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Brasília-DF. Estratégias para tomada dE dEcisão E NEgociação Elaboração Adrianne Simões Santos Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I NEGOCIAÇÃO ...................................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 O QUE É E POR QUE NEGOCIAR ........................................................................................... 10 CAPÍTULO 2 TIPOS DE NEGOCIAÇÃO ........................................................................................................ 15 CAPÍTULO 3 O PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO ........................................................................................... 21 UNIDADE II COMO NEGOCIAR ............................................................................................................................. 25 CAPÍTULO 1 HABILIDADES E TÉCNICAS EM NEGOCIAÇÕES ........................................................................ 26 CAPÍTULO 2 ÉTICA NAS NEGOCIAÇÕES .................................................................................................... 38 CAPÍTULO 3 NEGOCIAÇÃO SOB PRESSÃO................................................................................................. 41 CAPÍTULO 4 NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS ........................................................................................... 51 PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 57 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 58 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Este material tem por objetivo abordar de forma clara as principais técnicas e habilidades de negociação tão relevantes para o desenvolvimento e crescimento da sociedade e das organizações. Serão abordados conceitos com as perspectivas de diversos autores, considerando principalmente os pontos relevantes que envolvem esse processo, embasando em roteiro necessário para evitar erros que podem comprometer todo o êxito da negociação. O capítulo 1 da primeira unidade traz uma visão geral do conceito de negociação, bem como a razão pela qual negociamos. O capítulo 2 faz referência aos tipos de negociação mais conhecidos e também o que deveria ser mais utilizado pelos negociadores. O capítulo 3 aborda as principais características do processo de negociação, bem como suas etapas e elementos. O capítulo 1 da unidade II descreve as técnicas e habilidades mais comuns às pessoas que atuam na área de negociação. O capítulo 2 trata de um tema extremamente necessário na negociação, a ética. O capítulo 3 caracteriza fatores emocionais que geralmente impactam positiva ou negativamente nas negociações. O capítulo 4 apresenta as características básicas das negociações internacionais. As posições apresentadas nesse material não são rígidas, não esgotam o tema e constituem pontos de partida importantes para futuras discussões e pesquisas sobre o assunto. Objetivos » Contextualizar os conceitos de negociação. » Demonstrar a importância dos tipos de negociação. » Demonstrar como se aplica o conceito de negociação sob diversas perspectivas. 8 9 UNIDADE INEGOCIAÇÃO A parte inicial deste material tem como principal premissa delimitar os diferentes conceitos de negociação, além de demonstrar a sua importância, bem como as habilidades e técnicas necessárias tornar a negociação mais eficaz. Mas antes de iniciar, é importante contextualizar como a negociação surgiu e se desenvolveu. As negociações sempre estiveram presentes nas relações humanas. Antes mesmo de o ser humano desenvolver a fala, ele já barganhava e trocava objetos e alimentos. Um dos relatos mais antigos que envolve a prática de negociação está descrito na mitologia judaico-cristã na alegoria de Esaú e Jacó. O relato ilustra aspectos fundamentais da negociação: o propósito, os interesses, a oportunidade, a persuasão,a troca e a ética. Se olharmos para a história, vamos perceber que o processo de negociação sofreu mudanças profundas até os dias atuais. Mudanças essas que acompanham o desenvolvimento do próprio ser humano. A arte de negociar faz parte da vida de todos nós e, podemos dizer que estamos em negociação o tempo todo. Conforme Maximiano (2010, p. 126), por volta de 10.000 a 8.000 a. C. inicia a prática da Troca/Escambo. Na Mesopotâmia e no Egito, agrupamentos humanos que desenvolviam atividades extrativistas faziam uma transição para atividades de cultivo agrícola e pastoreio, iniciando-se a “Revolução Agrícola”. Nesse período surgem as primeiras aldeias, marcando-se a mudança da economia de subsistência para a administração da produção rural e a divisão social do trabalho. São em meio a essas transformações que surge a necessidade de habilidades de Negociação. Ainda, de acordo com mesmo autor, no período compreendido entre 3.000 e 500 a.C. a “Revolução Agrícola” evoluiu para a “Revolução Urbana”, surgindo as cidades e os Estados, demandando a criação de práticas administrativas e “as negociações entre pessoas x Estado”. http://pt.wikipedia.org/wiki/Alegoria 10 CAPÍTULO 1 O que é e por que negociar Definições O conflito está presente em todos os aspectos relacionados ao homem e à sociedade. Para mitigar essas ocorrências, estudiosos vêm desenvolvendo técnicas para tornar as pessoas aptas a solucionarem situações conflituosas com o intuito de amenizar ou erradicar problemas financeiros e danos emocionais. Atualmente existe um consenso de que a integração é um dos fatores determinantes para a elaboração de uma cadeia de suprimento verdadeiramente eficiente. Christopher (1988) já afirmava que os negócios estão se tornando cada vez mais ilimitados, significando que as barreiras funcionais internas estão sendo exterminadas por meio de uma administração horizontal dos processos e que, externamente, a separação entre vendedores, distribuidores, clientes e a empresa está sendo gradualmente reduzida. Anderson e Lee (1999) afirmam que os participantes de uma cadeia de suprimento devem colaborar tanto no planejamento, quanto na execução de suas estratégias, para alcançar uma cadeia de suprimento sincronizada. Muitas organizações têm utilizado diversas estratégias para tornar seus negócios mais eficientes e aperfeiçoar o relacionamento com seus clientes e parceiros nos ciclos de produtos e serviços. Os aspectos que caracterizam essas diferentes estratégias devem contribuir para uma melhor conexão entre os participantes de uma rede de relacionamento, permitindo aos integrantes de uma cadeia o compartilhamento das diferentes informações que compõem a estrutura da cadeia, como, por exemplo, dados sobre a situação de estoque, pedidos e entregas. A seguir apresentaremos diversos conceitos sobre negociação. Negociação é a possibilidade de se fazer algo melhor por meio de uma ação conjunta, por outro lado, não deverá ser surpresa caso as ações de não negociação provem ser o meio superior de realizar algo (SEBENIUS; LAX, 1987). Negociação é o processo de buscar a aceitação de ideias, propósitos ou interesses, visando ao melhor resultado possível, de tal modo que as partes envolvidas terminem 11 NEGOCIAÇÃO │ UNIDADE I a negociação conscientes de que foram ouvidas, tiveram oportunidades de apresentar toda sua argumentação e que o produto final seja maior que a soma das contribuições individuais. A este respeito, Brett (2000) afirma que negociação é uma forma de interação social, um processo em que duas ou mais partes tentam solucionar metas percebidas como incompatíveis. Segundo Goldin (2010, p. 112): [...] Ética, parte da filosofia que analisa os atos humanos do ponto de vista de apreciação quanto à distinção do bem e do mal. O termo ética é de origem, de êthos, comportamento. A partir de Aristóteles (384-322 a.C.), o termo denomina o caráter de cada pessoa, moralistas tenham buscado transplantar, para a prática, o preceito da ética, apenas recentemente sentiu-se a necessidade de estruturar a matéria sob o nome Deontologia (do grego deontos – dever e logos – estudo), ou seja, ciência dos deveres do homem em geral, cidadão ou profissional. Já o autor Márcio Miranda define negociação como um “processo básico utilizado para resolver conflitos toda vez que não existem regras, tradições, fórmulas, métodos racionais ou o poder de uma autoridade superior”. Na concepção de Junqueira a negociação é o processo de comunicação com propósito de atingir um acordo agradável sobre diferentes ideias e necessidades. A negociação é realizada entre duas ou mais pessoas com o objetivo de alcançar os desejos ou necessidades das partes envolvidas. Assuntos relacionados ao tema estão em ascensão, por serem de fundamental importância tanto para as organizações quanto para as pessoas que inconscientemente ou conscientemente negociam a todo o momento. Martinetti e Almeida (1998) citam como exemplo o caso do bebê recém-nascido que começa a negociar com a mãe. Deste modo, o bebê chora para poder mamar e negocia com a mãe o leite em troca do silêncio. Assim, percebe-se que negociamos por puro extinto. Destaca-se que em uma negociação há sempre um lado sai ganhando que é justamente o que possui mais informação. Daí a importância do poder da informação no processo de negociação. Neste contexto, Olhen (1980) citado por Martinetti e Almeida (1998) definem negociação como sendo o uso da informação e do poder, com a finalidade de influenciar o comportamento dentro de uma rede de tensão. Martinetti e Almeida (1998) sublinham que diferentemente dos procedimentos do passado em que o negociante visava atender às próprias necessidades, sem se preocupar 12 UNIDADE I │ NEGOCIAÇÃO com o outro lado envolvido, na negociação moderna ocorre uma preocupação de estabelecer pontos favoráveis para os dois lados, visando uma negociação ganha-ganha. Por outro lado, além da informação é necessário que o negociador possua a habilidade de saber ouvir, pois para obter êxito nessa relação é preciso saber exatamente as necessidades do outro negociador, para que a barganha seja favorável para ambos os lados. O mais importante em um processo de negociação é que todos obtenham resultado, pois a balança da percepção de bom negócio tem que ao menos tentar ser igualitária, não podendo pender mais para um lado e menos para outro. O melhor é sempre o equilíbrio. O equilíbrio não significa apenas objetivos alinhados, mas sim o resultado do processo, como por exemplo, um cronograma adequado, um esforço bem mensurado e principalmente condições recíprocas de negociação. Quando a colaboração é recíproca em uma negociação, o objetivo é fazer o melhor para as duas partes. Não quer dizer que as divergências sejam eliminadas, mas a busca por solução deve permanecer em foco, logo, quando se fechar um negócio, ele se transforma em bom negócio para as partes envolvidas. Segundo Moreira (1998) a negociação pode ser definida como o processo no qual a decisão mútua, ou seja, o resultado da negociação obtido a partir da interação dos negociadores é feita com a concordância das partes envolvidas. Hoje em dia não há mais espaço para se obter total vantagem sobre o fornecedor ou limitar o cliente, restringindo o que ele recebe, pois o resultado final é igualmente desastroso para ambos. A partir desse ponto de vista, podemos perceber a importância de estarmos aptos a identificar as necessidades das partes interessadas, para isso é preciso estar atento às informações que a outra parte nos fornece. Existe uma distinção entre ouvir e escutar. Quando se escuta canaliza-se a interpretação e quando se ouve é possível passar a informação da mesma maneira que a recebeu. Assim, na negociação é necessário ir além de escutar, é necessário ouvir, ou seja, entender, absorver o que o outro tem a dizer da maneira passada, transformando em informação. Segundo Fisher, Ury e Patton(1994), “negociação é um meio básico de conseguir o que se quer de outrem. É uma comunicação bidirecional concebida para chegar a um acordo, quando você e o outro lado têm alguns interesses comuns e outros opostos”. Lewicki, Saunders e Minton (2002) relacionam uma série de características que definem uma negociação: » a existência de duas ou mais partes envolvidas; 13 NEGOCIAÇÃO │ UNIDADE I » o conflito de interesses; » o interesse em se chegar a um acordo amigável; » a expectativa de dar e receber; » alguns aspectos intangíveis, ligados a necessidades não materiais; » a sensação de que é possível obter alguma coisa. De acordo com Martinetti e Almeida (1998), ouvir significa não apenas escutar o que a outra parte tem a dizer, mas acima de tudo entender e absorver efetivamente as informações passadas. Quando se ouve efetivamente é possível processar as informações recebidas, separar aquilo que é realmente útil, guardar o que poderá ser utilizado futuramente, bem como buscar novas informações para complementar o que foi recebido. Na figura a seguir, é perceptível a importância do que abordamos sobre a relação entre os negociadores. Figura 1. Fonte: <http://www.ideiademarketing.com.br/2013/05/09/aventuras-de-um-jovem-negociador-alcando-voo/> Negociação é o processo de buscar aceitação de ideias, propósitos ou interesses visando ao melhor resultado possível, de tal modo que as partes envolvidas terminem a negociação consciente de que foram ouvidas, tiveram oportunidade de apresentar toda a sua argumentação e que o produto final seja maior que a soma das contribuições individuais. (JUNQUEIRA, 1986, p. 5) Após a apresentação dos conceitos introdutórios, no capítulo seguinte deste caderno de estudos o tema abordado será os tipos de negociação. http://www.ideiademarketing.com.br/2013/05/09/aventuras-de-um-jovem-negociador-alcando-voo/ 14 UNIDADE I │ NEGOCIAÇÃO E você, agora sabendo do conceito de diversos autores sobre negociação, qual se encaixaria mais no seu perfil? Sua percepção captou informações que poderiam ser utilizadas para facilitar a convivência com os profissionais com que atua, além de familiares e amigos? 15 CAPÍTULO 2 Tipos de negociação A complexidade das negociações, bem como as consequências das decisões tomadas durante esse processo geraram inúmeros estudos que, por meio de diferentes perspectivas teóricas, estabelecem visões diferentes do processo. Nesse capítulo, abordaremos os tipos de negociação, sob a perspectiva de diversos autores. Tipos de negociação Classificação quanto à divisão do objeto Essa classificação leva em conta a possibilidade, ou não, das partes compartilharem o objeto do negócio a ser realizado. Aqui temos os seguintes tipos de negociação: distributiva e integrativa e criativa. A negociação integrativa ocorre quando num processo de negociação existe a possibilidade de se ampliar o valor para ambos os lados, ou seja, o fato de um dos lados melhorar sua situação final não exige que o outro piore seu resultado. Quanto à negociação distributiva, caracteriza-se pela situação em que o ganho de um dos lados corresponde à redução de ganho na mesma proporção do outro lado. Já na negociação criativa, cada parte revela seus interesses, além de buscar soluções que sejam capazes de atender a maior quantidade possível de interesses envolvidos. A negociação integrativa tem por objetivo criar e reivindicar o valor. Os participantes da negociação têm uma abordagem colaborativa, ou seja, com troca de informações. A negociação é focada em cima dos interesses e da satisfação das necessidades dos envolvidos no processo negocial. Este tipo de negociação fortalece o relacionamento entre as partes, facilitando a implementação e aumentando a possibilidade de manutenção do acordo firmado. Ela foca o processo de negociação, o relacionamento entre as partes e o desfecho, maximizando os ganhos potenciais. No que concerne à negociação distributiva, Raiffa (1982) discorre detalhadamente sobre o fato de que uma negociação distributiva nem sempre envolve uma transação de compra e venda, mas também o fato de que existe uma grandeza fixa a ser dividida ou distribuída entre as partes. 16 UNIDADE I │ NEGOCIAÇÃO Esse tipo de negociação normalmente segue um certo ritual, que se inicia por meio da primeira oferta de uma das partes, a qual por sua vez é seguida de uma contraproposta da outra parte, e assim sucessivamente, num processo sequencial que se encerra quando ambos os lados concordarem com um resultado final. A negociação criativa é ideal para encontrar soluções conciliadoras para problemas complexos. Deve ser conduzida em um ambiente colaborativo e emprega largamente os princípios de negociação apresentados por William Ury, como foco nas pessoas e não nos problemas, diferencie posições de interesses entre outros. Segundo o método Harvard de negociação, há nove pontos que devem ser observados na negociação criativa: » Posição: saber o que a outra parte diz que quer ou exige e para quê. » Comunicação: escutar ativamente e manter diálogo abundante. » Relação: é o principal capital para as negociações, e sem que ela tenha qualidade é impossível obter sucesso numa negociação. A busca é por melhora e fortalecimento. » Argumento: por si só não contribui para a negociação criativa, porque só fica no plano do convencimento. A negociação criativa demanda bom relacionamento e uma boa comunicação. » Interesse: é importante descobrir os interesses da outra parte, o motivo por trás da posição. Quando se sabe a real intenção do negociador, pode- se oferecer mais e melhores opções de acordos. » Opção: é a ideia que satisfaz os interesses (na mesa de negociação), o que vai ser proposto. » Legitimidade: devem ser acordados critérios objetivos para a negociação, com a aceitação de ambas as partes. Isso torna o acordo justo e legítimo. » Alternativa: é importante ter em mente o que fazer caso não se chegue a um acordo, ter um plano B. » Compromisso: devem ser propostos acordos claros e possíveis, que sejam parciais ou totais. Classificação quanto ao estilo Entre as várias abordagens para visualizar os estilos de negociação, pode-se citar o estudo normativo, que é a elaboração de modelos formais de negociação que advém da 17 NEGOCIAÇÃO │ UNIDADE I hipótese de racionalidade dos negociadores, podem ser usados para facilitar a obtenção de compromissos estáveis e eficientes. Muitos modelos normativos, principalmente a teoria dos jogos, foram utilizados na pesquisa e simulação da negociação. Quanto à abordagem prescritiva, o objetivo principal é desenvolver técnicas que direcionam os negociadores a se comportar de determinada maneira, ou seja, tem por objetivo alcançar a forma mais eficiente para a tomada da decisão ao estruturar passos a serem seguidos na