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ATIVISMO JUDICIAL NO PROCESSO DO TRABALHO – INTRODUÇÃO
Inicialmente, é importante definir o que significa o chamado ativismo judicial. Em linhas gerais, esta prática diz respeito a atuação do judiciário ante as lacunas normativas deixadas pelo legislador, a fim de se garantir que a tutela jurisdicional não seja negada sob o argumento de ausência de determinada lei.
Salienta-se que a própria Constituição Federal traz diversas normas com conteúdos indeterminados, o que, de certa forma, autoriza que o poder judiciário se valha do ativismo judicial. Notadamente, tem-se os princípios constitucionais que podem ser amplamente interpretados para se adequarem ao caso concreto.
Já no âmbito do Processo do Trabalho, especificamente, o ativismo judicial é comumente visto através das súmulas e orientações jurisprudenciais, que buscam minimizar eventual omissão legislativa e assegurar maior adequação ao contexto social atual. 
Neste sentido, entende Parizi:
Da mesma forma que nos demais ramos do direito o ativismo judicial também permeia a justiça do trabalho, só que de forma pioneira. São vários os exemplos de postura proativa do magistrado, tais como a limitação a garantia de emprego da gestante, a definição da base de cálculo do adicional de insalubridade, terceirização de serviços e o reconhecimento do direito de greve aos servidores públicos civis. (2018, p. 843)
Lado outro, no que tange à Reforma Trabalhista, esta tenta ao máximo evitar a prática do ativismo jurídico, preconizando, em seu art. 8º, §2º, a impossibilidade de restrição ou criação, por meio de súmulas e jurisprudências, de direitos que não estejam legalmente previstos, dificultando, assim, a atuação do poder judiciário em sua tentativa de sanar a inércia normativa. 
Todavia, é patente que o magistrado, embora tenha liberdade para preencher lacunas e interpretar os princípios e normas já existentes, paute-se pela razoabilidade, a fim de garantir a segurança jurídica, o respeito à legislação pátria e aos demais poderes.
 O ATIVISMO JUDICIAL E A JUDICIALIZAÇÃO
Definindo o ativismo judicial como um acontecimento jurídico como a pro atividade judiciária no que tange ao modo que o Poder Judiciário interfere nos demais poderes, e tal interferência gera uma grande discussão pois, sabe-se que os três poderes (Legislativo, Executivo e judiciário) são independentes e harmônicos entre si. Ou seja, o ativismo judicial é o entendimento de certo tribunal na interpretação (de moto ativo) de um direito que não fora interpretado por uma lei prévia.
No entanto, é preciso pontuar que há uma diferença entre o ativismo judicial e a judicialização, que, por sua vez, implica nas questões com teor político, público  e/ou sociais que são deslindadas pelo Poder Judiciário mediante provocação e resolve a questão dentro dos seus parâmetros (respeitando os limites de suas atribuições), previamente estabelecidos em lei.
Por isto a grande discussão em torno ao ativismo judicial. Forçoso reconhecer que o Poder Judiciário visa a proteção dos direitos fundamentais dos indivíduos que compõem a sociedade, mas não é possível reconhecer se é atribuição do Poder Judiciário resolver as questões políticas/sociais que diz respeito à sociedade como um todo.
ATIVISMO JUDICIAL NO PROCESSO DO TRABALHO – CRÍTICA
O ativismo judicial é um fato típico que ocorre em todo Estado Democrático de Direito, sendo certo que atrai uma gama de apoiadores, e, noutro lado, críticos contumazes. Tal fato se dá, diante do fato de que os magistrados ao se depararem diante de lides que necessitam de leis mais modernas, eficazes ou até mesmo as antigas Leis não abarcam mais o direito visto como justo, possam utilizarem de suas atribuições para surrupiarem a competência dos outros poderes competentes.
Neste sentido, Prado Filho (2017, p. 01): “São diversos os casos de ativismo judicial presentes no Judiciário brasileiro. Desde decisões de primeiro grau, até acórdãos de Tribunais Superiores, incluindo Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal Superior do Trabalho (TST) e o Supremo Tribunal Federal (STF)”. 
