Buscar

Souza, Ivone Coelho de (Coord) A Perícia Psicológica No Direito De Família

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 105 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 105 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 105 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

JORNADA
A PERÍCIA
PSICOLÓGICA NO
DIREITO DE FAMÍLIA
21 DE MAIO DE 2007
PROMOÇÃO
JUSMULHER-RS
APOIO: EMA/AJURIS
SPRGS CRP-07 ABMCJ
SIPERGS
A JORNADA “A PERÍCIA PSICOLÓGICA NO
DIREITO DE FAMÍLIA” FOI UM EVENTO PROMOVIDO
PELO IBDFAM-RS E PELO JUSMULHER-
RGS, QUE OCORREU NO DIA 21 DE MAIO DE
2007 NO AUDITÓRIO DA AJURIS, RUA CELESTE
GOBATO, 229 EM PORTO ALEGRE, COM
INSCRIÇÕES GRATUITAS AOS PARTICIPANTES, E QUE
SE DESENVOLVEU EM TRÊS BLOCOS, CADA UM DELES
REPRESENTADO POR UMA MESA ONDE TRÊS
DIFERENTES GRUPOS DE CINCO CONVIDADOS
DESENVOLVERAM OS TEMAS “DO JUDICIÁRIO”,
“DO PERITO” E “DO PERICIADO”.
ESTA PUBLICAÇÃO TENTA RETRATAR OS
CONCEITOS ALI EXPOSTOS DE FORMA A TORNAR
PASSÍVEL SUA DIVULGAÇÃO E CONSULTA.
3
Palestrantes: Ana Luiza Castro
Delma Ibias
Lucio Garcia
Maria Aracy Costa
Maria da Graça Corrêa Jacques
Maria Inês Linck
Maria Regina Fay de Azambuja
Márcia Steffen
Mônica Guazzelli
Plínio Caminha de Azevedo
Renato Caminha
Rosa Magrinelli
Silvia Tejadas
Sonia Liane Reichert Rovinski
Verônica Chaves
Coordenação: Ivone Coelho de Souza
4
1 BLOCO - DO JUDICIÁRIO
COMPOSIÇÃO DA MESA
Ana Luiza Castro psicóloga coordenadora
Maria Inês Linck juíza de direito relatora
Márcia Steffen psicóloga
Mônica Guazzelli advogada
Plínio Caminha de Azevedo juiz de direito
Mônica Guazzelli
5
A PERÍCIA EM DIREITO DE
FAMÍLIA
MÔNICA GUAZZELLI
Advogada Especialista em Direito de Família
Mestre em Direito pela PUC/RS
Mônica Guazzelli
6
I – NOÇÕES SOBRE PROVA PERICIAL
Antes de qualquer observação é preciso definir o que é
e para o quê serve a produção de prova no processo.
Assim, provar é investigar e demonstrar como ocorreu
determinado FATO, confirmando sua exatidão. Ou seja, mesmo em um
processo as questões de direito não são alvo de prova, pois esta se limita
ao mundo fático.
Vários são os meios de prova e a perícia ou a prova
pericial, pode ser entendida como sendo qualquer trabalho de natureza
específica. Pode haver em qualquer área, sempre onde existir a controvér-
sia ou a pendência. Sua origem é no interesse de pessoas litigantes, no
interesse da justiça e no interesse público, podendo ser: arbitral, judicial,
extrajudicial, administrativa ou operacional. As mais conhecidas são clas-
sificadas como sendo de natureza criminal, contábil, trabalhista e outras
que, quando se necessite de constatação, prova ou demonstração, cientí-
fica ou técnica, da veracidade de situações, coisas e fatos.
Como sabido nos processos litigiosos diferentes são as
provas que se podem valer as partes para formar o convencimento judici-
al. Basicamente se usa das provas documentais – trazidas aos autos- oitiva
de testemunhas e das partes – o que se dá em audiência – e, em certos
casos pode-se postular a realização de diferentes provas periciais, com
exames e laudos mais específicos sobre determinado assunto.
Assim a perícia – antes de tudo – é um dos meios de
prova admitidos no processo judicial.
No direito processual vigora o princípio da inércia da
jurisdição, isto é, o juiz é inerte e só atua mediante a “provocação das
partes”. Em geral o juiz não devassa, mas apenas verifica e analisa as pro-
vas trazidas pelos litigantes. Contudo, importa referir que também o pró-
prio juiz poderá requisitar e determinar a realização de provas, mesmo
Mônica Guazzelli
7
que sem a provocação das partes, para que se sinta absolutamente seguro
quanto a decisão que deverá dar ao caso.
Veja-se que, por exemplo, mesmo que as partes não te-
nham requerido o juiz poderá fazer uma inspeção judicial ou determinar
uma perícia.
A orientação doutrinária mais recente é que o juiz, es-
pecialmente quando tratar de direitos indisponíveis - o que ocorre no di-
reito de família em geral – tenha uma maior intervenção.
O juiz pode não ser suficientemente apto a proceder -
pessoal e diretamente - a verificação e apreciação de certos fatos e – suas
causas e conseqüências, precisando da atuação de entendidos na matéria.
Este trabalho se apresentará ao juízo na forma de PROVA PERICIAL.
Este requisito de especificidade é que determinará a
necessidade – ou não – e, ou a conveniência - ou não- da realização deste
tipo de prova.
II – OBJETO DA PERÍCIA
A perícia terá por fundamento a PERCEPÇÃO e
CONSTATAÇÃO DE FATOS – os quais – na linguagem de Carnelutti – são
fatos que devem ser percebidos e constatados por técnicos, pois necessi-
tam de PERCEPÇÃO TÉCNICA, eis que exigem qualidades sensoriais
especializadas e conhecimentos científicos e técnicos capazes de
compreendê-los e distingui-los.
Em Direito de Família um exemplo já clássico é o exa-
me de DNA para determinar a existência ou não do vínculo biológico de
paternidade. O qual precisa ser realizado através de perícia por especialis-
tas em genética.
Em casos como o exame de DNA, a perícia se limita em
constatar o fato em si, mas há várias outras perícias – psiquiátricas e psico-
lógicas, por exemplo – onde se conjuga não só a verificação do fato, mas a
sua compreensão e apreciação, cumprindo ao perito, nesta hipótese, de-
pois de informar quanto a existência do fato, emitir um parecer ou juízo
Mônica Guazzelli
8
no tocante a sua natureza, valor e importância ou, ainda, sobre suas cau-
sas e efeitos (presentes e futuros).
Nestes casos é preciso tal valoração do experto, pois é
ela que tornará o fato inteligível ao magistrado, o qual em tese é leigo no
assunto específico.
Percepção; Observação; Apreciação são momentos da
Verificação. E a própria Interpretação dos fatos como apreciação que é –
reclama prévia verificação.
A perícia muitas vezes se resume na declaração de ciên-
cia de um fato, noutras é a declaração + a afirmação de um juízo, o que
resume a interpretação técnica, que nos casos de perícia psicológica tor-
na-se imprescindível.
O que caracteriza a perícia é justamente a
QUALIDADADE da declaração, posto que se trata de declaração de caráter
técnico, isto é uma declaração técnica sobre um elemento de prova.
III – O PERITO / EXPERTO
Os peritos – que são as pessoas entendidas tecnicamen-
te no assunto – vão fornecer a sua VERIFICAÇÃO + INTERPRETAÇÃO dos
fatos através de um laudo ou parecer.
O profissional no desempenho da função pericial deve
considerar os efeitos em benefício da sociedade, propiciando bem-estar a
todos que têm interesse no deslinde da controvérsia. As características de
excelência moral, intelectual e técnica são condições essenciais para o
encargo a ser confiado pelo Juízo. Dentre as principais qualidades que
formarão o conjunto de capacitação do perito, temos como exemplo, a
ética que conduz a um trabalho honesto e eficaz em decorrência de uma
formação sadia do profissional.
É acrescida também ao perito a capacidade de estar
sempre atualizado, pesquisando novas técnicas e estar sempre preparado
para a execução de trabalhos de boa qualidade.
O principal lastro de sustentação da realização profissi-
Mônica Guazzelli
9
onal constitui-se basicamente pelo compromisso moral e ético do perito
com a sua classe profissional e, consequentemente, com a sociedade.
IV – PERÍCIA JUDICIAL / EXTRAJUDICIAL
As perícias em relação ao processo podem ser JUDICI-
AIS ou EXTAJUDICIAIS – se for executada por ordem do juiz, de ofício ou
a requerimento da parte dentro do feito, ou se realizada fora do processo
por uma ou por ambas as partes e trazida para os autos.
Os pareceres escritos trazidos pelas partes para corro-
borar alegações; ocorre com relativa freqüência na seara familiar e nestes
casos o técnico funciona como um consultor da parte, e nessa condição
seu parecer equivale a uma perícia extrajudicial – assemelha-se a um pare-
cer emitidopor um jurisconsulto.
A perícia também pode ser realizada para ser aproveita-
da em processo futuro – quando se fala em perícia antecipada – ad perpe-
tuam rei memoriam.
V – BREVES NOTAS CONCLUSIVAS
Nas disputas familiares é de grande importância a perí-
cia psicológica até porque se está lidando com um ponto muito delicado
do ser humano, representado pelo seu universo de relações mais íntimas.
No processo, como se disse, o princípio é que o juiz é
livre para ordenar a prova pericial, mas respeitando a necessidade e utili-
dade que a prova poderá trazer ao feito.
Assim, as causas que envolvem direito familiar, justa-
mente pela natureza dos direitos postos em julgamento, quase sempre
indisponíveis, são justamente aqueles feitos em que o juiz pode e muitas
vezes até deve, ante a omissão das partes, determinar a realização de pro-
va pericial psicológica, pois a riqueza e abordagem que serão trazidas pelo
experto darão ao caso outra visão, muitas vezes mais ampla e rica, o que
com certeza dará ao magistrado mais subsídios para decidir o processo.
Mônica Guazzelli
10
A família é um sistema único, onde entre os membros
coexistem vários laços e uma enorme gama de afetos. Nem sempre estes
afetos redundam em harmonia e quando ocorrem as crises, os profissio-
nais da área psi são imprescindíveis para ajudar a compreender os dilemas
que precisarão ser analisados e considerados pelo magistrado, para que a
decisão judicial possa ser a mais justa possível, como se deseja.
