Buscar

Solidariedade Passiva e suas Implicações

Prévia do material em texto

SOLIDARIEDADE PASSIVA
Em sentido inverso ao da solidariedade ativa, a solidariedade passiva impõe que o credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum (art. 275). Assim, se o credor aceitar pagamento parcial, ou seja, da quota-parte de um só dos credores, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.
Como a solidariedade não se presume, tem-se entendido, por ex., que ela não ocorre nos casos de abertura de conta conjunta em instituição bancária, pois a solidariedade dos titulares é apenas ativa e, portanto, um deles não pode ser considerado devedor de cheques (ou outros negócios, como empréstimos) de responsabilidade dos demais. É o que se pode observar da jurisprudência do STJ:
Civil. Recurso Especial. Ação de compensação por danos morais. Conta corrente conjunta. Emissão de cheque sem provisão de fundos por um dos correntistas. Impossibilidade de inscrição do nome do co-titular da conta, que não emitiu o cheque, em cadastro de proteção ao crédito. Ocorrência de dano moral. – Celebrado contrato de abertura de conta corrente conjunta, no qual uma das co-titulares da conta emitiu cheque sem provisão de fundos, é indevida a inscrição do nome daquele que não emitiu o cheque, em cadastro de proteção ao crédito. – Nos termos do art. 51 da Lei 73357/85, “todos os obrigados respondem solidariamente para com o portador do cheque”. Tais obrigados, de acordo com o art. 47, I e II, da mesma lei, são os emitentes, endossantes e seus avalistas. Com efeito, a Lei 7357/85 não prevê a responsabilidade do co-titular da conta corrente pelos cheques emitidos pelo outro correntista, sendo incabível a sua extensão, pois “a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes” – art. 265 do CC/02. – Destarte, a co-titularidade da conta corrente limita-se ao exercício de direitos referentes aos créditos nela existentes e às respectivas movimentações. A responsabilidade pela emissão de cheque sem provisão de fundos é exclusiva daquele que apôs a sua assinatura no título. – A inscrição indevida em cadastros de proteção ao crédito ocasiona dano moral in re ipsa, sendo despicienda, pois, a prova de sua ocorrência. Precedentes. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 981.081/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23.03.2010, DJe 09/04/2010).
- Falecimento de um dos devedores solidários:
Se um dos devedores solidários falecer, deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação foi indivisível (art. 278).
Destarte, também aqui cabe ressaltar que a solidariedade que a solidariedade continua em vigor, pois os herdeiros representam o devedor, o qual, segundo a regra geral, é obrigado à dívida toda. Por isso, é que a parte final do art. 278 dispõe que todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.
Quando se tratar de obrigação indivisível, todavia, impossibilita-se ao herdeiro do devedor solidário dar a prestação na proporção do seu quinhão, uma vez que o objeto da prestação não pode ser dividido. Figure-se que A, B e C sejam devedores da entrega de um animal equino; falecendo C, deixou ele os herdeiros D e E, sendo este último (E) demandado sozinho para entregar o objeto: por inferência da indivisibilidade da coisa, terá ele a obrigação de entrega-la por inteira ao credor.
- Pagamento parcial feito por um dos devedores
Não aproveita aos demais, mas os exonera até a quantia que foi paga. Ex: se a obrigação é de R$900,00 e contém três devedores solidários, o pagamento de R$300,00 por um deles ao credor faz com que os demais continuem obrigados pelo restante R$600,00, persistindo a solidariedade quanto a esse montante.
- Remissão da dívida em favor de um dos devedores. Diferenças quanto à renúncia/exoneração
A remissão da dívida, pelo credor, em favor de um dos devedores, também não aproveita aos demais, entretanto, da mesma forma, exonera até a quantia que foi remitida.
Observe-se que a hipótese de remissão da dívida em favor de um devedor difere fundamentalmente da exoneração, esta prevista pelo art. 282 CC.
É que, na exoneração, o credor libera um dos devedores da obrigação solidária (quando passa a responder apenas na proporção de seu quinhão obrigacional), ficando os demais obrigados, ainda solidariamente, e ainda, também, com relação à dívida restante; no entanto, a exoneração de um dos devedores não o libera do ônus de responder pelo rateio da parte referente àquele que se tornar insolvente (art. 284).
Já na remissão, ocorre o perdão da dívida, hipótese na qual o devedor remitido se libera totalmente dos ônus da obrigação, deixando de responder, inclusive, pela quota do insolvente. Por outro lado, na remissão, o correspondente à quota do devedor perdoado é descontada do total da obrigação, ficando os demais devedores solidários obrigados apenas ao restante. 
Exemplos:
	Renúncia/Exoneração
	Resultado
	-Credor: A
-Devedores: B, C e D
-Débito: R$90.000,00
	- Credor renuncia à solidariedade em favor de B.
- B fica obrigado apenas a R$30.000,00, mas continua sujeito ao ônus de responder pela quota do insolvente.
- C e D ficam obrigados solidariamente ao restante: R$60.000,00, abatidos os R$30.000,00 relativos ao beneficiado pela renúncia.
	Remissão
	Resultado
	-Credor: A
- Devedores: X, Y e Z
- Débito: R$900,00
	-Credor perdoa (remite) a dívida em favor de X.
- X fica totalmente desobrigado e não deve mais nada para A, nem responde pelo quinhão do insolvente.
- Y e Z ficam obrigados solidariamente pelo restante: R$600,00, abatidos os R$300,00 relativos à quota remitida em favor de X.