análise da resolução dos problemas. Os estudos baseados nessa perspectiva são focados em prescrever o comportamento dos negociadores sem preocupar-se com o entendimento de como os negociadores habitualmente se portam. Modelos baseados na teoria da utilidade multiatributo e em outros métodos e metodologias aplicáveis ao processo decisório são exemplos de soluções propostas para representar e dar suporte à decisão na negociação. Por fim, a última perspectiva considerada pelos demais estudiosos para classificar os estudos em negociação é a descritiva em que o tomador de decisão se comporta no processo de decisão real ao avaliar as dificuldades e vieses encontrados. Esses profissionais se concentram na descrição e análise das percepções e comportamento dos negociadores e suas implicações no processo e nos resultados obtidos. Diferenças individuais, influências sociais e a influência do ambiente são discutidas nesse tipo de abordagem. Considerando os estudos acima, percebe-se que para a elaboração de um sistema de suporte à negociação que contribua para a definição das funcionalidades desses sistemas, faz-senecessário a análise dessas perspectivas, para que seja possível identificar quais e como os diferentes elementos apresentados influenciam na negociação. Vale ressaltar que, segundo Bichler, Kersten e Strecker (2003), o caráter social, psicológico e cultural do processo, bem como seus aspectos econômicos, legais e jurídicos, o estudo da negociação requer uma interdisciplinaridade entre estas perspectivas. Entretanto, a cooperação entre essas abordagens pode trazer algumas inconsistências e contradições, devido às diferentes definições, notações, terminologias e concepções geradas por cada uma delas. Classificação quanto à reciprocidade dos ganhos A presente classificação mensura o quanto de vantagem uma parte leva, ou não, sobre a outra parte, ou seja, aufere se as partes buscam resultados recíprocos e equivalentes ou se a intenção delas é de obterem resultados isoladamente, são os seguintes tipos de negociação: Ganha-Ganha, Ganha-Perde e Perde-Perde. 18 UNIDADE I │ NEGOCIAÇÃO Negociação ganha-ganha As negociações do tipo ganha-ganha são aquelas em que as partes reconhecem o direito ou as necessidades das partes adversas e buscam de fato, resultados similares dentre daquilo que é permitido pelo contexto da negociação. Também conhecida por solução win-win, a negociação ganha-ganha, é constituída por trocas recíprocas e eficazes e visa à satisfação das partes envolvidas, ainda que uma delas tenha obtido melhores vantagens do que a outra, ou que diante de situações adversas, tenha obtido o menor prejuízo possível. É também por isso que dizemos que esse procedimento não deve ser considerado sob o ponto de vista utópico de condições impossíveis, ideais ou mesmo inexistente, mas deve sim se basear em condições atingíveis e situações realistas, onde todos possam se sentir relativamente iguais. Portanto faz-se necessário que as partes ajam com parceria, tenham ciência e compreendam o problema umas das outras, pois apenas com empatia, pode-se ampliar o leque de possibilidades de realizar concessões inteligentes em prol de um acordo benéfico. Assim temos que, o primeiro passo para alcançar um resultado ganha-ganha consiste no esforço em construir um ajuste com possibilidades reais de execução, de modo que o acordo seja de fato realizável. E o segundo passo traduz-se no entendimento de que as necessidades, os interesses ou as dificuldades do oponente não são um problema unilateral, pelo contrário, em negociações temos que analisar a situação tendo por princípio que todo e qualquer conflito é algo comum, a ser resolvido por ambos os negociadores, ainda que seu foco esteja apenas de um lado da negociação. Veja adiante as principais características de um procedimento ganha-ganha: » existe um esforço por parte do outro em estabelecer uma mútua compreensão para com a situação alheia; » após uma interação espontânea, as partes invocam uma força construtiva em prol uma mútua colaboração; » a liderança do processo negocial é legítima, pois é naturalmente democrática e consentida pelos liderados; » com a integração entre as partes, é criado um clima de confiança recíproca; » ao final, as partes cultuam o sentimento de ganho mútuo. 19 NEGOCIAÇÃO │ UNIDADE I Negociação ganha-perde A negociação do tipo ganha-perde advém do conceito de que se uma parte ganha, a outra tem que perder. Isso pode ocorrer por diversos fatores, tais como, a ansiedade, falta de parceria, o desinteresse pela continuidade do relacionamento estabelecido entre aqueles que negociam, transformando assim a negociação num “campo de batalha”, onde só a obtenção de lucro e vantagem interessa às partes. E para tanto, alguma ou todas as partes podem intentar condutas que visem às seguintes situações ou resultados para com o outro que é visto como oponente: » imprimir-lhe um sentimento ilusório de ganho; » criar-lhe expectativas ilusórias ou inalcançáveis; » fragilizar-lhe em seu lado psicoemocional; » afligir-lhe a confiança. O negociador que inicia uma rodada de negociação para ganhar sob qualquer circunstância, geralmente consegue que só a parte oposta faça concessões interessantes, enquanto que, de sua parte, inexiste reciprocidade, como afirma Matos (1985, p. 2) que “a intransigência dos que não querem ceder dez para ganhar noventa, dispensar o acidental em favor do essencial, é a geradora dos habituais insucessos em negociação”. Ao final, o resultado é o mesmo, apenas um lado sente que obteve ganhos reais com a percepção de dever cumprido e com satisfação pelo trabalho executado. Seguem adiante as principais características de um procedimento ganha-perde: » Não existe qualquer esforço por parte dos oponentes em estabelecer uma mútua compreensão para com a situação alheia, pelo contrário, existe um sentimento de disputa acirrada, a exemplo de um verdadeiro combate entre inimigos. » Não há interação, pois as partes invocam um sentimento de rejeição sempre em prol de uma disputa competitiva. » A falta de interação norteia o surgimento de uma liderança ilegítima, geralmente alcançada por meio da força, do poder ou de agressões verbais. » Não existe clima de confiança entre os oponentes, o clima criado é cercado por uma constante tensão. » Ao final, uma das partes sempre desperta um sentimento de perda. 20 UNIDADE I │ NEGOCIAÇÃO Negociação perde-perde A negociação perde-perde é aquela em que os todos os lados que negociam buscam a vitória acima de tudo. Nesse contexto os negociadores traçam objetivos injustos, agem com inflexibilidade, não promovem concessões, afastam-se das trocas, evitam procurar saber o que a outra parte gostaria de obter, enfim, todos só pensam em si mesmos. Sendo assim, todos relutam e não abrem mão de seus objetivos e necessidades, com isso, o resultado é óbvio, nenhuma das partes que negociam se sentem satisfeitas e todos percebem que não obtiveram êxito. A postura agressiva durante uma negociação pode chegar a um ponto hostil, onde uma das partes assume uma posição extremamente incisiva e “dominante” de uma forma tal que sobrepuja a outra parte, só lhe restando a alternativa de assumir uma posição passiva aguardando que o “dominante” dite o rumo da negociação, concordando ou não com os termos (MARTIN, 1982). 21 CAPÍTULO 3 O processo de negociação Etapas da negociação Como todo processo, a negociação ocorre por meio da efetivação de algumas etapas nas quais as tarefas pertinentes ao processo devem ser realizadas. Kersten e Noronha (1999) definem uma negociação como um processo dividido em três fases: pré-negociação, condução da negociação e pós-negociação. Na fase de pré-negociação, o objetivo é o entendimento da negociação. Esta fase envolve a análise do contexto, que inclui o objeto a ser negociado assim como uma investigação prévia dos interesses, alternativas e opções para criação da estratégia de negociação. Além disso, é necessário planejamento, identificação de objetivos e muito estudo a respeito dos fatores envolvidos na negociação, bem como: » com quem negociaremos; » detalhes do que será negociado; » qual a melhor opção caso não haja acordo; » qual seu preço de reserva para um acordo. A segunda fase está ligada à condução da negociação, envolve trocas de mensagens, ofertas e contraofertas com o intuito de obter algum acordo. Nesta etapa, as partes agem segundo uma estratégia, definindo o tipo da negociação (TAMASHIRO, 2004). A fase de pós-negociação envolve avaliação dos resultados obtidos e do compromisso das partes envolvidas na negociação, incluindo o acordo alcançado e a avaliação da satisfação dos negociadores. O conceito BATNA (Best Alternative To Negotiation Agreement), proposto por Fisher e Ury (1981) trata do curso de ação baseado na preferência do negociador, caso não haja consenso. Conhecer o BATNA significa saber o que fazer ou o que vai acontecer se não se conseguir chegar a um acordo na negociação em pauta. A razão para negociar está presente àmedida que uma das partes detém alguma informação ou vantagem que a outra parte não possui. Nesse sentido, quando se está inconsciente dos resultados que poderiam ser obtidos em outras negociações, não há como assegurar que daquela negociação poderia sair o melhor acordo para