11
Plínio Caminha de Azevedo
PERÍCIA É PROVA JUDICIAL?
PLÍNIO CAMINHA DE AZEVEDO
Juiz de Direito -
12
Plínio Caminha de Azevedo
PERÍCIA É PROVA JUDICIAL?
Diz o Código Civil de 2002:
DA PROVA
Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídi-
co pode ser provado mediante:
Vide art. 5º, XII e LVI, CF.
Vide art. 136, CC/1916.
Vide art. 332, CPC.
I - CONFISSÃO;
Vide arts. 213 e 214, CC.
Vide art. 136, I, CC/1916.
Vide arts. 348 a 354, CPC.
II - DOCUMENTO;
Vide arts. 107 a 109 e 215 a 226, CC.
Vide art. 136, III, CC/1916.
Vide arts. 364 a 399, CPC.
Vide Lei 7.115/1983 (Prova documental).
Vide Lei 7.116/1983 (Validade nacional das carteiras de
identidade).
Vide arts. 23 e 24, Lei 8.159/1991 (Política Nacional de
Arquivos Públicos e Privados).
III - TESTEMUNHA;
Vide arts. 227 a 229, CC.
Vide art. 136, IV, CC/1916.
Vide arts. 400 a 419, CPC.
13
Plínio Caminha de Azevedo
IV - PRESUNÇÃO;
Vide art. 136, V, CC/1916.
Vide art. 335, CPC.
V - PERÍCIA.
Vide arts. 231 e 232, CC.
Vide art. 136, VI e VII, CC/1916.
Vide arts. 18, § 2º, 420 a 439, 606, 607, 627, §§ 1º e 2º e
1.206, CPC.
(...)
Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessá-
rio não poderá aproveitar-se de sua recusa.
Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a
prova que se pretendia obter com o exame.
SEÇÃO VII
- DA PROVA PERICIAL (ARTIGOS 420 A 439)
Art. 420. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.
Vide arts. 846, parte final, e 850, Código de Processo Civil.
Parágrafo único. O juiz indeferirá a perícia quando:
I - a prova do fato não depender do conhecimento es-
pecial de técnico;
II - for desnecessária em vista de outras provas produzi-
das;
III - a verificação for impraticável.
Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a
entrega do laudo.
Caput com redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.08.1992,
DOU de 25.08.1992, em vigor quinze dias após sua publica-
ção.
Vide arts. 145, 331, § 2º, e 850, Código de Processo Civil.
14
Plínio Caminha de Azevedo
Vide art. 35, Lei nº 9.099/95 (Juizados Especiais).
§ 1º Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da
intimação do despacho de nomeação do perito:
I - indicar o assistente técnico;
II - apresentar quesitos.
Vide arts. 276 e 426, II, Código de Processo Civil.
§ 2º Quando a natureza do fato o permitir, a perícia poderá con-
sistir apenas na inquirição pelo juiz do perito e dos assisten-
tes, por ocasião da audiência de instrução e julgamento a
respeito das coisas que houverem informalmente examina-
do ou avaliado.
§ 2º com redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.08.1992, DOU de
25.08.1992, em vigor quinze dias após sua publicação.
Art. 422. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi
cometido, independentemente de termo de compromisso.
Os assistentes técnicos são de confiança da parte, não sujei-
tos a impedimento ou suspeição.
Artigo com redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.08.1992,
DOU de 25.08.1992, em vigor quinze dias após sua publica-
ção.
Vide art. 850, Código de Processo Civil.
Art. 423. O perito pode escusar-se (art. 146), ou ser recusado por im-
pedimento ou suspeição (art. 138, III); ao aceitar a escusa
ou ao julgar procedente a impugnação, o juiz nomeará novo
perito.
Artigo com redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.08.1992,
DOU de 25.08.1992, em vigor quinze dias após sua publica-
ção.
Vide art. 850, Código de Processo Civil.
Art. 424. O perito pode ser substituído quando:
Caput com redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.08.1992,
DOU de 25.08.1992, em vigor quinze dias após sua publica-
ção.
Vide art. 850, Código de Processo Civil.
I - carecer de conhecimento técnico ou científico;
15
Plínio Caminha de Azevedo
II - sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo
que lhe foi assinado.
Inciso II com redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.08.1992,
DOU de 25.08.1992, em vigor quinze dias após sua publica-
ção.
Parágrafo único. No caso previsto no inciso II, o juiz comu-
nicará a ocorrência à corporação profissional respectiva,
podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada tendo em vis-
ta o valor da causa e o possível prejuízo decorrente do atra-
so no processo.
Parágrafo único com redação dada pela Lei nº 8.455, de
24.08.1992, DOU de 25.08.1992, em vigor quinze dias após
sua publicação.
Art. 425. Poderão as partes apresentar, durante a diligência, quesitos
suplementares. Da juntada dos quesitos aos autos dará o
escrivão ciência à parte contrária.
Vide art. 850, Código de Processo Civil.
Art. 426. Compete ao juiz:
Vide art. 130, 421, § 1º, II, e 850, Código de Processo
Civil.
I - indeferir quesitos impertinentes;
II - formular os que entender necessários ao esclarecimento da
causa.
Art. 427. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na
inicial e na contestação, apresentarem sobre as questões de
fato pareceres técnicos ou documentos elucidativos que
considerar suficientes.
Artigo com redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.08.1992,
DOU de 25.08.1992, em vigor quinze dias após sua publica-
ção.
Vide art. 850, Código de Processo Civil.
Art. 428. Quando a prova tiver de realizar-se por carta, poderá proce-
der-se à nomeação de perito e indicação de assistentes téc-
nicos no juízo, ao qual se requisitar a perícia.
Vide arts. 202, § 2º, e 850, Código de Processo Civil.
16
Plínio Caminha de Azevedo
Art. 429. Para o desempenho de sua função, podem o perito e os as-
sistentes técnicos utilizar-se de todos os meios necessários,
ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando do-
cumentos que estejam em poder de parte ou em repartições
públicas, bem como instruir o laudo com plantas, desenhos,
fotografias e outras quaisquer peças.
(...)
Art. 431-B. Tratando-se de perícia complexa, que abranja mais de uma
área de conhecimento especializado, o juiz poderá nomear
mais de um perito e a parte indicar mais de um assistente
técnico.
Artigo acrescido pela Lei nº 10.358, de 27.12.2001, DOU de
28.12.2001, em vigor três meses após sua publicação.
Art. 432. Se o perito, por motivo justificado, não puder apresentar o
laudo dentro do prazo, o juiz conceder-lhe-á, por uma vez,
prorrogação, segundo o seu prudente arbítrio.
(...)
Art.433. O perito apresentará o laudo em cartório, no prazo fixado
pelo juiz, pelo menos 20 (vinte) dias antes da audiência da
instrução e julgamento.
Caput com redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.08.1992,
DOU de 25.08.1992, em vigor quinze dias após sua publica-
ção.
Parágrafo único. Os assistentes técnicos oferecerão seus
pareceres no prazo comum de 10 (dez) dias, após intimadas
as partes da apresentação do laudo.
Parágrafo único com redação dada pela Lei nº 10.358, de
27.12.2001, DOU de 28.12.2001, em vigor três meses após
sua publicação.
O parágrafo alterado dispunha o seguinte:
“Parágrafo único. Os assistentes técnicos oferecerão seus
pareceres no prazo comum de 10 (dez) dias após a apresen-
tação do laudo, independentemente de intimação.”
* Parágrafo único com redação dada pela Lei nº 8.455, de
24.08.1992, DOU de 25.08.1992, em vigor quinze dias após
17
Plínio Caminha de Azevedo
sua publicação.
Vide art. 850 , Código de Processo Civil.
(...)
Art. 435. A parte, que desejar esclarecimento do perito e do assisten-
te técnico, requererá ao juiz que mande intimá-lo a compa-
recer à audiência, formulando desde logo as perguntas, sob
forma de quesitos.
Vide arts. 452, I, e 850, Código de Processo Civil.
Parágrafo único. O perito e o assistente técnico só estarão
obrigados a prestar os esclarecimentos a que se refere este
artigo, quando intimados 5 (cinco) dias antes da audiência.
Art. 436. O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a
sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos
autos.
Vide arts. 131 e 850, Código de Processo Civil.
Art. 437. O juiz poderá determinar, de ofício ou a requerimento da
parte, a realização de nova perícia, quando a matéria não
lhe parecer suficientemente esclarecida.
Vide arts. 130 e 850, Código de Processo Civil.
Art. 438. A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre
que recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omis-
são ou inexatidão dos resultados a que esta conduziu.
Vide art. 850, Código de Processo Civil.
Art. 439. A segunda perícia rege-se pelas disposições estabelecidas
para a primeira.
Vide art. 850, Código de Processo Civil.
Parágrafo único. A segunda perícia não substitui a primeira,
cabendo ao juiz apreciar livremente o valor de uma e outra.
STJ-201139) RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATI-
VO. SERVIDOR PÚBLICO. CONCURSO. EXAME
PSICOTÉCNICO. CARÁTER SUBJETIVO.
IRRECORRIBILIDADE DOS TESTES. ILEGALIDADE
RECONHECIDA.
18
Plínio Caminha de Azevedo
1. Impossível a apreciação de violação de dispositi-
vos constitucionais em sede de recurso especial.
2. No exame de recurso especial, não se conhece
de matéria que não foi objeto de apreciação pelo
Tribunal de origem, ausente assim o necessário
prequestionamento.
3. Prequestionamento é o exame pelo Tribunal de
origem, e não apenas nas manifestações das par-
tes, dos dispositivos que se têm como afrontados
pela decisão recorrida.
4. Embora reconhecida a legalidade do exame
psicotécnico para a carreira de policial federal, é
vedada sua realização de modo sigiloso e
irrecorrível.
5. No que diz com a inexigibilidade da avaliação
psicológica em razão de anterior aprovação em
outro certame, a compreensão atual do Superior
Tribunal de Justiça é no sentido da
imprescindibilidade do aludido exame.
6. Recurso provido.
(Recurso Especial nº 396002/RS (2001/0193442-
0), 6ª Turma do STJ, Rel. Paulo Gallotti. j.
18.11.2003, unânime, DJ 30.10.2006).
