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Apostila Direito Penal IV material parcial dos crimes contra a familia

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DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA
Noções – O fundamento dos crimes contra a família encontra – se no art. 226 caput, da Constituição Federal, que assim dispõe: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. Segundo Masson a razão dessa preocupação é louvável, posto que a pessoa humana se forma na família, sendo o sentimento familiar, força potente de moralidade, trabalho e sacrifício, razão pela qual deve ser protegida e respeitada, e energicamente protegida, inclusive pelo Direito Penal. Nesse sentido, a instituição da família desponta como bem jurídico nitidamente comunitário e imprescindível ao desenvolvimento humano.
Os crimes contra a família estão disciplinados no título VII da parte especial do Código Penal – Dividido em quatro capítulos a saber: I - dos crimes contra o casamento 9arts 235 a 239); II – dos crimes contra o estado de filiação (arts. 241 a 243); III – dos crimes contra a assistência familiar (arts. 244 a 247) e, IV – dos crimes contra o pátrio poder, tutela e curatela (arts. 248 a 247). Passemos a analise de cada um deles:
I - DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO
DO CRIME DE BIGAMIA
Art. 235 – Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:
Pena – reclusão, de dois a seis anos.
§ 1º – Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.
§ 2º – Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime.
ANALISE JURÍDICA
Considerações - o crime consiste em contrair, ou seja, formalizar novas núpcias quando já se está casado. Segundo o Código Civil, não podem casar (art. 1.521): I – os ascendentes com os descendentes, ou seja, o parentesco natural ou civil; II – os afins em linha reta; III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V – o adotado com o filho do adotante; VI – as pessoas casadas; VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Caso, em qualquer das hipóteses, ciente do impedimento que gere a nulidade, a pessoa vier a se casar, o crime será o do art. 237 do CP (conhecimento prévio de impedimento), exceto na hipótese do inciso VI (as pessoas casadas), quando o crime será o do art. 235 (bigamia), por força do princípio da especialidade. 
Obs.: Evidentemente, a poligamia também configura o delito, ou seja, a contração de três ou mais casamentos pela mesma pessoa. Nesta hipótese, no entanto, não haverá um único crime de bigamia, mas vários, em concurso (em continuidade delitiva, se atendidos os requisitos do art. 71 do CP, ou em concurso material, residualmente).
Poligamia e interpretação extensiva: Interpretação extensiva é a que amplia o texto da lei, adaptando-o à sua real vontade. Ocorre quando a lei disse menos do que quis (minus dixit quam voluit). De acordo com a interpretação extensiva, o fato está implicitamente previsto no texto da lei. É admissível o seu emprego até mesmo nas normas penais incriminadoras. Aplicam-se, para justificar a interpretação extensiva, os argumentos da lógica dedutiva: a) argumento a fortiori se a lei prevê um caso deve estendê-la a outro caso em que a razão da lei se manifeste com maior vigor; b) argumento a maiori ad minus o que é válido para o mais deve também ser válido para o menos; c) argumento a minori ad maius o que é proibido para o menos é proibido para o mais (ex.: se é crime a bigamia, com maior razão há de incriminar-se a poligamia). (TJSP, Ap. Crim. N. 0003865-11.2003.8.26.0569, Rel. Des. Amable Lopes Soto. J. 30.9.2013).
A União estável - não configurará o crime em hipótese alguma. Duas uniões estáveis, um casamento prévio e uma união estável posterior ou vice-versa. Não importa! A união estável jamais será relevante para o crime de bigamia. Somente ocorrerá o delito quando houver um casamento válido prévio. Por isso, trata-se de crime de forma vinculada, pois só pode ser praticado mediante a contração de segundo casamento, o qual depende do cumprimento de diversas formalidades legais. Da mesma forma, se o casamento religioso não observar o que dispõe os arts. 1.515 e 1.516 do CC, não haverá o que se falar em bigamia.
Falsidade ideológica - para a configuração do crime em analise, o agente deve, necessariamente, praticar o crime de falsidade ideológica (CP, art. 299), pois, ao prestar declaração sobre a existência de impedimentos, terá de mentir para conseguir contrair novo casamento. Entretanto, por força do princípio da consunção, deve ocorrer a sua absorção pelo delito de bigamia. Nesse sentido, STJ: O delito de bigamia exige para se consumar a precedente falsidade, isto é: a declaração falsa, no processo preliminar de habilitação do segundo casamento, de que inexiste impedimento legal. 2. Constituindo-se a falsidade ideológica (crime-meio) etapa da realização da prática do crime de bigamia (crime-fim), não há concurso do crime entre estes delitos. 3. Assim, declarada anteriormente a atipicidade da conduta do crime de bigamia pela Corte de origem, não há como, na espécie, subsistir a figura delitiva da falsidade ideológica, em razão do princípio da consunção. 4. Ordem concedida para determinar a extensão dos efeitos quanto ao trancamento da ação penal do crime de bigamia, anteriormente deferido pelo Tribunal a quo, à figura delitiva precedente da falsidade ideológica. (HC 39583/MS, Relatora Ministra Laurita Vaz. J. 8.3.2005).
Classificação doutrinária - crime simples (ofensa somente a um bem jurídico), próprio (só pode ser praticado por pessoas casadas), material (exige resultado naturalístico para a sua consumação), de dano (causa lesão ao casamento), de forma vinculada (o meio de execução está agregado ao que determina a lei civil), comissivo (exige uma ação), instantâneo de efeitos permanentes (consuma-se no momento em que homologado o casamento, mas seus efeitos se arrastam no tempo), plurissubjetivo (exige a presença de duas pessoas) e plurissubsistente (a execução pode ser fracionada).
Objetividade jurídica - protege-se a instituição do casamento, constitucionalmente prevista e tutelada, e a organização familiar que dele decorre, estrutura fundamental do Estado, que são colocados em risco com o novo casamento.
Sujeito do crime - ativo: trata-se de crime próprio. Tanto o homem quanto a mulher podem praticá-lo, mas é essencial que já sejam casados. Ademais, trata-se de crime plurissubjetivo, plurilateral ou de concurso necessário, pois o tipo penal exige a presença de duas pessoas. Passivo: imediatamente, o Estado. O cônjuge enganado é sujeito passivo mediato do delito.
Tipo objetivo ou conduta – o tipo consiste em contrair, no sentido de ajustar, convolar, formalizar novas núpcias. Trata-se de crime de forma vinculada, vez que somente pode ser praticado mediante contração de um segundo casamento, o qual depende do cumprimento de diversas formalidades estabelecidas na lei civil.
Elemento subjetivo: é o dolo. O crime não é punido se praticado a título de culpa.
Erro de tipo - Como o dolo, no âmbito do crime de bigamia, deve necessariamente abranger a ciência da existência de impedimento para o matrimônio, o desconhecimento do agente acerca de tal circunstância caracteriza erro de tipo (CP, art. 20), acarretando a atipicidade do fato. Exemplo: Uma pessoa vem a se casar após ser enganada pelo seu advogado, que lhe cobra honorários sob o argumento de que prestou serviços correspondentes à decretação judicial do seu divórcio. Nesse exemplo, o agente incidiu em falsa percepção acerca de uma situação fática, nota marcante do erro de tipo, excludente do dolo. Vale destacar, porém, que a dúvida do agente no tocante ao seu estado civil configura o delito, a título de dolo eventual. (MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado, vol. 3).
