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A Atuação Pedagógica Docente na Inclusão de Crianças nos Ensino Fundamental

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A ATUAÇÃO PEDAGÓGICA DOCENTE NA INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 
Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 70-86, 2009 – www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica 70 
A ATUAÇÃO PEDAGÓGICA DOCENTE NA INCLUSÃO DE 
CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL 
 
 
Jaqueline da Silva* 
Helenice Maria Tavares** 
 
RESUMO 
O problema levantado neste trabalho tem como foco explicitar a importância da ação docente na 
inclusão de crianças com deficiência intelectual nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Tem o 
objetivo de promover reflexões sobre a prática educativa vivenciada diariamente neste contexto 
possibilitando ao educador desenvolver um olhar critico sobre sua atuação e os resultados de suas 
ações.O resultado esperado com esta pesquisa é o de promover uma mudança de atitudes e de 
conceituação do que seja a inclusão e o trabalho desenvolvido neste ambiente através de uma reflexão 
critica sobre a ação do educador.A metodologia que fundamenta esta pesquisa é a de referencial 
bibliográfico em trabalhos pertinentes ao assunto publicados em artigos e livros. 
PALAVRAS CHAVE: Ação docente. Inclusão. Deficiência. Reflexão. Pesquisa. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho levanta a problemática de como tem se desenvolvido a prática 
pedagógica dos educadores nas séries iniciais do Ensino Fundamental diante da inclusão de 
crianças com deficiência intelectual sem o subsídio de uma boa formação preparatória, 
situação esta que evidência a importância da predisposição do educador em favorecimento 
deste aluno em processo de inclusão educacional. 
O objetivo desta pesquisa é fornecer subsídios para uma reflexão sobre a prática 
docente diante da inclusão de crianças com deficiência visando problematizar essa vivência 
diária a fim de conscientizar os educadores da importância da sua ação educativa no processo 
aquisição e construção do conhecimento assim como para o desenvolvimento destes alunos. 
Essa pesquisa se justifica na possibilidade de conscientizar e promover reflexões 
sobre a diferença da ação educativa baseada da afetividade e espontaneidade, contra aquela 
que é baseada no autoritarismo, nas diferenças e nos resultados. 
A metodologia que fundamentou essa pesquisa foi a pesquisa bibliográfica a partir 
de publicações anteriores sobre o assunto em documentos impressos como livros, artigos e 
teses. 
 
*
 Graduanda e Licenciada em Pedagogia pela Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail: 
jaqueline.77@hotmail.com 
**
 Professora do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail: 
tavareshm@netsite.com.br 
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A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro 
disponível, decorrentes de pesquisas anteriores em documentos impressos, 
como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas 
já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos 
tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a 
partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos 
textos. (SEVERINO, 2007, p. 122). 
 
