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LUANA MARTON BORGES ASPECTOS HISTÓRICOS DA CONTABILIDADE: ABORDAGEM DA EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA CONTÁBIL AO LONGO DO TEMPO. Trabalho Acadêmico, orientado pelo professor Manfredo Rode, apresentado a disciplina de Teoria da Contabilidade sob fins avaliativos para compreensão da Contabilidade e métodos de pesquisa, na Universidade Federal da Grande Dourados, no ano de 2019. Dourados – MS 2019 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................... pág. 03 2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PENSAMENTO CONTÁBIL ............... pág. 03 2.1. CONTABILIDADE EMPÍRICA ....................................................... pág. 04 2.2. CONTABILIDADE SISTEMATIZADA ............................................ pág. 05 2.3. CONTABILIDADE LITERÁRIA ...................................................... pág. 05 2.4. CONTABILIDADE CIENTÍFICA .................................................... pág. 06 3. GRANDES ESCOLAS DOUTRINÁRIAS DA CONTABILIDADE ........ pág. 06 3.1. ESCOLA CONTISTA ..................................................................... pág. 07 3.2. ESCOLA ADMINISTRATIVA ......................................................... pág. 07 3.3. ESCOLA PERSONALISTA ........................................................... pág. 08 3.4. ESCOLA CONTROLISTA ............................................................. pág. 08 3.5. ESCOLA NEOCONTISTA ............................................................. pág. 09 3.6. ESCOLA NORTE-AMERICANA .................................................... pág. 09 3.7. ESCOLA PATRIMONIALISTA ...................................................... pág. 11 3.8. ESCOLA BRASILEIRA .................................................................. pág. 11 3.8.1. ENTIDADES CONTÁBEIS E AS NORMAS INTERNACIONAIS .. pág. 13 4. LINHA DO TEMPO ............................................................................. pág. 15 5. A CONTABILIDADE TIDA COMO CIÊNCIA ...................................... pág. 15 6. CONCLUSÃO ..................................................................................... pág. 16 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... pág. 17 3 1. INTRODUÇÃO Antes mesmo da descoberta e surgimento da escrita, a Contabilidade já estava presente, sendo importante para o controle e evidenciação do patrimônio existente na época, no caso do homem primitivo, os animais criados e os alimentos cultivados. Ao longo da historia da humanidade, percebe-se que a Ciência Contábil passou por grandes momentos, em contraste também a momentos de verdadeira inércia para a produção literária e científica desta ciência. O trabalho acadêmico em que segue expõe de forma detalhada por onde a Contabilidade passou e qual a sua importância no âmbito mundial, para as pessoas, desde o momento em que nasce; para as organizações, sendo ferramenta das tomadas de decisões e controle e interpretação das demonstrações financeiras. O principal objetivo observado para a elaboração deste trabalho é o de aprofundar na pesquisa da história contábil, buscando conhecimentos legítimos e fidedignos quanto a esta ciência que torna-se de grande relevância na vida dos profissionais do mercado financeiro, por exemplo. A disciplina da Teoria da Contabilidade acaba por propiciar aos acadêmicos de Ciências Contábeis a oportunidade de compreender a essencialidade da profissão contábil, além de trazer bases comprovadas do surgimento de grandes teorias, normas e obras ao longo dos anos. 2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PENSAMENTO CONTÁBIL. Muitos estudos expõem que a Contabilidade acompanha a humanidade desde seus primórdios, ou seja, antes do surgimento da escrita, a Ciência Contábil manifesta-se baseada na avaliação da riqueza do homem, sendo utilizada através de desenhos para identificar o patrimônio existente (IUDÍCIBUS, 2018, pág. 06). Evidencia-se que a Contabilidade é tão antiga quanto a existência do homem em atividade econômica. IUDÍCIBUS (2015, pág. 16) data a existência contábil em aproximadamente 2000 anos a.C. com a existência dos primeiros sinais de contas de forma rudimentar. Ao longo dos séculos, a Contabilidade tornou-se uma ciência capaz de organizar empreendimentos e negócios mercantis. Por isso, caracteriza-se por ser 4 primordial para regrar e ordenar, empreender e avaliar o crescimento através do tempo, além de classificar, agregar e inventariar (IUDÍCIBUS, 2015, pág. 17), provando a sua essencialidade e de seus profissionais. Mesmo com sua existência pré-histórica, a Contabilidade apresentou um avanço extremamente lento ao longo do tempo. Somente após aproximadamente 5000 anos, no século XIII, é que os números indo-arábicos tornaram-se instrumento de cálculo. Fica-se marcado e evidenciado que a história da Contabilidade em si é dividida em períodos, visando principalmente a organização das épocas, obras e pensadores. 