Consumação e tentativa - por ser crime material, é essencial, para a sua consumação, que o segundo casamentovenha a, de fato, ocorrer. Trata-se de crime instantâneo, que se consuma no momento do casamento, mas com efeitos permanentes, que se arrastam no tempo. 
Tentativa - é possível. No entanto, há discussão sobre o momento em que é iniciada a execução do delito. Para uma primeira corrente, a execução do crime inicia com o consentimento do agente (ou seja, logo após o “sim”). Portanto, a tentativa só seria possível entre o “sim” e a homologação do casamento. Para uma segunda corrente, todavia, a execução é iniciada junto à celebração.
Do crime privilegiado e exclusão da tipicidade.
§ 1º Bigamia privilegiada - nos termos do, aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. Trata-se de exceção à teoria monista, regra do art. 29 do CP, pois a pessoa casada responderá pelo crime do caput, embora ambos tenham buscado o mesmo resultado, em concurso de pessoas. Ademais, como o § 1º fala em conhecendo essa circunstância, exige-se o dolo direto, não sendo possível a prática do delito quando a pessoa age com dolo eventual.
§ 2º exclusão da tipicidade - temos duas situações diversas de exclusão da tipicidade: a) se o primeiro casamento for anulado, por qualquer motivo; b) se o segundo casamento for anulado, desde que a anulação não se dê em virtude da própria bigamia. O dispositivo é aplicável tanto às causas de anulação quanto às de nulidade (arts. 1.521, 1.548 e 1.550 do CC). Entretanto, atenção: enquanto não ocorrer a anulação ou a declaração de nulidade, o agente poderá ser processado pela prática do delito.
Ação penal - a bigamia é crime de ação penal pública incondicionada.
Observações importantes:
Da prescrição - A contagem do lapso prescricional da pretensão punitiva estatal nos delitos de bigamia e falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, enquanto não transitada em julgado o decisum condenatório, inicia-se na data em que o fato se tornou conhecido, ex vi do artigo 111, inciso IV, do Código Penal. (TJSP, Ap. Crim. N. 0001177-98.2007.8.26.0116, Rel. Des. Silmar Fernandes. J. 8.9.2013).
Casamento realizado no exterior - O fato de não ter a apelante homologado o seu casamento firmado em solo americano no Brasil não retirou a sua condição de pessoa casada, levando-a a cometer o crime de bigamia quando contraiu as novas núpcias. A própria omissão da recorrente em relação ao primeiro casamento, quando efetuou os trâmites do segundo matrimônio, demonstra a sua condição dolosa, situação que afasta a hipótese de erro de tipo. Não tivesse o intuito doloso a acusada poderia ter se certificado junto ao Cartório de Ipatinga acerca da validade de seu primeiro casamento, evitando-se, assim, a ocorrência do crime. (TJMG, Ap. Crim. 2167812-11.2007.8.13.0313, Rel. Des. Doorgal Andrada. J. 31.8.2011).
DO INDUZIMENTO A ERRO ESSENCIAL E OCULTAÇÃO DE IMPEDIMENTO
Art. 236 – Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único – A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
Considerações - o crime consiste em contrair novo casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou lhe ocultando impedimento que não seja casamento anterior (se o impedimento for casamento anterior, o crime será o de bigamia, do art. 235). Como o CP não conceitua erro essencial, tampouco elenca as causas de impedimento, deve o intérprete da lei buscar a complementação no Código Civil (portanto, norma penal em branco homogênea). Maiores explicações na explicação da conduta.
Classificação doutrinária - crime simples (ofensa somente a um bem jurídico), comum (pode ser praticado por qualquer pessoa), material (exige resultado naturalístico para a sua consumação), de dano (causa lesão à instituição familiar), de forma vinculada (o meio de execução está agregado ao que determina a lei civil), comissivo (exige uma ação), instantâneo de efeitos permanentes (consuma-se no momento em que homologado o casamento, mas seus efeitos se arrastam no tempo), unissubjetivo (pode ser praticado por uma única pessoa) e plurissubsistente (a execução pode ser fracionada).
Objetividade jurídica – protege a instituição do casamento e a organização da família.
Sujeitos do delito - ativo: qualquer pessoa, homem ou mulher. O delito pode ser praticado por ambos os cônjuges, ao mesmo tempo, desde que, dolosamente, ocultem causa de impedimento ou erro essencial um do outro – se estiverem, no entanto, em unidade de desígnios, sendo hipótese de nulidade absoluta, ambos praticarão o crime do art. 237 do CP.
Passivo: é o Estado. Mediatamente, o contraente de boa-fé, enganado pelo agente. Caso o contraente passivo conheça a causa de impedimento capaz de gerar a nulidade absoluta do casamento, responderá pelo crime do art. 237.
Tipo objetivo ou conduta – pune-se aquele que contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior, sendo que no tipo penal verifica-se duas condutas: 
A primeira - é a de induzir outrem a erro essencial, contraindo com ele casamento de acordo com o art. 1.557 do CC. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do cônjuge: I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado. (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
A segunda é ocultar - desde que não seja anteriormente casado, pois se tratar de casamento anterior o crime será o de bigamia ( art. 235 CP). O impedimento torna o casamento nulo, e as hipóteses estão elencadas no Art. 1.521. Não podem casar: I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II – os afins em linha reta; III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V – o adotado com o filho do adotante; VI – as pessoas casadas; VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
Elemento subjetivo e voluntariedade - é o dolo, não é punido quando praticado culposamente.
Consumação e tentativa - O crime é material ou causal: consuma-se com o casamento, que se aperfeiçoa no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados (CC, art. 1.514). Há, entretanto, entendimentos no sentido de tratar-se de crime formal, pois não se exigiria a efetiva dissolução do matrimônio por conta do erro ou do impedimento. Essa circunstância, em nossa opinião, constitui mero exaurimento. (MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado, volume 3). 
Tentativa – não é possível, por se tratar de crime condicionado à anulação ou declaração de nulidade do casamento.
Ação penal - privada personalíssima, pois somente o ofendido pode ajuizar a ação penal. Caso ocorra o seu falecimento, o direito de queixa não será transmitido. Não é possível a nomeação de curador especial ao incapaz ou o início da ação penal pelo seu representante legal. Em face da pena cominada admite-se a transação penal e a suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95).
Observações importantes - Condiçãode procedibilidade, prescrição e decadência: a ação penal só poderá ser ajuizada depois de transitada em julgado a sentença que anulou ou declarou nulo o casamento. Portanto, o prazo decadencial só correrá a partir desse momento, e não do dia em que se descobre a autoria do delito (regra para a contagem do prazo decadencial). Da mesma forma, o prazo prescricional da pretensão punitiva também só passa a correr da anulação do casamento. Ademais, como já comentado, somente o contraente enganado poderá ajuizar a queixa-crime. Há, por fim, quem sustente que a sentença civil não é somente condição de procedibilidade, mas, sim, condição objetiva de punibilidade.