A CRIANÇA E SUA VIDA ESCOLAR 
 
 
Sabemos que as características humanas dependem do convívio social, e da 
satisfação das necessidades através da interação com as outras pessoas no mundo social. Estas 
necessidades não implicam somente na sobrevivência física, mas também psicológica da 
pessoa, o que implica na satisfação das necessidades destes incentivos, proteção, amparo e 
conhecimento para que o indivíduo possa desenvolver-se plenamente. É nestas interações 
sociais que a criança desenvolve a linguagem e passa por meio dela a se comunicar e a 
organizar seu pensamento, aprende a planejar, direcionar e avaliar sua ação. Por meio de 
linguagem, os significados se abrangem dando origem à conceitos compartilhados pelos 
grupos sociais. 
A partir da aquisição do conhecimento, o indivíduo transforma a si mesmo e 
desenvolve as funções mentais e a personalidade. O aprendizado ocorre na interação social da 
criança com seu meio, e assim gradativamente ela vai ampliando suas formas de lidar com o 
mundo e vai construindo significados para as suas ações e para as experiências vividas. 
Em Davis e Oliveira, temos, “para que a criança aprenda, ela necessitará interagir 
com outros seres humanos, especialmente com os adultos e com outras crianças mais 
experientes”. (1990, p.4). 
Assim, a natureza social da aprendizagem se dá na interação da criança com as 
outras pessoas mais experientes que ela, e que a orientam ou mostram-lhe como proceder 
através de gestos e instruções verbais. A criança pode ainda aprender por modelo ao vivenciar 
diversas situações no cotidiano, pois o comportamento humano também se modifica em 
função da observação de como agem outras pessoas diante das situações diversas que se 
apresentam na vivencia cotidiana, podendo assim, reforçar ou extinguir um comportamento. 
A aprendizagem não é uma atividade exclusiva do ambiente escolar, pois muito 
antes da criança entrar neste contexto ela desenvolve hipóteses, e constrói conhecimentos 
sobre o mundo através da sua interação com a família, dos amigos, de pessoas que a criança 
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considera significativas, dos meios de comunicação de massas, das experiências do cotidiano 
e dos movimentos sociais. 
Essas situações de aprendizagem acontecem de forma espontânea e livre sem 
nenhuma sistematização ou organização prévia como ocorre na escola e que desenvolve um 
processo de aquisição de conhecimentos de forma sistematizada e intencional propiciando um 
aprimoramento dos processos de pensamento e da própria capacidade de aprender, o que 
causa uma transformação radical na forma de pensar e raciocinar da criança. 
A iniciação da criança na escola é um período de grandes transformações em sua 
vida, pois lhe é imposta uma rotina diária de atividades que não são exclusivamente lúdicas e 
que exige um esforço intelectual e certo nível de desenvolvimento cognitivo que antes nas 
suas interações sociais de aprendizagem não lhes era exigido. Uma criança que se encontra 
em situação de desvantagem no processo de aquisição de conhecimento devido a diversos 
fatores como distúrbio de aprendizagem decorrente de algum tipo de deficiência, muitas 
vezes, ao ser inserido nas primeiras séries do ensino fundamental acaba por sofrer não 
somente uma grande transformação nas suas formas de pensar e raciocinar, mas sofre também 
com as classificações que recebe vinculando ao seu nível de resposta as exigências escolares e 
a concepção de educação que o professor adota diante do aluno. 
Toda atividade realizada no ambiente escolar tem seu foco intencional que se 
realiza na execução do planejamento de ensino, na organização das condições para que a 
aprendizagem ocorra efetivamente e que exige clareza quanto aos objetivos que se quer 
alcançar, e que também refere-se à estipulação da seqüência de atividades e especificação dos 
reforçadores que serão utilizados, assim como a promoção de um ambiente facilitador da 
aprendizagem que estimule e aproveite as potencialidades diversas das crianças. 
Aucoutier e Lapiere nos evidenciam que: 
É através de uma relação entre professor e aluno com deficiência, relação 
esta que deve ser baseada de forma espontânea, autêntica e comprometida é 
que fluirá uma comunicação numa relação dialética de trocas e que 
possibilitaraao educador compreender aquilo que a criança vive. (1986, p. 
77). 
Quando se pretende construir uma prática pedagógica que possa garantir um 
processo de aprendizagem significativo é preciso que se tenha atenção quanto ao que é e 
como ele ocorre, pois ensinar é muito mais que transmitir conhecimento. Esse aprendizado 
está inter-relacionado ao desenvolvimento infantil, ao nível de maturação da criança, o 
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ensinar, o aprender e suas relações com o desenvolver uma ação educativa intencional e 
escolher métodos de ensino. 
 
O PAPEL DA ESCOLA 
 
A Escola é um lugar onde se estabelece um emaranhado de relações em que está 
envolvido o ensinar e o aprender, assim como as relações econômicas e materiais, sociais e 
institucionais, como também entre conteúdos e métodos de ensino, crenças, concepções e 
teorias. Em Fontana e Cruz temos que “O cotidiano da escola é permeado por toda esta 
complexidade, logo não é nada simples procurar aprendê-lo e compreendê-lo”. (1997, p.2). 
Os conceitos que aprendemos na escola, nas diferentes disciplinas são parte de 
teorias que buscam explicar e comprovar os fenômenos da natureza e os fatos sociais, que são 
organizados conforme uma lógica coerente e requer a utilização de operações complexas de 
transição de uma generalização para outras, devendo sempre considerar as expressões e 
elaborações próprias da criança. É importante valorizar no ambiente escolar os seus atos de 
compreensão e de expressão, pois nestas condições é possível aproveitar e dar continuidade 
aos conhecimentos prévios trazidos pelo aluno de seu ambiente sócio afetivo. 
O modo pelo qual a criança responde às questões educativas revela se ela 
aprendeu ou se não entendeu a exposição do professor; suas expressões podem ser julgados 
como falta de entendimento e que levam a conseqüências estigmatizadas, como a que, se a 
criança não aprende é por sua própria culpa, pois precisa estudar mais, se dedicar mais. 
 No entanto, a palavra contém uma multiplicidade que nos revela como as 
crianças procuram ativamente apreender o sentido da fala do adulto relacionando com suas 
experiências, o que lhe foi dito e trazendo sentidos nem sempre esperados ou reconhecidos 
por nós, mas que está contido no conhecimento prévio que cada criança traz consigo e que 
apreendeu espontaneamente nas suas relações sociais fora da instituição escolar. 
 