uma parte 22 UNIDADE I │ NEGOCIAÇÃO ou que poderia ser melhor não fechar um determinado acordo e optar por tentar uma nova negociação. Processo de negociação O processo de negociação constitui-se de três variáveis básicas: poder, tempo e informação, de acordo com Martinelli e Almeida (1997). Em alguns casos podem ocorrer situações em que aparece apenas uma ou duas dessas variáveis. Essas variáveis ocorrem no dia a dia dos indivíduos e cabe, a cada um, explorá-las a fim de aproveitar as oportunidades surgidas. Em Clarke (1993), o autor afirma que existem três fatores que influenciam diretamente a estratégia adotada pelas partes: o poder, o tempo e a informação. Uma negociação envolve a mudança das condições atuais para condições desejáveis para os negociadores. Para que alguém mude é necessário que sofra uma influência que seja maior que sua capacidade de resistir (JUNQUEIRA, 1998). O poder é a habilidade para exercer controle e alcançar os objetivos. Segundo Clarke (1993), o poder em uma negociação significa ter opções, isto é, não ser dependente de uma solução em particular, ter legitimidade, conhecimento, segurança, credibilidade e ser persuasivo. O tempo se refere ao momento psicológico em que se colocam premissas e alternativas na perspectiva do outro negociador. Diz respeito também ao grau de pressão temporal exercido para decisão do outro negociador. O terceiro fator, a informação, representa o conjunto de informações acerca do processo e dos fatores externos que podem influenciar tanto o objeto que está sendo negociado como o comportamento dos negociadores. Poder A palavra poder sugere uma ideia de superioridade, é a capacidade de deliberar, agir e mandar e também, dependendo do contexto, a faculdade de exercer autoridade sobre algo ou alguém. Entretanto, o poder não deve ser um objeto em si mesmo, mas um meio para se chegar a um fim desejado. O poder compreende: poderes pessoais e poderes circunstanciais. Os poderes pessoais englobam poderes exclusivos da pessoa, são poderes natos, que independem do papel desempenhado pelo negociador, dos seus conhecimentos e das suas habilidades para lidar com pessoas. O poder pessoal compreende moralidade, atitude, persistência, capacidade persuasiva, aparência, vontade e motivação. 23 NEGOCIAÇÃO │ UNIDADE I Já os poderes circunstanciais compreendem poderes, como do especialista em determinado assunto, da posição que ocupa em determinada organização, da legitimidade, da concorrência, de investimento, de assumir riscos, de recompensa e de punição, de barganha e de competência. Tempo Qualquer negociação sempre envolve conflito de interesses e o tempo pode determinar o sucesso ou insucesso da negociação. O tempo pode significar o momento certo ou oportuno, que pode representar um momento indeterminado no tempo em que algo acontece. Assim, quando se tratar do tempo cronológico, este deve ser cuidadosamente avaliado, pois significa prazo ou limite para a consecução de determinada ação, assim como o momento exato de tomar determinada decisão. A maneira como se utiliza o tempo é essencial para o alcance do sucesso. Algumas pessoas levam a sério a questão de pontualidade, ao contrário de outras que não consideram um fator importante. Porém, em certas situações, chegar antes do fim nunca será tarde, entretanto, em outras, poderá ser fatal. É importante ressaltar que para uma negociação ser bem sucedida, deve-se respeitar o prazo limite, embora, nem sempre termine quando um acordo é celebrado. Existe a fase de pós-negociação inserida no processo e, assim, eficaz, com expectativa de aumentar o faturamento por meio das vendas da próxima estação, aproveitando as tendências da moda do próximo verão. Em suma, o aproveitamento da oportunidade é produzir a quantidade certa, no tempo certo, para a entrega certa, às pessoas certas. Informação A informação representa uma forma de poder. É um fator relevante do processo de negociação e deve apresentar-se como um produto íntegro, sem distorções, a fim de não comprometer o processo. Para uma boa tomada de decisão, as informações devem ser verdadeiramente confiáveis, isto é, devem ser obtidas por meio de fontes confiáveis. Para manter-se atualizadas, as pessoas precisam estar atentas às constantes mudanças, pois em um mundo de globalização, onde a tecnologia avança constantemente, fazem com que a especialização e a inovação façam parte da vida de um bom profissional. Para a obtenção do êxito é primordial conhecer a área e o objeto da negociação. Ao negociar-se, são tomadas decisões, as quais serão mais acertadas na medida em que se elevar o domínio, por parte do negociador, sobre o que está sendo negociado. 24 UNIDADE I │ NEGOCIAÇÃO É importante ressaltar que é por meio da estratégia de negociação que serão determinadas quais informações são relevantes, quais precisam ser obtidas, quais devem ser apresentadas para a outra parte e quais devem ser mantidas em sigilo. Dessa forma, o negociador ganhará tempo, pois já possui as informações necessárias e com a utilização desses fatores de forma adequada essa estratégia será sinônimo de poder. Para que seja eficaz, a informação deve ser dada na linguagem do receptor, facilitando o entendimento. A utilização de recursos que impactem nos canais sensoriais, visuais, auditivo e sinestésico podem propiciar resultados interessantes. Os negociadores profissionais devem atuar como autênticos gerenciadores de informações sobre pessoas, ambiente, mercado, concorrência, premissas e tendências. As informações devem ser suficientemente tratadas, a fim de que se possa ter sucesso na negociação. Outra maneira de demonstrar o processo de negociação é por meio do seguinte ciclo: » identificar e perceber as necessidades; » buscar excelentes resultados por meio de alternativas viáveis; e » atender às expectativas das partes com risco mínimo. Figura 2 – Ciclo da negociação Fonte: CAMARGO, F.J.R. A negociação eficaz. Na primeira cena do filme O negociador (1998), o personagem Dany Romam, interpretado pelo ator Samuel L. Jackson, utiliza as três variáveis básicas da negociação que são: Tempo, Poder e Informação. Assista ao filme e identifique as similaridades entre o conteúdo abordado no nosso material. 25 UNIDADE IICOMO NEGOCIAR A unidade II desse material tem por objetivo apresentar as principais técnicas e habilidades que um profissional pode possuir para alcançar o sucesso em suas negociações, porém sem esquecer a ética, que deve nortear os princípios básicos das pessoas que atuam nessa área. A inteligência emocional também possui relevância no contexto da negociação, pois é de fundamental importância conseguir argumentar em momentos de crise, o que não é raro ocorrer nesses ambientes, que já são hostis por natureza. É importante salientar que há outros fatores em que temos que nos adaptar, como por exemplo, fatores externos, como cultura e crenças, tão presentes nas negociações internacionais. Contudo, não há uma fórmula ou método que possa garantir o sucesso de uma negociação, até mesmo porque os fatores internos e externos ocorrem em perspectivas diferentes para cada tipo de situação. O mais importante é desenvolver seus próprios métodos de acordo com suas habilidades, nunca deixando de se aperfeiçoar, pois o conhecimento e a atualização sobre o tema pode tornar-se um diferencial na carreira. 26 CAPÍTULO 1 Habilidades e técnicas em negociações Habilidades essenciais aos negociadores A habilidade de negociar tem sido considerada um diferencial no perfil dos profissionais, isto porque as áreas em que atuam estão em crescimento, tratando de negócios em países diferentes, com estilos e habilidadesdiferentes. Desta forma, o negociador do mundo global deve assumir postura pró-ativa, questionando sempre se as ações não poderiam ser realizadas de uma maneira melhor, buscando com fim a vantagem mútua. Aqui também cabe a questão das habilidades adquiridas e as natas. Neste caso, as habilidades de negociar são, na maioria delas, aprendidas na prática. Todavia, o comportamento pessoal, as características, valores e cultura de cada negociador determinam o limite de aprendizado das habilidades adquiridas. São necessários quatro princípios básicos para um bom negociador, de acordo com Flecha de Lima (apud COSTA, 2004): » planejamento: planejar com antecedência é antever todas as possibilidades que poderão ser levantadas durante a discussão do acordo. Um bom planejamento é fundamental, desde a preparação da base documental até informar-se com pessoas próximas ao interlocutor; » argumentação sólida: construir uma argumentação significa estabelecer a diferença entre um bom negociador e o mediano. Caso seja necessário, deve-se esquematizar e delinear a linha de raciocínio; » conhecimento do adversário: é fundamental, a fim de se saber quem está do outro lado. É importante ouvir amigos do interlocutor e os inimigos também e reunir o maior número de informações a seu respeito, pois isso ajuda a entender a forma como ele pensa e age em diferentes situações; » transparência: ser transparente e ético inspira confiança, visto que o blefe é um dos piores artifícios que um negociador pode usar, pois se for descoberto, o engano acaba com toda a confiança existente entre as partes, o que pode comprometer toda a negociação. Em suma, esses quatro princípios, quando colocados em prática, poderão facilitar o processo de negociação. Um dos principais atributos de um bom negociador é saber ouvir o outro lado e entender quais são suas necessidades. 