TJSC-090569) DIREITO DE FAMÍLIA. PROCESSUAL
CIVIL. AÇÃO DE GUARDA E REGULAMENTAÇÃO
DE VISITAS. INSURGÊNCIA CONTRA A REALIZA-
ÇÃO DE EXAMES TÉCNICOS DE CUNHO PERICI-
AL. INVIABILIDADE. PODER DISCRICIONÁRIO
DO MAGISTRADO PARA AFERIR O MELHOR AMBI-
ENTE CAPAZ DE PROPORCIONAR AO INFANTE
PLENO DESENVOLVIMENTO. EXEGESE DO ART.
19
Plínio Caminha de Azevedo
130 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRETEN-
SÃO DAS PARTES EM NOMEAREM ASSISTENTES
TÉCNICOS. POSSIBILIDADE. INCLUSÃO DO ATU-
AL COMPANHEIRO DA GENITORA NOS ESTUDOS
PERICIAIS RECOMENDÁVEL. RECURSO PROVIDO.
1. “Em procedimentos que têm por objetivo pri-
mordial a salvaguarda física, moral e psicológica da
criança, conta o julgador com amplitude discricio-
nária mais significativa para sublevar aspectos jurí-
dico-formalísticos a fim de conferir maior seguran-
ça e eqüidade às decisões que proferir” (AI nº
2004.033800-4, de Ibirama).
2. Determinada a realização de estudo social, to-
mado este o caráter de perícia judicial ante a no-
meação pelo juízo de especialistas que não fazem
parte da equipe interprofissional, conveniente se
faz, em respeito aos princípios do contraditório e
ampla defesa, a intimação das partes para indica-
ção de assistentes técnicos e apresentação de que-
sitos (arts. 420 e seguintes do Código de Processo
Civil).
(Agravo de Instrumento nº 2005.001485-3, 3ª Câ-
mara de Direito Civil do TJSC, Itajaí, Rel. Des.
Marcus Túlio Sartorato. unânime, DJ 15.12.2005).
20
Plínio Caminha de Azevedo
A PROVA PERICIAL E A NOVA
REDAÇÃO DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL
IVAN LIRA DE CARVALHO
Juiz Federal
Professor da UFRN
Doutorando em Direito pela UFPE
I. INTRODUÇÃO
(...)
II. A MODIFICAÇÃO DO PAPEL DO ASSISTENTE TÉCNICO.
O primeiro dos preceptivos a sofrer alteração com a lei
nova foi o inciso III do artigo 138 do Código de Ritos. Dispunha a redação
originária do prefalado inciso que os mesmos motivos ensanchadores do
impedimento e da suspeição do Juiz (singular ou membro de Colegiado),
do representante do Ministério Público não-parte na demanda, do
serventuário da Justiça e do intérprete seriam também aplicáveis ao perito
e aos assistentes técnicos.
A nova dicção do Código de Processo Civil excluiu do
rol dos passíveis de suspeição e impedimento o assistente técnico, redu-
zindo-o, ao que se depreende, a um mero colaborador da parte que o
indicou, sem prejuízo de ser também visto como um eficaz colaborador
do juízo (ainda que de forma transversa), no afã de atingir a verdade pro-
cessual. A deliberada omissão do assistente técnico do elenco do artigo
138 do Código de Processo Civil está roborada, de forma explícita, na
redação inovadora do artigo 422 do mesmo codex, que na parte final afir-
ma que ditos auxiliares ‘são de confiança da parte, não sujeitos a impedi-
mento ou suspeição’.
Laborou acertadamente o legislador, ao impor esta revi-
são redacional do Código de Processo Civil. Com efeito, por ser pessoa
geralmente da estreita confiança de um dos litigantes, não se lhe deve ser
outorgado o mesmo status do perito judicial, este sim, um auxiliar precio-
21
Plínio Caminha de Azevedo
so do magistrado, que como tal deverá sempre exercer o encargo escru-
pulosamente e vinculado ao Judiciário por força de nomeação, sendo, por
isso mesmo, afastado da missão opinativa quando sobre si pesarem moti-
vos de impedimento ou de suspeição.
III. O PERITO E O PROCESSO.
Havido para alguns doutrinadores como ‘sujeito secun-
dário’ do processo, em face da sua configuração como auxiliar da Justiça
(conforme MAURO CUNHA e ROBERTO G. COELHO SILVA, Guia para o
Estudo da Teoria Geral do Processo, 1984, 122), o perito, ao dizer do
artigo 146 do Código de Processo Civil, ‘tem o dever de cumprir o ofício,
no prazo que lhe assina a lei, empregando toda a sua diligência’. Pode,
inobstante, escusar-se do encargo, desde que por motivo legítimo.
A escusa do experto tem prazo para ser apresentada:
cinco dias, a contar da intimação de que foi escolhido para o encargo ou
do aparecimento do motivo ensejador do impedimento ou da suspeição,
sob pena de ser reputado como renunciado o direito de alegá-los.
A vigente redação do parágrafo único do artigo 146 do
Código de Processo Civil fixou, para a escusa doperito, um novo dies a
quo: a intimação ou o impedimento ou a suspeição supervenientes ‘à re-
ferida comunicação processual’. Anteriormente, a suspeição e o impedi-
mento ulteriores à intimação somente poderiam ser apresentados como
base para a declinação do mister pelo perito, após a tomada do compro-
misso deste.
Registre-se que o legislador perdeu, com a reforma em
análise, excelente oportunidade para corrigir a omissão constatada no
corpo do parágrafo único do artigo 146 do Código de Processo Civil, que
apenas faz referência ‘ao impedimento’ como lastro para a escusa do peri-
to, esquecendo elemento de igual importância interferidora na
credibilidade do experto, que é a ‘suspeição’. Inobstante, como foi con-
servada, ao fim do texto, a expressa remissão ao artigo 423, e neste dispo-
sitivo está dito que o perito pode-se escusar ou ser recusado por impedi-
mento ‘ou suspeição’, não resta dúvida que os dois motivos podem dar
base à iniciativa do auxiliar pericial.
22
Plínio Caminha de Azevedo
IV. FACILITANDO A PRODUÇÃO DA PROVA PERICIAL.
Inovação de grande relevo foi introduzida na produção
da prova pericial com a substituição do absurdo texto do § 2º do artigo
421, que previa, em caso de pluralidade de autores ou de réus, a escolha
do assistente técnico pelo voto da maioria, e em caso de empate, pela
decisão da sorte. Agride ao bom senso a aparição da álea como instrumen-
to processual, mormente em um sistema jurídico que consagra o mono-
pólio do Estado na prestação jurisdicional, sendo tímidas as ‘delegações’
em sentido inverso (verbi gratia, O Juízo Arbitral - Código de Processo
Civil, artigo 1.072, e Lei nº 7.244, artigo 25). THEOTÔNIO NEGRÃO já
havia criticado com acidez: ‘Esta disposição não tem sentido, em face do
sistema adotado pelo Código de Processo Civil. De acordo com o antepro-
jeto, os peritos eram indicados pelas partes. Justificava-se, portanto, o sor-
teio, quando houvesse pluralidade de autores ou de réus. O assistente
técnico não passa, porém, de mero assessor dos litigantes: não é perito do
juízo; e, assim sendo, inexiste razão para que cada litisconsorte não fique
livre de indicar seu assistente técnico, especialmente no caso de interes-
ses distintos ou opostos (argumento do artigo 509, caput)’ (Código de
Processo Civil e Legislação Processual em Vigor, 1992, 274).
Consoante o novo § 2º do artigo 421 do Código de Pro-
cesso Civil, sempre que “a natureza do fato o permitir, a perícia poderá
consistir apenas na inquirição pelo Juiz do perito e dos assistentes, por
ocasião da audiência de instrução e julgamento a respeito das coisas que
houverem ‘informalmente examinado’ ou ‘avaliado’” (grifei).
Desnecessária, assim, a interferência presencial do Juiz
na produção da prova técnica. Sequer a marcação de dia, hora e lugar para
a realização da diligência é mais tarefa do magistrado, a teor da nova reda-
ção do artigo 427 do Código de Processo Civil.
Suprimindo tais atributos, passou o artigo 427 a cuidar
de tema mais importante, qual seja o de facultar ao Juiz a dispensa da
prova pericial, desde que as partes, na inicial ou na contestação, apresen-
tarem pareceres técnicos ou documentos suficientes ao esclarecimento
das questões fáticas. Consagrada está assim a atividade saneadora do Juiz,
23
Plínio Caminha de Azevedo
independentemente da topografia processual, posto que, com esteio no
mencionado artigo 427, exercerá mais confortavelmente a deliberação das
provas que interessem ao desate da questão sub judice.
Volvendo ao § 2º do artigo 421 do Código de Processo
Civil, cumpre anotar que quando ali está permitida a inquirição do perito
que houver examinado ou avaliado coisas, deve ser entendida a permis-
são, também, para que o experto seja perguntado sobre idêntica análise
que porventura tenha desenvolvido em pessoas. Creio eu que houve im-
perfeição técnica na redação da norma, já que a produção da prova perici-
al é perfeitamente incidível nas pessoas, servindo como exemplo as que
são apuradas em questões de Direito de Família.
V. A DESNESCESSIDADE DO COMPROMISSO E A
RESPONSABILIDADE PELA ATUAÇÃO DO PERITO.
Na redação antiga, dispunha o artigo 422 do Código de
Processo Civil que os peritos e os assistentes técnicos seriam intimados a
prestar, em dia, hora e local marcados pelo Juiz, o compromisso de bem
cumprir o encargo que havia a eles sido cometido. A redação atual simpli-
ficou mais uma vez o processo, prescindindo o perito da assinatura do
anacrônico termo de compromisso. Idem o assistente da parte.
Já não era sem tempo a tomada de tão significativa pro-
vidência legislativa, escoimadora de uma das célebres sandices que
atravancam a marcha processual. O perito é havido como auxiliar da justi-
ça, e ainda que seja serventuário excepcional e temporário (conforme
CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO, Teoria Geral do Processo, 1991, 184),
máxime por exercer o encargo mediante remuneração (para uns, uma
taxa; para outros, um preço público), não foge ao enquadramento de ‘par-
ticular em colaboração com o poder público’ (conforme MARIA SYLVIA
ZANELLA DI PIETRO, Direito Administrativo, 1991, 308) ou mais precisa-
mente de funcionário público, na amplitude conceptual do artigo 327 do
Código Penal.