2.1. CONTABILIDADE EMPÍRICA. Não se sabe ao certo qual é o primeiro vestígio da existência da Contabilidade, mas antes mesmo da descoberta da escrita, o homem primitivo sentia a necessidade de controlar a agropecuária. Foi justamente neste contexto que a Ciência Contábil surge, com o fim de administrar o patrimônio existente. Até 1500 a.C. os registros em fichas de barro começaram a ser utilizados em Israel, Iraque, Turquia, Síria e Mesopotâmia (PINTO, 2002, pág. 11), como um sistema contábil primitivo. O seu uso consistia em representar e quantificar uma unidade de animal ou alimento. O seu uso teve evolução ao longo tempo, sendo substituída pelas tábuas de argila, conhecidas como tábuas de Uruk, demonstrada na imagem 1. As tábuas serviam para escriturar as entradas e saídas de bens. Imagem 1: Tábua de Uruk. Fonte: http://tipografos.net/escrita/sumerio.html. Com o passar dos anos, o controle do patrimônio tornou-se mais eficaz, com o uso de caixas de barro. PINTO (2002) expõe a utilidade das caixas, ao dizer que “cada caixa representava um bem e a quantidade de fichas depositadas dentro da mesma representava a quantidade de bens, direitos e até mesmo obrigações”, ou 5 seja, vincula-se o uso dessas caixas com os razonetes usados atualmente, demonstrando as entradas e saídas de uma conta do balanço patrimonial. A adoção de um sistema contábil evoluído e íntegro foi visto no Egito, em que houve a utilização de livros comerciais e moedas correntes. Além disso, na Grécia, em aproximadamente 400 a.C. ficou marcado na história do pensamento contábil o uso efetivo de documentos e registros de contribuições de impostos. O inicio da era Cristã foi duramente marcado pelas invasões de terras, tornando o período infértil em relação à evolução cultural e científica. Foi apenas no final do século X, que principalmente a Europa ergue-se economicamente através da agricultura. A Contabilidade neste período reinventa-se visando o gerenciamento do valor atribuído as trocas de mercadorias, tanto dos agricultores quanto dos artesões que também iniciaram sua produção e comércio. O fim do período empírico foi marcado com a publicação de Liber Abaci de Leonardo Fibonacci, grande matemático italiano. Sua obra foi de grande importância por expor a introdução da numeração árabe e esclarecer o funcionamento do zero. 2.2. CONTABILIDADE SISTEMATIZADA. Este período inicia-se com as navegações marítimas a partir do século XII, em que o comércio sofre uma revolução e drástico crescimento, já que houve o surgimentodas grandes empresas. Ainda assim, a Contabilidade entra no cenário comercial para gerir e evidenciar as entradas e saídas de valores das empresas. Após o estabelecimento do comércio e das trocas financeiras, mesmo sem grande produção teórica e normativa, em 1494, na Itália foi onde a Contabilidade ganhou enorme força e fundamentação, com o método das Partidas Dobradas, proposta pelo frei Luca Pacioli, na obra Tractatus de computis et scriptuis, dando início a elaboração científica das normas Contábeis, conhecidas atualmente como a formação da Escola Europeia. 