Desambiguação - os crimes do art. 236 e 237 do CP são bem próximos. Vejamos: Art. 236 – Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior.
Art. 237 – Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta.
Exemplo, a hipótese do inciso VII do art. 1.521 do CC, causa de nulidade do casamento: (não pode casar) o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Caso o agente, ciente dessa situação, vier a casar com a viúva da vítima de homicídio, sem que ela saiba ser ele o autor do crime, em tese, dois delitos serão praticados: tanto o do art. 236 quanto o do art. 237. Contudo, como houve a intenção de enganar o contraente, prevalecerá o crime do art. 236, que tem penas mais altas. Entretanto, caso a viúva e o homicida, ambos cientes da situação, vierem a se casar, ambos praticarão o crime do art. 237. Portanto, a principal diferença entre os dois delitos é o emprego de fraude, existente somente no primeiro (art. 236). Exige-se, dessa forma, uma conduta comissiva do agente. Ademais, o art. 237 fala somente em causas de nulidade absoluta, redação não repetida no art. 236. Nas palavras de Cleber Masson, se igual comportamento fosse incriminado pelo art. 236 do Código Penal, não haveria razão legitimadora do art. 237 do Código Penal. E o principal argumento repousa na sanção penal cominada a cada um dos delitos. Com efeito, a pena mais grave do art. 236 somente se justifica em razão da fraude utilizada na execução do delito, revelando o caráter subsidiário do art. 237, que será aplicado nas hipóteses de silêncio do agente, ou seja, nas situações em que não houver fraude para a contração do casamento (Direito Penal Esquematizado, volume 3).
DO CONHECIMENTO PRÉVIO DE IMPEDIMENTO
Art. 237. Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Classificação doutrinária - crime simples (ofende um único bem jurídico), comum (pode ser praticado por qualquer pessoa), material (para a consumação, exige-se o resultado naturalístico: a celebração do casamento), de dano (causa lesão à instituição familiar), de forma vinculada (o delito é praticado pelo casamento, procedimento que deve atender aos ditames da lei civil), comissivo, mas pode ser praticado por omissão, instantâneo com efeitos permanentes (consuma-se com a celebração do casamento, mas os seus efeitos se arrastam no tempo), unissubjetivo (pode ser praticado por uma única pessoa) e plurissubsistente (a conduta pode ser fracionada em diversos atos).
Objetividade jurídica – Tutela-se o casamento e a organização da família. 
Sujeitos do delito - ativo: qualquer pessoa, que contraia casamento conhecendo a existência de impedimento (absoluto) pratica o crime em estudo 9 podendo ser cometido por ambos os cônjuges, em coautoria).Passivo: é o Estado. Também concorrendo com ele o cônjuge enganado.
Tipo objetivo ou conduta - a conduta consiste em contrair casamento ciente de que está impedido por lei. Como o CP não elenca as hipóteses de nulidade absoluta do casamento deve o intérprete da legislação buscar a complementação no Código Civil (normal penal em branco homogênea):Art. 1.521. Não podem casar: I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II – os afins em linha reta; III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V – o adotado com o filho do adotante; VI – as pessoas casadas; VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. 
Sujeitos do crime - ativo: qualquer pessoa, homem ou mulher. Se ambos os contraentes conhecerem a causa de impedimento, responderão pelo delito do art. 237 do CP, em coautoria. Sujeito passivo: imediatamente, o Estado; mediatamente, o contraente de boa-fé, que desconhecia o impedimento.
Elemento subjetivo ou voluntariedade - é o dolo. Não se admite a modalidade culposa.
Consumação e tentativa - por ser crime material, a sua consumação ocorre no momento em que o casamento é realizado. Por ser crime plurissubsistente. A tentativa é possível.
Ação penal - a ação penal é pública incondicionada. Em face da pena cominada admite-se a transação penal e a suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95).
DA SIMULAÇÃO DE AUTORIDADE PARA CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO.
Art. 238. Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento:
Pena – detenção, de 1(um) a 3(três) anos, se o fato não constitui crime mais grave.
Considerações - estudo é uma forma específica do delito de usurpação de função pública (CP, art. 328). É de natureza subsidiária, somente incidindo se o fato não constituir delito mais grave. Assim, se for praticado com vista à obtenção de vantagem, a figura penal incidente será a do art. 328 do Código Penal, cuja pena prevista é de reclusão de 2 a 5 anos, portanto mais grave.
Classificação doutrinária – crime simples; comum; formal de consumação antecipada ou de resultado cortado, de dano; forma livre, comissivo; instantâneo, unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual; plurissubsistente.
Objetividade jurídica - Tutela-se além da instituição do casamento e a organização da família, mas também a segurança jurídica na celebração da união, que deve seguir todas as formalidades previstas em lei.
Sujeitos do delito - ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (inclusive o funcionário público) que não tenha atribuição para celebrar casamento. É possível a participação. Sujeito passivo: É o Estado, bem como os cônjuges de boa-fé.
Tipo objetivo ou conduta – o núcleo do tipo é atribuir, imputar a si falsamente, a qualidade de autoridade para celebração de casamentos. A palavra falsamente indicativa de situação em descompasso com a realidade funciona como elemento normativo do tipo. No tocante à autoridade para celebração de casamentos, encontra-se descrito no art. 98, II da constituição Federal.
Elemento subjetivo ou voluntariedade – é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de atribuir-se falsamente autoridade para a celebração de casamento. Faz se necessário que o agente tenha efetivo conhecimento de sua falta de atribuição para presidir esse ato. O erro quanto a tal circunstância exclui o dolo e, configurando erro de tipo (CP, art. 20)
Consumação e tentativa - Por se tratar de crime formal, consuma-se com o ato de o agente atribuir-se falsa autoridade, independentemente da efetiva realização do casamento. A tentativa será possível nas hipóteses em que o crime não se perfaz em um único ato.
Ação penal - a ação penal é pública incondicionada. Em face da pena cominada não se admite a transação penal, mas permite a suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95). 
DA SIMULAÇÃO DE CASAMENTO
Art. 239. Simular casamento mediante engano de outra pessoa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
Classificação doutrinária – crime simples; comum; formal de consumação antecipada ou de resultado cortado, de forma livre, comissivo; instantâneo, unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual; plurissubsistente.Objetividade jurídica - Tutela-se além a instituição do casamento e a organização da família, base da sociedade.
Sujeitos do delito - ativo: a despeito da divergência doutrinária, normalmente é um dos contraentes ou ambos podem ser autores do delito em estudo. Para Noronha, não só os nubentes podem ser sujeitos ativos do crime, por exemplo, o magistrado e o oficial do Registro Civil. Sujeito passivo: É o Estado, bem como o cônjuge ou os cônjuges enganados.
Tipo objetivo ou conduta – pune-se quem simula (fingir) casamento mediante engano de outra pessoa, sendo essencial para a configuração do crime que a ação enganosa ludibrie alguém diretamente interessado na celebração do matrimonio, como os nubentes ou seus responsáveis ( quando do seu consentimento depende a união).
Elemento subjetivo ou voluntariedade - É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de praticar a conduta típica. Por se tratar de crime subsidiário, se a finalidade do agente for a de obter fraudulentamente a posse sexual da mulher, o crime poderá ser outro (CP, art. 215).