Outro não era o desígnio do malfadado ‘termo de com-
promisso’ do perito e dos assistentes técnicos, senão o de vincular-lhes à
atividade estatal judicante, sujeitando-se aos rigores disciplinares e penais
24
Plínio Caminha de Azevedo
em caso de tergiversação ou perjúrio. Mas, qual a necessidade do ‘termo’,
se a própria lei prevê o sancionamento do experto que agir de maneira
criminosa, levando inexatas informações ao processo?
É indiscutível que ao exercer uma função pública (‘atri-
buição ou conjunto de atribuições que a administração confere a cada
categoria profissional, ou comete individualmente a determinados servi-
dores para a execução de serviços eventuais’ - HELY LOPES MEIRELLES,
Direito Administrativo Brasileiro, 1990, 356), o perito configure-se como
funcionário público e portanto está exposto às punições antevistas no ar-
tigo 147 do Código de Processo Civil, quais sejam a reparação civil dos
prejuízos e a inabilitação, por dois anos, para funcionar em outras períci-
as.
No que concerne ao encaixe do perito como funcioná-
rio público para efeitos penais (Código Penal, artigo 327), a matéria é
pacífica, tanto em sede doutrinária como a nível pretoriano (conforme
NELSON HUNGRIA, citado por JULIO FABBRINI MIRABETE, Manual de
Direito Penal, 1991, 289, e Revista dos Tribunais, 640/349, 556/397, 569/
376, 598/327; Revista Trimestral de Jurisprudência, 100/135; JUTACRIM,
69/552).
Assim, se o perito, no exercício do seu mister, fizer afir-
mação falsa, ou negar ou calar a verdade, incorrerá no crime de falsa perí-
cia (Código Penal, artigo 342) e sofrerá reclusão, de um a três anos, além
de multa, desde que não se retrate oportunamente e as informações te-
nham potencialidade lesiva para desnaturar a distribuição de Justiça (Re-
vista Trimestral de Jurisprudência, 107/134; e Revista dos Tribunais, 639/
295).
Além das sanções de natureza penal acima comentadas,
é recomendável que o mau perito receba, também, o exemplamento do
órgão administrativo incumbido de fiscalizar o seu exercício profissional
(CREA, CRM, etc.).
Se o perito, nessa condição, causar prejuízo a quaisquer
das partes, responderá civilmente pelo seu agir, consoante dispõe o já
citado artigo 147 do Código de Processo Civil. Mais fácil ainda será a repa-
25
Plínio Caminha de Azevedo
ração devida pelo perito, se tiver este sido condenado por falsa perícia
(Código Penal, artigo 342), já que aí a indenização advirá em simples exe-
cução, precedidade liquidação. Em outro escrito, emiti opinião sobre o
tema: ‘A liquidação da sentença condenatória criminal é feita por artigos
(Código de Processo Civil, artigos 609 e seguintes), com a citação do exe-
cutado para oferecer defesa (procedimento ordinário). Será aí apurado o
montante da indenização e quem deverá recebê-la’ (Os Efeitos Civis da
Sentença Penal Condenatória, Informativo ADV/COAD, 1992, 374).
Por último, sendo o perito judicial um agente público,
e tendo o seu agir dado azo ao prejuízo da parte, há base para que esta
procure do Estado uma indenização, na conformação do artigo 37, § 6º,
da Constituição Federal, bem assim do artigo 15 do Código Civil. Não é
demais lembrar que, em casos tais, a responsabilidade do Estado é objeti-
va, já que ‘pouco importa para o prejudicado e para o bom Direito que o
prejuízo tenha decorrido da culpa do funcionário ou da proclamada defi-
ciência e insegurança do serviço público. O contribuinte, o usuário, paga
para ter um serviço satisfatório e, se o serviço, por ser notoriamente falho
e mal aparelhado, ocasiona um prejuízo inescusável, deve a administração
pagar pelo dano, notadamente quando se tem em conta que a responsabi-
lidade do Estado é objetiva, isto é, independe de culpa’ (MÁRIO MOACYR
PORTO, Temas de Responsabilidade Civil, 1989, 148). A responsabilidade
sem culpa do Estado tem inspiração ‘no risco e na solidariedade social’
(conforme JOSÉ AUGUSTO DELGADO, Responsabilidade Civil do Estado
pela Demora da Prestação Jurisdicional, RF, 297/406; Associação dos Juízes
do Rio Grande do Sul, 29/17, e RP, 40/147).
VI. A SUBSTITUIÇÃO DO PERITO.
Dispunha o artigo 424 do Código de Processo Civil, em
sua redação original, que poderia haver a substituição do perito ou do
assistente, desde que estes carecessem de conhecimento técnico ou cien-
tífico sobre a matéria em exame ou se, sem motivo legítimo, deixassem de
prestar o compromisso. Atualmente, nada está regulado no que tange ao
assistente e não mais será exigido o compromisso do perito, devendo este
26
Plínio Caminha de Azevedo
ser substituído se não reunir bagagem técnica ou científica sobre o tema
examinado, bem assim se ‘deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe
foi assinado’ (inciso II). Nesta última hipótese, ‘o Juiz comunicará a ocor-
rência à corporação profissional respectiva, podendo, ainda, impor multa
ao perito, fixada tendo em vista o valor da causa e o possível prejuízo
decorrente do atraso no processo’.
VII. O LAUDO E OS PARECERES. PRAZOS.
Sobre o ‘atraso no processo’, é bem de ver que foi mo-
dificada a redação do artigo 433 do Código de Processo Civil, restando
facultada ao Juiz a marcação do prazo para a entrega do laudo pericial em
Cartório, pelo menos 20 dias antes da audiência de instrução e julgamen-
to. Duas destacadas modificações foram introduzidas na produção da pro-
va pericial pelo parágrafo único do prefalado artigo 433. A primeira diz
respeito ao vocábulo usado para definir a peça informativa confeccionada
pelo assistente técnico: ao invés de laudo, como dizia o dispositivo
derrogado, chama-se agora de parecer, patenteando assim a intenção do
legislador de excluir o assistente técnico da relação dos auxiliares da Justi-
ça, para enquadrá-lo como ajudante da própria parte, às expensas desta,
que tal qual um jurisconsulto emite uma opinião a pedido do litigante que
com ele tenha contactado. Aliás, já era como mera ‘alegação da parte’ que
a jurisprudência encarava o laudo extemporâneo apresentado pelo assis-
tente técnico (1º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, Jurisprudência
ADV/COAD, 1991, verbete nº 55.257). Era o gérmen do parecer agora con-
sagrado na lei.
A segunda inovação trazida pelo novo texto do parágrafo único do artigo 433 do Código de
Processo Civil é sobre o prazo para que os assistentes entreguem em juízo os seus pareceres.
É este de 20 dias; é comum; e correrá independente-
mente de intimação. O dies a quo deste prazo é a apresentação do laudo
em Cartório, o que exigirá redobrada diligência das partes e dos seus res-
pectivos advogados para evitar a preclusão, máxime em razão do prazo
conferido ao perito ser de natureza judicial (marcado pelo Juiz, artigo
433, caput).
27
Plínio Caminha de Azevedo
VIII. CONCLUSÕES.
1ª) Com as modificações introduzidas no Código de Processo Civil, pela
Lei nº 8.455, o assistente técnico é considerado um auxiliar da parte
que o contactou para dele receber um opinamento acerca das ques-
tões técnicas ou científicas afloradas na sede da prova pericial.
2ª) O assistente técnico está expressamente excluído do rol das pessoas
passíveis de suspeição ou impedimento no processo (Código de Pro-
cesso Civil, artigo 422), não mais estando elencado no artigo 138 do
Código de Processo Civil.
3ª) Para apresentar a sua escusa em não funcionar no processo, o perito
tem o prazo de cinco dias, a contar da intimação de que foi nomeado
ou do surgimento do fato novo ensejador do impedimento ou da
suspeição. Não o fazendo nesse lapso, reputar-se-á renunciado o di-
reito de argüir tais óbices.
4ª) Deveria o legislador de 1992 ter incluído na redação do artigo 146 a
suspeição como causa autorizadora da escusa do perito em funcionar
no processo.
5ª) Desde que compatível com a natureza do fato, é judicialmente válida
a informação prestada em audiência, tanto pelo perito como pelo
assistente técnico, acerca de fatos ou de pessoas que tenham sido
examinadas por estes.
6ª) Se as partes oferecerem, no ajuizamento e/ou na defesa, pareceres
técnicos ou documentos que bastem ao aclaramento da lide, o Juiz
poderá dispensar a produção da prova pericial (Código de Processo
Civil, artigo 427).
7ª) O perito e o assistente técnico não mais prestarão compromisso (Có-
digo de Processo Civil, artigo 422).
8ª) É permitida a substituição do perito se este carecer de base técnica ou
científica, bem assim se deixar de cumprir o seu mister no prazo assi-
nado.
9ª) O laudo do perito deve estar em Cartório no prazo fixado pelo Juiz
até 20 dias antes da audiência de instrução e julgamento.
10ª) É chamada de parecer a peça de opinamento dos assistentes técnicos,
e deverá chegar a juízo no prazo comum de 10 dias, a contar da entre-
ga do laudo oficial.
28
Plínio Caminha de Azevedo
BIBLIOGRAFIA
1. ALVIM, Arruda e ALVIM PINTO, Tereza.
‘Manual de Direito Processual Civil’, 4ª edição,
volume 2, São Paulo, Editora Revista dos Tri-
bunais, 1991.
2. CARVALHO, Ivan Lira de. ‘Os Efeitos Civis da Sentença Penal
Condenatória’, Informativo ADV/COAD, nº 34,
Rio de Janeiro, 1992.
3. CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; e
GRINOVER, Ada Pellegrini.
 ‘Teoria Geral do Processo’, 8ª edição, São Pau-
lo, Editora Revista dos Tribunais, 1991.
4. CUNHA, Mauro e SILVA, Roberto Geraldo Coelho.
‘Guia Para o Estudo da Teoria Geral do Proces-
so’, Porto Alegre, Sagra, 1984.
5. DELGADO, José Augusto. ‘Responsabilidade Civil do Estado pela Demo-
ra da Prestação Jurisdicional’, in Associação
dos Juízes do Rio Grande do Sul, volume 29,
Porto Alegre, 1983.
6. GRECCO FILHO, Vicente. ‘Direito Processual Civil Brasileiro’, 5ª edi-
ção, volume 2, São Paulo, Saraiva, 1992.