2.3. CONTABILIDADE LITERÁRIA. Após a publicação da obra de Pacioli, a Contabilidade estende-se a nível mundial, agora com bases técnicas de escrituração ordenadas e fidedignas. É neste 6 período que a Contabilidade torna-se ciência. PINTO (2002) detalha o surgimento da depreciação de bens e a incorporação de capital nos registros contábeis. Em sua obra, IUDÍCIBUS (2015) mostra grandes problemas e críticas relacionados à produção literária e pesquisa científica da Escola Europeia. É claro que em meio a essa característica, existem obras grandemente prestigiadas, como é o caso da Storia dela ragioneria (Melis) e La Ragioneris (Besta). A saber: Os defeitos da escola europeia [...] estão: (1) na fa ta de pesquisa indutiva sobre a qua efetuar genera i ações mais eficazes; (2) em se preocupar com a demonstraç o de que a ontabi idade é ci ncia, quando o mais importante é conhecer as necessidades informativas dos v rios usu rios da informaç o cont bi e construir um mode o cont bi de informaç o adequado na excessiva nfase na teoria das contas [...] (IUDÍCIBUS, 2015, pág. 19). Com os detalhes citados por IUDÍCIBUS, pode-se afirmar que a Escola Italiana é caracterizada acima de tudo pela falta de comprovações científicas e excesso de concretismo e personalismo. É exatamente por isso que a Escola Europeia entrou em declínio, levando em consideração que a Contabilidade, acima de tudo deve ser flexível em sua atribuição, principalmente para gerenciar negócios. Este período é encerrado na década de 1840, com a publicação do livro La contabilita applicata alle ammiistrazioni private e pubbliche de Francesco Villa, porém a obra é considerada muito mais científica, do que apenas literária. Por isso, alguns autores a tem como o passo inicial da era científica da Contabilidade. 2.4. CONTABILIDADE CIENTÍFICA. Neste período, a Gestão de Negócios Empresariais torna-se significativo, principalmente pelo uso de sistemas de controle contábeis ao levá-los em consideração para a tomada de decisões e no auxílio na administração gerencial das grandes empresas. 3. GRANDES ESCOLAS DOUTRINÁRIAS DA CONTABILIDADE. As escolas doutrinárias são basicamente linhas de pensamentos diferentes para a Contabilidade racional e sistêmica. Vê-se que ao longo dos anos o pensamento e a compreensão do que é a Ciência Contábil altera-se, principalmente 7 quando os pensadores e estudiosos formulam normas e técnicas que facilitam a utilização da Contabilidade nas universidades, organizações e sociedade em si. 3.1. ESCOLA CONTISTA. A Escola Contista foi a primeira escola da Contabilidade, criada no período literário do pensamento contábil. Seu principal idealizador foi Luca Pacioli com a produção e exposição do método das partidas dobradas em 1494. O principal objetivo e doutrina contista é o de registrar os valores a pagar e a receber. É neste período que o capital é destinado a representar o investimento dos sócios da organização. PINTO (2002) coloca que as contas representavam pessoas de carne e osso, ou seja, em uma aplicação empresarial por parte dos sócios, o gerente – que é a conta – deve ter o valor debitado ao receber tal aplicação, pois deve prestar contas aos sócios, que por sua vez são creditados. Em 1795, o francês Edmundo Degranges, baseado na escola contista, propôs a teoria das cinco contas, que trata da adoção das contas mercadorias, dinheiro, efeitos a receber, efeitos a pagar e lucros e perdas. Mesmo não tendo sido acatada pelas organizações, a teoria dá grande sentido para a Contabilidade Empresarial. TABELA 1: PENSADORES DA ESCOLA CONTISTA. PENSADOR CARACTERÍSTICA Luca Pacioli Tornou-se grande estudioso da Contabilidade com a publicação do livro La Summa de Arithimetica, Geometria, Proportioni et Proportionalita em que propôs o método das partidas dobradas. Benedito Cotrugli Pacioli ganhou todo o crédito com a publicação do método das partidas dobradas, porém alguns historiadores citam Cotrugli como o primeiro a desenvolver o método. Fonte: Elaboração Própria. 3.2. ESCOLA ADMINISTRATIVA. Foi instituída no perídio científico da Contabilidade, idealizada por Villa. Nesta escola, acredita-se que a Contabilidade tem a finalidade de ser a ciência da administração, de organizar e gerir as empresas através de normas e leis. 8 Há grande conflito entre esta e a Escola Contista, já que a primeira dá ênfase à existência de contas para a organização da entidade, sendo duramente criticada pela Administrativa, pois nesta o importante é a gestão de negócios empresariais. TABELA 2: PENSADORES DA ESCOLA ADMINISTRATIVA. PENSADOR CARACTERÍSTICA Francesco Villa Propôs o uso da controladoria nas empresas em sua obra La contabilita applicata alle ammiistrazioni private e pubbliche. Seus estudos foram sobre o gerenciamento administrativo. Antonio Tonzig Acreditava na relação direta entre a Contabilidade e a Administração de Empresas, tornando a gestão muito mais eficiente e eficaz. Fonte: Elaboração Própria. 