Consumação e tentativa: Consuma-se com a simulação da celebração do casamento. A tentativa é admissível.
Ação penal - Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. Tendo em vista a pena mínima prevista, detenção de um ano, é cabível a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 9.099/95).
DO CRIME DE ADULTÉRIO
Art. 240. (Revogado pela Lei n. 11.106/2005)
Previsão legal: Dispunha o art. 240 do Código Penal: Cometer adultério.
 Revogação – A Lei n. 11.106, de 28-3-2005, cuidou de revogar o art. 240 do Código Penal, retirando-o do ordenamento jurídico. Operou-se verdadeira abolitio criminis, dado que o fato passou a ser considerado atípico. Como o comportamento deixou de constituir infração penal, o Estado perde a pretensão de impor ao agente qualquer pena, razão pela qual se opera a extinção da punibilidade, nos termos do art. 107, III, do Código Penal. O adultério, dessa forma, a partir do advento da Lei n. 11.106/2005, passou a gerar efeitos apenas na esfera cível, sendo uma das causas que justifica a separação judicial, não surtindo mais qualquer efeito na esfera penal. Sobre separação judicial, vide a Emenda Constitucional n. 66/2010, que alterou a redação do art. 226, § 6º, e passou a dispor que “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”, não fazendo, portanto, mais qualquer menção aos requisitos da prévia separação judicial por mais de um ano ou a comprovada separação de fato por mais de dois anos.
II - DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FIALIAÇÃO
DO REGISTRO DE NASCIMENTO INEXISTENTE
art. 241- Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Considerações - O núcleo é promover, no sentido de postular, provocar, requerer, deve ser entendido no sentido de levar a efeito a inscrição no cartório do registro civil, de um nascimento inexistente.
 Poderá o agente anteriormente ter cometido falsidade ideológica, a exemplo, daqueles que forja os dados constantes de um documento utilizado pela maternidade onde supostamente teria nascido a criança, onde são consignados o nome do pai, mãe, avós, o sexo, horário de nascimento, etc.., individualizando a criança, que em tese acabara de nascer.
O crime de falsidade ideológica (crime meio) é absolvido pelo delito fim (registro de nascimento inexistente).
Classificação doutrinaria - Crime comum, doloso, comissivo (regra geral, mas pode ser praticado por omissão imprópria a ex.: do agente que goza do status de garantidor, mesmo conhecendo a falsidade das declarações produzidas por aquele que pretende levar a efeito o registro de um nascimento inexistente, dolosamente, nada faz para impedir a inscrição falsa); material, de forma livre, instantâneo, monossubjetivo, plurissubsistente, não transeunte.
Objetividade jurídica - Bem jurídico protegido o estado de filiação e a regular constituição familiar.
Sujeitos do crime – ativo: qualquer pessoa. Passivo: o Estado, bem como aquele que eventualmente prejudicado pelo falso registro.
Tipo objetivo ou conduta – consiste em promover (gerar, provocar, requerer) no registro a inscrição de nascimento inexistente, ou seja, assentamento de pessoa que não foi concebida (abrangendo também, a inscrição de nascimento de natimorto).
Elemento subjetivo ou voluntariedade – é o dolo, não havendo previsão de modalidade culposa.
Consumação e tentativa - Se consuma no exato momento em que é procedida a inscrição do nascimento inexistente no cartório de registro civil. Por se tratar de crime plurissubsistente admite-se a tentativa.
Ação Penal - iniciativa publica incondicionada.
DO CRIME DE SUPOSTO - SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE DIREITO INERENTE AO ESTADO CIVIL DE RECÉM-NASCIDO .
Art. 242. Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
Parágrafo único. Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: 
Pena: detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.”
Classificação doutrinária - trata de crime comum (não se exige qualquer qualidade ou condição especial do sujeito ativo). Na primeira modalidade, entretanto, (dar parto alheio como próprio) trata-se de crime próprio; crime material; doloso (não há previsão de modalidade culposa), de forma livre, isto é, pode ser praticado por qualquer forma ou meio eleito pelo sujeito ativo, comissivo (verbos nucleares implicam prática de uma ação), instantâneo, ou seja, a consumação não se alonga no tempo, unissubjetivo (pode ser cometido por uma única pessoa) e plurissubsistente, isto é, a conduta pode ser desdobrada em vários atos, de acordo com o caso.
Objetividade Jurídica - o bem jurídico tutelado é a segurança do estado de filiação e a fé pública dos documentos oficiais. Desta forma, a substância do crime reside na falsidade de documento público, o qual tem sua reprovação agravada pelo fato de atingir o estado de filiação, alterando ou suprimindo direito inerente ao estado civil.
Sujeitos do Crime – ativo: na primeira modalidade “dar parto alheio como próprio” o crime só pode ser praticado por mulher. Nas demais modalidades, os sujeitos ativos podem ser quaisquer pessoas, pois dispensa a qualidade especial do agente. Sujeito passivo: É o Estado, bem como os herdeiros prejudicados, as pessoas lesadas com o registro e os recém-nascidos.
Tipo Objetivo ou conduta - no tipo penal apresenta quatro formas de conduta:
A primeira - consiste em dar parto alheio como próprio, parto suposto, no qual a mulher atribui a si “a maternidade de filho alheio, em regra, simulando prenhez e parto”. Somente a mulher pode praticar
A segunda - consiste registrar no registro civil, como sendo seu filho de outra pessoa. trata-se de conduta semelhante à do dispositivo (art. 241), distinguindo-se pelo fato de que aqui, o nascimento efetivamente ocorreu. Essa prática segundo Sanches é conhecida como adoção brasileira, bastante utilizada pelos agentes que burlam a lei.
A terceira - consiste em ocultar o neonato, com a supressão de direitos inerentes a seu estado civil, ou seja, o recém-nascido não é apresentado para assumir seus direitos.
A quarta modalidade é substituir os recém-nascidos, alterando, consequentemente, direito inerente ao estado civil destes, de maneira que a um se atribua o estado civil que a outro competia.
Obs.: para a prática do delito tem-se que dar parto próprio como alheio não corresponde à conduta descrita no art. 242, ou seja, mulher que leva a registro o próprio filho como sendo de outra não incorre nas sanções do tipo em exame, podendo, desta forma, responder pelo crime de falsidade documental, previsto no art. 299 do Código Penal. Tal alternativa justifica-se, pois no Código Penal Brasileiro não criminaliza a ação de dar parto próprio como alheio.
Além disso, em virtude do princípio da especialidade da norma penal, eventual falsidadeque venha a servir de crime-meio para a prática do delito do art. 242 fica absorvida por este. De acordo com a Lei n. 6.898, o presente dispositivo passou a prevalecer sobre o crime de falsidade ideológica (artigo 299 do Código Penal).
Elemento subjetivo ou voluntariedade - é composto, em todas as condutas descritas, pelo dolo, o qual é representado pela vontade consciente de praticar ações incriminadas, ou seja, de dar parto alheio como próprio, registrar falsamente filho alheio como próprio, ocular recém-nascido com a finalidade de alterar ou suprimir direitos inerentes a seu estado civil ou substituir recém-nascido, com o objetivo de suprimir ou alterar direito inerentes a seu estado civil.
