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09RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO PREÂMBULO PR EÂ M BU LO No início dos anos 70, o Prof. Archibald Cochrane (que inspirou a criação de uma das grandes instituições dedicadas ao desenvolvimento de “guidelines” de orientação clínica - The Cochrane Collaboration) chamou a atenção para o facto de muitos problemas de ineficiência do Serviço Nacional de Saúde britânico dependerem de decisões e práticas pouco fundamentadas, sem suporte em (1)dados de bons ensaios clínicos . Só cerca de 20 anos depois surgiu a “medicina baseada na evidência” e a sua estruturação e valorização crítica do (2)conhecimento médico . Mas a eficiência dos cuidados de saúde não depende apenas de mais e melhores conhecimentos. A capacidade de articular eficazmente saber e (3)práticas clínicas é uma condição determinante para a qualidade dos cuidados . Neste sentido, as “guidelines” podem constituir um instrumento essencial na (4,5)ligação entre a evidência científica e as normas de boa prática . Procurando melhorar a qualidade, a equidade e até a sustentabilidade dos cuidados de saúde, vários países têm promovido o desenvolvimento de (6)“guidelines” de decisão clínica . Estes programas têm dado lugar a projectos nacionais e internacionais, de que são exemplo a National Guideline Clearinghouse, o National Institute for Clinical Excelence, a National Library of Guidelines, a Agence Nationale de l'Accréditation et d'Évaluation en Santé e The Cochrane Collaboration. Na área mais específica da oncologia também se tem notado o progressivo desenvolvimento de linhas de orientação clínica em vários países e instituições, tais como as produzidas pela National Comprehensive Cancer Network, pela British Columbia Cancer Agency ou pela European Society of Medical Oncology. Actualmente, as “guidelines” de decisão clínica começam, efectivamente, a fazer parte da rotina de muitas instituições e serviços. Mas a sua crescente difusão e utilização tem colocado novos desafios. Nem todas as “guidelines” são produzidas de forma criteriosa e fundamentada, nem todas são ajustadas à realidade onde se pretendem implementar e muitas ignoram os custos e a (7 ,8 ,9)sustentabilidade da sua aplicação . Em alguns casos, são até instrumentalizadas para promoção de novos fármacos ou tecnologias, gerando (10)conflitos de interesse a vários níveis . A necessidade de introduzir mecanismos de maior rigor ético e científico na construção das “guidelines” de decisão clínica, justificou a elaboração de (11)princípios orientadores pela própria Organização Mundial de Saúde . Com as novas recomendações, pretende-se que a evidência científica que fundamenta cada opção clínica seja mais cuidadosamente apresentada e que factores de valorização, como a relação custo-benefício, a relevância clínica, o impacto na qualidade de vida dos doentes e as consequências na sustentabilidade do (12,13)sistema de saúde, sejam mais cuidadosamente analisados . Por outro lado, as “guidelines” têm de ser periodicamente revistas e reavaliadas, quer quanto à sua actualização, quer quanto ao impacto real nos resultados dos cuidados (14,15)prestados . Foi neste contexto que, em 2007, a Coordenação Nacional das Doenças Oncológicas, então liderada pelo Dr. Joaquim Gouveia, promoveu a elaboração de “recomendações de diagnóstico e terapêutica”, com a colaboração de especialistas de várias áreas, num projecto multidisciplinar que envolveu várias instituições e regiões do País. Com este primeiro passo, procura-se iniciar um contínuo de discussão crítica das decisões na área da oncologia. Progressivamente, as recomendações deverão ser avaliadas, actualizadas, alargadas e, de acordo com as recomendações internacionais, incluir factores de valorização das opções propostas. De facto, as actuais linhas de orientação clínica ainda não incluem avaliações de RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO PR EÂ M BU LO custo-benefício, nem a quantificação do impacto económico que cada opção pode ter no nosso sistema de saúde. Não se pretende, portanto, que estas linhas de orientação constituam justificação para a introdução ou utilização hospitalar de quaisquer fármacos ou de outros tratamentos. Os critérios de prescrição e de utilização devem ser criticamente avaliados, em cada hospital, pelas Direcções Clínicas, pelas Comissões de Farmácia e Terapêutica e pelos clínicos, tendo em conta as normas e legislação em vigor, particularmente através do Infarmed. Assim, as ”Recomendações Nacionais de Diagnóstico e Terapêutica” que, com este volume dedicado ao cancro do pulmão, devem ser entendidas como um contributo para a boa prática e não como normas únicas ou obrigatórias. Espera-se que constituam um estímulo para a criação e partilha de linhas de orientação clínica de qualidade, nos vários serviços oncológicos do País. A concluir, uma palavra de gratidão e reconhecimento aos especialistas que participaram no grupo de trabalho responsável por este documento de inegável qualidade, sublinhando o empenhamento, dedicação e competência com que o realizaram. Referências 1. Cochrane AL. Effectiveness and Efficiency. Random Reflections on Health Services. London: Nuffield Provincial Hospitals Trust, 1972. 2. Evidence-based medicine. A new approach to teaching the practice of medicine. Evidence-Based Medicine Working Group JAMA. 1992;268:2420-2425. 3. Graham ID, Logan J, Harrison MB et al. Lost in knowledge: time for a map? 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Epidemiology 2007;18: 794–796 Pedro Pimentel Coordenador Nacional para as Doenças Oncológicas RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 09RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO GRUPO DE TRABALHO CANCRO DO PULMÃO Presidente: Secretário: MEMBROS: Fernando Barata Pneumologia Oncológica,CH Coimbra Paulo Costa, Radioterapia CH Barreiro/Montijo, Hospital do Barreiro António Araújo, António Carvalheira, Bárbara Parente, Emanuel Jesus, Fernando Martelo, Francisco Pimentel, Florbela Braga, Lina Carvalho, Maria Luísa Teixeira, Paula Pereira, Paulo Sousa Glória, Pedro Chinita, Pedro Costa, Renato Sotto-Mayor, Teresa Almodôvar, Ulisses Brito, Oncologia Médica - IPO Porto Pneumologia, CH Lisboa Norte - Hospital Pulido Valente Pneumologia Oncológica - CH Vila Nova Gaia/ Espinho Oncologia Médica - IPO Coimbra Cirurgia Torácica, CH Lisboa Central - Hospital de Santa Marta Oncologia Médica, Hospital S. Sebastião - Santa Maria da Feira Farmácia - IPO Porto Anatomia Patológica - Hospitais da Universidade Coimbra Imagiologia - Hospitais da Universidade Coimbra Radioterapia - IPO Lisboa Farmácia, CH Barlavento Algarvio Hospital do Espírito Santo, Évora Pneumologia, Hospital José Maria Grande de Portalegre Pneumologia Oncológica, CH Lisboa Norte, H.Santa Maria, Pneumologia Oncológica - IPO Lisboa Pneumologia - Hospital Central de Faro ÍNDICE 1.Estadiamento Anatomo-torácico 2.Estadiamento Anatomo-extratorácico 3.Estadiamento Fisiológico A.CARCINOMA PULMONAR DE NÃO PEQUENAS CELULAS 1.Cirurgia 2.Radioterapia 3.Terapêutica Sistémica B.CARCINOMA PULMONAR DE PEQUENAS CÉLULAS 1.Cirurgia 2.Radioterapia 3.Terapêutica Sistémica C. TUMORES NEURO-ENDOCRINOS 1.Cirurgia 2.Radioterapia 3.Terapêutica Sistémica 1.CPNPC 2.CPNPC 3.CPNPC – Estádio IIIA e IIIB 4.CPNPC – Estádio IV 5.CPNPC – Estádio IV por Metástase Única 6. CPPC Anexo 1. Níveis de evidência e graus de recomendação Anexo 2. Classificação TNM Anexo 3. Performance Status Anexo 4. Anatomia Patológica Anexo 5. Normas de Boas Prática no Tratamento do Cancro Pulmão Anexo 6. Terapêuticas Endoscópicas Anexo 7. Qualidade de Vida do Doente Oncológico Anexo 8. Fármaco-economia Anexo 9. Custos das Terapêuticas Utilizadas 02.DIAGNÓSTICO 01.INTRODUÇÃO 05.SEGUIMENTO 73 03.ESTADIAMENTO 31 17 13 04.Abordagens Terapêuticas 41 32 35 37 06.RESUMOS ESQUEMÁTICOS 77 07.ANEXOS 91 08.REFERÊNCIAS 123 65 65 66 67 70 70 70 71 42 42 44 50 79 81 83 85 87 89 92 94 97 98 105 109 112 114 116 12 01INTRODUÇÃO 13 0 1 IN TR O D U Ç Ã O O cancro do pulmão é a primeira causa de morte por doença oncológica nos (1) (2)países ocidentais . Estima-se em 41,19 / 100.000 habitantes a incidência no homem e de 11,04 por (5)100.000 habitantes na mulher a incidência de cancro do pulmão em Portugal . Ocupa o quarto lugar, atrás dos cancros da mama feminina, da próstata e do (4)cólon. Por cada ano, a incidência aumenta 0.5 % . Na mortalidade as taxas são de 37,23/100.000 habitantes no homem e de 7,9 /100.000 habitantes nas mulheres, o que significa que os mais de 2800 óbitos/ano o colocam como a segunda causa de morte, após o cólon, por doença oncológica (5)em Portugal . Embora a idade mediana de diagnóstico do cancro do pulmão se cifre nos 69 anos, cerca de 1/3 destes ocorre antes dos 65 anos, contribuindo para uma significativa diminuição da esperança de vida global e dos anos de vida saudável. As doenças malignas respiratórias representam a nível hospitalar um peso significativo, não só pelo número de doentes que os hospitais tratam mas também pelo número de dias de internamento. A actividade hospitalar por esta patologia traduziu-se em 2005 por 4815 episódios de internamento, 59759 dias (6)de internamento com uma demora média de 12,4 dias . Estas recomendações irão permitir uma melhor abordagem da doença, de acordo com a boa prática médica e a evidência científica actualizada, o que não deixará de se repercutir muito favoravelmente na qualidade do manejo global dos doentes, bem como uniformizar as atitudes de diagnóstico e tratamento, tornando possível a avaliação de resultados através de auditorias internas ou externas. Serão um elemento fundamental no processo de decisão clínica, levando em consideração as preferências e valores dos doentes, experiência e valores dos clínicos e os recursos disponíveis. As decisões terapêuticas deverão ser tomadas em equipas multidisciplinares. As unidades prestadoras de cuidados oncológicos devem interagir entre si, de modo estruturado, dada a vastidão de conhecimentos e de técnicas associadas ao (7) diagnóstico e tratamento do doente oncológico . 