3.3. ESCOLA PERSONALISTA. A Escola Personalista está inteiramente ligada a Contista, já que defende as contas representadas por pessoas. A principal teoria personalista é a logismográfica, em que a Contabilidade tem grande vínculo com a Economia e a Administração, além disso, a teoria ainda cita dois sistemas de escrituração contábil, sendo uma patrimonial e outra financeira. Segundo PINTO (2002), o erro desta escola é a não crer no crescimento do estudo contábil, taxando-a como esgotada. TABELA 3: PENSADORES DA ESCOLA PERSONALISTA. PENSADOR CARACTERÍSTICA Francesco Marchi Seu estudo teve como principal objetivo criticar a teoria das cinco contas, exposta na Escola Contista. Giuseppe Cerboni Apresentou um sistema de controle contábil para as estatais. Além disso, foi ele quem apresentou a teoria logismográfica. Fonte: Elaboração Própria. 3.4. ESCOLA CONTROLISTA. Seu principal idealizador foi Fábio Besta, em meados dos anos 1700, ao preocupar-se na distinção da administração geral – referente ao governo e controle dos negócios; e econômica – referente à administração do patrimônio. Sendo este último o de real importância para a Contabilidade. 9 Besta destaca a Contabilidade como a ciência do controle econômico das organizações existentes, diferenciando-a das ideias expostas na Escola Personalista. TABELA 4: PENSADORES DA ESCOLA CONTROLISTA. PENSADOR CARACTERÍSTICA Fábio Besta Em 1891, publicou sua obra Corso di Ragioneria. Fundou a Escola Controlista, além de contribuir para o nascimento da Escola Neocontista, por criticar a Escola Personalista. Fonte: Elaboração Própria. 3.5. ESCOLA NEOCONTISTA. Segundo Lopes de Sá (1995, pág. 252) esta escola trouxe uma grande atualização da Contista, voltando à teoria de que as contas de ativo e passivo devem representar o seu valor financeiro. Nesta situação, a finalidade da Contabilidade é a de perceber a evolução do patrimônio das empresas e revelar asituação das organizações. TABELA 5: PENSADORES DA ESCOLA NEOCONTISTA. PENSADOR CARACTERÍSTICA Jean Dumarchey Contribuiu de forma concreta para a compreensão e tratamento das contas, do balanço patrimonial e perspectivas contábeis. Sua principal crença é de que a Contabilidade tem como principal instrumento, os cálculos matemáticos. Fonte: Elaboração Própria. 3.6. ESCOLA NORTE-AMERICANA. A Escola Norte-americana diz respeito a uma das mais recentes e eficazes da história da Contabilidade no cenário mundial. Isso porque ela preocupa-se com os usuários da informação contábil visando a tomada de decisões, além de contribuir com as pesquisas científicas. Foi nesta fase em que várias classes da profissão contábil surgiram, como é o caso da American Accouting Association (AAA) e o American Institute of Certified Public Accountants (AICPA) no final do século XIX, visando a normatização e 10 padronização das regras contábeis e demonstrações financeiras para as entidades empresariais. Além disto, esta foi a responsável por exigir certificação profissional. No final da Primeira Guerra Mundial, em um momento de reerguida para as empresas, surgiram problemas quanto à segurança da informação contábil, já que havia a supervalorização dos ativos e não existia auditoria. Neste contexto, em 1929, houve a grave crise, conhecida como Grande Depressão, em que mais de 10 bilhões de dólares foram perdidos. E a partir de então as companhias de capital aberto devem estar na Bolsa de Valores de Nova York, além de fazer as divulgações verdadeiras dos pareceres de auditoria, de acordo com as práticas contábeis (PINTO, 2002). Dentre todas as contribuições da Escola Norte-americana, IUDÍCIDUS destaca alguns problemas deste momento: [...] (1) Pouca import ncia atribu da sistemati aç o dos p anos de contas presentaç o dos t picos dos ivros de forma n o ordenada, dificu tando distinguir, s ve es, os de maior import ncia e ouca consideraç o – por parte dos regu adores na ediç o de normas cont beis pe o menos até a década de – para o tratamento do prob ema inf acion rio , , p g Apesar dos apontamentos negativos, grandes atribuições entram em contraste neste momento, já que no início do século XX, é perceptível o avanço na pesquisa das teorias pr ticas norte-americanas, tendo principais enfoques, segundo , “o refinamento das instituições econ micas e sociais”, a ém do grande embasamento de: [...] o investidor deseja estar [. bem informado, co