou nas redes sociais, que foram 
"invadidas" com mensagens, imagens e vídeos racistas e xenófobas, no Facebook, 
por exemplo, foram criadas diversas páginas que faziam campanhas para 
desencorajar os refugiados a atravessarem os países do leste europeu. Entretanto, 
esse mesmo site tem buscado banir usuários que pratiquem e disseminem o ódio 
através de sua plataforma. 
Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, declarou em fevereiro de 2016, em 
Berlin, que a rede social pode controlar o discurso de ódio. Na Alemanha, o site 
contratou 200 trabalhadores para monitorizar, face ao número crescente de 
postagens de ódio publicados por simpatizantes do neonazismo, sobre os refugiados 
que chegam à Europa. Ainda assim, Zuckerberg reconhece que o Facebook 
cometeu alguns erros, ao não considerar os migrantes como uma classe protegida, 
assim como as minorias raciais. Importante salientar que a legislação alemã prevê 
penas de até três anos de prisão para utilizadores das redes sociais que incitem ao 
ódio ou violência através destas plataformas. (BOURDON, 2016) 
Nota-se que, mesmo nos países em que há leis que busquem restringir o 
discurso de ódio, elas não possuem o condão de impedir de fato o preconceito, o 
ódio de qualquer natureza, mas apenas de punir sua exteriorização e proteger os 
indivíduos que dele sejam alvo. 
3 O CONFLITO ENTRE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O DISCURSO DE 
ÓDIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
37 
 
 
 
3.1 TIPIFICAÇÃO DO DISCURSO DE ÓDIO PRATICADO NA INTERNET 
 
O ordenamento jurídico brasileiro protege a liberdade de expressão e outros 
direitos fundamentais que estão ligados ao problema do discurso de ódio, tal como a 
dignidade da pessoahumana. Todavia, ainda está dando os primeiros passos para 
tratar do tema, tendo o Ministério da Justiça informado, no final de 2014, a criação 
de um grupo, ligado à Secretaria de Direitos Humanos, para mapear os discursos de 
ódio ocorridos pelas mídias sociais.(AGÊNCIA BRASIL, 2014) 
 À época, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, ligada ao Ministério 
da Justiça, Ideli Salvatti, informou, baseando-se em dados da SaferNet que os 
discursos de ódio no Brasil cresceram 300% e 600% entre 2013 e 2014. Segundo 
Salvatti, a legislação brasileira precisa ser revista quando se trata de crimes 
cibernéticos, vez que este desemboca no crime real. Geralmente as principais 
vítimas dos crimes de ódio via internet são as minorias já discriminadas há tempos 
pela sociedade: negros, nordestinos, mulheres e LGBTs. (TRUZZI, 2014) 
A Lei 12.965/2014, mais conhecida como Marco Civil da Internet, apesar de 
estabelecer "princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no 
Brasil", que facilitam o uso e responsabilizam os usuários em casos de danos, não 
traz tipificação quanto ao discurso de ódio ou crimes contra a dignidade da pessoa 
humana na rede. 
Entretanto, há o Projeto de Lei nº 7.582 de 2014, da deputada federal Maria 
do Rosário, cujo objetivo é definir quais são os crimes de ódio e intolerância e criar 
mecanismos para coibi-los. Pelo projeto, constitui crime de ódio a ofensa à vida, à 
integridade corporal, ou à saúde de alguém, motivada por preconceito ou 
discriminação em razão de classe e origem social, condição de migrante, refugiado 
ou deslocado interno, orientação sexual, identidade e expressão de gênero, idade, 
religião, situação de rua e deficiência.(FREIRE, 2015) 
Passa, também, a constituir crime, praticar, induzir ou incitar a discriminação 
ou preconceito, por meio de discurso de ódio ou pela fabricação, comercialização, 
veiculação e distribuição de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou 
38 
 
 
 
propaganda, por qualquer meio, inclusive pelos meios de comunicação e pela 
internet, em razão de classe e origem social, condição de migrante, refugiado ou 
deslocado interno, orientação sexual, identidade e expressão de gênero, idade, 
religião, situação de rua e deficiência.(PL 7.582/2014) 
O que pôde-se perceber é que ainda não há, no Brasil, uma legislação 
especifica que regule o discurso de ódio como crime, ainda mais quando este é 
praticado através da internet. Deste modo, cabe ao Poder Judiciário tutelar tais 
questões com a legislação existente, a qual aplicada ao caso concreto supre as 
lacunas que vem surgindo, diante desse novo conflito da era digital.(FELTRIN, 2012) 
Com efeito, não havendo hierarquia entre os direitos fundamentais, o que 
pode ocorrer é que, diante de uma situação fática, os mesmos se choquem. Dessa 
forma, sendo a web “o tecido de nossas vidas neste momento” (CASTELLS, 2003, 
p.255) cabe ao Judiciário a resolução dos novos conflitos que surgem. 
 