14 As sociedades científicas têm, na última década, estimulado as reuniões de consenso e divulgado os seus resultados. Com base na vasta experiência publicada foi possível elaborar as recomendações que se seguem. Estas, em todos os casos em que há dados disponíveis, fundamentam-se em níveis de (7)evidência científica (Anexo 1) . Factores de risco O tabagismo é o principal factor de risco para cancro do pulmão. O risco de cancro do pulmão em fumadores é de 15 vezes superior ao dos não fumadores. A probabilidade de desenvolver carcinoma pulmonar aumenta com o número de cigarros fumados e com a duração do hábito, sendo tanto mais elevado quanto mais precoce a idade de início. Nos que deixam de fumar, o risco de cancro começa a diminuir imediatamente, mas só após 20 anos de abstinência tabágica se aproxima dos não fumadores. O tabagismo passivo é um factor de (4)risco com importância crescente . Estima-se que, depois do fumo do tabaco, a exposição a cancerígenos ocupacionais seja o maior responsável pelo cancro do pulmão. Factores conhecidos implicados incluem o arsénio, asbestos, crómio, níquel, radão e (8) (9) (10)hidrocarbonetos aromáticos policíclicos . Algumas doenças respiratórias parecem predispor ao cancro do pulmão, como a doença pulmonar obstrutiva, a tuberculose e todas as patologias que cursam com fibrose pulmonar. A infecção por alguns vírus (papiloma vírus, Epstein- Barr) pode estar envolvida na carcinogénese, possivelmente por transmissão de (12) (13)oncogenes víricos para as células hospedeiras . Rastreio Nos anos 70 e 80 do século XX, foram efectuados vários rastreios, em grupos de risco e com recurso à radiografia do tórax e citologia da expectoração. Estes, não originaram qualquer redução da taxa de mortalidade nos doentes avaliados, comparativamente com o grupo controlo. Por tal motivo e no presente, não se RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 15 0 1 IN TR O D U Ç Ã O recomenda a radiografia do tórax e a citologia da expectoração para o rastreio do (14) (15) (16)cancro do pulmão . O mau desempenho da radiografia do tórax neste contexto levou os investigadores a avaliar outros meios de imagem nomeadamente a tomografia computorizada (TC) espiral do tórax de baixa dose. Vários ensaios efectuados, de que se destaca o International Early Lung Cancer Action Program (I- ELCAP), utilizando este exame em grupos de risco, vieram demonstrar o potencial da TC em revelar mais tumores e em detectar estes tumores em fases mais precoces do que o que era possível com a radiografia do tórax. A TC embora com o potencial de ser uma técnica de rastreio efectiva não provou até ao presente que a sua (17) (18)utilização reduzisse a taxa de mortalidade . Deste modo, no actual estado da arte não se aconselha o rastreio do cancro do pulmão por TC como prática clinica corrente. No entanto, no contexto de risco elevado, recomenda-se que os indivíduos participem em ensaios clínicos. 16 17 02DIAGNÓSTICO O diagnóstico e o estadiamento são fundamentais. Só assim podemos saber o tipo histológico e o grau de extensão anatómica da doença e o estado fisiológico do doente, tendo em vista a melhor terapêutica e prognóstico. A metodologia diagnóstica deverá ser rápida, menosagressiva e onerosa, mas conclusiva. Abordamos, de seguida, as várias técnicas diagnósticas. A sequência de estudos a realizar está dependente da anamnese, dum cuidadoso exame físico, dos antecedentes pessoais com atenção às co-morbilidades, do prévio estudo analítico e imagiológico com especial realce para a radiografia postero-anterior e de perfil e frequentemente com o conhecimento da TC torácica. 1. Citologia da expectoração Particularmente útil na investigação de doentes muito idosos, debilitados, com patologia impeditiva (ex. enfarte agudo do miocárdio, DPOC com grandes bolhas e má função respiratória) para as outras técnicas diagnósticas invasivas. As amostras mais rentáveis, quer espontâneas ou induzidas por soro hipertónico, são as recolhidas das primeiras expectorações profundas matinais, (67)em 3 a 5 dias consecutivos . O achado de uma citologia de expectoração positiva, em especial num doente com radiografia do tórax normal implica sempre um estudo detalhado da cavidade oral, faringe, laringe e esófago, locais origem da neoplasia em cerca de (70)32% destes casos . À citologia da expectoração falta o valor localizador da lesão. Embora com um custo menor do que qualquer outra técnica invasiva, se estas amostras não forem interpretadas por citologistas experientes, capazes de transmitirem um diagnóstico afirmativo claro, a citologia como técnica diagnóstica, só duplica outras técnicas subsequentes e obrigatórias. Recentemente, estudos de biologia molecular, de microscopia e de citometria 0 2 D IA G O N Ó ST IC O 18 de fluxo foram desenvolvidos procurando, com uso de anticorpos monoclonais dirigidos a antigénios tumorais, identificar alterações imunológicas precoces (23)ou alteração do ADN das células epiteliais brônquicas . 2. Broncofibroscopia (BF) É provavelmente a técnica mais utilizada no diagnóstico do carcinoma pulmonar. Os broncoscópios podem ser rígidos ou flexíveis estando disponíveis numa variedade de diâmetros. Para o diagnóstico os broncofibroscópios são os mais populares e largamente utilizados. A broncoscopia rígida está reservada para certos tipos de tumor nalgumas localizações anatómicas. Com os broncofibroscópios mais modernos atingimos elevada rentabilidade diagnóstica, escassa percentagem de complicações, excelente tolerância e (20)(25)segurança . Globalmente,a BF apresenta uma taxa de complicações de (28)0,12% e uma mortalidade dependente de 0,04% . Em todos os doentes, ocasiona um aumento temporário da obstrução brônquica a qual se reflecte numa hipóxia ligeira e mais raramente numa hipercapnia. Em doentes identificados como de risco, recomenda-se a sua monitorização com oximetria de pulso e a administração de oxigénio por sonda. A monitorização cardíaca deve fazer-se em todo o doente de risco cardíaco elevado e o equipamento de (22) (42)ressuscitação deve estar operacional e disponível . A rentabilidade diagnóstica depende da localização e distribuição do tumor, mas também da experiência do broncoscopista, da cooperação do doente, da presença de hemoptises, do número de biopsias, do conhecimento anterior da lesão por TC e ainda do processamento e interpretação das amostras. Mais de 70% dos carcinomas pulmonares são visíveis pela BF. Nestes, com endoscopistas experientes, combinando 3 a 5 biopsias com a citologia do aspirado e/ou escovado a rentabilidade diagnóstica ultrapassa, em regra, os 90%. Os sinais endoscópicos de carcinoma são muito variáveis, estendendo-se desde uma simples perda de brilho numa pequena zona da mucosa brônquica a RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 19 (28) (30)uma típica massa vegetante . Classicamente, no carcinoma pulmonar referenciam-se três tipos de lesão típica ou sinais directos de tumor: a massa (uma formação com protusão nítida no lúmen brônquico, destacando-se da parede, habitualmente de superfície mamilonada ou granulosa, coloração irregular com zonas pálidas ou brancas, alternando com áreas hipervascularizadas); a infiltração (lesão mais ou menos extensa, sem delimitação nítida, com mucosa irregularmente grossa e hipervascularizada, por vezes granulosa e mamilonada) e a obstrução. Contudo muitas outras cambiantes endoscópicas ou sinais indirectos (edema ou fragilidade vascular tópica, congestão ou inflamação localizada, estenose, rigidez brônquica, alargamento dos esporões e compressão extrínseca) podem corresponder a um carcinoma brônquico pelo que, em especial em doentes de risco, estas lesões devem ser objecto de investigação por aspirado e/ou (25) (28) (30)escovado e/ou biopsia . Em tumores centrais endoscopicamente visíveis, encontramos uma rentabilidade diagnóstica total de 91% com 94% nas lesões centrais e 83% nas (77)lesões periféricas . A rentabilidade diagnóstica em carcinomas periféricos, endoscopicamente não visíveis, cifra-se entre os 30 a 70%, dependendo das várias técnicas subsidiárias utilizadas. Lesões difusas como a linfangite carcinomatosa e o carcinoma bronquioloalveolar são mais facilmente diagnosticadas que pequenos nódulos (69)de diâmetro médio < 20 mm . 