ocando pressões n o percebidas no curt ssimo pra o, mas frut feras no médio e ongo pra os, sobre os elaboradores de demonstrativos financeiros [...]; o governo, as universidades e os institutos de contadores empregam grandes quantias para pesquisas [...]; o nstituto dos ontadores b icos mericanos tem sido rg o atuante em matéria de pesquisa cont bi mais recentemente, a criaç o do asb, em , mesmo ano da criaç o do , hoje , e, h muitos anos, da , tem propiciado grandes avanços na pesquisa sobre procedimentos cont beis , , p g TABELA 6: PENSADORES DA ESCOLA NORTE-AMERICANA. PENSADOR CARACTERÍSTICA Charles Ezra prangue Foi o grande responsável pela aplicação dos exames de suficiência profissional para os Contadores. Lawrence Robert Dicksee Sua maior contribuição foi na obra Auditing: a practical manual for aiditors em que cita grandes características para a auditoria contábil. Fonte: Elaboração Própria. 11 3.7. ESCOLA PATRIMONIALISTA. Para os estudiosos desta classe doutrinária, o objetivo da Contabilidade é o patrimônio, como se pode ver em grandes obras da atualidade. O estudo patrimonialista engloba três áreas: estática patrimonial – preocupa-se com o equilíbrio das contas que descrevem o patrimônio da entidade; dinâmica patrimonial – aplica os recursos da empresa através do patrimônio próprio e de terceiros; revelação patrimonial – apresenta as contas patrimoniais de forma quantitativa e qualitativa. Seu maior pensador, que será citado posteriormente, diz que a função do patrimônio é de refletir a situação líquida da empresa através de valores monetários. TABELA 7: PENSADORES DA ESCOLA PATRIMONIALISTA. PENSADOR CARACTERÍSTICA Vicenzo Mais Contribuiu em um abrangente campo da Contabilidade, entre eles: Contabilidade geral, teorias contábeis e análise das demonstrações financeiras, sendo o precursor deste último. Fonte: Elaboração Própria. 3.8. ESCOLA BRASILEIRA. Na década de 1800, em que Dom João IV reinava o Brasil, a Contabilidade era praticada com o método das partidas dobradas, sendo substituída a partir de 1850 pelo código comercial, tornando-se instrumento social através de balanços gerais, uso de livros de escrituração financeira das empresas mercantis. A primeira escola especializada no ensino contábil no Brasil foi a Escola de Comércio Álvares Penteado, criada em 1902. Até 1940 houve grandes discussões sobre a padronização dos balanços. Foi apenas com a fundação da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP, em 1946, e com a instalação do curso de Ciências Contábeis e Atuariais que o Brasil ganhou o primeiro núcleo efetivo de pesquisa contábil, como bem expõe IUDICIBUS (2015, pág. 23). Em 1976, a Lei das Sociedades Por Ações trouxe grade fortalecimento para o mercado de capitais brasileiro, tendo características mescladas da Escola Norte- americana e Patrimonialista. 12 Ao longo dos anos, percebe-se que a Contabilidade torna-se importante à medida que há desenvolvimento econômico. Hoje, a profissão é muito valorizada nos países do primeiro mundo, mas no Brasil, até a década de 60, este profissional era chamado de “guarda- ivros”, o que n o descreve o Contador com efetividade. Somente após o milagre econômico na década de 1970, que os contabilistas ganharam um excelente e valorizado mercado de trabalho. Não há identificada no Brasil, uma escola de pensamento contábil original e patriota, nota-se apenas características já existentes ao longo do tempo e do mundo. À primeira vista, o método da escola europeia, especialmente a italiana foi utilizada para o desenvolvimento da Contabilidade no país, e ao longo dos anos, há a predominância da escola Norte-americana, a qual vê-se ainda nos dias atuais dentro das organizações e universidades. A maior característica na contabilidade brasileira diz respeito ao foco dado na legislação tributária, em que o profissional, na maior parte das decisões, leva em consideração o fisco. Desde o início, a intervenção da legislação tributária auxiliou no desenvolvimento de normas e técnicas contábeis, mas por outro lado, o excesso dessas normas acaba por burocratizar a maioria dos processos. A contabilidade brasileira, mesmo sem originalidade e escola doutrinária própria, apresenta – por conta das mudanças no cenário econômico – uma das legislações contábeis mais aperfeiçoadas do mundo. TABELA 8: PENSADORES DA ESCOLA