ESCOLA É LUGAR DE APRENDER A APRENDER, LUGAR DE APRENDER 
PENSANDO 
 
A expressão acima reflete o deslocamento do foco de ensino, que se transfere para 
a aprendizagem. Partimos do pressuposto de que os conceitos científicos são objetos de 
conhecimento que o sujeito constrói de acordo com o estágio de desenvolvimento em que se 
encontra. 
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Em Fazenda (2006) temos que, Piaget considera que os conceitos não podem ser 
ensinados, pode-se apenas criar situações para que a criança possa formulá-los, e possibilitar-
lhe atuar sobre os objetos de conhecimento, e, pela atividade cognitiva levá-la a estabelecer as 
relações de análise e de generalização, por meio das quais irá elaborar a palavra. Assim, o 
ensino tem sua função social na contribuição do desenvolvimento dos indivíduos, 
possibilitando-lhes construir conhecimentos por si mesmos, ou seja, aprender pensando. 
A criança necessita de oportunidade para adquirir novos conceitos e palavras na 
dinâmica das interações verbais mediadas pelo professor que participa ativamente do seu 
processo de elaboração conceitual. Nas relações estabelecidas no espaço escolar, o educador 
utiliza novos conceitos, define-os e os apresenta em diferentes contextos de uso e propõe 
atividades em que devem ser empregados, possibilita a expressão das elaborações da palavra, 
organizando verbalmente seu pensamento, problematiza as elaborações iniciais da criança, 
levando-a a retomá-las, a refletir sobre possibilidades não consideradas e a refletir sobre seus 
próprios modos de pensar. 
Ao atentarmos para as possibilidades, percebemos que as palavras não são apenas 
modos de representação do mundo e do pensamento ou instrumentos de comunicação, mas se 
constituem em elemento de interação e de constituição de identidade. 
Percebemos também, que é nas relações sociais que a neutralidade das palavras se 
desfaz, pois, é neste contexto que aprendemos as palavras na linguagem viva e em 
funcionamento, numa relação direta na vida das pessoas e redefinimos a relação de ensino 
como relação de partilha e de articulação de saberes. 
Nesta relação, crianças e professores se ensinam reciprocamente. Nesta troca de 
modos de conhecer, ambos atuam como parceiros sociais no seu processo de aquisição do 
conhecimento se fazem presente não somente na escola, mas fora dela também. 
Na sistematização do conhecimento, em suas práticas culturais e na organização 
da atividade intelectiva, a criança necessita da mediação do professor, possibilitando o contato 
com diferentes situações de uso dos conceitos, destacando, apontando as diferenças que o 
conceito se reveste em cada situação, problematizando os sentidos dicionarizados das palavras 
ou tradicionalmente enfatizado nos livros didáticos e nas solenidades escolares. 
 
A DIFÍCIL TAREFA DE LECIONAR 
 
A docência é uma atividade demasiadamente complexa justamente por basear-se 
na relação social entre pessoas tão diferentes entre si e com potencialidades para diversas 
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áreas e cabe ao professor administrar todas estas complexidades e todos os outros fatores 
externos a sua sala de aula, mas que interferem substancialmente na sua relação de ensino 
aprendizagem que estabelece com seu alunado. 
Muitas vezes em nossa vivência, presenciamos professores perdidos em sua 
função de lecionar, impedidos de revelarem seus talentos ocultos; anulados no desejo pela 
busca de respostas a suas perguntas, somando a isto, muitos estão presos as tarefas de sua 
rotina diária tem a sua capacidade criativa suprimida, e por isto se vêem induzidos a cumprir 
apenas o necessário e quase sempre deixando a desejar quanto a sua própria satisfação 
enquanto docente, e toda a importância de sua função. Luz e Gesser em seu artigo sobre a 
prática docente e pesquisa vem salientar que “A tomada de consciência por parte dos 
professores formadores a respeito da importância de refletir sobre suas ações poderia 
contribuir para a formação de cidadãos críticos, reflexivos e comprometidos efetivamente 
com a educação”. (2007, p.23). 
Evidentemente, uma boa formação reflete nas experiências em sala de aula e na 
atuação docente e percebe-se quase sempre a necessidade da pesquisa interdisciplinar para a 
aquisição do conhecimento que não se explicita apenas no nível da reflexão, mas, no nível da 
ação, já que inevitavelmente irá refletir na atividade prática vivenciada cotidianamente e que 
se tornará um conhecimento integrante da formação docente. 
É importante que o professor em contato com a docência, e que conheça a si 
mesmo primeiramente, nas suas formas de pensar e raciocinar, bem como também as suas 
maneiras de responder e se adaptar as diferentes situações que se apresentam no cotidiano, 
para que então possa compreender a forma como o aluno lhe apresenta e responde a ele. 
Cada pessoa tem suas próprias especificidades, sua história de vida, na qual 
constroem suapersonalidade e suas formas de lidar com o mundo, de interagir na realidade 
que o mundo lhe apresenta, seja esta uma realidade favorável, na qual a pessoa desde muito 
cedo recebe os estímulos necessários para seu desenvolvimento cognitivo, boa alimentação, 
proteção e amparo, enquanto que outras pessoas nascem desprovidas de praticamente tudo e 
desenvolvem em alguns casos, uma capacidade de resiliência surpreendente para se sobressair 
aos percalços que a realidade impõe. 
Cada indivíduo carrega consigo um repertório de conhecimentos que influenciam 
suas ações no decorrer da vida e em muitas situações, a pessoa acaba por sofrer preconceitos e 
tem suas especificidades estigmatizadas por idéias pré-concebidas de professores e gestores 
que reflete em suas ações terminando por reforçar ou estinguir um comportamento sem antes 
se prestar ao trabalho de uma investigação, uma observação comportamental do individuo. 
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Hoje os procedimentos metodológicos foram ampliados e já temos como 
verificar a possibilidade das Histórias de Vida constituírem-se em processos 
maiêuticos de sujeitos, projetos e trajetos, que informam, formam e projetam 
professores para um outro patamar de vida. (LUZ & GESSER, 2007, p.24). 
Através de uma reflexão introspectiva, o professor pesquisador passa a duvidar 
das teorias sobre educação existente e passa a percebê-las imperfeitas e incompletas, passando 
a questionar se essas teorias podem ou não explicar suas intercorrências práticas decorrentes 
de uma dúvida maior, a de que algo de sua prática vivida possa contribuir e somarem-se as 
teorias sobre educação e refletir de forma significativa na prática docente de muitos 
educadores. Em Luz & Gesser vemos que “é possível um professor ser pesquisador, inclusive 
na sua própria sala de aula [...] pesquisar é desenvolver um olhar, é assumir uma postura, um 
olhar que não é o da ação”. (2007, p.20). 
O professor realmente comprometido com a realidade docente é por si mesmo um 
pesquisador que compreende seu universo de ações e de significados e aceita dividir sua 
própria percepção do mundo, de homem, e de educação. Este profissional desenvolve a 
sensibilidade de compreender o outro, de respeitar suas especificidades e de simultaneamente 
esperar e manipular os estímulos ambientais para a apresentação das respostas que coleta da 
realidade para a sua ação interventora. Há a necessidade de reflexão na prática educativa 
crítica de parar para pensar, analisar e refletir sobre a ação que estamos realizando enquanto 
educadores e promotores da formação humana. 
 
A INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA 
 
Atualmente temos, constantemente debates, discussões e conversas sobre a tão 
falada inclusão nas escolas do Brasil. É uma problemática recente se comparada ao histórico 
de outros movimentos educacionais. A inclusão é um desafio que deve ser enfrentado, 
dialogado, construído e reconstruído. É um debate que deve ser iniciado principalmente na 
academia onde são formados os educadores que vão atuar com esta nova demanda que tende a 
crescer cada vez mais. 
Na Declaração de Salamanca verificamos que as crianças e adolescentes com 
deficiência não precisam e não devem estar fora das instituições de ensino regular de qualquer 
nível, mas que têm os mesmos direitos que qualquer outro, com ou sem qualquer tipo de 
deficiência. E ainda: 
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Aos alunos com necessidades educacionais especiais deverão ser dispensado 
apoio contínuo, desde a ajuda mínima nas classes comuns, até a aplicação de 
programas suplementares de apoio pedagógico na escola, ampliando-os, 
quando necessário, para receber a ajuda de professores especializados e de 
pessoal de apoio externo. (BRASIL, 1994, p.32). 
A Declaração de Salamanca também deixa bem evidente o direito de igualdade 
dos educandos portadores de deficiência a uma educação de qualidade para todos sem 
distinção, visando sempre os ganhos que estes educandos podem ter e oferecer nas trocas e 
relações estabelecidas com seus pares no ambiente escolar. 
O que significa incluir? Para falarmos sobre o significado de inclusão devemos 
lembrar que a escola não é homogênea, e, portanto, temos que saber que a escola é um 
ambiente repleto de diferenças e antagonismos. 
A ação de integrar a pessoa com deficiência à sociedade já acarreta a 
necessidade de uma ação inovadora que o prepare para sua inserção numa 
sociedade competitiva e segregada, ação esta que é uma via de Mao dupla, 
pois ao mesmo tempo que age para integrar age também evidenciando e 
estigmatizando as diferenças. O que é considerado como uma anomalia da 
pessoa com deficiência acaba por contribuir para fortalecer sua inclusão 
social, política e cultural. (MANTOAN, 1997, p. 20). 
Quando pensamos em diferenças físicas, percebemos diferença na cor dos 
cabelos, dos olhos, da estatura e outras características. Existem também outras diferenças 
como as sociais entre ricos e pobres com suas relações antagônicas de poder e dominação, as 
diferenças culturais de distinção étnica e racial entre brancos, negros, pardos, índios. 
A escola precisa urgentemente estar preparada para uma educação para a 
diversidade, pois o Brasil é um país rico em culturas, em etnias, em raças, em credos e possui 
um numero crescente de pessoas com algum tipo de deficiência que estão saindo do 
enclausuramento em busca de inserção social, educacional e profissional. No Brasil existem 
24,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa 14,5% da população, 
de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE),(BRASIL,2009). 
É importante focar a atenção nas diferenças de tratamento destinadas às crianças 
com algum tipo de deficiência, Arendt nos mostra seu conceito de educação: 
A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o 
bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios 
recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender 
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alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com 
antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum. (1972, p. 247). 
Portanto, estaremos pautados no significado teórico de diferença significativa que 
Amaral e Aquino ressalta: 
Penso que a diferença significativa, o desvio, a anomalia, a anormalidade, e, 
em conseqüência, o ser/estar diferente ou desviante, ou anômalo, ou 
anormal, pressupõem a eleição de critérios, sejam eles estatísticos (moda e 
media), de caráter estrutural/funcional (integridade de 
forma/funcionamento), ou de cunho psicossocial, como o do “tipo ideal”. 
(1998. p.13). 
O conceito de deficiência refere-se à perda ou anormalidade de estrutura ou 
função: deficiências são relativas a toda a alteração do corpo ou da aparência física, de um 
órgão ou de uma função, qualquer que seja a sua causa. Já o conceito de incapacidade refere-
se a restrição de atividades em decorrência das conseqüências de uma deficiência em termos 
de desempenho e atividade funcional do individuo e que representam as perturbações ao nível 
da própria pessoa. “Desvantagens, refere-se à condição social de prejuízo que o individuo 
experimenta devido a sua deficiência e incapacidade, as desvantagens refletem a adaptação do 
individuo e a interação dele com seumeio”. (AMARAL; AQUINO, 1998, p.24-25). 
No contexto da inclusão educacional de crianças com deficiências é fundamental 
que a criança seja vista como criança, não lhe negando sua diferença ou característica 
orgânica, mas nunca se deve supervalorizar esse fator e resumir uma ação a uma única 
característica, principalmente aquela que deprecia uma pessoa ao diferenciá-la diante das 