2.1. Aspirado e escovado brônquico Com a broncofibroscopia temos acesso fácil às secreções traqueobrônquicas que aspiradas permitem a identificação de células neoplásicas. Quando na presença duma alteração endobrônquica sugestiva de carcinoma, o aspirado brônquico tem uma rentabilidade diagnóstica de 80%. Em lesões periféricas, a rentabilidade é inferior a 40%. Recomenda-se, quando necessário, a instilação 20 0 2 D IA G O N Ó ST IC O sobre a área suspeita de 5-10 ml de soro procurando obter material para estudo (57) (76)citológico . A escovagem brônquica é especialmente utilizada na colheita de amostras para estudo citológico de uma lesão central com afectação predominantemente intrabrônquica ou submucosa. Numa lesão periférica, recomenda-se a escovagem preferencial do brônquio de drenagem da lesão quando identificada por fluoroscopia ou, na ausência de controlo fluoroscópio, a escovagem dos vários brônquios segmentares de drenagem da área presumivelmente lesada, previamente visualizada em estudo imagiológico. A sua rentabilidade diagnóstica isolada é de 94% para os tumores visíveis (57) (77) (83)endoscopicamente e de 78% para os tumores periféricos . Como (76)complicação frequente, pode ocorrer uma ligeira hemorragia . 2.2. Biopsia brônquica A biopsia brônquica apresenta uma rentabilidade isolada que oscila entre os (38)70% e 97% . A taxa mais elevada surge, naturalmente, no tumor visível como massa endobrônquica. O tamanho da maioria das biopsias obtidas por BF varia entre os 2 e os 4 mm. O local das biopsias é condicionado pela presença de sinais directos e/ou indirectos de tumor. Recomenda-se a realização de 3-5 biopsias, (28) (70) (76)evitando, na área lesada, as zonas necróticas ou hipervascularizadas . É recomendada a realização de biopsias da mucosa brônquica a menos de 2 cm da carina, mesmo em doentes com mucosa aparentemente normal, pois estas biopsias revelam infiltração tumoral em 10% destes doentes com tumor primitivo mais periférico. Também, em especial nos doentes com indicação cirúrgica, todos os esporões lobares proximais à lesão deverão ser avaliados, pois embora macroscopicamente normais deveremos excluir uma infiltração (71) (86)neoplásica submucosa . RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 21 2.3. Lavado bronquioalveolar O papel principal do lavado nos doentes com carcinoma pulmonar é no diagnóstico das infecções oportunistas associadas à quimioterapia. Pode ser útil no diagnóstico, manifestando as mais altas taxas de rentabilidade, na doença neoplásica difusa como a disseminação metastática, a (31) (48) (86)linfangite carcinomatosae o carcinoma bronquioloalveolar . Em amostras correctamente processadas e interpretadas o estudo citológico (48)mostra uma correlação superior a 80% com o estudo histológico . A presença de aneuploidia celular no lavado tem-se mostrado altamente específico para a (23)presença de malignidade pulmonar . 2.4. Biopsia pulmonar transbrônquica A biopsia pulmonar transbrônquica por fórceps está especialmente indicada na doença parenquimatosa difusa, como a linfangite e a nodulação múltipla, onde atinge rentabilidade entre 60 e 84%, independentemente da sua execução com (33) (75)ou sem controlo fluoroscópio . Em lesões pulmonares focais periféricas, a rentabilidade está dependente do controle fluoroscópio, do tamanho da lesão, do número de biopsias efectuadas e do grau de inflamação peritumoral, variando entre 33% e 60%. A abordagem óptima das lesões nodulares periféricas deverá fazer-se com controlo TC ou fluoroscópio, se possível um fluoroscópio biplano ou no caso de um fluoroscópio uniplano rodando o braço do aparelho ou a mesa do paciente. A maior rentabilidade nestas lesões resultará da utilização conjunta do controle biplano do fluoroscópio e da (37)execução sobre a lesão de biopsia + escovagem + lavado broncoalveolar . As complicações mais frequentes da biopsia pulmonar transbronquica são o pneumotórax, que se resolve habitualmente sem drenagem torácica, e a (33) (40) (77)hemoptise de pequeno volume . bronquioalveolar 22 0 2 D IA G O N Ó ST IC O 2.5. Punção-aspiração transbrônquica Muitos carcinomas pulmonares apresentam-se como infiltração submucosa e envolvimento peribrônquico o qual se reflecte endoscopicamente como compressão extrínseca e estenoses brônquicas concêntricas. Muitas vezes vemos um apagamento das marcas de uma mucosa normal, substituída por uma área tecidular mais dura e fixa coberta por uma rede fina de neovasos (9) (50)ingurgitados . A rentabilidade diagnóstica da biopsia por fórceps nestas áreas é baixa, porque não conseguimos obter amostras tecidulares das camadas submucosas ou peribrônquicas realmente atingidas no processo neoplásico. A punção-aspirativa transbrônquica por agulha, inicialmente apresentada por Schieppati e mais tarde adaptada por Wang para utilização com o broncofibroscópio, está particularmente indicada no estudo destas lesões. Implica naturalmente um perfeito conhecimento da anatomia da árvore (33) brônquica e da sua relação com as várias estruturas mediastínicas adjacentes (37) (40). Muitos autores recomendam o conhecimento imagiológico prévio da área lesada por tomografia computorizada. Nos carcinomas peribrônquicos e submucosas a rentabilidade isolada da biopsia por fórceps não ultrapassa os 55% enquanto a biopsia-aspirativa por agulha atinge os 71%. A combinação das duas técnicas diagnostica 90% dos carcinomas e, quando se associa a escovagem dessa área, a rentabilidade fixa-se nos 97%. O número óptimo de passagens biopsicas aspirativas não é consensual (três para a maioria dos autores), mas uma maior rentabilidade estará mais directamente relacionada com o processamento imediato da amostra por um citopatologista experiente, (33) (34) (70) (91)que com o número de biopsias . Outra utilização da punção-aspirativa transbrônquica, por agulha, é no estudo dos tumores periféricos. A rentabilidade para lesões com menos de 20 mm de diâmetro é idêntica à da biopsia transbrônquica por fórceps (< 35%) mas para lesões superiores a 20mm de diâmetro a rentabilidade aumenta de 52% para 76% quando preferimos a punção transbrônquica por agulha com controle RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 23 (70)fluoroscópio . Esta técnica tem particular interesse no estudo das adenopatias mediastínicas previamente identificadas em estudos imagiológicos. Para o estudo das adenopatias subcarinais, a punção-aspiração transbrônquica permite, em centros experientes, o adequado estadiamento mediastínico em 85% dos doentes, evitando em muitos casos a realização da mediastinoscopia ou (86) (88) (93)mediastinotomia . Mesmo em carinas de aspecto normal mas com evidência imagiológica de lesão subcarinal, a biopsia evidenciou lesão tumoral em mais de 50% dos casos. Quando da realização da broncofibroscopia, em todos os doentes com tumor endobrônquico e carina alargada e/ou demonstração tomodensitométrica de adenopatia subcarinal alargada, recomenda-se a execução transcarinal duma biopsia-aspirativa transbrônquica (58) (86) (88). Disponíveis nos tamanhos 19G a 22G, relatam-se como complicações o pneumotórax, a hemoptise, o hemomediastino e ocasionais passagens da (86)agulha através da parede do broncofibroscópio . 3. Punção e Biopsia Transtorácica 3.1.Punção-aspiração transtorácica A técnica executada com anestesia local, sob controlo fluoroscópio, ecotomográfico ou tomodensitométrico, apresenta escasso desconforto para o doente com elevada rentabilidade diagnóstica. É o procedimento de eleição para o estudo de lesões parenquimatosas periféricas nomeadamente em (68) (83)nódulos suspeitos a partir de 8 mm de diâmetro . A sensibilidade (86)diagnóstica global, excede os 90% mesmo em pequenas lesões . Os factores com influência na rentabilidade são o tamanho da lesão e a distância à parede apresentando as melhores taxas as lesões entre 20mm e 60mm, (74)próximas da parede torácica . Em grandes massas pulmonares escavadas, com 24 0 2 D IA G O N Ó ST IC O suspeita de áreas neuróticas, a punção-aspiração deverá ser feita à periferia em (74) (94)área tecidular não-necrótica . A punção-aspiração transtorácica pode ser executada pelo método cortante ou aspirativo. A opção aspirativa, utiliza agulhas ultrafinas (20-22G). Embora com uma reduzida taxa de complicações, o aspirado só permite estudo citológico preferencialmente com um citopatologista experiente, sendo frequente a comprovação da malignidade mas impossibilita a identificação histológica. 3.2. Biopsia transtorácica A opção cortante utiliza agulhas 16-18G em lesões intra-parenquimatosas e 14G em massas de base pleural, permitindo que o material seja estudado citohistológicamente com a consequente identificação patológica. É o diâmetro da agulha, o factor mais directamente relacionado com a taxa de complicações. A maioria, ocorrem em doentes com DPOC, doença fibrótica difusa ou enfisema bolhoso, quando a lesão tem uma localização profunda (> 30mm da parede) no parênquima, quando a lesão mostra áreas de cavitação, quando são necessárias múltiplas passagens e quando o operador é (70) (74)inexperiente . As complicações mais comuns são o pneumotórax que ocorre em 7 a 35% dos casos necessitando de drenagem torácica em 2 a 10%. A hemoptise surge em 5 a 20% dos casos e é habitualmente de pequeno volume. A mais séria complicação, embora rara, é a disseminação e implantação de (70) (93)células neoplásicas no trajecto da biopsia . Alguns autores têm também utilizado esta técnica na abordagem de lesões centrais, justa mediastínicas, peri-orgãos vitais, mantendo boa sensibilidade (86)diagnóstica sem significativo aumento das complicações . RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 25 4. Sonografia endobrônquica e sonografia endoesofágica A sonografia endobrônquica adapta um transducer, inserido via broncofibroscópio nos brônquios a estudar, permitindo detectar e localizar lesões extra-brônquicas. Estudos preliminares têm demonstrado elevada capacidade na identificação de estruturas mediastínicas incluindo grandes vasos, esófago e adenopatias. A identificação de adenomegálias e da sua relação com a via aérea têm conduzido a uma melhoria diagnóstica de técnicas (43) (45) (87)como a punção-aspirativa transbrônquica . A sonografia endoesofágica permite oestudo do mediastino posterior e inferior, em especial as adenopatias para-esofágicas e massas com extensão retro-traqueal. 