Todavia, nas duas últimas modalidades supramencionadas (ocular recém-nascido com a finalidade de alterar ou suprimir direitos inerentes a seu estado civil ou substituir recém-nascido, com o objetivo de suprimir ou alterar direito inerentes a seu estado civil), o elemento subjetivo especial do tipo consiste no especial fim de suprimir direitos inerentes ao estado civil dos neonatos.
 Consumação e tentativa - consuma-se o crime pela realização efetiva de qualquer uma das condutas descritas no tipo penal, seja dando parto alheio, seja registrando filho alheio como próprio, seja ocultando ou substituindo recém-nascido, de forma a suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil.
Forma privilegiada do crime – perdão judicial e prescrição – o artigo 242, parágrafo único, prevê minorante (privilégio) a pena poderá ser atenuada, podendo, inclusive, ser concedido perdão judicial ao agente, desde que tenha praticado o crime por motivo de reconhecida nobreza, tal como altruísmo, solidariedade ou humanidade. Além disso, uma vez reconhecida a motivação nobre da conduta tipificada, apresenta-se alternativamente a possibilidade de substituir a pena por detenção, de maneira a reduzi-la entre 1 a 2 anos. De acordo com as circunstâncias concretas, o julgador pode, até mesmo, deixar de aplicar qualquer pena.
Assim, sempre que os fatos permitirem a conclusão da absoluta não imposição de pena, seja pela nobreza da ação, seja pelas consequências que produziram, é recomendável, segundo Cezar Roberto Bitencourt, a isenção de pena, concedendo-se o que a doutrina denomina perdão judicial.
Ação Penal - pública incondicionada. Em face da pena cominada - reclusão, de 2 a 6 anos, não se admite qualquer dos institutos despenalizadores da lei 9.099/95. Já a forma privilegiada que comina pena de detenção, de 1 a 2 anos, de maneira que pode o juiz deixar de aplicar a pena.
Prescrição da pretensão punitiva – a prescrição da pretensão punitiva do crime definido no art. 242 é a data em que o fato se tornou conhecido (art. 111, IV do CP).
III - DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR
DO ABANDONO MATERIAL 
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003).
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes omaior salário mínimo vigente no País. (Redação dada pela Lei nº 5.478, de 1968).
Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. (Incluído pela Lei nº 5.478, de 1968).
Considerações - Segundo o professor Rogério Greco “a solidariedade é um dos valores fundamentais que devem existir na sociedade. Tanto isso é verdade que o legislador constituinte teve a preocupação de inseri-la expressamente no art. 3º d a Constituição Federal, como um dos objetivos do Estado Brasileiro”: Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária.
O crime poderá ser executado de duas maneiras:
 	a) - não proporcionando o agente os recursos necessários à subsistência; ou, 
b) - faltando ao pagamento da pensão alimentícia, judicialmente acordada.
Obs.: A pena cominada ao crime é de um a quatro anos e multa de um a dez vezes o maior salário mínimo vigente no país. Esta não se confunde com a prisão civil, prevista no art. 733 do Código de Processo Civil, também voltada à inadimplência de prestação alimentícia. Primeiramente, porque uma pode ocorrer independente da outra, sendo a tutela civil direcionada a fazer com que o obrigado venha a cumprir com a obrigação alimentar, tendo como princípio o curto período de aprisionamento (máximo, regulado pela Lei nº 5.478 /68, de 60 dias), para evitar que o inadimplente perca as condições de arcar com a pensão. Decorrido o prazo previsto, ou adimplida a obrigação, o devedor é solto, sem prejuízo da configuração do crime de abandono.
Já na tutela penal, a jurisprudência tem entendido que é necessária a recusa reiterada para que se configure o crime de abandono material, bem como o dolo na atitude, devendo o agente ter conhecimento do estado de necessidade da vítima, e a ausência de justificativa. Também se diferenciam porquanto a tutela criminal deve ser afastada se comprovado que o réu, apesar de deixar de contribuir com o todo ou parte da pensão, arque diretamente com as custas de subsistência ou parte da pensão alimentícia. Neste caso, obedecida à súmula 309 do STJ, pode-se ter a execução fundada no art. 733 do Código de Processo Civil, mas a conduta permanece atípica.
Configura-se o abandono material na sua primeira figura quando há permanência na omissão, não havendo o crime por ato transitório, em que há ocasional omissão por parte do devedor (RESE nº 0012210-16.2011.8.26.0223, TJSP, 16ª Câmara de Direito Criminal, 13/08/13).
Classificação doutrinária – trata-se de crime próprio, tanto com relação ao sujeito ativo, quanto passivo; doloso; omissivo próprio; formal (na modalidade de não cumprimento da obrigação alimentícia); de perigo concreto (quando deixa de provar a subsistência de cônjuge, ou de filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 anos, ou de socorrer descendente ou ascendente gravemente enfermo); de forma livre (com exceção do não pagamento da pensão alimentícia, haja vista que esse é o meio exigido pelo tipo penal, considerado de forma vinculada); permanente (portanto, os efeitos se prolongam no tempo, podendo ser interrompidos pela vontade do agente); monossubjetivo; unissubsistente; e, via de regra, transeunte.
Objetividade jurídica – a lei tutela a regular manutenção da família, buscando-se a garantia de subsistência de seus membros. Trata-se de crime cuja tutela visa inibir o abandono familiar, preservando a entidade e buscando impedir que aquele que é responsável deixe sem condições de subsistência a sua família, principalmente os entes mais vulneráveis (maiores de 60 anos, menores de 18 anos e incapazes).
Segundo os ensinamentos do estudioso Guilherme de Souza Nucci “objeto material pode ser renda, pensão ou outro auxílio. O objeto jurídico é a proteção dispensada pelo Estado à família”. Desse modo, por meio da incriminação do abandono material, busca-se proteger a família, mais especificamente o dever de assistência que uns dever ter com relação aos outros no seio familiar.
Sujeitos do Crime - Ativo: só pode ser praticado por aquele que tem o dever legal de garantir a subsistência da vítima (cônjuge, ascendentes e descendentes), e a pessoa devedora de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. Passivo: Será aquele que pode exigir o amparo por parte do agente (cônjuges, o filho menor de 18 anos, ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 anos, bem como qualquer descendente ou ascendente,não importando o grau de parentesco, que estiver gravemente enfermo).
Tipo Objetivo ou conduta – há três modalidades típicas distintas:
- Deixar de prover sem justa causa - o necessário para a subsistência da vítima – cônjuge, filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente invalido ou maior de sessenta anos, não lhes proporcionando os recursos necessários (abandono material em sentido estrito).
Frustrar ou ilidir o pagamento de pensão alimentícia fixada judicialmente, o que consiste em não honrar uma obrigação, sendo nota marcante dessa modalidade criminosa a existência de decisão judicial homologando acordo, fixando ou majorando alimentos devidos, de qualquer natureza (provisórios, definitivos ou gravídicos e etc.), e o agente sem justa causa, falta o pagamento, sendo necessário que o agente deixe transcorrer in albis o prazo estipulado em juízo para o pagamento. Antes do decurso desse interim, somente é possível reconhecer o delito em sua primeira modalidade.