demais. Amaral e Aquino (1998), nos traz que a presença de preconceito e a decorrente 
discriminação vivida, ainda com mais intensidade, pelos significativamente diferentes, 
impedidos muitas vezes de vivenciar não só sua cidadania como sua própria infância. 
 Aucoutier e Lapiere nos evidencia que “A criança esta ai com seus problemas, 
suas deficiências, suas falhas, mas também com suas potencialidades, e recusamo-nos a fixar 
a priori e sem apelação os limites de suas potencialidades”. (1986, p.24). 
Não cabe ao educador fixar-se em diagnósticos ou em todos os fatores e estruturas 
nas quais definiram a criança com deficiência, pois são fatores que servem para evidenciar a 
diversidade de pessoas cada qual com suas características, especificidades e potencialidades 
comuns em qualquer ambiente escolar. Assim, é importante estabelecer uma relação 
autêntica, comprometida e predestinada e com anseio por fazer a diferença e que para isto se 
dispõe em favor do outro de forma comprometida e livre de idéias pré-concebidas, 
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preconceitos, paradigmas e estigmas construídos e cristalizados socialmente ao longo da 
existência de qualquer pessoa. 
Ao longo de nossa existência, aprendemos a eleger critérios para relacionar ou 
lidar com tudo que nos cerca diante da realidade em que vivemos e isto se aplica àqueles 
critérios que usamos ou que nos ensinaram a usar para diferenciar nossos pares, sejam eles 
critérios de diferença significativa, de desvio ou anomalia. Seguimos critérios que pressupõem 
a eleição de outros de caráter estatísticos, estrutural-funcional, ou de cunho psico-social que é 
a idealização do outro, do tipo ideal, que se espera que o outro seja para ser socialmente 
aceito. 
Em Amaral e Aquino, temos: 
Olhos que vêem, ouvidos que ouvem, membros que se movimentam e 
praticam ações como pegar, andar, sentar etc. – tudo isso, em princípio, sem 
o auxilio de equipamentos ou recursos específicos. Qualquer alteração de 
maior monta nesta “vocação” caracteriza a pessoa que vive essa condição 
como significativamente diferente, desviante, anormal e com deficiência 
(1998,p. 14). 
Sabemos que no ambiente escolar é extremamente complexo, e que neste lugar 
todos aprendem e todos ensinam, assim, torna-se importante e ao mesmo tempo fundamental 
que o educador perceba a escola de forma completa e isto começa também pelo aluno. 
Cabe ao professor levar os alunos a refletir sobre os significados das palavras, os 
conduzindo para uma elaboração refletida, pois somente assim ela será incorporada de forma 
efetiva ao repertório da criança, possibilitando-a pensar sobre seu próprio modo de utiliza-las, 
que é uma atividade intelectual complexa e nova, elas buscam na memória elementos das 
experiências vividas, sentidos da palavra já internalizados, organizando verbalmente o 
pensamento, elaboram justificativas. 
O professor, a partir da atividade intelectual que desenvolve com as crianças, 
busca levá-las a refletir e a contextualizá-los nos conceitos propostos dentro de sua realidade 
contextual, com base nas experiências de seu grupo social e da sociedade, de questões sobre 
cidadania e relações de poder. 
Sabendo que há diferentes deficiências e que estas podem possuir diferentes graus 
de comprometimento, e que cada pessoa tem suas especificidades e particularidades, cada 
uma tem seu tempo e forma diferente para aprender, porque todos somos diferentes e 
percebemos o mundo e o conhecemos por perspectivas diferentes, e é por isto que a educação 
cada vez mais exige além de uma boa formação por parte dos educadores, exige também uma 
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predestinação das pessoas que se propõem a educar, a ensinar e que na perspectiva da 
inclusão, o educador necessita conscientizar-se que ele não tem que saber tudo, que não é 
obrigado a saber exatamente como lidar com uma pessoa com deficiência, o que por si só é 
difícil já que o ser humano naturalmente é o ser mais complexo que existe, é preciso deixar de 
ver a inclusão educacional como um desafio intransponível, porque é assim que a vemos 
quando somos pegos de surpresa pelo desafio de receber um aluno com deficiência em nosso 
ambiente escolar. 
O primeiro passo é aceitar que a essência em ser um bom professor está numa 
postura filosófica de assumir que nada sabemos e que a nossa interação no ambiente 
educativo nos mostrará novas formas de atuação e que, portanto, estamos em constante 
aprendizado e que nunca aprendemos tudo. 
Um requisito para que a inclusão educacional ocorra de forma satisfatória é que o 
professor seja criativo, que procure buscar cada vez mais do que ele já sabe, que busque 
ampliar seu repertório de ações e recursos para satisfazer as diferentes necessidades que 
advém da diversidade de pessoas inseridas numa sala de aula, porque nem sempre é possível 
atender as especificidades inerentes a cada aluno seja ele com ou sem deficiência. Um 
professor predisposto a docência não consegue se acomodar com as coisas prontas e 