5. Toracocentese, biopsia pleural e toracoscopia O derrame pleural é frequentemente a primeira manifestação e fonte de diagnóstico de carcinoma primitivo brônquico. Habitualmente, a comprovação neoplásica pleural indica uma fase avançada da doença, simbolizando um mau (44)(70)prognóstico e uma esperança de vida inferior a 12 meses . O adenocarcinoma é o tipo histológico que com mais frequência envolve a pleura, devido à sua localização periférica e tendência à disseminação por (72) (73)contiguidade . Um derrame é diagnosticado como neoplásico quando células malignas são citologicamente encontradas no líquido pleural ou identificadas em fragmentos tecidulares pleurais obtidos por biopsia pleural (70) (83)cega, toracoscopia ou toracotomia . Certos derrames podem surgir em doentes com carcinoma pulmonar sem invasão pleural comprovada. Designados paramalignos, podem surgir secundários a obstrução linfática, a atelectasia por obstrução brônquica, a (72) (73)pneumonia ou a insuficiência cardíaca congestiva . 26 0 2 D IA G O N Ó ST IC O 5.1. A citologia do liquido pleural é, como exame diagnóstico, mais sensível que a biopsia pleural cega já que as metástases pleurais têm habitualmente uma disseminação multifocal. Com fins diagnósticos, a citologia é positiva em 60 a 75% nos doentes com carcinoma pulmonar. A rentabilidade da citologia aumenta (5-10%) com a repetição da técnica. Determinadas características do líquido pleural estão directamente relacionadas com uma maior rentabilidade das técnicas diagnósticas como um pH inferior a 7.30, uma glicose inferior a 60 (37) (72) (73)mg/dl e uma LDH superior a 1000 U/L . 5.2. A biopsia cega da pleura parietal, realizada com a agulha de Abrams ou de Cope, tem uma rentabilidade isolada de 40 a 60%. Executada na maioria dos centros simultaneamente com o estudo citológico do líquido, mostram em conjugação rentabilidades de 65 a 75%. Também a repetição da biopsia pleural pode aumentar a rentabilidade para valores superiores a 80%. A ecotomografia torácica permite identificar com facilidade massas ou implantes pleurais onde, (58) (72) (73)sob orientação, a biopsia pleural atinge rentabilidades superiores a 70% . 5.3. A toracoscopia médica ressurgiu nos últimos 20 anos, como uma excelente técnica diagnóstica e terapêutica pleural, devendo-se tal a uma (26)substancial evolução da tecnologia endoscópica e de anestesia local . Cerca de 20 a 27% dos derrames pleurais permanecem sem diagnóstico depois do (26) (29)estudo citológico do liquido e histológico da biopsia pleural cega . A toracoscopia, permite a inspecção e a biopsia, sob visão directa de qualquer lesão suspeita. No diagnóstico de carcinoma, a toracoscopia mostrou uma sensibilidade de 94%, uma especificidade de 100% e um valor preditivo (26) (56)negativo de 93% . Porque a metastização pleural de carcinoma pulmonar ocorre inicialmente a nível das pleuras diafragmática e mediastínica, alguns autores recomendam a toracoscopia na avaliação imediata a uma citologia (56)negativa . RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 27 6.Cirurgia torácica video-assistida Recentes avanços no equipamento cirúrgico endoscópico, na tecnologia vídeo e um apuramento na técnica cirúrgica, conduziram à expansão da toracoscopia médica, emergindo a cirurgia torácica video-assistida como uma alternativa cirúrgica diagnóstica à toracotomia clássica. Menos invasiva, permite, para além do estudo pleural, biopsias de lesões pulmonares e massas mediastínicas com significativa menor morbilidade, menos custos e um tempo menor de (12) (51)internamento . Como técnica cirúrgica requerendo anestesia geral, é imprescindível uma correcta avaliação clínico-fisiológica prévia, bem como um actualizado estudo imagiológico torácico por tomografia computorizada . Esta técnica permite o diagnóstico de 10% dos derrames não esclarecidos anteriormente, em especial derrames complicados com multiseptação e loculação, secundários a implantes neoplásicos mediastínicos e quando (12) (51)surgidos no contexto de mesotelioma . É hoje uma das opções major, no estudo da patologia mediastínica primária ou secundária. Permite, com óptima visualização, ter um acesso excelente a áreas tão complexas para diagnóstico como sejam a janela aorto-pulmonar à esquerda, os planos subcarinais e subazigos à direita, as áreas para-esofágicas e (12) (51)os tumores do mediastino posterior . Mostra também uma alta rentabilidade no estudo diagnóstico de lesões parenquimatosas. 7. Mediastinoscopia e Mediastinotomia A mediastinoscopia utiliza uma incisão cervical anterior, através da qual o cirurgião tem acesso às estruturas adjacentes à traqueia e veia cava superior permitindo a avaliação diagnóstica das áreas paratraqueais, pré-traqueais e algumas estruturas pericarinais. A mediastinotomia anterior é um método diagnóstico cirúrgico mais extenso, muitas vezes complementar à mediastinoscopia, para o estudo de áreas inacessíveis a esta técnica. Realizada através de uma toracotomia limitada, no segundo espaço intercostal, do lado a investigar, permite avaliar nódulos e tumores com invasão do mediastino 28 0 2 D IA G O N Ó ST IC O anterior. A mediastinotomia direita permite a visualização e biopsias das adenomegálias hilares, subcarinais e paratraqueais. A mediastinotomia esquerda, para além do estudo das adenomegálias, permite o estudo dos tumores do lobo superior esquerdo com extensão para o brônquio principal e (31) (81)janela aorto-pulmonar . Os consensos actuais sugerem que se o mediastino for normal em TC e/ou PET, a mediastinoscopia ou mediastinotomia será desnecessária. Contudo, se a TC mostrar adenopatias de diâmetro menor superior a 10mm ou a presença de um tumor com uma componente mediastínica importante ou a PET mostrar hiperfixação, o mediastino deve ser explorado, evitando-se assim cerca de 50% (52) (79)de toracotomias desnecessárias . 8. Toracotomia exploradora Os métodos diagnósticos anteriormente descritos, isolados ou em combinação, de agressividade crescente, são habitualmente suficientes para o diagnóstico de um carcinoma pulmonar. Raramente, são inconclusivos, justificando o recurso à toracotomia exploradora.Esta técnica permite a avaliação simultânea (32) da extensão local e grau de operabilidade. A mortalidade da técnica ronda 1% (37). 9. Broncoscopia virtual Esta técnica não envolve broncofibroscopia ou a inserção de qualquer instrumento nas vias aéreas. Imagens semelhantes às visualizadas com o BF são criadas por uma tomografia computorizada torácica, com reconstrução tridimensional da anatomia traqueobrônquica. Podemos ver as alterações endobrônquicas e sua relação com as estruturas intratorácicas. Com ela, podemos percepcionar as alterações e planear os procedimentos diagnósticos (43) (89)complementares . RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 29 10. Outros métodos diagnósticos Ocasionalmente, o diagnóstico citohistológico de carcinoma pulmonar pode ser feito por biopsia/aspiração de gânglios periféricos palpáveis nomeadamente das regiões supraclaviculares, cervicais ou axilares; por biopsia de lesões cutâneas; por punção/aspiração de medula óssea ou por biopsia de (47)lesões secundárias manifestadas a nível cerebral, hepático ou ósseo . 30 0 2 D IA G O N Ó ST IC O 03ESTADIAMENTO 31 Estadiar um tumor é avaliar a sua extensão anatómica e integrá-lo num grupo para o qual as opções terapêuticas e as perspectivas prognósticas são as mais (82)uniformes possíveis . O estadiamento, consoante é obtido em diferentesperíodos de evolução da doença, divide-se em: ·Estadiamento clínico (cTNM), baseado na extensão anatómica da doença, determinado pós várias técnicas diagnósticas e de estadia- mento, excepto a toracotomia. ·Estadiamento cirúrgico (sTNM), baseado na informação obtida no momento da toracotomia, incluindo o resultado da biopsia de cortes por coagulação. ·Estadiamento patológico (pTNM), baseado nos achados da toraco- tomia e na histologia da peça ressecada e gânglios linfáticos. ·Estadiamento de retratamento (rTNM), efectuado quando, após a terapêutica anterior instituída, a doença recidiva ou progride. ·Estadiamento post-mortem (aTNM), baseado nos dados da autópsia. 