Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CAMPUS AVANÇADO GOVERNADOR VALADARES FISIOLOGIA MÉDICA I – CBV004GV ÁLVARO LUIZ FONSECA CAMPOS Acadêmico de Medicina – turma XIII NEUROFISIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR – SEÇÃO 1 Neuroplasticidade - Regeneração axônica Neuroplasticidade é a capacidade que as células do sistema nervoso têm de se regenerar. Considerando uma lesão em um axônio, alguns fenômenos ocorrem, a soma desses fenômenos chamamos cromatólise: a. o núcleo torna-se excêntrico; b. os corpúsculos de Nissl também são deslocados; Diante de uma lesão, o coto distal tende à degeneração, isso desencadeia degeneração transneuronal (retrógrada e anterógrada), no entanto, esse fenômeno não é passivo, mas ocorre ativamente, a esse tipo de degeneração chamamos de Walleriana, é ativa pois ocorre pela ação de duas proteínas: NADH e proteína de ubiquitinação, a proteína de ubiquitinação marca as moléculas e fragmentos que precisam ser degradados e esse processo degenerativo ocorre rapidamente. No entanto, recentemente foi observado a fusão da proteína de ubiquitinação e NADH, chamada de proteína de fusão Wlds (Wallerian degradation slow), o que viabiliza uma degeneração até 10x mais lenta. Esse fenômeno de degeneração retardada poderá ter aplicabilidade em tratamentos de doenças como ELA, esclerose múltipla, Parkinson, Alzheimer. Regeneração periférica Caso sobreviva, o coto proximal, dará origem a um cone de crescimento em direção à célula alvo. Esse crescimento só é possível graças à presença das células de Shawn que liberam fatores neurotróficos pró-regenerativos, como laminina, moléculas de adesão celular, neurotrofinas (NGF, etc.) e outras moléculas tróficas que são fundamentais na formação do microambiente propício à sobrevivência dos neurônios lesionados e a regeneração e direcionamento dos seus axônios. Logo, lesões periféricas são mais facilmente regeneradas. Além disso, as UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CAMPUS AVANÇADO GOVERNADOR VALADARES FISIOLOGIA MÉDICA I – CBV004GV ÁLVARO LUIZ FONSECA CAMPOS Acadêmico de Medicina – turma XIII camadas que recobrem os axônios (endoneuro, perineuro e epineuro) também contribuem para o direcionamento do seu crescimento. No entanto, regeneração neuronal não necessariamente a restauração funcional. A restauração das funções no tecido inervado depende inicialmente de tempo, além de fatores de crescimento (FGF e do colágeno IV) sintetizados por células musculares e também múltiplas isoformas de laminina que são incorporadas à lâmina basal, como a laminina cadeia β2 que viabiliza a formação das zonas ativas para maturação da junção neuromuscular. Regeneração do sistema nervoso autônomo: A regeneração do SNA também pode ocorrer, com formação seletiva de sinapses, onde o axônio lesado que esteja em regeneração apenas faz sinapses com seu local de inervação de origem, graças a moléculas secretadas por esses locais que direcionam a regeneração neuronal. Regeneração do sistema nervoso central A regeneração do SNC perpassa por alguns obstáculos e, portanto, é considerada bloqueada. No SNC também ocorre cromatólise, no entanto de maneira mais intensa, o que oferta menor chance de sobrevivência ou regeneração desse neurônio. Além da cromatólise, astrócitos e oligodendrócitos migram para o local da lesão formando uma cicatriz glial que serve de barreira mecânica à regeneração, o que chamamos de gliose. Astrócitos reativos liberam no local da lesão moléculas anti-regenerativas, os chamados proteoglicanos condroitina sulfatos (PGCSs). Oligodendrócitos lesionados secretam NOGO-A, OMgp, MAG, moléculas que receptores ativam sinalização intracelular ativam inibidores de regeneração. Algumas intervenções são utilizadas em experimentação para inibir as moléculas liberadas por astrócitos e oligodendrócitos: Administração de condroitinase logo depois da lesão, o que degrada PGCSs. Administração de prednisolona, glicocorticoide com ação anti-inflamatória. Para comprovar que a regeneração axônica no SNC é bloqueada e não inexistente, isolou-se axônios do nervo óptico (pertencente ao SNC) e ofertaram a ele UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CAMPUS AVANÇADO GOVERNADOR VALADARES FISIOLOGIA MÉDICA I – CBV004GV ÁLVARO LUIZ FONSECA CAMPOS Acadêmico de Medicina – turma