Visto isso, destaque-se que o Poder Judiciário no Ativismo Judicial visa realizar o controle dos abusos dos demais poderes e a corriqueira lentidão com que estes poderes legislam para garantir os direitos fundamentais dos indivíduos. Todavia, não são apenas nesse caso mencionado que o Ativismo Judicial tem se aplicado. Há, ainda, decisões totalmente contrárias ao texto positivado, texto, discutido por anos e votado pelo Poder Legislativo em suas atribuições constitucionais, e, ato contínuo, sancionado pelo chefe do Poder Executivo. Um magistrado, monocraticamente, não eleito democraticamente pela sociedade, põe em cheque todo trabalho realizado pelo Povo, por intermédio de seus representantes eleitos democraticamente como versa a Constituição da República de 1988.
Neste sentido, nota-se uma interferência direta na repartição de poderes preestabelecidas e neste sentido leciona Aurélio Wander Bastos:
“À medida que o Poder Judiciário tem o âmbito de sua competência determinado pelo ordenamento jurídico, os limites de sua capacidade para absorver e decidir conflitos sociais ficam reduzidos às determinações substantivas, o que diminui enormemente o seu potencial adaptativo e circunscreve as suas aberturas para receptação de demandas e parâmetros intrassistêmicos [….]. Quanto menor for a capacidade do Poder Judiciário para resolver as disfunções sistêmicas, maiores serão as possibilidades de ocorrência de entropias positivas e / ou negativas.” (2001, pág. 118).
Não há dúvidas que é da alçada do Poder Judiciário a proteção e manutenção da Constituição, bem como a efetividade e regularidade dos direitos fundamentais, contudo, não se pode permitir perder de vista o valor e deveres da esfera Legislativa com viés protecionista do Estado Democrático de Direito. 
Há, por derradeiro, que se mencionar o risco de politização da justiça, contudo política e direito não se confundem, não podemos permitir tal mistura, e não podem se confundir. As leis são frutos de resultados de vastos, longos, e cansativos debates e conversas naturais no processo legislativo, debatidas até sobre o impacto da criação de leis, advindo a política efetiva, como já mencionado neste trabalho.
Essa possibilidade de o Judiciário influenciar em questões políticas possui fundamento no próprio texto constitucional, diante da inoperância, morosidade ou até mesmo má-fé do legislador prever todas as formas e meios de relações jurídicas existentes no caso concreto. As decisões judiciais devem ser tomadas por ideia de contribuir e melhorar a efetividade de uma lei ou direito e não o minorar sem justo receio. Neste mesmo sentido, o Judiciário, em especial os Tribunais, exercem papel crucial na concretização dos preceitos abordados e gerados pela Constituição Federal, de forma a propiciar a utilização dos preceitos legais mais justos. 
Assim, segundo Fachin (2016, p. 19): “A judicialização da política, em linhas gerais, consiste no fenômeno decorrente da tensão e disputa por espaço político e protagonismo dentro da classe política, seja no Executivo, Legislativo ou Judiciário. Na prática, materializa-se com o ajuizamento de ações judiciais visando provimento jurisdicional sobre questões de cunho eminentemente político”. 
Quando se fala em judicialização política far-se-á necessário a analise com cuidado dos poderes do Judiciário nesse quesito, a fim de que não ocorram excessos e interferências desnecessárias sobre o trâmite regular das coisas, violando processos, paradigmas legais importantes dentro de um Estado Democrático de Direito. Preencher uma lacuna é o primeiro e deve ser o principal objetivo do ativismo judicial, lembrando que o Poder Judiciário deve se sempre manifestar-se visando corrigir e melhorar a hermenêutica aplicada, sem ocasionar maiores transtornos ao deslinde natural das condutas humanas, até mesmo políticas, do que os já vivenciados pelas partes.
 
Bibliografia- ATIVISMO JUDICIAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO - Kelly Aparecida Parizi 
- ATIVISMO JUDICIAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO – tese de doutorado – Luis Fabiano de Assis, USP, 2011
- ATIVISMO JUDICIAL E A JUSTIÇA DO TRABALHO: UMA NECESSIDADE CONSTANTE, Giovana Leite Rillo, revista juris uni toledo

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