7. MEIRELLES, Hely Lopes. ‘Direito Administrativo Brasileiro’, 15ª edição,
São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1990.
8. MIRABETE, Julio Fabbrini. ‘Manual de Direito Penal’, 5ª edição, volume
3, São Paulo, 1991.
9. NEGRÃO, Theotônio. ‘Código de Processo Civil e Legislação Processual
em Vigor’, 22ª edição, São Paulo, Malheiros,
1992.
10. PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. ‘Direito Administrativo’, 2ª edição,
São Paulo, Editora Atlas, 1991.
11. PORTO, Mário Moacyr. ‘Temas de Responsabilidade Civil’, São Paulo,
Editora Revista dos Tribunais, 1989.
29
Plínio Caminha de Azevedo
A PROVA PERICIALNO PROCESSO CIVIL
FRANCISCO MAIA NETO
Engenheiro
Advogado
Ex-presidente do Instituto Brasileiro
de Avaliações e Perícias de
Engenharia
Ao proferir a palestra de abertura do Congresso Extra-
ordinário da Union Panamericana de Associaciones de Valuacion (UPAV),
ocorrido em São Paulo, no ano de 1997, concomitantemente ao IX Con-
gresso Brasileiro de Engenharia de Avaliações e Perícias (COBREAP), o
ministro Carlos Mário da Silva Velloso, do Supremo Tribunal Federal, clas-
sificou a perícia como a “rainha das provas”, o que demonstra sua impor-
tância como instrumento probatório.
Nossa análise da situação da perícia no processo civil
inicia-se no Código de 1939, que previa a nomeação de um perito da livre
escolha do juiz, permitindo a indicação pelas partes de assistentes técni-
cos, que poderiam acompanhar os trabalhos do perito e impugnar as con-
clusões trazidas em seu laudo, e segue a alteração, três anos depois, pelo
Decreto-Lei nº 4.565, determinando que o juiz nomeasse o perito somen-
te na hipótese de as partes não chegarem a um consenso sobre a escolha
de um nome comum.
Em 1946, surge outra alteração no texto legal, dessa vez
consagrando a figura que vigorou até a publicação do Código de Processo
30
Plínio Caminha de Azevedo
Civil de 1973, do perito desempatador, que só era nomeado caso as partes
não indicassem um perito comum, ou, na hipótese de cada parte indicar o
seu perito, se as conclusões não satisfizessem o juiz, o que invariavelmen-
te ocorria, pois eles transformavam-se em “advogados de defesa” das par-
tes que os haviam indicado.
A mudança introduzida pelo Código de 1973 retroage
ao dispositivo previsto no Código de 1939, inovando apenas no que se
referia a determinados requisitos exigidos dos assistentes técnicos, no to-
cante à sua imparcialidade, pois, ao contrário da concepção anterior, estes
não eram mais os auxiliares da parte que os indicava, mas, antes de tudo,
auxiliares do juiz.
Essa foi a sistemática adotada até a edição da Lei nº
8.455, ocorrida em 1992, que retirou essas características, uma vez que o
assistente técnico, na prática, nunca pautou pela imparcialidade, pois nin-
guém contratava um profissional senão com o intuito de demonstrar o
acerto de suas posições, baseado nos elementos técnicos obtidos.
O assistente técnico é o auxiliar da parte, aquele que
tem por obrigação concordar, criticar ou complementar o laudo do peri-
to, por meio de seu parecer, cabendo ao juiz, pelo princípio do livre con-
vencimento, analisar seus argumentos, podendo fundamentar sua deci-
são em seu trabalho técnico.
Seguindo o processo evolutivo do instituto da perícia,
no final do ano de 2001, com a edição da Lei nº 10.358, surgiram algumas
novidades, ainda muito recentes, pouco assimiladas e sem um acervo
jurisprudencial, o que nos leva a interpretações doutrinárias sobre o tema.
A primeira alteração refere-se à nomeação do perito e
indicação dos assistentes técnicos, com a possibilidade de o juiz nomear
mais de um perito e as partes indicarem mais de um assistente técnico,
sendo a interpretação corrente que esta nova prerrogativa refere-se a uma
mesma categoria profissional.
Em nosso entendimento, a previsão legal se mostrou
incompleta, uma vez não existir determinação quanto à forma de realiza-
ção da perícia, que se recomenda seja feita em conjunto pelos profissio-
31
Plínio Caminha de Azevedo
nais envolvidos, caso contrário poderão surgir antagonismos entre os pró-
prios peritos e até mesmo entre os assistentes, o que dificultará a aprecia-
ção da prova, existindo algumas opiniões no sentido de que o juiz deveria
desde logo nomear um deles coordenador da perícia.
No que tange à possibilidade de indicação de mais de
um assistente, ainda que o juiz tenha nomeado um só perito, o entendi-
mento é de sua admissibilidade, cabendo unicamente à parte o ônus des-
sa escolha, cuja rejeição se enquadraria em cerceamento de defesa, assim
como, inversamente, se o juiz nomear mais de um perito, a parte pode
indicar somente um assistente técnico.
Essa questão inclusive se torna mais evidente após a
reforma constitucional que extinguiu as férias forenses nos meses de ja-
neiro e julho, uma vez não existir mais suspensão de prazos, o que pode
resultar em perda de prazo do assistente técnico na entrega de seu pare-
cer, caso se encontre em férias quando da entrega do laudo pelo perito.
A outra novidade refere-se ao termo inicial da perícia,
ao determinar que as partes tenham ciência da data e do local designados
pelo juiz ou indicados pelo perito para início dos trabalhos periciais.
Com essa previsão, alguns profissionais incorreram em
grave equívoco, ao entenderem que o perito seria obrigado a comunicar
aos assistentes técnicos, quando na verdade a previsão legal obriga a co-
municação aos advogados, pois são eles que representam as partes.
Uma corrente entende que o perito deve apresentar
petição ao juiz solicitando essa marcação ou até mesmo sugerindo a data
e o local, o que não nos parece recomendável, pela notória demora que
resulta no processo judicial.
O procedimento que muitos estão adotando compre-
ende o envio de carta via AR (aviso de recebimento) aos advogados das
partes, comunicando, com antecedência, a data, que engloba dia e hora, e
o local, não esquecendo de, por questões éticas, comunicar por fax ou
telefone aos assistentes técnicos.
A terceira e última alteração faz referência ao prazo de
entrega do parecer pelo assistente técnico, fixado em até dez dias depois
32
Plínio Caminha de Azevedo
de intimadas as partes da entrega do laudo, e não mais independente de
intimação, que levou alguns a confundirem o termo inicial com o proto-
colo, em clara ofensa ao princípio do devido processo legal.
Uma dúvida que ainda persiste se refere à coincidência
de prazos entre a vista ao advogado, cinco dias, e a entrega do parecer do
assistente técnico, dez dias, podendo este último acontecer após o térmi-
no do prazo para manifestação pelos advogados.
Dessa forma, o que tem acontecido são os advogados
peticionarem sobre o laudo pericial, reservando-se o direito de comenta-
rem os pareceres dos assistentes técnicos após os respectivos protocolos.
33
Plínio Caminha de Azevedo
PERÍCIA É
PROVA
JUDICIAL?
DIZ O CÓDIGO CIVIL DE 2002:
TÍTULO V
- DA PROVA
ART. 212. SALVO O NEGÓCIO A QUE SE
IMPÕE FORMA ESPECIAL, O FATO
JURÍDICO PODE SER PROVADO
MEDIANTE:
34
Plínio Caminha de Azevedo
I - confissão;
II - documento;
III - testemunha;
IV - presunção;
V - perícia.
E DIZ AINDA:
ART. 231. AQUELE QUE SE NEGA A
SUBMETER-SE A EXAME MÉDICO NECESSÁRIO
NÃO PODERÁ APROVEITAR-SE DE SUA RECUSA.
ART. 232. A RECUSA À PERÍCIA MÉDICA
ORDENADA PELO JUIZ PODERÁ SUPRIR A PROVA
QUE SE PRETENDIA OBTER COM O EXAME
35
Plínio Caminha de Azevedo
E O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
COMPLETA:
SEÇÃO VII
DA PROVA PERICIAL (ARTIGOS 420 A 439)
ART. 420. A PROVA PERICIAL CONSIS-
TE EM EXAME, VISTORIA OU AVALIA-
ÇÃO.
O MINISTRO CARLOS MÁRIO DA SILVA
VELLOSO, DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, CLASSIFICOU A PERÍCIA
COMO A “RAINHA DAS PROVAS”, O
QUE DEMONSTRA SUA IMPORTÂNCIA
COMO INSTRUMENTO PROBATÓRIO.
36
Plínio Caminha de Azevedo
O PAPEL DO ASSISTENTE
O ASSISTENTE TÉCNICO NÃO PASSA,
PORÉM, DE MERO ASSESSOR DOS LI-
TIGANTES: NÃO É PERITO DO JUÍZO!
O LAUDO E OS PARECERES
Uma das modificações introduzidas na
produção da prova pericial pelo parágrafo único
do art. 433, diz respeito ao vocábulo usado para
definir a peça informativa confeccionada pelo
assistente técnico:
ao invés de laudo, como dizia o dispositivo
derrogado, chama-se agora de parecer,
patenteando assim a intenção do legislador de
excluiro assistente técnico da relação dos
auxiliares da Justiça, para enquadrá-lo como
ajudante da própria parte, às expensas desta
37
Plínio Caminha de Azevedo
No § 2º do artigo 421 do CPC, houve imperfeição
técnica na redação da norma, pois quando ali está
permitida a inquirição do perito que houver
examinado ou avaliado coisas, deve a permissão
ser entendida, também, para que o experto seja
perguntado sobre idêntica análise que
porventura tenha desenvolvido em pessoas, já
que a produção da prova pericial é perfeitamente
cabível nas pessoas, servindo como exemplo as
que são apuradas em questões de Direito de
Família.
OS RECURSOS A SEREM UTILI-
ZADOS NA PERÍCIA
Art. 429. Para o desempenho de sua função,
podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-
se de todos os meios necessários, ouvindo
testemunhas, obtendo informações, solicitando
documentos que estejam em poder de parte ou
em repartições públicas, bem como instruir o
laudo com plantas, desenhos, fotografias e
outras quaisquer peças.
