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INTRODUÇÃO E FISIOPATOLOGIA Asma é uma doença inflamatória crônica das vias respiratórias, caracterizada por episódios de broncoconstrição aguda causando encurtamento da respiração, tosse, tensão torácica, respiração ruidosa e rápida. Na asma, ocorre obstrução recorrente e reversível das vias aéreas em resposta a estímulos irritantes que são fracos demais para afetar os não asmáticos. 1, 2, 4 CARACTERÍSTICAS E PATOGÊNESE DA ASMA Os pacientes asmáticos apresentam crises intermitentes de sibilos, falta de ar e, algumas vezes, tosse. É uma doença complexa, caracterizada por inflamação das vias respiratórias, hiper-reatividade brônquica e obstrução reversível das vias aéreas. A hiper-responsividade (ou hiper-reatividade brônquica) é a propensão das vias respiratórias asmáticas a sofrer constrição (sensibilidade anormal) em resposta a ampla variedade de estímulos, incluindo alergênios, irritantes ambientais (poluentes atmosféricos), exercício físico, ar frio e infecções. 2, 4 As causas da constrição das vias respiratórias observada nas crises agudas de asma incluem contração da musculatura lisa das vias respiratórias, liberação de muco espesso no lúmen das vias respiratórias e espessamento da mucosa brônquica (causada por edema, infiltração celular e hiperplasia de células secretoras, vasculares e musculares lisas). 3 FARMACOLOGIA DA ASMA LOGIA FARMACO 2 Na asma leve, os sintomas ocorrem ocasionalmente em função de exposição a estímulos. Já nas formas mais graves, observam-se crises frequentes de dispneia e sibilos, especialmente à noite, ou com estreitamento crônico das vias respiratórias, causando dificuldades respiratórias crônicas. 3 A patogênese da asma envolve fatores genéticos e ambientais, e a crise asmática consiste em duas fases principais: uma imediata e uma tardia. 4 Os alergênios induzem a produção de IgE, que se liga a mastócitos na mucosa das vias respiratórias. Na reexposição a um alergênio específico, a interação antígeno/anticorpo na superfície dos mastócitos desencadeia liberação de mediadores como histamina, leucotrienos e prostaglandina D2. Esses mediadores se difundem pela mucosa das vias respiratórias, desencadeando contração da musculatura e o extravasamento vascular, responsáveis pela bronconstrição aguda da reação asmática imediata. 3 Alguns mediadores quimiotáticos liberados na fase imediata por linfócitos T helper atraem leucócitos (principalmente eosinófilos), resultando em uma segunda fase de broncoconstrição mantida após 3-6h, denominada reação asmática tardia. A reação tardia é associada a influxo de células inflamatórias na mucosa brônquica e aumento da reatividade brônquica que pode perdurar por várias semanas após a inalação de um agente alergênico. Os eosinófilos atraídos e ativados liberam vários mediadores que podem causar lesão ao epitélio e ativar o processo inflamatório. 3, 4 Os mediadores inflamatórios e as enzimas catabólicas produzidas por eosinófilos, mastócitos e neurônios provocam inflamação crônica das vias respiratórias e levam à sua remodelagem. 2 O broncoespasmo também pode ser provocado por estímulos de natureza não alérgica, como água estilada, exercício, ar frio, dióxido de enxofre (poluente) e manobras ventilatórias rápidas. 3 O tratamento pode ser realizado com fármacos broncodilatadores (revertem o broncoespasmo da fase imediata) e anti-inflamatórios (inibem ou previnem os componentes inflamatórios de ambas as fase). 4 BRONCODILATADORES Os broncodilatadores afetam o tônus do músculo liso das vias respiratórias por meio de sua ação sobre receptores do sistema nervoso autônomo e vias de sinalização. As respostas involuntárias do músculo liso das vias respiratórias são reguladas pelo sistema nervoso autônomo. Nas vias respiratórias, o tônus simpático (adrenérgico) provoca broncodilatação, enquanto o tônus parassimpático (colinérgico) causa broncoconstrição. 2 AGONISTAS β-ADRENÉRGICOS Os agonistas adrenérgicos com atividade β2 inalados são os fármacos de escolha na asma branda (pacientes que só apresentam sintomas ocasionais e intermitentes). Esses fármacos tem uma potente ação broncodilatadora que relaxa o músculo liso das vias aéreas (ação direta nos receptores β2 da musculatura lisa). A ativação dos receptores β2 ativa a proteína G, que estimula a adenilato ciclase, aumentando a síntese intracelular de AMPc. O aumento do AMPc ativa a proteinoquinase A, que leva à fosforilação de várias proteínas intracelulares e, por conseguinte, ao relaxamento do músculo liso e broncodilatação. 1, 2, 4 Os agonistas β2 também inibem a liberação de mediadores de mastócitos. Podem ocorrer tremores de músculo esquelético como efeito colateral, bem como arritmias. 3, 4 Os agonistas β2 geralmente são administrados por inalação de aerossol, pó ou solução nebulizada, mas alguns podem ser administrados por via oral ou parenteral. Usa-se um inalador com válvula medidora de dose para preparações em aerossol. A administração por inalação é um método que produz maiores efeitos locais sobre a musculatura lisa das vias respiratórias com o mínimo de efeitos sistêmicos. 3, 4 AGENTES DE AÇÃO CURTA – salbutamol (Aerolin®) e terbutalina. São administrados por inalação e tem efeito máximo em 30min. A duração é de 3-5h e geralmente são usados para controlar os sintomas conforme a necessidade. 