3.2 ENTENDIMENTONO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
Cumpre salientar que, por se tratar de tema novo, ainda existem poucos 
julgados a respeito do discurso de ódio. Entretanto, pode-se compreender qual o 
posicionamento dos tribunais brasileiros a partir do estudo de alguns casos. 
Inicialmente, demonstra-se importante o estudo de um dos mais famosos casos do 
ordenamento jurídico brasileiro, e que veio tratar acerca desse tipo de discurso, 
embora não no âmbito da internet, qual seja o julgado do Habeas Corpus 
82.424/RS. 
Referido HC tratou a respeito da propagação de discurso de ódio antissemita, 
proposto contra SiegfriedEllwanger, escritor e sócio de uma editora de livros 
chamada “Revisão Editora LTDA”. Ele escreveu, editou e publicou diversas obras de 
sua autoria e de outros autores nacionais e estrangeiros, que, de acordo com o que 
constava na denúncia, abordam temas antissemitas, racistas e discriminatórios, 
procurando com isso incitar e induzir a discriminação racial, semeando em seus 
39 
 
 
 
leitores os sentimentos de ódio, desprezo e preconceito contra o povo de origem 
judaica. 
Na época, o autor alegou que apenas estava descrevendo e desvendando 
mentiras históricas que durante décadas haviam sido contadas, além de que os 
judeus não representavam realmente um grupo racial distinto, uma vez que não 
apresentavam um conjunto de características genéticas específicas, além de que 
estava simplesmente exercendo o direito constitucionalmente garantido da liberdade 
de manifestação do pensamento. Entretanto, um imenso número de judeus e outros 
grupos étnicos e raciais sentiram-se ofendidos com tais declarações e alegaram a 
apologia a ideais neonazistas e preconceitos raciais.(STF, 2013. HC82424) 
O posicionamento do Supremo Tribunal Federal foi marcante para a 
jurisprudência brasileira eis que foi quando iniciou a delimitação referente ao 
tratamento empregado a esse tipo de matéria. (STF, 2013. HC82424) 
Em primeira instância o pedido do Ministério Público foi julgado improcedente, 
sendo que recorrida a decisão, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a 
reformou, considerando o acusado culpado pelo ato de incitar e induzir a 
discriminação, de acordo com o disposto no artigo 20, da Lei 7.716/89 que assim 
previa: “praticar ou incitar, pelos meios de comunicação social ou por publicação de 
qualquer natureza, a discriminação ou preconceito de raça, por religião, etnia, ou 
procedência nacional”. (STF, 2013. HC82424) 
Após a condenação, foi impetrado habeas corpus perante o Superior Tribunal 
de Justiça, onde sustentava o autor que não havia praticado o crime de racismo, 
mas sim, mera discriminação, baseando-se em teorias de que o povo judeu formava 
uma religião e não uma raça, o que não tornaria o crime imprescritível. Este foi 
negado e um novo habeas corpus foi impetrado, agora perante o Supremo Tribunal 
Federal, em que alguns votos merecem destaque. (STF, 2013. HC82424) 
O Ministros Moreira Alves, relator do processo, argumentou que do ponto de 
vista científico, os judeus não constituem uma raça, indicando que tal constatação 
poderia ser verificada em razão de dados físicos como cor da pele, formato dos 
40 
 
 
 
olhos e textura do cabelo. Portanto, em face da inexistência decrime de racismo, 
entendeu por deferir o pedido de habeas corpus e justificaro discurso do ódio. 
O Ministro Celso de Melo, que votou contrariamente ao habeascorpus, 
afirmou: “Aquele que ofende a dignidade pessoal de qualquer serhumano, 
especialmente quando movido por razões de fundo racista, tambématinge – e atinge 
profundamente – a dignidade de todos e de cada umde nós”(STF, 2013. HC82424). 
Quanto ao Ministro GilmarMendes, este discorreu sobre a colisão entre 
direitos fundamentais: de um lado, aliberdade de expressão e, de outro, a dignidade 
humana. Assim, utilizandoo princípio da proporcionalidade, também votou pelo 
indeferimento do remédio constitucional. Nessa mesma linha, o Ministro Carlos 
Velloso entendeu que a liberdade de expressão em momento algum pode se 
sobrepor à dignidade da pessoa humana e denegou o habeas corpus. 
Ao final do julgamento, concluiu-se que a liberdade de expressão nãopode 
servir de respaldo para manifestações preconceituosas, nem incitar aviolência e a 
intolerância contra grupos humanos. 
Outro caso importante ocorreu no ano de 2010, abordando o tema do 
discurso de ódio e a liberdade de expressão e que, dessa vez, foi proferido por meio 
de uma rede social virtual. Aludido ano fora de eleições presidenciais e nessa época 
o discurso de ódio tomou conta dos noticiários. Tanto candidatos como os eleitores 
não pouparam palavras ofensivas contra minorias nas redes sociais, como, por 
exemplo,

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