27 COMO NEGOCIAR │ UNIDADE II Esta não é uma tarefa tão fácil, pois normalmente quando as pessoas se envolvem em uma negociação, cada lado foca apenas em obter vantagens para si próprio. O negociador efetivo possui, dentre suas habilidades: » capacidade de buscar e aproveitar oportunidades; » capacidade de comunicar-se facilmente com as partes envolvidas; » capacidade de liderar e contribuir para um acordo ganha-ganha; » capacidade de aceitar desafios e detectar riscos sem prejudicar os objetivos; » capacidade de conhecer suas limitações e superá-las de ser flexível, adaptando-se às situações encontradas; e » principalmente, ser paciente e estar constantemente se autoavaliando. Existem muitas técnicas orientadas para uma negociação produtiva. As dez técnicas principais são: » planeje o melhor acordo possível; » use a influência para encurtar a distância e facilitar o entendimento; » faça propaganda de sua proposta, enfatizando os ganhos mútuos; » canalize a agressividade para as realizações positivas; » apresente de uma só vez, os itens negociáveis; » negocie item por item; » faça pausa, estrategicamente; » crie as possibilidades objetivas de acordo e os padrões referenciais de negociação, por meio de brainstorming; » não utilize e nem deixe se envolver por artimanhas; e » encerre a negociação somente quando houver satisfação mútua. Algumas outras habilidades de negociação que os negociadores precisam desenvolver ou aprimorar para serem bem sucedidos são: » Comunicação: na comunicação interpessoal, é preciso ter certeza de que a mensagem que se quer transmitir é emitida de maneira eficaz. Deve-se estar atento aos sinais verbais e não verbais recebidos, como prestar atenção, com o intuito de poder perceber se o outro concordou ou não, 28 UNIDADE II │ COMO NEGOCIAR se está disposto a ceder ou não, mesmo antes de ele afirmar isto. Deve-se observar se há congruência entre o que a pessoa está dizendo e sua mensagem não verbal. Além disto, a empatia é considerada como um fator de aceitação das propostas pela parte oposta. » Flexibilidade: a busca por um acordo deve ser iniciada com certa margem para negociar, caso contrário corre-se o risco de ficar sem alternativas, se for desnecessário ceder em algum ponto. É importante manter-se atento aos interesses, desejos e necessidades da parte oposta, e saber ser flexível, no momento certo. » Justiça: buscar a vantagem mútua em prol de benefícios comuns deve ser um dos principais objetivos da negociação, cada uma das partes fique com a sensação de que obteve, de alguma forma, uma vitória relativa. » Respeito: a negociação deve ocorrer sempre de maneira respeitosa e ética em qualquer tipo de demanda, além de exigir dos participantes uma atitude profissional e civilizada. Muitos acordos são prejudicados em função das dificuldades de relacionamento pessoal entre as partes, principalmente, quando estas influenciam o comportamento dos negociadores. » Prudência: deve-se manter a prudência e a cautela em qualquer situação, principalmente durante a negociação. Se o lado oposto perceber alguma fraqueza, poderá tentar obter vantagem baseada nessas ações. Mills (1993) apresenta 16 “fatores críticos do sucesso” em uma negociação. São eles: » prepare-se cuidadosamente; » focalize os interesses, não as posições; » use um BATNA – melhor alternativa para um acordo negociado – em vez de um recurso final; » conheça suas prioridades; » faça o tempo trabalhar por você; » faça muitas perguntas; » ouça atentamente; » confirme suas necessidades; » faça um teste com propostas condicionais; » explore muitas opções; 29 COMO NEGOCIAR │ UNIDADE II » comece alto, conceda lentamente; » verifique o que ficou combinado; » revise seu desempenho; » construa relacionamento de trabalho de longo prazo; » maximize seu poder; » adapte sua estratégia para atender a situação. Quadro 1 – Habilidades convencionais e não convencionais no processo de negociação. Habilidades Negociadores Convencionais Negociadores não convencionais Para obter informações, utilização de questões que terminam abertamente, evitando respostas somente com “sim” ou “não”. Utilização de equívocos: compreender mal a outra parte, propositadamente, para forçar o outro lado a esclarecer sua posição e a acrescentar informações. Uso da paráfrase ou reformulação daquilo que o outro negociador disse, com o intuito de demonstrar interesse, verificar sua compreensão, ganhar tempo e proporcionar a outra parte a oportunidade de acrescentar algo à discussão. Exagero: ampliar tudo aquilo que o outro negociador diz para questionar uma posição extrema, a qual se saber que a outra parte esta pronta a tomar. Uso do silêncio para forçar a outra parte a compartilhar informações. Mudança inesperada: dizer ou fazer algo repentinamente, para criar um efeito de surpresa. Sumarização para medir o progresso da negociação e construir acordos prévios. Sacarmos: utiliza-se de zombarias para provocar reações emocionais. Confirmação dos sentimentos e emoções para aliviar a tensão e reforçar a confiança. Sufocação: sufocar a outra parte com excesso de questões e informações para tentar enfraquecê-la. Fonte: Negociação: aplicações práticas de uma abordagem sistêmica. MARTINELLI, Dante Pinheiro; GHISI, Flávia Angeli, São Paulo: Saraiva, 2006. Estilo do negociador O negociador pode utilizar diversas maneiras para conseguir atingir seus objetivos, conhecer os estilos comportamentais com o qual se pode lhe dar torna-se determinante para obter êxito numa negociação. Sun Tzu diz que “se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas”, ou seja, conhecer seu estilo e do concorrente faz toda a diferença. A seguir apresentaremos alguns estilos e suas características: » Catalisador: o negociador com este estilo tende a ser extremamente criativo, e muito entusiasta quanto aos grandes empreendimentos. Eventualmente, este negociador pode ser visto como superficial, irreal, estratosférico, em suas decisões e ações.30 UNIDADE II │ COMO NEGOCIAR » Apoiador: o apoiador é aquele que considera que os seres humanos são mais importantes que qualquer trabalho, aprecia atuar sempre em equipe, procura agradar os outros e fazer amigos. Eventualmente pode ser visto como incapaz de cumprir prazos e desenvolver projetos, enfim mais como um missionário do que um executivo. Suas decisões são mais lentas e ele sempre busca não melindrar a outra parte. » Controlador: o controlador é aquele que toma decisões rápidas, está sempre preocupado com o uso do seu tempo e com redução de custos, é objetivo, organizado, conciso e sua meta básica é conseguir resultados. Eventualmente pode ser visto como insensível às pessoas, rígido etc. » Analítico: o analítico possui perfil questionador, obtém o máximo de informações, coleta todos os dados disponíveis e se preocupa em saber todos os detalhes de cada empreendimento antes de iniciar qualquer tarefa ou tomar qualquer decisão. Eventualmente este negociador pode ser visto como perfeccionista, detalhista em excesso, procrastinador etc. Podemos mencionar o modelo de estilos apresentado por Carl Jung, citado por Oliveira (1994), que une a capacidade que o indivíduo tem de controlar ou aceitar o controle em relação ao outros com o grau que considera aceitável. Abaixo podemos entender um pouco mais sobre os estilos de negociação: » Estilo Restritivo: apresenta como os indivíduos combinam o controle com a desconsideração com o outro. Os negociadores que adotam esse estilo agem de acordo com seus interesses. » Estilo Confrontador: o confrontador combina controle com confiança no outro. Trabalha em colaboração. » Estilo Ardiloso: nesse caso considera-se que os negociadores devem ser evitados ou mantidos a distância, pois representam uma fonte de aborrecimentos. » Estilo Amigável: o negociador amigável combina a consideração com a confiança para manter um relacionamento com o oponente, independente do fato de alcançar ou não seus objetivos. Os autores Atkins e Katcher, criaram o sistema LIFO – Life Orientations, em português orientação de vida –, que tem objetivo registrar as orientações comportamentais e seus respectivos estilos, na maneira dos executivos lidarem com diversas situações do cotidiano organizacional. 