resolvidas, ele se incomoda diante de um desafio, de algo que exige dele um maior empenho e 
compromisso. 
Diante da inclusão educacional de crianças com deficiências é essencial que o 
professor busque inovar-se, adquirir sempre mais conhecimento, pois todo o conhecimento 
que viermos a adquirir no dia a dia no contexto da educação inclusiva em sala de aula no 
atendimento a essas crianças será sempre pouco porque todos os dias estaremos nos 
reciclando, adquirindo novos conhecimentos. 
O professor deve então saber que nem todo o deficiente é incapaz e que a 
desvantagem é criada a partir de seu contexto. O individuo com deficiência pode não ser 
incapaz e não estar em desvantagem. Isso vai depender do ambiente em que ele se encontra e 
das pessoas com quem ele interage. Na escola um professor que vai receber um aluno com 
deficiência, seja ela qual for, pode fazer com que este educando não esteja em desvantagem 
pela deficiência no que tange seu aprendizado, pois há estímulos e metodologias adaptativas 
e ambientais para facilitar sua aprendizagem e interação com o ambiente. 
Para se trabalhar com uma classe onde há um educando com deficiência, o 
professor deve inicialmente abolir do ambiente escolar proposto por ele e as práticas 
tradicionais e autoritárias, bem como a de adotar e se limitar no uso do livro didático, ensinar 
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e forçar-se somente nos conteúdos programáticos, propostas de projetos e atividades 
descontextualizadas da realidade e experiências do aluno considerando como método 
avaliativo apenas provas e resultados quantitativos. 
Com práticas tradicionalistas e autoritárias, não há condições de ensinar uma 
turma heterogênea reconhecendo suas peculiaridades, e, sendo assim nas praticas pedagógicas 
e na perspectivas de uma prática escolar não disciplinar, o que deve ser evidenciado no 
processo é a experimentação, a criação, a descoberta e a autonomia na construção do 
conhecimento.Sobretudo, esse trabalho deve incluir a formação humana onde os educandos 
são ensinados a valorizar as diferenças, conviver e interagir com seus pares independente de 
suas características, construindo e mantendo um relacionamento harmônico sem exclusão e 
esteriótipos. 
As atividades realizadas neste tipo de trabalho devem ser abertas e diversificadas, 
alem de flexibilizado para a abordagem em vários níveis de compreensão, entendimento, 
apropriação e desempenho nessas atividades. Nunca se deve evidenciar ou comparar alunos 
que possuem habilidades e potencialidades diferenciadas. O ideal é elogiar e incentivar os 
aspectos positivos construídos por todos. Essas atividades podem ser enriquecidas por 
debates, pesquisas em grupo, registros escritos e falados, dinâmicas, filmes, músicas e 
vivências grupais. Os conteúdos deverão ser trabalhados gradativamente sem cobranças e 
limitações. 
A avaliação para este ensino deverá ser processual e um dos aspectos a ser 
observado é o processo dos alunos nos alunos, no tratamento das informações e participação 
na vida social. Devem-se evitar os métodos quantitativos e classificatórios e também trabalhar 
para que o aluno faça sua auto avaliação. 
Alguns instrumentos poderão ser de grande valia na atuação num ambiente 
inclusivo: registros diários, portifólio, arquivos de atividades, impressos e reflexões 
significativas das crianças. 
Os próprios alunos com deficiências e sua interação com os demais alunos nos 
ensinará a trilhar o caminho que deveremos prosseguir, basta aceitar de prontidão esse desafio 
que é a inclusão que exige primeiramente olhar o individuo com deficiência em sua totalidade 
e não especificamente por sua deficiência, visando sempre não somente a tentativa de 
normalizá-lo aos demais, mas sim a intenção equalizadora de promover através da educação a 
qualquer pessoa, tendo ela ou não alguma deficiência, a uma melhor qualidade de vida. E 
quanto mais cedo isso começar a acontecer, maiores serão as chances de se atingir esse 
objetivo e a educação infantil é o primeiro contato da criança com deficiência depois da 
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família e toda a ação educativa exercida nesta primeira fase da educação sistematizada da 
criança irá repercutir em toda a sua vida acadêmica, social e afetiva. 
É indispensável que a atitude do professor seja a de encorajar a criança portadora 
de necessidades educativas especiais a buscar ele próprio suas respostas, e a construir o 
conhecimento. Situações significativas devem ser sempre colocadas para a criança de modo 
que ela se sinta desafiada a refletir e buscar fontes de satisfação daquela necessidade, ou 
formas de solucionar a situação. O trabalho do professor consiste, assim, em criar situações 
que venham a gerar conflitos cognitivos, que, por sua vez, desencadeiem na criança portadora 
de necessidades educativas especiais, o processo de busca pela equilibração, indispensável 
para a construção de novas estruturas. Além do mais, todo o trabalho pedagógico deve levar 
em conta o processo de desenvolvimento e que as atividades requeridas somente têm razão de 