- Autonomia dos devedores solidários
Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes. (art. 278).
- Impossibilidade da prestação
Se houver impossibilidade da prestação por culpa de um dos codevedores, todos (incluindo o culpado) ficam obrigados a pagar o valor equivalente ao da prestação; entretanto, as perdas e danos são suportados somente pelo culpado.
Se a impossibilidade da prestação se dá sem culpa de nenhum dos devedores solidários, aplica-se a regra geral, resolvendo-se, portanto, a obrigação.
- Unidade da obrigação
Por decorrência da unidade da obrigação, todos os devedores respondem pelas consequências da mora, ainda que somente um dos coobrigados tenha sido acionado e, assim, constituindo em mora. (CC, art. 204 §1º).
Da mesma forma, o ajuizamento da demanda, com a citação de um só dos devedores, produz os demais efeitos do art. 219 do CPC.
Para proteção da boa-fé dos devedores, no entanto, a lei garante que o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.
- oponibilidade apenas de exceções pessoais
O devedor pode opor ao credor somente as exceções que forem pessoais dele com o próprio credor ou que sejam comuns a todos.
Ex: a anulabilidade do negócio, em desfavor do credor, por erro ou dolo, para um dos devedores não pode ser alegada por outro que contratou sem qualquer vício de vontade.
- Pagamento da dívida por um dos devedores
O devedor que satisfaz a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos codevedores a sua quota. Para tal efeito, presumem-se iguais, no débito, as partes de todos os codevedores, podendo as partes, no entanto, convencionar o contrário.
- Rateio em caso de insolvência de um dos devedores
Se um dos devedores for insolvente, sua parte será dividida, igualmente, entre os demais neste caso, entrarão no rateio, inclusive, os devedores exonerados da solidariedade pelo credor, mas só na parte que incumbia ao insolvente (arts. 283, parte final e 284).
- Obrigação de interesse exclusivo de um dos codevedores
Diz o art. 285 que: se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aqueleque pagar.
A regra acima atende aos casos em que, embora o agente se tenha obrigado solidariamente, essa obrigação decorre de dívida não contraída por ele, mas à qual aderiu para favorecer o interesse do chamado devedor principal.
Assim, na solidariedade passiva pura e simples todos os devedores são principais e diretamente vinculados ao credor pelo debitum, como no caso dos co-proprietários de um imóvel, em condomínio indivisível, que são obrigados solidariamente ao pagamento dos tributos relativos ao bem. Neste caso, se um dos codevedores paga integralmente a dívida, terá direito a demandar em face dos demais somente a quota parte de cada um.
Já na obrigação solidária de interesse exclusivo de um dos codevedores, nem todos os coobrigados são vinculados ao debitum, mas se obigaram, para favorecer o interesse do devedor principal. Por isso, a regra do art. 285 vem para estabelecer que, tendo o devedor não principal adimplido a totalidade da dívida, terá direito a cobrar do outro (o principal) o valor integral do débito, porque não era originalmente vinculado a ele.
O exemplo típico de obrigação solidária que interessa exclusivamente a um dos codevedores é o que decorre do aval. Assim, se temos, por exemplo, um devedor principal e dois avalistas, o pagamento de todo o débito por um dos avalistas dá a este o direito de cobrar toda a dívida em desfavor do devedor principal. É o que diz o § 1º do art. 899 do CC, que reza que “pagando o título, temo avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados anteriores.”
Outro caso típico é o da fiança, em que o fiador tenha se obrigado expressamente como devedor solidário, nos termos do art. 828, II CC.
- Responsabilidade subsidiária
Diferentemente das obrigações solidárias, as obrigações subsidiárias pressupõem a existência de um devedor, a quem se atribui, de fato e de direito, a obrigação de cumprir a prestação e um responsável subsidiário, que responderá pelo dever em caso de não se tornar viável o cumprimento forçado sobre os bens do devedor.
O principal exemplo de responsabilidade subsidiária que se encontra na praxe é o do contrato de fiança, pelo qual, segundo o art. 818 do CC, “uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra”.
Observa-se, portanto, ser da natureza das obrigações subsidiárias o que se chama de benefício de ordem, pelo qual o devedor subsidiário tem o direito de opor ao credor que demande primeiramente os bens do devedor principal, para só depois excutir os seus. (art. 827 CC).
Mas mesmo em caso de fiança, a obrigação pode se tornar solidária (perdendo o cárter de subsidiariedade), se ocorrerem as hipóteses do art. 828.
Principais diferenças entre obrigações solidárias e responsabilidade subsidiária:
A solidariedade pode ser ativa ou passiva, enquanto a subsidiariedade é sempre passiva, pois se liga a alguém que se responsabiliza como devedor subsidiário;
A solidariedade passiva decorre da existência de vários devedores responsáveis, cada um, por todo o crédito, enquanto na subsidiariedade temos o devedor, que é a verdadeira pessoa vinculada ao débitum e o subsidiário, que só responderá em caso de inviabilidade da execução contra o primeiro;
A solidariedade passiva permite que o credor demande, livremente contra um ou alguns dos devedores, pelo valor total ou parcial da dívida, enquanto, na subsidiariedade, o credor deve se voltar, primeiro, contra o devedor, pois, se optar por demandar diretamente contra o subsidiário, este pode opor-lhe o benefício de ordem.

Continue navegando