38
Plínio Caminha de Azevedo
A QUESTÃO DA AMPLA DEFESA E
DO CONTRADITÓRIO:
NÃO HÁ DÚVIDA SOBRE A
NECESSIDADE DA PERÍCIA RESGUARDAR
OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
CITADOS, CONFORME EXEMPLIFI-CAM
INÚMEROS JULGADOS.
STJ- RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO.
CONCURSO. EXAME PSICOTÉCNICO. CARÁTER SUBJETIVO.
IRRECORRIBILIDADE DOS TESTES. ILEGALIDADE RECONHE-
CIDA.
1. (...)
2. (...)
3. (...)
4. Embora reconhecida a legalidade do exame psicotécnico para a
carreira de policial federal, é vedada sua realização de modo
sigiloso e irrecorrível.
5. No que diz com a inexigibilidade da avaliação psicológica em
razão de anterior aprovação em outro certame, a compreensão
atual do Superior Tribunal de Justiça é no sentido da
imprescindibilidade do aludido exame.
6. (...)
(Recurso Especial nº 396002/RS (2001/0193442-0), 6ª Turma do
STJ, Rel. Paulo Gallotti. j. 18.11.2003, unânime, DJ 30.10.2006).
39
Plínio Caminha de Azevedo
TJSC DIREITO DE FAMÍLIA. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE
GUARDA E REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. INSURGÊNCIA
CONTRA A REALIZAÇÃO DE EXAMES TÉCNICOS DE CUNHO
PERICIAL. INVIABILIDADE. PODER DISCRICIONÁRIO DO MA-
GISTRADO PARA AFERIR O MELHOR AMBIENTE CAPAZ DE
PROPORCIONAR AO INFANTE PLENO DESENVOLVIMENTO.
EXEGESE DO ART. 130 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRE-
TENSÃO DAS PARTES EM NOMEAREM ASSISTENTES TÉCNI-
COS. POSSIBILIDADE. INCLUSÃO DO ATUAL COMPANHEIRO
DA GENITORA NOS ESTUDOS PERICIAIS RECOMENDÁVEL.
RECURSO PROVIDO.
1. “Em procedimentos que têm por objetivo primordial a salvaguar-
da física, moral e psicológica da criança, conta o julgador com
amplitude discricionária mais significativa para sublevar aspec-
tos jurídico-formalísticos a fim de conferir maior segurança e
eqüidade às decisões que proferir” (AI nº 2004.033800-4, de
Ibirama).
2. Determinada a realização de estudo social, tomado este o
caráter de perícia judicial ante a nomeação pelo juízo de espe-
cialistas que não fazem parte da equipe interprofissional, conve-
niente se faz, em respeito aos princípios do contraditório e
ampla defesa, a intimação das partes para indicação de assisten-
tes técnicos e apresentação de quesitos (arts. 420 e seguintes do
Código de Processo Civil).
(Agravo de Instrumento nº 2005.001485-3, 3ª Câmara de Direito
Civil do TJSC, Itajaí, Rel. Des. Marcus Túlio Sartorato. unânime,
DJ 15.12.2005).
Maria Inês Linck
40
CONSIDERAÇÕES DA
RELATORA
MARIA INÊS LINCK
Juíza de Direito - Titular da 1ª Vara de Família
e Sucessões
Foro Central - Porto Alegre
Maria Inês Linck
41
Ao participar deste bloco como revisora, coube a mim
realizar um “fechamento” sobre as participações anteriores, passando a
tecer as seguintes considerações:
Certamente a perícia é um elemento assessor ao jurídi-
co pois pode e deve ser utilizada sempre que a capacitação requerida pela
situação não estiver inserida nos parâmetros daquilo que se pode esperar
de um juiz médio, ainda que seja um juiz “moderno” (que investiga) como
diz Dra. Mônica Guazzeli, que mitiga o princípio da inércia da jurisdição
não esperando a provocação, podendo também determinar a realização
da prova. Justifica-se a assertiva porque o magistrado não pode valer-se de
conhecimentos pessoais, mesmo que de natureza técnica, para dispensar
a prova pericial, uma vez que não pode ser dispensado o contraditório (há
diversas decisões jurisprudenciais neste sentido).
Os critérios utilizados para solicitar a avaliação confun-
dem-se com os que foram identificados em relação à função assessora.
O perito não dever trazer fatos para os autos, e sim opi-
niões técnico-científicas a respeito dos fatos, apresenta juízos
especializados, é alguém da confiança do juízo e pode ser levantado con-
tra ele as mesmas exceções de suspeição, impedimentos... que ao juiz. É
por isso que os peritos atuam diretamente com as partes e a eles cabe
entrevistar as pessoas. Quanto aos assistentes técnicos cabe mais a obser-
vação para posterior conferência.
Sem dúvida, a perícia é prova judicial. Para o Dr. Plínio
Caminha de Azevedo é a “Rainha das Provas”, porque trás segurança ao
julgador e por isso é necessário que todos os “operadores do direito” atu-
em de modo efetivo, sanando dúvidas, quesitando para que os laudos
contenham as impressões técnicas com os embasamentos necessários,
tendo em vista a possibilidade de influenciar diretamente na vida dos en-
Maria Inês Linck
42
volvidos. É necessário também que os laudos periciais contenham pro-
postas de encaminhamentos baseados nos fundamentos de seus juízos
especializados e que atinjam efetivamente o seu objetivo, conclusivo con-
forme o instrumental utilizado, cabendo ao juiz a valoração da prova, a
livre valoração da prova desde que fundamentado.
Em um segundo momento, trago à discussão a questão
do exame psico-pericial como ato de profissional que atua na área médi-
ca, especialmente área psicológica e ressalto aqui a possibilidade do peri-
to agir com plena autonomia, pois enfrentei, ao jurisdicionar,
questionamento sobre a possibilidade do assistente técnico participar (en-
trar na sala) da entrevista do perito do juízo com o laudeando e a negativa
do perito oficial fundamentada na autonomia do profissional, neste caso
um médico psiquiatra, por acarretar inibição ou constrangimento ao
periciado.
Conforme parecer do Conselho Federal de Medicina,
(que é mencionado pois no caso em relato o perito era médico psiquiatra)
é dever inalienável do perito para com o paciente exigir a privacidade do
ato. Pondero que neste aspecto a filmagem prevista no “Depoimento sem
Dano”” poderá resolver o problema.
Sobre o assistente técnico, o Código de Processo Civil,
após a reforma não atribui a ele a função de auxiliar do juízo e sim da
parte, portanto, sequer participa da confecção do laudo e deve emitir pa-
recer após examinar o trabalho do perito do juízo (artigo 433 § único). Há
possibilidade de conferência com o perito oficial visando transparência
dos trabalhos.
EM CONCLUSÃO:
Se não houver objeção do perito é possível o juiz admi-
tir a entrada do assistente técnico na sala de entrevista Caso houver obje-
ção, deve prevalecer a autonomia do perito do juízo. Já existe acórdão
recente referente a este tema e transcrevo a ementa do julgamento do
Agravo de Instrumento nº 700.158.70397 - 5º Câmara Cível TJRS - Relator:
Maria Inês Linck
43
Desembargador Umberto Guaspari Sudbrack, 16 de agosto de 2006, por
bem apreciar e resumir a matéria:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. PERÍCIA
MÉDICA. AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA. PRESENÇA DOS ASSIS-
TENTES TÉCNICOS NA ENTREVISTA DE AVALIAÇÃO.
DESNECESSIDADE. OFENSA AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFE-
SA. INOCORRÊNCIA.
Caso em que o fato de os assistentes técnicos nãopoderem participar de entrevista que avaliará o es-
tado psiquiátrico do autor não consiste em ofensa
aos princípios da ampla defesa e do contraditório.
Presença de outras pessoas, além do examinador e
do examinado, no “setting” da entrevista, é rica
fonte de inibições à espontaneidade das respostas
do periciado. Possibilidade de apresentação de pa-
recer autônomo de avaliação pelos assistentes téc-
nicos, bem como de realização de conferência com
o perito judicial, que confere total transparência
aos trabalhos. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.
(Agravo de Instrumento Nº 70015870397, Quinta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 16/08/
2006).
44
2º BLOCO - DO PERITO
COMPOSIÇÃO DA MESA
Lucio Garcia psicólogo
Maria da Graça Corrêa Jacques psicóloga relatora
Rosa Magrinelli psicóloga coordenadora
Sílvia Tejadas assistente social
Sonia Liane R. Rovinski psicóloga
Maria da Graça Corrêa Jacques
45
ALGUMAS REFLEXÕES ACERCA
DA PERÍCIA PSICOLÓGICA
(E SOCIAL)
MARIA DA GRAÇA CORRÊA JACQUES
Psicóloga, Mestre em Psicologia
Organizacional, Doutora em
Educação, Pós-Doutora em
Psicologia Social, professora da
Universidade Federal do Rio Grande
do Sul e conselheira do Conselho
Regional de Psicologia do Rio
Grande do Sul.
Maria da Graça Corrêa Jacques
46
Inicio minha exposição como debatedora deste painel
registrando a minha satisfação em estar aqui compartilhando com vocês
da discussão de um tema que vem sendo objeto de preocupação entre os
diversos segmentos sociais envolvidos: a questão da perícia no âmbito das
relações entre Psicologia e Direito. Entre a categoria dos psicólogos e no
Sistema Conselhos de Psicologia o tema da perícia psicológica é uma dis-
cussão recorrente. No último Congresso Nacional de Psicologia onde se
elegem as prioridades de atuação do Sistema Conselhos no próximo
triênio, a Psicologia Jurídica recebeu, em um primeiro momento, 11 teses
entre as 156 apresentadas, quais sejam: diálogo com a sociedade acerca
da Psicologia Jurídica e fortalecimento das entidades representativas,
ações para inclusão do psicólogo no Sistema Judiciário e na Segurança
Pública, formação em Psicologia Jurídica, parâmetros para orientação e
fiscalização do trabalho do psicólogo, avaliação psicológica na perícia e
mediação.
As teses sobre a avaliação psicológica na perícia se con-
centraram em três grandes eixos: a definição de parâmetros mínimos para
a realização da avaliação psicológica, a aquisição pelo Sistema Judiciário
do instrumental para aplicação de testes psicológicos e a conscientização
dos psicólogos para respeitarem os diferentes códigos jurídicos, especial-
mente o Código Civil. No Rio Grande do Sul, a discussão no VI Congresso
Regional de Psicologia levou a rejeição de 7 dessas 11 teses e a aprovação
de 4 delas com alterações por julgá-las ou repetitivas, ou não condizentes
com as atribuições do Sistema Conselhos ou por demandarem uma regu-
lamentação sem uma maior discussão com os vários segmentos envolvi-
dos. O Rio Grande do Sul encaminhou como proposta, entre outras, a
abertura de espaços para debate a partir dos quais se possa propor
parâmetros para a avaliação psicológica na perícia para posterior regula-
mentação.
