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143UNIDADE VII Podemos notar também que algumas pessoas demonstram desde muito cedo predisposição e potencialidades que se esti- muladas podem se desenvolver em super habilidades ou o que muitos chamam de “talento” ou “dom”. É o caso do jogador de futebol Neymar Júnior, que sempre demonstrou potencial para o jogo do futebol e como recebeu estímulo e treinamento adequado tornou-se um dos melhores jogadores do mundo. Não significa que só porque eu gosto de futebol e se eu treinar muito todos os dias vou me transformar em um Neymar, mas com o treino eu posso me tornar um jogador de fim de semana melhor e até fazer alguns gols. Teoria das Inteligências Múltiplas Aproveitando o exemplo do Neymar, muitos estudiosos do fu- tebol e até de outras áreas como da neurociência e da ciência esportiva, afirmam que jogadores da categoria do Neymar além de domínio técnico/corporal (cinestésica) têm uma inteligência espacial e conseguem visualizar o mundo ou o “campo” e as jo- gadas de forma diferente dos outros jogadores. Esses elementos que acabei de citar como inteligência espacial e cinestésica fazem parte de uma teoria muito interessante de- senvolvida na década de 1980 por Howard Gardner, psicólogo e cientista da Universidade de Harvard. Por conveniência didática, podemos fazer uma analogia entre nosso tema sobre diversas habilidades e as múltiplas inteligências apontadas por Gardner, que fez um contraponto ao paradigma que as pessoas possuem apenas uma inteligência única, apontada no famoso teste de QI (quoeficiente de inteligência), que resume a inteligência de alguém em determinada pontuação. Gardner foi além em sua teoria e propôs que a vida humana requer o desenvolvimento de vários tipos de inteligências. Em sua pesquisa, Gardner afirma que possuímos oito tipos de inteligências diferentes, sendo que o desenvolvimento de cada um dos tipos varia de pessoa para pessoa: Linguística; Lógico-ma- temática; Espacial; Corporal-cinestésica; Interpessoal; Intra- pessoal; Naturalista; Musical. 144 Habilidades e Processos em Negociação Agora que você já conhece uma teoria que apresenta a existência de múltiplas inteligên- cias, e que também demonstra que temos pre- disposição ao desenvolvimento de umas mais do que outras, podemos transpor esse conhe- cimento também para as habilidades, afinal de contas as inteligências podem se transformar em habilidades. Contudo, essa predisposição ou o tal do “talento natural” pode ter deixado você um pouco desani- mado(a) e até pode ter passado pela sua cabeça tal pensamento “Mas poxa vida! Eu queria tanto aprender a tocar um instrumento, falar uma nova língua ou praticar tal esporte, será que, se eu não tiver propensão ao desenvolvimento desse ou da- quele tipo de inteligência, eu nunca vou conseguir?” Figura 1 - Inteligências Múltiplas de Gardner Fonte: adaptada de Sabino e Roque (on-line apud ARMSTRONG, 2001, p. 14). 145UNIDADE VII Calma, uma coisa é preciso ficar bem clara: não é porque não temos um talento natural ou um dom, que não podemos aprender e desenvolver certas “in- teligências” ou habilidades. Se realmente queremos ou precisamos aprender algo e nos dedicarmos a isso, vamos conseguir. No entanto, para tudo na vida precisamos também fazer escolhas e ter foco. Não dá para ser bom em tudo, é humanamente impossível. Por isso, é importante verificar quais habilidades são essenciais para sua vida e sua atuação profissional e, como vimos anteriormente, desenvolver as habi- lidades de se comunicar e negociar é fundamental para todas as áreas da vida e todas as profissões. Então, vamos ser um bom negociador(a)?! Habilidades essenciais para negociar bem Entre diversos fatores, o sucesso de uma negocia- ção depende, principalmente, da maneira como os negociadores conduzem o processo de nego- ciação. Podemos perceber que algumas técnicas, comportamentos e a formas de agir podem con- tribuir para que se tenha vantagem em uma ne- gociação e que se alcance bons resultados. Vamos notar a recorrência de alguns perfis, for- mas de conduta e práticas em negociadores habili- dosos que desempenham seu trabalho de maneira eficiente. Nesse sentido, é importante destacar que qualquer pessoa pode desenvolver habilidades para se tornar um negociador eficiente, basta se dispor a aprender e praticar algumas técnicas para a melho- ria de seu desempenho. Mills apud MARTINELLI e GHISI (2006, p. 111) apresenta 16 fatores críticos do sucesso em uma negociação: • Prepare-se