1 - Estadiamento anatómico torácico – metodologia de avaliação Para o estadiamento utilizamos uma série de procedimentos lógicos e sequenciais. Uma história clínica cuidada é, desde logo, fundamental na orientação da investigação e na sugestão do estádio. O exame objectivo é precioso na detecção de adenopatias supraclaviculares ou cervicais, lesões cutâneas, dores ósseas, hepatomegália ou deficits neurológicos. Dos exames laboratoriais de rotina, a existência de uma anemia, uma pancitopenia, um cálcio sérico ou uma fosfatase alcalina elevada ou uma função hepática alterada (82)podem ser orientadores da doença metastática a esclarecer posteriormente . O radiograma torácico dá-nos muitas vezes e logo a noção do tamanho, da presença de atelectasia, de um derrame pleural, da elevação duma hemicúpula 0 3 ES TA D IA M EN TO 32 diafragmática, da destruição costal. Sempre que seja detectado um derrame pleural, este deverá ser avaliado por toracocentese, com estudo citológico do líquido e/ou histopatológico da (41) (62)biopsia pleural . A tomografia computorizada (TC) torácica é hoje imprescindível ao estadiamento. Para além de uma imagem detalhada do tumor primário e da sua relação anatómica com outras estruturas mediastínicas, informa-nos da presença de outras lesões parenquimatosas, pleurais, costais e da localização e tamanho dos nódulos mediastínicos. A injecção de contraste permite clarificar e diferenciar estruturas nodulares ganglionares mediastínicas de estruturas vasculares. Apesar dos quase 20 anos de experiência com a TC, a avaliação imagiológica do envolvimento nodal é ainda baseado no tamanho do nódulo. Um diâmetro menor ganglionar superior a 10 mm é o habitual critério para diferenciar nódulo mediastínico benigno de maligno. Este critério mostra em 42 estudos uma sensibilidade média de 79% e uma especificidade de 89%. A TC orienta ainda na execução de técnicas complementares nomeadamente biopsia aspirativa transtorácica, mediastinoscopia ou cirurgia torácica video- (12) (51)-assistida . A broncofibroscopia (BF) é tão importante no diagnóstico como no estadiamento. É obrigatório uma cuidadosa inspecção das vias aéreas superiores, cordas vocais, traqueia, carina e brônquios. A descoberta de uma corda vocal paralisada, uma lesão focal secundária insuspeita, uma carina alargada ou infiltrada, ou uma extensão proximal da neoplasia pode alterar radicalmente o estádio, e a consequente abordagem terapêutica. Via BF, podemos ainda realizar uma biopsia aspirativa transbrônquica por agulha para estadiar o mediastino. Em mãos experientes, a sensibilidade varia entre 75% e (22)90% dependendo das alterações mediastínicas por TC . Modernamente, a ecoendoscopia brônquica e esofágica têm permitido o estudo imagiológico das áreas ganglionares para-traqueais, subcarinais e para- -esofágicas. RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 33 Múltiplos estudos sobre o papel da ressonância magnética (RM) torácica não têm demonstrado um benefício claro da RM sobre a TC no estadiamento do carcinoma pulmonar. A RM será particularmente útil no estudo dos tumores do vértice onde o recurso aos planos coronal e sagital permite uma melhor diferenciação da invasão da parede torácica, corpos vertebrais, plexo braquial e subclávia. Outras indicações da RM torácica serão o estudo dos tumores com invasão da janela aorto-pulmonar e o estudo dos tumores com invasão vascular (41) (52). A tomografia por emissão de positrões (PET), baseada nas propriedades bioquímicas dos tecidos, é um método útil na diferenciação entre lesões benignas e malignas com sensibilidades entre os 83% e 100% e especificidades entre 77% e 100%. Falsos positivos estão referenciados em lesões inflamatórias como tuberculose, sarcoidose, outras granulomatoses e em processos inflamatórios pós-radioterapia. Na detecção do envolvimento ganglionar mediastínico, a PET apresenta uma sensibilidade entre 73% e 96% e uma especificidade entre 81% e 100%, que são (52)valores muito superiores aos obtidos com a TC . No estádio I, para muitos autores, uma PET mediastínica negativa sugere a mediastinoscopia como desnecessária e recomenda a imediata toracotomia. Já na doença localmente avançada (N2 e N3) a PET em combinação com a TC apresenta uma sensibilidade e uma especificidade de 93% e 95%, respectivamente. Mais recentemente, uma meta-análise, comparando a PET (14 estudos, 514 doentes) com a TC (29 estudos, 2226 doentes), mostrou que a PET é significativamente mais eficaz na identificação da metastização nodal mediastínica (p<0.001). Também na avaliação da metastização à distância, a PET, num estudo prospectivo de 109 doentes, mostrou uma sensibilidade e uma especificidade de 100% e 94% respectivamente. Recentes estudos revelaram um papel promissor da PET na avaliação da resposta à quimioterapia e à radioterapia. 34 0 3 ES TA D IA M EN TO Também a PET parece ter valor prognóstico e na detecção da recidiva tumoral. Na doença residual ou recidivante, a PET tem uma sensibilidade de 100% e uma especificidade de 96%, quando comparado com a TC torácica que mostra uma sensibilidade de 67% e uma especificidade de 85%. Nos próximos anos iremos assistir a uma definição do real valor do PET e do PET c/TC no diagnóstico e em especial no estadiamento do cancro do pulmão. Habitualmente, um estadiamento cirúrgico invasivo está reservado na avaliação definitiva ganglionar mediastínica, especialmente quando, excluída uma metastização à distância, dessa avaliação depende uma terapêutica curativa. A mediastinoscopia, via uma pequena incisão cervical, permite-nos o estudo dos gânglios mediastínicos paratraqueais superiores, inferiores e hilares. Com a mediastinotomia esquerda podemos avaliar da extensão proximal dos tumores do LSE e os gânglios subaórticos e paraaórticos. Com a cirurgia torácica video-assistida podemos avaliar da infiltração ganglionar neoplásica na janela aorto-pulmonar e áreas subcarinais. 2. Estadiamento anatómico extra-torácico – metodologia de avaliação 2.1.Fígado A avaliação do envolvimento hepático é um componente major do estadiamento. Para o seu estudo, utilizamos habitualmente a Eco hepática, a TC abdominal e, ocasionalmente, a RM hepática. A TC abdominal é o método preferencial de avaliação, revelando, muitas vezes na sequência de indicadores clínico-laboratoriais (hepatomegália nodular, elevação das transaminases e da fosfatase alcalina), múltiplos focos metastáticos. Falsos-positivos podem resultar de quistos, abcessos ou hemangiomas. Falsos-negativos podem surgir em situações de envolvimento metastático isodenso difuso. Casos duvidosos podem esclarecer-se por ECO ou RM. Ocasionalmente, a biopsia hepática (41) (52) (62)percutânea ou por peritoneoscopia pode ser necessária . RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 35 2.2. Supra-renais A TC torácica, é imprescindível na avaliação do doente com carcinoma pulmonar, e deve, tecnicamente, estender-se ao abdómen superior, nomeadamente até ao nível das supra-renais. Em 18% a32% destes doentes são relatadas metástases a esse nível. Por outro lado, 2 a 9% da população geral têm, por adenoma, um aumento unilateral da supra-renal. Logo, o esclarecimento etiológico de um aumento da supra-renal em doentes com carcinoma é fundamental. Embora lesões unilaterais com mais de 30 mm sejam provavelmente metastáticas, podemos utilizar duas técnicas imagiológicas adicionais para o seu esclarecimento, a RM e a cintigrafia com 131 I-6 betaiodometilcolesterol que demonstram nos adenomas acumulação de gordura ou colesterol. Em casos duvidosos, pode ser necessário o recurso à (41) (52) (62)biopsia por agulha ou à biopsia cirúrgica . 2.3. Cérebro Em muitos centros, a TC craneana é executada, por rotina, em todos os doentes com carcinoma pulmonar. Cerca de 10% destes doentes têm lesões secundárias cerebrais na ausência de um quadro clínico suspeito. Com cefaleias e/ou sinais neurológicos focais, a TC craneana com contraste revela lesões metastáticas em mais de 50% dos casos. Porque, muitas vezes, as lesões são muito pequenas em locais de difícil visualização em TC, outros centros e outros autores recomendam a RM cerebral , combinada com a injecção de gadolínio, como a técnica major no despiste de lesões secundárias. A ressonância será recomendada sempre na confirmação da metástase única e na detecção de (52) (62)metástases nodulares epidurais . 36 0 3 ES TA D IA M EN TO 2.4. Ossos A técnica major na detecção de metástases ósseas é a cintigrafia óssea com tecnecio 99m. Contudo, alterações degenerativas vertebrais e cicatrizes de velhas fracturas produzem uma taxa de falsos-positivos entre 20% e 40%. Da conjugação do cenário clínico com alterações laboratoriais, do radiograma ósseo com o cintigrama pode surgir a necessidade de estudos suplementares (52) (62)com ressonância magnética da área lesada e mesmo biopsias dirigidas . 