Maria da Graça Corrêa Jacques
47
Na plenária final do VI Congresso Nacional ocorrida em
Brasília com a presença de delegados das diferentes regiões do país e com
o objetivo de definir as prioridades de atuação do Sistema Conselhos, 4
teses foram aprovadas referentes à Psicologia Jurídica, no eixo ‘Interven-
ção dos psicólogos nos sistemas institucionais’, quais sejam: Tese nº 115,
Tese nº 117, Tese nº 121 e Tese nº 125. A Tese nº 115 propõe ações para
inclusão do psicólogo nos Sistemas de Justiça e de Segurança Pública; a
Tese nº 117 versa sobre a avaliação psicológica no âmbito da Justiça, espe-
cificamente, a proposição de ações que fomentem essa discussão e que
sugerem condições a serem oferecidas pelo Sistema Judiciário para a atu-
ação do psicólogo; a Tese nº 121, uma tese especialmente voltada para a
Mediação; e, a Tese 125 que se refere a alguns encaminhamentos para a
construção de referências quanto à prática do psicólogo nos Sistemas de
Justiça e Segurança.
O tema dessas teses nos informa qual vem sendo a pre-
ocupação dos psicólogos e quais as suas expectativas em relação ao Siste-
ma Conselhos. Chama a atenção a ausência de referências explícitas a
questões sobre a perícia psicológica, embora as proposições referentes à
avaliação psicológica as englobem. Neste caso, as proposições encami-
nham tanto para ampliação da discussão no âmbito da categoria dos psi-
cólogos como uma interlocução com os representantes do Sistema Judici-
ário, esclarecendo e reivindicando condições básicas para a atuação dos
psicólogos neste campo.
Portanto, esse espaço vem atender a essa expectativa
como um espaço em que se possa debater o tema e se ampliar o diálogo
para além das fronteiras da Psicologia. Celso Pedro Luft1, em seu Dicioná-
rio da Língua Portuguesa, define o verbo debater como “discutir, desper-
tar, contender; agitar-se, estrebuchar-se.” Tal definição aponta, especial-
mente, para o sentido negativo do debate que eu espero não seja a ten-
dência de leitura da minha intervenção. Ao contrário. Espero que minha
apresentação seja compreendida enquanto exposição de um ponto de vis-
ta e que se transforme em um estímulo para o nosso diálogo.
1 LUFT, C.P. Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa. S.P: Scipione, 1987, p. 159.
Maria da Graça Corrêa Jacques
48
Tomo como ponto de partida a referência de Silvia
Tejadas, expositora que me precedeu, sobre a necessidade de
contextualização histórica e política da perícia social. Compartilho com
sua argumentação e entendo que a construção de objetos de estudo e
espaços de intervenção em Psicologia, assim como no Serviço Social, não
são algo acima ou à margem da sociedade, mas componentes da própria
sociedade em que se produzem, sujeitos aos limites do tempo e do espa-
ço.
O meu olhar retrocede ao Renascimento e a criação no
mundo ocidental de novos conceitos sobre a natureza e a sociedade pau-
tados nos grandes progressos das chamadas Ciências Físicas e Naturais de
onde decorre a conclusão epistemológica de que métodos e procedimen-
tos devem se estender a todo o domínio do conhecimento científico. A
partir do século XVIII o grande debate que se instala é sobre a objetivida-
de do conhecimento, sobre a problemática da Verdade e sobre a aproxi-
mação maior ou menor com o real. Edgar Morin2 se refere criticamente a
esse pensamento hegemônico qualificando-o de “Ciência-Verdade-Absolu-
ta”, “Ciência-Solução”, “Ciência-Farol”, “Ciência-Guia”. Michel Foucault3,
também um dos seus grandes críticos, escreve:
“No fundo da prática científica existe um discurso
que diz: nem tudo é verdadeiro, mas em todo o
lugar e a todo o momento existe uma verdade a ser
dita e a ser vista, uma verdade talvez adormecida
que, no entanto, está somente a espera da nossa
mão para ser desvelada”.
É nesse contexto histórico que a Psicologia nasce como
uma ciência autônoma da Filosofia. Ancora-se, na constituição do seu ob-
jeto, na noção de indivíduo e no antropocentrismo que se instaura a par-
tir das descobertas científicas e se apropria dos pressupostos das Ciências
Físicas e Naturais no afã por reconhecimento. Inscreve-se como importan-
te braço científico de consolidação da ordem social, como um dispositivo
2 MORIN, E. O despertar da razão. S.P.: Melhoramentos, 1986, p. 79.
3 FOUCAULT, M. Microfísica do poder. R.J.: Graal, 1982, p. 113.
4 PATTO, M.H. Psicologia e ideologia. S.P.: Queiroz, 1987.
Mariada Graça Corrêa Jacques
49
cujas práticas se circunscrevem a prever e controlar, selecionar e orientar,
nas palavras de Maria Helena Patto4. Constitui-se como ciência normativa,
definidora dos padrões de normalidade e construtora de instrumentos de
medida e quantificação do psiquismo. É nesse contexto histórico-social
que a Psicologia fornece as ferramentas para a individualização dos pro-
blemas sociais referidos por Silvia Tejadas quando se refere à construção
do Serviço Social como profissão em que ao atribuir-se ao indivíduo a
responsabilidade pela situação vivenciada, deixa-se de vislumbrar as de-
terminações que emanam da estrutura econômica, social, política e cultu-
ral.
Tais fundamentos que se expressam na constituição da
Psicologia como ciência e profissão, encontram na avaliação psicológica
um terreno fértil enquanto um modo de legitimação fundamentada em
princípios científicos a partir de uma concepção de ciência. A descoberta
da “Verdade”, a aproximação com o “real”, a objetividade, balizam sua
atuação. Da mensuração da sensação através de recursos fornecidos pela
psicofísica, passando pela mensuração da inteligência e das aptidões, a
Psicologia passa a avaliar características de personalidade ou, aspectos do
psiquismo com nomes variáveis.
E, ainda, sob uma perspectiva crítica, a avaliação psico-
lógica, especificamente a perícia psicológica (assim como a social) pode
se apresentar como um substituto científico à moral clássica, com reco-
nhecimento social, pautada pelos valores hegemônicos de um determina-
do contexto sócio-histórico. Hilton Japiassú5 alerta para o risco da prática
psicológica se submeter aos ditames de uma ideologia dominante de cará-
ter regulador sempre que desvinculada de uma reflexão ética constante
sobre o seu fazer e sobre o que está sendo feito com o produto do seu
trabalho.
O mesmo autor assinala que assim como o indivíduo da
Idade Média tinha certa compreensão de si mesmo graças ao modelo
explicativo e moral proposto pela Igreja, constata-se, hoje, o que se pode-
ria chamar de “psicologização” em que a sociedade delega com freqüência
5 JAPIASSÚ, H. Introdução à epistemologia da Psicologia. R.J.: Imago, 1982.
Maria da Graça Corrêa Jacques
50
à Psicologia poderes de determinar os lugares na sociedade e de resolver
problemas sociais. Tal “psicologização” pode ser uma das explicações para
a crescente demanda pela avaliação psicológica em determinados espaços
como, por exemplo, o espaço jurídico em que a decisão de julgar e suas
conseqüências objetivas e subjetivas são delegadas a um saber técnico ex-
terno ao saber jurídico.
Daí a importância do apontamento de Sonia Liane
Rovinski, também uma das expositoras que me precedeu, sobre o lugar
do psicólogo e o lugar do juiz, que não se confundem. A função da perí-
cia, em tese, é de ampliar as possibilidades de decisão do juiz, fornecendo
elementos para seu convencimento. Porém, o que se percebe com mais
freqüência é que o laudo pericial acaba por receber um valor maior a
partir de uma concepção de “Ciência-Verdade-Absoluta”, “Ciência-Solu-
ção”, ciência que desvela a Verdade oculta e que determina as conseqüên-
cias daí derivadas.
Tal tendência é interpretada por Silvana de Oliveira6
como uma das expressões da maior “judicialização” da vida cotidiana que
no Conselho Regional de Psicologia se reflete como uma grande demanda
por orientação e fiscalização. Tal demanda se reflete no significativo nú-
mero de Resoluções do Conselho Federal de Psicologia pertinentes ao
trabalho da perícia psicológica como bem apontou o primeiro expositor
dessa mesa-redonda Lúcio Garcia. Também com uma posição crítica a esta
tendência, Neuza Maria Guareschi7 pontua o quanto a Psicologia naturali-
zou como um dever seu responder a determinadas demandas oriundas de
outros campos disciplinares, os quais, também arbitrariamente, julgam
que a Psicologia é capaz de atendê-las.
Há alguns registros históricos da intervenção do Estado
para manter a ordem social vigente através do aparato jurídico e da apro-
ximação com os métodos de avaliação do psiquismo. É o caso, por exem-
plo, do uso de provas psicométricas de inteligência como critério de emi-
6 OLIVEIRA, S. Psicologia e Justiça. Jornal Entrelinhas, CRPRS, ano VIII, n. 39, maio/junho de
2007, p. 8.
7 GUARESCHI, N. Editorial. Jornal Entrelinhas, CRPRS, ano VIII, n. 39, maio/junho de 2007, p.2.
8 MASIERO, A. “Psicologia das raças” e religiosidade no Brasil: uma intersecção histórica. Psico-
logia, ciência e profissão, ano 22, n. 1, p. 66-79, 2002.
Maria da Graça Corrêa Jacques
51
gração nos Estados Unidos no início do século XX. Deve-se lembrar, tam-
bém, a posição de Galton como um dos principais defensores da proibi-
ção de casamentos entre loucos, débeis mentais e alcoólatras para retar-
dar o nascimento dos chamados degenerados8.
O que se constata, hoje, é um aumento da demanda
pelo poder judiciário dos conhecimentos e intervenções da Psicologia.