31 COMO NEGOCIAR │ UNIDADE II » Estilo dá e apoia: o indivíduo que tem este estilo é idealista, modesto e leal. Está sempre se preocupando com o outro. É receptivo, sempre disposto a colaborar e nunca nega auxílio. As ações das pessoas que possuem esse estilo são guiadas pelo afeto. Este indivíduo precisa ter cautela com os exageros das suas ações. Estas características podem tornar-se negativas quando há paternalismo, passividade e torna-se muito teórica. » Estilo toma e controla: indivíduo ativo, na maioria das vezes tem uma resposta para qualquer problema ou questão, é competitivo e aberto a desafios. Quer sempre aprender e experimentar coisas novas. Não se conforma em utilizar velhas formas e está sempre usando sua criatividade para buscar novas soluções. Suas ações são movidas pelo poder. Mas assim como tudo em excesso, o toma e controla pode tornar-se dominador, jogador, impulsivo, impaciente e arrogante. » Estilo mantém e conserva: indivíduo cauteloso. Analisa todos os fatores envolvidos na questão antes de tomar decisão. É organizado, objetivo, lógico, racional, detalhista, gosta de método, é organizado e comporta-se formalmente nos relacionamentos. Suas ações são movidas pela natureza do próprio trabalho. Porém, ao usar estes traços tão positivos em excesso, a pessoa que possui esse estilo torna-se teimosa, crítico, pouco amigável e presa a dados. » Estilo adapta e negocia: este é o estilo mais popular. Este indivíduo é sempre o centro das atenções. Bem-humorado, alegre e falante. Sabe colocar qualquer pessoa à vontade. Tem a capacidade de adaptar-se facilmente a qualquer situação. É diplomático, entusiasta, e divertido. Este indivíduo é movido a status e prestígio. Os pontos negativos são possíveis atitudes infantis, enganador, agitado e inconsistente. Conforme a classificação da teoria apresentada, Martinelli (2006) resume essas características no quadro a seguir: Quadro 2 – Características LIFO 32 UNIDADE II │ COMO NEGOCIAR Fonte: MARTINELLI, 2006. Na concepção de Marcondes, o principal destaque quanto à identificação de estilos é a adaptação ao ambiente, com o intuito de obter uma percepção mais apurada da ação do negociador. A classificação será apresentada no quadro a seguir: Quadro 3 – Classificação de Marcondes Fonte: MARTINELLI, 2006. 33 COMO NEGOCIAR │ UNIDADE II Para Matos (apud Martinelli, 2006), há quatro estilos básicos do negociador. No quadro abaixo estão descritas as características, bem como os riscos e táticas de cada estilo: Quadro 4 – Classificação de Matos Fonte: MARTINELLI, 2006. Antes de passar para o próximo capítulo, reflita sobre o(s) estilo(s) de negociação que mais se encaixa(m) no seu perfil e analise-os para melhorar suas habilidades e desenvolver seus pontos fracos. 34 UNIDADE II │ COMO NEGOCIAR Segue artigo em que o autor Rodnei Domingues aborda o tema Persuasão. Persuasão Por Rodnei Domingues Recebemos diariamente milhares de mensagens para nos induzir e orientar nossas escolhas. Muitas vezes tomamos decisões sem perceber que fomos involuntariamente conduzidos por pessoas persuasivas. Há os que falam em persuasão e os que, de forma explícita, falam em manipulação linguística. O fato é que há milhares de maneiras de não dizer a verdade sem mentir. Na sociedade de comunicação, as técnicas midiáticas assumem importância cada vez maior. Os truques retóricos que se aproveitam dos automatismos da mente sempre existiram: basta pensar no significado do termo ‘maquiavélico’. E Shakespeare fornece, em Otelo, uma longa lista de exemplos. O instrumento mais refinado da mistificação ainda é a linguagem, na qual nos baseamos para construir nosso mundo mental das relações interpessoais. A mistificação é o processo pelo qual a pessoa que fala ou escreve dirige a atenção do interlocutor, empregando determinadas palavras que o induz a aceitar ou a rejeitar determinadas ideias. Da propaganda podemos extrair vários exemplos de persuasão. Se, por exemplo, uma embalagem anuncia que o produto contém – ou não – determinado ingrediente, somos levados a pensar que isso representa para nós uma vantagem. Mas trata-se de uma dedução nossa: o fabricante limita-se a declarar a presença do ingrediente ou substância. Outro exemplo: se no rótulo de uma água mineral diz que o produto facilita a diurese ou elimina toxinas, não significa que seja um produto excepcional, pois essa é a característica comum, em maior ou menor grau, a toda água potável. Se um produto divulga que “não contém” lactose, colesterol ou qualquer outro ingrediente, isso não o torna, necessariamente (a menos que soframos alguma intolerância a eles), mais benéfico. Mas, sempre que essas informações são divulgadas, tendemos a pensar que tais características significam vantagem. É assim que nosso cérebro raciocina. 35 COMO NEGOCIAR │ UNIDADE II A palavra faz a força! Segundo os psicolinguistas, “dizer é fazer” e, nesse processo de construção da realidade mediante a palavra, a forma muitas vezes conta mais que o conteúdo. Pensemos nas propagandas de sabão em pó que afirmam que determinado produto “lava mais branco”. Interpretamos que o sabão em questão é o melhor do mercado. Mas levando em conta o significado literal do que é dito, diversos produtos podem fazer o mesmo. Não foi dito que nenhum outro sabão em pó é capaz de deixar as roupas tão brancas, foi dito apenas que determinado sabão lava mais branco. Dessa forma, obtém-se um efeito semelhante ao da publicidade comparada, evitando-se, porém, a necessidade de provar a afirmação. O psicólogo da linguagem Paul Grace foi o primeiro a afirmar que os seres humanos agemconforme o “princípio da boa fé”, segundo o qual quem comunica algo tende a transmitir informações verdadeiras relevantes ao interlocutor. Segundo ele, esse princípio foi muito criticado, mas de fato todo ser humano, quando não tem motivo específico para mentir, tende a dizer a verdade e o interlocutor, se não tiver bons motivos para duvidar, tende a acreditar no que ouve: por essa razão a troca de informações é uma das bases da sociedade. Dado que, durante toda a existência da espécie humana, cada ser humano, por não ter acesso a algumas informações necessárias à sua sobrevivência, teve que obtê-las de outro ser humano, entre confiar ou morrer, o pacto de confiança sobreviveu até os nossos dias. A confiança é um elemento fundamental na história de nossa espécie. Embora nos dias de hoje se afirme ser mais raro as pessoas confiarem nas outras, e que, se outrora um aperto de mãos bastava para sinalizar o acordo, agora necessitamos de um complexo contrato, ainda assim a mente humana continua programada para confiar. Por essa razão, mesmo em nossa desconfiada sociedade, as palavras podem exercer efeitos quase mágicos. Hellen Langer, psicóloga da Universidade de Harvard, mostrou experimentalmente que as pessoas estão mais dispostas a ceder seu lugar em uma fila – se o pedido for acompanhado por uma explicação, independentemente da veracidade desta. Exemplos: “Posso passar na sua frente? Tenho um grave problema para resolver” ou “Posso passar na frente? Estou muito atrasado”. 36 UNIDADE II │ COMO NEGOCIAR As pessoas que nos sugestionam são: » as que nos parecem mais simpáticas ou que pertencem ao nosso “grupo de pares”; » as que parecem ter prestígio (pessoas endividadas, mas vestidas com elegância são admiradas); » as que nos envolvem em seus projetos (seremos mais inclinados a contribuir); » as que nos oferecem algo, seja um presente, seja simplesmente atenção; » as que propõem um bem que percebemos como raro ou precioso. Mas há ainda outros tipos de astúcia. Podemos enganar dizendo a verdade: se a embalagem informar que os biscoitos “não contêm nitrato”, dirá a verdade. Mas, com isso, leva-se o consumidor a pensar que os produtos concorrentes contêm nitrato, “algo que não é verdade, ou ao menos se espera que não seja”. Outro exemplo disso é quando alguém, usando a entonação, insinua que viu Maria no carro de fulano, deixando que o interlocutor extraia do que foi dito uma dedução pela qual, pelo menos em tese, não se responsabiliza. E no caso da afirmação ser feita por uma pessoa de prestígio, a confiança depositada será ainda maior. Quando muitas pessoas fazem a mesma afirmação, haverá menos chances de questionamentos. Como ocorre frequentemente, a afirmação será considerada verdadeira por todos. É dessa forma que nascem as lendas urbanas, cuja característica é justamente não ter testemunhas oculares identificáveis. Utilizar o poder da ciência para nos tranquilizar causa um efeito ainda maior na geração de confiança. Quando se diz que um produto foi “clinicamente testado”, parece oferecer por si só uma garantia, ainda que o importante seja, na realidade, o resultado do teste. Não costumamos perguntar: 1. foi testado, mas será que foi aprovado? 2. Será que a amplitude e as amostras testadas eram válidas? 37 COMO NEGOCIAR │ UNIDADE II Não fazemos as perguntas e não temos as respostas, por esse motivo, tendemos a confiar. Mesmo quando os produtos divulgam informações inúteis: por exemplo, “contém menos de 15% de sódio”, mas em relação a quê? Interpretamos as estatísticas de modo favorável à intenção de quem as fornece, mas “um contexto diferente pode dar aos mesmos números um significado bem diverso”. Ultimamente, as propagandas estão mais sofisticadas, não utilizam a linguagem do engano, mas da sugestão, associando imagens atraentes ao produto que quer promover, de modo a evocar uma mensagem sem explicitá-la. 38 CAPÍTULO 2 Ética nas negociações Ética Ética é uma palavra de origem grega – éthos –, que significa propriedade do caráter. Ser ético é agir dentro dos padrões convencionais, é proceder de forma correta, é não prejudicar o outro. Ser ético é cumprir os valores estabelecidos pela sociedade em que se vive. Ética profissional é o conjunto de normas éticas que formam a consciência do profissional e representam imperativos de sua conduta. Ter ética profissional significa cumprir com todas as atividades de sua profissão, seguindo os princípios determinados pela sociedade e pelo seu grupo de trabalho. Na concepção de Peter Drucker quanto mais bem sucedido for o administrador maior terá que ser sua integridade. As características que compõem o sistema de valores de um de um profissional ou seus traços de comportamento e personalidade específicos à função a qual desempenha, de acordo com Martinelli e Almeida (1997) podem ser definidos pelas necessidades pessoais, influência familiar e formação religiosa. Porém é importante salientar que a ética nas organizações envolve questões de lucro, competição e justiça. Ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, suscetível à percepção do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto. Moral é o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. Para Maximiano ética é a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição e avaliação de pessoas e organizações, dispondo sobre o comportamento adequado e os meios de implementá-lo. Lewicki, Hiam e Olander (1996) propõem uma matriz para análise dos comportamentos éticos e legais, que apresentam quatro possibilidades, a saber: » Comportamentos nem éticos e nem legais: geralmente, compostos por um conjunto de problemas que tornam as táticas de negociação muito perigosas. 39 COMO NEGOCIAR │ UNIDADE II » Comportamentos éticos, porém não legais: neste caso, segundo os padrões éticos da coletividade, considera-se o comportamento como ético; porém, não sendo legal, está sujeito às punições previstas pela lei. » Comportamentos considerados legais, porém, não éticos: embora aceitos pela legislação, esses comportamentos podem ser rejeitados pelos padrões éticos, de acordo com os valores das pessoas envolvidas. » Comportamentos legais e éticos, segundo os padrões do grupo: os comportamentos são considerados aceitáveis pelo grupo, tanto em termos éticos, quanto em termos legais; os comportamentos são considerados como ótimos, e são aqueles que devem ser buscados constantemente pelo grupo. Ética é a parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social. (HOUAISS, 2001, p.67) A ética é um elemento fundamental nas negociações, por isso, ela deve ser considerada por todos, independentemente de sua dimensão. “Os dilemas éticos presentes nos contextos empresariais são vistos como objeto de estudo provocativo e desafiador para os pesquisadores, especialmente numa área como a administração, historicamente acusada de comportamentos pouco éticos, guiados, exclusivamente, pela racionalidade instrumental”. (SOLOMON, 1991). O campo de ética na negociação é caracterizado por uma fértil, porém controversa discussão teórica. Por exemplo, Lax e Sebenius (1986, p. 11) definem negociação como “um processo interativo, potencialmente oportunista, pelo qual duas ou mais partes, com algum conflito aparente, procuram um melhor resultado por meio de uma ação conjunta do que se a tomassem isoladamente”. Ocorre que algumas formas de engano são tão frequentes no cotidiano que são vistas como uma característica intrínseca da negociação. Alguns estudiosos afirmam que a própriadinâmica dos processos de negociação é inerentemente contraditória ao pensamento ético. White (1980,p. 928) afirma que “esconder a verdadeira posição, induzir a outra parte em erro [...] é a essência da negociação”. A existência de uma ética específica, inerente ao mundo de negócios, tal como defendido por Carr (1968), é também negada pela maioria dessas escolas (KOEHN, 1997). Outros autores, de orientação idealista, acreditam que princípios universais, como honestidade 40 UNIDADE II │ COMO NEGOCIAR absoluta, podem estar presentes em qualquer negociação. (NYERGES, 1987; PROVIS, 2000; REITZ et al., 1998). A negociação é uma interação socialmente motivada entre indivíduos ou grupos com interesses diferentes. Primeiramente a busca pela conciliação desses interesses gerais sem contrapor os interesses individuais pode fazer com que as partes possam sentir-se tentadas a adotar um comportamento defensivo, furtivo e em alguns casos, manipulador e desonesto. Segundo, porque é uma prática central ao funcionamento de todas as interações humanas (BELLENGER, 1998). No entanto, apesar do reconhecimento da importância da negociação como área rica em dilemas éticos, poucos têm sido os estudos que procuram compreender como o sistema de valores e a ideologia ética de um negociador influenciam o seu julgamento ético de Peppett (2002) argumenta que negociação honesta não é, por definição, negociação, uma vez que o engano e a mentira são inerentes ao processo de troca. No entanto, apesar de vários autores reconhecerem que mentira e engano são práticas comuns e eficazes (CARSON 1993; DEES; CRAMTON, 1991; STRUDLER, 1995), não significa que esses comportamentos característicos de uma negociação sejam considerados eticamente aceitáveis pela maioria das escolas de pensamento ético. A existência de uma ética específica, inerente ao mundo de negócios, tal como defendido por Carr (1968), é também negada pela maioria dessas escolas (KOEHN, 1997). Outros autores, de orientação idealista, acreditam que princípios universais, como honestidade absoluta, podem estar presentes em qualquer negociação. (NYERGES, 1987; PROVIS, 2000; REITZ et al., 1998). Apesar de reconhecerem que comportamentos oportunistas e enganosos podem trazer vantagens de curto prazo e que em algumas situações uma negociação baseada em princípios éticos pode colocar os negociadores numa posição de vulnerabilidade perante os seus oponentes, utilizar de má fé evita consequências de custos muito elevados, como por exemplo: » a rigidez em futuras negociações; » a destruição da relação com o oponente; » a criação de uma reputação negativa; » a perda de oportunidades. 41 CAPÍTULO 3 Negociação sob pressão Inteligência emocional Um dos fatores que mais interferem no campo da negociação é a maneira de como expressamos nosso pensamentos e sentimentos. Salovey e Mayer (2000) definiram inteligência emocional como “a capacidade de perceber e exprimir a emoção assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros.” Os autores dividiram-na em quatro domínios: » Percepção das emoções: inclui habilidades envolvidas na identificação de sentimentos por estímulos, como a voz ou a expressão facial. A pessoa que possui essa habilidade identifica a variação e mudança no estado emocional de outra. » Uso das emoções: implica na capacidade de empregar as informações emocionais para facilitar o pensamento e o raciocínio. » Entender emoções: é a habilidade de captar variações emocionais nem sempre evidentes; » Controle e transformação da emoção: constitui o aspecto mais facilmente reconhecido da inteligência emocional, é a aptidão para lidar com os próprios sentimentos. Goleman (1998) definiu inteligência emocional como “a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos.” Para o autor, a inteligência emocional é a maior responsável pelo sucesso ou insucesso dos indivíduos. Como exemplo, recorda que a maioria das situações de trabalho é envolvida por relacionamentos entre as pessoas com qualidades de relacionamento humano, como afabilidade, compreensão e gentileza têm mais chances de obter o sucesso. Segundo ele, a inteligência emocional pode ser categorizada em cinco habilidades: » Autoconhecimento Emocional: reconhecer as próprias emoções e sentimentos quando ocorrem. 42 UNIDADE II │ COMO NEGOCIAR » Controle Emocional: lidar com os próprios sentimentos, adequando-os a cada situação vivida. » Automotivação: dirigir as emoções a serviço de um objetivo ou realização pessoal. » Reconhecimento de emoções em outras pessoas: reconhecer emoções no outro e empatia de sentimentos. » Habilidade em relacionamentos interpessoais: interação com outros indivíduos utilizando competências sociais. Alguns autores têm contribuído para uma compreensão mais alargada da inteligência, propondo o seu desdobramento em diversos aspectos. A teoria de Sterneberg (1988) sugere a interação de três aspectos da inteligência: o processamento interno de informação, a capacidade de adequar competências individuais às condições do meio envolvente, e a capacidade para lidar com situações inesperadas. Na concepção de Gardner (1983) é dispensando menos atenção aos processos mentais envolvidos e distinguindo sete tipos de inteligência a que chamou inteligências múltiplas: » lógico-matemática; » linguística; » corporal sinestésica; » espacial; » musical; » interpessoal; » intrapessoal. Apesar das diferenças entre as perspectivas dos diversos autores, parece convergente a ideia de que a inteligência emocional integra uma dimensão interna (associada à compreensão das emoções e ao seu controle) e uma dimensão externa (relativa à compreensão e regulação das emoções dos outros). Quanto ao papel que a inteligência emocional pode desempenhar em processos negociais, já existe um conjunto alargado de autores que defendem o efeito decisivo que as emoções podem ter nos resultados alcançados em contextos de negociação (THOMPSON; NADLER; KIM, 1999). http://pt.wikipedia.org/wiki/Auto-motiva%C3%A7%C3%A3o 43 COMO NEGOCIAR │ UNIDADE II Fisher e Davis afirmam que um bom negociador deve saber “expressar os seus sentimentos de forma apropriada (ao mesmo tempo que) permanece racional em face desses mesmos sentimentos” (FISHER; DAVIS, 1987, p. 118). Numa investigação sobre o impacto das emoções na negociação, Thompson, Medvec, Seiden e Kopelman (2000) identificaram