Obs.: A conduta também se estende ao convivente, que esta obrigada por decisão judicial a pagar pesão alimentícia ao outro convivente.
Deixar de socorrer, sem justa causa – ascendente ou desentende gravemente enfermo, é negar proteção e assistência, enfermidade grave é a seria alteração ou perturbação da saúde física ou mental. Sua comprovação depende de análise médica da vítima no caso concreto. Nessa modalidade criminosa, alei exclui o cônjuge da proteção penal, abarcando somente os ascendentes e descendentes. Mas, se o agente deixar de socorrer o cônjuge, a conduta se amoldará na primeira figura do delito.
Tipo ou elemento Subjetivo ou voluntariedade: é o dolo (sem finalidade específica), consubstanciada na vontade consciente de praticar uma das condutas típicas, não a previsão para a modalidade culposa. Desse modo, aquele que, por exemplo, esquecer por descuido de depositar, na conta corrente do alimentando, o valor da pensão alimentícia que lhe era devida, não será responsabilizado pelo delito em questão. Não há a finalidade de deixar de levar a efeito o pagamento de pensão judicialmente acordada, fixada ou majorada. No entanto, cabe ressaltar que não há a impossibilidade de dolo eventual. Em outras palavras, deve haver a vontade livre e consciente de deixar de prócer a subsistência do cônjuge ou do filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho; de não pagar a pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; ou de não socorrer ascendente ou descendente gravemente enfermo.
Consumação e tentativa – segundo Nucci, nas três modalidades, o crime é omissivo próprio, reputando-se consumado com a realização da conduta. Independe de resultado material para a consumação do crime. Ainda que a vítima não venha a perecer ou consiga sobreviver com outros recursos o crime ocorre. Não se admite a tentativa.
OBS.: A princípio, não admite a forma tentada, no entanto, para o professor Rogério Greco, a hipótese concreta é que será decisiva para se concluir ou não pela possibilidade do conatus, razão pela qual, mesmo reconhecendo a sua dificuldade, não a descarta, ficando o raciocínio dependendo da hipótese a ser analisada.
Pena e Ação Penal - pública incondicionada, para evitar que o preceito resulte em letra morta, pelo pudor familial, que inibiria o membro de uma família de processar o outro. 
A pena cominada ao delito de abandono material é de detenção de 1 a 4 anos e multa. Importante ressaltar que, ainda que consignado em lei que a multa será de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País, tal dispositivo encontra-se revogado pelo art. 2oda Lei 7.209, de 11 de julho de 1984, que diz: Art. 2º - São canceladas, na Parte Especial do Código Penal e nas leis especiais alcançadas pelo art. 12 do Código Penal, quaisquer referencias a valores de multas, substituindo-se a expressão multa de por multa. Diante do exposto, aplica-se normalmente o art. 244 do CP o critério de dias-multa, nos termos do art. 49 do mesmo diploma.
ENTREGA DE FILHO MENOR A PESSOA INIDÔNEA 
Art.245 – Entregar filho menor de dezoito anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo. 
Pena – detenção, de um a dois anos.
§1º A pena é de um a quatro anos de reclusão, se o agente pratica delito para obter lucro, ou se o menor é enviado para o exterior.
§2º Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro.
Classificação doutrinária - trata-se de crime simples, próprio de crime comum (só pode ser praticado pelos pais do menor de 18 anos); crime material ou causal; de perigo concreto (exige prova da situação de perigo material ou moral `criança ou adolescente); de forma livre, isto é, pode ser praticado por qualquer forma ou meio, em regra, comissivo unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (pode ser cometido por uma única pessoa ou concurso de agentes) e plurissubsistente, isto é, a conduta pode ser fracionnada em diversos atos).
Objetividade jurídica - Consoante o art. 229 da CF, Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores... portanto, o bem tutelado é a devida assistência, criação e educação. Haverá infração e esses deveres se o genitor entregar o filho menor, para criação e educação, a pessoas inidôneas.
Tipo objetivo ou conduta – é o verbo entregar, no sentido de deixar o filho menor de 18 anos de idade aos cuidados de pessoa que o agente saiba ou deva saber que ficará em perigo moral ou material.
Sujeitos do crime - ativo: Somente podem praticar esse crime os pais do menor. Sujeito passivo: É o filho menor de 18 anos de idade.
Obs.: em face da vedação do emprego da analogia in malam parte, no Direito Penal, os tutores ou guardiães não podem figurar como sujeito ativo de delito.
Elemento subjetivo ou voluntariedade – É o dolo, direito (representado pela palavra saiba) ou eventual (indicado na expressão deva saber) , independentemente de qualquer finalidade especifica. Não admite a modalidade culposa. Porem há entendimentos diversos, no sentido de que a expressão deva saber é indicativa anômala de previsão culposa. 
Segundo entendimento de Capez trata-se de dolo eventual, mas de anômala previsão de figura culposa. Com efeito, o Código Penal exige para o dolo eventual que o agente não apenas preveja, mas também assuma o risco de produzir o resultado. A expressão “deve saber” indica apenas que o agente desconhecia o perigo a que estaria sujeito o menor, quando devia saber. Infringiu, portanto, uma obrigação de cautela. Isso não é dolo: é culpa.
Obs.: discordamos, posto que a forma culposa de crime depende de previsão legal expressa, nos termos do paragrafo único do art. 18, CP, o que a doutrina convencionou chamar de princípio da excepcionalidade do crime culposo.
Consumação e tentativa – cuida-se de crime material ou causal. Consuma-se com a entrega do menor a pessoa inidônea. Não se exige que ele fique sob os cuidados desta durante longo período de tempo. Em que pese tratar-se de crime de perigo concreto, posto que é preciso demonstrar a efetiva comprovação da situação de perigo material ou moral à vítima. Tentativa: é possível, em face do caráter plurissubsistente, em que permite o fracionamento do inter criminis. 
FORMAS: 
Simples - prevista no caput do artigo. 
Qualificada - Está prevista no §1º do artigo. A pena é de 1 a 4 anos de reclusão, se o agente pratica o delito:
- Para obter lucro. Cuida-se aqui do chamado elemento subjetivo do tipo. Cite-se o exemplo do genitor que entrega o filho aos cuidados de um alcoólatra, para que o menor preste serviços remunerados, vindo ele a se favorecer do ordenado recebido pelo seu filho.
- Ou se o menor é enviado para o exterior. Essa conduta é considerada mais grave em razão do maior perigo a que o menor está exposto, pois, além de estar sujeito aos cuidados de pessoa inidônea, ele é retirado de seu país de origem.
Equiparada - Está previstano § 2º. Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro. Pune-se aquele que, com intuito de lucro, ajuda a enviar menor para o exterior. Qualquer pessoa pode praticar o crime em tela, inclusive o tutor. Não se exige o perigo moral ou material. Consuma-se o crime com a prestação de auxílio.
 Ação Penal - pública incondicionada, portanto independe de representação do ofendido ou de seu representante legal. Constitui infração menor potencial ofensivo, procedimento sumaríssimo da Lei n. 9.099/95, em face da máxima prevista (detenção, de 1 a 2 anos), sendo, também, cabível o instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei). O art. 89 da mesma lei, também é aplicável ao §§ 1º e 2º do referente artigo.