Incorporar os questionamentos quanto a essa demanda não significa, ne-
cessariamente, concordar plenamente com a qualificação de Louis
Althusser9 à Psicologia de modo geral (e a perícia psicológica em particu-
lar) como “técnicas humanas de adaptação” ou com Michel Foucault10
como “uma prática generalizada de perícia”. Implica em examinar critica-
mente a filiação a práticas de dominação, segregação, exclusão. Implica
em avaliar como insuficientes as pesquisas e regulamentações sobre a di-
mensão técnica da perícia para dar conta da dimensão ética envolvida.
Implica em reforçar a necessidade da reflexão crítica como uma constân-
cia no exercício profissional. É esse o papel do Código de Ética dos Psicó-
logos como foi apontado inicialmente por Lucio Garcia.
Importante considerar que nenhuma profissão existe
no vácuo, mas que se constrói a partir da atividade de diferentes pessoas
que se apropriam dos conhecimentos produzidos. Estimular a reflexão
contemplando as dimensões técnicas, sociais, políticas e éticas envolvidas
é o papel dos órgãos de orientação e fiscalização do exercício profissional.
Daí a importância de espaços como este em que se exercite a reflexão e o
diálogo interdisciplinar sobre os limites, possibilidades e responsabilida-
des de cada exercício profissional, os lugares que ocupam, as éticas que
promovem e os efeitos das práticas que efetivam. Este é também o papel
do debatedor em cada mesa-redonda: incitar o diálogo e a reflexão a par-
tir das exposições que a precederam, compreendendo o verbo debater
no sentido de discutir e, principalmente, despertar.
9 ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado. Lisboa: Presença, 1974.
10 FOUCAULT, M. As palavras e as coisas. S.P.: Martins Fontes, 1981.
Sonia Liane Reichert Rovinski
52
A PERÍCIA PSICOLÓGICA NO
DIREITO DE FAMÍLIA
SONIA LIANE REICHERT ROVINSKI
Psicóloga do Tribunal de Justiça do RS,
Especialista em Psicologia Jurídica
(CFP),
Mestre em Psicologia Social e da
Personalidade (PUC-RS) e Doutora em
Psicologia Clínica e da Saúde
(Universidade de Santiago de
Compostela).
Sonia Liane Reichert Rovinski
53
Perícia, em uma concepção genérica, é o “exame de si-
tuações ou fatos relacionados a coisas e pessoas, praticado por especialis-
ta na matéria que lhe é submetida, com o objetivo de elucidar determina-
dos aspectos técnicos” (Brandimiller, 1996, p.25). No caso dela ser solici-
tada na área do Direito de Família, terá como especificidade questões téc-
nicas decorrentes das demandas típicas desta área que chegam aos agen-
tes jurídicos para julgamento, ou seja, questões ligadas à adoção, guarda
de filhos, separação, divórcio, entre outras.
Os casos mais freqüentes encaminhados aos psicólogosque assessoram juízes das Varas de Família dizem respeito a avaliações
relacionadas à disputa do poder familiar, no sentido de que este profissio-
nal possa auxiliar na definição da guarda e da regulamentação de visitas.
Muitas vezes, estes casos chegam acompanhados de denúncias de maus-
tratos e abuso sexual, podendo a demanda jurídica incluir, nestas avalia-
ções, questões ligadas à possibilidade da destituição do poder familiar.
Apesar desta temática, do poder familiar, ser a mais freqüente nos encami-
nhamentos das avaliações psicológicas, não chegam a esgotar o tipo de
trabalho realizado pelos psicólogos na área do Direito da Família. Outras
solicitações podem ser requisitadas como, por exemplo, a avaliação da
capacidade laborativa em situações de separação, em que uma pensão ao
cônjuge pode estar em jogo, ou a verificação das condições pessoais para
responder por atos da vida civil (interdição). Esta última bastante freqüen-
te para os técnicos da área da saúde mental, mas preferencialmente enca-
minhada aos psiquiatras por ser, quase sempre, subsidiada por diagnósti-
co de doença mental; ainda que os casos de deficiência mental deveriam
ser rotineiramente avaliados por psicólogos, que possuem o instrumental
necessário para a definição exata de tal transtorno.
Considerando que os tipos de avaliações citadas podem
Sonia Liane Reichert Rovinski
54
envolver temáticas psíquicas muito diferenciadas, privilegiar-se-á como
foco de discussão na apresentação desta mesa sobre perícias apenas aque-
la relacionada à questão do poder familiar, seja pela freqüência com que
as solicitações chegam aos psicólogos ou, mesmo, pelos desafios éticos e
metodológicos que suscita.
Discutir o trabalho do psicólogo em perícias que envol-
vam decisões quanto ao poder familiar exige de início uma reflexão sobre
as questões éticas envolvidas. Primeiro, é muito importante que o psicólo-
go tenha em mente os limites de seu trabalho técnico quanto à definição
das capacidades parentais. Ainda que possa como técnico identificar pato-
logias de vínculos entre pais e filhos, até identificar situações de risco à
criança, não é compatível ao seu trabalho assumir um papel de julgamen-
to, definindo em que momento um genitor deve ser dado como impedido
para o desempenho de sua função parental. Esta decisão deve ser conside-
rada como um “ato de julgamento”, pois envolve expectativas sobre os
papéis sociais e a tolerância do grupo quanto aos limites da normalidade,
sempre circunstanciado pela norma jurídica - aspectos todos pertinentes
exclusivamente ao agente judiciário. Em outras palavras, é ao juiz que
cabe o ato de julgar, sendo o psicólogo apenas um auxiliar da Justiça no
sentido de fornecer informações pertinentes e suficientemente fundamen-
tadas pela ciência.
Este posicionamento traz repercussões diretas na ma-
neira do psicólogo trabalhar e na forma de escrever seu informe ao judici-
ário. O técnico deve estar atento, a todo o momento, sobre o que seria
resultante de seus achados técnico-científicos e o que seria decorrente de
suas crenças sociais, envolvendo os valores de sua própria formação pes-
soal. Não cabe aqui discutir o quão intrincado pode ser a dinâmica destas
forças na fundamentação do raciocínio clínico que deve ser descrito no
laudo, na medida em que ciência e crenças sociais se constituem em uma
verdadeira inter-relação na formação da sociedade e do próprio sujeito.
Uma outra questão ética que diz respeito ao
posicionamento do psicólogo frente aos genitores que está avaliando, no
sentido de se colocar como aquele sujeito capacitado para decidir quem
Sonia Liane Reichert Rovinski
55
seria o “melhor” dos pais para ter o cuidado da criança. Neste sentido,
Emery, Otto e O’Donohue (2005), em uma revisão crítica sobre avaliações
psicológicas para custódia nos EUA, chamaram a atenção para cuidado
que os psicólogos devem ter ao dirigir seu trabalho pela premissa existen-
te nestas avaliações “do melhor interesse da criança”. Salientam que além
desta máxima ser um conceito vago, predispõe a que se construa estereó-
tipos de genitores “mais ou menos saudáveis” pela indicação na avaliação
daquele com quem a criança estaria sendo melhor cuidada. Estes autores
sugerem que o foco da avaliação deveria ser deslocado para uma nova
proposta, a da “regra da aproximação”, onde se buscaria manter de forma
mais aproximada possível a organização da rotina de vida da criança com
a que ela tinha antes da separação dos pais. Deste modo, não se buscaria
um arranjo familiar “ideal” para esta criança, com o genitor mais “saudá-
vel”, mas aquele que lhe trouxesse menores mudanças. É claro que esta
regra só pode ser seguida se o arranjo familiar prévio à separação vinha
atendendo as necessidades da criança.
Ainda, segundo Emery e colaboradores (2005), as pes-
soas mais capacitadas para definirem esta “melhor” reorganização familiar
seriam os próprios pais. Toda a organização judiciária deveria estar prepa-
rada para facilitar, desde o início do processo, que os pais mantivessem o
poder de decisão quanto a como definir a guarda, através de atividades
técnicas como a mediação. Antes que os genitores entrassem em litígio
judicial deveriam ser alertados quanto aos prejuízos que um processo ju-
dicial litigioso poderia gerar aos filhos. Estudos têm provado de que mais
do que o tipo de arranjo familiar posterior a separação (guarda comparti-
lhada ou individual), é o processo de dissolução e a natureza das relações
familiares que se constroem que influenciarão no sofrimento psíquico dos
filhos. Um processo de mediação judicial, ou preferencialmente
extrajudicial, através do estímulo dos próprios advogados para que os
genitores cheguem a um consenso, evitando o ingresso de um processo
de separação litigiosa, é ainda a melhor e mais durável solução para todos
os membros da família.
Sonia Liane Reichert Rovinski
56
No Brasil, já temos alguns exemplos de atividades que
são desenvolvidas pelos psicólogos com o objetivo de valorizar o poder
familiar, são: atividades de orientação a advogados, antes do início do pro-
cesso judicial, para que não se acirrem situações de litígio entre seus cli-
entes, favorecendo a comunicação e o entendimento entre os mesmos
(Polanczyk, 2002); atividades de mediação para a busca de soluções con-
juntas entre os ex-cônjuges (Silva, 2003; Rivera et al., 2002); grupos focais
de atendimento a famílias, com o objetivo de resolução dos impasses sur-
gidos com o processo judicial (Silva e Polanczyk, 1998). De modo mais
recente, a preocupação do próprio Conselho Federal de Psicologia em
regulamentar a atividade de mediação como uma das atividades do Psicó-
logo.
No entanto, a realidade também mostra que nem sem-
pre os genitores estão disponíveis, ou possuem capacidade para chegar a
um acordo sobre a definição da guarda e do estabelecimento das visitas.
Os diversos motivos e sentimentos associados à ruptura da relação, as
questões financeiras, e as próprias limitações na capacidade emocional de
lidar com fatores de estresse, podem criar situações de impasse e até de
risco à integridade da criança, sendo necessária a intervenção do judiciá-
rio. Para Emery e colaboradores (2005) as perícias ficariam indicadas sem-
pre que houvesse indícios de violência familiar ou negligência, antes ou
durante o processo de separação, e suspeita de doença mental em algum
dos genitores, que poderia, da mesma forma, levar a condutas de maus-
tratos aos filhos.
O CONCEITO DE COMPETÊNCIA PARENTAL
A perícia psicológica forense tem sempre por fim subsi-
diar decisões judiciais, por isso é fundamental, para que possa atender
sua demanda, que o foco do trabalho seja bem estabelecido desde o iní-

Continue navegando