três estilos emocionais distintos: O Negociador Racional: é aquele que não expressa as suas emoções, pois acredita que poderia demonstrar um sinal de fraqueza e que exprimir emoções o tornaria mais vulnerável. A ausência ou repressão das emoções é consistente com os princípios da racionalidade. Nierenberg refere que “as pessoas num estado emocional (positivo ou negativo) não querem pensar, e estão particularmente suscetíveis ao poder de sugestão de um oponente astucioso” (NIERENBERG, 1968, p. 46). Também Fisher, Ury e Patton (1991) concordam com esta posição, defendendo que as emoções podem conduzir a um impasse ou ao fim da negociação. O Negociador Positivo age da seguinte forma: em vez de suprimir a emoção, esse tipo de negociador acredita que demonstrar emoções positivas pode trazer vantagens. Estudos empíricos confirmaram que a expressão de emoções positivas permite obter melhores resultados (KUMAR, 1997; KRAMER; POMMERSENKE; NEWTON, 1993). Carnevale e Isen (1986) concluíram que a expressão de emoções positivas aumenta a criatividade, levando a soluções inovadoras, torna os indivíduos mais cooperativos, dispostos a partilhar mais informação, gerando mais alternativas. Entretanto, a expressão de emoções pode ter consequências negativas. Os negociadores que demonstram sentimentos positivos em regra prestam menos atenção aos argumentos daoutra parte, o que os torna vulneráveis à utilização de táticas fraudulentas por parte de negociadores competitivos. Quanto ao negociador negativo tem por característica a expressão de sentimentos negativos, como a raiva, a impaciência, a indignação ou o ódio. Este tipo de negociador utiliza a emoção para tentar coagir a outra parte a ceder às suas vontades. Quando existe uma expressão verdadeira de sentimentos negativos, o comportamento do negociador irá afetar a relação que possui com a outra parte, levando muitas vezes à retaliação, o que resulta na escalada do conflito (ALLRED, 1999; BIES; TRIPP, 1998) e, consequentemente, a negociações pouco produtivas. Allred et al. (1997), concluíram que, quando os negociadores expressam sentimentos negativos em relação à outra parte, tem resultados piores do que os que expressam 44 UNIDADE II │ COMO NEGOCIAR emoções positivas. Porém, a expressão de sentimentos negativos pode funcionar também como alerta de que existe um problema, motivando as partes a enfrentar esse problema e a procurar uma solução que o resolva (DAVIDSON; GREENHALGH, 1999). A utilização da emoção pode ser verdadeira ou simplesmente uma tática para conseguir alcançar os objetivos esperados. Barry (1999) questionou um conjunto de negociadores sobre a eficácia e a pertinência da manipulação de emoções, como por exemplo, a antipatia, a raiva, a simpatia, o entusiasmo ou a impaciência como tática negocial. Os resultados do estudo sugerem que os negociadores consideram eticamente mais aceitável a utilização de emoções premeditadas como tática do que qualquer outro tipo de estratégia de dissimulação, como a transmissão de informação falsa ou o não cumprimento de promessas. Além disso, os negociadores revelaram também maior tolerância ética à utilização de emoções positivas do que no caso de emoções negativas. No âmbito da dimensão interpessoal da inteligência emocional, destaca-se, nos estudos sobre negociação, o conceito que muitos autores definem como a percepção da perspectiva contrária, que pode ser igualada ao conceito de empatia, nos termos propostos por Salovey e por Goleman. A empatia, especialmente na preparação da negociação, permite ao negociador, por exemplo, estar apto a responder eficazmente aos seus argumentos. Sebenius (2001) argumenta que uma das principais causas para o insucesso na negociação é a negligência dos pontos de vista contrários. Segundo o autor, “perceber os interesses e pontos de vista do seu oponente, construindo uma solução em que a outra parte se reveja, é a chave para a criação conjunta de valor” (p. 88) e consequentemente para o êxito de uma negociação. Neale e Northcraft (1991) definem a percepção da perspectiva contrária como “a capacidade de um negociador compreender o ponto de vista da outra parte e consequentemente poder prever as suas estratégias e táticas negociais” (p. 174). Portanto, a capacidade de percepção influencia não só os resultados como também o processo de negociação, nomeadamente através do aumento das concessões pelo seu oponente (NEALE; BAZERMAN, 1983). Kemp e Smith (1994) concluíram ainda que os indivíduos com maior capacidade de percepção da perspectiva contrária conseguem melhores resultados globais. Atualmente, estudos sobre inteligência emocional apresentam um conjunto significativo de materiais teóricos, caminhando rapidamente no sentido da formalização e do consenso acerca das componentes que constituem o conceito. 45 COMO NEGOCIAR │ UNIDADE II Os trabalhos de natureza empírica estão ainda limitados pela inexistência de escalas apropriadas, uma vez que as existentes ainda se encontram em desenvolvimento ou em processo de validação (MAYER et al., 2001). Segue artigo interessante do autor Ernesto Artur Berg sobre o nosso tema Negociação: habilidade essencial a todas as profissões Prepare-se antecipadamente para a negociação Improvisações, decisões de última hora e chutes são os responsáveis por grande parte de “causa mortis” das negociações. A preparação requer: a. um estudo cuidadoso das vantagens e desvantagens do negócio; b. definição clara das necessidades da outra parte e no que você pode satisfazê-la com a sua proposta; c. definição de sua margem máxima e mínima de concessões, isto é, o máximo que você está disposto a ceder e o mínimo que gostaria de ganhar. Abaixo dos limites fixados você provavelmente estará perdendo; d. imaginar possíveis argumentos que o oponente utilizaria contra a sua proposta e. e de como respondê-las. Ao iniciar a reunião, faça um rápido quebra-gelo Inicie falando sobre amenidades (o tráfego, o tempo etc.). Cuidado, no entanto, para não transformar o quebra-gelo num iceberg intransponível, conversando sobre alguns tabus – política, sexo, religião ou futebol – que podem se transformar numa mistura explosiva e dinamitar a negociação, se o outro lado tiver opiniões radicalmente contrárias à suas sobre esses assuntos. É como iniciar o jogo já perdendo de 1 a 0. Será muito difícil, posteriormente, reequilibrar o diálogo. Conheça, portanto, os valores e preferências do seu interlocutor antes de fazer a reunião. 46 UNIDADE II │ COMO NEGOCIAR Descubra o que é realmente importante para o outro Poderá ser preço, qualidade, status, prazo, desconto, imagem outro ponto qualquer. Depois disso, trabalhe em cima dessas expectativas, encaixando suas propostas nas necessidades dele. Procedendo assim, as chances do fechamento de um acordo aumentam enormemente. Mantenha a negociação num clima positivo Pessimismo, mau humor, agressividade, indiferença e atitudes do gênero só dificultam o entendimento e lançam uma atmosfera cinzenta no ambiente. Talvez seja uma estratégia sua provocar esse clima, visando arrancar uma concessão do oponente. Funciona algumas vezes, mas lembre-se do efeito roda-gigante. Poderá estar dando tiro no próprio pé e inviabilizando negociações futuras. Em negociações delicadas, comece pelos assuntos menos polêmicos Comece com os assuntos em que ambos concordem, ou em que as discordâncias sejam mínimas. Depois vá escalonando o grau de dificuldade, até chegar aos itens problemáticos. As concordâncias iniciais ajudam a derreter dissonâncias e facilitam o andamento da reunião. Nunca ceda demasiadamente nem muito rapidamente Do contrário poderá aguçar o apetite do outro negociador e consequentemente, o apetite dele em ganhar mais. Quero frisar que as concessões mais importantes devem ser deixadas, de preferência, por último. Por quê? Simplesmente porque talvez elas nem precisem ser dadas, caso o outro negociador já se mostre satisfeito com o quinhão recebido. Concessões devem ser feitas paulatinamente, passo a passo, para que possam ser apropriadamente debatidas e digeridas de ambos os lados. Deixe sempre muito claras as vantagens de sua proposta Esclareça bem os benefícios que sua proposta trará à outra parte na resolução de seus problemas e dificuldades. Cada um de nós acha que o problema mais importante do mundo parece sempre ser o nosso próprio problema. Logo, sua proposta deve indicar aos outros o caminho da solução desses problemas ou dificuldades, mostrando-lhe como resolvê-los ou como contorná-los. 47 COMO NEGOCIAR │ UNIDADE II Evite fazer perguntas cuja única resposta possível seja SIM ou NÃO “Então, o senhor gostou da nossa proposta?” É uma pergunta suicida. Perceba que a resposta foi encarcerada: só poderá dizer sim ou não. Em vez disso, você poderia perguntar: “Com base nas explicações dadas, como o senhor vê a aplicação de nossa proposta em sua empresa (ou em seu setor)?”. Aqui a resposta não poderá se resumir a um simples sim ou não. A pessoa terá que discorrer sobre o assunto e, à medida que ela for falando, você poderá fazer perguntas adicionais ou esclarecê-la melhor sobre sua proposta. Siga essas duas regras Se estiver vendendo (seja produto, serviço ou ideia), tente fazer com que o acordo seja fechado
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