XIII um ambiente periférico, esse axônio mostrou-se regenerado com o passar do tempo, em um microambiente central essa regeneração não ocorreu. Com esse experimento também foi descoberto que a proteína SOCS3 é um agente inativador da regeneração. Logo, podemos salientar ainda que axônios do SNC possuem menor capacidade de regeneração mesmo em condições favoráveis. A fraca regeneração axônica de neurônios centrais pode ser explicada pela expressão de proteínas como a GAP-43, que diminui nos neurônios centrais à medida que ocorre o desenvolvimento, essa proteína é fundamental para a regeneração axônica. Algumas abordagens são utilizadas para aumentar a regeneração neuronal periférica: Administração de GAP-43; já que essa proteína é importante na regeneração, o aumento da presença dela no organismo pode contribuir para esse fenômeno. Aumento do AMPc; o aumento das concentrações desse sinalizador intracelular mostrou-se eficiente para regeneração axônica; Lesão no ramo periférico do axônio lesionado; sabe-se que provocar uma lesão periférica aumenta a capacidade de regeneração do neurônio lesado, mas ainda não se sabe o porquê. É importante destacar que o mais eficiente para que haja uma regeneração neuronal central é a combinação de 2 ou mais dessas abordagens. A regeneração funcional central também é possível em processos fisiologicamente naturais, em casos de reorganização de circuitos espinais já existentes. Esses circuitos são formados por interneurônios que em situações normais servem apenas como moduladores sinápticos, em caso de lesão eles passam a ser recrutados como ativadores dos neurônios motores. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CAMPUS AVANÇADO GOVERNADOR VALADARES FISIOLOGIA MÉDICA I – CBV004GV ÁLVARO LUIZ FONSECA CAMPOS Acadêmico de Medicina – turma XIII Durante o desenvolvimento embrionário, ocorrem fenômenos que permitem o direcionamento da célula nervosa ao tecido alvo: 1. O estado de ativação de moléculas intracelulares (PKA, por exemplo) sinalizam o caminho que o axônio central em crescimento deve percorrer: repelido ou atraído por moléculas extracelulares (netrina, por exemplo); 2. ocorre adesão da matriz celular, o que direciona o crescimento neuronal; 3. ocorre adesão à superfície celular; 4. fasciculação neuronal; 5. quimioatração; 6. inibição de contato; 7. quimiorepulsão. Todos esses processos deixam de ocorrer após a fase embrionária, o que é explicado pela hipótese de estabilização dos circuitos centrais precisamente conectados, portanto, esse é o motivo pelo qual esses processos embrionários deixam de ocorrer e haja um bloqueio da regeneração axônica central. Neurogênese Apesar da regeneração central ser um processo bloqueado, alguns locais do SNC contam com o fenômeno de neurogênese. Como no giro denteado do hipocampo cerebral, bulbo olfatório, córtex cerebral e medula espinal, por exemplo. No entanto, esses neurônios originados de células tronco vão se proliferar e se integrar a circuitos já existentes. Sabe-se também que a neurogênese pode estar diminuída em indivíduos com depressão e estresse crônico e aumentada com a prática de atividade física. Atualmente, sabe-se que uma lesão traumática ou isquêmica pode levar a neurogênese, o que denominamos neurogênese induzida por lesão, porém o crescimento é bastante limitado, experimenta-se em laboratório induzir a lesão, administrar fatores de crescimento e utilizar células progenitoras produzidas em laboratório. Existem algumas experimentações em humanos: UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CAMPUS AVANÇADO GOVERNADOR VALADARES FISIOLOGIA MÉDICA I – CBV004GV ÁLVARO LUIZ FONSECA CAMPOS Acadêmico de Medicina – turma XIII Neurocirurgia para injeção de neurônios dopaminérgicos embrionários do putame do paciente; Para tratamento de esclerose lateral amiotrófica (ELA) utiliza-se uma célula do próprio paciente, como um fibroblasto, e reverte seu fenótipo para obter células tronco pluripotentes induzida (TPi) que poderá se diferenciar em neurônios motores inferiores, os quais são degenerados nessa doença. Na esclerose múltipla, utiliza-se transplante de células tronco oligodendrocítica. No entanto, cautela é necessária, pois a facilitação da regeneração e/ou da neurogênese pode indesejavelmente promover a formação de circuitos mal adaptativos.
Compartilhar