BRASILEIRA. PENSADOR CARACTERÍSTICA rancisco ’ uria Fundador da revista brasileira de Contabilidade. Seus trabalhos repercutiram mundialmente. Frederico Herrmann Júnior Trabalhou em grandes empresas, organizando seus setores contábeis. Acreditava também que o objeto de estudo da Contabilidade é o patrimônio, e subtendendo-a como ciência. Foi um dos fundadores e Presidente do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo e da Editora Atlas. Fonte: Elaboração Própria. ais recentemente, a , na rea cont bi , contribuiu com o surgimento do econ, da ontabi ometria, da eoria ositivada ontabi idade e com outros avanços que se espalharam por todo o Brasil, principalmente nas faculdades de Ciências Contábeis e entre os profissionais mais competentes. 13 3.8.1. ENTIDADES CONTÁBEIS E AS NORMAS INTERNACIONAIS. As entidades mais atuantes na Contabilidade, como expõe IUDÍCIBUS (2018), são por tradição o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Instituto Brasileiro de Contadores (IBRACON), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) e as Normas Internacionais. O CPC foi criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, tendo como principais objetivos estudar, preparar e emitir Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade, além da divulgação de informações contábeis. Sua criação deu-se principalmente visando centralizar e uniformizar as normas brasileiras aos padrões internacionais. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis tem em sua formação membros de grande prestígio para a contabilidade, sendo eles: ABRASCA, APIMEC NACIONAL, B3, CFC, FIPECAFI e IBRACON. O CPC vem divulgando muitos pronunciamentos contábeis que tornam-se regras e instruções da CVM e Normas Brasileiras de Contabilidade. O Banco Central e a Receita Federal também estão atuando nas legislações contábeis. A Contabilidade, no Brasil, tem todas as condições para, entre as mais avançadas do mundo, formar bons profissionais, “fa tando um investimento maior na rea educacional e de pesquisa” , 8 Há grandes eventos que ocorreram no Brasil, desde o início da utilização da Contabilidade no país, que foram de relevância significativa para o avanço desta ciência. São eles: 1850 – Houve a publicação do Código Comercial Brasileiro, visando a implantação e obrigatoriedade da escrituração contábil e elaboração de demonstrações financeiras; 1902 – Criada a Escola de Comércio Álvares Penteado, com o principal objetivo de aliar o desenvolvimento da agricultura, a expansão industrial com a necessidade de um contador dentro das empresas; 1940 – Publicado o decreto 2627, sendo a primeira Lei das Sociedades por Ações. Foi neste decreto que alguns procedimentos de grande importância e utilização atual foram estabelecidos, como: Regras para a avaliação de ativos; Regras para a apuração e distribuição dos lucros; Criação de reservas; Determinação de padrões para a publicação do balanço, lucros e perdas; 14 1945 – Foi o ano em que a profissão contábil é considerada como uma carreira universitária, de ensino e pesquisa; 1946 – Funda-se a FEA-USP, com a instituição dos cursos de Administração, Economia, Ciências Contábeis e Atuariais; 1946 – Criação do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e de todos os conselhos regionais. A criação deste conselho ocorreu com a finalidade de orientar, normatizar e fiscalizar o exercício da profissão contábil; 1971 – Publicação da obra Contabilidade Introdutória, confeccionada por uma equipe de professores da FEA-USP. O lançamento do livro e suas edições recentes auxiliam e influenciam todas as faculdades do curso em todo o Brasil, tanto corpo docente e discente; 1976 – Publica-se a Lei 6404, a nova Lei das Sociedades Por Ações, que vigora até hoje, levando em consideração suas alterações. Sua publicação significou uma nova fase para a contabilidade no Brasil, além da incorporação das tendências da Escola Norte-Americana; 1976 – Criação da Comissão de Valores Mobiliários, com o objetivo de fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores mobiliários brasileiro; 1981 – Confecção da Resolução CFC nº 529, que disciplina as Normas Brasileiras de Contabilidade e a Resolução CFC nº 530, com os Princípios Fundamentais de Contabilidade; 1993 – Publicação da Resolução CFC 750, que estabeleceu os novos princípios fundamentais de