ser se vierem representar “passos dados” nesta longa caminhada. 
Sabemos que o fator pelo qual tudo se ordena e organiza introspectivamente na 
criança em desenvolvimento, e o que permite ou perturba o desenvolvimento da personalidade 
é o núcleo psicoafetivo de cada individuo e que esta mais ou menos oculto no inconsciente e 
esta relacionado as experiências corporais e a carga afetiva induzida pelas relações e 
interações vivenciadas pela criança com seus pares ou com os objetos. Portanto, a relação 
estabelecida entre a criança e os objetos, entre ela e tudo que a rodeia dentro de um contexto 
facilitador e estimulador de seu desenvolvimento cognitivo e afetivo é algo de extrema 
importância e que deve ter a devida atenção de pais e educadores. 
Proporcionar um ambiente estimulador e facilitador da aprendizagem é uma fator 
muito importante para o desenvolvimento global de qualquer criança, principalmente em se 
tratando de crianças com deficiências. O brincar é a atividade mais prazerosa que existe e que 
não é imposta, não há exigências ou regras na brincadeira seja ela livre ou não, que 
impossibilite uma criança de participar e desempenhar os papéis representados na brincadeira. 
No ato de brincar a criança pode tudo e nesse brincar, ela se desenvolve, amadurece 
cognitivamente no seu tempo e a seu modo. 
É nesta interação diária do professor em atendimento ao aluno com deficiência no 
ambiente escolar que através de uma relação baseada de forma espontânea, autêntica e 
comprometida é que fluirá uma comunicação numa relação dialética de trocas e que 
possibilitará ao educador compreender aquilo que a criança vive, encontrando ou descobrindo 
sua autenticidade, tomando consciência de suas possibilidades, de seus ímpetos comuns a 
qualquer criança, de seus impedimentos, de suas defesas, e a partir daí, desenvolver 
possibilidades de ação e que terá como suporte a formação do educador. 
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Lidar com a deficiência de alguém é algo difícil e exige uma total mudança de 
atitudes e ações, mas principalmente, exige uma mudança no que se pensa ser uma 
deficiência, pois ela não é algo que possa ser curado, exterminado ou normalizado. Muitos 
professores e outros profissionais que lidam com pessoas com deficiência se deparam com 
pais que esperam somente por resultados, esperam o milagre acontecer por intermédio da 
escola, do psicólogo, do fonoaudiólogo, de terapeutas e tantos outros profissionais. Muitos 
pais esperam que estes profissionais consigam transformar a deficiência em eficiência e com 
isto não participam da vida, do desenvolvimento do filho, ficam alheios a ele e acabam 
expressando seu amor e desespero por um filho diferente e especial de forma superprotetora, 
de não-aceitação da deficiência, da necessidade especifica que a criança apresenta, o que 
acaba por prolongar o desenvolvimento motor e cognitivo da criança que se desde a tenra 
idade recebesse a estimulação necessária teria suas necessidades especifícas reduzidas 
agregando-lhe maior qualidade de vida. 
Amor não é superproteção. Superproteção é negar a diferença do outro, então 
fazemos por ele o que julgamos que ele jamais será capaz. Superproteger uma pessoa é 
superestimar a sua capacidade inata de superar suas próprias limitações. É ao mesmo tempo 
negar-lhe o direito de crescer e se desenvolver justificado apenas por um amor superprotetor. 
Fica difícil um educador ou outro profissional agir sem o apoio da família, ou pior, com pais 
que esperam apenas por resultados e não participam do processo e nem como o filho se sente 
seguindo sozinho uma caminhada complicada e difícil que é em alguns casos o tratamento 
para reabilitação, as seções de estimulação, as horas de terapia, e ainda sua inclusão no 
contexto escolar, um ambiente novo e que traz a exigência de um aluno idealizado e que 
muitas crianças sabem que não se enquadram nesse perfil. 
No dia a dia do contexto escolar onde ocorre a relação aluno-professor é 
interessante que se obtenha ou que se alcance uma melhor convivência com a criança no 
sentido de que ela participe e interaja. As ações devem partir do agir espontâneo da criança, 
de seu desejo, do que lhe cause segurança e prazer na realização. Os desejos dos adultos 
sejam eles pais ou professores, mesmo sendo para o bem da criança sempre terão o peso de 
cobrança, de um ideário de filhoou de aluno que muitas crianças sabem que não são. 
Muitas vezes, o professor se verá sozinho na caminhada da inclusão de um aluno 
com deficiência e seus esforços em atender a esse alunado deverá ter foco na redução dos 
déficits da criança dando lhe oportunidade e o tempo necessário, mas sem visar modificar as 
estruturas ou fatores que causam uma possível limitação ou atraso no desenvolvimento global 
da criança, pois este é um campo de atuação para outros profissionais. Ao educador caberá 
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repensar sua ação pedagógica, adaptar o currículo as necessidades do aluno, tornar o 