DO ABANDONO INTELECTUAL
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Considerações - O crime de abandono intelectual consiste no descumprimento, por parte dos pais, do dever de prover à instrução intelectual dos filhos menores em idade escolar. A instrução primária a que se refere o texto penal é, atualmente, chamada de ensino fundamental (art. 210 da Constituição Federal). A Lei n. 9.394/96 — Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — complementa o tipo penal em estudo (norma penal em branco), estabelecendo a obrigatoriedade dos pais em efetuar a matrícula dos filhos menores, a partir dos seis anos de idade no ensino fundamental.
Assim, cometem o crime os pais que não efetuam a matrícula, sem justa causa, quando a criança atinge a idade para cursar o ensino fundamental (seis anos), bem como aqueles que permitem a evasão do ensino antes de completado o ciclo de nove anos mencionado na Lei de Diretrizes.
A jurisprudência entende como justa causa, hábil a não configurar o crime, a ausência de vagas em escolas públicas; penúria da família etc.
Para que exista crime, é necessário que haja dolo na conduta dos genitores, no sentido de privar os filhos menores da educação do ensino fundamental.
Na atualidade, o crime de abandono intelectual vem sendo relativizado pela prática do homeschooling, que consiste na promoção do ensino em casa pelos pais, e que ainda não possui regulamentação, mas já é pauta de discussão nos tribunais.
Classificação doutrinária – crime simples; próprio, formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado, crime abstrato, de forma livre, omissivo próprio ou puro, crime permanente, unissubjetivo, unilateral de concurso eventual e unissubsistente, ou seja, a conduta se exterioriza em único ato, necessário e suficiente para a consumação.
Objetividade jurídica – é a educação, prevista pela legislação civil (vide art. 1.634, I). O bem-interesse protegido, mais especificamente, é a alfabetização das crianças, que deverão cursar ao menos o curso primário.
Como se pode observar no ar. 205 na própria Constituição Federal de 1988, a educação é um dos pilares fundamentais que dão sustento até mesmo a noção de cidadania: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado de da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Sujeitos do crime – ativo: Só os pais podem ser sujeitos ativos e é irrelevante se vivem ou não em companhia de seus filhos. Assim, ainda que não convivam com seus filhos, são obrigados a lhes prover à instrução. Trata-se de crime próprio, que, entretanto, não abrange os meros tutores ou curadores do menor. Sujeitos passivos: Os filhos menores em idade escolar.
Consumação e Tentativa - O crime se consuma com a omissão, ou seja, no momento em que o filho atinge a idade escolar e os genitores revelam inequivocamente a vontade de não cumprir com o dever. Rogério Grego entende diferente, que o delito se consuma quando esgotado o último prazo para a realização da matrícula daquele que necessita do ensino fundamental, desde que não haja justa causa para tanto.
Tipo Objetivo ou conduta – é deixar sem justa causa, de prover á instrução de filho menor em idade escolar. Desse modo, o tipo penal tem por objetivo assegurar os estudos às crianças menores de 18 anos.
Tipo Subjetivo ou voluntariedade - é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de não cumprir o dever de dar educação, não n havendo previsão para a modalidade de natureza culposa. 
Consumação e tentativa - O delito em questão consuma-se com a omissão dos pais que deixam, dolosamente, de levar a efeito a matrícula, em estabelecimento de ensino próprio, do seu filho que ainda se encontra em idade escolar. Para o professor Rogério Greco, a consumação vai ocorrer quando esgotado o último dia do prazo para a realização da matrícula daquele que necessita do ensino fundamental. Indispensável ressaltar que, para consumar o tipo penal, não pode ter justa causa para a ocorrência do fato.
Tentativa – como se trata de crime omissivo próprio, não é possível a tentativa. Se o agente atua, realizando os atos necessários a admissão de seu filho em estabelecimento de ensino fundamental, o fato será atípico.
Ação penal – é publica incondicionada. Em face da pena cominada trata-se de crime de menor potencial ofensivo, sujeitando-se à transação penal e proposta de suspensão condicional do processo (art. 89 da citada lei adiante) - rito sumaríssimo (Lei nº 9.099/95). 
DO ABANDONO MORAL
Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância:
I - frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida;
II - frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender- lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza;
III - resida ou trabalhe em casa de prostituição;
IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Classificação doutrinária – crime simples; próprio, formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado, crime de perigo concreto, de forma livre, comissivo ou omissivo próprio ou puro, crime habitual (frequentar); permanente (conviver e residir) ou instantâneo (participar ou mendigar); unissubjetivo, unilateral de concurso eventual e unissubsistente (quando omissivo) ou plurissubisitente (se comissivo).
Objetividade jurídica – embora o legislador não conferiu nomenclatura específica ao crime do art. 247, mas a doutrina é unanime em atribuir a esse crime a denominação “abandono moral”, pois todas as condutas descritas são contrarias á formação moral do menor de 18 anos de idade. 
Sujeitos do crime – ativo: trata-se de crime próprio e especial, pois somente pode ser cometido pelo titular do poder familiar, ou pela pessoa que de qualquer modo é responsável pela guarda ou vigilância da criança ou adolescente. Ex. diretor da escola onde o menor estuda. Sujeito passivo: o menor de 18 anos de idade submetido ao poder familiar ou confiado à guarda, ou vigilância de alguém.
Tipo Objetivo ou conduta – é permitir, que pode ser concretizado tanto por ação como omissão, equivale a propiciar, consentir, deixar que o menor de 18 anos de idade realize qualquer dos comportamentos descritos nos incisos do referido art. 247 CP, a saber:
Tipo Subjetivo ou voluntariedade - é o dolo, independentemente de qualquer finalidade especifica, nas condutas dos incisos I a III, já no inciso IV, exige-se, além do dolo um especial fim de agir (elemento subjetivo especifico), representado pela expressão “para excitar a comiseração pública”, ou seja, a compaixão ou piedade causada perante a coletividade. Tentativa – não se admite a modalidade culposa, assim, se o responsável pelo menor de 18 anos for negligente em sua proteção, não caracteriza crime, o fato será atípico.
Consumação e tentativa - o momento consumativo varia em cada uma das modalidadescriminosas:
Na modalidade frequentar casa de jogo mal-afamada e frequentar espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender o pudor – o crime reclama habitualidade, logo não se configura o crime em um único comparecimento da criança ou adolescente a qualquer dos locais indicados;
Na s espécies conviver com pessoa viciosa ou de má vida e residir ou trabalhar em casa de prostituição – exige-se a permanência do menor de 18 anos de idade por tempo juridicamente relevante, capaz de colocar em risco sua formação moral, no local ou junto à pessoa apontada no tipo penal ( nessas modalidades trata-se de crime permanente)
Nas situações em que a criança ou adolescente participa de representação capaz de pervertê-lo ou de ofender - lhe o pudor ou mendigar ou que sirva de mendigo para excitar a comiseração pública - é suficiente a permissão do sujeito ativo quanto a conduta do menor para a consumação do delito (crime instantâneo) .
Obs.: Em todas as espécies o crime é formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Trata ainda de crime de perigo concreto.