3. Estadiamento fisiológico É o conhecimento da capacidade do indivíduo em suportar a terapêutica. O uso isolado ou combinado da cirurgia, duma quimioterapia intensiva e uma radioterapia agressiva pode produzir significativa morbilidade e uma mortalidade relacionada de 5%. Avaliações adequadas do estado geral (performance status), de outras patologias coexistentes, do estado nutricional, da função renal e hepática, da (35)capacidade cardíaca e pulmonar são imprescindíveis . O estado geral exprime-se, habitualmente, na escala de Zubrod. À medida que o estado geral se degrada, as complicações da terapêutica aumentam e a sobrevida diminui. É recomendado, consensualmente, que apenas os doentes (82)com Zubrod < 3 possam ser submetidos a terapêuticas agressivas . Igualmente qualquer terapêutica só é recomendável na presença de um razoável estado nutricional. A ingestão de 1500 a 2000 Kcal/dia é desejável nestes doentes. Também uma diminuída função renal, uma inadequada reserva medular, graves alterações gastrointestinais e hepáticas são condicionadoras da eliminação de alguns fármacos do regime terapêutico, da frequente necessidade do ajustamento e adiamento de doses e de uma maior toxicidade (70)relacionada com a terapêutica . Outras doenças coexistentes não-neoplásicas podem condicionar a abordagem terapêutica. São exemplos, a insuficiência cardíaca congestiva cuja terapêutica deverá ser optimizada antes de qualquer cirurgia e que justificará a RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 37 não inclusão no regime terapêutico de alguns fármacos cardiotóxicos; um enfarte do miocárdio recente, contra-indicando a cirurgia dentro de 3 meses pelo risco aumentado de enfarte peri-operatório; a doença pulmonar crónica obstrutiva que justifica a não opção por fármacos com significativa toxicidade pulmonar; uma diabetes descompensada, a justificar o uso criterioso, quando (35) (59)necessário, de corticóides sistémicos . No estadiamento fisiológico é crucial a avaliação cardiológica. Uma cuidada história clínica e exame físico pode revelar a presença de arritmias, hipertensão, valvulopatias ou insuficiência cardíaca. Nestes doentes, o ECG e o Ecocardiograma são recomendados na avaliação inicial. Uma prova de esforço, estudo hemodinâmico, cintigrafia ou angiografia coronária pode justificar-se (70)pontualmente na determinação pré-operatória do risco cardíaco . A decisão de operabilidade, sempre individualizada, não deverá ser baseada num único parâmetro funcional, mas sim numa avaliação, quando possível, (35) (59)sistematizada e global . A função pulmonar deverá ser a suficiente para permitir uma vida activa após a terapêutica. Da avaliação funcional nomeadamente pré-operatória deverão fazer parte de forma escalonada: Nível 1– Espirometria com determinação da capacidade vital (CV), do volume expiratório máximo segundo (VEMS) e o índice de Tiffeneau (IT); a gasometria arterial em repouso; a capacidade de difusão (DLCO); a determinação da resistência das vias aéreas (Raw) por pletismografia; prova da marcha de 6 minutos. Nível 2– Cintigrafia de perfusão procurando determinar, segundo a fórmula de Kristersson, o VEMS pós-operatório. VEMS (pré-operat) X % de perfusão VEMS pós-operat.= -------------------------------------------------------- 100 Nível 3– Prova de esforço (ergometria), em tapete ou cicloergómetro procurando determinar múltiplos parâmetros nomeadamente a VO2 e VCO2. 38 0 3 ES TA D IA M EN TO RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 39 CARCINOMA PULMONAR Avaliação inicial / Estadiamento recomendado TC tórax com extensão às supra-renais, com CIV a)se PET - TC positivo necessário confirmação patológica ou outra. se PET - TC positiva no mediastino, necessária confirmação patológica ganglionar. Broncofibroscopia PET - TC a) Estádio I (periférico T1, N0) TC do mediastino negativa (gg < 10mm) Broncofibroscopia | PET - TC a) Mediastinoscopia Estádio I (periférico T2, N0 ou central T1 - T2, N0) TC do mediastino negativa (gg < 10mm) Broncofibroscopia | PET - TC a) Mediastinoscopia | TC/RM Craneana Estádio II - T1-T2, N1 | Estádio IIB - T3, N0 TC do mediastino negativa (gg < 10mm) PET - TC a) Mediastinoscopia | TC/RM Craneana RM da coluna e transição cervico-torácica nas lesões do sulco superior Estádio IIIA - T3, N1 TC do mediastino negativa (gg < 10mm) Broncofibroscopia | PET - TC a) Mediastinoscopia | TC/RM Craneana Estádio IIIA - T1-T2-T3, N2 TC do mediastino positiva (gg homolaterais ≥ 10mm) Broncofibroscopia | PET - TC a) Mediastinoscopia | TC/RM Craneana RM da coluna se clinicamente indicado Estádio IIIB - T4, N0-N1 TC do mediastino negativa (gg < 10mm) PET - TC | TC/RM Craneana Confirmação de N3 por: mediastinoscopia mediastinotomia, punção biopsia transtorácica, biopsia por ecoendoscopia, cirurgia torácica video assistida ou biopsia gg supraclavicular Estádio IIIB - T1-T2-T3, N3 TC do mediastino positiva (gg homolaterais ≥ 10mm ou gg supraclaviculares palpáveis) TC/RM Craneana Confirmação de T4 por: mediastinoscopia mediastinotomia, punção biopsia transtorácica, biopsia por ecoendoscopia, cirurgia torácica video assistida ou biopsia gg supraclavicular Estádio IIIB - T4, N2-N3 TC do mediastino positiva (gg mediastínicos ≥ 10mm) Toracocentese ou Pericardiocentese Toracoscopia se toracocentese e biopsia pleural não diagnóstica Estádio IIIB - T4 (derrame pleural ou pericárdio) Broncofibroscopia | PET - TC a) Mediastinoscopia | TC/RM Craneana Biopsia ou resseção da Supra Renal suspeita Estádio IV - M1 (metástase solitária - supra renal, cérebro e lesão pulmonar ressecável) Avaliação de acordo com a clínica Estádio IV - M1 (metástases disseminadas) Necessário apenas confirmar uma lesão metastática no conceito de doença disseminada40 CARCINOMA PULMONAR Avaliação inicial / Estadiamento recomendado TC toraco-abdominal com CIV (sem PET/CT disponível) Broncofibroscopia Cintigrafia Óssea Estádio I (periférico T1, N0) TC do mediastino negativa (gg < 10mm) Broncofibroscopia | Cintigrafia Óssea Mediastinoscopia | TC/RM Craneana nos tumores não escamosos Estádio I (periférico T2, N0 ou central T1 - T2, N0 TC do mediastino negativa (gg < 10mm) Broncofibroscopia | Cintigrafia Óssea Mediastinoscopia | TC/RM Craneana Estádio II - T1-T2, N1 TC do mediastino negativa (gg < 10mm) Broncofibroscopia | Cintigrafia Óssea Mediastinoscopia | TC/RM Craneana RM da coluna e transição cervico torácica no sulco superior Estádio IIB - T3, N0 | Estádio IIIA - T3, N1 TC do mediastino negativa (gg < 10mm) Broncofibroscopia | Cintigrafia Óssea Mediastinoscopia | TC/RM Craneana Estádio IIIA - T1-T2-T3, N2 TC do mediastino positiva (gg homolaterais ≥ 10mm) Broncofibroscopia | Cintigrafia Óssea Mediastinoscopia | TC/RM Craneana RM da coluna se clinicamente indicado Estádio IIIB - T4, N0-N1 TC do mediastino negativa (gg < 10mm) Estádio IIIB - T1-T2-T3, N3 TC do mediastino positiva (gg contralaterais ≥ 10mm ou gg supraclaviculares palpáveis) Broncofibroscopia | Confirmação de N3 por: mediastinoscopia, mediastinotomia, punção biopsia transtorácica, cirurgia torácica video assistida ou biopsia gg supraclavicular TC/RM Craneana Cintigrafia Óssea | Estádio IIIB - T4, N2-N3 TC do mediastino positiva (gg mediastínicos ≥ 10mm) Broncofibroscopia | TC/RM Craneana Cintigrafia Óssea | Confirmação de T4, N2-N3 por: mediastinoscopia, mediastinotomia, punção biopsia transtorácica, biopsia por ecoendoscopia, cirurgia torácica video assistida ou biopsia gg supraclavicular Toracocentese ou Pericardiocentese Toracoscopia se toracocentese e biopsia pleural não conclusiva Estádio IIIB - T4 (derrame pleural ou pericárdio) Broncofibroscopia | Cintigrafia Óssea Mediastinoscopia | TC/RM Craneana Biopsia ou resseção da Supra Renal suspeita Estádio IV - M1 (metástase solitária e lesão pulmonar ressecável) Avaliação de acordo com a clínica Estádio IV - M1 (metástases disseminadas) 0 3 ES TA D IA M EN TO 04ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 41 A. CARCINOMA DO PULMÃO DE NÃO PEQUENAS CELULAS (CPNPC) Cirurgia, radioterapia, quimioterapia e as novas terapêuticas biológicas, qualquer destas associadas entre si e sempre à melhor terapêutica de suporte, constituem as principais armas terapêuticas no tratamento do cancro do pulmão. 1. Cirurgia Em geral, para doentes com doença do Estádio I ou do Estádio II, a cirurgia fornece a melhor possibilidade para a cura. O procedimento cirúrgico usado vai (96)depender da extensão da doença e da reserva cardiopulmonar do doente . Sempre que possível, estão recomendadas resseções anatómicas. Na altura da cirurgia, o estadiamento mediastínico completo é imprescindível, mas a metodologia indicada de estadiamento, ou seja, amostragem de todos os grupos ganglionares versus a amostragem dos gânglios específicos, permanece (97)controversa . A cirurgia torácica por toracoscopia vídeo assistida (VATS) é uma modalidade de tratamento cirúrgico menos invasiva que está a ser incrementada actualmente (100)em todos os aspectos do cancro de pulmão . Os estudos publicados sugerem que a VATS tem algumas vantagens sobre a toracotomia: a dor aguda e crónica com a VATS é mínima; o procedimento requer um tempo mais curto de hospitalização, está também associado a morbilidade e mortalidade (101) (102) (103)menores . Os doentes em estádio I com cirurgia efectuada por VATS com dissecção dos gânglios mediastínicos têm taxa de sobrevivência a 5 anos, sobrevivência a longo prazo, e recidiva local comparáveis àqueles conseguidos pela cirurgia (104) (105) (106)clássica . A cirurgia torácica vídeo assistida parece ser benéfica nas populações mais (107) (108)velhas e em doentes de alto risco . Baseando o seu efeito favorável na 0 4 A BO RD A G EN S TE RA PÊ U TI C A S 42 recuperação e na morbilidade pós operatória, a cirurgia vídeo assistida é incluída nas orientações como uma opção praticável para doentes que são cirurgicamente tratáveis desde que os princípios