cuidadosamente. • Focalize os interesses, não as posições. • Use um BATNA (sigla em inglês para melhor alternativa para um acordo ne- gociado). • Conheça suas prioridades. • Faça o tempo trabalhar por você. • Faça muitas perguntas. • Ouça atentamente. • Confirme suas necessidades. • Faça um teste com propostas condicionais. • Explores muitas opções. • Comece alto, conceda lentamente. • Verifique o que ficou combinado. • Revise seu desempenho. • Construa relacionamentos de trabalho de longo prazo. • Maximize seu poder. • Adapte sua estratégia para atender à situação. Podemos considerar a negociação como uma mistura entre conhecimento, técnicas e até ins- tinto. Dominar esses elementos é entendido por muitos como uma arte que exige dos negocia- dores muito preparo para desenvolver habili- dades intrapessoais (cognitivas) e interpessoais (relacionamentos) para fazer o uso correto das técnicas de negociação. Algumas habilidades intrapessoais: • autoconhecimento; • disciplina; • autoestima; • motivação; • resiliência; • controle das emoções. 146 Habilidades e Processos em Negociação Podemos acrescentar nas habilidades intrapes- soais, com a colaboração da teoria das inteligên- cias múltiplas de Gardner, as capacidades: • Possuir uma imagem precisa de si mesmo (das próprias forças e limitações). • Ter consciência dos estados de humor, inten- ções, motivações, temperamento e desejos. Algumas habilidades interpessoais: • solucionar conflitos; • empatia; • saber ouvir, comunicar; • ter flexibilidade. Podemos acrescentar nas habilidades interpes- soais, com a colaboração da teoria das inteligên- cias múltiplas de Gardner, as capacidades: • Saber distinguir diferenças de humor, intenções, motivações e sentimentos das outras pessoas. • Ter sensibilidade e saber reconhecer e di- ferenciar diversos tipos de sinais interpes- soais por meio da interpretação das expres- sões faciais, voz e gestos da outra pessoa. Podemos destacar também outras capacidades apontadas por Gardner que podem ser conside- radas importantes habilidades a serem desenvol- vidas para obtermos êxito nas negociações. Entre elas podemos destacar: • Linguística: domínio da língua falada e es- crita utilizando a estrutura da linguagem e seus significados de forma articulada e per- suasiva (o uso da linguagem para convencer). • Lógico-matemática: essa capacidade de usar os números de forma efetiva auxilia no raciocínio lógico e ajuda na transmissão de segurança de afirmações e proposições, funções e outras abstrações relacionadas à negociação. • Corporal-cinestésica: habilidade do uso do corpo todo para expressar ideias e sen- timentos, essencial em uma negociação. • Espacial: capacidade de perceber com precisão o mundo visuo-espacial e de transformar essas percepções. Auxilia no reconhecimento e descrição dos ambientes que podem ocorrer a negociação. Para complementar nossos estudos sobre habi- lidades essenciais em negociação, vamos utilizar as ideais de Martinelli e Almeida (2009) que nosapresentam inúmeros comportamentos que de- vem ser seguidos pelos negociadores: • Concentrar-se nas ideias. • Discutir as proposições. • Proporcionar alternativas à outra parte. • Apresentar propostas concretas. • Saber falar e saber ouvir. • Colocar-se no lugar da outra parte. • Saber interpretar o comportamento huma- no e as relações das pessoas. • Evitar estruturar um relacionamento em função de um acordo. A seguir apresento um quadro que resume as habilidades apontadas por Martinelli e Almeida (2009): 147UNIDADE VII Quadro 1 - Outras habilidades essenciais para uma boa negociação Concentrar-se nas ideias O ideal é concentrar-se em apresentar seu ponto de vista sem colocar que o outro esteja errado, possibilitando utilizar a discussão como oportunidade de reflexão e de revisão de opiniões e não um choque entre posições diferentes de modo que se encontrem soluções que possam harmonizar posturas diferentes. Discutir as proposições Evitar direcionar todo o processo de negociação para discussões de casos particulares e muitas vezes irrelevantes. Para evitar estas situa- ções, Martinelli e Almeida (1997) recomendam a necessidade de ater-se às proposições de modo a manter as discussões objetivas e efetivas, evitando, assim, perder-se em detalhes ou aspectos exclusivamente pessoais. Proporcionar alternati- vas à outra parte A negociação não é uma disputa e deve estar longe de ser encarada dessa forma. O que se deve buscar durante uma negociação na percep- ção de Martinelli e Almeida (1997) é, justamente, encontrar um acordo que seja adequado para ambas as partes. A busca de novas alternativas deve acontecer tanto para a própria pessoa como para o outro lado envolvido na negociação. Apresentar propostas concretas Recomenda-se que propostas concretas e objetivas sejam sempre apresentadas, mesmo quando acredita-se que as conclusões possam ser óbvias, uma vez que só se percebe que algo seja óbvio após este ter ocorrido, assim, explicitar as conclusões, segundo os autores, é muito importante para se evitar mal-entendidos. Saber falar e ouvir É importante saber falar e permitir que os demais coloquem suas con- siderações, o que nos remete novamente à necessidade do saber ouvir. Quando as pessoas têm oportunidade de falar, é possível colher fatos, ideias, opiniões e sentimentos, sendo uma maneira concreta para se valorizar a participação dos outros, motivando-os a cooperar e dar-lhes, com sinceridade, uma sensação de prestígio. Colocar-se no lugar da outra parte Entender a outra parte é muito importante em uma negociação. Quan- do se coloca na posição do outro, pode-se ter uma noção daquilo que o outro esteja passando e necessitando, de modo a antecipar suas possíveis ações, podendo, inclusive, antever argumentos e possibilitar uma condição melhor de respondê-los e/ou rebatê-los, se for o caso. Saber interpretar o comportamento humano e as reações das pessoas A negociação ocorre, e sempre ocorrerá, entre pessoas. Desta forma, entender o comportamento delas é fundamental para que se desen- volva negociações em que as partes envolvidas saiam ganhando. Os autores sugerem como meios para esse aprendizado ler, ouvir, observar, descobrir como as pessoas reagem. Evitar estruturar um relacionamento em função de um acordo Se as pessoas confundem relacionamentos com interesses, também vão confundir sentimentos e misturar amizade com relacionamentos profissionais, o que quase sempre provoca briga, discórdia e separação. Relacionamentos não devem ser estruturados em funções de acordos ou interesses. Amizades se constroem ao longo do tempo e, na maioria deles, sem interesses de nenhum tipo. Fonte: adaptado de Martinelli e Almeida (2009). 150 Habilidades e Processos em Negociação Segundo Martinelli e Ghisi (2006, p. 39), “o proces- so de negociação pode ser compreendido como um sistema de transformação que é baseado na entrada (estímulos) que resultam em saídas (res- postas)”, conforme descrito a seguir: Entradas: são a força inicial, fornecendo ao sistema as necessidades operacionais; Processos: transformam as entradas em saídas; Saídas: são os resultados das operações do processo, ou, alternativamente, a razão da exis- tência do sistema. De maneira simples, podemos compreen- der que as entradas (estímulos e influências às quais a negociação está sujeita) são basi- camente os impulsos em uma negociação. O processo seria a transformação desse impulso (a negociação em si) em resultado e as saídas Negociações ocorrem, muitas vezes, em situações de desconforto e estresse, sob algum grau de tensão. Treinados a utilizar um processo simples, saberemos quais são os conteúdos, estratégias e táticas que mais se aplicam em cada fase e teremos muito mais chance de não ceder às pressões do momento ou errar na ordem das coisas. (Richard Marc Burbridge, Sergio de Freitas Costa, José Guilherme de Heráclito Lima, Alessandra Nascimento S. F. Mourão e Denise Manfredi) seriam os possíveis resultados da negociação (acordos ou não). Após compreender a negociação como um processo, é importante também ter em mente que uma negociação é dividida em etapas que precisam ser conhecidas, analisadas e planeja- das, para que haja o resultado positivo que uma negociação precisa. Conhecer as etapas de um processo de negociação dá ao negociador a pos- sibilidade de estruturar melhor suas estratégias e aprimorar suas táticas, além de refinar suas habilidades negociativas. Burbridge et al. (2007, p. 84) apresentam o pro- cesso de negociação em cinco etapas ou passos que consideram uma forma relativamente fácil de decorar e usar em uma sequência lógica: prepa- rar, criar, negociar, fechar, reconstruir. Quadro 2 - O Processo de Negociação ENTRADA (influências) SAÍDA (Resultados) Participação no processo Uso da informação e do poder Comunicação bilateral Barganha Flexibilidade PROCESSO Acordo Solução do conflito Benefícios do conceito Benefícios duradouros Visão estratégica Fonte: elaborado a partir de Martinelli e Ghisi (2006, p. 42). 