Tentativa – é possível nas hipóteses de crime comissivo (praticado mediante ação), mas tratando-se das modalidades omissivas do crime, afasta a figura tentada como se trata de crime omissivo próprio, não é possível a tentativa. Ou o agente se omite dolosamente, de forma a permitir que o menor sujeito a sua guarda ou vigilância incida em qualquer dos incisos do art. 247, e o crime estará consumado, ou age de outro moldo a não permitir o comportamento ilícito, o fato será penalmente irrelevante.
Ação penal – é publica incondicionada. Em face da pena cominada trata-se de crime de menor potencial ofensivo, sujeitando-se à transação penal e proposta de suspensão condicional do processo (art. 89 da citada lei adiante) - rito sumaríssimo (Lei nº 9.099/95). 
IV - DOS CRIMES CONTRA O PÁTRIO PODER, TUTELA CURATELA.
Considerações – Os artigos 248 e 249, ambos do Código Penal enuncia fatos constitutivos de crimes contra o pátrio poder, a tutela e a curatela, protegendo mais uma vez a organização da família, base da sociedade.
Atualmente o pátrio poder esta disciplinado como título de poder familiar (arts. 1.630 e segts. do CC). Antes de elaborarmos analise dos crimes descritos, verificaremos o significado das expressões tutela e curatela.
Tutela - é o poder conferido por lei a alguém para proteger, dar amparo, e auxílio, a pessoa menor de 18 anos de idade, com finalidade de administrar seus bens cujos pais faleceram ou foram judicialmente declarados ausentes, ou decaíram do poder familiar.
Curatela – é o encargo público imposto por lei a alguém para proteger determinada pessoa e administrar seus bens. Sujeitam-se á curatela, nos termos do art. 1.767 do CC, quer po causa transitória ou permanente, bem como os ébrios habituais e os viciados em drogas, assim como os pródigos.
INDUZIMENTO A FUGA, ENTREGA ARBITRÁRIA OU SONEGAÇÃO DE INCAPAZES:
Art. 248 - Induzir menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial; confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Classificação doutrinaria - Crimes simples (ofende apenas um bem jurídico); comuns (podem ser praticados por qualquer pessoa); formais (induzimento a fugas, com divergência doutrinária, e sonegação de incapazes), material (entrega arbitrária), de forma livre. Em regra comissivos (induzimento à fuga e entrega arbitrária) ou omissivo próprio ou puro (sonegação de incapazes); instantâneos, unissubjetivos, unilaterais ou de concurso eventual; e, plurissubsistentes (induzimento à fuga e entrega arbitrária) ou unissubjsistente (sonegação de incapazes). 
Objetividade jurídica - poder familiar, sendo que o artigo 248 do Código Penal prevê um tipo misto cumulativo com três figuras típicas:1) Induzimento a fuga de incapazes; 2) Entrega Arbitrária de Incapazes; 3) Sonegação de Incapazes.
Tipo objetivo ou conduta – no delito de induzimento à fuga - o verbo do tipo é induzir, criar a ideia, fazer nascer na mente do menor de 18 anos de idade ou interdito a vontade de fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ela exerce autoridade, em virtude ou decisão judicial. 
Na Entrega arbitrária – é confiar, no sentido de entregar a outrem, sem ordem dos pais, do tutor ou do curador, a pessoa menor de 18 anos de idade ou interditada judicialmente.
Sonegação de incapazes – o núcleo do tipo penal deixar que equivale a recusar-se a entregar o menor de 18 anos ou interdito a quem legitimamente o reclame, comportando-se desta forma sem justa causa, cuida-se de crime omissivo próprio ou puro., pois que o tipo penal descreve uma conduta omissiva.
Sujeitos do delito - ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa. Sujeito passivo- aqueles que detêm a guarda do menor de 18 anos ou interdito em virtude da lei, bem como os próprios menores de 18 anos ou interditos. 
Elementos subjetivo ou voluntariedade - É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica, não havendo previsão para a modalidade culposa. 
Consumação e tentativa - Consumação no momento em que o menor de 18 anos ou o interdito é retirado da esfera especial de quem sobre eles detinha a guarda. Tentativa: é admissível, salvo na sonegação de incapazes por se tratar de crime omissivo próprio ou puro, em face do caráter unissubsistente do delito, incompatível com o fracionamento do inter criminis.
Ação penal - publica incondicionada. Competência do JECrim, tratando-se de infração penal de menor potencial ofensivo - art. 60 e 61 lei 9099/95.
DA SUBTRAÇÃO DE INCAPAZES:
Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime.
§ 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda.
§ 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena.
Considerações - O crime previsto no artigo 249 do Código Penal fala sobre o ato de subtrair menor de dezoito anos ou interdito de quem o tem por guarda em virtude de lei ou ordem judicial. É uma norma subsidiária, pois há a ressalva de o crime ser punido se não for elemento de outro crime, objetivando proteger a guarda do menor e do interdito, visando proteger o poder familiar, a tutela e a curatela.
Classificação doutrinária – Crime simples (ofende apenas um bem jurídico); comum (podem ser praticados por qualquer pessoa); material ou causal (consuma-se o resultado naturalístico, consistente na efetiva retirada do menor de 18 anos ou interdito do poder de quem detém sua guarda); de forma livre (admite qualquer meio de execução); em regra comissivo; instantâneo (induzimento à fuga e entrega arbitrária); em regra comissivo; unissubjetivo ou de concurso eventual, e normalmente, plurissubsistente (a conduta pode ser fracionada).
Objetividade jurídica – é o poder familiar, a titela e a curatela, como medidas inerentes instituição familiar.
Tipo objetivo ou conduta – o verbo do tipo é o subtrair, no sentido de retirar o menor de 18 anos de idade ou interdito de quem detém sua guarda. A guarda pode emanar da lei – decorrente do poder familiar; ou de decisão judicial nomeação de tutor ou curador. 
Sujeitos do crime - ativo: pode ser qualquer pessoa. Sujeito passivo: são os pais tutores ou curadores ou a pessoa sob quem estava à guarda do menor ou interdito. A objetividade do crime se caracteriza pela necessidade de que o agente retire o menor ou interdito do poder daquele que legalmente possui sua guarda, tutela ou curatela, sem a autorizaçãodestes.
Elemento subjetivo ou voluntariedade – é o dolo, independentemente de qualquer finalidade especifica. Não admite a modalidade culposa.
Consumação e tentativa – consuma-se com a efetiva subtração do menor ou interdito. 
Tentativa é possível, quando o agente, por motivos alheios a sua vontade, não consegue finalizar o ato de subtração do menor ou interdito. Pode haver o perdão judicial se o agente se o menor, após a subtração, for devolvido aos seus responsáveis. A pena é de detenção de dois meses a dois anos se não constituir crime mais grave, portanto crime subsidiário , evidenciando a subsidiariedade do crime de sonegação de incapazes, se o fato não constituir elemento de outro crime.
Ação penal – publica incondicionada. Cuida-se de crime de menor potencial ofensivo, sujeitando-se a=à transação penal e a suspensão condicional do processo, rito sumaríssimo, nos moldes da lei 9.099/95.
DIREITO PENAL IV 
 Profª: Ana Maria Duarte	Página 2

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