oncológicos e os princípios da dissecção cirúrgica não sejam comprometidos. É controverso se as cirurgias poupadoras, tais como segmentectomia e a ressecção em cunha, são úteis nos doentes com função pulmonar gravemente reduzida que não seriam de outra (109) (110)maneira candidatos à cirurgia . Princípios da ressecção cirúrgica no cancro do pulmão ·O planeamento geral da terapêutica deve ser definido por uma equipa multidisciplinar antes de efectuar qualquer tratamento (excepto emergências) . ·A decisão da ressecabilidade deve ser feita preferencialmente por cirurgiões torácicos com experiência em cirurgia torácica oncológica . ·Se há reserva funcional – efectuar ressecções «anatómicas» - lobectomia ou pneumectomia . ·Se não há reserva funcional, considerar a resseção pulmonar atípica ou a segmentectomia . ·Linfadenectomia completa (ou pelo menos amostras de 3 grupos ganglionares N2 sendo sempre um deles do grupo sub-carinal) . ·Cirurgia torácica assistida por vídeo (VATS) – é permitida se não forem comprometidos os princípios gerais da linfadenectomia . ·Lobectomia com sleeve é preferível à pneumectomia - se margens negativas e anatomicamente apropriadas . ·Colocação de clips de titânio como orientação para a radioterapia, sempre que haja a eventualidade de deixar margens positivas . (2A) (2A) (2A) (2A) (2A) (2A) (2A) (2A) RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 43 2. Radioterapia A Radioterapia acompanhou-se na última década de uma enorme evolução, que permitiu alcançar níveis de grande qualidade, já que associa as mais modernas técnicas de imagem a novos sistemas computorizados de cálculo (117) (119)dosimétrico . Também o desenvolvimento de novos equipamentos e tecnologias possibilitou diversificar os tipos de irradiação, com escolha de múltiplos feixes e energias. No caso particular do cancro do pulmão, é possível agora realizar escaladas de dose tumoral e simultaneamente poupar os tecidos circundantes (116) (118). Novas técnicas de tratamento como a radioterapia conformacional tridimensional, idealmente a ser efectuada em todos os doentes tratados com intuito radical, ou ainda a radioterapia de intensidade modulada (IMRT), nos casos de difícil solução dosimétrica, bem como a incorporação de técnicas que contemplam o movimento do ciclo respiratório na fase de irradiação vêem proporcionar níveis de excepcional qualidade no tratamento com radioterapia. Princípios da radioterapia no cancro do pulmão Pretende-se deste modo estabelecer regras mínimas que garantam padrões de qualidade aceitáveis na realização destes tratamentos: Radioterapia Radical A Radioterapia deve ser sempre efectuada em acelerador linear de (155)alta energia : ·Energia mínima fotões 6Mv ·Energia recomendada fotões ≥15Mv ·A utilização de energias mais baixas em megavoltagem (< 6Mv e 60Co) só é aceitável em casos de Radioterapia paliativa, sendo (155) contudo recomendáveis as energias atrás referidas. . · (A) (A) 44 0 4 A BO RD A G EN S TE RA PÊ U TI C A S (155) O volume de tratamento deve ser definido por TC Privilegiar soluções com a introdução de técnicas de imagem por RMN e imagens funcionais de PET-CT sempre que necessário, tecnicamente (155)possível e exequível . · O tratamento deverá ser sempre baseado num planeamento (155) dosimétrico computorizado . Mínimo requerido obrigatório planeamentodosimétrico 3D conformacional. Devem ser preferidas soluções de planeamento dosimétrico compu- torizado com IMRT (radioterapia de intensidade modulada) e com IGRT (radioterapia guiada por imagem). ·O tratamento de radioterapia deve privilegiar soluções que diminu- (155)am a toxicidade associada ao tratamento Técnicas de IGRT (radioterapia guiada por imagem). Técnicas de irradiação em fase do ciclo respiratório “respiratory gating”. Técnicas de controlo activo da respiração “active breathing control”. ·As doses de tratamento de Radioterapia na abordagem do cancro (155) do pulmão : √Quimio-radioterapia pré-operatória: 44–45 Gy em fracções de 1,8–2 Gy √Radioterapia pós-operatória: 50 Gy em fracções de 1,8–2 Gy (155) √Quimio-radioterapia radical : 60–66 Gy com fracções de 1,8–2 Gy ,dependendo do volume a irradiar e das técnicas disponíveis. Podem ser atingidas doses superiores sempre que as técnicas utilizadas assim o permitam (com redução volumétrica e após avaliação do respectivo histograma de dose-volume, sobre as doses recebidas pelos órgãos adjacentes (pulmão contra-lateral, V20, coração, medula, etc.) · (A) (A) (B). (B) (B) RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 45 Adquire particular importância nesta forma de abordagem terapêutica o planeamento por PET- CT (preferível). No caso de ser possível dispor de PET-CT e o tratamento se iniciar por QT deverá realizar-se uma 1ª PET-CT para apreciação do verdadeiro estádio e localização da doença de modo a que, quando se avançar com a RT, seja possível, na 2ª PET-CT (agora com fins de planeamento) diminuir os volumes a irradiar. Esta avaliação é de extrema importância dada a necessidade de irradiar todos os locais onde houve evidência de doença (volume tumoral pré- QT) até um patamar de dose e depois realizar um reforço de dose (boost) sobre os locais onde ainda possa persistir doença residual (volume tumoral pós-QT), de maneira a obter o melhor controlo local com este nível superior de dose. Em caso de necessidade deverá ser realizada RM do mediastino para melhor avaliação da doença a este nível. (155) Radioterapia radical : A RT deve ainda ser usada como modalidade única de tratamento curativo nos doentes com estádio I e II medicamente inoperáveis, mas com razoável performance status e expectativa de vida. Neste contexto, devem ser atingidas doses ≥70 Gy com fraccionamento de 1,8-2,0 Gy. A radioterapia estereotáxica (SRT) e/ou radiofrequência ablativa (RFA) podem ser opções para um doente que recuse a cirurgia ou não possa tolerar a cirurgia por mau estado geral, risco cardiovascular significativo, má função pulmonar, e/ou comorbilidades. (155)Quimio-radioterapia no CPPC : 50 Gy dose mínima recomendada em fracções 1,8-2,0 Gy – Fraccionamento clássico (B) (B) (B) 46 0 4 A BO RD A G EN S TE RA PÊ U TI C A S 45 Gy dose mínima recomendada em fracções 1,5 Gy bi-diárias – Hiperfraccionamento As fracções bi-diárias no regime hiperfraccionado devem obedecer a um intervalo mínimo entre elas de 6 horas. Embora possa ser preferencial o uso de técnicas de tratamento recorrendo a hiperfraccionamento, por aparentemente apresentar melhores resultados, este deve ser sempre ponderado em função da morbilidade acrescida que provoca, da sua exequibilidade técnica e do estado geral do doente. A opção de tratamento com fraccionamento clássico continua a ser válida para esta patologia. (155) Radioterapia profiláctica craneana (no CPPC) : 36-40Gy com fraccionamento clássico de 2,0-2,5Gy. Radioterapia paliativa A Radioterapia aplicada no estádio IV é realizada com intuito paliativo, (155)dependendo : - do local da lesão ( SNC, osso, supra-renal, brônquico, etc ); - da intenção do tratamento (cito-redução/ alívio da dor, hemostase, descompressão/ desobstrução, prevenção de fracturas patológicas, etc.) Metástases do cérebro A1 - Única e ressecável totalmente Cirurgia seguida de radioterapia holocraneana Após a Cirurgia o doente deverá realizar RM craneo-encefálica (CE) para averiguar se a remoção foi total ou parcial de maneira a escolher o tratamento adjuvante : - Radioterapia holocraneana - Radiocirurgia estereotáxica - Ambas (B) (B) (B) (B) RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 47 A2 - Única e ressecável parcialmente ( lesão residual persistente ) Cirurgia seguida de radioterapia holocraneana e/ou radiocirurgia estereotáxica Se estiver planeado realizar radiocirurgia recomendam-se, na radioterapia holocraneana, fracções inferiores a 3 Gy: 2,5 Gy/dia ou 2 Gy/dia . O estado geral do doente e a extensão da doença, para além de outros aspectos (idade, capacidade cognitiva, etc.), deverão auxiliar na selecção do melhor tratamento adjuvante da Cirurgia (radioterapia holocraneana ou radiocirurgia ou radioterapia holocraneana + radiocirurgia) . A3 – Única e irressecável Radiocirurgia estereotáxica e/ou radioterapia holocraneana . A4 - Múltiplas Radioterapia holocraneana No caso de persistência residual (a avaliar mediante RM CE, 2 a 3 meses após a conclusão da radioterapia) de duas ou três lesões residuais de pequenas dimensões, deverá ser ponderada a possibilidade de realizar radiocirurgia estereotáxica, se a doença estiver controlada. Metástases ósseas A radioterapia externa pode ser empregue, com o objectivo de prevenir uma fractura patológica, conseguir alívio antálgico ou evitar uma compressão (155)medular (antes de se instalar um quadro de paraplegia ) . Na compressão medular, por constituir uma emergência, deverá ser iniciada de imediato . A localização de uma lesão próximo da medula aconselha, se possível, o uso de técnicas especiais como IMRT para conseguir um valor de dose eficaz e (155) simultaneamente respeitar a tolerância medular . Deve-se considerar a estabilização ortopédica, para além da radioterapia, se (B). (B) (B) (B) (B) (B) (B) 48 0 4 A BO RD A G EN S TE RA PÊ U TI C A S existir esta hipótese ou houver o risco de fractura. O local da lesão, a dimensão do volume a