contabilidade, que vigora até a atualidade; 2005 – Criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC. Este conselho foi instalado com objetivos estudar, preparar e emitir Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade; 2007 – Promulgação da Lei 11.638/07, seguida pela Lei 11.941/09, que altera aspectos da Lei 6.404/76, na elaboração e divulgação do BP, Demonstração de lucros ou prejuízos acumulados, DRE, DFC e DVA. Ao longo do tempo, é notória a evolução da globalização, em inúmeros aspectos. E com a Contabilidade não é diferente, principalmente levando em consideração os avanços de mercados de capitais. A partir disso, há a ocasião 15 precursora para a elaboração de normas internacionais, visando a diminuição de divergências nas informações contábeis nos países. No ano de 1973, houve a criação da International Accounting Standards Committee (IASC), sendo traduzida como Comissão de Normas Internacionais de Contabilidade. Sua criação deu-se em prol da padronização de procedimentos contábeis, a partir da emissão das denominadas International Accounting Standards (IAS) – Normas Internacionais de Contabilidade. Em 2001, criou-se o International Accounting Standards Board (IASB) em substituição ao IASC, com a validação de novas normas, sendo identificadas como Internacional Financial Reporting Standards (IFRS), significando Normas Internacionais de Informação Financeira, tendo como principal objetivo é de aperfeiçoar os relatórios financeiros e torná-los relevantes e fidedignos. 4. LINHA DO TEMPO. Figura 2: Linha do Tempo. Fonte: Elaboração Própria. 5. A CONTABILIDADE TIDA COMO CIÊNCIA. O profissional da Contabilidade ao longo da historia da humanidade teve de se reordenar e aprender novas técnicas, normas e teorias, já que elas são essenciais para sua formação. Lopes de Sá (1987, pág. 15) expõe que é preciso aprofundar estudos para atender exigências durante a vida, ou seja, o conhecimento só é integral a partir do momento em que ele é buscado com efetividade. A sociedade da era moderna tem a sua disposição aparelhos tecnológicos, com informações na integra, e a Contabilidade ganhou sistemas de informações que Contabilidade Empírica (De 2000 a.C. à 1220 d.C.). Da Pré-história até a publicação de Liber Abaci de Leonardo Fionacci. Contabilidade Sistematizada (De 1200 à 1494). Das grandes navegações ao método das Partidas Dobradas, de Luca Pacioli. ESCOLA CONTISTA. Teoria das Cinco Contas de Edmundo Degranges. Contabilidade Literária (De 1494 à 1840). Das Partidas Dobradas até a publicação da grande obra de Francesco Villa. ESCOLA CONTROLISTA. Seu principal idealizador foi Fábio Besta. Contabilidade Científica (De 1840 aos dias atuais). Marcado pelas grandes escolas doutrinárias. ESCOLA BRASILEIRA. Marcada pela fundação da Escola Álvares Penteado, da FEA/USP. E criação da Lei das S/A. ESCOLA ADMINISTRATIVA. Contabilidade é a ciência da admnistração. ESCOLA PERSONALISTA. Teoria Logismográfica. ESCOLA NEOCONTISTA. ESCOLA NORTE- AMERICANA. Pesquisa e prática empresarial. ESCOLA PATRIMONIALISTA. 16 auxiliam seus usuários a interagir instantaneamente com documentos fiscais, demonstrações financeiras, etc. Neste contexto, a ciência é vinculada à Contabilidade, já que trata-se de um conhecimento sistêmico, apoiado em construções do raciocínio, visando a verdade. O potencial contábil tornou as empresas, grandes negociadoras econômico-financeiras, erguendo economias nacionais, como é o caso dos EUA, sendo a maior potência empresarial do mundo. A maior dificuldade encontrada ao longo dos anos para o avanço da Contabilidade caracterizada como ciência,como bem coloca Sá (1987) está relacionada ao apoio financeiro ou a falta dele, necessário para a expansão das pesquisas dentro das instituições de ensino, por exemplo. Não é possível compreender a Contabilidade, sem levar em consideração um contexto e um cenário em torno dela. Por isso como bem coloca SILVA (2014, pág. 8 “para a ontabi idade é importante estabe ecer um re acionamento harmonioso com as demais ci ncias”, ou seja, na administração de uma empresa, não basta conhecer os números, saber administrar os negócios, deve-se compreender as informações com a ajuda da Contabilidade, visando uma interpretação fidedigna e completa. 