4 AGENTES DE AÇÃO MAIS LONGA – salmeterol e formoterol. São administrados por inalação, e a duração de ação é de 8 a 12h. São administrados regularmente (2x/dia) como terapia complementar em pacientes cuja asma não esteja adequadamente controlada com glicocorticoides. 4 METILXANTINAS Teofilina e aminofilina são utilizadas ocasionalmente no tratamento da asma. Seu principal efeito broncodilatadora se deve à inibição da enzima fosfodiesterase (FDE) no músculo liso das vias respiratórias, resultando no aumento de AMPc. 2, 4 Como as metilxantinas não são seletivas e apresentam múltiplos mecanismos de ação, provocam múltiplos efeitos adversos e apresentam índice terapêutico relativamente estreito. Em níveis supraterapêuticos, causa náuseas, diarreia, cefaleia, irritabilidade e insônia. Em doses mais altas pode ocorrer convulsões, arritmias cardíacas e morte. 2 As metilxantinas possuem efeitos cronotrópico e inotrópico positivos, principalmente em concentrações mais altas. Cafeína é uma metilxantina presente no café, que pode causar discreta broncodilatação em pacientes com asma, além de aumento do nível de alerta, redução da fadiga, discreta taquicardia e aumento do débito cardíaco, RVP e elevação discreta da pressão arterial. 3 A teofilina pode ser usada em conjunto com esteroides em pacientes cuja asma não responde adequadamente a agonistas β2. 4 AGENTES ANTIMUSCARÍNICOS O principal antimuscarínico usado é o ipratrópio (Atrovent®). É um antagonista competitivo dos receptores muscarínicos de acetilcolina expressos nos pulmões. O receptor M3 no pulmão medeia a contração do músculo liso e a secreção glandular de muco nas vias respiratórias. O ipratrópio antagoniza os efeitos da acetilcolina nos receptores M3, causando broncorrelaxamento e diminuição da secreção de muco. 2 Os antimuscarínicos podem não ser muito eficazes em asmáticos, e são usados principalmente no tratamento da DPOC. 1, 2 ANTAGONISTAS DE LEUCOTRIENOS (LUCASTE) O leucotrieno (LT) B4 e os cisteinil-leucotrienos são produtos do metabolismo do ácido araquidônico pela via da lipoxigenase. O LTB4 é um potente quimiotático de neutrófilos e eosinófilos, e os cisteinil-leucotrienospromovem contração de músculos lisos bronquiolares, aumentam a permeabilidade endotelial e promovem secreção de muco. 1 Zafirlucaste e montelucaste são inibidores seletivos reversíveis do receptor de cisteinil-leucotrieno, bloqueando, assim, os efeitos dessas substâncias. O montelucaste possui duas vantagens: tem dosagens para crianças a partir de seis meses e tem apresentações como comprimidos mascáveis e granulados. 1 Esses fármacos são aprovados para a profilaxia da asma, mas não são eficazes em situações em que é necessária broncodilatação imediata. São administrados por via oral, em combinação com corticosteroide inalatório. 1, 4 CORTICOESTEROIDES Corticoesteroides inalatórios são os fármacos de escolha em pacientes com asma persistente ou grave. Eles não produzem relaxamento direto da musculatura lisa das vias respiratórias, mas reduzem a reatividade brônquica e a frequência das crises de asma quando utilizados regularmente. 3 Os mecanismos que contribuem para o efeito anti-inflamatório do tratamento glicocorticoide da asma são a modulação da produção das citocinas e quimiocinas, inibição da síntese dos eicosanoides, inibição acentuada da acumulação de basófilos, eosinófilos e outros leucócitos no tecido pulmonar e redução da permeabilidade vascular.5 Corticosteroides diminuem quantidade de células inflamatórias nas vias respiratórias, bem como reduzem a lesão do epitélio nessas vias. A redução da permeabilidade vascular reduz o edema, e a inflamação reduzida leva, com o passar do tempo, a diminuição da hiper-responsividade das vias respiratórias. O resultado final consiste na reversão de muitas das características da asma. 2 Infelizmente, os corticoesteroides são apenas supressores da cascata inflamatória e não curam a asma. Dessa forma, precisam ser administrados cronicamente. Quando esses fármacos são administrados nas vias respiratórias, os efeitos sistêmicos podem ser aliviados, ou até mesmo eliminados. A liberação por inalação permite redução de 100 vezes na dose necessária para obter efeito anti-inflamatório semelhante por via oral. 2 Os principais compostos usados são beclometasona, budesonida, fluticasona, mometasona e ciclesonida. São administrados por inalação por meio de um inalador com válvula medidora de dose ou inalador de pó seco, sendo atingido o efeito pleno sobre a hiper-responsividade brônquica somente depois de semanas ou meses de terapia. 4 Os pacientes com exacerbação grave de asma podem necessitar da administração de prednisona oral e, logo que o paciente melhora, a dose do fármaco é reduzida gradualmente, levando à suspensão em uma ou duas semanas. 1 EFEITOS ADVERSOS – são incomuns efeitos adversos graves com esteroides inalados. Pode ocorrer candidíase orofaríngea (sapinho) devido a supressão de linfócitos T, importantes na proteção contra infecção fúngica (pode ser reduzido solicitando-se ao paciente que gargareje com agua após cada inalação). Também pode ocorrer irritação da garganta e voz rouca devido a deposição orofaríngea do fármaco (problema é reduzido com uso de espaçadores). 4 Fontes: 1-Farmacologia ilustrada (Clark, 5ed); 2-Princípios de Farmacologia (Golam, 3ed); 3-Farmacologia Básica e Clínica (Katzung, 10ed); 4-Farmacologia (Rang & Dale, 7ed); 5-As Bases Farmacológicas da Terapêutica (Goodman & Gilman, 10ed)
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