irradiar e o seu objectivo determinam o tipo de fraccionamento. Síndrome da veia cava superior Pode constituir uma emergência, a ponto de não ser obrigatório a obtenção de um diagnóstico histológico para que o seu tratamento se inicie. Poderão empregar-se fracções iniciais maiores durante os primeiros dias com posterior alteração do fraccionamento . Descompressão/citoredução de massas tumorais locais ou metastáticas No caso de massas tumorais volumosas primitivas ou metastáticas (incluindo as supra-renais) que ocasionem dor por compressão ou infiltração, pode-se empregar radioterapia externa com intenção cito-redutora e antálgica . O local da lesão e a sua dimensão determinam o tipo de fraccionamento e dose total. Hemoptises A radioterapia externa ou a braquiterapia de alta taxa de dose (no caso de lesões endobrônquicas) podem ser empregues isoladamente ou sequencialmente com outras técnicas . Obstrução brônquica A radioterapia externa ou a braquiterapia de alta taxa de dose (no caso de lesões endobrônquicas) podem ser empregues isoladamente ou sequencialmente com outras técnicas para desobstrução brônquica . A escolha da dose total e do fraccionamento em RT paliativa deve privilegiar soluções com hipofraccionamento, devendo ser excepcional o uso de (C) (B) (C) (C) RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 49 tratamento em fracção única pelo aumento da necessidade de retratamento e por menor duração do efeito paliativo . 3. Terapêutica Sistémica Quimioterapia Adjuvante Vários estudos recentes (International AdjuvantLung Cancer Trial (IALT), CTG JBR.10 e ANITA (Adjuvant Navelbine International Trialist Association) mostraram um benefício estatisticamente significativo, na sobrevivência e no tempo livre de recidiva, com a quimioterapia adjuvante com Cisplatina em doentes submetidos a cirurgia curativa em estádio II e III. Nos doentes com estádio IB os dados destes estudos não são tão favoráveis como nos estádios mais avançados (111) (112) (113) (114). O estudo do CALGB 9633 foi desenhado para avaliar a eficácia da quimioterapia adjuvante em doentes com T2 N0 M0 - IB. A sobrevivência aos 4 anos não foi significativamente diferente nos dois grupos. O estudo mostrou (115)benefício para tumores com mais de 4 cm . O esquema de Vinorelbina/Cisplatina é aquele em que existe maior experiência em quimioterapia adjuvante no CPNPC tratado cirurgicamente devido ao maior número de doentes incluídos nos estudos com estes fármacos. Quimioterapia Neoadjuvante A quimioterapia neoadjuvante em estádios cirúrgicos foi inicialmente estudada ao mesmo tempo que os estudos de quimioterapia adjuvante. O estudo de fase III foi interrompido prematuramente devido aos resultados dos estudos de quimioterapia adjuvante já descritos. Neste momento não existe evidência para efectuar quimioterapia neoadjuvante nestes estádios. QuimioRadioterapia Para doentes com tumores em estádio III, em que existem diferentes opções (C) 50 0 4 A BO RD A G EN S TE RA PÊ U TI C A S terapêuticas [cirurgia, radioterapia (RT) ou quimioterapia (QT)], deve ser sempre realizada uma avaliação multidisciplinar. Para o estádio IIIA (T3, N1), as opções terapêuticas devem ser organizadas de acordo com a localização do tumor (sulco superior, parede torácica e proximidade de via aérea ou do mediastino). Para cada localização, a determinação da melhor opção (121) (122)terapêutica será realizada atendendo à ressecabilidade cirúrgica . Para os doentes em estádio IIIA irressecável ou em estádio IIIB sem derrame pleural ou pericárdico, a opção pela quimio-radioterapia, é superior à radioterapia ou à quimioterapia isoladas. A sequência terapêutica entre a quimioterapia e a fase de quimio-radioterapia concomitante tem sido objecto de vários estudos sendo possível realizar uma quimioterapia de indução seguida de quimio-radioterapia concomitante ou uma quimio-radioterapia inicial seguida de quimioterapia de consolidação. Na actualidade não está estabelecida a vantagem definitiva de uma opção sobre a (124) (125) (126)outra . A avaliação global do doente é fundamental na escolha da melhor sequência terapêutica. A terapêutica concomitante está associada a uma maior toxicidade local. Quimioterapia na Doença Avançada e Terapêuticas Alvo A quimioterapia para o CPNPC em doença avançada era considerada ineficaz e excessivamente tóxica. Contudo, meta-análises demonstraram que quando comparada com a melhor terapêutica de suporte, resultava num aumento de sobrevivência dos doentes. Estudos randomizados comparando quimioterapia com melhor terapêutica de suporte revelaram que aquela reduz os sintomas e melhora a qualidade de vida dos doentes, com uma relação custo-eficácia (133) (137)favorável a essa abordagem terapêutica . Na década de 90 do século XX, novos agentes demonstraram eficácia e foram incluídos na terapêutica do CPNPC, doença avançada, incluindo taxanos RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 51 (135) (137)(Docetaxel, Paclitaxel), a Gemcitabina e a Vinorelbina . A combinação de um ou mais desses agentes com um sal de platina, melhorou as taxas de resposta e prolongou a sobrevivência ao ano. Com esta combinação atingimos um plateau traduzido numa taxa de resposta de 25% a 35%, um tempo para a progressão de 4 a 6 meses, uma sobrevivência mediana de 8 a 10 meses, uma taxa de sobrevivência ao ano de 30-40% e uma taxa de (137) (140)sobrevivência aos dois anos de 10% a 15% . Orientações de tratamento, nomeadamente a prática do NCCN (National Comprehensive Cancer Network) recomendam quimioterapia, baseada num sal de platina, para primeira linha, em combinação com fármacos de 3ª geração, em doentes com bom estado geral (PS). Doentes com PS de 3 ou 4 não beneficiam de quimioterapia. A opção deverá ser pela melhor terapêutica de suporte. Recentemente Pemetrexed administrado em conjunto com Cisplatina, mostrou nos carcinomas pulmonares não escamosos, benefício significativo no tempo para a progressão e na sobrevida global, com escassa toxicidade, tornando-se numa opção preferencial para primeira linha neste subgrupo de (134)doentes . Também o Bevacizumab administrado em conjunto com a quimioterapia, demonstrou em doentes sem história de hemoptises, com histologia não- escamosa, sem metástases cerebrais, sem terapêutica anticoagulante (140)simultânea, com PS de 0 ou 1 benefício significativo na sobrevivência global . Em Portugal cerca de 35- 40 % dos doentes com cancro do pulmão tem mais de 70 anos e significativas comorbilidades. Também muitas destas associações acompanham-se de neurotoxicidade, nefrotoxicidade e mielosupressão não desprezível. No idoso, com PS 0 a 2 e sem significativas comorbilidades, em decisão multidisciplinar, deve ponderar-se entre a poliquimioterapia e a monoterapia. Apesar do uso agressivo da quimioterapia, o prognóstico para doentes com CPNPC doença avançada é pobre, com sobrevivências médias de 9-12 meses no estádio IV. 52 0 4 A BO RD A G EN S TE RA PÊ U TI C A S A resposta à quimioterapia de primeira linha é habitualmente curta e a progressão ocorre cerca de 4-6 meses depois da suspensão da terapêutica. Muitos desses doentes continuam a ter um bom performance status e são candidatos a uma segunda linha. As orientações terapêuticas do NCCN recomendam o Docetaxel, o Pemetrexed ou o Erlotinib em monoterapia após falência de um 1º esquema de quimioterapia. Docetaxel mostrou resultados superiores quer à melhor terapêutica de suporte quer a fármacos como a Vinorelbina ou Ifosfamida. Comparado com Pemetrexed demonstrou superiores resultados no carcinoma escamoso. Pemetrexed mostrou globalmente não inferioridade versus Docetaxel, mas significativamente menores efeitos secundários. No grupo de carcinomas não escamosos (adenocarcinoma, grandes células, outros) mostrou vantagem (138)estatística significativa versus Docetaxel . O Erlotinib, um inibidor da tirosina-quinase EGFR foi aprovado para doentes com CPNPC em doença avançada e que tenham falhado pelo menos um esquema de quimioterapia sendo a primeira terapêutica alvo a mostrar beneficio na sobrevivência. É actualmente o único agente recomendado para (139)uso em 3ª linha em doentes com CPNPC . Alguns doentes apresentam-se com envolvimento tráqueo-brônquico extenso devido a neoplasias pulmonares. Clinicamente surgem com acentuada dificuldade respiratória. São reais situações de emergência abordadas no anexo sobre terapêuticas endoscópicas (Anexo VI). RECOMENDAÇÕES NACIONAIS PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CANCRO DO PULMÃO 53 54 Além dos esquemas indicados de utilização comprovada e recomendada os doentes podem ser tratados, com outros regimes contendo platina associado a outro fármaco de 3ª geração (Cisplatina/Gemcitabina; Carboplatina /Gemcitabina; Cisplatina/Docetaxel). Tal só deve efectuar-se se não for possível utilizar a terapêutica anterior. Em caso de intolerância à platina pode efectuar efectuar-se um regime duplo sem platina. Quimioterapia e Radioterapia Concomitante, Sequencial e de Consolidação 1- Os regimes de QT usados no tratamento com QT e RT radical concomitante incluem esquemas de platina com Etoposídeo ou com um dos fármacos de 3ª geração (Paclitaxel, Docetaxel, Gemcitabina ou Vinorelbina). 2- Os ensaios clínicos
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