6. CONCLUSÃO A Contabilidade foi exposta acima de forma detalhada, sendo tida como essencial para a vida das pessoas, a partir do nascimento, com o contato com os algarismos. Grandes autores a caracterizam como a ciência do controle econômico- financeiro das organizações de qualquer porte e setor. Mas ela passa desta conceituação, já que é extremamente flexível e volátil quanto sua utilização empresarial. O Brasil teve seu desenvolvimento lento e atrasado, já que foi após aproximadamente 40 anos, comparada ao ensino superior na Europa, que a primeira universidade de ensino contábil brasileira surge. Mesmo com grandes autores sendo destaques para a literatura brasileira e mundial, percebe-se a falta de investimento financeiro no que diz respeito à pesquisa técnico-científica. 17 A evolução da Contabilidade esta sendo marcada, a partir deste se século, pelo avanço das tecnologias, que tornam-se a todo momento instrumento de uso na profissão contábil com os sistemas de informações em tempo real. Mas, qual é o grande desafio atual para os profissionais da Contabilidade, já que ela teve avanço integro ao longo da história? Em entrevista dada ao Jornal Contábil, Edinaldo Moreira, diretor financeiro, de inovação e novas tecnologias da Attentive contabilidade e serviços, cita que o grande desafio da profissão contábil é idar com a inte ig ncia artificia ao di er que: “O nosso processo interno vai ser di imado pe a inte ig ncia artificia e n s estamos fa ando de tr s anos” IUDÍCIBUS (2015) expõe as perspectivas dos Contabilistas brasileiros quanto a necessidade de pesquisas científicas aprofundadas sobre os princípios contábeis e instituições com maiores investimentos em pesquisa contábil, no sentido de atualizar e capacitar o seu corpo docente. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS, C. M. M. et al. História da Contabilidade e seu Enfoque nos Artigos Publicados em Periódicos Científicos. São Paulo: USP, 2019. Disponível: <https://congressousp.fipecafi.org/anais/Anais2019_NEW/ArtigosDownload/1528.pdf >. Acesso em: 03 Ago. 2019. COLIATH, Gleubert Carlos. Contabilidade e Capitalismo: Um diálogo Transdisciplinar. São Paulo: PUC, 2014. Disponível em: < https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/3586/1/Gleubert%20Carlos%20Coliath.pdf>. Acesso em: 02 Ago. 2019. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Conheça o CPC. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/CPC/Conheca-CPC>. Acesso em: 05 Set. 2019. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da Contabilidade. 11. Ed. São Paulo: Atlas, 2015. IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos; FARIA, Ana Cristina de. Introdução à Teoria da Contabilidade - Para Graduação. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2018. JOSÉ, Luiz. Blog Teorias Contábeis. A Contabilidade no Brasil. Disponível em: <http://teoriascontabeis.blogspot.com/2009/09/contabilidade-no-brasil.html>. Acesso em: 05 Set. 2019. PELEIAS, I. R. et al. Evolução do Ensino da Contabilidade no Brasil: Uma Análise Histórica. rev. cont. fin. São Paulo: USP, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rcf/v18nspe/a03v18sp.pdf>. Acesso em: 03 Ago. 2019. PINTO, Leonardo José Seixas. A Evolução Histórica da Contabilidade e as 18 Principais Escolas Doutrinárias. Rio de Janeiro: AVM, 2002. Disponível em: <http://www.avm.edu.br/monopdf/22/LEONARDO%20JOSE%20SEIXAS%20PINTO. pdf>. Acesso em: 01 Ago. 2019. Rede Jornal Contábil. Tecnologia e as profissões reinventadas: Entenda como será o contador do futuro. Disponível em: <https://www.jornalcontabil.com.br/tecnologia-e-as-profissoes-reinventadas-entenda- como-sera-o-contador-do-futuro/>. Acesso em: 05 Set. 2019. SÁ, Antônio Lopes de. Ana M. Lopes de. Dicionário de contabilidade. 9. Ed. São Paulo: Atlas, 1995. SÁ, Antônio Lopes de. Introdução às Ciências Contábeis. São Paulo: Tecnoprint, 1987. SILVA, Amado Francisco da. A Contabilidade Brasileira no Século XIX - Leis, Ensino e Literatura. São Paulo: PUC, 2005. Disponível em: <https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/1652/1/Dissertacao%20Amado.pdf>. Acesso em: 04 Ago. 2019. SILVA, Eleandra Holander da. Evolução e Teoria da Contabilidade: Análise da concepção acadêmica a luz da ciência contábil. Rondônia: FAP, 2014. Disponível em: < https://fapb.edu.br/wp-content/uploads/sites/13/2018/02/ed4/6.pdf>. Acesso em: 01 Ago. 2019.
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