conhecimento acessível e principalmente reavaliar seu conceito de educação, de homem, de 
cidadania e deficiência. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
É importante que o professor esteja atento ao nível de desenvolvimento cognitivo 
de seus alunos, pois numa sala de aula, a grande diversificação de nível maturacional e de 
resposta do aluno a uma nova realidade que vai exigir cada vez mais comprometimento de sua 
parte com as atividades intelectuais sistematizadas e intencionais. 
Logo, é relevante que nós educadores estejamos atentos aos comportamentos de 
nossas crianças principalmente na fase inicial bem como em sua forma de raciocinar e 
expressar seus desejos, fantasias, os seus sentimentos, e toda a sua reação diante das novas 
situações propostas. E ao proporcionarmos um ambiente estimulante intencionalmente 
promovemos situações de aprendizagem, surgimento de novos comportamentos, ou 
aprimoramento de outros, ou ainda, a eliminação ou diminuição de comportamentos 
indesejáveis. 
Assim, concluímos que o processo de ensino-aprendizagem de educandos com ou 
sem deficiência ocorre num processo de respeito, diálogo e trocas de vivências. Se o educador 
conseguir propiciar a seu educando um ambiente saudável, estimulante e facilitador da 
aprendizagem, não haverá no ambiente escolar deficiências nem diferenças, mas haverá uma 
prática pedagógica diferenciada. Por isto é importante a formação do professor, na 
capacitação continuada para que se tenha um suporte necessário para modificar práticas 
retrógodas e reconstruir o ato de ensinar e aprender. 
O educador diante da realidade inclusiva em sala de aula deve vivenciar uma 
constante dialética entre pensamento e ação, buscando fundamentação teórica para suas ações 
práticas na relação com a criança com deficiência e depois posteriormente confrontar essas 
experiências diversas e variadas advindas da vivência diária e assim estruturando novas 
formas de ação de como melhor atender a esta crescente demanda de pessoas que estão cada 
vez mais atuantes e exigindo uma educação igualitária a que tem direito e que lhe dê ao 
mesmo tempo o aporte necessário para exercer sua cidadania e preparação para adentrar o 
mercado de trabalho, pois é por meio dele que qualquer individuo independente de ter ou não 
algum tipo de deficiência é que terá os meios para usufruir de uma melhor qualidade de vida 
de forma digna e conquistando seu espaço de atuação e reconhecimento na sociedade. 
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Para compreender o quão complexa é a relação dialética do individuo nas 
interações dele com a realidade social na qual esta inserido, principalmente em se tratando de 
uma pessoa com deficiência, a qual tem suas ações de acesso e com o meio debilitadas e até 
dificultadas por causa de preconceitos e esteriótipos que comumentemente caminha junto com 
essas pessoas. Para tentar compreender a dinâmica e os reflexos emocionais que as nossas 
ações repercutem na pessoa, seja ela nosso aluno com deficiência ou não, assim como 
qualquer outra pessoa, basta apenas procurar se colocar no lugar do outro, vestir sua pele para 
perceber como se sente uma pessoa que se vê constantemente desafiada pelo ambiente, por 
estímulos ou até por cobranças para que atinja um objetivo sem a devida importância em 
como ela poderá alcançá-lo, sem a preocupação se há um ambiente facilitador para o 
desenvolvimento de potencialidades que esteja atendendo as especificidades e necessidades 
inerentes a cada pessoa. 
Sempre acarretará em desmotivação, fracasso e frustração quando for dado menos 
importância aos meios, aos recursos e as práticas de ação para valorizar, esperar e exigir 
sempre os resultados, ao esquecer e desvalorizar a imensa importância existente no processo 
de desenvolvimento de potencialidades mediado por pais e professores no contexto de 
aprendizagem, seja este contexto escolar ou não. 
É a autenticidade da vivência das relações estabelecidas no dia a dia que é 
experenciada e sentida, e não pela teoria que deve agregar-se, fazer parte dos atos e atitudes 
do professor que interage tão proximamente com a criança com deficiência e que deve basear 
sua ação de forma espontânea integrando profundamente seus conhecimentos e seus objetivos 
na sua ação prática e diária na relação de ensino aprendizagem. 
Todos os conhecimentos teóricos fundamentados cientificamente são necessários 
para lidar com a criança com deficiência de forma interventora na relação dialética existente 
entre professor-aluno no ambiente escolar, mas estes conhecimentos não serão suficientes e 
úteis senão estiver em consonância com ele a espontaneidade, a disponibilidade, a empatia e 
noções fundamentais de psicologia disponível a criança em atendimento às suas necessidades, 
de sua evolução, dando a real importância e valorização a pessoa, numa relação também de 
ajuda que exige desprendimento e compromisso para promover uma atuação que traga como 
resultado o máximo em normalização, em qualidade de vida e em interação social. 
 
 
 
 
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