153UNIDADE VII Diferente da negociação distributiva, no mode- lo de negociação integrativo (que também pode ser chamado de negociação ganha-ganha), os nego- ciadores buscam uma abordagem de colaboração ou cooperação e usam a informação para facilitar esse processo. Aqui, o foco principal é o interes- se mútuo de todos os envolvidos no processo de negociação, que visa a maximização do resultado final, ou seja, satisfação geral. Normalmente, nessa abordagem, o resultado final acaba por fortalecer o relacionamento entre os negociadores Além das duas grandes categorias de negocia- ção apresentadas acima (integrativa e distributi- va), diversos autores fragmentam a negociação em diversos tipos ou modalidades, como: ne- gociação ganha-perde, negociação perde-perde, negociação ganha-ganha etc. Esses termos po- dem ainda ser contextualizados quanto ao pró- prio estilo do negociador: perde-perde (evitar), perder para ganhar (conciliar), ganhar-perder (competitivo), ganhar-ganhar (colaborativo) e dividir a diferença (concessão). Stark (1999, p. 7) afirma que a negociação terá como resultados possíveis: perde-perde, perde- -ganha, ganha-perde, ganha-ganha ou, simples- mente, nada acontece. Wanderley (2002, p. 23) coloca que esses resultados serão obtidos graças à postura adotada durante a negociação, ou seja, para o autor existem duas condutas básicas ado- tadas: a conduta de se ganhar ou de se perder. Es- tas condutas vão gerar o que Wanderley (2002) chama de postura ganha-perde, ganha-ganha ou perde-perde culminando nos resultados apre-sentados por Stark no início deste. Postura ganha-perde Quando o negociador tem interesse apenas em satisfazer seus objetivos, inevitavelmente irá ge- rar danos para a outra parte. A conduta adotada, conforme Wanderley (2002, p. 23), será: • O importante é levar vantagem em tudo. • Só os interesses próprios é que contam. O outro que trate de cuidar dos seus. • O mundo é dos espertos. • A negociação é um campo de batalha no qual os mais aptos vencem. • Quem tem pena do coitado fica no lugar dele. • O que vale é, sobretudo, o curto prazo, pois em longo prazo estaremos mortos. • Não é importante estabelecer vínculos positivos ou duradouros com o outro ne- gociador. • O segredo é a alma do negócio. Informa- ções falsas fazem parte do negócio. • Vale tudo. O importante é não ser pego. Negociadores com esta postura carecem de princípios éticos, desdenham das outras par- tes acreditando que estes não percebem suas manobras por serem ingênuos. O autor com- plementa sua explicação afirmando existir duas modalidades de negociadores que adotam esta postura: a hostilidade e a manipulação. Na primeira, a intenção é intimidar a outra parte, enquanto, na segunda, procura-se cativar ou enganar o outro lado a fim de induzir a erros de interpretação não só quanto à informação, mas também quanto às verdadeiras intenções do que se pretende negociar. 158 BURBRIDGE, R. M.; COSTA, S. F. LIMA, J. G. H.; MOURÃO, A. N. S. F.; MANFREDI, D. Gestão da negociação: como conseguir o que se quer sem ceder o que não se deve. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. HABILIDADE. In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: <https://www.priberam.pt/dlpo/ habilidade>. Acesso em: 28 mar. 2018. LEITE, J. C. (coord). Negociação Distributiva: O Comportamento do Executivo Brasileiro. São Paulo: FGV-EAESP, 2006. Disponível em: <http://gvpesquisa.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/publicacoes/Relat- Final_NegDistributiva.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2018. MARTINELLI, D. P.; ALMEIDA, A. P. de. Negociação: como transformar confronto em cooperação. São Paulo: Atlas, 1997. ______. Negociação e solução de conflitos: do impasse ao ganha-ganha através do melhor estilo. São Paulo: Editora Atlas, 2009. MARTINELLI, D.P.; GHISI, F. A. Negociação: aplicações práticas de uma abordagem sistêmica. São Paulo: Saraiva, 2006. SABINO, M. A.; ROQUE, A. S. A Teoria das Inteligências Múltiplas e sua contribuição para o ensino de língua italiana no contexto de uma escola pública. UNESP. Disponível em: <cache:http://www.unesp.br/ prograd/PDFNE2006/artigos/capitulo3/ateoriadasinteligencias.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2018. STARK, P. B. Aprenda a negociar: o manual de táticas ganha/ganha. São Paulo: Littera Mundi, 1999. WANDERLEY, J. A. Negociação total: encontrando soluções, vencendo resistências, obtendo resultados. São Paulo: Editora Gente, 2002. 159 1. C. 2. A. 3. E. 160
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